Você está na página 1de 13

Permanências e Ressurgimentos II

Por Samantha Ribeiro de Oliveira


Junho / 2017

“O cinema teria que ser escrito em uma folha em branco


pegando fogo para poder registrar esse momento de captação
do pensamento de um filme, durante sua realização” 1

Ao final do filme A MULHER DE TODOS (1968/69)2, protagonizado pela atriz


Helena Ignez e dirigido por Rogério Sganzerla, a personagem Ângela Carne e Osso é
amarrada por seu marido, Doutor Plirtz, performado pelo então jovem ator Jô Soares,
junto com Armando, um de seus amantes e funcionário de Plirtz, num imenso balão
negro que desaparece no ar, enquanto ouve-se o marido dizer:

Mas o que ela pensa que é? O que ela quer? Afinal de contas,
existe uma ordem, ninguém pode fazer o que quer assim,
sem mais nem menos. Ela era muito perigosa. O Armando
vivia dizendo que queria subir, que queria ter o mundo aos
seus pés… Agora, eu sou um homem de ideias, correto? Eu
sou um bitolado: antigamente, eu queria dinheiro, mulheres;
hoje os balões tripulados me dão tudo. Eu não calculo
nunca, mas quando faço uma besteira, eu vou até o FIM
[grifos meus].

1 mensagem lida por Helena Ignez em agosto de 2003, no Festival de Cinema de Gramado por
ocasião da exibição do último filme de Rogério Sganzerla, O signo do Caos, meses antes de sua morte
em janeiro de 2004. In. CANUTO, R., org., Encontros / Rogério Sganzerla, Azougue Editorial, 2007, p.
205 – Cronologia.

2 O trecho citado está a partir dos 01:21':20” no link https://www.youtube.com/watch?


v=u3fCgzyMIeo

Imediatamente antes de sumir nas alturas, já amarrada ao balão e de cabeça para


baixo, Ângela afirmava:

Porque eu sou simplesmente uma mulher do século XXI. Sou


um demônio antiocidental. Cheguei antes. Por isso sou
errada assim. Um demônio antiocidental. Uma RATA! [grifos
meus]

Seu desaparecimento deixa absolutamente perplexos os espectadores que, até então,


haviam acompanhado a história de uma mulher andrógina e libertária, e a veem
literalmente sumir do mapa, de repente, ao final do filme, como se vítima de uma
punição pela sua anomalia insurgente.

No entanto, esse devir mulher 3 sobrevive, reaparece e re-desaparece,


intermitentemente, em diferentes tempos históricos, no cinema brasileiro e no
imaginário simbólico de construção das diversas representações de feminino/
masculino na sociedade e na arte brasileiras.

Seu ressurgimento, neste trabalho, deve-se ao formidável diálogo possível entre a


superantropofágica performance corporal, estética e política de Helena Ignez / Ângela
Carne e Osso, do final dos anos 60, e algumas indagações sobre as representações de
masculino / feminino que habitam o espectro – muito menos binário hoje do que antes
– das múltiplas identidades sexuais que buscam conquistar e afirmar seu espaço no
Brasil do século XXI, passados mais de 45 anos do lançamento de A MULHER DE
TODOS nos cinemas.

Tendo como inspiração um certo tipo de montagem, (a)temporal e imagética,


apreendida de Aby Warburg4, que rejeita o tempo histórico cronológico e segue, por

3 DELEUZE, G. e GUATTARI, F., Mil Platôs, vol.4, Editora 34, 1997

4 DIDI-HUBERMAN, G., A Imagem Sobrevivente – História da Arte e tempo dos fantasmas


segundo Aby Warburg, Editora Contraponto, 2013


impulso, em direção à diferença, à bifurcação, deslocando a posição do sujeito para


deslocar, também a posição do objeto – considerando-o como um conglomerado, um
rizoma de relações – em busca de base diferencial e comparativa para estabelecer uma
análise das sobrevivências, das manifestações sintomais e fantasmais que designam
realidades espectrais e de intrusão, direcionamos um olhar anacrônico sobre a
personagem Ângela Carne e Osso e suas possíveis derivações contemporâneas,
através de livre associação entre esta representação específica de feminino/masculino
e outras com as quais seja possível estabelecer semelhanças deslocadas,
pseudomorfismos que as caracterizariam como representações ou performances de
artistas em diálogo permanente com múltiplas temporalidades.

