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Senescência e Senilidade

Bem-vindo(a) ao Curso de Cuidador de Idosos. Nessa unidade, você irá conhecer a


história das irmãs Lurdes, Inês e Marta Pereira, e como o processo de envelhecimento
ocorreu de maneira diferente em cada uma delas.

Vamos começar com a Sra. Lurdes, 82 anos. Ela nunca fumou, é bastante ativa e se sente
muito bem, com ótima disposição.

• Além disso, alimenta-se bem,


trabalha bastante em sua casa
e até dois anos atrás praticava
yoga.

• Em sua rotina, faz caminha-


das e compras para sua casa,
cuida das finanças da família
e, quando pode, sai com suas
amigas para ir ao cinema.

As pessoas que conhecem a Sra. Lurdes, geralmente ficam impressionadas com sua vitali-
dade. Sorridente, ela concorda, apesar de perceber que já não é como era quando mais jo-
vem. Afinal, o cansaço aparece com mais facilidade e o fôlego parece menor. Ainda assim,
ela está muito satisfeita com sua saúde e sua vida.
Você sabia?
O envelhecimento se caracteriza por modificações biológicas, pro-
gressivas e previsíveis, próprias de cada espécie animal, que, em
geral, aumentam a vulnerabilidade do organismo a doenças.1 Tais
alterações, que se verificam à medida da passagem do tempo, e
têm diversos fatores como determinantes, comprometem o que
chamamos de “reserva funcional dos órgãos e sistemas”.

Além disso, em situações de equilíbrio, de pouca exigência, um órgão idoso não apresen-
ta alterações que se percebam; porém, em situações de maior sobrecarga, em que há a
necessidade de consumo extra da capacidade funcional orgânica – como, por exemplo, em
caso de doença aguda, de desidratação provocada pelo excessivo calor etc., o organismo
idoso falha em responder, pela falta ou redução importante da reserva dos rins, coração,
músculos, sistema imunológico ou sistema nervoso central, que no organismo jovem há
em abundância.

Em outras palavras, há uma menor resistência a condições ad-


versas e menor capacidade de manter o equilíbrio ou a saúde em
situações de sobrecarga funcional.1,2

A Sra. Lurdes vive com suas duas irmãs mais velhas, que precisam da sua ajuda. Vamos
conhecê-las agora:

Sra. Marta tem 95 anos, teve um derrame há dois anos, tornando-se totalmente depen-
dente dos cuidados da sua irmã mais nova.
Sra. Inês, com 92 anos, sente dores nos joelhos causadas por artrose, fraturou o quadril e
precisa de ajuda para caminhar fora de casa. Sente tristeza e, por vezes, fica muito cho-
rosa. Tem diagnóstico de depressão e seu tratamento está dando resultado, pois se sente
mais animada e com vontade de fazer as coisas.

Apesar de seus problemas, é


ativa em casa, costura, co-
zinha, e necessita apenas da
ajuda física da irmã para al-
gumas tarefas básicas da vida
diária, como vestir-se e tomar
banho, pela fraqueza e dese-
quilíbrio.

Agora que você conheceu um pouco da história das irmãs Pereira, podemos constatar
que o “processo do envelhecimento humano”* apresenta ritmos muito diferentes entre os
indivíduos, pois são diversos os fatores conhecidos que interferem nos mecanismos que
promovem o envelhecimento desde a célula, passando pelos os órgãos e sistemas, até o
organismo como um todo.2 Podemos considerar ainda os fatores genéticos, ambientais,
socioculturais e econômicos, e o estilo de vida adotado pelo indivíduo ao longo de sua
vida.3
* podemos afirmar que os humanos envelhecem de modo muito heterogêneo.

