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TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA COMO AJUSTAMENTO

CRIATIVO DISFUNCIONAL: UMA COMPREENSÃO GESTALT-TERAPÊUTICA

Kátia Viviane Pazello Velasco da Silva1


Diva Rodrigues Daltro Barreto2

RESUMO

Introdução: O TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada) é caracterizado pelo DSM-


5(2014) como ansiedade excessiva, apresentando sintomas como: inquietação, tensão muscular,
tremores, transpiração, entre outros. A Gestalt-Terapia(GT) é uma abordagem fenomenológica-
existencial e concebe o homem como uma totalidade mente-corpo em constante interação com
o ambiente para a busca da satisfação de suas necessidades(CARDELLA,2014). Um conceito
trazido pela GT é o de ajustamento criativo disfuncional(ACD), que se caracteriza pela
autorregulação do organismo mesmo quando este está impossibilitado de satisfazer suas
necessidades de forma criativa. Dito isso, o objetivo deste trabalho é compreender de que
maneira o TAG se apresenta como um ACD na perspectiva da GT. Método: Levantamento
bibliográfico na base de dados do Scholar Google, Bireme e Pepsic. Foram selecionados 15
artigos publicados na língua portuguesa, no período de 2008 a 2018, utilizando os seguintes
descritores: Transtorno de Ansiedade Generalizada; Gestalt-terapia e Ajustamento Criativo
Disfuncional; Ansiedade e Gestalt-Terapia. Resultados e Discussão: A GT se preocupa em
compreender “como” os transtornos se apresentam para o cliente no aqui-e-agora. O TAG é
compreendido pela GT como um ACD, já que o sujeito em sua história de vida se ajusta
criativamente por conta de uma necessidade não atendida repetidamente, apresentando os
sintomas ansiosos como resultados de sua autorregulação organísmica. Consideração Final:
Os ACDs se apresentam de forma variada para cada individuo, já que cada pessoa tem
experiências e percepções diferentes de seus sintomas. Assim, é importante para a GT
compreendê-los, para poder ajudar o sujeito a buscar a forma criativa e funcional de
ajustamento.

Palavras-chaves: Transtorno de Ansiedade Generalizada. Gestalt-Terapia. Ajustamento


Criativo Disfuncional.

INTRODUÇÃO

O interesse pelo tema Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), surgiu a partir dos
atendimentos psicológicos realizados no Estágio Específico I, no Núcleo Integrado de Saúde

(NIS), onde dois clientes apresentaram a ansiedade como queixa inicial. O TAG é caracterizado
pelo Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais 5 (DSM-5)

1
Discente do curso de Psicologia do Centro Universitário Unifanor Wyden. E-mail:
katiavelasco@gmail.com
2
Docente do curso de Psicologia do Centro Universitário Unifanor Wyden. E-mail.
Diva.barreto@unifanor.edu.br
como ansiedade e preocupação excessivas difíceis de controlar. Seus sintomas primários são
variáveis e descritos como inquietação insistente, tensão muscular, tremores, transpiração,
vertigens, incômodo abdominal, batimentos cardíacos acelerados, podendo ainda apresentar
sintomas secundários, como: dificuldade de respirar, insônia, náuseas, sensação de
sufocamento, medo, entre outros (CAVALER E CASTRO, 2018). O TAG difere de outros
transtornos de ansiedade por sua intensidade e durabilidade.
Por outro lado, a Gestalt-terapia (GT) é uma abordagem fenomenológica-existencial e concebe
o homem como uma totalidade mente-corpo em constante interação com o ambiente para a
busca da satisfação de suas necessidades (CARDELLA, 2014). A GT é utilizada na prática da
psicoterapia, e não se preocupa em explicar a nosologia do TAG ou de qualquer outro
transtorno, mas sim, em compreender “como” tais transtornos se apresentam para o cliente no
aqui-e-agora. De acordo com Perls (1977), a ansiedade revela uma pessoa que acredita não ter
competência para lidar com as situações estressantes e fantasia a possibilidade de
acontecimentos desastrosos no presente ou no futuro. Essas fantasias projetadas no mundo a
impedem de realizar o ajustamento criativo funcional. Segundo Frazão (2015), o ajustamento
criativo funcional é aquele em que o sujeito em contato com o meio consegue criativamente e
respeitosamente atender suas necessidades, enquanto que o ajustamento criativo disfuncional é
aquele em que o organismo se percebe impossibilitado de satisfazê-las de forma criativa.
Portanto, o objetivo deste trabalho é compreender de que maneira o TAG se apresenta como
um ajustamento criativo disfuncional, à luz da GT.

