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FACULDADE GIANNA BERETTA

PÓS-GRADUAÇÃO EM URGÊNCIA E EMERGÊNCIA


MÓDULO ASPECTOS ÉTICOS EM SAÚDE/ÉTICA, BIOÉTICA E EXERCÍCIO PROFISSIONAL
DA ENFERMAGEM
PROFº. ROSÁRIO MARQUES
ALUNA: YALLÊM MELO SOEIRO ARAÚJO

ESTUDO DE CASO 02
Inicialmente, faz-se necessário entender que a microcefalia é uma condição
neurológica caracterizada pela caixa craniana e o cérebro menores do que o normal,
comparado aos valores de referência para sua idade e tamanho. Algumas crianças
com microcefalia podem ter um desenvolvimento e uma inteligência normal, mesmo
com o cérebro em menor tamanho, na modalidade da condição chamada
de microcefalia leve. 
Em suma, outras crianças podem ter atrasos e problemas de desenvolvimento
mental, físico e motor, que estão diretamente relacionados ao tamanho reduzido do
cérebro. A microcefalia pode acontecer por motivos diversos, como uma carga
genética onde os pais tenham o gene da microcefalia, apesar de não manifestá-la, e a
craniossinostose, que é a fusão precoce dos ossos do crânio do bebê ainda na barriga
da mãe (sendo que a formação do crânio costuma terminar quando a criança já tem
uma idade mais avançada).
Vale salientar, ainda, que a microcefalia grave é a forma mais grave e extrema
dessa condição, em que a cabeça do recém-nascido é muito menor do que o
esperado. A microcefalia grave pode ocorrer devido ao fato de a cabeça não se
desenvolver de forma apropriada durante a gestação, ou devido ao fato de o cérebro
começar a se desenvolver corretamente, mas sofrer danos em algum ponto da
gestação.

Segundo o artigo, dentre as consequências que a microcefalia pode causar


estão: atraso mental, deficit intelectual, convulsões, autismo, paralisia, epilepsia,
rigidez dos músculos respiratório e cardíaco, além de vários outros. A doença pode ser
detectada pela ultrassonografia ou outros exames pré-natais mesmo durante a
gestação.

Estes problemas podem variar de moderado a grave e, geralmente, são


permanentes. Bebês com microcefalia grave podem apresentar mais de um desses
problemas, ou apresentar mais dificuldade em lidar com eles do que bebês com
microcefalia moderada, pois o cérebro é pequeno e subdesenvolvido. A microcefalia
grave também pode ser fatal.

O Ministério da Saúde confirmou a relação entre o Zika vírus e o surto de


casos de microcefalia no nordeste do país em 2016. A febre zika, ou simplesmente
zika vírus, é uma infecção causada pelo vírus ZIKV, transmitida pelo mosquito Aedes
aegypti, mesmo transmissor da dengue e da febre chikungunya.
Até o surto de Zika que assolou o Brasil, as discussões acerca de permissão
do aborto se encontravam paralisadas, porém, a aludida doença desencadeou em
uma geração de fetos com microcefalia. A partir daí, começou o questionamento
acerca da possibilidade de aborto nos casos de feto com microcefalia.
É importante ressaltar que o diagnóstico de microcefalia pode despertar nos
pais uma série de emoções, como medo, preocupação, tristeza e culpa. Portanto é
importante buscar: Ajuda de uma equipe profissional de confiança: Procurar
médicos, professores e terapeutas em que confia.

Há o temor de um retorno da eugenia, visto que permitir o abortamento no


caso da microcefalia abriria hipótese para outras doenças, como Síndrome de Down e
Edwards, além de outras doenças que também são responsáveis pelas sequelas da
microcefalia, como a Síndrome de Patau, de forma que seria possível estender por
analogia a permissão do aborto para outros tipos de deficiência (FILHO, 2016).

O principal argumento contra a interrupção de gestação de fetos com


microcefalia é a expectativa de vida extrauterina que o portador de microcefalia possui,
condição esta que pode ser submetida a tratamentos que melhoram o
desenvolvimento do portador da doença (SOUZA, 2016).

Recentemente, o STF (Supremo Tribunal Federal) julgou procedente a ADPF


(Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) de nº 54, que legaliza o
aborto em casos de anencefalia, permitindo que as mulheres grávidas de feto
anencéfalo, optem em querer dar continuidade à gestação ou não.

A anencefalia se constitui em uma má formação do cérebro do nascituro, durante a


fase do desenvolvimento no ventre materno, causando a inexistência total do cérebro
e da caixa craniana do feto, não havendo possibilidade de vida extrauterina. Portanto,
diante de tal decisão, as gestantes que não desejarem continuar com a gestação de
um feto anencéfalo, poderão optar pelo aborto realizado somente por médico, se
constituindo numa terceira hipótese de aborto legal ou permitido.

A primeira corrente entende que se cabe ao feto com anencefalia, poderia,


também, caber ao com microcefalia, desde que autorizado pela mãe, por razões de
dignidade, já que se trata de enfermidade incurável.

A segunda corrente entende que a situação de fetos com microcefalia em


nada se parece com os de anencefalia, vez que em que pese a microcefalia ser
incurável, não obsta o desenvolvimento do ser humano, ou seja, o indivíduo irá se
desenvolver e levar uma vida com limitações, assim como em vários outros tipos de
deficiência.

Outrossim, defende, essa corrente, que permitir o aborto nesse caso seria
ferir, por completo, as disposições do Estatuto da Pessoa com Deficiência, o qual,
logo em seu art. 1º, prega pela inclusão social dos portadores de necessidades
especiais.

Art. 1º É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com


Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), destinada a
assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício
dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com
deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania.

Eis a corrente majoritária, razão pela qual não é admitido o aborto em caso
de microcefalia.
Sabemos que uma criança portadora da microcefalia, sobretudo pelas
características físicas aparentes, principalmente a cabeça em tamanho menor que o
normal para uma criança da mesma idade, viria a se deparar e teria que conviver com
a discriminação que é comum ainda hoje em nossa sociedade para com os deficientes
físicos, porém, o fato de uma possível aprovação pelo STF para a descriminalização
do aborto de microcéfalo, estaria totalmente eivada de discriminação, de preconceito,
pelo fato de saber vir a ser esse feto, detentor de anomalias que os diferenciaria dos
demais. Essa não poderia ser uma justificativa defendida por aqueles que tem como
atribuição zelar pelo direito igual a todos os cidadãos.

Somos todos sabedores da dificuldade pela qual passa o nosso país no


momento atual de nossa história, sabemos ainda da precariedade da saúde pública no
Brasil, com o sucateamento de equipamentos e unidades básicas. Da mesma forma,
entendemos a transformação que vem a sofrer a vida de uma mãe de uma criança
portadora de microcefalia. De exemplos reais, extraímos algumas experiências de
mães que deixam de trabalhar para viver unicamente para cuidar de seu filho com tal
patologia. Mas ao mesmo tempo, de igual forma sabemos, utilizando dos mesmos
exemplos, que as mesmas mães, mesmo inegavelmente tendo sofrido ao encarar o
diagnóstico de microcefalia para seu bebê, são portadoras de um amor incondicional
que supera qualquer tipo de preconceito e que nos faz acreditar que é possível sim
garantir ao microcéfalo uma vida digna e feliz, mesmo dentro de suas limitações.

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