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INSTITUTO SUPERIOR DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Directivas para o Desenvolvimento do Trabalho de Pesquisa


- Relacionadas com a Apresentação do Conteúdo

Iraê Baptista Lundin


Regente da Disciplina de Metodologia de Pesquisa em Ciências Sociais
Maputo, 26 de Janeiro de 2009

1 Preâmbulo
Todo e qualquer trabalho de pesquisa, principalmente aqueles visando a elaboração de
tese/dissertação, deve respeitar requisitos básicos, seguir normas que indicam de onde se
partiu, que caminho se percorreu e onde se chegou. Os requisitos básicos dizem respeito à
estrutura para o desenvolvimento do conteúdo do trabalho, e são de carácter geral e
razoavelmente similares independentemente da Instituição onde este trabalho é realizado.
As normas que regulam a forma da apresentação destes trabalhos são normalmente,
estipuladas pela Instituição onde o trabalho é defendido.1 Uma vez aprovadas pela
Instituição estas normas passam a indicar a todo candidato “como se deve fazer”, e
excluem as outras maneiras de fazer.

O ISRI possui uma ficha de forma que oferece os indicativos sobre a disposição do
trabalho, incluindo o uso de citações, das notas de rodapé, e a forma de apresentação da
bibliografia entre outras informações que constituem as normas que devem ser seguidas
para o trabalho de tese/dissertação na Instituição.

1.1 Objectivos do Documento


De maneira geral, o objectivo dessas “directivas” é:
 Oferecer elementos para ajudar a sistematizar a estrutura para o
desenvolvimento da pesquisa, conforme os conteúdos, para os trabalhos de
Tese de Licenciatura e de Dissertação de Mestrado no ISRI, fazendo uma
diferenciação consoante seja uma Tese de Licenciatura ou uma Dissertação de
Mestrado.

De maneira específica, as directivas visam:


 Mostrar, de forma indicativa, o conteúdo recomendado para os diferentes
elementos que devem fazer parte de um trabalho académico de
tese/dissertação.

1
Para o modelo de forma veja a ficha de leitura do ISRI.

1
Assim, as directivas contêm elementos úteis e metodologicamente postos para apoiar na
elaboração das teses/dissertações de Licenciatura e de Mestrado no ISRI, um instrumento
para garantir a melhor qualidade das teses/dissertações do ISRI, quer para os
candidatos/pesquisadores, quer para os orientadores/tutores.

2 Elementos Básicos para a Sistematização das Ideias


A sistematização do trabalho de tese/dissertação tem início com a elaboração de um
projecto, ou outline, onde o candidato indica:
1. O tema que pretende pesquisar,
a. Delimitando-o no tempo e no espaço;
2. O contexto onde este tema estará inserido;
3. Como este tema será problematizado no contexto;
4. A metodologia a ser usada, com os métodos e as técnicas que usará para
desenvolver o tema;
5. O/s objectivo/s que se pretende alcançar;
6. A/s hipótese/s que se pretende validar;
7. As questões de pesquisa que emanam das hipóteses.
8. O quadro teórico e ao redor dos pressupostos que o candidato vai trabalhar;
9. O/s resultado/s que pretende atingir;
10. Finalmente o outline indica a bibliografia (a ser) consultada, prestando a atenção
para o facto que toda obra referenciada no outline tem que estar contida na
bibliografia.

O outline deve indicar de maneira esquemática, como se pretende desenvolver o trabalho.

O projecto de trabalho é preparado como uma plataforma onde o candidato vai apoiar-se
para guiar o desenvolvimento do tema até transformar-se em tese/dissertação a ser
apresentada a um júri constituído no ISRI e por esse ser aprovada.2

2.1 O Papel do Outline


Uma proposta, ou projecto de trabalho de pesquisa, bem elaborada/o, o chamado outline,
constitui uma plataforma importante de apoio para o bom desenvolvimento do trabalho
de tese/dissertação. Seja para guiar a estrutura do trabalho de pesquisa apoiando, por
exemplo, na identificação do material que é necessário ler e como sistematizar os dados
recolhidos das diferentes fontes secundárias; seja na estrutura que terá o questionário para
a recolha das fontes primárias e que tipo de amostra deve ser escolhida, se for o caso para
um inquérito exaustivo, para apurar a relação entre alguns indicadores ou parâmetros
previamente identificados, e que actores sociais devem ser entrevistados, caso o foco seja
um certo grupo algo, etc. Seja finalmente, para sistematizar a apresentação das ideias e
dos factos, das reflexões e das opiniões que se recolheu através de fontes primárias e
secundárias.

