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Transtorno do Comportamento Suicida

Critérios Propostos

A. Nos últimos 24 meses, o indivíduo fez uma tentativa de suicídio.

Nota: Uma tentativa de suicídio é uma sequência autoiniciada de comportamentos por um indivíduo que, no
momento do início, tinha a expectativa de que o conjunto de ações levaria à sua própria morte. (O “momento
do início” é o momento em que ocorreu um comportamento que envolveu a aplicação do método.)

B. O ato não preenche os critérios para autolesão não suicida – isto é, não envolve autolesão direcionada à
superfície do corpo realizada para produzir alívio de um estado cognitivo/sentimento negativo ou para alcançar
um estado de humor positivo.

C. O diagnóstico não é aplicado a ideação suicida ou a atos preparatórios.

D. O ato não foi iniciado durante um estado de delirium ou confusão.

E. O ato não foi realizado unicamente por um objetivo político ou religioso.

Especificar se:

Atual: Não mais de 12 meses desde a última tentativa.


Em remissão inicial: 12 a 24 meses desde a última tentativa.

Especificadores

O comportamento suicida é frequentemente categorizado em termos da violência do método. Geralmente,


overdoses com substâncias legais ou ilegais são consideradas não violentas, enquanto pular de alturas, ferir-se
com arma de fogo e outros métodos são considerados violentos. Outra dimensão para classificação são as
consequências médicas do comportamento, com as tentativas de alta letalidade sendo definidas como aquelas
que requerem hospitalização, além da procura ao setor de emergência. Uma dimensão adicional considerada
inclui o grau de planejamento versus impulsividade da tentativa, uma característica que pode ter
consequências para a evolução médica de uma tentativa de suicídio. Se o comportamento suicida ocorreu 12 a
24 meses antes da avaliação, a condição é considerada em remissão inicial. Os indivíduos permanecem em
maior risco para outras tentativas de suicídio e morte nos 24 meses após uma tentativa de suicídio, e o período
de 12 a 24 meses após a ocorrência do comportamento é especificado como “remissão inicial”.

Características Diagnósticas

A manifestação essencial do transtorno do comportamento suicida é uma tentativa de suicídio. Uma tentativa
de suicídio é um comportamento que o indivíduo realizou com pelo menos alguma intenção de morrer. O
comportamento pode ou não levar a lesão ou a consequências médicas sérias. Vários fatores podem
influenciar as consequências médicas da tentativa de suicídio, incluindo mau planejamento, falta de
conhecimento sobre a letalidade do método escolhido, baixa intencionalidade ou ambivalência ou intervenção
casual de outras pessoas depois que o comportamento foi iniciado. Estes não devem ser considerados na
atribuição do diagnóstico.

Determinar o grau de intencionalidade pode ser desafiador. Os indivíduos podem não reconhecer a intenção,
especialmente em situações em que fazer isso poderia resultar em hospitalização ou causar sofrimento a
pessoas amadas. Marcadores de risco incluem grau de planejamento, incluindo a escolha de um momento e
lugar para minimizar a chance de salvamento ou interrupção; o estado mental do indivíduo no momento do
comportamento, com a agitação aguda sendo especialmente preocupante; alta recente de internação
hospitalar; ou descontinuação recente de um estabilizador do humor, como lítio, ou de um antipsicótico, como
clozapina, no caso de esquizofrenia. Exemplos de “desencadeantes” ambientais incluem conhecimento recente
de um diagnóstico médico potencialmente fatal, como câncer, passar pela perda repentina e inesperada de um
parente próximo ou parceiro, perda de emprego ou despejo de casa. Já comportamentos como falar com
outras pessoas sobre eventos futuros ou preparar-se para assinar um seguro de vida são indicadores menos
confiáveis.

