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Resumo
A presente pesquisa trata sobre a escoliose e o envolvimento da Ergonomia no seu
tratamento. Tem-se a escoliose como uma patologia representada por deformidades
posturais, que pode ter origem idiopática, congênita ou adquirida – neuropatias, traumáticas
ou posturais. No caso aqui tratado, optou-se pela discussão acerca da escoliose adquirida
por má postura, uma vez que a literatura aponta grande incidência dessa deformidade na
contemporaneidade, principalmente em função de hábitos de vida relacionados a questões
ergonômicas. O tratamento da escoliose adquirida envolve a reeducação postural global,
porém a ênfase maior é na prevenção do aumento do grau da escoliose, o que pode ser
efetuado a partir de manobras ergonômicas. Um dos recursos utilizados para esse fim é o da
Bola Suíça, método indicado para a correção postural, em que se aplicam técnicas
cinesioterapêuticas a partir do envolvimento do paciente com as manobras efetuadas em
solo. Para tanto, escolheu-se, dentre as diversas manobras existentes, aquelas mais indicadas
para o tratamento da escoliose adquirida, concluindo-se que, apesar dos estudos na área não
indicarem resultados significativos para essa atividade, os resultados práticos definidos na
literatura indicam uma grande possibilidade de correção postural através do uso da Bola
Suíça.
Palavras-chaves: Escoliose Adquirida; Ergonomia; Bola Suíça;
1. Introdução
Desvios posturais são apontados como cada vez mais comuns em indivíduos no contexto atual
da atenção básica em saúde. Estão relacionados com diversas manifestações clínicas, mas
principalmente a sintomatologia dolorosa, sendo interpretados como questão de saúde
pública, já que o prejuízo a determinada parcela da população reverbera inclusive no
aproveitamento em relação a atividades de vida diárias, podendo evoluir para situações
crônicas se não prevenidas, detectadas e tratadas precocemente.
Dentre os desvios posturais mais recorrentes, a escoliose pode ser considerada como a que
afeta grande parte das pessoas em todo o mundo. Há registros na literatura de que essa
patologia costuma se manifestar ainda na fase infantil, com incidência igual para ambos os
sexos. Na fase adolescente, esse número aumenta em acometimento para o sexo feminino, na
proporção de 10:1 dos casos.
Suas causas são consideradas como: idiopáticas – ou sem definições conhecidas – congênitas
ou adquiridas. Entre essas últimas, incluem-se as neuropáticas e traumáticas, e principalmente
as escolioses derivadas de má posturas, fenômeno recorrente no mundo contemporâneo.
Por se tratar de questão de saúde pública, a escoliose tem merecido atenções específicas, tanto
em seus aspectos clínicos quanto ergonômicos. Nos clínicos, são indicados desde o uso de
órteses até mesmo o tratamento mais ortodoxo, como a cirurgia reparadora. Porém, nos casos
de escoliose postural adquirida, o tratamento mais indicado envolve antes de tudo o
1
Pós-graduando em Ergonomia
2
Orientador Fisioterapeuta. Especialista em Metodologia do Ensino Superior
2
Nos exemplos mostrados acima, identificam-se principalmente as assimetrias que tem como
causa vícios posturais adquiridos, como postura defeituosa relaxada, cifose lordose, costas
abauladas, costas planas e dorso curvo. Heiward (2004) discorre que esses defeitos têm
relação com diversos aspectos, tais como: sócio-culturais (formas de sentar, dormir, caminhar,
dançar); psicológicos (percepção pessoal em relação ao mundo); e biológicos.
4.2 Classificação
A escoliose recebe várias classificações, de acordo com seus aspectos formativos, estruturais
ou etários. A classificação geral, trazida por Mota (2009) considera a existência de quatro
tipos característicos de escoliose, a saber: a idiopática, de causa desconhecida; a congênita,
que é secundária a uma deformidade vertebral, presente geralmente ao nascimento; a
neuromuscular, resultante de uma patologia neurológica, muscular ou neuromuscular; a pós-
traumática, resultante de uma fratura da coluna, que ocorre secundariamente a lesões das
estruturas ósseas.