2
Para o modelo do outline veja a ficha de leitura do ISRI.

2
2.1.1 A Importância da Congruência entre Objectivos, Hipóteses e Quadro/marco
Teórico
Fazendo parte do outline, a girar ao redor de um quadro/marco teórico, os elementos
principais que guiarão o desenvolvimento do trabalho são:
 Os objectivos a serem atingidos.
 As hipóteses a serem validadas.
 As questões de pesquisa formuladas para se atingir os objectivos e se validar as
hipóteses, que devem ser respondidas no decorrer do desenvolvimento do trabalho
de tese/dissertação.

Obviamente que o conteúdo destas rubricas deve estar posto em conformidade com a
delimitação geográfica e temporal que foi decidida pelo candidato/pesquisador para o
desenvolvimento do tema, com o contexto formulado onde o tema está inserido, e com a
problematização do tema quando este é imerso e/ou confrontado com este mesmo
contexto.

Se sublinhar que todos estes elementos devem ser congruentes entre si, e devem girar de
maneira óptima ao redor do quadro/marco teórico pois é este marco/quadro que vai guiar
o rumo do trabalho e que vai emprestar as balizas para o desenvolvimento do tema de
pesquisa.

Caixa 1 - Exemplos indicativos de congruência entre objectivos, hipóteses e


quadro/marco teórico
Consoante o marco teórico escolhido, os objectivos e as hipóteses devem ser
formulados congruentemente, e dispostos de maneira tal que possam ser alcançados
e validadas, respectivamente.

Em Relações Internacionais e Diplomacia (Dougherty e Pfatzgraff Jr.: 2003), caso o


trabalho tenha como objectivo comprovar a mais-valia do Estado minimalista para
uma melhor governação rumo ao desenvolvimento, por exemplo, com hipóteses
formuladas nesse sentido, o candidato deve buscar um marco teórico que tenha
proposições a conduzir o pensamento nesta direcção. Tal marco teórico estará
contido no paradigma Neoliberal.

Caso o objectivo esteja ligado a discutir sobre as ajudas externas que, por hipótese,
não conduzem ao desenvolvimento sustentável, entendendo por sustentável um
processo que possa conduzir ao gradativo caminhar por pernas próprias, “uma
ajuda para gradativamente não mais se precisar mais de ajudas”, com hipóteses
formuladas para validar esta tese/dissertação, o marco teórico estará contido no
paradigma do Desenvolvimento Dependente.

Em Administração Pública (Chiavenato 2004), caso o candidato queira


problematizar a maior validade para a administração estatal descentralizada, com
hipóteses formuladas em congruência com este objectivo, o marco teórico

3
Neoclássico é a mais-valia para tal.

Para atingir objectivos que ressaltam o factor humano como primordial para a
reforma do sector público, por exemplo, com hipóteses formuladas nesta direcção, o
quadro teórico deve estar contido ou ser encontrado no marco teórico das Relações
Humanas.

2.1.2 O Papel Relevante das Questões de Pesquisa


As questões de pesquisa vão emanar das hipóteses, daí a necessidade que estas sejam
bem formuladas numa relação óptima entre duas variáveis. As questões de pesquisa vão
nortear o desenvolvimento do trabalho de forma óptima. Ou seja, elas vão dar corpo a um
guia de leitura que vai indicar: (i) que fontes secundárias devem ser consultadas para
respondê-las a contento, e (ii) vão ajudar a estruturar um questionário indicando que
fontes primárias podem ser relevantes para emprestar mais-valia para respondê-las, e
assim oferecer mais conteúdo ao trabalho.

