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Não sei qual dos meus sentidos foi mais solicitado por sua
presença, minha audição, escutando sua fala digna, ou
minha vista, contemplando sua tão grande beleza, seus
adornos, a distinção de suas maneiras, e a nobreza de
sua face (PIZAN, 2008, p.64).
As virtudes, no entanto, passam pela razão, pois há uma separação,
entre aquilo que é hipnagógico ou da sensação pura, do desespero da
imediatez dos sentidos e do discernimento. Com efeito, a Cidade das Damas
tem seu lado místico e sua fronte racional e lógica, pois como haveria do
místico ser totalmente oposto ao racional? Dito de outro modo, como os
sentidos se revelam à razão?
A essência divina pode ser vista como uma morada tríplice: no céu, na
terra e no inferno. É certo que este proceder da justiça pela essência divina em
algum grau de aproximação é não somente teológico, no sentido de canônico,
mas também da experiência e de algum modo místico. Entendendo então que
a essência tem o seu caráter duplo também ou dual, assim o aspecto da
realeza implica o complementar. Uma comparação é possível pelo tratado das
virtudes, Suma teológica V, de São Tomás de Aquino, pergunta-se se a partir
da fé a moral tem que saber tal como o ato de fé é, ou seja, se se exige total
ciência, ou ainda se é possível ter tal ciência do que se faz para ter eficácia o
ato ou se o ato é por si mesmo devido a sua finalidade? Isto é, existe uma
essência divina nos atos praticados?
Pois se o homem fizer sem saber, ele não estará na verdade, mas ainda
titubeando. Por outro lado a depender das circunstâncias existem graus de
compreensão e de mistérios, posto que se pode agir na fé e pela fé ou na
graça e pela graça sem compreendê-las plenamente. Do mesmo modo, é
possível ter razão e ascender a um determinado caminho sem, contudo saber o
caminho todo a percorrer, já que é necessário ao caminhante apenas o
caminhar.