Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Introdução....................................................................................................................................4
O positivismo lógico do círculo de Viena....................................................................................5
Pensamentos anteriores a Popper.................................................................................................9
Popper: uma postura contrária ao indutivismo...........................................................................11
Críticas ao pensamento popperiano............................................................................................16
Paradigmas científicos segundo Thomas Kuhn..........................................................................19
Estabelecimento e um novo paradigma......................................................................................22
Programa de pesquisa Segundo Lakatos.....................................................................................23
Retransmissão da falsidade........................................................................................................23
Heurística...................................................................................................................................24
Classificação dos programas de pesquisa...................................................................................24
Superação de um programa de pesquisa.....................................................................................24
O anarquismo metodológico de Feyerabend...............................................................................25
Anarquismo metodológico.........................................................................................................26
Pilares do (não)método...............................................................................................................26
Conclusão...................................................................................................................................29
Referencias Bibliográficas.........................................................................................................30
1.Introdução
No capítulo “os grandes debates da ciência contemporânea”, retrata a grande
importância do que seria e o que não poderia ser considerado conhecimento científico,
partir do ponto de vista de importantes pensadores, procuram por a prova as afirmações
filosóficas que tomam base o pensamento científico.
Paradigmas científicos e programas de pesquisa, Karl Popper, tinha uma visão das
teorias científicas como modelo que por acumulo gradual das evidências, seguiam
mantendo-se intactos até que determinado momento, éramos falseados e postos de lado.
De modo geral podemos entender o termo paradigma como um conjunto de crenças,
valores, técnicas e conceitos compartilhados pela comunidade científica que por um
determinado tempo fornecem dados para analise em determinada área do conhecimento.
Ainda que Kant tenha insistido sobre a impossibilidade do conhecimento derivar dos
dados sensíveis, não estabelece com isso o fim do ideal da filosofia clássica de uma
ciência baseada na possibilidade de acesso à realidade, “fonte segura do nosso
conhecimento”, pelos sentidos. O positivismo lógico do Círculo de Viena foi uma
tentativa (mutatis mutandis) de retomar o ideal clássico de buscar a origem do
conhecimento numa base empírica, mas não só.
O circulo de Viena surgiu nas duas primeiras décadas do século XX, sendo responsável
pela criação duma corrente de pensamento intitulada “positivismo lógico”. Este
movimento surgiu na Áustria, como reacção a filosofia idealista e especulativa que
prevalecia nas universidades alemãs. A partir da primeira década do século, um gripo de
filósofos austríacos iniciou um movimento de investigação que tentava buscar nas
ciências a base de fundamentação de conhecimentos verdadeiros. Neste sentido, tal
grupo constatou que o conhecimento possui valor de verdade devido a sua vinculação
empírica, isto e, o conhecimento científico é verdadeiro na medida em que relaciona-se,
em alguma dimensão, a experiencia.
1. A ciência deve poder ser unificada na sua linguagem e nos factos que a
fundamentam, bem como todo conhecimento científico vem da experiência e do
carácter tautológico do pensamento.
2. A filosofia, quer seja ou não considerada como uma verdadeira ciência, se reduz a
uma elucidação das proposições científicas e estas se referem directa ou indirectamente
à experiência. A ciência tem por tarefa verificar tais proposições. A filosofia será, antes
de tudo, filosofia da ciência e, ocupando-se assim deste aspecto positivo do
conhecimento humano, estará na direcção de uma efectiva objectividade. O simbolismo
lógico de Frege e de Russel será utilizado para tornar clara a linguagem da ciência.
3. O sucesso de tal filosofia porá fim à metafísica, pois não será mais necessário tratar
“questões filosóficas”, já que toda questão será tratada, agora, em uma linguagem
provida de sentido. As questões tradicionais da metafísica serão questões que falarão
apenas sobre termos dos quais o sentido não foi suficientemente esclarecido ou sobre
proposições inverificáveis.
Por exemplo, a proposição “existem seres vivos em Plutão”, pode ser verdadeira ou
falsa e tem uma significação, pois, em princípio, é possível de ser verificada ainda que,
no momento, não tenhamos condição de fazê-lo. O mesmo não poderia ser dito de
enunciados do tipo “Deus é perfeito” ou “A alma é imortal”, pois não sendo
susceptíveis de verificação, são, em consequência, sem significação. Apesar do facto de
estarem gramaticalmente correctos são pseudo-enunciados, pois se situam fora do
domínio do conhecimento, não têm valor cognitivo, ainda que possuam valor poético,
estético ou emocional. Assim, as proposições metafísico-especulativas deveriam ser
afastadas, não porque fossem falsas, mas porque nada significavam, eram desprovidas
de sentido. Fora, portanto, do pensamento racional.