Pretendemos aqui um passeio que remeta a memória involuntária benjaminiana /


proustiana, à qual se refere George Didi-Huberman como um

“mais-que-presente de um ato reminiscente: um choque, um


rasgo do véu, uma irrupção ou aparição do tempo”5.

Helena Ignez, atualmente diretora e atriz profícua, ao inaugurar no final dos


insurrectos anos 60, um novo paradigma de performance do corpo feminino no
cinema brasileiro, aponta para dilemas da representação vivenciados no século
XXI. A desaparição de Ângela Carne e Osso ao final do sarcástico filme que
protagoniza nos catapulta para o recentíssimo banimento do perfil
@ex_miss_febem, criado em 2015 e mantido pela artista e performer Aleta Valente6
no Instagram, aplicativo de compartilhamento de fotos e vídeos, após sucessivas
denúncias de usuários contra as imagens nele veiculadas. Neste relato contundente,

5 DIDI-HUBERMAN, G., Abertura: História da Arte como disciplina anacrônica, in Diante do


tempo: história da arte e anacronismo das imagens, Coleção Humanitas, UFMG, 2015

6 Aleta Valente é o nome artístico de Aleta Gomes Vieira, atriz e performer, indicada para o
prêmio PIPA de 2017. Moradora de Bangu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, seu primeiro papel no
cinema foi no filme Jogo de Cena (2007), de Eduardo Coutinho, onde mulheres desconhecidas
interpretavam uma história verídica que desejavam compartilhar naquele momento, enquanto atrizes
profissionais narravam esses mesmos relatos como se estes tivessem acontecido com elas próprias. A
história de Aleta foi interpretada pela atriz Fernanda Torres.

anterior a morte do perfil na rede social em 2017, é possível inferir parte da


densidade da experiência corporal, estética e política pelo qual passou Aleta,
através de sua personagem viral fictícia @ex_miss_febem:

“O smart phone mudou minha vida. Youtube hoje em dia é


cinema. É Viral. E a linguagem dos Meme também. Séries e
cinema são incrivelmente hierárquicos, mil pessoas pra pensar
o pensamento de apenas uma pessoa. E eu não sou assim,
preciso de linguagens mais práticas e imediatas, com poucos
recursos. Estava em depressão começando a usar só redes
sociais, muitas fotos. E aí pirava nisso tudo até que
começaram a aceitar isto que eu fazia como ficção, e decidi
desenvolver. Demorei a usar Instagram porque era exclusivo
do iphone e achava discriminatório, porém quando eles
democratizaram e eu pude vencer o preconceito e usar,
descobri todo um novo mundo, sem a mesma censura da
patrulha do facebook. Assim como cinema mostra mundos,
parece que o que ele não mostra não existe. Some. E decidi,
então, mostrar tudo. Virou ficção tudo o que postava. E
curtem meus posts tanto artistas de nome quanto gente com
quem eu trabalhava, pois sempre trabalhei com homens,
apelidada como almôndega por causa da legging branca. Por
isso pelo no sovaco me protege de alguma forma. Dá um
curto circuito na cabeça do outro. Corpo de mulher vende
tudo, até pneu. Mas se você se autoexpõe, dizem que você
está se vendendo, e por isso uso tudo isso. E já existe muita
representação de mulher, como trans e etc, por isso tinha
que representar a mulher cis também.[grifos meus]” 7

