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Gado nelore

O Brasil segue tendo o maior rebanho comercial do mundo, com um


efetivo de, aproximadamente, 196,8 milhões de cabeças (ANUALPEC,
2016), sendo a maior parte representada por animais da raça Nelore
(PEREIRA, 2004), em uma área de pastagens de 167 milhões de hectares, e
por esse motivo, tem capacidade de produzir carne com menor custo de
produção, caracterizando o país com mercado bem competitivo.

Dentro desse cenário, o agronegócio brasileiro gera entorno de 33,5


milhões de empregos, sendo a pecuária de corte é responsável por 7
milhões destes empregos. Assim, fica clara a importância da pecuária no
cenário da economia brasileira (SCOT, 2011). A raça Nelore, sem dúvida
contribuiu para o avanço da pecuária brasileira, juntamente com os fatores
associados à difusão de conhecimentos em relação à nutrição e ao
melhoramento genético animal (ABIEC, 2014).

ORIGEM

A história da raça Nelore (também conhecida como Ongole) tem seu


início a cem mil anos antes de cristo, quando os primeiros animais foram
levados para o continente Indiano pelos arianos. O embarque dos primeiros
animais para o Brasil foi realizado em Nelore, um distrito da antiga Provincia
de Madras, situado no Estado de Andra.

A grande maioria do rebanho indiano é formado por animais


mestiços, de tipos variáveis, devido a falta de divisões de pasto e as grandes
distâncias que percorrem buscando alimentos durante a época de escassez.
Por ser considerado um animal sagrado pelos indianos, o boi é utilizado
principalmente para transporte e produção de leite. O povo indiano é
vegetariano, por isso a população tem o leite como única fonte de proteína
de origem animal.

Manoel Ubelhart Lembgruber conheceu a raça durante uma visita no


zoológico de Hamburgo, na Alemanha, importando um casal de animais da
raça em 1878. A raça foi se expandindo, primeiramente no Rio de Janeiro,
depois São Paulo e por último Minas Gerais.

As grandes últimas principais importações de reprodutores


ocorreram entre os anos de 1960 e 1962. Durante esse período, grandes
genearcas desembarcaram em Fernando de Noronha, sendo submetidos a
quarentena. Os genearcas eram Taj Mahal, Golias, Rastã, Checurupadu,
Godhavari, Akasamu, Padhu são a base formadora das principais linhagens
do Nelore que conhecemos hoje.

O melhoramento da bovinocultura de corte ocorre em todas as raças,


mas no Brasil a raça que tem ganhado destaque é a Nelore. O rebanho
Nelore brasileiro descende de poucos genearcas, e a maioria deles foram
importados da Índia, a partir da década de 1960. Porém, ao utilizar esses
genearcas e seus descendentes, houve aumento do processo de endogamia
nos animais, necessitando atenção e ações corretivas dos criadores, para
que a raça não perca as vantagens em relação a rusticidade, fertilidade e
produtividade (FERRAZ e ELER, 2010).

Também contribuíram para a evolução da raça, a criação do


Programa de Melhoramento Genético da Raça Nelore (chamado Nelore
Brasil), em abril de 1988, cuja importância tem sido enorme para a cadeia
produtiva da carne bovina brasileira (Lobo e Faria, 2008).
O Nelore, hoje é considerado patrimônio legitimamente nacional,
igualmente ao futebol, e também é considerado a grande vitória da carne
brasileira. Populações do mundo inteiro consomem a carne do Nelore, que
é exportada para mais de 146 países, onde também é considera uma carne
saudável e natural.

Apesar de terem sido usados para a exploração leiteira em sua


origem, a raça passou por diversos e intensos processos de melhoramento
genético no Brasil, e foi direcionada exclusivamente à produção de carne.

CARACTERÍSTICAS DA RAÇA

O Nelore em si apresenta características como:

- Estado geral vigoroso e sadio

- Ossatura leve, forte e bem desenvolvida

- Musculatura compacta

É também conhecido por ter um temperamento dócil, com algumas


exceções, porém sempre se mostra ser um animal muito ativo.

Possui pelagem cinza clara ou branca, onde normalmente os machos


apresentam a pelagem mais escura nas regiões do cupim e pescoço. Os
pelos são claros, grossos e curtos. Sua pele é bastante oleosa e escura,
porém flexível e macia.