A indução não é apenas um método para se obter proposições gerais, mas é também um
meio para a justificação, quer dizer, uma teoria científica está justificada na medida em
que existam proposições de base, deduzidas das proposições gerais que a confirmam. E
vale também dizer que um grande número de proposições de base pode justificar a
indução que se faz para uma proposição geral. Consideremos como exemplo a
proposição geral “Todos os corvos são negros”, dela pode-se deduzir a predição “O
próximo corvo que encontrarmos será negro”.
Esta última proposição pode ser confirmada ou refutada pela experiência sensorial. Se a
experiência confirma um grande número de tais proposições, a proposição geral em
questão é confirmada pela experiência e justificada. Assim, as teorias científicas
permitem conceber experiências científicas e deduzir proposições que predizem os
resultados das experiências, e as proposições de base, se confirmadas pelas observações
dos resultados das experiências confirmam, de maneira indutiva, as teorias científicas.
Até meados dos anos 30, a filosofia do Círculo de Viena exerceu uma profunda
influência na cena cultural europeia. Mas, com a ascensão do nazismo e a consequente
mudança para os Estados Unidos de Carnap e outros membros, aliada às mortes de
Hahn, Schlick e Neurath, bem como uma série de contradições internas, o movimento
começou a se dispersar, mas suas teses, até hoje, são discutidas. Esta concepção da
filosofia da ciência, uma combinação de um formalismo extremado com um empirismo
radical, não demoraria a ser contestada e seu projecto colocado em questão por diversos
pensadores, entre eles, Karl Popper.
A noção que então se tinha se ciência coincidia com a busca, por assim dizer, do saber
absoluto, que se pudesse dizer verdadeiro acima de qualquer dúvida. Tornava-se
necessário para eles, portanto, a consolidação de uma distinção precisa entre o saber
contingente, que se expressava na opinião, e o saber necessário, que constituía o objecto
do discurso científico, uma vez que o único discurso que poderia satisfazer às
exigências do rigor científico era aquele que apontasse nos fenómenos conexões causais
cuja necessidade pudesse ser demonstrada.
O mero enunciado nunca poderia ser satisfatório numa investigação científica, mas
apenas a sua demonstração. Marias (1981, p. 73), quando expõe o pensamento
aristotélico, afirma que, para Aristóteles, “ [...] a demonstração leva à definição,
correlato da essência das coisas, e se apoia nos primeiros princípios que, tais como, são
indemonstráveis e somente podem ser apreendidos directa ou indirectamente pelos
noûs”.
A ciência suprema, continua Marias, “ [...] é demonstrativa, mas seu último fundamento
é a visão no ético dos princípios”. Em outra passagem, quando trata do pensamento de
Pitágoras, faz uma menção á advertência de Aristóteles ao problema epistemológico da
distinção entre o que é ciência e o que é opinião.
Segundo Marias (1981, p. 22), Aristóteles separa o que é científico do que é sensação,
ou seja, “se se refere ao ponto de vista da verdade (ciência) ou simplesmente da dóxa
(opinião) ”. Essa armação do problema forjado pelos gregos da procura da verdade
evidente, e que ganhou sua moldura definitiva na obra de Aristóteles, sofreu uma grande
derrocada no século XX, principalmente com o surgimento do pensamento popperiano.
Antes de Popper, o pensamento filosófico ocidental, partindo da presunção da evidência
da verdade, atravessou séculos tentando explicar por que, afinal, nossas teorias
frequentemente estavam erradas.
Para ele, o cientista deve se libertar de todas as suas idéias preconcebidas sem
fundamentação, fontes do erro, para que possa atingir, através da observação paciente e
dispensa interpretação, pois é auto-evidente. Para o empirista, o rigor e a correção no
uso e na aplicação desse método indutivo é a única garantia contra o erro. Ainda que
intermediada por alguns séculos de controvérsias filosóficas, é evidente a vinculação do
positivismo lógico vienense do início do século XX à tradição empirista inaugurada por
bacon.