7 PITANGA, F., Almanaque Virtual, Semana dos Realizadores: Debate de construção de


Gêneros no Cinema contemporâneo, in: h t t p : / / a l m a n a q u e v i r t u a l . c o m . b r / s e m a n a - d o s -
realizadores-debate-de-construcao-de-generos-no-cinema-contemporaneo/ , 2015,
(último acesso em 01/07/ 2017)

Com sua @ex_miss_febem, Aleta também lançava mão da estética do escracho, do


contraste, do deboche e subvertia sua própria auto-exposição para questionar
comportamentos socialmente aceitos e pacificados como o uso comercial do corpo da
mulher, o silenciamento imposto aos seus fluxos menstrual e de crescimento de pelos,
a distinção valorativa entre mulheres de alta e de baixa classe social, a criminalização
do aborto, o machismo e a violência patriarcal, através de fotos chocantes associadas
a legendas textuais, tais como quando tatuou em suas nádegas a frase “Made in
Bangu”, como que informando a origem de uma mercadoria, ou ainda, quando se
fotografou em pose glamourosa e provocadora, nos moldes das imagens ícone das
modelos de revistas de moda, vestindo uma camiseta onde se lia “Cytotec”, nome de
medicamento utilizado por mulheres pobres para abortar.

Após uma das fotos da @ex_miss_febem, publicada no Instagram – onde seus


milhares de seguidores a idolatravam e estimulavam como artista performática – ter
sido transportada, fora de seu contexto original e sem conhecimento ou autorização da
autora, para uma página antifeminista de outra rede social, o Facebook, causou uma
enxurrada de denúncias em seu perfil original, além de comentários depreciativos e
odiosos na referida página, nomeada “Moça, não sou obrigada a ser feminista”,
deixando à mostra a outra face da moeda do uso da super-auto-exposição como crítica
aos padrões de comportamento violentamente impostos e pacificados socialmente. O
perfil original foi apagado, excluído, silenciado, como punição à infração das regras
de conduta.

“Os autorretratos de @ex_miss_febem ecoam o ativismo da


artista indiana Rupi Kaur, autora da série “Menstruação”, que
inclui a imagem de uma mulher deitada de lado e de costas,
vestindo um moletom de ginástica com uma pequena mancha
de sangue. Uma imagem que naturaliza, pela pose, pelo
enquadramento e pela estética, o fato de que as mulheres
menstruam, mas que produziu uma reação igualmente violenta

e foi removida pelo Instagram. A estratégia de Kaur, no


entanto, é distinta, sem o erotismo e o enfrentamento da série
de Valente. Buscando naturalidade ou escândalo, essas
imagens parecem “inconsumíveis” e precisam do discurso
estético ou ativista para se legitimarem [grifo meu]”8

Qual lógica simbólica aproximaria, anacronicamente, a morte ou o desaparecimento


repentino de Ângela Carne e Osso, no filme em 1968/9, aos apagamentos abruptos na
rede social da foto da artista indiana Rupi Kaur e do perfil @ex_miss_febem, em
2017? Talvez a lógica da sobrevivência de uma em outra, pequenas luzes resistentes
que se apagam aqui, para reaparecerem ali e, depois, re-desaparecerem, novamente,
em tempos históricos distintos, sob formas simultaneamente diferentes e semelhantes,
como “política encarnada nos corpos, nos gestos e nos desejos”9 de cada uma. Talvez
representem, cada uma em seu tempo-espaço específico, a passagem, a brecha, a
“força diagonal do presente”, que tem origem no ponto onde colidem as “forças
antagônicas do passado e do futuro”10. Ou ainda, talvez confirmem que a eficácia
simbólica das imagens advém da sua “força mito-poética”, de um

“[…]‘fenômeno antropológico total’, de uma cristalização e


uma condensação particularmente significativas do que era
uma ‘cultura’ [kultur] num momento de sua história.”11

