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Parte III
Agentes públicos
No capítulo anterior estudamos que o Direito Administrativo é uma disciplina jurídica que
se insere no ramo público do Direito, tendo como objeto o estudo da função e da organização
administrativa do Estado e abrangendo os entes, órgãos, agentes e atividades desempenhadas
pela Administração Pública.
Abordaremos agora quem são as pessoas que compõem a Administração Pública e que,
exteriorizando as competências administrativas para o atendimento dos interesses da
população, dão cumprimento às finalidades estatais.
Agente público é, de maneira geral, a expressão mais ampla utilizada para designar de
maneira genérica toda pessoa física que, definitiva ou transitoriamente, realiza uma função
pública, recebendo ou não remuneração dos cofres públicos.
A Constituição atual não utiliza mais a expressão “funcionário público”. Em vez disso,
usa-se “servidor público”, que, todavia, tem uma dimensão mais abrangente por não se limitar
ao servidor estatutário, englobando também os empregados públicos e aqueles contratados
temporariamente para atendimento de uma necessidade excepcional do interesse público.
Como afirma Di Pietro (2018, p. 674), “antes da Constituição atual, ficavam excluídos
os que prestavam serviços às pessoas jurídicas de direito privado instituídas pelo Poder Público
(fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista). Hoje o artigo 37 exige a
inclusão de todos eles”.
Nos termos da Constituição Federal (BRASIL, 1988), os agentes públicos são
classificados da seguinte forma:
• agentes políticos;
• servidores públicos;
• militares;
• particulares em colaboração com o Poder Público.
Hely Lopes Meirelles (1997, p. 75) leciona que “agentes políticos são os componentes
do Governo nos seus primeiros escalões, investidos em cargos, funções, mandatos ou
comissões, por nomeação, eleição, designação ou delegação para o exercício de atribuições
constitucionais”.
Trata-se de um conceito vasto, pois, nessa categoria, o autor inclui tanto os chefes do
Poder Executivo federal, estadual e municipal, seus auxiliares diretos (os ministros de Estado
no plano federal e os secretários estaduais e municipais) e os membros do Poder Legislativo,
assim como os integrantes da Magistratura, do Ministério Público, dos Tribunais de Contas e
“demais autoridades que atuem com independência funcional no desempenho das atribuições
governamentais, judiciais ou quase judiciais, estranhas ao quadro do funcionalismo
estatutário” (MEIRELLES, 1997, p. 75).
Celso Antônio Bandeira de Mello (2016, p. 111) apresenta um conceito mais restrito,
definindo como agentes políticos apenas “os titulares dos cargos estruturais à organização
política do País, ou seja, são os ocupantes dos cargos que compõem o arcabouço
constitucional do Estado e, portanto, o esquema fundamental do poder. Sua função é a de
formadores da vontade superior do Estado”.
Agentes políticos são pessoas que têm um vínculo com o Estado para o exercício de
uma função política, assim concebida como uma função de ordem superior que compreende
“as atividades de direção e as colegislativas, ou seja, as que implicam a fixação de metas, de
diretrizes, ou de planos governamentais” (DI PIETRO, 2018, p. 675).
Agentes políticos são as pessoas físicas que têm um vínculo de natureza político-
institucional e desempenham com autonomia suas funções, ou seja, sem vínculo de
subordinação hierárquica, sendo investidos de prerrogativas e responsabilidades previstas na
Constituição e em leis especiais. Eles realizam função política assim concebida como uma
tarefa de governo que fica a cargo dos órgãos governamentais que se concentram
basicamente no Poder Executivo e, em parte, no Poder Legislativo.
Em vista disso, seja em razão da natureza das atividades que desempenham os agentes
políticos ou pela natureza do seu processo de investidura, não parece adequado incluir nessa
categoria os magistrados e os membros do Ministério Público, notadamente porque “em suas
atribuições constitucionais, nada se encontra que justifique a sua inclusão entre as funções de
governo; não participam direta ou indiretamente, das decisões governamentais” (DI PIETRO,
2018, p. 675).
