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CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL EM MECÂNICA DOS SÓLIDOS

CONSTANTES ELÁSTICAS

Prof. Carlos Rodrigo de Mello Roesler, Prof. Edison da Rosa


GRANTE / EMC / CTC / UFSC – Novembro 2020
CARACTERIZAÇÃO EXPERIMENTAL EM MECÂNICA DOS SÓLIDOS
CONSTANTES ELÁSTICAS

MATERIAL HOMOGÊNEO, ISOTRÓPICO, ELÁSTICO LINEAR

A teoria da elasticidade estabelece que o comportamento mecânico dos


materiais, numa condição isotérmica, é univocamente definido por
duas constantes,

- Módulo de Elasticidade E Robert Hooke


- Coeficiente de Poisson ν Siméon Denis Poisson.

Estas constantes características do comportamento elástico do


material são definidas dentro do contexto de um estado uniaxial de
tensões.
 x 0 0  x 0 0 

σ   0 0 0  ε   0  y 0 
 0 0 0  0 0  z 

x y 
E    z
x x x

Podem também ser definidos valores pontuais, instantâneos,

d x d y d z
E   
d x d x d x

O módulo de elasticidade também é conhecido como módulo de Young.


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CONSTANTES ELÁSTICAS

As outras constantes elásticas podem, portanto, ser derivadas a


partir do módulo de elasticidade e do coeficiente de Poisson. Cada
uma destas diferentes constantes são características de um estado
particular de tensões ou de deformações. As principais constantes
elásticas derivadas são:

 0  xxy 0  0 xy 0
G - Módulo Transversal σ   xxy 0 0 ε   x y 0 0
 0 0 0  0 0 0

 x 0 0  x 0 0
K - Módulo Volumétrico σ   0 y 0  ε   0 y 0 
 0 0  x   0 0  z 

 x 0 0  x 0 0
H - Módulo Biaxial σ   0  y 0 ε   0 y 0 
 0 0 0  0 0  z 

 x 0 0  x 0 0
M – Módulo Longitudinal ε   0 0 0 
σ   0  y 0 
 0 0 0  0 0  z 
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CONSTANTES ELÁSTICAS

MÓDULO TRANSVERSAL 1

O módulo transversal, ou módulo de elasticidade transversal, ou


módulo de cisalhamento, é definido para uma situação de um estado
puro de tensões de cisalhamento. Um detalhe importante é que a
deformação cisalhante usada na sua definição não é a definição
tensorial, mas sim a definição de engenharia, assim,

 xy
G  xy  2  xy
 xy

 0  xxy 0  0  x y 0
com as matrizes σ   xxy 0 0 ε   x y 0 0
 0 0 0  0 0 0

Existem diversas formas para estabelecer a relação entre o módulo


transversal e o módulo de Young do material.

Dois estados de tensão são particularmente úteis para determinar a


relação entre G, E e  . O primeiro considera um estado uniaxial de
tensões, usando as relações entre a tensão normal e a máxima tensão
cisalhante, bem como as deformações normais com a deformação
cisalhante máxima. O segundo estado de tensão é o de cisalhamento
puro, que permite também obter as relações entre as tensões e as
deformações normais e tangenciais e logo a relação G, E,  .
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MÓDULO TRANSVERSAL 2

A partir de um estado uniaxial de tensões, considerando as relações


entre a tensão normal e a máxima tensão cisalhante, bem como as
deformações normais com a deformação cisalhante máxima,

 ij 
1
x  ij 
1
 x   y   y    x  ij 
1
 x 1   
2 2 2

Círculo de Mohr de tensões e deformações no estado uniaxial.

 ij 
xy xy


2 3 1 x  
3 y 1  x 

 ij 1 x
Assim a relação entre  ij e 2  ij vale  , ou seja,
 ij 2  x 1   
E
G
2 1   

Deve ser observado que esta equação indica um limite para o coeficiente de
Poisson, igual a -1, de modo a que o módulo transversal tenha um valor
finito. Por outro lado, maior que -1 de forma a que G seja positivo.
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MÓDULO TRANSVERSAL 3

Outra possibilidade de obter-se a relação entre o módulo transversal


e as propriedades elásticas básicas do material é considerar agora
um estado de cisalhamento puro.

Para esta condição a análise do problema indica que as tensões


principais valem

 1   xy 2  0  3    xy

Da Lei de Hooke generalizada a deformação  1 é dada por

1 
1
E
 1    2   3  1 
1
E

 xy    xy  1 
1
E
 xy 1   

Por outro lado a deformação de cisalhamento pode ser obtida como

 xy 1
 xy   1   xy 2   xy 1   
2 E
Assim resulta
 xy E E
 G
 xy 2 1    2 1   
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MÓDULO VOLUMÉTRICO

As matrizes tensão e deformação para este caso consideram apenas as


tensões e deformações normais,

 x 0 0  x 0 0
σ   0 y 0  ε   0 y 0 
 0 0  x   0 0  z 

Definindo a tensão hidrostática e a deformação volumétrica,

H 
1
3
x y z  e  x  y  z

o módulo volumétrico, bulk modulus, é definido como

H
K
e

Particularizando para um estado uniaxial,

1
H   x  0  0 e   x 1  2  K
E
3 3 1  2 

Novamente surge um limite para o coeficiente de Poisson, 0,5.