Então, a expectativa de vida de uma população pode ser mui-


to diferente de outra?
Sim. De acordo com as condições de saneamento básico, tipo de
dieta, hábitos como tabagismo e consumo de bebidas alcoólicas e,
de modo importante, níveis de sedentarismo ou atividade física.2

A esse processo natural de envelhecimento, que representa uma


maior vulnerabilidade a doenças, mas não significa um estado
anormal, pois não envolve nenhuma condição de enfermidade,
damos o nome de SENESCÊNCIA, em contraposição ao envelhe-
cimento patológico, cujo conjunto de alterações é provocado por
doenças que acompanham o envelhecimento; a esse damos o
nome de SENILIDADE.2
Por isso, todas as ações de promoção de saúde como incentivo à prática de atividade
física regular, e supervisionada quando necessário, dieta saudável, suspensão de
hábitos como o tabagismo e o etilismo, influenciam de modo muito importante o ritmo
de envelhecimento e a qualidade deste. Além de terem uma participação em prevenir as
doenças mais comuns no envelhecimento, ajudam a preservar e a manter no seu melhor
a reserva funcional dos órgãos e sistemas, e a aumentar as chances do envelhecimen-
to ativo ou saudável, com qualidade de vida.4

Para Concluir
Assista ao vídeo abaixo (video disponível somente na versão online do curso).
Funcionalidade
A base do “envelhecimento fisiológico”* ou normal e, ainda mais, do ativo, saudável ou
bem-sucedido é o grau de FUNCIONALIDADE de um indivíduo, que consiste no conjunto de
habilidades psíquicas, mentais e físicas que garantem a AUTONOMIA e a INDEPENDÊNCIA,
atributos de um idoso protagonista de sua própria história.5
* aquele que ocorre com as menores alterações senescentes possíveis e, portanto, com maior qualidade.

Leia com atenção as definições de Autonomia e Independência:

Autonomia

Definimos Autonomia como a habilidade em decidir como viver, com quem e onde, de acordo com suas
próprias regras e preferências, conforme o contexto social de cada um. Para tal, é necessário que este-
jam intactas as capacidades mentais e psíquicas, que controlam a vontade, a capacidade de julgamento
crítico e a elaboração de estratégias para alcançar os objetivos definidos pela pessoa.2,5

Independência

Independência, por sua vez, refere-se ao conjunto de capacidades físicas e de comunicação, que permitem
ao indivíduo realizar o que decidiu, prover seus autocuidados e viver com muito pouca ou nenhuma neces-
sidade de ajuda de terceiros no desempenho de atividades básicas da vida diária – outro elemento funda-
mental da qualidade de vida entre os idosos.5

Para manter sua autonomia, o indivíduo precisa ser capaz de realizar atividades comple-
xas da vida diária, ou, como denominamos em Geriatria/Gerontologia, atividades instru-
mentais, tais como: cozinhar, cuidar de suas finanças, tomar seus remédios, dirigir ou ser
capaz de tomar condução.

Para tal, necessita, como já referido, que estejam preservadas habilidades mentais como
memória, julgamento, orientação do tempo e espaço, entre outras, além do funcionamen-
to psíquico normal, pois um indivíduo deprimido ou ansioso pode tomar decisões equi-
vocadas por conta de seu estado psíquico alterado.2 Para garantir sua independência, há
necessidade de estarem preservadas a mobilidade e coordenação motora, assim como a
capacidade de se comunicar. Ambas, autonomia e independência são elementos importan-
tes para qualidade de vida da pessoa que envelhece.6

Como já vimos em relação à expectativa de vida ao nascer, o ritmo


de perda ou declínio funcional é bastante heterogêneo entre os
indivíduos e comunidades.
Na seção anterior, você viu que as irmãs Pereira estão em diferentes momentos do enve-
lhecimento. Analise com atenção alguns fatores a seguir:

Imagem esquemática do ritmo de perda ou declínio funcional.


Fonte: Organizado pelo autor.

Saiba mais

Desde o nascimento, vamos ganhando capacidades funcionais


progressivamente, nos desenvolvendo e atingimos, se tudo correr
bem, o auge da funcionalidade na vida adulta. Experimentamos
alguns anos de estabilidade dessa máxima função (se não formos
surpreendidos por nenhum evento catastrófico, que pode provo-
car uma perda súbita de uma ou muitas de nossas capacidades –
acidentes, violência, doenças graves), e um leve declínio começa a
ocorrer, como efeito do processo natural do envelhecimento.

Como ficaria, se você tivesse que classificar nessas três ca-


tegorias as Sras. Marta, Inês e Lurdes?
Confira a resposta para essa questão no quadro abaixo:
Imagem esquemática do ritmo de perda ou declínio funcional nas irmãs Pereira
Fonte: Organizado pelo autor.