Como espécie de agentes públicos, temos os servidores públicos, pessoas físicas que
integram a Administração Pública mediante um vínculo de natureza profissional e hierárquico-
funcional, recebendo, pelo desempenho de suas atribuições, remuneração diretamente dos
cofres públicos. Di Pietro (2018, p. 677) explica que servidor público é uma designação
abrangente que inclui “as pessoas físicas que prestam serviços ao Estado e às entidades da
Administração Indireta, com vínculo empregatício e mediante remuneração paga pelos cofres
públicos”.
Nestes termos, os servidores públicos são classificados em: (i) servidores estatutários;
(ii) empregados públicos; e (iii) contratados temporariamente nos termos do disposto no inciso
IX do artigo 37 da Constituição Federal.
Cada ente federativo detém competência para expedir o estatuto que, estabelecendo
os direitos e deveres do servidor, é o diploma normativo que rege a relação, daí fala-se em
vínculo profissional-legal. Na esfera federal, o regime estatutário é regulado pela Lei n.
8.112/90. São os servidores da Administração Pública direta e autárquica que, investidos por
meio de concurso, alcançam a estabilidade no serviço público.
Nessa categoria, temos: a) aqueles que recebem uma delegação do Poder Público para
o desempenho de um serviço público, como os concessionários e permissionários de serviços
públicos, os notários e oficiais de registro (artigo 236, CF), os leiloeiros e os tradutores oficiais.
Eles desempenham suas atividades sem vínculo empregatício, são remunerados por aqueles
que usufruem dos serviços que prestam e são fiscalizados pelo Poder Público; e, b) aqueles
que são requisitados para o desempenho de uma atividade relevante, sem vínculo de
emprego, como os recrutados para o desempenho do serviço eleitoral ou militar, bem como
para atuarem como jurados no Tribunal do Juri. São também denominados “agentes
honoríficos”, pois são recrutados para o desempenho de uma atividade que constitui um
munus público, consistente em uma “parcela de sacrifício exigível do cidadão em prol dos
interesses coletivos […] para cumprir objetivos cívicos, sem usufruir nenhuma retribuição de
cunho pecuniário” (BACELLAR FILHO, 2005, p. 132).
Entretanto, é importante ressaltar que essa definição não se insere no âmbito de opção
discricionária, pois prevalece no sistema constitucional brasileiro a relação estatutária entre o
Estado e seus agentes administrativos, haja vista que o Supremo Tribunal Federal, ao julgar a
ADI 23101, decidiu que o regime de emprego público é incompatível com o exercício de
atividades típicas de Estado.
Regis Fernandes de Oliveira destaca que a Administração Pública não detém liberdade
para escolher o regime a que submete o seu pessoal, não lhe sendo possível
1 Tratou-se de ação direta de inconstitucionalidade que, entre outros, questionava o regime celetista estabelecido para o pessoal
das agências reguladoras. Nesse julgamento, considerando que tais agências são espécies de autarquias (especiais) que realizam
atividade típica de Estado – o poder de polícia –, o Supremo Tribunal Federal decidiu que seus servidores não poderiam se
submeter ao vínculo de emprego regido pela legislação trabalhista, impondo-se a eles o regime estatutário,
um regime próprio, diferente do trabalhista.
(OLIVEIRA, 2004, p. 34)
Em razão dessa flexibilização trazida pela EC 19/1998, foi expedida no âmbito federal
a Lei n. 9.962/2000 para disciplinar o regime de emprego, que, a partir dessa Emenda, passou
a vigorar no contexto da Administração Pública federal direta, autárquica e fundacional,
estabelecendo- -se a aplicação da Consolidação das Leis do Trabalho naquilo que a Lei não
dispuser em sentido contrário. No entanto, o Supremo Tribunal Federal considerou
inconstitucional o dispositivo da Emenda Constitucional n. 19/1998, que pretendeu flexibilizar
a adoção do regime único ao julgar a ADI 2135-4/DF, voltando, portanto, o texto constitucional
à sua redação originária, isto é, à obrigatoriedade de adoção do regime único e planos de
carreira para o pessoal da Administração Pública direta, autárquica e fundacional 3.