As questões de pesquisa são assim, um elemento crucial na estrutura do outline, pois elas
indicam a direcção óptima para a busca das fontes secundárias e para sua leitura analítica,
e transformam-se, de maneira indicativa, num guião para a elaboração do questionário
que vai fornecer os dados informativos das fontes primárias em forma de entrevistas ao
desenvolvimento do trabalho de tese/dissertação.

De facto, cada questão de pesquisa oferece as bases para um bloco indicativo no


questionário, para a recolha de opiniões de grupos sociais através de pessoas como
representativas de um todo, e/ou de personalidades abalizadas no assunto ora sujeito a
pesquisa. Como parte desses blocos as questões de carácter mais específico são
formuladas para que esta questão cimeira possa ser respondida a contento.3

Finalmente, as questões de pesquisas orientam o candidato/pesquisador a formular os


títulos dos capítulos e subcapítulos da tese/dissertação, assim como ajudam a visualizar o
âmbito do desenvolvimento dos mesmos para dar corpo ao seu conteúdo.

2.2 O Processo de Pesquisa


Uma vez aprovado o projecto, o outline, tem início a pesquisa propriamente dita que deve
ser desenvolvida para responder à questão inicial de pesquisa formulada no fim da
problematização. Esta questão inicial deve ser congruentemente casada com os objectivos
e estes com as hipóteses, e dessas últimas vai sair o conjunto de questões de pesquisa que
vai dar corpo ao questionário e nortear o desenvolvimento do trabalho.

2.2.1 Sistematização dos Dados


Recomenda-se que o trabalho de sistematização dos dados para se escrever a
tese/dissertação, para o candidato dar corpo a um conjunto de pensamentos/ideias para o
desenvolvimento do tema, para finalmente caminhar rumo ao que pretende alcançar como
resultados, tenha início conjuntamente com o decorrer da pesquisa. Esta recomendação

3
Note que no questionário o primeiro bloco é sempre o da identificação pessoal, onde se busca conhecer os
dados pessoais do entrevistado consoante o que for pertinente para o trabalho.

4
prende-se com a possibilidade que se apresenta de, assim procedendo, o candidato ter a
chance de rever o que for necessário no processo de pesquisa como, por exemplo, os
métodos e as técnicas usadas, as diferentes fontes, etc., alguns dentre os objectivos e
algumas dentre as hipóteses. Inclui-se nessa revisão até a validade do quadro/marco
teórico. Ou seja, ao se proceder assim torna-se possível reajustar o que não esteja
contribuir de maneira óptima para produzir os resultados esperados e preconizados no
outline, o candidato usando a prerrogativa do processo de pesquisa ser circular e auto
correctivo.

3 A Composição do Desenvolvimento do Trabalho


Depois das introduções indicativas de carácter de forma necessárias num trabalho de
tese/dissertação4, o conteúdo propriamente dito da apresentação de um trabalho de
tese/dissertação tem início com a introdução, onde se indica de maneira clara: o que se
vai fazer, como se vai fazer e com que material se vai trabalhar.

Depois disto, segue-se a apresentação do ponto usado como partida teórico conceptual à
qual se segue o desenvolvimento do trabalho propriamente dito, com a apresentação do
material empírico e sua leitura analítica. O trabalho é finalizado com as generalizações
finais, onde se deixa claro o que se fez, como se fez e com que material. As
generalizações finais podem ser apresentadas em forma de conclusões, recomendações
ou, simplesmente, como reflexões conclusivas, como uma palavra final, ou com outra
formulação similar sempre consoante o que se propunha atingir com o desenvolvimento
do tema. A sistematização óptima dessa parte final é ela estar congruente com o que foi
proposto para se atingir como resultado.

Para melhor sistematização da disposição, o trabalho de tese/dissertação deve ser dividido


em partes, ou seja:
 A primeira parte deve ser a Introdução;
 A segunda parte deve ser o Ponto de Partida Teórico Conceptual;
 A terceira parte deve apresentar A Realidade do Terreno.
 A quarta parte deve ser a apresentação das Generalizações, relacionadas com
os objectivos que se pretendia alcançar e as hipóteses que se pretendeu
validar, sejam elas apresentadas em forma de conclusões, recomendações, etc.