Segundo Nogueira et. al (2001), a escoliose idiopática não possui causas conhecidas. No
entanto, a literatura assinala que esse tipo pode levar a deformações severas que, além de
comprometer o aspecto estético individual, também pode afetar os órgãos viscerais, havendo,
em grande parte dos casos, a necessidade de intervenção cirúrgica.
Quanto à escoliose congênita, Zinni et al. (2002) ressaltam que, via de regra, se associa a
anomalias na forma de malformações das vértebras e dos arcos costais. Em geral, são
evidenciadas entre o primeiro e o segundo ano de vida. Segundo esses autores, alguns tipos de
anomalias da coluna vertebral podem ser visíveis em radiografias da coluna vertebral, antes
que possa se firmar um diagnóstico de escoliose congênita.
É considerado um consenso entre os autores, na opinião de Zinni et al. (2002) que as
curvaturas escolióticas, em presença de costelas fusionadas, são caracterizadas como
congênitas, a menos que haja provas em contrário. As anomalias consideradas mais graves da
escoliose congênita dizem respeito às que afetam e envolvem os elementos nervosos. Dessa
maneira, qualquer anormalidade neurológica associada à escoliose congênita torna
potencialmente perigoso o tratamento vigoroso desse tipo de escoliose.
Em relação à escoliose derivada de patologias neurológicas ou neuromusculares, Oliveira
(2006) salienta que esse tipo costuma apresentar graves deformidades da coluna, sendo
frequentes e graves nos pacientes com doenças neuromusculares, principalmente nos
pacientes que, devido à gravidade da doença, tem dificuldades em locomover-se.
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4.4 Diagnóstico
O diagnóstico da escoliose inclui a história clínica, com coleta de informações sobre os
caracteres sexuais secundários, indicando o início do estirão puberal, onde se apresenta maior
risco para a progressão da doença e também maior potencial para a prevenção (LEAL, 2001).
Kisner e Colby (2005) citam que a avaliação postural é importante para o diagnóstico da
escoliose postural, e consiste em determinar e registrar se possível através de registros
fotográficos ou radiológicos os desvios ou atitudes posturais dos indivíduos, onde os mesmos
são inspecionados globalmente, numa visão anterior, posterior e lateral, a fim de observar se
existe alguma alteração anatômica, que pode resultar em má postura. O questionário de
anamnese se faz necessário nessa avaliação.
Para Santos (2006), a anamnese completa e o exame físico permitem o diagnóstico das
deformidades da coluna vertebral. Nesse aspecto, devem-se considerar as condições do
nascimento e desenvolvimento do indivíduo. Deve-se também pesquisar a presença de
deformidades em familiares, pois algumas escolioses podem ser mais frequentes em
determinadas famílias.
A verificação inicial também envolve o exame físico, onde a inspeção é realizada com o
paciente sentado, em ortostase e deambulando. O exame de pele pode detectar a existência de
manchas de coloração marrons, nódulos subcutâneos de consistência amolecida, em função da
neurofibromatose. Devem ser observadas também a estatura e a proporção dos membros em
relação ao tronco, as assimetrias do nível da altura dos ombros, dos contornos escapulares e
das distâncias dos membros superiores em relação ao tronco (LEAL, 2001).
O exame do dorso, com o paciente sentado, pode revelar assimetrias indicando desvio
vertebral secundário, que normalmente ocorre na escoliose compensada. Leal (2001) também
indica testes como o de Adams, que consiste na pesquisa de assimetrias no dorso durante a
flexão da coluna vertebral; o teste do fio de prumo, indicado para a escoliose descompensada;
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4.5 Tratamento
Para Barros e Basile (1997), o tratamento da escoliose depende de cada caso. Se o desvio for
considerado pequeno, a indicação é de exercícios para corrigir os vícios posturais, geralmente
relacionados com a posição adotada ao sentar. Quanto aos desvios maiores, a indicação vai
desde o uso de coletes até a cirurgia corretiva.