Mello (1991, p. 107) adverte que o regime estatutário é próprio para o atendimento
dos interesses públicos básicos, sendo que o as normas trabalhistas foram concebidas para
dispor sobre relações entre particulares, estranhos, tendo em vista a problemática que está
em causa quando se trata de proteger e resguardar interesses públicos. Os servidores são
instrumentos de atuação do Estado e, assim sendo, pelas garantias oferecidas, como
impessoalidade e neutralidade à função pública, o regime estatutário é o regime legal que
proporciona o exercício das atividades com maior independência técnica, orientando-se para o
atendimento das finalidades públicas.
2 Sobre o tema, vale conferir as lições de Meirelles (1997, p. 358); Di Pietro (2018, p. 685); Mello (2016, p. 251-262); Rocha (1999,
p. 124-127); Dallari (1992, p. 46); Anastasia (1990, p. 59).
3 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n. 2135 MC/DF DF. Diário da Justiça Eletrônico, Brasília, DF, 7 mar. 2008. Disponível em:
http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=11299. Acesso em: 2 out. 2019.
O regime estatutário é o regime dominante na Administração Pública direta,
autárquica e fundacional, não se confundindo com o regime trabalhista, admitido para a
realização de atividades mais subalternas – aquelas cujo desempenho sob o regime laboral
“não introduz riscos para a impessoalidade da ação do Estado em relação aos administrados
caso lhes faltem as garantias inerentes ao regime de cargo” (MELLO, 2016, p. 259-260).
O cargo público é considerado preenchido quando o servidor toma posse (em até 30
dias após a nomeação) e entra em efetivo exercício (em 15 dias). Somente após a posse e o
efetivo exercício é que se aperfeiçoa o provimento no cargo público.
Estabilidade
A estabilidade é o direito constitucional (subjetivo) obtido pelo servidor detentor de
cargo efetivo, adquirido após aprovação em concurso público de provas ou de provas e títulos.
Esse direito é alcançado após três4 anos, a contar da posse no cargo, de efetivo exercício em
cargo de provimento efetivo, desde que tenha sido aprovado no estágio probatório pela
avaliação realizada por comissão especialmente instituída para essa finalidade (artigo 41, § 4 o,
CF).
Concebida como uma garantia constitucional, própria do regime estatutário, a
estabilidade assegura uma atuação mais imparcial, impessoal e destemida do servidor público,
circunstância indispensável ao exercício da função pública (BACELLAR FILHO, 2009).
Sobre o tema, Di Pietro (2008, p. 562) adverte, ainda, que a emenda constitucional n.
19/98
Em seguida, adverte que “não tem qualquer sentido a Súmula 390, I, do TST”, pois “a
partir da Emenda n. 19 [...] não mais se justifica a outorga de estabilidade ao servidor celetista,
que é contratado (e não nomeado) para emprego (e não cargo)” (DI PIETRO, 2008, p. 562).
4 Com a redação dada pela EC 19/1998. Originariamente, a Constituição Federal estabelecia que a estabilidade era alcançada após
dois anos de efetivo exercício em cargo de provimento efetivo.
permanência do servidor no serviço público. Em síntese, a estabilidade é a garantia
constitucional conquistada pelo servidor público investido, após aprovação prévia em concurso
público, em cargo de provimento efetivo.
Sistema remuneratório
Quanto ao sistema remuneratório, a Constituição Federal de 1988 estabelece duas formas
de retribuição pecuniária no funcionalismo público:
5 “Artigo 39: [...] § 3º: Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII,
XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão quando a
natureza do cargo o exigir. (Incluído pela Emenda Constitucional n. 19, de 1998)” (BRASIL, 1988).
todos os entes da federação. A citada Emenda estabeleceu uma nova forma de remuneração
para algumas categorias de agentes públicos: o regime de subsídio.
