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Sinais e sintomas
Após a picada, os sintomas podem ser variados e normalmente
aparecem após um período de incubação de 1-7 dias.
[13]
Inicialmente surgem lesões cutâneas junto à zona onde ocorreu
a picada da pulga, acompanhados por dor acentuada e constante.
[14]
Nos estádios seguintes, em 2 ou menos dias, ocorre uma infeção
nos gânglios linfáticos para onde a bactéria é drenada.[15][14] Os
gânglios ficam inflamados, tensos e dolorosos e são chamados de
“bubões”. Esses abcessos aparecem sobretudo
nas axilas, virilhas e região cervical.[16][15]
As pessoas infetadas desenvolvem sinais e sintomas
como febre elevada, dor de cabeça, calafrios, dores generalizadas
no corpo e fraqueza, vómitos, náuseas[13] e, nalguns
casos, delírio, confusão mental ou descoordenação motora.[16]
Nos estádios avançados da infeção, os gânglios
linfáticos inflamados podem transformar-se em feridas abertas
e supurativas e a dor na zona deixa de ser acentuada. Contudo o
perigo de contração de uma nova infeção nesta fase é muito
elevado.[14] Se as bactérias atingirem a corrente sanguínea,
qualquer órgão pode ser afetado. A forma mais grave da doença é
a peste pulmonar, que é quase sempre fatal.[16]
Causas
A peste bubónica, tal como as outras formas de peste, é causada
pela bactéria Yersinia pestis, uma bactéria zoonótica que
afeta roedores e as suas pulgas (Xenopsylla cheopis).[13][1] Esta
bactéria transmite-se de roedor para roedor e destes passa para os
seres humanos através das picadas das pulgas infetadas.[13] A
infeção pode também resultar da exposição aos fluidos corporais de
um animal infetado com a peste.[5] No caso da forma bubónica, a
transmissão de humanos para humanos é rara.[17]
Na forma bubónica da peste, as bactérias penetram na pele pela
picada da pulga e são transportadas pelos vasos linfáticos até
um gânglio linfático, onde se multiplicam, fazendo com que inflame.
[1][13]
Diagnóstico
O diagnóstico de peste pode ser confirmado com a deteção da
bactéria em amostras de sangue, de muco das vias respiratórias ou
no líquido dos gânglios linfáticos inflamados (bubões).[1][18] Nos
casos suspeitos de peste bubónica, é recolhida uma amostra de
líquido dos bubões por aspiração com uma agulha.[18] Nos casos
suspeitos de peste pneumónica, é aspirado muco das vias
respiratórias com um tubo fino e flexível inserido pelo nariz ou boca.
[18]
Geralmente a bactéria só está presente no sangue nos casos de
peste septicémica.[18]
As amostras podem ser testadas com testes imunológicos,
bacteriológicos ou sorológicos.[14] Os testes imunológicos recorrem a
ensaios imunocromatográficos e moleculares identificam o antígeno
F1 da Yersinia Pestis através de PCR em tempo real. Os testes
bacteriológicos permitem o isolamento e identificação do
microrganismo causador da peste e técnicas de deteção do
antígeno F1.[14]
A peste bubónica assemelha-se clinicamente a outras doenças
podendo ser confundida como, por exemplo, infeções sexualmente
transmissíveis, toxoplasmose, histoplasmose aguda, neoplasia, hér
nia, rickettsioses ou febre tifoide[19][20]
Paleopatológico
A peste não deixa marcas visíveis nos ossos, contudo existem
algumas formas para detetar a doença em vestígios ósseos
arqueológicos.[21]
O contexto funerário é uma delas,[21] a peste provocou
grandes epidemias em todo o mundo e a forma mais recorrente e
mais fácil de enterrar as inúmeras vítimas era através de
enterramentos em valas comuns.[15][22] Os estudos demográficos
também podem fornecer informação relativamente a este assunto,
visto que determinados grupos etários podem ser mais afetados.[21]
O método mais eficaz de detetar a presença de peste é o molecular,
utilizado para identificar a Yersinia pestis com recurso a amostras
de restos osteológicos antigos[21] Um destes métodos, o teste de
diagnóstico rápido (TDR), foi desenvolvido e testado em 2003.