Conforme Mota (2009), a cirurgia reparadora tem por objetivo: reduzir a curvatura; bloquear
a progressão da deformidade; prevenir problemas cardiorrespiratórios e neurológicos;
melhorar a aparência estética; e trazer melhor qualidade de vida ao paciente. É indicada nos
casos em que há a possibilidade de reduzir a escoliose em pelo menos 50% ou 70%, não
representando, no entanto, correção da gibosidade dorsal. São referidos vários tipos de
cirurgias, com diferentes abordagens, porém basicamente estas se resumem à colocação de
uma ou mais hastes metálicas, com a intenção de restituir o alinhamento e a fixação da
coluna, de modo a reduzir a deformidade.
De acordo com Oliveira (2005), três fatores são importantes para a instituição do tratamento
dos pacientes com escoliose idiopática adquirida: a maturidade esquelética (não a idade
cronológica), o tamanho da curvatura e o potencial de progressão da deformidade. As opções
de tratamento variam desde simples observação periódica, o uso de órteses (coletes) até uma
cirurgia. Para esse autor, medidas fisioterapêuticas podem auxiliar no tratamento, porém não
são capazes de conter a evolução da escoliose. O recomendável é que práticas
multidisciplinares sejam aplicadas, particularmente as que envolvem métodos ergonômicos.
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Para Mota (2009), o principal objetivo da cirurgia é realinhar a coluna através de implantes
metálicos inseridos permanentemente nas vértebras. Estes implantes auxiliam na redução da
deformidade e da gibosidade dorsal. Esta última diminui com a cirurgia, mas raramente
desaparece por completo. Em casos onde a gibosidade é muito grande, o cirurgião pode
propor uma cirurgia alternativa para correção desta. Nenhuma cirurgia para escoliose é
obrigatória se não há risco de vida ao paciente. Entretanto, curvas maiores que 40-50 graus
tendem a progredir mesmo após o final do crescimento. Grandes deformidades podem levar a
problemas cardiorrespiratórios e a dor crônica. Além disto, quanto maior a curva, mais difícil
é a correção e menor a redução da deformidade; os resultados não são tão bons quanto as
cirurgias para curvas menores, e os riscos cirúrgicos também aumentam.
De acordo com Leal (2001), o tratamento da escoliose pode envolver desde a observação
criteriosa da evolução, como tratamento conservador, até exercícios de alongamentos, com
vistas a manter a curva flexível e melhorar a postura, apesar de não se registrar correções ou
prevenções do agravamento da deformidade.
A partir da ampliação dos estudos relativos à sua funcionalidade, a Bola Suíça passou a ser
utilizada para melhorar níveis de flexibilidade, força, equilíbrio, mobilidade, estabilidade e
problemas posturais de uma variedade enorme de tipos de pacientes.
Segundo Davies (1996), a Bola Suíça é considerada uma ferramenta familiar e barata,
encontrado em clínicas de fisioterapia e academias, podendo ser facilmente incorporada tanto
em sessões de tratamento individual como grupos ou ainda em programas familiares.
Atualmente existe uma variedade muito grande desse produto, sendo as marcas mais
recomendadas: Adidas, Gymnic¸ Mercur Profissional Gym Ball, O’ Neal anti burst, Physicus,
Body sculpture-Since 1965 e Funcional Corezone.
Além desta variação, Cassol e Bertoncello (2004) relatam que, em função da evolução
material da Bola Suíça, outros métodos para realização de exercícios foram sendo
aprimorados, atualmente divididos em: exercícios aeróbicos para aumentar a frequência
cardíaca e o gasto calórico; exercícios de força, que ajudam a desenvolver a consciência
corporal, melhorando o equilíbrio e diminuindo lesões que podem acontecer no dia-a-dia; e os
exercícios posturais, que visam melhorar a postura e definir o abdômen. Todas essas etapas
exigem muito esforço e concentração dos participantes.