Segue-se abaixo uma descrição pormenorizada de cada uma dessas partes, em relação ao
que se recomenda seja o conteúdo do corpo de cada rubrica recomendada.

3.1 Parte 1 - A Introdução do Trabalho


A apresentação do trabalho de tese/dissertação tem início assim com uma introdução, e
deve conter no seu desenvolvimento tantos capítulos quanto forem necessários para que
os objectivos sejam alcançados e as hipóteses sejam validadas ao redor do marco teórico
que foi escolhido para a análise do tema. A introdução perfaz assim, o primeiro capítulo
do trabalho.

4
Confira Ficha de Forma do ISRI.

5
Emanando do outline o conteúdo da introdução do trabalho constitui a Primeira Parte do
trabalho e deve, regra geral, de forma sumária indicativa (indicando o que se segue),
conter os seguintes elementos:
(a) Uma apresentação sumária do tema com,
o O contexto onde seu desenvolvimento se insere,
o A relevância do desenvolvimento do tema para um trabalho de
tese/dissertação,
o Sua limitação no tempo e no espaço.
(b) A apresentação do problema a ser pesquisado e seu âmbito para a pesquisa (caso
não tenha ficado devidamente claro na delimitação do tema) problematizando-o
no contexto específico e culminando com a formulação da questão inicial de
pesquisa.
(c) As considerações de carácter metodológico, com métodos e técnicas usadas para o
desenvolvimento do trabalho.5
o Caso sejam pertinentes, as limitações encontradas no decorrer do trabalho.
(d) Os objectivos a serem alcançados com o desenvolvimento do tema.
(e) As hipóteses a serem validadas no decorrer do desenvolvimento do tema.
(f) A formulação das questões de pesquisa, cujas respostas conduzam a que os
objectivos sejam alcançados e que as hipóteses sejam validadas.
(g) Uma introdução ao marco teórico usado para o desenvolvimento do trabalho.
(h) A estrutura ou composição do trabalho, sistematizando a identificação das
diferentes partes e dos seus capítulos, dos anexos, etc.

Note que, caso dê melhor forma ao texto, algumas dessas rubricas podem ser
apresentadas em combinação umas com as outras.

3.2 Parte 2 - O Ponto de Partida Teórico Conceptual


O ponto de partida teórico e conceptual congrega, regra geral, o marco teórico e
conceptual, e as considerações de carácter metodológico.

3.2.1 O Marco ou Quadro Teórico


O marco ou quadro teórico de referência constitui o coração do trabalho de
tese/dissertação. É a partir dele que vai emanar tudo que vai guiar o desenvolvimento das
ideias dentro de uma cadeia de raciocínio pessoal do candidato/pesquisador.

O quadro teórico é introduzido na sua respectiva rubrica através de suas proposições, e


como essas estão/são congruentemente coordenadas de maneira óptima para a leitura
analítica do tema segundo o propósito que se quer atingir através das hipóteses
formuladas para serem comprovadas. Segue-se o contexto que este marco teórico aparece
no seio das ciências, seus principais proponentes e como ele se consolida no mundo
científico. Caso esse quadro teórico tenha sido, ou seja, objecto de alguma polémica no
mundo científico, esta discussão também deve ser mencionada com alguma crítica de
parte do candidato, apresentando a empatia positiva e/ou negativa em relação a este
problema.
5
Em teses de Licenciatura a abordagem metodológica na introdução pode ser suficiente, não havendo
necessidade de um capítulo separado para a apresentação da metodologia usada.