MÉTODO

Este trabalho fundamenta-se em um levantamento bibliográfico realizado na base de dados do


Scholar Google, Bireme e Pepsic. Para pesquisa nas plataformas, foram utilizados os
descritores “Transtorno de Ansiedade Generalizada, Gestalt-terapia e Ajustamento Criativo
Disfuncional”; “Ansiedade e Gestalt-Terapia”; “Transtorno de Ansiedade Generalizada”;
“Gestalt-terapia” e “Ajustamento Criativo Disfuncional”, tendo como delimitador artigos na
língua portuguesa publicados no período de 2008 a 2018. Após os resultados de buscas, foram
selecionados os artigos que tinham ligação direta com o objetivo do trabalho. Foram utilizados
também livros de referência da GT.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O TAG é uma das formas em que a ansiedade se apresenta para o sujeito e costuma ser crônico
e duradouro. O DSM-5 diz que, para ser reconhecido como transtorno mental, a ansiedade tem
que estar presente na maioria dos dias da pessoa, em pelo menos seis meses, e dificultar
inúmeros eventos da vida diária. O indivíduo com o TAG subestima sua capacidade de lidar
com determinada situação de ameaças ao seu bem-estar e reage desproporcionalmente ao
problema apresentado, isso pode trazer sofrimentos significativos que vão para além dos
prejuízos sociais. Segundo Brentini et al (2018), a progressão da ansiedade para transtorno
patológico pode estar ligada às mudanças da vida contemporânea, causadas pelo avanço da
tecnologia e pelas pressões sociais, tais como: problemas familiares e no trabalho, dificuldades
financeiras e de saúde. Mudanças essas que causam estresses e que por vezes são convertidos
em sintomas ansiosos.
Tais sintomas revelam uma necessidade que não foi satisfeita e o organismo executou um
ajustamento criativo disfuncional, ou seja, o contato que o sujeito realizou com o meio não foi
satisfatório para suprir sua necessidade eminente e se autorregular. É importante entender que
de acordo com Perls, Hefferline, Goodman (1997), contato é função do self, e é a experiência
consciente da interação no campo organismo/meio, que resulta em ajustamento criativo do
indivíduo e consequentemente sua autorregulação organísmica, isto é, o equilíbrio homeostático
do organismo. O ajustamento criativo acontece nesse processo de contato consciente para a
satisfação das necessidades. Quando esse contato alcança seu objetivo, o organismo executa
um ajustamento criativo funcional. Entretanto, quando esse objetivo não é alcançado, o
organismo ainda realiza um ajustamento criativo só que disfuncional, uma vez que organismo
encontrou uma forma de se ajustar à situação de falta para manter a relação com o meio
(FRAZÃO, 2015).
É nesse sentido que o TAG é compreendido pela GT como um ajustamento criativo
disfuncional, já que o sujeito em algum momento de sua história de vida se ajusta criativamente
por conta de uma necessidade não atendida repetidamente. Tal ajustamento, segundo Frazão
(1996, p.30), “foi necessário à sobrevivência psíquica, mas a medida em que este ajustamento
se mantém, deslocado no tempo e espaço, acaba se constituindo em um ajustamento
disfuncional”. Esse ajustamento criativo disfuncional se apresenta como sintomas ansiosos
oriundos do fluxo de excitação da necessidade não suprida. Quanto mais tempo esses sintomas
ansiosos são ignorados pelo sujeito e são acrescidos de situações estressantes da vida diária,
mais complexo se torna esse ajustamento e resulta em outros ajustamentos disfuncionais, que
juntos são compreendidos como TAG. Tais ajustamentos disfuncionais revelam que o
organismo se autorregulou com disfuncionalidades e não alcançou o equilíbrio homeostático.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que o TAG pode ser compreendido, a partir da GT como um ajustamento criativo
disfuncional, já que o indivíduo em suas constantes tentativas de se autorregular no contato com
o meio, frustrado, desenvolve cristalizações e rigidez no seu relacionamento com o ambiente;
a fim de manter essa relação, nega sua necessidade. A partir dessa negação da necessidade, o
organismo se ajusta criativamente de forma disfuncional, e desenvolve no seu corpo sintomas
ansiosos. Tais sintomas variam de individuo para individuo, uma vez que cada pessoa tem uma
experiência diferente com seus sintomas, com seus contextos relacionais, suas situações
adversas, e como ela se percebe em meio a isso tudo. Portanto, para a GT é importante
compreender como a pessoa apresenta seus ajustamentos criativos disfuncionais ansiosos no
aqui-e-agora, sendo assim possível ajudá-la a buscar a forma criativa de se ajustar
funcionalmente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARDELLA, B. H. P. Ajustamento criativo e hierarquia de valores ou necessidades. In:


FRAZÃO, L.M. e FUKUMITSU, K.O. (Orgs.). Gestalt-terapia: Conceitos Fundamentais. São
Paulo: Summus, 2014.

CAVALER, C.M.; CASTRO, A. Transtorno de Ansiedade Generalizada sob a perspectiva da


Gestalt-Terapia. Revista Psicologia Diversidade e Saúde, Salvador v. 7, n. 2, p. 296-304,
2018.
FRAZÃO,L.M. Pensamento diagnóstico processual: uma visão gestáltica de diagnóstico.
Revista do II Encontro Goiano de Gestalt-Terapia, Goiania , 2, 27-31, 1996.

MANUAL Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais – DSM-5. Porto Alegre:


Artmed, 2014.

PERLS, F. S.; HEFFERLINE, R.; GOODMAN, P. Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 1997.

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