Estes autores explicam ainda que alguns complementos são apontados também como
coadjuvantes para a utilização prática da Bola Suíça. A exemplo, citam o suporte de aço
Tryex, que substitui um banco de ginástica para exercícios localizados; os extensores (Rubber
e Theraband) que são fixados na Bola Suíça com o auxílio de faixas que a envolvem; o
posicionador inflável, desenvolvido para a iniciação de atividades com a Bola Suíça, em que o
equilíbrio é mais difícil ou até o paciente adquirir maior confiança na prática de exercícios.
Além destes, existe atualmente também o Aparelho de Ginástica que faz uso da Bola Suíça,
que pode auxiliar na diminuição do peso corporal e ganho da massa muscular.
De acordo com Lianza (1994), o que importa para a eficácia da terapêutica é que a Bola Suíça
tenha estabilidade ou instabilidade, segurança e acessibilidade. Na opinião deste autor,
praticamente todos os indivíduos, em alguma fase de sua existência, provavelmente brincaram
com uma bola, e essa memória juntamente com as cores vivas e texturas torna-se uma
ferramenta útil para induzir reação e movimento.
Carriére (1999) indica ainda que o paciente também pode ser motivado pelo fato de a Bola
Suíça facilitar os movimentos suportando parte do peso corporal, melhorando a habilidade do
paciente em se mover, aumentando o input sensitivo e, consequentemente, aumentando o
controle motor do paciente. Quando usada para desafiar o paciente, a bola torna-se uma
ferramenta automotivadora.
No geral, esta autora considera que o rol de benefícios promovido pelo uso terapêutico da
Bola Suíça são: o aumento da mobilidade, estabilidade, força, circulação, coordenação,
controle postural, aptidão cardiopulmonar, capacidade vital dos pulmões, nutrição das
estruturas do corpo, sensação de prazer na realização do programa de exercícios, isso variando
conforme o tipo de cinesioterapia escolhida pelo terapeuta, especificamente para cada tipo de
paciente.
Posner-Mayer (1995) apresentando as propriedades da Bola Suíça quando em aplicação
terapêutica, sugere que uma bola totalmente inflada ou firme tem menos área de contato com
o solo, move-se mais rapidamente e desafia as reações de equilíbrio do paciente. Por sua vez,
uma bola pouco inflada tem maior área de contato, move-se mais lentamente, e requer menos
equilíbrio de ambos.
Abordando-se essa questão especificamente para a correção postural evidenciada no
tratamento da escoliose, Bonorino et al. (2007) apontam ser a Bola Suíça a única ferramenta
ergonômica que trabalha nos três planos de movimentos; frontal, sagital e transversal. Devido
à variedade de funções que a Bola Suíça realiza, faz com que o paciente trabalhe com os três
planos de movimentos, assim descritos pelos autores: plano frontal: trabalha a lateralidade
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realizando adução e abdução; plano sagital: trabalha com a realização de flexão e extensão de
tronco; plano transversal: trabalha as rotações de tronco.
Todavia, Davies (1996) alertam que a utilização da Bola Suíça deve ser precedida da
investigação dos pontos-chaves de controle para ter melhor execução do exercício e assim
evitar qualquer imprevisto. Os pontos-chave de controle proximal são; cabeça, esterno,
ombro, escápula, pelve e quadril; os pontos-chaves de controle distais são: maxilar, cotovelo,
punho, base do polegar, joelho, tornozelo e cabeça.
Davies (1996) ainda recomenda a compreensão das propriedades e o uso da Bola Suíça para
seleção adequada de cada tamanho que esta ferramenta oferece. O tamanho do paciente não
determina o tamanho da Bola Suíça a ser usado, o que determina é o objetivo do exercício a
ser realizado com o paciente. Antes de iniciar os exercícios com o uso da mesma, é
importante determinar o objetivo com que será utilizada a bola, ou seja, para fortalecer,
alongar, mobilizar ou apenas suporte.