6
Observe que quando se segue o princípio defendido por Popper (1968): “teoria a vir
primeiro e depois a pesquisa”, o quadro teórico é o elemento central que direcciona o
trabalho analítico da tese/dissertação. 6 Para o ISRI, considerando que para a Licenciatura
e o Mestrado, a formação básica é o primeiro degrau de pós graduação, os candidatos
ainda não adquiriram as bases necessárias para elaborarem um marco teórico a partir de
um material empírico, esta é a recomendação de fundo para todos os candidatos. Esse
princípio normativo de Popper (1968) envolve uma estratégia que pode ser simplificada
em cinco estágios (Reynolds 1971: 140-141), aqui ajustada para o tipo de trabalho que
normalmente se propõe para a tese/dissertação de Licenciatura e de Mestrado, que ajuda
o candidato a testar se o marco teórico escolhido é o (mais) apropriado para o que se
propõe:7
1 Seleccionar um quadro ou marco teórico.
2 Desenhar uma proposta de trabalho, ou um outline, como plataforma para
guiar os trabalhos a ser desenvolvido ao redor deste marco teórico.
3 Seleccionar uma das proposições derivadas deste marco, para ser testada no
contexto do seu trabalho.
4 Proceder à testagem da proposição.
a. Caso encontre problemas nesta testagem, ou o marco teórico escolhido
não é o mais apropriado, ou a ligação entre objectivos e hipóteses em
congruência com o marco teórico não foi devidamente optimizada, ou o
material empírico recolhido não é o mais apropriado.
b. Como solução, ou se busca novo material empírico para tornar possível a
validação da proposição em questão, ou se escolhe outro marco teórico e
se ajusta o conteúdo e a composição do outline.
5 Seleccionar a próxima proposição e proceder assim para todas as proposições
do marco teórico em questão para indicar sua validade para este trabalho.

Obviamente que se aconselha que este quadro ou marco teórico seja sempre
problematizado, principalmente no desenvolvimento de uma dissertação de Mestrado. O
ISRI não recomenda assim, que o candidato seja rígido e que fique colado ao classicismo,
porque considera que os contextos que os autores proponentes do marco teórico
trabalharam para chegarem ao marco teórico, e o material empírico que usaram como
referência nesse processo podem não condizer, total ou parcialmente, com o contexto do
candidato que está a nortear o trabalho em questão. Entretanto, esta problematização tem
que ser tal que não questione as bases centrais do marco teórico. Como a escolha do
marco teórico é livremente feita pelo candidato, ou este é o marco teórico mais
apropriado para o desenvolvimento do tema, ou o candidato deve escolher outro marco
teórico mais condicente com o que se propõe.

6
Como informação adicional para complementar essas “Directivas”, Merton (1968) propõe “pesquisa
primeiro e depois a elaboração de uma teoria”, o que se recomenda, a longo prazo, para qualquer
pesquisador experimentado. Ainda que, nos dias de hoje, seja muito difícil um cientista ir ao terreno sem já
ter na cabeça, ou ao redor do seu objecto de pesquisa, um paradigma a nortear seu pensamento e a guiar o
que pretende fazer. Para mais informações teóricas metodológicas sobre estas duas metodologias, veja
Popper (1961 e 1968), Merton (1968) e Reynolds (1971) citados em Frankfort-Nachmias e Nachmias
(1996: 46-47).
7
Adaptado de Reynolds (1971: 140-144), citado por Frankfort-Nachmias e Nachmias (1996: 46).

7
Por vezes torna-se necessário usar dois marcos teóricos, que se complementam para
permitir o alcance dos objectivos e a validação das hipóteses do trabalho de
tese/dissertação. Isto pode ser feito sem problemas num trabalho de tese/dissertação, seja
de Licenciatura, seja de Mestrado. Entretanto, o candidato deve ter o devido cuidado para
que realmente haja complementaridade entre esses dois marcos para o que se propõe, e
que não haja nenhuma incongruência ou incompatibilidade entre eles.

3.2.1.2 O Quadro Conceptual


Note que o quadro teórico terá conceitos chaves que devem ser apresentados no contexto
que deu origem à teoria. Assim, depois da introdução do Marco Teórico segue-se a
apresentação e discussão do Quadro Conceptual, como um sub capítulo, com a
introdução dos conceitos chaves que dão corpo ao marco teórico e daqueles que são
importantes para o desenvolvimento do tema, deixando claro a definição operacional
e/ou, por vezes, conceptual, adoptada para cada conceito para o desenvolvimento do tema
específico e seu campo de referência. O quadro conceptual é assim, uma revisão da
literatura relevante no que diz respeito à leitura operacional e/ou, por vezes, contextual,
dos conceitos chaves.