Os fatores de risco e de proteção atuam e, como resultado, temos o grau de preservação


ou comprometimento funcional de cada um. O que buscamos é fortalecer os fatores de
promoção do envelhecimento saudável e minimizar os que aumentam os riscos de perda.
Quando isso não é mais possível, nossos esforços se concentram em reabilitar as funções
perdidas e garantir a qualidade de vida em qualquer contexto em que o idoso dependente
se encontre.7

Assista ao vídeo abaixo sobre capacidade funcional. Se for necessário, releia o conteúdo e
assista novamente o vídeo (video disponível somente na versão online do curso).

Dentre os fatores associados à maior intensidade de perdas fun-


cionais, podemos salientar, além da idade avançada, o sexo fe-
minino, a baixa escolaridade e renda, sedentarismo, isolamento
social e depressão, entre outros.2,5

Além disso, dos muitos idosos, aqueles que têm idade igual ou superior a 80 anos, apre-
sentam risco 25 vezes maior de declínio de suas capacidades funcionais em relação a
idosos mais jovens.5
Você sabia?
O estudo SABE8 avaliou a funcionalidade de indivíduos com idade
igual ou maior do que 60 anos em sete cidades da América Lati-
na e Caribe, dentre elas São Paulo. E identificou que apresentar
maior número de doenças crônicas, ter artrose, doença cardio-
vascular e depressão, apresentar declínio cognitivo, ser mulher e
muito idoso, são os fatores mais associados à incapacidade fun-
cional, especialmente no que se refere às atividades mais comple-
xas da vida diária:
• como controlar suas finanças,
• cozinhar,
• tomar seus remédios, e
• tomar condução, sem ajuda de terceiros.5

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Assista ao vídeo abaixo (video disponível somente na versão online do curso).
Idoso Robusto x Idoso Frágil
Em oposição ao idoso chamado ROBUSTO, cujo envelhecimento se dá de maneira fisiológi-
ca e com preservação de funcionalidade ao máximo, encontra-se o idoso frágil, ou porta-
dor da síndrome de fragilidade ou, apenas, fragilidade.

Idoso frágeis apresentam piores desfechos em saúde, entre eles, a maior taxa de
hospitalização, maior número de quedas, menores índices de funcionalidade e maior
mortalidade.9,10

A frequência da FRAGILIDADE varia de 2,5% entre idosos de 65 a 70 anos, a mais de


30% naqueles com idade igual ou superior a 90 anos de acordo com o critério diagnósti-
co escolhido.9
Você identifica a mesma fragilidade entre as idosas Lurdes,
Inês e Marta?

Os critérios que estabelecem a presença de fragilidade variam. Há os que consideram


apenas alterações funcionais, como sensação de exaustão, fadiga e grau de dependência
funcional, e outros que incluem medidas objetivas como velocidade de marcha, força mus-
cular e perda de peso medida no último ano.

Dentre os critérios mais conhecidos, destacamos o FRAIL, validado para a nossa popula-
ção, conforme Tabela 1.
Tabela 1. Tradução e adaptação da escala FRAIL

Legenda: **hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, câncer (sem considerar carcinoma basocelular em
pele ou equivalente), doença pulmonar obstrutiva crônica, doença coronariana ou infarto do miocárdio, insuficiência
cardíaca congestiva, asma, artrite, acidente vascular cerebral, insuficiência renal crônica. Pontuação:
1 ponto para cada resposta positiva: Nota. 3-5: frágil; 1-2: pré-frágil.

A prevenção da fragilidade deve ser intenção de todos os que zelam pela qualidade de vida
no envelhecimento. Reconhecer seus determinantes e corrigi-los, sempre que possível,
são objetivos maiores da Geriatria e Gerontologia.10

O tratamento da síndrome da fragilidade, porém, não consiste em tarefa fácil e, tampou-


co, de baixo custo. Além da identificação precoce e tratamento efetivo dos fatores contri-
buintes, as consequências a médio e longo prazo necessitam de intervenções que envol-
vem nutrição e atividade física de modalidades diversas. O paciente que mais se beneficia
dos tratamentos é o paciente pré-frágil, por manter preservada, em alguma medida, sua
reserva funcional. Sendo assim, é altamente recomendável o rastreio de idosos que po-
dem aparentar robustez, mas que podem apresentar itens de pré-fragilidade.10

A seguir, você vai conhecer o que deve ser realizado com as irmãs Pereira devido às dife-
renças: robusta, pré-frágil e frágil.

