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VII – Para dar início à segunda onda, Sócrates declara que, ao tratarem
da lei acerca das mulheres, eles foram exitosos, saindo ilesos de uma onda tão
potente como a do mar. A discussão realizada serviu, até então, para confirmar
que os guardiões devem cuidar de tudo em comunhão, apontando para a
possibilidade e a utilidade desse modelo. A onda que virá agora, no entanto,
será muito maior que a anterior, segundo Sócrates. Desse modo, ela já é
apresentada à discussão:
Gláucon argumenta que tal norma será alvo de descrédito, tanto pela
sua possibilidade quanto pela sua utilidade e, em razão disso, Sócrates
salienta que a questão mais controversa virá em relação à possibilidade. O
filósofo ainda manifesta interesse em não responder essas duas frentes da
questão, mas é interpelado pelo interlocutor com a exigência de que trate do
tema por completo. (458) - Ainda assim, ele pede para que a questão da
possibilidade seja prorrogada, para que possa tratar apenas da utilidade neste
primeiro momento. Portanto, supondo tais normas como possíveis, Sócrates
parte para o exame de como elas serão regulamentadas pelos governantes,
tentando provar que, quando postas em prática, serão mais vantajosas à
cidade.
(461) - Aqueles que forem gerados por pessoas fora dessas faixas
etárias serão considerados erros e atentados contra a piedade e a justiça e,
mesmo que ninguém saiba da gestação, nascerão sem passar pelos rituais da
cidade que rogam para que os filhos sejam melhores e mais úteis que seus
pais. “A criança será concebida sob trevas e terrível desregramento”.
A lei será a mesma caso a prole seja fruto de uma relação que não
tenha sido consentida pelas autoridades vigentes. Tais filhos serão
considerados ilegítimos, impuros e bastardos.
XII – Sócrates reafirma que, portanto, o bem maior de uma cidade ocorre
quando ela funciona como um corpo, de forma unitária. Tal comparação tem
como fundamento a análise das reações desse corpo ao prazer e à dor, feita
anteriormente. Concordando entre si, os interlocutores compreendem que a
causa maior do bem da cidade é a comunidade de mulheres e filhos entre os
guardiões. Reiteram também o acordo de que estes não deverão possuir casas
próprias, terras ou quaisquer outros bens, recebendo dos outros a alimentação
como salário pela vigilância e consumindo-a de forma comunitária, se quiserem
ser verdadeiros guardiões.
XIV – Sócrates segue o diálogo propondo que resta apenas tratar sobre
a possibilidade da existência de tal comunidade entre os homens e, assim
sendo, começa a dispor este assunto ao tratar acerca do modo como serão
realizadas as guerras.
Gláucon aponta que uma medida como esta seria algo de altíssimo
risco, uma vez que, na derrota, morreriam todos, inclusive os filhos,
impossibilitando a recomposição da cidade. Em face desse entrave, Sócrates
realiza uma série de perguntas a fim de deliberar quais seriam as medidas
mais prudentes.
Enfim, por serem gregos, não incendiarão nem saquearão as casas dos
outros gregos. Sempre serão comedidos ao acusar quem causa a dissensão,
sem declararem todos como inimigos, mas apenas poucos, aqueles que
realmente são culpados. Em face das razões supracitadas, não terão vontade
de infligir mal algum às cidades, pois considerarão a maioria das pessoas como
amigas, mantendo a dissensão até que os verdadeiros culpados sejam
obrigados a prestar reparação pelos que sofrem. Tais atitudes devem ser
voltadas contra os adversários, mas contra os bárbaros, deverá ser mantido
aquilo que, segundo Gláucon, os gregos mantém entre si em seu tempo
histórico (provavelmente algo que se assemelhe à guerra). Por fim, define-se
que deverá ser estabelecida uma lei que proíba os guardiões de devastar as
terras e incendiar as casas.