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As leis naturais não bastam para constituir essa
sociedade: é necessário um poder que obrigue os
homens a respeitá-las. Assim, Hobbes defende um
governo absolutista, simbolizado pela figura do Leviatã.
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tal ponto, que, se os abusos desta nova condição, não
o degradassem com freqüência a uma condição inferior
àquela de que saiu, deveria abençoar incessantemente
o ditoso momento em que foi dali desarraigado para
sempre, o qual transformou um animal estúpido e
limitado num ser inteligente, num homem. Reduzamos
todo este balanço a termos fáceis de comparar. O que
o homem perde pelo contrato social é a liberdade
natural e um direito ilimitado a tudo que o tenta e pode Utilizou os critérios do método experimental para o
alcançar; o que ganha é a liberdade civil e a estudo da sociedade, sendo considerado um dos pais
propriedade de tudo o que possui. Para que não haja da sociologia;
engano em suas compensações, é necessário
distinguir a liberdade natural, limitada pelas forças do Busca mostrar o conjunto de relações (morais,
indivíduo, da liberdade civil que é limitada pela religiosas, econômicas, geográficas e etc) que
liberdade geral, e a posse, que não é senão o efeito da caracterizam o conjunto de leis, regulando os
força ou do direito do primeiro ocupante, da comportamentos e relações humanas nas diversas
propriedade, que só pode ser baseada num título sociedades. Isso cria uma espécie de espírito geral,
positivo. Poder-se-ia, em prosseguimento do onde o espírito das leis é o conjunto daquelas leis que
precedente, acrescentar à aquisição do estado civil a regulam as ações humanas nas várias sociedades.
liberdade moral, a única que torna o homem A lei é a razão humana, que governa todos os povos
verdadeiramente senhor de si mesmo, posto que o da terra; as leis políticas são os casos particulares nos
impulso apenas do apetite constitui a escravidão, e a quais ela se aplica. As leis e sistemas políticos são
obediência à lei a si mesmo prescrita é a liberdade. diferentes de acordo com cada povo.
Mas já falei demasiadamente deste assunto, e o
Em um estado, a liberdade é fazer tudo aquilo que é
sentido filosófico do termo liberdade não constitui aqui
permitido pelas leis - assim, as leis asseguram a
o meu objetivo.
liberdade para o cidadão.
A liberdade política só é possível quando há certeza da
Rousseau, no livro O Contrato Social6 própria segurança e do cumprimento das leis, o que só
pode ocorrer quando há a divisão dos três poderes do
5
Fonte: Estado: o poder legislativo, executivo e judiciário.
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Frans_Hals_-_Portret_van_Ren%C3%A9_Descartes.jpg
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Rousseau, J. Do contrato Social. Tradução de Rolando Roque da
Silva. Edição eletrônica, Ed. Ridendo Castigat Mores. Disponível em: Nas palavras do autor,
.
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Deve-se ter em mente o que é a independência e o que É uma moral deontológica, baseada em princípios.
é a liberdade. A liberdade é o direito de fazer tudo o
A maioridade é a capacidade de servir-se do próprio
que as leis permitem; e se um cidadão pudesse fazer o
entendimento, sem a direção de outro; atingir ou não
que elas proíbem ele já não teriam liberdade, porque
esse estado não é uma questão de capacidade ou não
os outros também teriam esse poder.
de entendimento, mas de coragem de servir-se dele;
Capítulo IV: Continuação do mesmo assunto
Todo homem tem valor absoluto pois é capaz de boa
A democracia e a aristocracia não são Estados livres vontade, de agir de acordo com a razão prática. Assim,
por natureza. A liberdade política só se encontra nos todo homem tem dignidade - e seu valor não é relativo,
governos moderados. Mas ela nem sempre existe nos mas absoluto.
Estados moderados; só existe quando não se abusa do
O imperativo categórico da moral é agir de tal maneira
poder; mas trata-se de uma experiência eterna que
que possamos querer que a máxima de nossa ação se
todo homem que possui poder é levado a dele abusar;
torne uma lei universal: isto é, se todas as pessoas do
ele vai até onde encontra limites. Quem diria! Até a
mundo fizessem essa mesma ação, isso seria
virtude precisa de limites.
benéfico?
Para que não se possa abusar do poder, é preciso que,
O conceito de dever pressupõe uma ação determinada
pela disposição das coisas, o poder limite o poder.
de maneira objetiva pelo imperativo categórico e de
Uma constituição pode ser tal que ninguém seja
maneira subjetiva pela boa vontade de agir de acordo
obrigado a fazer as coisas que a lei não obriga e a não
com a lei moral.
fazer aquelas que a lei permite.
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Fonte:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Charles_Montesquieu.jpg O imperativo categórico é portanto só um único, que é
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este: Age apenas segundo uma máxima tal que possas
Montesquieu, C. O Espírito das Leis. Tradução de Cristina
ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.
Murachco. São Paulo: Martins Fontes, 2000
(...) A pergunta, pois: — Como é possível um
imperativo categórico? — pode, sem dúvida,
AULA 5
responder-se na medida em que se pode indicar o
único pressuposto de que depende a sua possibilidade,
Immanuel Kant: Ética e Política quer dizer a ideia da liberdade, e igualmente na medida
em que se pode aperceber a necessidade deste
pressuposto, o que para o uso prático da razão, isto é
para a convicção da validade deste imperativo, e
portanto também da lei moral, é suficiente; mas como
seja possível esse pressuposto mesmo, isso é o que
nunca se deixará jamais aperceber por nenhuma razão
humana. Mas pressupondo a liberdade da vontade de
uma inteligência, a consequência necessária é a
autonomia dessa vontade como a condição formal que
A moral kantiana está baseada na razão, e não em
é a única sob que ela pode ser determinada. Não é
qualquer tradição ou autoridade. Por manter a base
somente muito possível (como a filosofia especulativa
racional, se propõe como uma moral que possa valer
pode mostrar) pressupor esta liberdade da vontade
para todos os seres racionais.
(sem cair em contradição com o princípio da
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necessidade natural na ligação dos fenómenos do
mundo sensível), mas é também necessário, sem outra
condição, para um ser racional que tem consciência da
sua causalidade pela razão, por conseguinte de uma
vontade (distinta dos desejos), admiti-la praticamente,
isto é na ideia, como condição de todas as suas acções
voluntárias.
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Fonte:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Kant_gemaelde_3.jpg
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Kant, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes.
Tradução de Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 2007.
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