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ANÁLISE DA ATIVIDADE DE FIXAÇÃO DAS HASTES DE ATERRAMENTO E

DESONVOLVIMENTO DE UM DISPOSITIVO PARA MELHORAR AS CONDIÇÕES DE


TRABALHO

Humberto Júnior
Técnico de Segurança do Trabalho
R&R Engenharia
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INTRODUÇÃO
O trabalho humano é lugar onde se opera uma dialética, portanto, um uso problemático de
si mesmo e pode se definir talvez do seguinte modo: num primeiro registro, ele diz respeito aos
antecedentes normatizando e antecipando a atividade (...) num segundo registro, ele comporta a
insubstituível gestão das dimensões singulares da situação que marca na atividade cotidiana de
trabalho os elementos variáveis, históricos de toda situação, sua não repetição integral
(SCHWARTS, 1992). Portanto, em um viés mais objetivo, o trabalho pode ser entendido como a
junção entre o que está prescrito de caráter normativo, e as condições e processos estabelecidos na
realidade do ambiente. Deve-se considerar como seu componente as variabilidades que podem
acontecer no meio em questão e a renormatização por parte do trabalhador para cumprir com êxito
o que é pré-estabelecido pela gestão.
Quando o trabalhador burla constantemente o que está prescrito para realizar a atividade
estabelecida, podemos perceber o distanciamento do contexto real. Para compreender o trabalho
de forma eficiente e transformar o ambiente foi realizada a Análise Ergonômica do Trabalho (AET),
para entender os possíveis distanciamentos do trabalho prescrito para o trabalho real e as suas
possíveis variabilidades que modificam o modo de aplicação dos processos pelos colaboradores,
desenvolvidos através do tempo de experiência com a atividade exercida e aspectos não abordados
pelo normativo.
No cenário industrial brasileiro a indústria da construção civil é uma das mais importantes,
tanto pela geração de empregos como pela quantidade de recursos financeiros que movimenta.
Com o avanço da tecnologia veio a necessidade de modernizar os postos de trabalho, visando
contribuir para esse fim este trabalho tem como objetivo de analisar a atividade de fixação das
hastes de aterramento e propor a criação de um dispositivo para melhorar as condições de trabalho,
desses profissionais.
A atividade consiste na fixação de uma haste de cobre de 3 metros de comprimento, de
forma que a ponta da haste fique 60 cm, abaixo do nível do solo. Essa haste é presa por conectores
ao cabo de aterramento e depois é aterrada. A atividade basicamente se torna uma escavação de 60
cm de profundidade, podendo ser feito manual ou mecanicamente (depende do acesso ao terreno)
e a fixação da haste. Então essa haste fica a 2,4m de altura do solo, o trabalhador sobe em cima da
escada a aproximadamente 1,6m do chão e bate a marreta por cima da haste, empurrando-a para
baixo, até chegar no nível do solo.
Por conta disso, a necessidade deste estudo, trabalho em cima da escada e utilização de
uma marreta para fixar a haste no solo, envolvendo o risco de queda de nível diferente, pensamento
dos dedos e danificação da haste.

REFERENCIAL TEORICO
A Análise Ergonômica do Trabalho foi utilizada nesse trabalho com o intuito de estabelecer
o trabalho com uma composição de três elementos: a própria atividade de trabalho, seus
condicionantes e seus resultados. Para o estudo do campo ser realizado, a AET deve partir de 3
fases para o estudo de campo, que são: conhecimento do funcionamento da empresa (instrução da
demanda ergonômica) e elaboração do pré-diagnostico; observações da atividade de trabalho;
elaboração do diagnóstico e do plano de implementação.
Esta AET se baseia nos ensinamentos do livro Compreender o trabalho para transformá-lo
de Guérin, onde a primeira etapa do estudo é o surgimento da demanda. Posterior a isso vem a
exploração do funcionamento da empresa, características da população analisada, da produção e
análise de indicadores. A terceira etapa é análise do processo técnico e das tarefas, a quarta etapa
são as observações globais da atividade, definição de um plano de observação, observação
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sistemática, tratamento dos dados e validação. Aplicado estas etapas o resultado é o diagnostico
local sobre a situação analisada e o diagnostico geral sobre o funcionamento da empresa.

(Figura 4) Fonte: Guérin, Compreender o trabalho para transformá-lo.

