Você está na página 1de 5

O FUTURO DA EAD NO BRASIL E NO MUNDO

Professor Cláudio de Musacchio

COE e FOUNDER do PORTAL EAD BRASIL

Pode parecer um desafio ambicioso de minha parte, em querer prenunciar o futuro de sistemas
metodológicos que utilizam tecnologias voláteis e que tendem a produzir mudanças em sua
organização e controle, em espaços cada vez mais curtos. Afinal, quem diria que, em 2010, o
ORKUT fosse acabar?

Então, vou tentar descrever em três grandes pilares, meu entendimento acerca das correntes
que estão movimentando o mundo, constituindo-se numa figura caleidoscópica epistemológica,
que muda a cada instante, ao sabor das tecnológicas e das metodologias educacionais
impregnadas de criatividade e inovação, e que por isso duram tão pouco:

O FUTURO DA ESCOLA NÃO ESTÁ NA ESCOLA, PORQUE O MUNDO SERÁ A ESCOLA!

1) Uma corrente mundial aponta para a desescolarização e a consequente perda da hegemonia


educacional pelas instituições de ensino tradicionais, patrocinadas por rebeliões de jovens em
todo o mundo, realizado basicamente, pela geração Z (1990/2014), que querem criar um novo
conceito de necessidade do conhecimento, cuja ideia é inovadora, criativa, politicamente
correta, entretanto, precisa ser lapidada, mas não pelos velhos conceitos e preceitos, mas sim,
pelas novas metodologias e tecnologias em rede. Uma nova relação com o Saber e com o
mercado de trabalho.

APRENDIZAGEM UBÍQUA E UBIQUIDADE TECNOLÓGICA

2) Aprendizagem ubíqua e a ubiquidade tecnológica estão redesenhando um novo mundo de


utilitários tecnológicos, tanto domésticos (Internet das coisas), quanto no cenário empresarial
(robótica, drones e intelligence equipments). E tudo isso graças aos sistemas de educação global,
MOOcs e outros ambientes que proporcionam rápida expansão da informação que precisa ser
apreendida para se trabalhar hoje em dia em organizações que aprendem, se adaptam
rapidamente e se constituem em empresas gigantes que cabem numa sala de 2 mil metros
quadrados.

A ideia é que a escola tradicional não sabe lidar com o conhecimento que o aluno adquire fora
dela, porque ela ignora tais conhecimentos. Na verdade, os professores não são capacitados e
habilitados em lidar com a ubiquidade, sendo portanto uma bomba prestes a estourar a
qualquer momento. É preciso uma nova relação com o Saber anterior à escola.

TODOS PRECISAMOS DE INFORMAÇÕES PARA SUBIR DE NÍVEL – INFORMAÇÃO ESTÁ NA REDE!

3) Os seres humanos estão percebendo rapidamente, como numa rede viral, que as informações
trocadas pelas redes sociais, estão se transformando em conhecimentos globais, isto é, a
informação que me falta para subir de nível, seja ele intelectual ou social, não está mais na
escola, está em algum nó da rede e por isso, fico a vagar buscando as pessoas que devem me
ajudar a subir nesta escala de valores (intelectual ou social).

Pessoas que sabem o que precisam saber, buscam na rede mundial de relacionamentos, as
informações necessárias para subir este nível. Mas aquelas que ainda não descobriram quais as
informações que lhes faltam para subir de nível, buscam ajuda nos sistemas educacionais a
distância. É para isso que os cursos virtuais existirão, é para servir as pessoas, de alguma
maneira, para que elas possam descobrir o que lhes falta e então sim, buscarem a informação
na rede. Por conta dessa procura, desvairada por informações, existem três paradoxos que
circundam nossas vidas hoje em dia: o paradoxo do tempo, o paradoxo da distância e o paradoxo
da velocidade.

O PARADOXO DO TEMPO – NÃO TENHO TEMPO PRA NADA, PORQUE FAÇO MUITAS COISAS
AO MESMO TEMPO!

O paradoxo do tempo consiste em considerar que quanto mais atividades uma pessoa realiza
por dia, mais tempo ela encontra para realizar mais atividades ainda. E quanto menos atividades
uma pessoa realiza por dia, mais ela reclama à cada nova atividade a ser feita. Dizemos
comumente que não temos tempo para nada mais porque já estamos com nosso tempo focado
em muitas atividades. Você não tem mais tempo para nada exatamente porque está com o seu
tempo todo tomado.

Um dos mais caros programas utilizados hoje em dia pelas organizações é, sem dúvida nenhuma,
a organização do tempo de seus colaboradores. Improdutivos, eles estabelecem tempos muito
grandes para dar uma resposta aos sistemas de comunicação, atendimento e pós-venda. A
resposta da melhoria poderá ocorrer através dos programas de EAD para corrigir variáveis como
tempo, distância e velocidade. Uma nova relação com o Saber Fazer, na velocidade certa, no
tempo preciso, e na distância apropriada, devem ser priorizados nestes treinamentos.

