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1 Preâmbulo
Todo e qualquer trabalho de pesquisa, principalmente aqueles visando a elaboração de
tese/dissertação, deve respeitar requisitos básicos, seguir normas que indicam de onde se
partiu, que caminho se percorreu e onde se chegou. Os requisitos básicos dizem respeito à
estrutura para o desenvolvimento do conteúdo do trabalho, e são de carácter geral e
razoavelmente similares independentemente da Instituição onde este trabalho é realizado.
As normas que regulam a forma da apresentação destes trabalhos são normalmente,
estipuladas pela Instituição onde o trabalho é defendido.1 Uma vez aprovadas pela
Instituição estas normas passam a indicar a todo candidato “como se deve fazer”, e
excluem as outras maneiras de fazer.
O ISRI possui uma ficha de forma que oferece os indicativos sobre a disposição do
trabalho, incluindo o uso de citações, das notas de rodapé, e a forma de apresentação da
bibliografia entre outras informações que constituem as normas que devem ser seguidas
para o trabalho de tese/dissertação na Instituição.
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Para o modelo de forma veja a ficha de leitura do ISRI.
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Assim, as directivas contêm elementos úteis e metodologicamente postos para apoiar na
elaboração das teses/dissertações de Licenciatura e de Mestrado no ISRI, um instrumento
para garantir a melhor qualidade das teses/dissertações do ISRI, quer para os
candidatos/pesquisadores, quer para os orientadores/tutores.
O projecto de trabalho é preparado como uma plataforma onde o candidato vai apoiar-se
para guiar o desenvolvimento do tema até transformar-se em tese/dissertação a ser
apresentada a um júri constituído no ISRI e por esse ser aprovada.2
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Para o modelo do outline veja a ficha de leitura do ISRI.
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2.1.1 A Importância da Congruência entre Objectivos, Hipóteses e Quadro/marco
Teórico
Fazendo parte do outline, a girar ao redor de um quadro/marco teórico, os elementos
principais que guiarão o desenvolvimento do trabalho são:
Os objectivos a serem atingidos.
As hipóteses a serem validadas.
As questões de pesquisa formuladas para se atingir os objectivos e se validar as
hipóteses, que devem ser respondidas no decorrer do desenvolvimento do trabalho
de tese/dissertação.
Obviamente que o conteúdo destas rubricas deve estar posto em conformidade com a
delimitação geográfica e temporal que foi decidida pelo candidato/pesquisador para o
desenvolvimento do tema, com o contexto formulado onde o tema está inserido, e com a
problematização do tema quando este é imerso e/ou confrontado com este mesmo
contexto.
Se sublinhar que todos estes elementos devem ser congruentes entre si, e devem girar de
maneira óptima ao redor do quadro/marco teórico pois é este marco/quadro que vai guiar
o rumo do trabalho e que vai emprestar as balizas para o desenvolvimento do tema de
pesquisa.
Caso o objectivo esteja ligado a discutir sobre as ajudas externas que, por hipótese,
não conduzem ao desenvolvimento sustentável, entendendo por sustentável um
processo que possa conduzir ao gradativo caminhar por pernas próprias, “uma
ajuda para gradativamente não mais se precisar mais de ajudas”, com hipóteses
formuladas para validar esta tese/dissertação, o marco teórico estará contido no
paradigma do Desenvolvimento Dependente.
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Neoclássico é a mais-valia para tal.
Para atingir objectivos que ressaltam o factor humano como primordial para a
reforma do sector público, por exemplo, com hipóteses formuladas nesta direcção, o
quadro teórico deve estar contido ou ser encontrado no marco teórico das Relações
Humanas.
As questões de pesquisa são assim, um elemento crucial na estrutura do outline, pois elas
indicam a direcção óptima para a busca das fontes secundárias e para sua leitura analítica,
e transformam-se, de maneira indicativa, num guião para a elaboração do questionário
que vai fornecer os dados informativos das fontes primárias em forma de entrevistas ao
desenvolvimento do trabalho de tese/dissertação.