Para ele, “[...] era apenas outra maneira de formular o venerável critério dos
indutivistas; não havia diferenças real entre as idéias de indução e de verificação”
(Popper, 1986, p. 87-88). Popper é enfático quando afirma que a ciência não é
indutivista. De acordo com o seu modo de ver,
“[...] a ciência não tinha caráter indutivo, a indução era um mito que havia sido
destruído por Hume” (Popper, 1986, p. 88).
Primeiramente, Popper concorda com Hume em que a indução não pode levar à certeza.
Para Popper, só se pode tentar fundamentar a indução através de novas induções, o que
nos levaria a um circulo vicioso de induções sucessivas sem que qualquer conexão
causal entre fenômenos examinados fosse demonstrada. Popper, porém, vai adiante e,
afirmando que o empirismo confundia o problema da validade de uma teoria com a sua
origem, sustenta o ponto de vista de que esta última não é logicamente sistematizável,
além de ser irrelevante para determinar a validade ou veracidade da teoria. Assim, diz
Popper (2001, p. 29),
É uma questão óbvia, segundo Popper (2001, p. 27), “[...] do ponto de vista lógico,
haver justificativa no interferir enunciados universais de enunciados singulares,
independentemente de quão numerosos sejam estes; com efeito, qualquer conclusão
colhida desse modo sempre pode revelar-se falsa”.
Popper (2001, p. 28) apresenta um exemplo que elucida intensamente o seu parecer:
“[...] independentemente de quantos casos de cisnes brancos possamos observar, isso
não justifica a conclusão de que todos os cisnes são brancos”. Portanto, Popper pôde
concordar com Hume e afirmar que enunciados singulares não podem atestar a
veracidade de uma teoria (eles podem refutá-la ou corrobora-la, mas nunca comprova-
la), sem que com isto precise abraçar qualquer postura cética em relação à ciência.
O método de aprendizagem, segundo Popper (1983, p. 265), “[...] por tentativa e erro —
de aprender com nossos erros — parece ser fundamentalmente o mesmo, o pratiquem os
animais inferiores, ou superiores, os chipanzés ou os homens da ciência”. É inegável, no
pensamento popperiano, que o homem sempre aprende com seus erros. O erro deixa,
portanto, de ser algo como o inimigo do conhecimento que deve ser evitado a qualquer
preço para passar a ser, com Popper, o principal impulsionador do conhecimento
humano, ao gerar a crítica que faz a ciência se mover.
Popper (2001, p. 42) não exige que “[...] um sistema seja susceptível de ser dado como
válido, de uma vez por todas em sentido positivo; exigirei, porém, que sua forma lógica
seja tal que se torne possível validá-lo através de recurso a provas empíricas, em sentido
negativo: deve ser possível refutar, pela experiência, um sistema científico empírico”.
Esta postura popperiana bastou para que integrantes do Círculo de Viena entendessem
que o que Popper propunha consistia na mera substituição de um critério de significação
que exigia a verificabilidade das proposições por outro que postulava sua falseabilidade.
O critério de Popper, entretanto, não é um critério de significado ou sentido como o
positivista, mas de demarcação entre ciência e não-ciência, não negando significado às
proposições não científicas (metafísicas).
Este critério de demarcação proposto por Popper dá à ciência uma concepção assaz
crítica, posto que o cientista deverá avaliar uma teoria de acordo com a capacidade de
ser exposta a críticas de todos os tipos e, no caso se pode, ou não, resistir a essas
apreciações.
Esta postura inversa foi de encontro aos que defendiam que a metafísica não possuía
sentido — como intentou Rudolf Carnap, sem alcançar êxito, segundo Popper —
coloca-o como um defensor de que os grandes esquemas científicos assentam-se
necessariamente sobre inumeráveis pressupostos metafísicos, imputáveis
exclusivamente ao julgamento individual do cientista.
“No meu entender”, afirma Popper (1986, p. 93), “o conhecimento humano consiste em
teorias, hipóteses e conjecturas que nós formulamos como produto de nossas
actividades intelectuais”. Popper é um pensador inteiramente cônscio da importância do
papel da tradição na formação do pensamento e da conduta dos homens, os quais
necessariamente agem e pensam tendo como referência o ambiente em que vivem e as
teorias existentes em seu tempo.
