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Ética e Política na Filosofia Moderna benevolência, eles se doarão inteiros, lhe oferecerão o

próprio sangue, os bens, a vida e os filhos, mas só nos


períodos de bonança, como se disse mais acima;
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entretanto, quando surgirem as dificuldades, eles
Nicolau Maquiavel: Ética e Política passarão à revolta, e o príncipe que confiar
inteiramente na palavra deles se arruinará ao ver-se
despreparado para os reveses. Pois as amizades que
se conquistam a pagamento, e não por grandeza e
nobreza de espírito, são merecidas, mas não se podem
possuir nem gastar em tempos adversos; de resto, os
homens têm menos escrúpulos em ofender alguém que
se faça amar a outro que se faça temer: porque o amor
é mantido por um vínculo de reconhecimento, mas,
Defende o estudo da política como campo autônomo, como os homens são maus, se aproveitam da primeira
não condicionado por outros campo de estudos; ocasião para rompêlo em benefício próprio, ao passo
que o temor é mantido pelo medo da punição, o qual
Realismo político: é necessário trabalhar com as coisas
não esmorece nunca.
como elas realmente são, e não como elas “deveriam
ser”;
Há uma visão pessimista do homem, que para Maquiavel, no livro O Príncipe2
Maquiavel tende a ser mau - assim, o político deve
levar isso em consideração ao tomar suas ações; 1
Fonte:
Embora o ideal fosse ser temido e amado, é muito https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Portrait_of_Niccol%C3%B2_Machiavelli_
difícil conciliar ambos - dessa maneira, a escolha mais
funcional para o estado é ser temido;
2
Maquiavel, N. O Príncipe. Tradução de Maurício Santana Dias.
A virtude é a habilidade natural, e a virtude política do Companhia das Letras, 2010.
príncipe é um complexo de força, astúcia e capacidade
de dominar a situação; a essa virtude opõe-se a sorte,
e metade das coisas humanas dependem da sorte;
O ideal político de Maquiavel é a volta aos princípios da AULA 2
república romana; o príncipe por ele descrito era
considerado uma necessidade do momento histórico. Thomas Hobbes: Ética e Política

Nas palavras do autor,

Daí nasce uma controvérsia, qual seja: se é melhor ser


amado ou temido. Pode-se responder que todos
gostariam de ser ambas as coisas; porém, como é A condição natural dos homens é de guerra de todos
difícil conciliá-las, é bem mais seguro ser temido que contra todos: os homens buscam utilizar o necessário
amado, caso venha a faltar uma das duas. Porque, de para sua sobrevivência e assim dominam uns sobre os
modo geral, pode-se dizer que os homens são ingratos, outros. Dessa maneira, o homem é o lobo do homem;
volúveis, fingidos e dissimulados, avessos ao perigo,
Para escapar dessa situação, onde ele está em perigo
ávidos de ganhos; assim, enquanto o príncipe agir com
de vida, ele constitui a sociedade;

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As leis naturais não bastam para constituir essa
sociedade: é necessário um poder que obrigue os
homens a respeitá-las. Assim, Hobbes defende um
governo absolutista, simbolizado pela figura do Leviatã.