O PARADOXO DA DISTÂNCIA – MAIS DISTANTE DO QUE ESTÁ PERTO, MAIS PERTO DO QUE
ESTÁ DISTANTE!

A deslocalização e a espacialização tem colocado os indivíduos em situações de translado


constante. Estamos alterando rapidamente antigos locais próprios para determinadas tarefas,
em espaços subjetivos de muitas outras tarefas. Um exemplo clássico disso são os profissionais
ambulantes, que andam com notes, celulares, impressoras de mão, acesso de banda larga para
conexão Internet, que atendem as pessoas em qualquer lugar, no ônibus, metrô, bares, hotéis
e universidades. O grande paradoxo é estarmos em todos os lugares e não estarmos em lugar
algum.

Essa desterritorialização nos faz prisioneiros sem prisões, mas acorrentados a todo tipo de
tecnologia portátil. Damos mais atenção às pessoas que nos ligam ao celular, do que àquelas
que apertam nossas mãos no dia a dia. Damos mais atenção aos que estão distantes, e
ignoramos àqueles que estão na nossa frente. É preciso uma nova relação com o Saber Virtual
em detrimento do Saber Físico.

O PARADOXO DA VELOCIDADE – ESTAMOS VIRTUALIZANDO TANTO NOSSO ANDAR FÍSICO,


QUE ESQUEMOS MUITAS VEZES DO CONTATO FÍSICO COM NOSSOS FAMILIARES E AMIGOS!

O mundo está inventando tantas tecnologias ao mesmo tempo que mal conseguimos saber de
todas elas. A telefonia móvel nos jogou no ineditismo da qual não conseguimos sair mais. Os
celulares são responsáveis por aumentar o número de conversações entre pessoas na ordem de
seis vezes mais do que era na época em que existia apenas o telefone fixo. Quanto mais
equipamentos novos existirem, maior será a distância entre os grupos que utilizam e os grupos
que nem sabem que ela existe.

Vivemos um apatheid digital, uma globalização de interesses internacionais, ignorando nossos


próprios produtos fabricados localmente. A aprendizagem continua local, mas o ensino está
cada vez mais global, com o perigo da informação descontextualizada, sem o respeito as
tradições, os costumes locais, as culturas dos povos. Estamos aumentando gradativamente
nosso tempo e velocidade na virtualidade e diminuindo nossa velocidade nos contatos físicos,
pessoais. Quer ter mais a atenção dos seus familiares, dê a eles celulares. Então, ligue para eles.

O paradoxo da velocidade nos coloca em estradas velozes de comunicação e produção de


informação, mas de pouca interação física, pessoal, presencial.

ADAPTABILIDADE E FLEXIBILIDADE

As organizações já perceberam que para continuar no mercado ultra volátil, é necessário pensar
rápido, perceber antecipadamente, planejar para mudanças rápidas, adaptando-se
freneticamente, e buscando flexibilizar produção, matéria prima, sistema e formação de preços,
logística de compra, armazenamento e de venda. Empresas educacionais estão sempre
inovando em suas metodologias, introduzindo novas tecnologias, aumentando a capacidade de
se adaptarem ao mercado de necessidades de mão-de-obra, de capacitação e habilitação de
pessoal e de consumo.

Empresas que não investem em aprendizagem organizacional tendem a desaparecer


rapidamente para àquelas que passam a ditar as regras de comportamento, estilo, padrão e
conceito. Sistemas de EAD cada vez mais são constantes organizacionais, por isso o movimento
para o crescimento avassalador por universidades corporativas, que atendam seu específico
mercado. Sistemas EAD não são ágeis o bastante para capacitarem pessoas para este paradigma
de mudanças tão bruscas nas metodologias e tecnologias empregadas. É preciso uma nova
relação com as metodologias e tecnologias educacionais.

NÃO DESENVOLVA NENHUMA METODOLOGIA EDUCACIONAL PARA MAIS DE DOIS ANOS, POIS
SÃO RAPIDAMENTE SUCATEADAS!

Metodologias e tecnologias precisam estar afinadas, uma com a outra, e a perda desse
entrosamento poderá acarretar prejuízos rápidos, às vezes até para o mesmo ano fiscal. A
melhor maneira de trabalhar com EAD é supor que as mídias empregadas são somadas àquelas
que estão todos os anos se integrando ao mercado educacional. Muitos já mataram o MOODLE
mas ele continua como sendo a ferramenta mais importante de gestão institucional. Podem não
ser mais úteis ao modelo de comunicação, colaboração e interação necessários para alguns
cursos EAD, mas ainda se prestam para a administração e controle das matrículas, das atividades
propostas, do acompanhamento, aluno a aluno, e para o sistema de avaliação vigente. Viver fora
da zona de conforto deve ser o seu conforto daqui pra frente.