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Note que no questionário o primeiro bloco é sempre o da identificação pessoal, onde se busca conhecer os
dados pessoais do entrevistado consoante o que for pertinente para o trabalho.
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prende-se com a possibilidade que se apresenta de, assim procedendo, o candidato ter a
chance de rever o que for necessário no processo de pesquisa como, por exemplo, os
métodos e as técnicas usadas, as diferentes fontes, etc., alguns dentre os objectivos e
algumas dentre as hipóteses. Inclui-se nessa revisão até a validade do quadro/marco
teórico. Ou seja, ao se proceder assim torna-se possível reajustar o que não esteja
contribuir de maneira óptima para produzir os resultados esperados e preconizados no
outline, o candidato usando a prerrogativa do processo de pesquisa ser circular e auto
correctivo.
Depois disto, segue-se a apresentação do ponto usado como partida teórico conceptual à
qual se segue o desenvolvimento do trabalho propriamente dito, com a apresentação do
material empírico e sua leitura analítica. O trabalho é finalizado com as generalizações
finais, onde se deixa claro o que se fez, como se fez e com que material. As
generalizações finais podem ser apresentadas em forma de conclusões, recomendações
ou, simplesmente, como reflexões conclusivas, como uma palavra final, ou com outra
formulação similar sempre consoante o que se propunha atingir com o desenvolvimento
do tema. A sistematização óptima dessa parte final é ela estar congruente com o que foi
proposto para se atingir como resultado.
Segue-se abaixo uma descrição pormenorizada de cada uma dessas partes, em relação ao
que se recomenda seja o conteúdo do corpo de cada rubrica recomendada.
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Confira Ficha de Forma do ISRI.
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Emanando do outline o conteúdo da introdução do trabalho constitui a Primeira Parte do
trabalho e deve, regra geral, de forma sumária indicativa (indicando o que se segue),
conter os seguintes elementos:
(a) Uma apresentação sumária do tema com,
o O contexto onde seu desenvolvimento se insere,
o A relevância do desenvolvimento do tema para um trabalho de
tese/dissertação,
o Sua limitação no tempo e no espaço.
(b) A apresentação do problema a ser pesquisado e seu âmbito para a pesquisa (caso
não tenha ficado devidamente claro na delimitação do tema) problematizando-o
no contexto específico e culminando com a formulação da questão inicial de
pesquisa.
(c) As considerações de carácter metodológico, com métodos e técnicas usadas para o
desenvolvimento do trabalho.5
o Caso sejam pertinentes, as limitações encontradas no decorrer do trabalho.
(d) Os objectivos a serem alcançados com o desenvolvimento do tema.
(e) As hipóteses a serem validadas no decorrer do desenvolvimento do tema.
(f) A formulação das questões de pesquisa, cujas respostas conduzam a que os
objectivos sejam alcançados e que as hipóteses sejam validadas.
(g) Uma introdução ao marco teórico usado para o desenvolvimento do trabalho.
(h) A estrutura ou composição do trabalho, sistematizando a identificação das
diferentes partes e dos seus capítulos, dos anexos, etc.
Note que, caso dê melhor forma ao texto, algumas dessas rubricas podem ser
apresentadas em combinação umas com as outras.
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Observe que quando se segue o princípio defendido por Popper (1968): “teoria a vir
primeiro e depois a pesquisa”, o quadro teórico é o elemento central que direcciona o
trabalho analítico da tese/dissertação. 6 Para o ISRI, considerando que para a Licenciatura
e o Mestrado, a formação básica é o primeiro degrau de pós graduação, os candidatos
ainda não adquiriram as bases necessárias para elaborarem um marco teórico a partir de
um material empírico, esta é a recomendação de fundo para todos os candidatos. Esse
princípio normativo de Popper (1968) envolve uma estratégia que pode ser simplificada
em cinco estágios (Reynolds 1971: 140-141), aqui ajustada para o tipo de trabalho que
normalmente se propõe para a tese/dissertação de Licenciatura e de Mestrado, que ajuda
o candidato a testar se o marco teórico escolhido é o (mais) apropriado para o que se
propõe:7
1 Seleccionar um quadro ou marco teórico.
2 Desenhar uma proposta de trabalho, ou um outline, como plataforma para
guiar os trabalhos a ser desenvolvido ao redor deste marco teórico.
