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Resumo: A presente investigação, de natureza qualitativa, do tipo estudo de caso, teve por
objetivo analisar relatos de professores de Matemática que trabalham ou trabalharam em
classes comuns do ensino regular ou em universidades, com alunos que apresentam algum
tipo de deficiência. Por meio dos relatos, buscou-se compreender quais as expectativas dos
professores com relação à formação profissional docente, inicial e continuada, frente aos
desafios da inclusão escolar. Os sujeitos da pesquisa foram sete professores de
Matemática, com os quais foram realizadas entrevistas semi-estruturadas. Os dados foram
submetidos à Análise de Conteúdo. Foram estabelecidas duas categorias a priori, quais
sejam, formação inicial e formação continuada, que são apresentadas ao longo do texto. A
análise evidenciou a necessidade de redimensionamentos na formação inicial, bem como a
importância de oportunizar espaços para a formação em serviço.
Palavras-chave: Formação de professores; Educação matemática; Educação inclusiva;
Inclusão escolar.
Introdução
A inclusão escolar cada vez mais tem se tornado uma realidade, embora os
posicionamentos dos professores com relação ao tema sejam bastante divergentes. Alguns
rejeitam a idéia; outros toleram por imposições superiores; outros mostram-se inseguros.
Há, porém, professores que são receptivos e tentam, apesar das dificuldades, redimensionar
sua prática pedagógica, buscando uma educação mais justa e de melhor qualidade para
todos os seus alunos.
Quando falamos em incluir alunos com deficiência nas classes comuns do ensino
regular, emergem algumas resistências. Uma questão apontada com frequência como
sendo um entrave com relação à inclusão diz respeito à formação do professor. Embora os
documentos mais recentes sobre o tema deixem claro que os alunos com deficiência devem
frequentar as classes comuns do ensino regular cabendo, portanto, aos professores desta
modalidade de ensino a tarefa pedagógica, ainda persistem questionamentos sobre a
necessidade deste ter ou não uma formação especializada. É comum, também, ouvirmos
por parte dos docentes afirmações de que não sentem-se preparados, que nunca
trabalharam com alunos com deficiência e que necessitam de alguém que lhes mostre
como devem proceder.
Para compreender melhor essa temática, foi delineada a presente investigação, que
partiu da seguinte questão: Como deve ser a formação profissional dos professores de
matemática para que possam atuar de forma inclusiva, acolhendo as diferenças dos alunos?
O objetivo, portanto, é centrado na compreensão das expectativas dos professores de
matemática com relação à formação profissional necessária para atuarem nas classes
comuns com alunos que apresentam deficiência, contemplando os pressupostos da
educação inclusiva.
Fundamentação teórica
da riqueza que representa o convívio com essas diferenças, pois educar implica o encontro
com o outro, que necessariamente é diferente.
A inclusão escolar não atinge apenas os alunos com deficiência, mas todos os
demais, pois as escolas inclusivas propõem que o sistema educacional se organize de tal
forma a atender às necessidades de todos os alunos e se estruture a partir dessas
necessidades. Busca-se rever a idéia de que as diferenças são um problema que precisa ser
superado, assumindo que elas são inerentes a qualquer pessoa e constistem um fator de
enriquecimento dos processos de ensino e de aprendizagem.
Mittler (2003) vem ao encontro dessas idéias ao afirmar que a inclusão não diz
respeito a colocar as crianças com deficiência nas escolas regulares, mas mudar as escolas
para que se tornem mais responsivas às necessidades de todas as crianças. Envolve um
processo de reestruturação das escolas como um todo, e isso diz respeito a todas as
crianças que não estão se beneficiando da escolarização, e não apenas às que possuem
alguma deficiência.
Pensar em uma escola inclusiva traz à tona alguns questionamentos sobre a
necessidade de que o professor tenha ou não formação especializada. Muitas dessas
questões decorrem da falta de clareza com relação ao que compete ao professor e aos
demais profissionais. Entendemos que o professor precisa dar conta das questões
pedagógicas, desenvolvendo um ensino que contemple a turma toda, sem exclusões.