Para que os critérios sejam preenchidos, o indivíduo deve ter tido ao menos uma tentativa de suicídio. As
tentativas de suicídio podem incluir comportamentos em que, após dar início à tentativa de suicídio, o indivíduo
mudou de ideia ou alguém interferiu. Por exemplo, uma pessoa pode ter a intenção de ingerir determinada
quantidade de medicamentos ou veneno, mas interromper ou ser impedida por outra pessoa antes de ingerir a
quantidade completa. Se o indivíduo é dissuadido por outra pessoa ou muda de ideia antes de iniciar o
comportamento, o diagnóstico não deve ser feito. O ato não deve preencher os critérios para autolesão não
suicida – isto é, não deve envolver episódios repetidos de automutilação (ao menos cinco vezes nos últimos 12
meses) realizados para produzir alívio de um estado cognitivo/sentimento negativo ou para alcançar um estado
de humor positivo. O ato não deve ter sido iniciado durante um estado de delirium ou confusão. Se o indivíduo
se intoxicou deliberadamente antes de iniciar o comportamento, para reduzir a ansiedade antecipatória e
minimizar a interferência no comportamento pretendido, deve ser feito o diagnóstico.

Desenvolvimento e Curso

O comportamento suicida pode ocorrer em qualquer momento durante a vida, mas é raramente encontrado em
crianças com menos de 5 anos. Em crianças pré-púberes, o comportamento com frequência consistirá em um
ato (p. ex., sentar em um parapeito) que os pais proibiram devido ao risco de acidente. Aproximadamente 25 a
30% das pessoas que tentam suicídio continuarão a cometer mais tentativas. Existe variabilidade significativa
em termos de frequência, método e letalidade das tentativas. Entretanto, isso não é diferente do que é
observado em outras doenças, como o transtorno depressivo maior, no qual a frequência do episódio, seu
subtipo e o prejuízo para um determinado episódio podem variar significativamente.

Questões Diagnósticas Relativas à Cultura

O comportamento suicida varia na frequência e na forma entre as culturas. As diferenças culturais podem se
dever à disponibilidade do método (p. ex., envenenamento com pesticidas em países em desenvolvimento;
ferimentos com arma de fogo no sudoeste dos Estados Unidos) ou à presença de síndromes culturalmente
específicas (p. ex., ataques de nervos, que em alguns grupos de latinos podem levar a comportamentos que se
parecem muito com tentativas de suicídio ou podem facilitar tentativas de suicídio).

Marcadores Diagnósticos

Anormalidades laboratoriais consequentes à tentativa de suicídio são frequentemente evidentes. O


comportamento suicida que leva a perda sanguínea pode ser acompanhado por anemia, hipotensão ou
choque. Overdoses podem ocasionar coma ou obnubilação e anormalidades laboratoriais associadas, tais
como desequilíbrio hidroeletrolítico.

Consequências funcionais

Podem ocorrer condições médicas (p. ex., lacerações ou trauma ósseo, instabilidade cardiopulmonar,
aspiração de vômito e sufocação, insuficiência hepática consequente ao uso de paracetamol) como
consequência do comportamento suicida.

Comorbidade

O comportamento suicida é visto no contexto de uma variedade de transtornos mentais, mais comumente
transtorno bipolar, transtorno depressivo maior, esquizofrenia, transtorno esquizoafetivo, transtornos de
ansiedade (em particular transtorno de pânico associado a conteúdo catastrófico e TEPT associado a
flashbacks), transtornos por uso de substâncias (especialmente transtorno por uso de álcool), transtorno da
personalidade borderline, transtorno da personalidade antissocial, transtornos alimentares e transtornos de
adaptação. Ele é raramente manifestado por indivíduos sem patologia discernível, a menos que seja realizado
em função de uma condição médica dolorosa, por razões políticas ou religiosas com a intenção de chamar a
atenção para o martírio ou por parceiros em um pacto suicida, situações nas quais ambos são excluídos desse
diagnóstico, ou quando os que informam desejam esconder a natureza do comportamento.

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