Posteriormente, com o advento da EC n. 41/2003, uma nova redação foi dada ao inciso XI
do artigo 37 da Constituição Federal, estabelecendo-se subtetos para cada ente federativo. 7
Pela regra inserta no inciso XV do artigo 37 da Constituição Federal, “o subsídio e os
vencimentos dos ocupantes de cargos e empregos públicos são irredutíveis, ressalvado o
disposto nos incisos XI e XIV deste artigo e nos arts. 39, § 4 o, 150, II, 153, III, e 153, § 2o, I;”
(BRASIL, 1988). Trata-se de uma garantia constitucional assegurada aos servidores públicos
estatutários e empregados públicos.
6 “Artigo 39: [...] § 4o: O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e
Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer
gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o
disposto no art. 37, X e XI” (BRASIL, 1988).
7 Lendo o artigo 37 da CF, é possível saber mais sobre a remuneração e o subsídio estabelecidos para cada ente federativo.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em: 26 set. 2019.
8Redação dada pela Emenda Constitucional n. 34 /2001.
A proibição de acumular também se estende ao regime de emprego público, na forma
determinada pelo inciso XVII do artigo 37 da Constituição Federal 9. Além da ressalva contida
nos incisos XVI e XVII do artigo 37, a Constituição Federal disciplina a acumulação remunerada
de cargos públicos no artigo 3810; no artigo 42, § 3o11; no artigo 95, § único, inciso I12; e no artigo
128, § 5o, II, d13.
Aposentadoria
Convém fazer um breve registro sobre a aposentadoria dos servidores públicos.
Aposentadoria “é o direito à inatividade remunerada, assegurado ao servidor público em caso
de invalidez, idade ou requisitos conjugados de tempo de exercício no serviço público e no
cargo, idade mínima e tempo de contribuição” (DI PIETRO, 2018, p. 718).
14 Lendo o artigo 40 da CF, § 1o, incisos I, II e III, é possível saber mais sobre aposentadoria do servidor público.
15O § 5º do art. 40 da CF versa sobre os requisitos de idade, de tempo e de contribuição.
Responsabilização dos servidores públicos
Pelo desempenho das atribuições de seu cargo, emprego ou função pública, o
servidor público se submete à responsabilização civil, penal e administrativa. No âmbito
federal, a responsabilização dos servidores públicos estatutários está disciplinada no artigo 121
e seguintes da Lei n. 8.112/1990, utilizada aqui como referência.
Isto é, um servidor ao qual tenha sido imputada a prática do crime de peculato pode ser
absolvido na instância criminal por ausência de provas, por exemplo, e mesmo assim, após
regular processo administrativo disciplinar, ser punido na esfera administrativa pelo
cometimento de falta grave. Nos termos da Súmula 18 do STF, tem-se que “pela falta residual,
não compreendida na absolvição pelo juízo criminal, é admissível a punição administrativa do
servidor público” (BRASIL, 1963).
Surge, assim, o Direito Administrativo Disciplinar que, como ensina Bacellar Filho (1998,
p. 35), tem duas funções:
17 BRASIL. Superior Trinunal de Justiça. ROMS 12.680/MS. Diário da Justiça, 5 ago. 2002. Relator: Min. Jorge Scartezzini, j. em: 23
abr. 2002.
18 O artigo 145, incisos I a II, versa sobre a sindicância e quais penas podem ser aplicadas.
de penalidade converte-a em processo que, por consequência, exige a observância das
garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa.
Por isso, a partir da Lei n. 8.112/1990, a sindicância passa a ser concebida em dois
sentidos: a) sindicância-procedimento (não é meio sumário de imposição de penalidades, mas
procedimento meramente apuratório); b) sindicância-processo (inciso II do artigo 145 da
mesma lei), da qual pode resultar a aplicação de penas leves, desde que asseguradas as
garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa.
19 Para saber mais sobre penalidades e advertências aplicáveis aos servidores públicos, confira os artigos 128, 129, 130 e 132
da Lei n. 8.112/1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8112cons.htm. Acesso em: 26 set. 2019.
20O artigo 151 da Lei n. 8.112/1990 explica sobre o processo disciplinar e suas respectivas fases.