Lurdes: Idosa Robusta

Deve ser incentivada a continuar a realizar suas tarefas, bem como atividades de lazer, exercícios, convi-
vência com outras pessoas, manter seus exames médicos em dia, ou seja:
MANTER ATIVIDADES DE PROMOÇÃO DE SAÚDE E PREVENÇÃO DE DOENÇAS

Inês: Idosa Pré-Frágil

• Está em risco aumentado de Fragilidade!


• Deve ser muito estimulada a iniciar exercícios físicos regulares de fortalecimento muscular, equilíbrio e
marcha segura.
• Deve ser avaliada quanto aos aspectos nutricionais, ter corrigidas quaisquer deficiências e prescrita
uma dieta balanceada.
• Deve ser incentivada a manter medidas de prevenção.
Marta: Idosa Frágil

• Marta tem potencial reduzido de recuperação do vigor e da funcionalidade de forma integral.


• No entanto, deve receber todos os cuidados de reabilitação e prevenção de complicações de sua doença,
como pneumonias, lesões por pressão, infecções urinárias.

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Assista ao vídeo abaixo (video disponível somente na versão online do curso).
Empatia
Nesta seção abordaremos o tema empatia e como ela pode ser utilizada em seu dia a dia
profissional.

Você sabia?
A velhice sempre assustou a humanidade, assim como a doença
e a morte. Diversas foram as tentativas de encontrar a Fonte da
Juventude, onde, entrando-se velho em uma ponta, sai-se nova-
mente jovem pela outra. Na Figura 1, você encontra uma famosa
imagem sobre esse antigo desejo.

Figura 1. A Fonte da Juventude (Lucas Cranach – 1472-1553)

Legenda: Como vemos, pela época em que nasceu o pintor da figura 1 (por volta de 1500),
essa não é uma questão nova.
Fonte: A Fonte da Juventude (Lucas Cranach – 1472-1553)
Saiba mais

Ainda hoje, a ciência busca encontrar formas de prolongar a ju-


ventude ou retardar a velhice: a cosmiatria, a dermatologia e a
cirurgia plástica são bons exemplos disso, e os veículos de infor-
mação (mídia) vivem elogiando a juventude: infância e fase adulta
e, especialmente, a velhice tem bem menos destaque nos progra-
mas, propagandas e filmes, em geral.

Em meados dos anos 1950, Simone Beauvoir importante filósofa e escritora, dedicou uma
obra inteira a explorar esta “fase da vida”*, em que nos mostra como o “velho” é sempre o
outro: dificilmente, quando crianças, jovens ou adultos jovens nós temos a noção exata de
que o velho somos nós, apenas alguns anos à nossa frente.
* A Velhice 11

Mas esse cenário parece mostrar uma mudança, devido ao au-


mento da esperança de vida ao nascer e da população idosa em
todo o mundo. Por isso, vemos o idoso em propagandas de televi-
são e nas mídias sociais: afinal, ele é um potencial consumidor e,
por isso, merece a atenção da sociedade de consumo.
A imagem e o comportamento da terceira idade sofreram mudanças ao longo dos anos.
Assim, uma quantidade maior de idosos têm lidado de forma diferente com o envelheci-
mento, vivenciando um estilo de vida participativo e integrado.2

Você sabia?
A sociedade contemporânea, como já mencionado, é marcada pela
cultura do narcisismo, apelando preferencialmente ao cultivo ao
corpo, à beleza e à juventude.

Analisando-se as formas de representação do idoso na televisão, por exemplo, percebem-


-se as mudanças ocorridas na construção da imagem do idoso.

Saiba mais

As novelas, filmes, documentários e programas de televisão têm


dado destaque a personagens de faixa etária elevada, retratando
sempre a imagem positiva do envelhecimento, o que proporciona
uma possível identificação pelo idoso telespectador.12

O idoso era retratado como dependente, frágil, teimoso e rígido


(um estereótipo pejorativo); hoje, é representado, a maior parte
das vezes, como jovial, ativo, belo e economicamente ativo – o que
representa um avanço indiscutível, mas, também, um novo este-
reótipo, pois não há somente um tipo de idoso, mas vários, como
já vimos, certo?