[23]
Bianucci et al. (2008) realizou uma investigação aplicando este
método em amostras ósseas de locais de enterramento de
indivíduos com peste, utilizando osso esponjoso e/ou dentes
erupcionados. Os resultados foram positivos e concluíram que de
facto este e outros métodos genéticos são eficazes e uma mais-
valia para estudos paleopatológicos em que informações
arqueológicas e históricas estão incompletas ou ausentes[23] e
quando as doenças infeciosas do passado não afetam o esqueleto.
[21]
Prevenção
A prevenção consiste em medidas de saúde pública, como não
manusear carcaças de animais em regiões onde a peste é comum.
[1]
As vacinas não têm demonstrado utilidade na prevenção da
doença.[1]
Tratamento
O tratamento da peste consiste na administração
de antibióticos específicos.[24] Os antibióticos de eleição tanto para
adultos como para crianças são os aminoglicosídeos como
a estreptomicina ou gentamicina.[24] Em surtos onde há um grande
número de pessoas infetadas ou em risco, a administração oral dos
antibióticos é a mais utilizada e dá-se preferência à doxiciclina.[24]
Epidemiologia
História
Ao analisar a história da peste surge frequentemente um problema,
isto é, nos registos históricos, encontram-se várias descrições de
epidemias que são atribuídas à peste, como é o exemplo da Peste
dos Filisteus (1320 a.C.).[16] No entanto, as descrições desses surtos
não mencionam sintomas específicos da peste bubónica. Assim
sendo, várias doenças infeciosas como a varíola, o sarampo, febre
tifoide, entre outras, podem ter causado a mortalidade elevada que
se registou nesses períodos.[28] A primeira pandemia em que se
identifica claramente descrições da forma bubónica da peste surgiu
no século VI d.C.[28]
Em 541 d.C., na cidade portuária egípcia de Pelusium, eclodiu um
surto de peste que rapidamente se alastrou por todo o império
Bizantino, sendo que nenhuma das terras que rodeavam o
Mediterrâneo escaparam ao seu alcance.[28] Em 544 tinha chegado
tão longe quanto as ilhas Britânicas. Esta pandemia foi denominada
de Praga de Justiniano, pois ocorreu durante o domínio do
Imperador Justiniano e pensa-se que matou cerca de 25% da
população do Império Bizantino.[28] A peste continuou a afetar estes
territórios durante cerca de dois séculos, surgindo entre intervalos
que variavam de seis a vinte anos, sendo que não se estabelecia
nas regiões durante muito tempo seguido.[28]
Em 1331 uma guerra civil e a peste eclodiram na China, tendo
devastado a região. A doença espalhou-se, seguindo para oeste,
pela Rússia e chegou à Crimeia em 1346. Através de vias
marítimas e terrestres alcançou territórios que circundavam
o Mediterrâneo e posteriormente o resto da Europa.[29] Em 1348 já
tinha dominado grande parte de França e da Suíça e rapidamente
atingiu a Alemanha, a Polónia e a Inglaterra.[29] A peste era
transportada por exércitos e navios, mercadores e viajantes. Os
ratos e as pulgas viajavam em carregamentos de grão, pólvora,
pêlos, roupas, etc. As rotas de peregrinação, comércio e feiras eram
os percursos naturais da doença (O’Neill, 1993). E assim se
disseminou a pandemia conhecida por Peste Negra, que se pensa
ter matado um terço da população Europeia, entre os anos de 1346
e 1350. A mortalidade foi tão elevada que os corpos eram
abandonados nas ruas ou amontoados uns em cima dos outros e
queimados, porque não havia capacidade de gerir os números
elevados de enterramentos.[16]
As três formas da peste (bubónica, pneumónica e negra
ou septicémica) foram identificadas no decorrer da pandemia do
século XIV, com uma proporção estimada de 77% para a forma
