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Avaliação 1 

Data: 18 de maio de 2023 

Valor: 40 pontos 

Nome: João Victor Ferreira de Almeida

Questão 1.

Aristóteles não define o que entende por “comunidade”, mas dá exemplos. A


primeira comunidade analisada por Aristóteles é a família. Homem e mulher carecem
do outro para a procriação, assim como animais e plantas. Também senhor e escravo
têm necessidade natural do outro, para sua própria segurança, pois o senhor tem a
capacidade de planejamento e previdência, enquanto o escravo é dotado de força física.
As comunidades de homem e mulher, senhor e escravo, são as comunidades que
constituem a família. Ela é a comunidade completa mais simples, pois ele é necessária
e suficiente para a satisfação das necessidades mais básicas, as quotidianas, de
procriação, trabalho e segurança.

O segundo tipo de comunidade é a aldeia, que é uma comunidade de famílias


sob um domínio de um rei. De certa forma, ela é uma extensão da família, em que o rei
tem papel análogo ao do homem na família. A cidade, por fim, é a última comunidade,
constituída por uma comunidade de aldeias, que visam, não somente a preservação e
reprodução da vida, mas a vida boa. Embora o todo, em certo sentido tenha prioridade
sobre as partes, pois o homem vive em comunidade com outro, não por acidente, mas
por necessidade natural, o fim da comunidade emerge do fim e da necessidade dos
indivíduos, embora não se identifique com a mera somatória de seus fins.

Da vida em comunidade segue-se um bem, que não tem sentido para o


indivíduo, considerado atomisticamente, o da justiça. A justiça é entendida aqui, não
como igualdade, mas como dar a cada um aquilo lhe é devido. A família, por exemplo,
comunidade mais simples, é justo que o homem domine sobre as crianças e as
mulheres e que o senhor domine o escravo, porque é natural que o façam. Deve-se
distinguir também a justiça absoluta, por exemplo, a justiça natural de o senhor
comandar seu escravo, da justiça específica variante conforme as variações dos
regimes políticos. Por exemplo, numa monarquia é justo que o rei comande sobre seus
súditos.

Mas a justiça, embora necessária, não é suficiente para a vida boa. A vida boa
da comunidade consiste na realização do fim objetivo do homem, isto é seu bem, que é
a vida virtuosa. A cidade é o local essencial onde os homens desenvolvem suas
capacidades, e podem viver uma vida virtuosa. Sendo a virtude entendida como
excelência, não propriamente o que entendemos a virtude moral. A cidade, portanto,
tem por fim que os homens sejam excelentes, floresçam.
A Política aristotélica levanta muitas questões relevantes para a filosofia
política e áreas correlatas, além de exprimir significativamente o seu tempo e espaço. A
muitas pessoas hoje parecerá claro que família aristotélica, bem como as duas
comunidades que lhe constituem, senhor e escravo e mulher e homem, não são
naturais, ou tão naturais quanto ele supunha. Tampouco a superioridade grega sobre os
bárbaros. Sua apreciação negativa da forma de organização dos “bárbaros” é uma
expressão típica de um sentimento de estranheza e discriminação do outro que não nos
serve de exemplo. Que a cidade seja a comunidade máxima, é claro, é também reflexo
de seu tempo e espaço. Um contemporâneo ingênuo poderia pensar a nação como
ocupando o lugar de comunidade natural que Aristóteles confere à cidade. Nesses
aspectos Aristóteles foi homem de seu tempo.

A afirmação da prioridade da comunidade sobre o indivíduo, no entanto,


continua ainda hoje tema de discussão, e a posição holista de Aristóteles continua
influente. A muitos parece, ainda hoje, que o todo, no caso do social, é mais do que a
somatória de suas partes é, em algum sentido, anterior às suas partes. A afirmação da
natureza intrinsecamente, e não acidentalmente social, do humano, envelheceu muito
bem. O tema do “florescimento” (termo anacrônico) humano como finalidade máxima
da comunidade, e talvez da própria existência humana, também continua atualíssimo.

Questão 2.

No capítulo VI d´ O Príncipe Maquiavel explica que os principados podem ser adquiridos por
virtù ou fortuna. Os príncipes que adquirem por virtù enconrraram dificuldades para para
conseguir os principados, mas facilidade para conserva-los. A exemplo de muitas outras
matérias tratadas por ele, ele recorre antes a exemplos que a argumentos teóricos para apoiar
sua tese; e seus exemplos paradigmáticos de homens que conseguiram seu principados por virtù
são Moisés, Ciro, Rômulo e Teseu. Estes contaram com a sorte somente o mínimo para que
tivessem a oportunidade de ser príncipes, mas foi sua virtù o que foi decisivo. A principal
dificuldade que esses príncipes enfrentam é a de estabelecer sua lei, e não poderiam fazê-lo se
não contarem com a segurança das armas. Mas tão logo tenham conseguido se estabelecer,
podem gozar de certa tranquilidade em relação à situação doméstica, tendo, claro, de sempre
lidar com a possibilidade de assédio estrangeiro. Isso deve-se ao fato de o povo, passado o
tempo de turbulência após a imposição das novas leis, passa a respeitar a príncipe virtuoso por
causa da popular construída anteriormente ao início do principado. Essa base é difícil conseguir,
e pode levar muito tempo, mas conquistada, é de difícil reversão. Aqui parece implícita sua
máxima de que o apoio no povo é mais seguro que o apoio dos poderosos.

A comparação com o capítulo VI torna mais inteligível a afirmação do capítulo VII. Ao


contrário do príncipe que conquistou seu reino por virtú, aquele que a adquiriu por fortuna ou
pela simples força das armas, a adquiriu facilmente, mas será difícil mantê-lo se não tiver a
virtù necessária. Esses príncipes não tem a base popular do príncipe virtuoso, terá que lutar com
muito mais dificuldades para conservar seu principado.

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