Para Popper, a ciência é uma construção racional exactamente por ser histórica. Sua
construção se dá com base no enfrentamento, pelo homem, de problemas que lhe
surgem ao longo da vida, sendo, portanto, irrecusável sua estreita vinculação com a
realidade externa e com os fenômenos culturais de cada época. Popper (1986, p. 94) é
enfático ao afirmar que:
A solução, que sempre tem o carácter de tentativa, consiste numa teoria, numa hipótese,
numa conjectura. As várias teorias rivais são comparadas e discutidas criticamente, a
fim de se identificar suas deficiências; os resultados permanentemente cambiantes,
sempre inconcludentes, dessa discussão crítica, formam o que poderia ser denominado a
ciência do momento.
O que Popper rejeita enfaticamente é o determinismo e a concepção segundo a qual tudo
o que acontece na história é fruto dos caprichos, vontades ou interesses de algum grupo,
camada ou classe social, econômica ou politicamente dominante. Para Popper, o futuro
depende de nós mesmos e nós não dependemos de nenhuma necessidade histórica.
Todas as profecias históricas de grande alcance estão completamente fora do método
científico. Em lugar de postarmo-nos como profetas, para Popper (1981, p. 440),
“devemos convertemo-nos em forjadores de nosso destino. Devemos aprender a fazer as
coisas o melhor possível e descobrir nossos erros”.
Para Popper, uma teoria será tanto melhor quanto mais refutável — ou seja, quanto mais
audaciosa, proibitiva, restritiva e, portanto, quanto mais explicativa — ela for, pois
assim muito aprenderemos com o seu sucesso, e mais ainda, aprenderemos com a sua
posterior refutação; ao contrário, uma lei científica extremamente provável é
necessariamente uma lei da qual se extraem poucas inferências observáveis e, dessa
forma, uma lei pouco útil.
O progresso científico consiste num movimento em direção a teorias que dizem sempre
mais, teorias de conteúdo sempre maior. Popper assevera que quanto mais uma teoria
afirma, tanto mais ela exclui ou proíbe, de modo que crescem as oportunidades para seu
falseamento. Assim, a teoria de maior conteúdo é a que admite as provas mais severas.
[...] não há dúvida de que nossas expectativas e, portanto, nossas teorias, podem
até preceder, historicamente, nossos problemas. Entretanto, a ciência só começa
com problemas. Os problemas afloram, sobretudo, quando estamos
decepcionados em nossas expectativas, ou quando nossas teorias nos envolvem
em dificuldades, em contradições.
A tese defendida por Popper de que podemos aprender com nossos erros, é literalmente
arrasada por Kuhn. Para ele, não é claro que tenha sido cometido um erro com o qual se
possa aprender. Um erro, acrescenta Kuhn (citação inclusa na obra de Lakatos;
Musgrave, 1979, p. 17),
Para Kuhn, o máximo que se pode afirmar a este aspecto, é que uma teoria que não era
um erro, passou a sê-lo, ou por outro lado, que um cientista errou ao obstinar-se a uma
teoria por um tempo muito longo. Kuhn também é céptico com o que Popper descreve
como sendo falseamento o que ocorre quando uma teoria é tida como falha.
Consoante, assevera Kuhn, o que Popper nos deu não foi uma lógica do conhecimento,
mas uma ideologia e em lugar de regras metodológicas, ofereceu aforismos de
procedimento. Um aspecto que merece destaque nesta polémica filosófica, relaciona-se
ao progresso da ciência. Kuhn perguntas de que forma os cientistas agem para escolher
teorias concorrentes. E centra o seu interesse em saber de que maneira nós podemos
compreender o modo com que a ciência progride.
Ele é enfático quando questiona se “[...] não será possível, nem mesmo provável, que os
cientistas contemporâneos saibam menos de que há para saber a respeito do seu mundo
de que sabiam a respeito do seu os cientistas do século XVIII?” (Lakatos; Musgrave,
1979, p. 29).
Para ele, enquanto não for facultável responder a este tipo de pergunta, não saberemos
direito o que é o progresso científico e não poderemos, inclusive, esperar explica-lo. Do
ponto de vista kuhniano, a ciência se divide em dois grandes campos: a ciência normal e
a ciência extraordinária.