Em relação a contra-indicações para o uso da Bola Suíça, Carriére (1999) registra como
principais: a insegurança do paciente quanto a quedas, queixas de dores, tonturas e/ou
aumento dos sintomas gerando incômodo ao paciente, contudo isto podendo ser superado com
demonstração e garantia do terapeuta.
Como já identificado, o uso da Bola Suíça é recomendado para vários segmentos de
intervenção ergonômica. A partir do próximo tópico, evidenciam-se manobras identificadas
como especificamente apropriadas para o tratamento da escoliose.
6. Metodologia
Foi realizada uma pesquisa de caráter bibliográfico, considerando a seleção de principais
obras que abordam a temática principal e temas secundários, a partir de obras editoradas, e de
material disponível ao domínio público, encontrados em sítios de publicações científicas no
modo eletrônico, como Scielo, Medline, Lilacs e outros.
7. Resultados e discussão
Na explicação de Carriére (1999), os exercícios voltados especificamente para o tratamento da
escoliose envolvem procedimentos conservadores e indicação cirúrgica, além da prescrição de
coletes ou braçadeiras, além dos exercícios para correção postural.
Na aplicação da Bola Suíça, esta autora indica como metas e abordagens do tratamento,
consideradas comuns para todas as possibilidades de tratamento disponíveis: estabilização da
coluna, especialmente pelo fortalecimento da musculatura abdominal e intrínseca (genuína) da
coluna; obtenção de percepção corporal e possibilitação de autocorreção postural e hábitos
defeituosos; aumento da mobilidade da coluna, da caixa torácica e dos membros; conseguir
assimetria; aumento da capacidade vital; e redução da sintomatologia dolorosa.
Em determinadas circunstâncias, no entanto, o paciente pode ser instruído a aprender a
conviver com seu problema de escoliose, ajustando as atividades de vida diária de acordo com
este problema. Nessas situações, o plano de tratamento é determinado para: treinar a
percepção corporal; treinar a propriocepção; facilitar o equilíbrio e coordenação; aumentar a
amplitude de movimentos; como terapia manual; mobilização dos tecidos moles;
fortalecimento; e exercícios respiratórios.
Para Kisner (1998), um plano de tratamento que sugerido como indicativo da utilização da
Bola Suíça no caso de escolioses envolve, antes de sua aplicação específica: auto-
alongamento dos músculos eretores da espinha lombares e tecido mole posterior à coluna,
com o paciente em decúbito dorsal com joelhos fletidos e pés apoiados, primeiro puxando um
joelho, depois o outro na direção do peito, cruzando as mãos ao redor das coxas e puxando-as
para o peito; elevando o sacro da mesa; alongamento de tronco sentado sobre os calcanhares,
onde o paciente inclina-se para frente de modo que o abdômen se apóie sobre a parte anterior
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A manobra denominada “Swing” (Figura 4) é apontada por Carriére (1999) como ideal para
que o paciente possa: praticar a compressão e tração fisiológica da coluna; praticar apoio de
peso alternado para as mãos e pés; fortalecer primariamente o tríceps braquial e outros
músculos de ombros, braços mãos, em cadeia cinética fechada.
Inicia-se em decúbito ventral sobre a Bola Suíça com apoio de peso igual sobre as mãos e os
pés. O primeiro movimento vem da ponte posterior, e os dois pés empurram “para fora”. À
medida que o corpo e a bola se movem para a frente, por um breve momento, nenhum
membro toca o solo. Antes de aterrissar com as duas mãos sobre o solo, parece haver uma
leve tração da coluna antes que ocorra a compressão fisiológica. Na ação para trás, as mãos
empurram o solo para fora, causando um movimento do corpo e da bola para trás. Quando
nenhum membro está em contato com o solo, há uma leve tração da coluna, seguida por uma
compressão fisiológica caudal desta quando o peso do tronco é absorvido pelos membros
inferiores.
