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Sarcopenia e Treinamento Com Pesos
Sarcopenia e Treinamento Com Pesos
RESUMO
O objetivo deste estudo foi verificar o efeito do treinamento com pesos, prescrito por zona de repetições
máximas (RM), sobre a composição corporal e a força muscular em mulheres acima de 50 anos. Para tal,+ foi utilizada
uma pesquisa do tipo quase experimental. A amostra foi composta por 30 idosas (61,1±7,3 anos), sem problemas de
saúde que impedissem a prática da intervenção proposta. A força muscular máxima foi avaliada por meio do teste
1-RM e a composição corporal pela técnica de bioimpedância elétrica, com observância do protocolo de 24 horas
antecedentes a cada uma das duas avaliações. O treinamento foi realizado com 3 sessões semanais, compostas de
2 séries com 10 a 12 RM para cada um dos exercícios propostos e duração total de 12 semanas. Os dados foram
analisados através de estatística descritiva e do teste t de Student pareado, com nível de significância de p<0,05.
Não foram encontradas alterações estatisticamente significativas (p> 0,05) nas variáveis de composição corporal,
exceto pequena mudança na massa corporal e, por influência desta, no índice de massa corporal (p<0,05). A força
muscular aumentou significativamente (p<0,01) nos músculos extensores e flexores dos joelhos (36,5% e 34,3%,
respectivamente) e dos cotovelos (13,7% e 16,3%, respectivamente). A interpretação dos resultados sugere que a
prescrição por meio de zonas de RM proporciona aumento da força muscular, contudo não altera massa corporal
magra, percentual de gordura e gordura corporal absoluta, em mulheres idosas.
ABSTRACT
The aim of this study was to verify the effect of resistance training, prescribed by zone of maximum
Rev. Bras.Cineantropom. Desempenho Hum. 2006;8(4):39-45
repetitions (MR), on the body composition and muscle strength in older women. Therefore, a quasi-experimental
research design was used. The sample comprised 30 older women (61.1 ± 7.3 years) without health problems that
could prevent them from attending the training protocol. Maximal muscle strength was measured by means of the
1-RM test while body composition was assessed by bioelectrical impedance which followed the recommendations
of a 24-hour protocol regimen prior to the assessments. The resistance training protocol comprised 3 sessions per
week; 2 sets of 10-to-12 RM each session and it lasted for 12 weeks. The data were analyzed by means of descriptive
statistics and Student t-test for paired samples, at p<0.05 level. No statistically significant changes (p> 0.05) on body
composition variables were found, except for a small decline on body mass, which, in turn, caused a small reduction
on the body mass index. Increase in strength was observed (p<0.01) for both extensor and flexor knee muscles
(36.5% and 34.3%, respectively) as well as for elbows (13.7% and 16.3%, respectively). The results suggested that
resistance training at maximal-repetition zone allows for muscle strength increments, however, it does not affect lean
body mass or percent and absolute values of body fat in older women.
1
Laboratório de Atividade Física e Envelhecimento;
2
Bolsista CNPq-Brasil;
3
UNESP – Rio Claro/Departamento de Educação Física/Pós-Graduação em Ciências da Motricidade
4
FAFIBE – Faculdades Integradas de Bebedouro
40 Silva et al.
apenas para massa corporal total (MC) e índice de repetições possíveis de serem realizadas. Contudo,
massa corporal (IMC), enquanto as demais variáveis Hoeger et al.12 demonstraram que, diferentes
não apresentaram mudanças estatisticamente grupamentos musculares apresentam diferenças no
significativas. Dessa forma, rejeita-se a hipótese que diz respeito ao número de repetições máximas
experimental de que o modelo de treinamento com realizadas para uma mesma intensidade relativa de
pesos proposto pudesse aumentar a massa corporal esforço. Os autores observaram que 80% de uma
magra e diminuir a gordura corporal. repetição máxima (1-RM) foi a carga correspondente
A tabela 2 apresenta os valores de força para a realização de 10 RM, para os exercícios de
muscular, obtidos por meio de testes de 1-RM para supino e extensão de joelhos, ao passo que nos
os exercícios de extensão e flexão dos joelhos e exercícios leg press e rosca direta foram registradas
cotovelos. Os resultados encontrados demonstram 15 e 8 RM, respectivamente.
