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§3º.

O ius gentium
Característica de grande número de ordens juridicas da antiguidade era a
personalidade do direito que fazia apelo aos laços pessoais que uniam o individuo a uma
dada ordem jurídica, determinados geralmente em função do nascimento a consequente
pertença a uma determinada comunidade.
O direito romano, dentro desta tendência apenas num período já tardio (212
d.C.) ascende à plena territorialidade, embora tal mudança não tenha sido operada num
único momento, uma vez que um conjunto de medidas tomadas em momentos
anteriores tinham já aberto caminho àquela medida última.
Caracterizando-se portanto o direito romano pela personalidade, dasde bastante
cedo se sentiu necessidade de desenvolver uma altemativa que permitisse a plena
relacionação dos estrangeiros com os romanos, particularmente no âmbito comercial. A
esta necessidade deu resposta o ius gentium que embora como expressão seja
relativamente tardio, remonta quanto ao seu conteúdo já ao sec. III a.C., quando do
aparecimento do pretor peregrino (242 aC.).
Antes desta data, não se segue no entanto que as relações entre romanos e
peregrinos em Roma fossem impossíveis, pois pelo menos o hospitium permitia o
acesso de um estrangeiro aos tribunais romanos desde que pudesse contar com a
protecção da um cidadão romano. Porém tal sistema não era viável a titulo de utilização
genérica, dadas as limitações próprias que essa protecção individual impunha.
A actividade do pretor paregrino, mais uma vez através do edicto, vem estender
a sua protecção aos estrangeiros que a quisessem utilizar entre si, ou aqueles que
dasenvolvessem os seus contactos com cidadãos romanos.
O ius gentium aparece assim intimamente ligado à actividade deste magistrado,
mas simultaneamente apoia-se também num conceito que desde muito cedo os romanos
souberam desenvolver, a fides, ou respeito pela palavra dada que por sua vez implica a
bona fides e que podia ser entendida como comum a todos os povos.
Assim são criados institutos juridicos proprios do ius gentium, entre os quais
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devem ser referidos a stipulatio , e os contratos consensuais dentro dos quais se
atendia unicamente à vontade manifestada, e nao à forma do próprio negócio.

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Torrent, ob.cit., p. 85.
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Ao lado de formas especificas para os cidadãos romanos como a sponsio, através da
qual no ambito de um extremo formalismo, os intervaniantes se constituiam mutuamente crador
a davador, a stipulatio vinha servir os mesmos fins quando era interveniente um estrangeiro,
assim se ilidindo a personalidade da primeira figura.

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