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MÓDULO BIAXIAL 1

O módulo biaxial representa o efeito de um aparente enrijecimento do


material quando este se encontra num estado biaxial de tensões
trativas, definido por
x
H
x
sob o estado de tensões

 x 0 0  x 0 0
σ   0  y 0 ε   0 y 0 
 0 0 0  0 0  z 

Nesta condição o efeito de Poisson acopla as deformações e a relação


tensão-deformação é aparentemente alterada. É uma situação típica de
um reservatório cilíndrico, ou esférico, sob pressão interna.

Cilíndrico   2  x Esférico   

Da lei de Hooke generalizada, para um estado plano de tensões,

x
x 
1
E

 x   y  e para o caso equibiaxial, H 
E
 x 1 
E
H
1 
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MÓDULO BIAXIAL 2

Considerando agora uma situação genérica, na qual o estado biaxial


de tensões assume uma relação qualquer, o módulo biaxial passa a
depender desta relação de tensões, denominada de razão ou
coeficiente de biaxialidade, B.
y
B
x

Da relação tensão-deformação para um EPT,

1
x   x   B  x 
E

resulta para o módulo biaxial,

x E
H 
 x 1  B

Sob o estado de tensões de um reservatório cilíndrico

B 1 2

E
H
1  2
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MÓDULO LONGITUDINAL 1

Este módulo surge na análise da propagação de ondas longitudinais e


é definido para uma situação de um estado uniaxial de deformações,
ou seja, as matrizes que definem os estados de deformação e tensão,
respectivamente, são:

 x 0 0  x 0 0
ε   0 0 0 σ   0  y 0 

 0 0 0  0 0  z 

A definição do módulo longitudinal, para o estado acima, é

x
M
x

Da lei de Hooke 3D, material isotrópico,  y   z e como  y  0 ,

y 
1
E
 
 y    x   y 
resulta

y x
1 
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MÓDULO LONGITUDINAL 2

Assim a deformação  x passa a ser

x 
1
E

 x    y   y 
e substituindo  y ,
1  2 
x   x    x
E  1  

x
Como M
x

1 
Tem-se M E
1   2 2

Este resultado indica que para que o módulo longitudinal tenha valor
finito, positivo, o coeficiente de Poisson deve estar situado entre
as duas raízes da equação do denominador. Resolvendo a equação do
segundo grau resultam os valores -1 e 0,5 como raízes, reproduzindo
os valores limites do coeficiente de Poisson obtidos pela análise
dos outros módulos.
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RELAÇÃO ENTRE O MÓDULO BIAXIAL E O MÓDULO LONGITUDINAL - 1

Das equações obtidas para o módulo biaxial, H, e para o módulo


longitudinal, M,

E 1 
H M E
1  1    2 2
1    2 2
E  H 1    EM
1 
Igualando
1    2 2 1    2 2
H 1     M
H H
  h
1  M 1   2 M

1   2 2
h
1   2
Resolvendo esta equação quanto à  ,


1
2 h  2
 2 h  1  98 h 
A partir desta equação algumas considerações devem ser feitas, sobre
os possíveis valores de  , bem como do módulo biaxial.
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RELAÇÃO ENTRE O MÓDULO BIAXIAL E O MÓDULO LONGITUDINAL - 2

Da equação para o coeficiente de Poisson, função de h,


1
2 h  2
 2 h  1  98 h 
um primeiro questionamento é o que significaria um valor complexo
para  , caso ocorra
h9 8

Como esta situação não possui respaldo na mecânica do contínuo,


vamos considerar o limite

h  9 8 ; (  1,125 )

No caso da igualdade,

18  8  0 
1
2 9  16  5

H Raízes
h0    1,00   0,500
h  1,000   0,000   0,333
h  1,125   0,200
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RELAÇÃO ENTRE O MÓDULO VOLUMÉTRICO E O MÓDULO TRANSVERSAL - 1

Esta relação é de mais fácil interpretação, pois representam a


capacidade do material resistir a uma mudança de volume e a uma
mudança de forma.

E E
K G
3 1  2  2 1   

E  K 3 1  2  E  G 2 1   

K 2 1   

G 3 1  2 

1 3K G  2

2 3K G 1

K G   0,500
K G0    1,00
K G 1   0,125
K G 5 3   0,250

De acordo com os trabalhos originais de Poisson, foi calculado um valor


de   0,25, válido para todos os materiais. Apenas com melhores
técnicas experimentais passou-se a obter valores mais precisos.
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RELAÇÃO ENTRE O MÓDULO VOLUMÉTRICO E O MÓDULO TRANSVERSAL - 2

A figura a seguir apresenta o comportamento do coeficiente de


Poisson, conforme a relação entre os módulos volumétrico e
transversal.
1 3K G  2

2 3K G 1

Destas relações, o significado de K G   é de uma resistência zero


para a mudança de forma, já no caso de K G  0 temos uma resistência
zero à mudança de volume.

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