incrementos estatisticamente significativos para Em relação à população idosa, encontram-
todos os grupamentos musculares avaliados, se poucas informações inerentes ao número de
após o período de intervenção. Pode-se observar, RM possíveis de serem realizadas, com diferentes
também, que os membros inferiores apresentaram percentuais de 1-RM, para diferentes grupamentos
um maior ganho, tanto em termos absolutos quanto musculares. Sabe-se, no entanto, que idosos são
no percentual de mudança ao longo do tempo. Dessa mais resistentes à fadiga ao realizar contrações
forma, aceita-se a hipótese experimental de que o intermitentes quando comparados a adultos jovens.
modelo de treinamento proposto aumentaria a força Tal fato permite aos idosos realizarem um maior
muscular máxima. número de repetições para uma mesma carga
relativa de trabalho13.
DISCUSSÃO Essa diferença no número de repetições
possíveis de serem atingidas, para um determinado
Um dos objetivos deste trabalho foi verificar percentual de 1-RM, pode ter efeito direto na
as possíveis mudanças nos níveis de força máxima, quantidade de trabalho total, realizada em cada
a partir de um programa de treinamento por zona grupamento muscular (volume de treinamento). A
de RM. As avaliações apresentaram resultados quantidade de trabalho total afeta, por conseqüência,
positivos em relação aos níveis de força máxima. o efeito do treinamento sobre as diferentes adaptações
Todos os grupos musculares avaliados (flexão e do sistema neuromuscular. Esse fato é relevante, uma
extensão de joelho e cotovelo) apresentaram ganhos vez que grande parte das adaptações decorrentes do
estatisticamente significativos (p<0,01) nesse tipo TP, nos incrementos de força muscular, na população
específico de força. O modelo de treinamento por idosa, serem mais dependentes do volume do que da
zona de RM parece ser uma alternativa eficaz de intensidade de treinamento empregada6, 14, 15, 16.
prescrição, uma vez que não depende de avaliações Neste sentido, a prescrição da intensidade
prévias de carga máxima (1 RM, p. ex.) e, possibilita de treinamento, por meio de zonas de repetições
ajustes de cargas (sobrecargas) sem a necessidade máximas, permite que essas possíveis diferenças,
de reavaliações. no volume de treinamento dos diferentes grupos
Obviamente, existe uma relação inversa musculares, possam ser anuladas quando
entre a resistência movida (peso) e o número de comparadas à prescrição por percentual de carga.
Tabela 1. Resultados das variáveis de composição corporal nos momentos pré e pós-treinamento (n = 30), em mulhe-
res acima de 50 anos. Os valores são apresentados em médias e desvios- padrão.
Variáveis Pré-Treinamento Pós-Treinamento tcalculado ∆
MC (kg) 70,7 ± 12,5 69,2 ± 12,1 * 3,193 - 0,9
Rev. Bras.Cineantropom. Desempenho Hum. 2006;8(4):39-45
Tabela 2. Resultados de força muscular (1-RM) nos momentos pré e pós-treinamento, em mulheres acima de 50 anos.
Os valores são apresentados em médias e desvios-padrão.
Pré Pós
Ext. de joelhos (n=30) 25,3 ± 8,4 33,7 ± 9,2 * -11,026 36,5 ± 27,3
Flex. de joelhos (n=24) 12,7 ± 4,3 16,7 ± 5,3* -8,992 34,3 ± 16,9
Ext. de cotovelos (n=30) 14,7 ± 2,8 16,6 ± 2,8* -12,474 13,7 ± 7,1
Flex. de cotovelos (n=30) 14,6 ± 2,8 16,9 ± 3,3 * -9,206 16,3 ±11,6
* Diferenças significativas entre os momentos pré e pós-treinamento (p<0,01). Ext=Extensão; Flex=Flexão.
Efeito do treinamento com pesos. 43
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1990;263(22):3029-34. por todo apoio logístico para a realização deste estudo.