3 Seleccionar uma das proposições derivadas deste marco, para ser testada no
contexto do seu trabalho.
4 Proceder à testagem da proposição.
a. Caso encontre problemas nesta testagem, ou o marco teórico escolhido
não é o mais apropriado, ou a ligação entre objectivos e hipóteses em
congruência com o marco teórico não foi devidamente optimizada, ou o
material empírico recolhido não é o mais apropriado.
b. Como solução, ou se busca novo material empírico para tornar possível a
validação da proposição em questão, ou se escolhe outro marco teórico e
se ajusta o conteúdo e a composição do outline.
5 Seleccionar a próxima proposição e proceder assim para todas as proposições
do marco teórico em questão para indicar sua validade para este trabalho.
Obviamente que se aconselha que este quadro ou marco teórico seja sempre
problematizado, principalmente no desenvolvimento de uma dissertação de Mestrado. O
ISRI não recomenda assim, que o candidato seja rígido e que fique colado ao classicismo,
porque considera que os contextos que os autores proponentes do marco teórico
trabalharam para chegarem ao marco teórico, e o material empírico que usaram como
referência nesse processo podem não condizer, total ou parcialmente, com o contexto do
candidato que está a nortear o trabalho em questão. Entretanto, esta problematização tem
que ser tal que não questione as bases centrais do marco teórico. Como a escolha do
marco teórico é livremente feita pelo candidato, ou este é o marco teórico mais
apropriado para o desenvolvimento do tema, ou o candidato deve escolher outro marco
teórico mais condicente com o que se propõe.
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Como informação adicional para complementar essas “Directivas”, Merton (1968) propõe “pesquisa
primeiro e depois a elaboração de uma teoria”, o que se recomenda, a longo prazo, para qualquer
pesquisador experimentado. Ainda que, nos dias de hoje, seja muito difícil um cientista ir ao terreno sem já
ter na cabeça, ou ao redor do seu objecto de pesquisa, um paradigma a nortear seu pensamento e a guiar o
que pretende fazer. Para mais informações teóricas metodológicas sobre estas duas metodologias, veja
Popper (1961 e 1968), Merton (1968) e Reynolds (1971) citados em Frankfort-Nachmias e Nachmias
(1996: 46-47).
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Adaptado de Reynolds (1971: 140-144), citado por Frankfort-Nachmias e Nachmias (1996: 46).
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Por vezes torna-se necessário usar dois marcos teóricos, que se complementam para
permitir o alcance dos objectivos e a validação das hipóteses do trabalho de
tese/dissertação. Isto pode ser feito sem problemas num trabalho de tese/dissertação, seja
de Licenciatura, seja de Mestrado. Entretanto, o candidato deve ter o devido cuidado para
que realmente haja complementaridade entre esses dois marcos para o que se propõe, e
que não haja nenhuma incongruência ou incompatibilidade entre eles.
Na leitura operacional e/ou, por vezes, contextual dos conceitos chaves, usa-se fontes
secundárias, podendo o candidato também fazer uso de fontes primárias devidamente
referenciadas, caso seja pertinente. Tem lugar aqui uma revisão da bibliografia
conceptual. Na conclusão desta leitura indica-se qual é a escolha que o candidato faz do
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conceito em questão para o desenvolvimento deste trabalho, indicando, ainda, a razão
para tal escolha e para a consequente “exclusão” das outras definições.
Como parte deste capítulo é apresentada, como um sub capítulo, a resenha bibliográfica
do tema. Ou seja, o resultado da leitura analítica das fontes secundárias com o recurso ao
uso da técnica documental. Deixa-se claro nesta resenha, como este tema é/foi lido ou
problematizado por outros autores, dentro ou fora da geografia e/ou do horizonte
temporal delimitado para o desenvolvimento do trabalho, e dentro ou fora do marco
teórico escolhido para referência, se for o caso. Aparece, quase naturalmente, no decorrer
dessa resenha problematizada, a mais-valia da escolha do marco teórico em questão para
o desenvolvimento do tema a partir da problematização que se faz do mesmo no contexto
identificado.