REDES SOCIAIS – MODELO REVOLUCIONA VELOCIDADE NAS COMUNICAÇÕES, INTERAÇÕES E


COLABORAÇÕES!

A mais poderosa ferramenta já construída pelo homem para colocar bilhões de pessoas em
comunicação rápida, direta, oportuna, relevante e importante para os propósitos de uma
sociedade do conhecimento. A troca de informações é vital para manter esta velocidade
crescente. Quanto mais pessoas produzirem informações, mais pessoas trocam essas
informações, e estabelecem novos paradigmas sociais. Por exemplo, não saber o que está
acontecendo é um descaso perigoso hoje em dia para algumas corporações. Os sujeitos
precisam estar antenados , ligados , conectados na notícia .

No projeto de educação escolar, no Brasil, ainda é muito insipiente, sendo proibido na maioria
das escolas o uso de redes sociais, celulares e tablets em sala de aula. Na contramão da
modernidade, professores solicitam que os alunos desliguem suas máquinas e estabeleçam
conexões à moda antiga, com lousas verdes, giz e muita saliva, somente do professor, é claro,
porque o forte deste sistema são as aulas expositivas e improdutivas para um aluno que anseia
em fazer e aprender observando, refletindo, contextualizando e produzindo áudios e vídeos
para tornar a aprendizagem significativa. É preciso um longo caminho até que os sistemas de
EAD consigam propor mudanças significativas. Até porque estes cursos EAD ainda se utilizam de
velhas ferramentas como MOODLE, entrega de trabalhos e avaliação pelo professor.

Estes sistemas, apesar de utilizarem a virtualidade, estão longe de representar mudanças


paradigmáticas que possam refletir avanços significativos, sendo portanto, considerados apenas
transposição do velho modelo educacional, que utiliza muito mal os recursos de distância,
velocidade e tempo.

Os ambientes de aprendizagem baseados em redes sociais estão transformando o modo de


ensinar e aprender em todas as partes do mundo, pois a desterritorialização promovida pelos
novos papeis dos atores da educação: professores e alunos, os colocam na mesma situação de
ensinantes e aprendentes. Para os professores é uma mudança radical em seu construto
epistemológico, pois se antes só ensinava, agora é aprendiz, já que não carrega o conhecimento
mais consigo. Para os alunos, é um avanço significativo, pois se antes só aprendiam, agora se
veem respeitados em suas aprendizagens ubíquas (realizadas fora da escola), que permitem que
todos sejam ensinantes.

Existem hoje em dia cerca de 2,5 milhões de redes sociais em todo o mundo. E em todas essas
redes sociais, há um contingente de pessoas ensinando e aprendendo, uma com as outras. E a
escola, longe dessas aprendizagens, não percebe que sua hegemonia está sendo dividida com
as novas tecnologias de comunicação e interação. Escolas, coordenações pedagógicas,
professores e alunos, experimentam no plano físico as mudanças tecnológicas, mas no plano
pedagógico e institucional, ainda estão vivenciando um momento que já ficou para trás e que
não possui nenhuma condição de se conectar com o presente, completamente desvinculado
com os desejos e anseios da população mundial.

Desta forma, é preciso uma nova relação entre PROFESSOR e ALUNO, onde não haja mais a
figura tão onipotente do professor, que só ensina, e sim de alguém que facilita em muitos casos,
o andar pela estrada do conhecimento, mas que também aprende com os alunos; e que também
não haja mais a figura do aluno , já que este ser, não é mais sem luz , mas alguém que traz
consigo uma experiência e aprendizagem oportunizada pela pedagogia social do meio em que
vive.

CLÁUDIO DE MUSACCHIO
 Doutorando em Informática na Educação pelo
PGIE - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
- Porto Alegre – RS, em andamento. Mestrado em
Educação pela Universidade Luterana do Brasil -
Canoas - RS (2005). Pós-graduação em Engenharia
de Software pela Universidade Estácio de Sá - Rio
de Janeiro - RJ, 1996. Graduação em Ciência da Computação pela Universidade
UniCarioca (1995), Rio de Janeiro - RJ.
 Experiência na área de Educação Corporativa, com ênfase em Aprendizagem
Organizacional, atuando principalmente nos seguintes temas: grupos de
trabalho, trabalhos em grupo pela web, comunicação pela web, construção
coletiva de subjetividades, ambiente de aprendizagem organizacional,
groupware, interatividade e colaboração. Expertise em desenvolvimento de
aplicações educacionais em redes sociais corporativas.
 CEO e FOUNDER do PORTAL EAD BRASIL, empresa voltada para pesquisas e
aplicações tecnológicas nas áreas educacionais e corporativas, com expertise em
ambientes virtuais de aprendizagem, EAD, programas educacionais e
treinamento corporativo, tendo desenvolvido projetos para empresas como
Chase Manhattan Bank e Sulzer do Brasil (Empresa Suíça), FIERGS e IBM.

Você também pode gostar