bubónica.[29] Na época, os tratamentos passavam por intervenção
cirúrgica, como reduzir o volume de sangue ou abrir e cauterizar as
tumefações ganglionares, purificação do ar através de fogo e
incensos, banhos e remédios naturais.[29] Os médicos que visitavam
os doentes eram acompanhados por rapazes que carregavam
incensos para purificar o ar e mantinham uma esponja embebida
em vinagre e especiarias no nariz.[29]
Nos séculos que se seguiram, a peste continuou a afetar o Velho
Mundo, causando altas taxas de mortalidade. Durante o século XVII
novas medidas de higiene pública e isolamento dos doentes foram
estabelecidas, apesar disso, a mortalidade continuou bastante
elevada. Foi apenas no fim do século XIX que se descobriu a forma
de transmissão da doença o que permitiu o avanço na prevenção,
evitando que a terceira grande pandemia adquirisse proporções
semelhantes às que a precederam.[16]
A terceira pandemia eclodiu na China na segunda metade do século
XIX e recebeu atenção mundial quando atingiu Hong
Kong e Cantão em 1884.[16][28] A disseminação da peste durante esta
pandemia, foi em grande parte proporcionada pela modernização
da navegação, com os navios a vapor como protagonistas, que
permitiram a passagem rápida da bactéria, em ratos e pulgas
infetadas, nomeadamente o Novo Mundo.[30][28] Algumas das cidades
portuárias fortemente afetadas foram Sydney, Honolulu, São
Francisco, Vera Cruz, Lima, Assunção, Buenos Aires, Rio de
Janeiro, Alexandria, Cabo Verde, Porto e Glasgow (Echenberg,
2002). Estimando-se que causou cerca de 15 milhões de mortes, a
maioria nos territórios da Índia, China e Indonésia, devido à grande
densidade populacional.[30]
Esta terceira pandemia da peste ocupa um lugar importante na
história mundial por várias razões, sendo a principal os grandes
desenvolvimentos no entendimento da doença, assim como dos
seus mecanismos de transmissão. Alexandre J. E. Yersin e
Shibamiro Kitasato descobriram a bactéria causadora da peste,
a Yersinia pestis, e em 1886, Ogata descobriu que esta se
transmitia através da mordidela de pulgas que se encontram nos
ratos. Uns anos mais tarde, Simond descobriu que a doença era
transmitida dos corpos de ratos mortos para ratos saudáveis
através da pulga.[16] Esta pandemia permitiu também um abrir de
olhos para as desigualdades socioeconómicas relativamente à
saúde pública.[30]
Em Portugal, o Porto foi a primeira cidade Europeia a ser atingida,
em 1899, e a mais afetada, com 320 casos assinalados e 132
mortes (Pontes, 2012), tendo-se registado focos noutros locais,
incluindo os Açores, mas de baixa expressão.[31] A presença da
peste bubónica no Porto levou a uma cerca sanitária imposta pelo
governo nacional e assegurada pelas forças militares. Esta decisão
do governo em Lisboa, não foi bem recebida e deu origem a várias
contestações por levar à disrupção das atividades económicas, ao
desemprego e ao agravamento da pobreza.[31] Com esta epidemia
fizeram-se notar as más condições de vida dos moradores da
cidade, com casas escuras e pouco ventiladas propícias à
disseminação da doença.[31]
data 04/08
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Consequências
O primeiro e o maior surto de peste negra ocorreu entre 1348 e
1350, mas outros surtos aconteceram ao longo de todo o século
XIV. A peste foi uma doença que esteve presente na vida dos
europeus até 1720, quando o último surto foi registrado em
Marselha, na França. A atuação da doença na Europa ao longo do
século XIV contribuiu para uma redução populacional drástica.
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