Os cuidados se dirigem especificamente para o caso de pacientes inseguros, que podem ser
induzidos a inicialmente manter contato com os pés sobre o solo, ao aterrissar sobre as mãos;
ou pode praticar o primeiro movimento em decúbito ventral (CARRIÉRE, 1999).
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Na manobra denominada “Balança” (Figura 6), a intenção é de: ensinar o paciente a mover o
tronco alinhado para a frente e para trás no espaço; treinar atividade econômica dos músculos
abdominais e extensores da coluna ao estabilizar o tronco; praticar balanceio simétrico do
braço no plano sagital; encorajar o alinhamento dos membros inferiores com a retirada correta
de calcanhares e artelhos (CARRIÉRE, 1999).
A posição inicial é a mesma da manobra “Cowboy”, com os braços formando um arco
levantado acima da cabeça no plano frontal médio. A bola é puxada em direção aos pés; os
calcanhares são levantados para permitir mais movimento; a seguir, o tronco, cabeça e braços
alinhados se inclinam para trás; os músculos abdominais são ativados; logo após, a bola é
empurrada para trás; os calcanhares se mantém em contato com o solo e os antepés se
levantam. Os músculos abdominais são ativados até que a posição ereta seja alcançada. Ao
inclinar-se para a frente, os músculos extensores da coluna são ativados mantendo o tronco
dinamicamente estável contra a gravidade (CARRIÉRE, 1999).
Como cuidados para a aplicação da manobra, a autora acima recomenda atenção ao paciente
que possui tronco com braços e cintura escapular pesados, onde pode haver a necessidade de
mudança da posição inicial; pernas longas resultam em mais rolamento para trás, enquanto
que os pés longos resultam em mais rolamento para a frente do que os pequenos; pacientes
com músculos abdominais muito fracos devem apoiar seus braços nas coxas.
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Nessas condições, os objetivos principais são de: mobilizar ativamente a extensão da coluna
contra a gravidade; estabilizar a coluna estendida; fortalecer os músculos trapézio médio e
superior; fortalecer os membros superiores em cadeia cinética aberta; fortalecer o músculo
quadríceps em atividade de fazer ponte.
Para a manobra “Testa de Ferro” (Figura 7), Carriére (1999) orienta que a posição inicial
consiste no paciente ajoelhado atrás da bola, com o tronco apoiado ventralmente sobre ela e as
mãos alinhadas com os ombros sobre a bola. Com as mãos, traciona a bola para baixo,
fazendo com que esta role para a frente até que os braços se estendam.
Pacientes com insegurança tendem a manter os pés separados ou a não estender os joelhos. O
terapeuta pode dar leve resistência aos braços em abdução ou flexão para a frente ou para a
cabeça, são os cuidados apontados pela autora acima.
A manobra conhecida como “Faquir” (Figura 8) é indicada quando o objetivo é de: conseguir
um treino econômico dos músculos abdominais e extensores da coluna; detectar fraqueza nos
músculos abdominais; ensinar ao paciente como inclinar o tronco alinhado a partir da posição
vertical até a posição horizontal e voltar; praticar passos reativos; treinar alinhamento de
membros inferiores; fortalecer e/ou estabilizar os músculos extensores da coluna em uma
atividade de fazer ponte (CARRIÉRE, 1999).
A posição inicia-se com o paciente sentado centricamente sobre a bola, como no exercício
“Cowboy”. Os braços ficam em 90º de flexão anterior, formando um arco no plano
transverso; estes se movem para cima e para trás, enquanto o tronco se inclina para trás;
quando a bola começa a rolar, os passos para a frente (reativos) permitem maior rolamento da
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bola; o esforço nos músculos abdominais diminui e a atividade dos extensores do quadril e da
coluna embaixo da ponte aumenta.