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MATERIAIS E MÉTODOS
A demanda surgiu com base nos riscos que o trabalhador que fixa a haste está exposto, que é
trabalho em altura e bater marreta em cima da escada, e na necessidade de melhorar o tempo de
fixação das hastes.
Foi feita a análise documental da empresa, analisando contrato de trabalho, quantas hastes tem que
ser fixadas, tempo de obra e procedimentos das atividades, PCMSO dos colaboradores e PCMAT.
Observação da atividade, foi calculado um tempo médio para fixação das hastes, análise do risco
que envolve a atividade, mostrando a necessidade de melhoria da forma como era executada essa
atividade aumentando a produção de quantas hastes são fixadas por dia e diminuindo a exposição
ao risco do trabalhador.
Posterior a estas etapas, foi feita a interação dos trabalhadores envolvidos eletricista e
ajudante procurando soluções para essa atividade. Foram elaboradas perguntas pela equipe de
segurança para instigar o debate, como: “qual o risco que tem para fixar uma haste?”, “qual a
melhor maneira de executar a fixação?”, “a forma como você executa a atividade hoje, é
satisfatória?”. E na verbalização do eletricista, que é o trabalhador experiente e vivido na função
analisada, veio a ideia de como criar o dispositivo, onde o ponto chave da questão era o tipo de
movimento realizado, o braço do colaborador tinha que passar de 2,4m de altura para bater a haste,
e para ele tinha que ser aplicado um tipo diferente de força, um movimento parecido com o da
alavanca, que a pegada é no meio.

RESULTADOS
E o resultado foi a confecção do dispositivo com base na ideia do eletricista e aplicação do soldador,
que utilizou dois tubos de ferro de comprimentos de 1,5m e 0,78m e diâmetro de 30mm, e soldou
uma estrutura metálica solida de 0,30m entre os dois canos.

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Foto do dispositivo de segurança criado

(Figura 2) Fonte: Próprio autor.

Foto do dispositivo de segurança cobrindo a haste.

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(Figura 3) Fonte: Próprio autor.

Foto da haste em posição para ser fixada no solo

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(Figura 4) Fonte: Próprio autor.
Então foi criado um Plano de implementação para a ferramenta e validar a sua eficácia, avaliando
o tempo de fixação e se vai ser uma atividade mais segura. E para esse teste teve a presença dos
encarregados para avaliar a funcionalidade da ferramenta, e da equipe de segurança para avaliar os
fatores de risco dessa atividade.

DISCUSSÃO
Importância de trazer o conhecimento prático do trabalhador para o contexto do trabalho, para
criação de dispositivos de segurança, uma vez que eles que tem a vivência da atividade, o que eles
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precisam é da motivação certa para querer melhorar suas condições de trabalho e não aceitar que o
risco é inerente da atividade. Um simples debate foi capaz de idealizar um dispositivo de segurança,
melhorando e muito o tempo de fixação das hastes de aterramento, diminuindo consideravelmente
o risco ao qual eles estão expostos.
A análise do tempo de fixação das hastes, não leva em conta a escavação de 60cm de largura x 60
cm de comprimento x 60 cm de profundidade, pois está escavação depende do tipo de escavação a
ser feita, do solo e do local.
Então foi analisado o tempo de fixação das hastes, que antes era de aproximadamente 18 min e
passou a ser de aproximadamente 14 min utilizando o dispositivo criado, percebemos uma melhora
significativa no tempo, que foi o primeiro teste para ela ser aprovada. O segundo teste, foi feito
pela equipe de segurança, que analisou os riscos da atividade, a maneira como era fixada as haste
antes, era o trabalhador subir em cima da escada e bater a marreta até ela aprofundar 2,4m do chão,
logo tinha o risco do trabalhador cair da escada, a instabilidade do movimento e do impacto da
marreta com a haste, e o risco dele prensar os dedos utilizando a marreta, e o que foi percebido
com a mudança da utilização do dispositivo foram os riscos perdendo a sua severidade. Utilizar a
escada e marreta, já não era mais necessário, risco de esmagamento e queda portanto não condiziam
com a atividade mais. Teve sim a percepção de um esforço postural maior utilizando a nova
ferramenta, mas que foi descrito pelo operador do dispositivo como uma atividade menos
desgastante, do que se fosse feito usando a marreta.

CONCLUSÃO
Concluímos com esse trabalho, a eficácia do dispositivo de segurança criado, que melhorou tanto
a qualidade da execução do trabalho, como o tempo de fixação das hastes de aterramento no solo.
Foi um dispositivo criado sem custos para a empresa, que já contava com os funcionários utilizados
em seu quadro de funcionários, reaproveitando materiais que tinha a sua disposição e que pela
percepção do trabalhador agora aumentou a produção e diminuiu a chance de um colaborador se
acidentar fixando as hastes de aterramento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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GUÉRIN, F. et al. Compreender o trabalho para transformá-lo. A prática da ergonomia. São
Paulo: Edgard Blucher, 2001.

SCHWARTZ, Y. (1992). Sur le concept de travail. In Actes du Colloque Interdisciplinaire "Travail:


Recherche et Prospective "- Thème Transversal no 1 - Concept de Travail. CNRS, PIRTTEM, ENS
de Lyon. 101-110.

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