Figueiredo (2002) ajuda a compreender o papel do professor na perspectiva
inclusiva, quando afirma que a escola não constitui espaço clínico, mas educacional.
Portanto, trabalhar com alunos com deficiência não requer uma especialização relacionada
às deficiências, mas o aprimoramento do professor para que possa eliminar as barreiras que
os alunos enfrentam.
Para contemplar os pressupostos da educação inclusiva, Mantoan (2003) propõe
uma formação em serviço que busque preparar profissionais para transformar a escola no
sentido de torná-la aberta às diferenças, indo além dos aspectos instrumentais de ensino e
enfatizando a importância do professor na construção do conhecimento e na formação de
atitudes e valores do cidadão.
A proposta da inclusão escolar traz à tona, portanto, questionamentos com relação à
educação em geral e, em especial, à formação docente. A resposta a tais questionamentos
Percurso metodológico
Resultados da investigação
A formação inicial parece não ter sido suficiente para preparar os professores
entrevistados para enfrentarem os desafios da complexa tarefa que a docência representa
nos dias de hoje. Muitas foram as críticas apontadas no que diz respeito à formação inicial.
No que diz respeito à formação específica, alguns apontaram a grande ênfase dada
ao rigor formal da Matemática, esta sendo vista como uma Ciência desvinculada de outras,
formada por verdades absolutas e incontestáveis, às quais nem todos conseguem ter acesso
e cuja aprendizagem é considerada difícil. Segundo destacaram, essa visão que foi sendo
assimilada ao longo do curso, parece ter dificultado o trabalho em sala de aula no que diz
respeito à necessidade de oportunizar um ensino ao qual todos os alunos possam ter acesso
e dele se beneficiar. Machado (1997) corrobora tais ideias ao afirmar que somente a partir
da superação dessa visão hermética da Matemática como uma Ciência eleita para poucos,
seu ensino poderá ser redimensionado.
Ainda com relação à formação inicial, alguns professores criticaram a falsa idéia de
homogeneidade em sala de aula, que lhes foi transmitida ao longo do curso, levando-os a
crer que todos os alunos seriam capazes de aprender as mesmas coisas, da mesma maneira
e ao mesmo tempo. Apontaram, ainda, a falta de conhecimentos específicos sobre
necessidades educacionais especiais, o que provocou insegurança ao receberem alunos
com deficiência em suas classes.
Muitos são os questionamentos com relação aos conhecimentos que o professor da
escola regular precisa para incluir, de fato, alunos com deficiência em sua classe. Ferreira
(1998) afirma que o educador do ensino regular não precisa ter formação especializada,
mas é necessário que se torne um pesquisador do seu saber e do seu fazer ou, como afirma
Mantoan (1998), que aprenda a questionar sua própria prática. Este parece ser o enfoque a
ser dado nos cursos de formação inicial, ou seja, uma formação crítica e reflexiva, em
oposição ao modelo da racionalidade técnica que, ainda sendo predominante em muitos
cursos, mostra-se insuficiente para as demandas dos dias atuais.
Embora sejam necessários redimensionamentos no que diz respeito à formação
inicial, seria ingênuo pensar que ela poderia dar conta de preparar os futuros professores
para a complexa tarefa da docência. Trata-se de uma etapa da formação profissional que
não se encerra com a conclusão do curso, pois por melhor que este tenha sido, os
conhecimentos que foram construídos pelo docente ao longo do mesmo serão sempre
Considerações finais
necessidades da sociedade que temos hoje, em constante transformação. Para que possa
assumir esse novo papel, há que se repensar a sua formação profissional, tanto inicial
quanto continuada.
As conclusões do presente estudo apontam para a necessidade de mudanças nos
cursos de formação inicial, bem como para a criação e a manutenção de espaços
permanentes de formação continuada dentro da própria escola. Indicam, ainda, a
importância da inserção de temas como educação inclusiva e questões relacionadas à
heterogeneidade nas discussões escolares e nos cursos de formação, entre outros. Trata-se
de um desafio a ser enfrentado, que pode contribuir para a concretização de mudanças que
se fazem necessárias, quando se busca uma educação mais justa e de qualidade para todos
os alunos.
Referências