8 BENTES, I., Vida e Morte de @ex_miss_febem, in: revista Zoom, vol 12, abril de 2017.

9 DIDI-HUBERMAN, G., A Sobrevivência dos Vagalumes, Coleção Babel, UFMG, 2011.

10 DIDI-HUBERMAN, G., A Sobrevivência dos Vagalumes, Coleção Babel, UFMG, 2011.

11 DIDI-HUBERMAN, G., A Imagem Sobrevivente – História da Arte e tempo dos fantasmas


segundo Aby Warburg, Editora Contraponto, 2013


“As relações de tempo nunca se veem na percepção ordinária,


mas sim na imagem, enquanto criadora.”12

É possível, também, visitar essa sobrevivência da intenção estética politicamente


disruptiva no tempo atravessado pela vida própria de Helena Ignez, em sua trajetória
artística de mais de 50 anos, que cruzou o limite dos séculos XX e XXI e segue
imprimindo sua potente força criativa nos dias de hoje. Depois de construir um sem
número de personagens transgressores, desde 2008 a atriz se dedica à direção de seus
próprios filmes, nos quais reexperimenta permanentemente sua liberdade de ação, em
novos cenários temporais e novos acoplamentos criativos. Em Ralé (2015) - segundo
Helena “um filme sobre minorias que reivindicam o direito de ser feliz”, inspirado na
peça homônima do dramaturgo russo Maxim Gork – são postos em cena elementos
que dialogam com sua trajetória artística anterior, sobretudo no que diz respeito à
abordagem de temas tabu, com o intuito de romper com os modelos de representação
tradicionais, forçando o espectador à reflexão sensorial, o deslocamento de
percepções naturalizadas e a construção de novo sentido para velhos preconceitos ou
desconhecimentos.

“Helena Ignez trilhou esses diferentes caminhos, dentro e fora


do cinema. De atriz a diretora, no seu último filme, Ralé, ela
faz um manifesto contra a caretice geral da nação e se conecta
com o universo político contemporâneo em um filme que faz o
inventário das conquistas dos anos 60/70 mas serve para
olharmos para o presente urgente. Ralé são todos os que estão
na contracorrente inventando mundos possíveis: uma
comunidade pós hippie, um grupo que filma um filme dentro
do filme, A Exibicionista, as falas e cenas sobre a cultura
indígena e suas práticas e drogas espirituais, a liberação sexual,
o casamento gay, o feminismo. No momento em que as mentes

12 DIDI-HUBERMAN, G. “Quando as imagens tocam o real”, 2012, in: https://


www.eba.ufmg.br/revistapos/index.php/pos/article/view/60/62 (último acesso em 30/06/2017)

e corpos, os comportamentos, o pensamento político passa por


um revés e um retrocesso, Helena Ignez, homenageada no
Festival de Tiradentes, volta a cena. A “mulher de todos”, a
feminista, a “glamour girl”, a atriz genial, a cineasta, a que
mergulha em uma busca espiritual, material, corporal, Ângela
Carne e Osso rediviva e transgressora, volta em meio ao
pessimismo, pega sua câmera, e diz: vamos nos reinventar e
celebrar!”13

Seguindo o caminho, proposto por Didi-Huberman em “A Sobrevivência dos


Vagalumes”, de organizar o pessimismo, reformando minorias e desejos partilhados
num tempo histórico novamente cortado por luzes conservadoras ofuscantes, alinhada
à ideia de Walter Benjamin de que o historiador e o artista teriam como função
comum “escovar a história a contrapelo” para tornar visível a cultura na barbárie e a
barbárie na cultura, Helena Ignez segue produzindo e encarnando suas imagens
dialéticas / vaga–lumes / ardentes, povoadas de sinais secretos / brechas / sintomas /
marcas imperceptíveis de autenticidade, através dos tempos – acontecimento14 que
atravessa e pelos quais é atravessada.