Sua cabeça possui formato de esquife, sua cara formato estreito,


fronte descarnado, apresentando uma depressão alongada denominada
goteira, onde é mais acentuada nos machos (linha média no crânio, sentido
longitudinal, sub-convexo).
Fonte: https://tecnologianocampo.com.br/nelore/

Nelore se adaptou muito bem ao clima brasileiro por possuir uma


pelagem grossa, o tornando mais resistente a parasitas, fazendo com que
não consigam se alojar facilmente no corpo. Esse animal também possui
uma maior resistência para calor, podendo ser criado em regiões mais
quentes do país como, por exemplo, o nordeste brasileiro.

Constata-se também que seu trato digestivo é 10% menor


comparado aos seus antecedentes europeus. Possui chifres de cor escura,
firmemente implantados no crânio, de formato cônico e mais grossos na
base; estes acompanham o perfil da cabeça nascendo para cima e podem
dirigir-se para fora, para trás, para cima, ou podem chegar a curvar-se
devido seu crescimento.

É possível diferenciar macho e fêmea através de algumas


características como a musculatura compacta e a barbela. Nos machos a
musculatura é bem compacta e barbela solta pregueada, umbigo curto,
prepúcio e bainha leves; enquanto as fêmeas possuem a barbela menos
desenvolvida e, assim como sua musculatura, seu úbere é pequeno, com
tetas funcionais e de tamanho médio. O cupim nas fêmeas é menor e
menos desenvolvido quanto a forma, diferente dos machos, que possuem
o cupim em formato de castanha de caju, bem apoiado no dorso e bem
implantado a cernelha.

Outro diferencial está no peso final do animal adulto, onde vemos


que as fêmeas podem chegar a 800 kg, enquanto os machos chegam
facilmente em 1000 Kg.

Fotos: 1 – Macho da raça Nelore (à direita) 2 – Fêmea da raça Nelore (à esquerda).


Fontes: 1 – https://www.cpt.com.br/cursos-bovinos-gadodecorte/artigos/gado-zebu
ino-no-brasil-raca-nelore-e-nelore-mocho 2 – https://www.comprerural.com/vaca -
nelore-bate-recorde-em-leilao-na-expogenetica-2020/

REPRODUÇÃO

O Nelore apresenta um ciclo reprodutivo longo, geralmente com um


descendente a cada parto, ou seja, uma vaca é capaz de dar um filhote a
cada ciclo reprodutivo – mesmo assim há diversos relatos de partos
gemelares. Foram criadas diversas soluções tecnológicas para o melhor
aproveitamento do potencial reprodutivo dessa raça.
Uma dessas soluções é Inseminação Artificial, técnica disponível
muito utilizada para melhoramento genético do rebanho, além de ter o
preço mais acessível. Infelizmente há algumas limitações da utilização dessa
biotecnologia, como anestro pós parto, falhas na detecção do cio e
puberdade tardia.

Devido as limitações da IA, programas de melhoramento genético e


produtividade visam a utilização da IATF (Inseminação Artificial em Tempo
Fixo), onde não há necessidade da detecção do cio. A IATF, é onde se realiza
a inseminação artificial de acordo com o melhor momento e mais favorável
para a fecundação, onde há possibilidade de realizar um protocolo de
sincronização da ovulação com gonadotrofinas e prostaglandinas. Para a
realização da IATF são necessárias medidas preparatórias, como:

- Mão de obra mais especializada

- Aplicar corretamente todos os fármacos em todos os animais e em


todas as etapas do protocolo

- Utilizar sêmen de boa qualidade (sempre optando pela avaliação


prévia)

- Ter os animais no escore corporal adequado (4,5 em uma escala de


1 a 9)

- Observar o intervalo pós-parto dos animais

Os critérios que são utilizados para analisar o desempenho


reprodutivo do rebanho, incluem:

- Determinação da estação de monta

- Altas taxas de prenhez


- Descarte de vacas vazias ou com problemas reprodutivos

Para a escolha do touro reprodutor e para selecionar seu sêmen, são


avaliadas as Diferenças Esperadas na Progênie (DEP’s), onde é necessário
avaliar o perímetro escrotal, aprumos, articulações sem defeitos, cascos,
prepúcio curto (evitar incidência de parasitas e lesões no campo) e
atributos que mostram tolerância ao calor (como pelagem curta e pele
pigmentada).