Ocorre que, com esse novo modelo de idoso a ser cultuado, foge-se novamente de re-
tratar e aceitar a velhice como ela pode ser: saudável, rica em experiências e vivências
e, também, uma fase com maiores desafios de saúde mental e física, com algum grau de
perda funcional e, infelizmente, em alguns casos não raros, com graus variados de depen-
dência.
A Sra. Inês depende de sua irmã Lurdes para algumas ativi-
dades. Para você, ela faz parte desse grupo?

Há uma rejeição da velhice em suas dificuldades, inclusive da parte de alguns idosos, que
rejeitam ou negam a própria ideia de velhice. Se anteriormente os idosos eram encarados
sob um prisma de invalidez e perdas, hoje o são através da imagem de um idoso ativo, sau-
dável, em busca de atividades de lazer, incentivado pela mídia.12

Almejar envelhecer com saúde e em plena atividade é esperado e


desejável, pois, para que isso se realize, o indivíduo se engaja em
comportamentos saudáveis – ou deveria fazê-lo – como praticar
atividades físicas, alimentar-se de modo adequado, manter-se em
contato com os demais, familiares e amigos, descansar e exercer
suas habilidades em seu melhor.

Você sabia?
Um em cada três idosos tem algum grau de dependência; que esta
proporção dobra a cada 10 anos vividos a partir dos 60 anos e que
acima dos 80 anos os índices de dependência aumentam muito.8

A idade avançada é um importante fator de dependência, assim como as que se segue:

• Demência;
• Fraturas de quadril;
• Acidentes vasculares cerebrais;
• Doenças reumatológicas;
• Deficiências visuais.

Essas situações reduzem a capacidade do indivíduo de superar os desafios ambientais.8


Assim, a sociedade precisa estar preparada para enfrentar o
desafio do cuidado a ser oferecido a esses idosos com variados
graus de dependência!

Ao longo de nossas vidas e de todas as espécies vivas no planeta, a fase em que é natural
depender é a infância. O cuidado com o recém-nascido, o bebê, a criança e o adolescente
é desejável, esperado e moralmente obrigatório, além de o ser por lei. Assim, na infância,
temos que:

Quadro 1. Dependência na infância

Fonte: Organizado pelo autor.

Portanto:

Quadro 2. Significado do cuidado

Fonte: Organizado pelo autor.

No contexto da velhice, por outro lado, o zelo e o cuidado ao idoso dependente são, fre-
quentemente, encarados como um fardo, uma “cruz a ser carregada”.
Nos quadros a seguir, discorremos sobre como são encarados a dependência e os cuida-
dos na velhice, no olhar de todos – idosos e não idosos:

Quadro 3. Dependência na velhice

Fonte: Organizado pelo autor.

Quadro 4. Cuidado ao idoso dependente

Fonte: Organizado pelo autor.

A Sra. Lurdes encara de maneira diferente o cuidado com as suas irmãs. Ela admite que
fica cansada, e em algumas situações, até precisa se afastar, mesmo assim, compreende
que Inês e Marta não são culpadas por estarem doentes e que a situação poderia ser ao
contrário. Afinal poderia ser ela a depender ”pois isso acontece”.
Imagem esquemática das consequências das atitudes negativas em relação às pessoas idosas.
Fonte: Organizado pelo autor.

Baseados na condição de dependência, que remete aos cuidados


com as crianças, em muitas ocasiões, o prestador do cuidado
infantiliza o idoso dependente.14 Espera dele obediência, plena
aceitação das recomendações, agradecimento e admiração – as-
sim como se espera isso de um filho, aluno, neto.

Ocorre que essa expectativa, que já não é cumprida pelas crianças, o é menos ainda pe-
los idosos, que, apesar da situação de dependência, temporária ou definitiva, parcial ou
completa, são adultos, com toda uma biografia e história atrás de si, conquistas, perdas,
alegrias e frustrações, preferências de toda sorte, e que não podem ser negligenciadas.