Nas palavras do autor,


O homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe: o
homem selvagem tinha a calma das paixões e
Com isto se torna manifesto que, durante o tempo em ignoravam os vícios, em um estágio anterior ao bem e
que os homens vivem sem um poder comum capaz de ao mal. A sociedade nasce com o surgimento da
os manter a todos em respeito, eles se encontram propriedade e das hostilidades que vinham disso.
naquela condição a que se chama guerra; e uma A cultura piora o homem, favorecendo os vícios e
guerra que é de todos os homens contra todos os conflitos. Para corrigir isso, seria necessário uma
homens. Pois a guerra não consiste apenas na batalha, ruptura radical, reconstruindo a sociedade, apoiando-se
ou no ato de lutar, mas naquele lapso de tempo na bondade humana e renaturalizando o homem.
durante o qual a vontade de travar batalha é
suficientemente conhecida. Portanto a noção de tempo O contrato social tem como base a vontade geral que
deve ser levada em conta quanto à natureza da guerra, deseja o bem comum. É o fruto de um pacto entre
do mesmo modo que quanto à natureza do clima. iguais, onde o indivíduo abandona seus direitos
Porque tal como a natureza do mau tempo não individuais, dando origem a um corpo moral e coletivo.
consiste em dois ou três chuviscos, mas numa
tendência para chover que dura vários dias seguidos,
assim também a natureza da guerra não consiste na
Nas palavras do autor,
luta real, mas na conhecida disposição para tal,
durante todo o tempo em que não há garantia do
contrário. Todo o tempo restante é de paz.
O homem nasceu livre, e em toda parte se encontra
sob ferros. De tal modo acredita-se o senhor dos
outros, que não deixa de ser mais escravo que eles.
Hobbes, no livro Leviatã4
Como é feita essa mudança? Ignoro-o. Que é que a
torna legítima? Creio poder resolver esta questão. (...)
3
Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Thomas_Hobbes_(portrait).jpg
A passagem do estado natural ao estado civil produziu
no homem uma mudança considerável, substituindo
4
Hobbes, T. Leviatã. Matéria, forma e poder de um Estado em sua conduta a justiça ao instinto, e imprimindo às
eclesiástico e civil. Tradução de João Paulo Monteiro e Maria suas ações a moralidade que anteriormente lhes
Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Abril Cultural, 1983 faltava. Foi somente então que a voz do dever,
sucedendo ao impulso físico, e o direito ao apetite,
fizeram com que o homem, que até esse momento só
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tinha olhado para si mesmo, se visse forçado a agir por
Jean-Jacques Rousseau: Ética e Política outros princípios e consultar a razão antes de ouvir
seus pendores. Embora se prive, nesse estado, de
diversas vantagens recebidas da Natureza, ganha
outras tão grandes, suas faculdades se exercitam e
desenvolvem, suas idéias se estendem, seus
sentimentos se enobrecem, toda a sua alma se eleva a

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tal ponto, que, se os abusos desta nova condição, não
o degradassem com freqüência a uma condição inferior
àquela de que saiu, deveria abençoar incessantemente
o ditoso momento em que foi dali desarraigado para
sempre, o qual transformou um animal estúpido e
limitado num ser inteligente, num homem. Reduzamos
todo este balanço a termos fáceis de comparar. O que
o homem perde pelo contrato social é a liberdade
natural e um direito ilimitado a tudo que o tenta e pode Utilizou os critérios do método experimental para o
alcançar; o que ganha é a liberdade civil e a estudo da sociedade, sendo considerado um dos pais
propriedade de tudo o que possui. Para que não haja da sociologia;
engano em suas compensações, é necessário
distinguir a liberdade natural, limitada pelas forças do Busca mostrar o conjunto de relações (morais,
indivíduo, da liberdade civil que é limitada pela religiosas, econômicas, geográficas e etc) que
liberdade geral, e a posse, que não é senão o efeito da caracterizam o conjunto de leis, regulando os
força ou do direito do primeiro ocupante, da comportamentos e relações humanas nas diversas
propriedade, que só pode ser baseada num título sociedades. Isso cria uma espécie de espírito geral,
positivo. Poder-se-ia, em prosseguimento do onde o espírito das leis é o conjunto daquelas leis que
precedente, acrescentar à aquisição do estado civil a regulam as ações humanas nas várias sociedades.
liberdade moral, a única que torna o homem A lei é a razão humana, que governa todos os povos
verdadeiramente senhor de si mesmo, posto que o da terra; as leis políticas são os casos particulares nos
impulso apenas do apetite constitui a escravidão, e a quais ela se aplica. As leis e sistemas políticos são
obediência à lei a si mesmo prescrita é a liberdade. diferentes de acordo com cada povo.
Mas já falei demasiadamente deste assunto, e o
Em um estado, a liberdade é fazer tudo aquilo que é
sentido filosófico do termo liberdade não constitui aqui
permitido pelas leis - assim, as leis asseguram a
o meu objetivo.
liberdade para o cidadão.
A liberdade política só é possível quando há certeza da
Rousseau, no livro O Contrato Social6 própria segurança e do cumprimento das leis, o que só
pode ocorrer quando há a divisão dos três poderes do
5
Fonte: Estado: o poder legislativo, executivo e judiciário.
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Frans_Hals_-_Portret_van_Ren%C3%A9_Descartes.jpg

6
Rousseau, J. Do contrato Social. Tradução de Rolando Roque da
Silva. Edição eletrônica, Ed. Ridendo Castigat Mores. Disponível em: Nas palavras do autor,
.