“[…] ‘em cada época, é preciso arrancar de novo a tradição ao


conformismo que está pronto a subjugá-la’ – e fazer desse
arrancar uma forma de incêndios por vir.”15

13 BENTES, I., O feminismo pop de Helena Ignez, in: Especial Ninja Tiradentes, 2017, https://
medium.com/20%C2%AA-mostra-de-cinema-de-tiradentes/o-feminismo-pop-de-helena-ignez-
ce841037a6c6 (último acesso em 01/07/2017).

14 DELEUZE , G.; GUATTARI, F., “Maio de 68 não ocorreu”. In. Revista Trágica: estudos de
filosofia da imanência – 1º quadrimestre de 2016 – Vol.8 – nº1 – PP.119-121 – Texto orginalmente
publicado em Lês Nouvelles Littéraires, 3-9 maio de 1984, p. 75-76

15 BENJAMIM, W. “Sur Le concept d’histoire”, in: 2012, in: DIDI-HUBERMAN, G. “Quando


as imagens tocam o real”, https://www.eba.ufmg.br/revistapos/index.php/pos/article/view/60/62 (último
acesso em 30/06/2017).


Retomando, por fim, a citação inicial deste trabalho – a mensagem lida por Helena
Ignez, por ocasião da exibição do último filme realizado por Rogério Sganzerla,
intitulado O Signo do Caos, no qual ele faz referência ao cinema ser escrito em uma
folha em branco pegando fogo para captar o pensamento de sua realização –
novamente, a sobredeterminação das imagens pelo seu transpassamento por tempos e
pensamentos distintos aqui se revela. O extrato mencionado imediatamente acima, de
George Didi-Huberman, foi traduzido e publicado no Brasil em novembro de 2012, e
o bilhete de Rogério Sganzerla foi escrito em 2003, imediatamente antes de sua morte
e quase dez anos antes da publicação, no Brasil, do texto do filósofo e historiador da
arte, ao qual nos referimos.

Imaginar Helena Ignez lendo este bilhete no palco do Festival de Cinema de Gramado
– houve, certamente, muitos registros fotográficos e videográficos deste momento; ele
compõe, sem dúvida, um arquivo esquecido em algum lugar – remete ao enunciado de
Didi-Huberman que pressupõe que

“Saber olhar uma imagem seria, de certo modo, tornar-se


capaz de discernir o lugar onde arde, o lugar onde sua
eventual beleza reserva um espaço a um “sinal secreto”, uma
crise não apaziguada, um sintoma. O lugar onde a cinza não
esfriou” 16

A imagem da atriz e co-criadora dando voz ao que podem ser consideradas as últimas
palavras públicas de seu parceiro intelectual e afetivo de mais 30 anos de produção
conjunta de narrativas independentes, por fora dos sistemas mercadológicos e
intelectivos institucionalizados, inclusive os dos ditos campos “de esquerda” do
cinema brasileiro talvez seja um

16 DIDI-HUBERMAN, G., “Quando as imagens tocam o real”, 2012 in: https://


www.eba.ufmg.br/revistapos/index.php/pos/article/view/60/62 (último acesso em 30/06/2017).

“traço visual do tempo que quis tocar e de outros tempos


suplementares heterogêneos e anacrônicos que, como cerne da
memória, não pode aglutinar”. 17

Mas, para se aproximar de sua legibilidade, o espectador terá que

“[…] acercar o rosto à cinza. E soprar suavemente para que a


brasa, sob as cinzas, volte a emitir seu calor, seu resplendor,
seu perigo. Como se, da imagem cinza, elevara-se uma voz:
‘Não vês que ardo?’” 18