Mas, como compreender um idoso, alguém tão diferente de


mim, com experiências que ainda não vivi, que temo viver e
quero esquecer que viverei?
Compreender uma criança, um adolescente ou um jovem parece
mais fácil, já que, sendo adultos, já passamos por essas fases da
vida. A chave desse segredo chama-se EMPATIA.
Você sabe o que é empatia?
Empatia é a arte de se colocar no lugar do outro por meio da ima-
ginação, compreendendo seus sentimentos e perspectivas e usan-
do essa compreensão para guiar as próprias ações.15

Não é piedade, compaixão ou pesar pelo outro. É compreender que o outro é um ser ínte-
gro, com sua visão e experiência do mundo e da vida, que merece ser respeitado, e que,
no mais, é um semelhante, e que posso tentar me colocar em seu lugar e tentar enxergar
seu ponto de vista.

Saiba mais

Há diversas experiências nas quais pessoas são levadas a viven-


ciar perspectivas muito diferentes da sua, como, por exemplo,
um empreendedor social que criou uma rede mundial de museus,
onde visitantes foram conduzidos na mais plena escuridão por
guias cegos, para que passassem pela experiência de ser um
deficiente visual; ou uma desenhista de produtos para grandes
empresas que, percebendo a ausência de adaptação de produtos
às necessidades de idosos nos EUA nos anos 1970, resolveu expe-
rimentar ela mesma as condições de limitações funcionais vividas
por idosas daquele país: se transformou em uma pessoa de 85
anos, com ajuda de um maquiador, amarrações em pernas e bra-
ços, óculos embaçados, tampões nos ouvidos, tudo para simular
tal contexto físico.
Viajou por muitas cidades experimentando as dificuldades de subir
e descer escadas, atravessar ruas, usar abridores de latas, em-
purrar portas pesadas etc.15
O que tirou de lição dessas experiências? Criou e foi a pioneira no
desenho de objetos e utensílios inovadores, adaptados às mais va-
riadas limitações existentes. É considerada a fundadora do design
inclusivo e trabalha até hoje como ativista do direito dos idosos
em seu país.
Ser capaz de ser empático é entender que minha visão das coisas
não é a única válida, que minha perspectiva das situações é im-
portante, mas é apenas mais uma e que as experiências dos ou-
tros são minhas também, uma vez que somos uma só humanidade
e que “nada do que é humano me é totalmente estranho”.

A Sra. Lurdes tenta se colocar no lugar das suas irmãs e entender as suas necessidades;
mas também, busca compreender quando começa a ficar muito irritada e percebe que
precisa de ajuda muitas vezes. Quando isso acontece, ela sai um pouco, toma um banho,
caminha e assim consegue aliviar o seu cansaço e mau humor.

Para Concluir
Assista ao vídeo abaixo (video disponível somente na versão online do curso).
Exercícios de Fixação

Você finalizou o conteúdo multimídia. Vamos testar o seu


conhecimento sobre os conceitos de senilidade e senescência.

Responda os exercícios a seguir e, caso julgue necessário, releia o conteúdo.

1. Podemos definir Senescência como:

A. Um processo que alguns organismos vivenciam, quando suas condições e estilo de vida são inadequados.

Um processo em que o organismo, por estar envelhecendo, inicia um conjunto de doenças ligadas à
B.
passagem do tempo.

Um processo normal, em que o organismo que envelhece sofre a redução de suas reservas funcionais,
C.
apresentando menor capacidade de enfrentar situações de sobrecarga funcional.

D. Nenhuma das alternativas anteriores.

Alternativa Correta: C

Comentário:

Como explicitado, a Senescência é o processo natural do envelhecimento, no qual os órgãos e sistemas


vão sofrendo perda das reservas funcionais, e têm maior dificuldade em enfrentar situações de sobrecar-
ga funcional.
2. A Senilidade pode ser entendida como:

A. Um conjunto de doenças normais do envelhecimento.

O conjunto de doenças que ocorre no organismo envelhecido, mas que não são consideradas normais,
B.
mas sim comuns na faixa etária.