No que se refere ao tempo de duração do processo, nos termos do disposto no
artigo 152 da Lei n. 8.112/1990, estatuto federal que aqui é invocado como referência, “o
prazo para a conclusão do processo disciplinar não excederá 60 (sessenta) dias, contados da
data de publicação do ato que constituir a comissão, admitida a sua prorrogação por igual
prazo, quando as circunstâncias o exigirem” (BRASIL, 1991).
21 O estatuto federal não prevê a aplicação de punição pelo critério da verdade sabida.
do Funcionário Público Civil do Estado do Paraná). Di Pietro (2018, p. 809) ensina que verdade
sabida é “o conhecimento pessoal e direto da falta pela autoridade competente para aplicar a
pena”.
Os empregados públicos, por sua vez, têm seu regime disciplinar submetidos à
Consolidação das Leis do Trabalho, nos termos do que dispõe a Lei n. 9.962/2000. Entretanto,
cabe ressaltar que, nas hipóteses de rescisão unilateral do contrato em razão de falta grave
cometida pelo empregado público, à luz do disposto no artigo 5º, incisos LIV e LV da
Constituição Federal, o desligamento deve ser realizado com observância das garantias do
contraditório e da ampla defesa.
Por fim, cabe destacar que a responsabilização do servidor público também pode
resultar do cometimento de ato de improbidade administrativa, cuja apuração é realizada no
âmbito do Poder Judiciário, mediante o ajuizamento da competente ação civil de improbidade
administrativa disciplinada pela Lei n. 8.429/1990.
Embora sem ter se preocupado em definir o conteúdo do que seja considerado como
um ato de improbidade administrativa, o legislador infraconstitucional estabeleceu os tipos de
22 Para saber mais sobre a ação disciplinar e seus prazos, é importante ler o artigo 142, incisos I a III, §§ 1º a 4º, da
Lei n. 8.112/1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8112cons.htm. Acesso em: 26 set. 2019.
improbidade (artigos 9, 10 e 11 da Lei n. 8.429/1992), nos quais são enquadráveis os
servidores públicos (BRASIL, 1992).
Essas colocações permitem concluir que, pelo desempenho irregular das atribuições de
seu cargo e conforme a gravidade da sua conduta, ao servidor público podem ser designadas
penas mais leves ou mais graves, consoante à gradação prevista em seu respectivo estatuto
funcional, sendo a pena de demissão a mais grave de todas. Todavia, determinadas condutas
são qualificadas como de maior gravidade e, nesse sentido, são qualificadas como atos de
improbidade administrativa, ensejando a aplicação de sanções de natureza ainda mais grave,
como aquelas estabelecidas no artigo 12 da Lei n. 8.429/1992.
É imperativo destacar que, em que pese ser qualificado como ilícito funcional a ensejar
a imposição de uma sanção disciplinar, nem todo ato irregular praticado pelo servidor público
pode ser qualificado como ato de improbidade administrativa, pois a configuração de tal ato
exige, necessariamente, a desonestidade. Assim, o dolo e a má-fé são premissa para a
caracterização do ato de improbidade.
A gravidade das sanções cominadas pela Lei de Improbidade Administrativa tem como
fundamento a existência de grave violação aos deveres impostos aos agentes públicos e
àqueles particulares que se relacionam com a Administração Pública, de tal forma que a
configuração do ato ímprobo exige demonstração cabal de sua prática, mediante prova
inequívoca, determinada e concreta dos atos ilícitos. Diante disso, é certo que não se pode
admitir – por intolerável violação ao princípio da presunção de inocência – a imposição de
penalidades com amparo em presunções, nem a condenação com base em meros indícios.
Sobre esse tema, Romeu Felipe Bacellar Filho e Daniel Wunder Hachem (2003, p. 17)
pontuam que “é imprescindível estabelecer de forma precisa e rigorosa os elementos que
integram a infração praticada, para não enveredar pela senda da imputação vazia, senão
injusta ou, mesmo, da generalização típica inconsequente”.