Para Kuhn, todo trabalho de Popper está diligenciado apenas em descrever a ciência
extraordinária, não se preocupando com a ciência normal. Estas poucas diferenças de
opinião entre Kuhn e Popper — certamente não tentamos esgotar o assunto nem,
tampouco, apresentar todos os pontos divergentes entre ambos — têm como intuito
incrementarmos a erudição acerca do pensamento popperiano. Nossa modesta crítica a
este debate será apresentada no próximo capítulo.
Ele percebeu que a prática cientifica é uma tentativa de forçar a natureza a encaixar-se
dentro dos limites preestabelecidos e relativamente inflexíveis fornecido pelo
paradigma. Ou seja, a ciência é uma tentativa de forçar a natureza a esquemas
conceituais fornecidos pela educação profissional.
É o que Kuhn denomina de ciência normal. A ciência normal não se desenvolve por
acumulação de descobertas e invenções individuais, mas por revoluções de paradigmas.
Por exemplo, a teoria geocêntrica de Ptolomeu, que afirmava ser a terra o centro do
universo, foi substituída por um novo modelo, a teoria heliocêntrica de Copérnico, que
afirmava ser o sol o centro. Outro exemplo é a teoria da gravitação de Newton, que
afirmava ser a gravidade uma força fundamental existente em todos os corpos. Essa
teoria foi completamente modificada por um novo modelo explicativo, a teoria da
relatividade-geral de Einstein. Segundo esse novo modelo, a gravidade não seria uma
característica dos corpos, mas das distorções do espaço-tempo local causado pelo peso
das massas dos corpos.
Essas conquistas são reconhecidas pela comunidade científica de uma área particular e
possuem duas características comuns. A primeira característica é que suas conquistas
atraem um grande número de cientista em torno de uma actividade ou teoria. A segunda
afirma que suas realizações estão abertas para a comunidade científica problematizar e
resolver toda espécie de problemas. Os cientistas que compartilham um mesmo
paradigma estão comprometidos com as mesmas “regras” e “padrões” estabelecidos
pela prática científica.
Kuhn (1991) afirma ainda que o paradigma se constitui como uma rede de
compromissos ou adesões, conceituais, teóricas, metodológicas e instrumentais
compartilhados. O paradigma é o que faz com que um cientista seja membro de uma
determinada comunidade científica.
Para Kuhn (1991, p.69), os problemas e técnicas da pesquisa que surgem numa tradição
não estão necessariamente submetidos a um conjunto de regras. A falta de uma
interpretação padronizada ou de regras não impede que um paradigma oriente a
pesquisa.
Devido a esta estrutura instável das ciências é impossível uma total padronização dos
paradigmas.
Thomas S. Kuhn ocupou-se principalmente do estudo da história da ciência, no qual
mostra um contraste entre duas concepções da ciência:
Enfoque historicista
Estabelecimento de um paradigma
Crise
Ciência Extraordinária
Revolução científica
Heurística
Negativa (hard core ou núcleo firme): Determina quais são as ideias perenes,
que devem ser consideradas irrefutáveis dentro de um determinado programa de
pesquisa. Ex.: A lei da gravitação de Newton no modelo de órbitas do sistema
solar.
Positiva (cinturão protector): Orienta como lidar com as divergências
experimentais da teoria; São as hipóteses, aproximações e adições ao núcleo
firme que respondem essas divergências, a fim de manter o núcleo firme como
referência absoluta. Seguindo o exemplo da gravitação de Newton, a suposição
de um planeta além de Úrano para corrigir sua órbita (que posteriormente seria
descoberto Neptuno), é considerado característico do cinturão protector, pois
não refuta a teoria, mas busca outra solução dentro dela.
Em 1948, faz seu conctato com Karl Popper, que o influenciaria mais tarde. No ano de
1951, conseguiu uma bolsa de estudos, mas com a morte de seu orientador Ludwig
Wittgenstein, elegeu Popper como orientador na London School of Economics .
Lecionou em diversos lugares ao redor do globo como, Bristol, Londres e Berlim.
Durante esse período, acabou desenvolvendo uma visão crítica da ciência, a qual,
descreveu como anarquista para ilustrar a sua rejeição ao uso dogmático das regras
(Brito, Portugal e Ventin, 2011).