C. O próprio processo natural de envelhecimento de órgãos e sistemas.

D. Nenhuma das alternativas anteriores.

Alternativa Correta: B

Comentário:

Falamos em Senilidade de um organismo, o estado em que órgãos e sistemas têm ultrapassados seus
limites de reserva funcional e passam a adoecer tanto agudamente, como por exemplo, uma insuficiên-
cia renal aguda por desidratação, como de afecções crônicas, quando o órgão envelhecido vulnerável se
torna doente permanentemente – um osso que perde gradativamente a massa até ficar com osteoporose,
por exemplo. A Senilidade representa o estado patológico do envelhecimento – seu conjunto de doenças
mais comuns, mas nunca consideradas ”normais da idade”.
3. Assinale a alternativa correta. Em relação às irmãs Lurdes, Inês e Marta:

A. Lurdes é um bom exemplo de Senescência.

Inês tem alguns problemas de saúde próprios da idade e também é um exemplo de envelhecimento
B.
sem doença.

C. Marta é um bom exemplo de Senilidade.

D. As alternativas A e C estão corretas.

Alternativa Correta: D

Comentário:

Lurdes tem um envelhecimento ativo, com poucas perdas funcionais e é um bom exemplo de Senescência.
Inês, apesar de ter a saúde geral regular, apresenta condições que não acontecem no envelhecimento
normal: a fratura causada por uma queda simples que indica osteoporose, a artrose dos joelhos e a de-
pressão não são próprias do processo de envelhecimento. Assim, não é um bom exemplo de Senescência.
Marta é, infelizmente, um bom exemplo de envelhecimento patológico. Alternativas A e C corretas
4. Você classificaria o tipo de envelhecimento das irmãs Lurdes, Inês e Marta como:

A. Senescência; Senescência; Senilidade.

B. Senilidade; Senescência; Senilidade.

C. Senescência; Senescência; Senilidade.

D. Senescência; Senilidade; Senilidade.

Alternativa Correta: D

Comentário:
Lurdes apresenta o chamado envelhecimento ativo, com pouca perda funcional e, portanto, Senescência.
Já Inês e Marta apresentam uma série de doenças, mais comuns no envelhecimento, mas não normais.
Assim, mesmo que em graus diferentes, ambas apresentam processos de Senilidade.
5. Para testar o seu conhecimento responda esse quiz sobre a Sra. Inês, que mora com as suas irmãs:

A Sra. Inês é costureira aposentada. Ela cozinha para todas, além de usar a máquina de lavar, mas não estende as
roupas devido a dor nos joelhos, por isso sua irmã, Lurdes, a ajuda. Por fim, ela não sai sozinha (tanto pela dor quan-
to pela fraqueza nas pernas), porque já caiu na rua.

Quanto à sua FUNCIONALIDADE, pode-se afirmar que:

A. Tem preservada tanto a Autonomia quanto a Independência.

B. Tem preservada a Independência, mas não a Autonomia.

C. Tem comprometida tanto a Autonomia quanto a Independência.

D. Tem preservada a Autonomia, mas não a Independência.

Alternativa Correta: D

Comentário:
A Sra. Inês decide o quê e como cozinhar, usa dispositivos domésticos, decide o quê e quanto comprar.
Portanto, sua Autonomia está preservada. Quanto a realizar de forma independente muitas de suas ati-
vidades, a paciente não consegue pelos limitantes físicos de dor e força muscular. Logo, é dependente de
terceiros para concluir tais tarefas.
6. Vamos testar o seu conhecimento sobre o que discutimos nessa seção? Assinale verdadeiro (V) ou falso (F)
nas alternativas abaixo em relação às irmãs Marta, Inês e Lurdes.

Verdadeiro Falso
A.
A Sra. Lurdes é uma idosa robusta.

Verdadeiro Falso
B.
O idoso robusto não tem risco de desenvolver fragilidade.

Verdadeiro Falso
C.
Inês é uma idosa pré-frágil.

Verdadeiro Falso
D. Identificar o idoso em risco de fragilidade ou pré-frágil é fundamental, pois é a fase em que as medidas
são mais efetivas.

Verdadeiro Falso
E.
Marta é idosa frágil e não se pode fazer mais nada por ela.

Comentário:
A. Lurdes é idosa robusta, funcional e com muita saúde física e mental.

B. O idoso robusto pode, sim, tornar-se frágil – a partir de uma doença grave, de um acidente, de uma
queda, por exemplo

C. Inês ainda tem bastante autonomia, mas já apresenta dois sintomas: cansaço e impossibilidade de subir
escadas, o que a torna pré-frágil

D. Correto. Este idoso, aparentemente robusto, mas em grande risco de fragilidade é o que mais se bene-
ficia das medidas modificadoras dessa condição. Podemos prevenir a fragilidade nesses indivíduos.

