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ERGONOMIA

Proposta de Resolução
Autoria: Renan Primo

Leitura crítica: Joubert Rodrigues dos Santos Júnior


Proposta de Resolução

Primeiramente, é preciso que você, engenheiro de segurança, tenha em mente todas as


etapas da Análise Ergonômica do Trabalho (AET), haja vista que elas serão muito úteis em
qualquer ambiente de trabalho, principalmente para aqueles que possuem necessidades
claras de melhorias. Vale ressaltar que, você como engenheiro de segurança do trabalho,
poderia se utilizar da AET de forma canônica, ou seja, aplicar todo o método, do início ao
fim, mas isso é um processo de longo prazo que necessita de aprovações hierárquicas e
uma precisão metodológica própria do método.
Portanto, para um contexto real de trabalho, é muito mais coerente utilizar os conceitos da
AET para um direcionamento da análise, a fim de compreender de forma mais
aprofundada o trabalho e conseguir transformá-lo da forma mais efetiva possível.
Você precisará de uma autorização da empresa para o acompanhamento dessa tarefa em
específico. Feito isso, é preciso agora ganhar a confiança dos eletricistas, por meio do
diálogo claro sobre as implicações dessa análise, que deverão ser única e exclusivamente
para a melhoria do trabalho deles e não para concessões ou punições.
Nessa situação hipotética, você já começou a se aproximar de maneira informal dos
eletricistas e conseguiu extrair informações importantíssimas, que podem se enquadrar na
primeira etapa da AET, que é a análise da demanda. Pelas suas observações e pelo que
os eletricistas indicaram, a demanda é uma prevalência de lesões por esforços repetitivos
derivadas da atividade de poda de árvores.
Com essa primeira informação, o próximo passo é a coleta de dados sobre a empresa, que
podem se dividir em informações sobre a população (idade, gênero, formação, experiência,
tempo de casa etc.), perfil epidemiológico (estado de saúde, queixas, afastamentos etc.),
dimensão organizacional (exigências de qualidade, exigências legais, políticas de gestão
etc.), localização geográfica, intempéries climáticas e ambientas etc.
Após esse levantamento, já se tem em mãos informações importantes dos eletricistas e,
cabe a você, engenheiro, observar em situação de trabalho, as tarefas deles. Nesse
processo, novamente, a AET direciona algumas estratégias para compreensão do
trabalho, por meio das fases de observações globais e sistemáticas da atividade. A
primeira delas é pelas perguntas mais gerais aos eletricistas, em três frentes:
Natureza da tarefa:
▹ Como é concebida a tarefa no processo de produção?
▹ Esse processo é dividido em pequenas etapas e cada tarefa é restrita?
▹ Está prevista a cooperação com os colegas ou a ação deve ser desenvolvida de
maneira individual?
▹ A tarefa exige, também, o preenchimento de relatórios, o controle de estoques e a
programação no computador?
▹ As normas e procedimentos são restritivos? Há uma margem para mudanças?
▹ Trata-se de controlar um processo automático ou de uma tarefa na qual há grande
manipulação de peças, produtos e ferramentas?
Mecanismos de controle:
▹ Como é feito o controle da produção sob supervisão direta? Por meios eletrônicos?
▹ O controle é exercido pelos próprios trabalhadores?
▹ Faz parte da tarefa controlar os estoques e a qualidade?
Constrangimentos temporais
▹ O tempo previsto é suficiente para a execução das tarefas?
▹ O trabalhador necessita fazer horas extras para atingir as metas de produtividade?
▹ Os horários e turnos são organizados de maneira a permitir o repouso e uma vida
familiar e social condignos?
▹ Há tempo suficiente para se recuperar do cansaço ou constrangimento?
▹ Está previsto uma margem para que se adotem comportamentos prudentes em
situações de risco?
▹ Há tempo para recuperar incidentes ou alguma operação malsucedida, para mudar
o modo operatório?
▹ O ritmo de produção pode ser alterado?
Além disso, para uma maior compreensão, pode-se utilizar de artifícios como a gravação
de vídeos, realização de registros fotográficos, anotações, gravações de entrevistas, além
de algumas observações que a própria AET propõe, como:
 Observações cursivas: consistem em observar a atividade continuamente, durante um
intervalo de tempo estabelecido. Objetivos: a) estabelecer um curso da ação ou atividade;
b) identificar a distribuição da atividade na jornada; c) quantificar ações e operações.

 Observações participativas: consistem em observar o sujeito realizando a tarefa, fazendo


perguntas sobre “o quê”, “como”, “para quê”, “em quais condições”. Objetivos: a)
compreender os determinantes da atividade; b) redefinir a demanda; c) redefinir o percurso
da investigação; d) qualificar os dados quantitativos.

 Observações não participativas: consistem em observar criteriosamente uma atividade em


função das variáveis definidas a priori, sem a intervenção do pesquisador. Objetivos: a)
reconstruir a atividade do sujeito; b) estabelecer critérios quantitativos; c) formular questões
para investigação; d) obter informações precisas em atividades de curta duração ou risco
elevado.

 Pensar em voz alta (think aloud): consiste em solicitar ao observado que realize suas
tarefas verbalizando seus pensamentos e ações. Objetivos: a) verificar as estratégias
operatórias; b) verificar as representações para ação; c) clarificar os determinantes da ação;
d) qualificar os dados quantitativos.

Por fim, será necessária uma análise de todo esse conteúdo coletado, a fim de definir um
diagnóstico e uma intervenção. No caso desses eletricistas de Linha Viva, os problemas
principais estão na frequência da atividade e na própria ferramenta de trabalho. A
frequência poderá ser contornada com o aumento do número de eletricistas ou a redução
do número de podas por semana. Já a segunda intervenção precisará de uma intervenção
na ferramenta, procurar no mercado ferramentas de poda mais leves, porém que
mantenham a mesma potência de giro, ou ferramentas que não sejam hidráulicas (por
exemplo, elétricas), que possibilitem melhor movimentação dos eletricistas que não terão
os cabos hidráulicos para atrapalhar. Porém, todas essas intervenções na ferramenta não
devem trazer outros problemas, por exemplo, trazer uma ferramenta elétrica, porém mais
pesada, ou uma ferramenta mais leve, porém com uma potência inferior. Se a ferramenta
perder em potência, o eletricista terá que fazer mais força ao cortar, o que também é
prejudicial, inclusive para sua postura.
Bons estudos!

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