O caráter lacunar e ardente das imagens e a possibilidade de livre associação entre os


tempos e sentidos que as povoam constituem um infinito manancial de análise das
mesmas. As personagens que delas ecoam terão sempre sua legibilidade perpassada
pelo tempo, pelos afetos e pelo sentido a elas sobreposto pelo espectador que as
observa. A distância entre o que olha e o que é olhado, antes de ser uma distância que
afasta, é uma distância que tenta aproximar as imagens dos sentidos por ela
produzidos em quem as vê. Deter-se diante da imagem de Ângela Carne e Osso, de
@ex_miss_febem, da figura mítica de Helena Ignez e de tantas outras personagens e
personas que simbolizam o feminino/masculino transgressor, disruptivo, é deixar-se
penetrar por elas. E inquirir-se sobre quais são suas crispações, suas brechas, suas
distensões, suas aproximações, sobre o que nelas é indiscernível e, ainda assim, nos
toca. É distanciar-se para por elas ser atravessada, invadida por sua aura, por sua
exalação sensível e material – do ponto de vista da nova aurática19 que conceitua a
obra de arte moderna – e indagar sobre o que elas trazem do passado que aponta,

17 DIDI-HUBERMAN, G., “Quando as imagens tocam o real”, 2012 in: https://


www.eba.ufmg.br/revistapos/index.php/pos/article/view/60/62 (último acesso em 30/06/2017).

18 DIDI-HUBERMAN, G., “Quando as imagens tocam o real”, 2012 in: https://


www.eba.ufmg.br/revistapos/index.php/pos/article/view/60/62 (último acesso em 30/06/2017).

19 DIDI-HUBERMAN, G., O que vemos, o que nos olha, Editora 34, 1998



aproximando-as e distanciando-as permanente e simultaneamente, na direção do


futuro dessas representações.

BIBLIOGRAFIA

BENJAMIM, W. “Sur Le concept d’histoire”, in: DIDI-HUBERMAN, G. “Quando as


imagens tocam o real”, 2012, in: https://www.eba.ufmg.br/revistapos/index.php/pos/
article/view/60/62 (ultimo acesso em 30/06/2017)

BENTES, I., O feminismo pop de Helena Ignez, in: Especial Ninja Tiradentes, 2017,
https://medium.com/20%C2%AA-mostra-de-cinema-de-tiradentes/o-feminismo-pop-
de-helena-ignez-ce841037a6c6 (último acesso em 01/07/2017)

BENTES, I., Vida e Morte de @ex_miss_febem, in: revista Zoom, vol 12, abril de
2017.

CANUTO, R., org., Encontros / Rogério Sganzerla, Azougue Editorial, p. 205 –


Cronologia, 2007

DELEUZE , G.; GUATTARI, F., “Maio de 68 não ocorreu”. In. Revista Trágica:
estudos de filosofia da imanência – 1º quadrimestre de 2016 – Vol.8 – nº1 –
PP.119-121 – Texto orginalmente publicado em Lês Nouvelles Littéraires, 3-9 maio de
1984, p. 75-76

DELEUZE, G. e GUATTARI, F., Mil Platôs, vol.4, Editora 34, 1997

DIDI-HUBERMAN, G., O que vemos, o que nos olha, Editora 34, 1998

DIDI-HUBERMAN, G., A Sobrevivência dos Vagalumes, Coleção Babel, UFMG,


2011.

DIDI-HUBERMAN, G. “Quando as imagens tocam o real”, 2012, in: https://


www.eba.ufmg.br/revistapos/index.php/pos/article/view/60/62 (último acesso em
30/06/2017)

DIDI-HUBERMAN, G., A Imagem Sobrevivente – História da Arte e tempo dos


fantasmas segundo Aby Warburg, Editora Contraponto, 2013

DIDI-HUBERMAN, G., Abertura: História da Arte como disciplina anacrônica, in


Diante do tempo: história da arte e anacronismo das imagens, Coleção Humanitas,
UFMG, 2015

PITANGA, F., Almanaque Virtual, Semana dos Realizadores: Debate de construção


de Gêneros no Cinema contemporâneo, 2015, in: http://
almanaquevirtual.com.br/semana-dos-realizadores-debate-de-
construcao-de-generos-no-cinema-contemporaneo/ , (último acesso em
01/07/2017)

Você também pode gostar