Carriére (1999) registra como cuidados a serem tomados a firmeza da Bola Suíça, que pode
dificultar o exercício; além disso, se os pés escorregarem o exercício não pode ser feito
adequadamente; um paciente com tronco longo leva mais tempo para atingir a posição
horizontal; paciente com quadris largos tem mais dificuldade para estabilizar a pelve na
posição final; paciente com músculos abdominais fracos tendem a acelerar o movimento onde
os músculos são mais fracos.
Segundo Carriére (1999) existem outros exercícios que podem ser aplicados como técnicas
conjuntas, porém esta bateria envolve peculiarmente o tratamento com escoliose, na medida
em que busca o equilíbrio dos músculos do tronco; promove o abaixamento dos ombros e a
extensão da coluna e pernas. Exercícios como o “Swing”, a exemplo, são ótimos treinos
proprioceptivos para a coluna.
8. Conclusão
A Ergonomia, quando envolvida em aspectos posturais, costuma utilizar uma abordagem
centrada em técnicas especializadas, buscando em alguns casos integrar os objetivos
ergonômicos com atividades lúdicas. Dentre essas atividades, a Bola Suíça vem sendo
apontada para tratamento de pacientes com distúrbios da coluna e déficits posturais, além de
alterações neurológicas, reumatologias e ortopédicas.
Os exercícios em que o paciente utiliza a Bola Suíça servem para a facilitação, estimulação e
inibição, sendo possível a adaptação por qualquer paciente com alteração de tônus e postura,
tratando as alterações do movimento e da postura causada por alterações posturais, como no
caso da escoliose adquirida, onde tais exercícios servem para melhorar o equilíbrio, promover
reeducação postural, de velocidade e direção do movimento e influências às respostas
vestibulares do paciente.
No que cabe ao ergonomista, este possui a função de permitir e facilitar para que o paciente
realize sobre a bola os movimentos da melhor forma possível, resultando em ganhos
significativos para o paciente através de um tratamento individualizado.
A Bola Suíça é indicada para o tratamento da escoliose, particularmente, por ser capaz de
suportar o peso do paciente, acomodando as deformidades estruturais e auxiliando a
movimentação. Além disso, pode motivar o paciente, estimular a participação do corpo inteiro
durante o exercício e aumentar a harmonia entre a respiração e o movimento, providenciando
um senso de normalidade e diversão.
A utilização da Bola Suíça nessas circunstâncias pode proporcionar mobilidade de
anteroversão e retroversão da pelve, ganho de amplitude de movimento pela repetição, e pelo
fato de ser extremamente móvel, induz o paciente para manter ou treinar o equilíbrio,
principalmente quando o paciente está sentado ou em decúbito ventral ou dorsal sobre a bola.
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Dessa maneira, interpreta-se que a Bola Suiça pode ser considerada uma ferramenta
ergonômica necessária para auxiliar na reabilitação de pacientes com escoliose adquirida,
devido sua grande funcionalidade.
No entanto, salientam-se duas questões: primeiro, de que a Bola Suíça, apesar de ser um
recurso muito utilizado atualmente por profissionais dos diversos meios ergonômicos, não
possui ainda uma literatura avançada em que se identifiquem sua ação sem a associação com
outras técnicas ou recursos; a segunda, de que a pesquisa ora finda se situa como limitada
pelo fato de não apresentar um caso clínico correspondente à aplicação da Bola Suíça em
tratamento de escoliose adquirida, pela exiguidade de tempo requerido e pela falta de
elementos substanciais de acompanhamento de tais casos.
Não obstante, tem-se como alcançados os objetivos centrais dessa pesquisa, na medida em
que pôde ilustrar, através de técnicas específicas, os recursos destacados pela literatura
quando da aplicação das manobras específicas, promovendo uma reabilitação postural do
paciente em condições específicas que envolvem a escoliose adquirida.
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