E. Marta é idosa frágil, sim, mas ainda temos muito o que fazer por ela: reabilitar o máximo possível suas
funções e, principalmente, prevenir as complicações de sua imobilidade, como infecções, lesões por pres-
são, encurtamentos dos tendões e outras.
7. Teste agora o seu conhecimento sobre os conceitos discutidos até o momento. Responda ao Quiz e, caso jul-
gue necessário, estude novamente o conteúdo.
Assinale verdadeiro (V) ou falso (F) nas alternativas abaixo:

Verdadeiro Falso
A.
Empatia só é possível entre seres iguais ou muito parecidos.

Verdadeiro Falso
B.
Cuidar de idosos e crianças é igual, afinal, “o idoso volta a ser criança” .

Verdadeiro Falso
C. Consigo ser empático com alguém quando sou capaz de ver as coisas sob o seu ponto de vista, como
Lurdes com suas irmãs.

Verdadeiro Falso
D. O cuidado empático é benéfico para o idoso, mas muito penoso para o cuidador : entender suas irmãs,
faz Lurdes sofrer muito mais.

Verdadeiro Falso
E.
Ter empatia é o mesmo que sentir compaixão pelo outro; não há diferença entre esses dois sentimentos.

Comentário:
A. A empatia é possível entre seres muito diferentes – até em relação a seres de outra espécie (ex:
animais, plantas). Podemos sentir empatia, basta ter disposição em se colocar no lugar do outro; ver as
coisas a partir de outras perspectivas.

B. Idosos não são crianças – têm uma imensa biografia atrás de si com preferências, visões da vida e uma
personalidade construída a partir das experiências vividas. É, e deve ser, bem diferente lidar com crianças
e idosos.

C. Sim. Essa é a chave da empatia e de um cuidado empático.

D. O cuidado empático é benéfico para ambos. Quando sinto empatia, imediatamente compreendo o outro
em seu posicionamento e eventual sofrimento: o cuidado passa a ser mais natural e menos sofrido.

E. A compaixão envolve ver o outro em uma posição inferior à minha. Implica pensar que vivemos uma
situação superior e, a partir dela, sinto compaixão pelo outro. A empatia é um sentimento entre seme-
lhantes - ninguém em posição superior ou inferior.
8. Assinale verdadeiro (V) ou falso (F) nas alternativas abaixo:

Verdadeiro Falso
A.
A mudança na visão a respeito do idoso na sociedade e na mídia foi negativa.

Verdadeiro Falso
B.
A vontade de cuidar do corpo e da saúde entre os idosos obedece apenas aos apelos da mídia.

Verdadeiro Falso
C. Apesar de muito desejável ser saudável e funcional, envelhecer pode trazer consigo variados graus
de dependência.

Verdadeiro Falso
D. Precisamos nos preparar melhor como sociedade para lidar com o envelhecimento e o cuidado dos
idosos dependentes.

Verdadeiro Falso
E.
Empatia pode significar também respeito, solidariedade, identificação com o outro.

Comentário:
A. A mudança foi favorável, permitindo que os idosos possam realizar desejos e atividades que antes eram
impensáveis: trabalhar, participar, se divertir, namorar. Apenas, uma mudança incompleta, que acabou
deixando de lado, por ora, a complexidade do envelhecer.

B. As pessoas cuidam de seus corpos e saúde muito influenciadas pelas expectativas dos outros e da mí-
dia. Mas também porque querem efetivamente viver melhor. E isso é muito bom.

C. Já sabemos que o envelhecimento é um processo que acontece de modo diferente em cada um de nós, e
que é muito frequente haver, em algum momento ao longo da vida, especialmente entre os muitos idosos,
o aparecimento de algum grau de dependência.

D. Com o grande aumento de idosos na população brasileira, é urgente preparar a todos – governos, so-
ciedade e famílias, para lidar com a dependência, elaborando políticas, aumentando os espaços de aten-
ção e cuidado, capacitando pessoas.

E. Sim. Empatia é olhar para o outro como um semelhante que merece meu respeito e solidariedade. É
olhar para alguém que está hoje em uma posição que poderei estar em algum momento.

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