Capítulo III: Que é a liberdade.


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É verdade que nas democracias o povo parece fazer o
Montesquieu: Ética e Política que quer; mas a liberdade política não consiste em se
fazer o que se quer. Em um Estado, isto é, numa
sociedade onde existem leis, a liberdade só pode
consistir em poder fazer o que se deve querer e em
não ser forçado a fazer o que não se tem o direito de
querer.

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Deve-se ter em mente o que é a independência e o que É uma moral deontológica, baseada em princípios.
é a liberdade. A liberdade é o direito de fazer tudo o
A maioridade é a capacidade de servir-se do próprio
que as leis permitem; e se um cidadão pudesse fazer o
entendimento, sem a direção de outro; atingir ou não
que elas proíbem ele já não teriam liberdade, porque
esse estado não é uma questão de capacidade ou não
os outros também teriam esse poder.
de entendimento, mas de coragem de servir-se dele;
Capítulo IV: Continuação do mesmo assunto
Todo homem tem valor absoluto pois é capaz de boa
A democracia e a aristocracia não são Estados livres vontade, de agir de acordo com a razão prática. Assim,
por natureza. A liberdade política só se encontra nos todo homem tem dignidade - e seu valor não é relativo,
governos moderados. Mas ela nem sempre existe nos mas absoluto.
Estados moderados; só existe quando não se abusa do
O imperativo categórico da moral é agir de tal maneira
poder; mas trata-se de uma experiência eterna que
que possamos querer que a máxima de nossa ação se
todo homem que possui poder é levado a dele abusar;
torne uma lei universal: isto é, se todas as pessoas do
ele vai até onde encontra limites. Quem diria! Até a
mundo fizessem essa mesma ação, isso seria
virtude precisa de limites.
benéfico?
Para que não se possa abusar do poder, é preciso que,
O conceito de dever pressupõe uma ação determinada
pela disposição das coisas, o poder limite o poder.
de maneira objetiva pelo imperativo categórico e de
Uma constituição pode ser tal que ninguém seja
maneira subjetiva pela boa vontade de agir de acordo
obrigado a fazer as coisas que a lei não obriga e a não
com a lei moral.
fazer aquelas que a lei permite.

Montesquieu, no livro O Espírito das Leis8


Nas palavras do autor,

7
Fonte:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Charles_Montesquieu.jpg O imperativo categórico é portanto só um único, que é
8
este: Age apenas segundo uma máxima tal que possas
Montesquieu, C. O Espírito das Leis. Tradução de Cristina
ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.
Murachco. São Paulo: Martins Fontes, 2000
(...) A pergunta, pois: — Como é possível um
imperativo categórico? — pode, sem dúvida,
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responder-se na medida em que se pode indicar o
único pressuposto de que depende a sua possibilidade,
Immanuel Kant: Ética e Política quer dizer a ideia da liberdade, e igualmente na medida
em que se pode aperceber a necessidade deste
pressuposto, o que para o uso prático da razão, isto é
para a convicção da validade deste imperativo, e
portanto também da lei moral, é suficiente; mas como
seja possível esse pressuposto mesmo, isso é o que
nunca se deixará jamais aperceber por nenhuma razão
humana. Mas pressupondo a liberdade da vontade de
uma inteligência, a consequência necessária é a
autonomia dessa vontade como a condição formal que
A moral kantiana está baseada na razão, e não em
é a única sob que ela pode ser determinada. Não é
qualquer tradição ou autoridade. Por manter a base
somente muito possível (como a filosofia especulativa
racional, se propõe como uma moral que possa valer
pode mostrar) pressupor esta liberdade da vontade
para todos os seres racionais.
(sem cair em contradição com o princípio da

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necessidade natural na ligação dos fenómenos do
mundo sensível), mas é também necessário, sem outra
condição, para um ser racional que tem consciência da
sua causalidade pela razão, por conseguinte de uma
vontade (distinta dos desejos), admiti-la praticamente,
isto é na ideia, como condição de todas as suas acções
voluntárias.

Kant, no livro Fundamentação da Metafísica dos


Costumes10

9
Fonte:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Kant_gemaelde_3.jpg

10
Kant, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes.
Tradução de Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 2007.

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