A libido e a capacidade de serviço são fatores extremamente


importantes. Após serem avaliadas as características externas, o veterinário
avalia o sêmen para conhecer o potencial de fertilidade desse animal. Caso
o animal tenha alguma anomalia andrológica, ele é desclassificado.

As fêmeas também são avaliadas e precisam ter características que


demonstram ter boa habilidade materna, sem contar outras características
que também se enquadram nas DEP’s, como por exemplo idade ao primeiro
parto, probabilidade de parto precoce, probabilidade de permanecer no
rebanho, produtividade acumulada e outros fatores.

VANTAGENS E DESVANTAGENS DA RAÇA

Mais de 90% do rebanho brasileiro é composto pelo gado nelore, o


que faz diversos produtores citarem suas vantagens e desvantagens na
criação. Alguns produtores citam como vantagens:

- Longevidade reprodutiva

- Carcaça de qualidade

- Carne pouco gordurosa


- Carne saborosa

- Ganho rápido de peso

- Ossatura robusta, leve e forte

- Tolerância ao calor

- Resistência à parasitas e doenças

Enquanto outros produtores citam desvantagens como:

- Sensibilidade ao manejo que recebe

- Orelhas muito pesadas (característica acentuada em animais do tipo


Bos indicus)

- Alguns são bem reativos

- Garupa e tórax deprimidos

DICAS PARA CRAÇÃO DE GADO NELORE

Para ter um bom rendimento na criação, primeiramente o produtor


deve optar pelo tipo de criação, se será uma criação extensiva ou intensiva.
A maior parte do rebanho brasileiro é criado de forma extensiva, ou seja,
solto no pasto. Mesmo assim, existem possibilidades para melhorar e
facilitar esse tipo de produção.

O gado Nelore tem um ótimo aproveitamento de alimentos mais


grosseiros, então eles aceitam muito bem alimentos concentrados como
farelo de soja, girassol, soja em grão e se alimentam muito bem com feno
e pastagem. Alguns produtores ainda arriscam o azevém, que possui uma
grande palatabilidade, é mais resistente a doenças e tem um maior
potencial de produção, porém tem um custo maior que outros tipos de
volumoso.

Alguns proprietários optaram por criar o gado em confinamento,


podendo ser realizado em um galpão semi-aberto ou completamente
fechado, porém não é muito comum.

Por fim, mas não menos importante, deve-se analisar muito bem o
tamanho de área em que esse plantel será criado. Apesar da raça ser
resistente a variedade de clima e terreno, sua extensão precisa ser
adaptada. Quanto menor a área de criação, mais intensivo devem ser os
cuidados com o pasto, solo, cuidados com estresse térmico e outros.

CONCLUSÃO

O gado Nelore compõe maior parte do rebanho brasileiro, já que se


trata de um animal de ótimo rendimento de carcaça, resistente a parasitas,
tolerante ao calor e com alta adaptabilidade ao ambiente. É essencial
conhecer as peculiaridades dessa raça, mesmo que ela seja um patrimônio
nacional. Cada vez que optamos por conhecer mais a raça, podemos
melhorar cada aspecto necessário, tornando assim a melhor opção para o
produtor.
FONTES

https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/566499/1/doc49.
pdf

https://www.scielo.br/j/abmvz/a/cyQZvLYyXdDyH58ccQjDZTD/?format=p
df&lang=pt

https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/61783/1/FOL167.
pdf

https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/186/o/Pablo_Maciel_Santos.pdf

https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/44242415/selecao-
de-touro-reprodutor-influencia-no-melhoramento-genetico-do-rebanho#
:~:text=a%20cada%20ano.-,A%20avalia%C3%A7%C3%A3o%20de%20um%
20bom%20reprodutor%20deve%20ser%20fenot%C3%ADpica%20e,devem
%2Dse%20observar%20v%C3%A1rias%20caracter%C3%ADsticas.

https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/102796/tanaka_alr
_dr_jabo.pdf;jsessionid=B4B8160BD8FDDFE3915FE9DEC6E4F6BD?sequen
ce=1

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