Para a Tese de Licenciatura, o quadro teórico e o marco conceptual podem ser


apresentados num só capítulo.

Para a Dissertação de Mestrado, é aconselhável que a “Discussão Conceptual” esteja


num capítulo isolado.

Os conceitos são a ferramenta principal do pesquisador na área das ciências sociais e


políticas e essas ciências adquirem sua expressão através dos conceitos que as norteiam.
De facto, e segundo Frankfort-Nachmias e Nachmias (1996: 47-48) a ciência tem início
pela formação de conceitos para descrever o mundo empírico, e avança pela conexão
desses conceitos em sistemas teóricos. Para o pesquisador, os conceitos permitem uma
comunicação efectiva, introduzem um ponto de vista, funcionam como meio para
possibilitar a classificação e a generalização das ideias, e servem finalmente para criar
blocos de proposições, teorias e hipóteses (Ibid: 26-28, 48).

Para o trabalho de tese/dissertação, os conceitos chaves para o desenvolvimento do


trabalho estão contidos no tema, aparecem no contexto e na sua problematização, estão
imersos nos objectivos e são usados como variáveis para a formulação das hipóteses. E
principalmente, são esses conceitos que dão corpo ao marco teórico. Assim, o quadro
conceptual num trabalho de tese/dissertação introduz o conjunto de conceitos chaves para
o desenvolvimento do trabalho, indicando sua pertinência lógica para o desenvolvimento
do tema segundo o marco teórico que se elegeu para tal.

Na leitura operacional e/ou, por vezes, contextual dos conceitos chaves, usa-se fontes
secundárias, podendo o candidato também fazer uso de fontes primárias devidamente
referenciadas, caso seja pertinente. Tem lugar aqui uma revisão da bibliografia
conceptual. Na conclusão desta leitura indica-se qual é a escolha que o candidato faz do

8
conceito em questão para o desenvolvimento deste trabalho, indicando, ainda, a razão
para tal escolha e para a consequente “exclusão” das outras definições.

Por vezes, e consoante o que se pretende, também se torna necessário a discussão de


conceitos secundários em relação ao desenvolvimento do tema, quando estes podem, ou
são, operacionalizados de maneira diferentes por autores chaves usados no decorrer do
trabalho. Quando isto acontece, deve ficar claro a razão desta leitura adicional.

3.2.2 O Quadro Metodológico


No quadro metodológico o candidato introduz o caminho que percorreu para a realização
do trabalho, o processo de pesquisa, salientando os métodos e as técnicas usadas, a razão
de sua escolha e os resultados que eles trouxeram como mais-valia para o
desenvolvimento do trabalho. O princípio e o valor de cada método deve ficar
explicitamente claro neste capítulo, assim como o valor de cada técnica usada no decorrer
do trabalho, indicando e problematizando as possíveis limitações encontradas no
processo, suas razões e como elas inferiram, ou não, no resultado do trabalho.

Como parte deste capítulo é apresentada, como um sub capítulo, a resenha bibliográfica
do tema. Ou seja, o resultado da leitura analítica das fontes secundárias com o recurso ao
uso da técnica documental. Deixa-se claro nesta resenha, como este tema é/foi lido ou
problematizado por outros autores, dentro ou fora da geografia e/ou do horizonte
temporal delimitado para o desenvolvimento do trabalho, e dentro ou fora do marco
teórico escolhido para referência, se for o caso. Aparece, quase naturalmente, no decorrer
dessa resenha problematizada, a mais-valia da escolha do marco teórico em questão para
o desenvolvimento do tema a partir da problematização que se faz do mesmo no contexto
identificado.

Fontes primárias, como as estatísticas oficiais e as outras fontes oficiais estatais, como o
caso do Boletim da República, onde está contido o quadro legal nacional para o caso de
Moçambique, também devem ser referenciadas na resenha das fontes usadas para o
desenvolvimento do trabalho.