Fontes primárias, como as estatísticas oficiais e as outras fontes oficiais estatais, como o
caso do Boletim da República, onde está contido o quadro legal nacional para o caso de
Moçambique, também devem ser referenciadas na resenha das fontes usadas para o
desenvolvimento do trabalho.
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Para o Trabalho de Mestrado exige-se o uso de fontes secundárias e primárias.
Para o trabalho de Mestrado trata-se assim, de um novo capítulo. Nele deve estar contido
a apresentação do material recolhido no terreno e da leitura analítica deste mesmo
material, que vai ser dividida em capítulos cujos títulos e conteúdos serão sistematizados
pelas questões de pesquisa que, por sua vez, guiaram a estrutura do questionário usado.
Este material, recolhido por fontes primárias ou secundárias, vai perfazer o corpo do
trabalho.
Como parte desse capítulo aparece o sub capítulo da resenha da literatura relevante
para a melhor compreensão do tema, incluindo as obras congruentes com a
delimitação temporal e geográfica.
Para a introdução das fontes primárias recolhidas no terreno junto a grupos sociais
representativos de um todo, o princípio usado para tal é deixar claro a teoria de
amostragem usada (a população escolhida, o tamanho da amostra, a identificação do
terreno, etc.), com alguma problematização da mesma caso isto seja pertinente. Os
resultados em números absolutos e percentuais desta pesquisa, assim como alguma
diferenciação dos dados e seus resultados trabalhados com base em parâmetros que sejam
pertinentes para o tema (como sexo, idade, grupo social, etc.) , devem fazer parte desse
sub capítulo.
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A geografia, história, economia, etc., do terreno.
O princípio usado para a recolha das fontes.
A pertinência das fontes para o que se propõe.
A amostra diferenciada pelo que for pertinente ao trabalho, com os devidos
parâmetros usados para sua identificação, a configuração do terreno, etc., caso se
trate de resultados de inquéritos a grupos sociais que se pretende representativos
de um todo.
Os resultados alcançados e as bases das conclusões tiradas pela leitura analítica
da amostra (ou dos dados).
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4 Finalmente
Estas directivas, assim como foram dispostas, indicaram um caminho para se desenvolver
um trabalho de Tese/Dissertação de Licenciatura e de Mestrado, seguindo as normas do
ISRI. Onde se discrimina as partes que devem compor o conteúdo do trabalho, e como
essas devem estar dispostas ressaltando as diferenciações concernentes às exigências
existentes para a Tese de Licenciatura e a Dissertação de Mestrado do Instituto.
5 Referências Usadas
Chiavenato, I. (2004) Introdução à Teoria Geral da Administração. 7a Edição
Totalmente Revista e Actualizada, Elsevier Editora Ltda.: Rio de Janeiro.
Dougherty, J.E., R.L. Pfaltzgraff Jr. (2003) Relações Internacionais – As Teorias em
Confronto – Um Estudo Retalhado. Gradiva Publicações Lda.: Lisboa.
Frankfort-Nachmias C., D. Nachmias (1996) Research Methods in the Social Sciences.
Fifth Edition, Arnold: London.
ISRI (2004) Ficha de Forma para a Elaboração de uma Tese de Licenciatura. Maputo.
ISRI (2004) Ficha para a Elaboração do Outline. Maputo.
Merton, R. K. (1968) Social Theory and Social Structure. Revised and Enlarged Edition,
Free Press: New York.
Popper, K. (1961) The Logic of Scientific Discovery. Science Editions: New York.
Popper, K. (1968) Conjectures and refutations: The Growth of Scientific Knowledge.
Harper & Row: New York.
Reynolds, P.D. (1971) A Primer in Theory Construction. Macmillan: New York.
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