Para os trabalhos de Licenciatura, que normalmente apresentam somente fontes


secundárias, a resenha destas fontes pode ser apresentada no desenvolvimento do próprio
trabalho ao longo dos capítulos, com um número de capítulos seguindo uma ordem que
foi ditada pela estrutura das questões de pesquisa. Quando se usa também fontes
primárias no trabalho de Licenciatura, recolhidas em forma de entrevistas, o processo de
recolha das mesmas é indicado no capítulo da metodologia, e estas são usadas e
referenciadas ao longo do desenvolvimento do tema, devidamente citadas, indicando seu
papel para melhor se alcançar os objectivos e validar as hipóteses. Para sua apresentação
no texto, no corpo da tese, veja Parte 3 abaixo.

Para a Trabalho de Licenciatura o ISRI não faz exigência do uso de fontes


primárias, podendo o trabalho ser defendido somente com base em fontes
secundárias.

9
Para o Trabalho de Mestrado exige-se o uso de fontes secundárias e primárias.

3.3 Parte 3 - A Realidade do Terreno


O material recolhido como fonte primária é apresentado e dissecado num capítulo
próprio, sublinhando o que é importante para o desenvolvimento do tema. Seguem-se os
capítulos do desenvolvimento da leitura analítica dos dados empíricos para validar as
hipóteses formuladas, tomando como base as questões de pesquisa.

3.3.1 O Material Empírico


Para o trabalho que fez uso de fontes primárias a serem retrabalhadas como resultado do
material recolhido no terreno, segundo um número óptimo de acordo com a teoria de
amostragem, essas devem aparecer no capítulo que abre a Parte 3, sobre “A Realidade
Encontrada do Terreno”. Como introdução dessa Parte 3 deve aparecer, num ou mais
capítulos, a geografia e a história desta realidade, assim como outras informações caso
sejam, relevantes como, por exemplo, a cultura, a economia, etc. O objectivo dessa
informação na realidade do terreno, é inserir o desenvolvimento do tema de forma
óptima, facilitando a comunicação das ideias do pesquisador e o diálogo entre o escritor e
o leitor.

Para o trabalho de Mestrado trata-se assim, de um novo capítulo. Nele deve estar contido
a apresentação do material recolhido no terreno e da leitura analítica deste mesmo
material, que vai ser dividida em capítulos cujos títulos e conteúdos serão sistematizados
pelas questões de pesquisa que, por sua vez, guiaram a estrutura do questionário usado.
Este material, recolhido por fontes primárias ou secundárias, vai perfazer o corpo do
trabalho.

Para o trabalho de Mestrado apresenta-se como um capítulo a parte as


“Considerações Metodológicas”, onde se introduz, e se discute problematizando, os
métodos e as técnicas usados para o trabalho, os constrangimentos encontrados no
terreno, etc.

Como parte desse capítulo aparece o sub capítulo da resenha da literatura relevante
para a melhor compreensão do tema, incluindo as obras congruentes com a
delimitação temporal e geográfica.

Para a introdução das fontes primárias recolhidas no terreno junto a grupos sociais
representativos de um todo, o princípio usado para tal é deixar claro a teoria de
amostragem usada (a população escolhida, o tamanho da amostra, a identificação do
terreno, etc.), com alguma problematização da mesma caso isto seja pertinente. Os
resultados em números absolutos e percentuais desta pesquisa, assim como alguma
diferenciação dos dados e seus resultados trabalhados com base em parâmetros que sejam
pertinentes para o tema (como sexo, idade, grupo social, etc.) , devem fazer parte desse
sub capítulo.

Em suma, deve aparecer nesse capítulo a apresentação do material recolhido no terreno,


com a seguinte informação:

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 A geografia, história, economia, etc., do terreno.
 O princípio usado para a recolha das fontes.
 A pertinência das fontes para o que se propõe.
 A amostra diferenciada pelo que for pertinente ao trabalho, com os devidos
parâmetros usados para sua identificação, a configuração do terreno, etc., caso se
trate de resultados de inquéritos a grupos sociais que se pretende representativos
de um todo.
 Os resultados alcançados e as bases das conclusões tiradas pela leitura analítica
da amostra (ou dos dados).

3.3.2 O Tratamento do Material Empírico


O tratamento do material empírico para alcançar os objectivos e validar as hipóteses
constitui o desenvolvimento do tema propriamente dito, onde cada capítulo vai ter um
título direccionado para se alcançar os resultados que se preconizou. Cada questão de
pesquisa, que foi formulada para se alcançar os objectivos e se validar as hipóteses, será
usada de forma indicativa para a atribuição dos títulos/rubricas e do conteúdo para o
desenvolvimento de cada capítulo e subcapítulo. O material que se apurou em cada bloco
do questionário pode ajudar a formular os conteúdos de cada capítulo.

O processo que se segue é uma leitura analítica circunstanciada da realidade empírica


através das fontes primárias e secundárias devidamente citadas, para esses capítulos
ganharem corpo através de um raciocínio claro e lógico desenvolvido ao longo dos
objectivos preconizados e das hipóteses formuladas.

3.4 Parte 4 - As Generalizações Finais


Nas generalizações finais, inverte-se a estrutura da introdução, ou seja, indica-se que se
alcançou e se validou o que se pretendeu alcançar e validar. Num discurso directo, sem
citar fontes, o candidato resume o que disse nos diferentes capítulos e sub capítulos,
indicando que alcançou cada objectivo e assim validou cada hipótese.

A mais-valia do marco teórico e da metodologia também deve ser ressaltada de forma


sumária nesse processo académico de formulação de uma tese/dissertação, com a
identificação do problema; da antítese, com o desenvolvimento da problematização do
tema em capítulos; e da síntese, com a resenha dos resultados alcançados.

Em suma, apresenta-se neste capítulo final a evidência de que se alcançou os resultados


preconizados e se validou as hipóteses formuladas.

3.5 Fontes Usadas ou Referências


Esta rubrica segue a forma que cada Instituição padroniza. Para a forma adoptada pelo
ISRI favor ver a respectiva “Ficha de Forma do ISRI”.

De realçar que o ISRI recomenda a apresentação da bibliografia em ordem alfabética,


identificada primeiramente pelo/s apelidos do/s autor/s, ano da obra, título, editora e local
da edição. Pode-se fazer uma diferenciação entre fontes primárias e secundárias, mas o
ISRI não recomenda outro tipo de diferenciação entre as fontes usadas.

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4 Finalmente
Estas directivas, assim como foram dispostas, indicaram um caminho para se desenvolver
um trabalho de Tese/Dissertação de Licenciatura e de Mestrado, seguindo as normas do
ISRI. Onde se discrimina as partes que devem compor o conteúdo do trabalho, e como
essas devem estar dispostas ressaltando as diferenciações concernentes às exigências
existentes para a Tese de Licenciatura e a Dissertação de Mestrado do Instituto.

5 Referências Usadas
Chiavenato, I. (2004) Introdução à Teoria Geral da Administração. 7a Edição
Totalmente Revista e Actualizada, Elsevier Editora Ltda.: Rio de Janeiro.
Dougherty, J.E., R.L. Pfaltzgraff Jr. (2003) Relações Internacionais – As Teorias em
Confronto – Um Estudo Retalhado. Gradiva Publicações Lda.: Lisboa.
Frankfort-Nachmias C., D. Nachmias (1996) Research Methods in the Social Sciences.
Fifth Edition, Arnold: London.
ISRI (2004) Ficha de Forma para a Elaboração de uma Tese de Licenciatura. Maputo.
ISRI (2004) Ficha para a Elaboração do Outline. Maputo.
Merton, R. K. (1968) Social Theory and Social Structure. Revised and Enlarged Edition,
Free Press: New York.
Popper, K. (1961) The Logic of Scientific Discovery. Science Editions: New York.
Popper, K. (1968) Conjectures and refutations: The Growth of Scientific Knowledge.
Harper & Row: New York.
Reynolds, P.D. (1971) A Primer in Theory Construction. Macmillan: New York.

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