Sua opção pelo anarquismo era clara, especialmente em seus escritos: “este ensaio é
escrito com a convicção de que o anarquismo, embora não constituindo, talvez, a mais
atraente filosofia política, é, por certo, excelente remédio para a epistemologia e para a
filosofia da ciência” (Feyerabend, 1989, p. 19).
Sua principal obra Contra o Método – Against the method (Feyerabend, 1977) surgiu a
partir da discussão entre as suas ideias e as ideias de Lakatos. Seria um debate
interessante se Lakatos não tivesse falecido antes de publicar a sua versão. Portanto,
Feyerabend decidiu publicar sua parte sozinho. Sua obra foi fortemente rejeitada pelos
críticos cientistas, o que o fez repensar se deveria mesmo ter feito isso (Feyerabend,
1996).
Anarquismo metodológico
Ao ter conctato com as mais diversas metodologias, Feyerabend se deu conta de que há
muito mais a ser explorado além do método “engessado” proposto pelas metodologias
já prontas. O anarquismo passou então a ganhar a sua atenção.
Pilares do (não)método
O Anarquismo metodológico parte do princípio de que deve-se rejeitar a existência de
regras universais, defendendo a violação dessas regras metodológicas. Porém, isso não
quer dizer que tudo o que se construiu até hoje não deve ser aproveitado, ou ainda, que
as regras não servem para nada.
Essa metodologia prega que deve haver uma liberdade para que o cientista busque o
melhor caminho para a sua pesquisa. “A história da ciência não é composta apenas por
factos e conclusões, mas também por ideias, interpretações díspares e erros”
(Feyerabend, 1977, p. 20). Portanto, assim como pode vir o erro ao optar-se por um
certo caminho, pode vir o acerto também. O importante é que a ciência seja feita de uma
forma mais humana em que os instintos de quem está pesquisando também sejam
levados em consideração.
Essa “rebeldia” científica pode contribuir muito mais para a sociedade do que se
imagina, como observamos na concepção teórica de dois grandes cientistas: Sigmund
Freud, em suas concepções e novos métodos para a psicanálise; Albert Einstein, que em
sua teoria da relatividade sustenta a física moderna. Por isso, o melhor método é não ter
método e deixar a ciência fluir naturalmente.
Neste princípio de fluidez da ciência, Feyerabend (1977, p. 43) vem com sua proposta
de “tudo vale”, em que expressa que “(…) só há um princípio que pode ser defendido
em todas as circunstâncias e em todos os estágios do desenvolvimento humano. É o
princípio: tudo vale” (Feyerabend, 1977, p. 34), no qual aborda no sentido de
pluralidade, afirmando que não existe uma única metodologia para a ciência. Esta
expressão muitas vezes foi interpretada de forma errônea pelos demais teóricos da
ciência. Feyerabend explicou que seu objectivo não é o de substituir um conjunto de
regras por outro conjunto do mesmo tipo: “meu objectivo é, antes, o de convencer o
leitor de que todas as metodologias, inclusive as mais óbvias, têm limitações”
(Feyerabend, 1977, p. 43).
Assim, deixando claro nesse artigo que ele não pretende afirmar que todas as
metodologias devem ser deixadas de lado pois estão erradas e precisam necessariamente
ser revistas e reformuladas, mas que as academias vislumbrem a possibilidade da
liberdade do cientista para decidir o seu caminho, arriscar com criatividade e novas
concepções, pois ele é quem sabe melhor para onde ir.
Por outro lado, também diz que as metodologias possuem limitações, e que assim não se
deve sempre aceitá-las como uma verdade única, questioná-las torna-se um importante
passo para os avanços científicos.
Partindo do princípio que “essa maneira liberal de agir não é, apenas um facto da
história da ciência, é algo razoável e absolutamente necessário para que se desenvolva o
conhecimento” (Feyerabend, 1977, p. 30). Desta forma, justifica-se a defesa ao
princípio da autonomia por parte dos cientistas, que podem se apropriar não só de
teorias, mas também de suas crenças e convicções, as quais podem proporcionar um
desenvolvimento criativo e uma alternativa ao tradicionalismo.
Nesta perspectiva, o fazer ciência é abordado como uma oportunidade para o cientista
permear suas próprias definições de qual regra empregar em determinada situação de
sua pesquisa.
Neste contexto da abordagem anarquista da ciência, Feyerabend (1977) diz que a tarefa
do cientista não é mais de ir em busca da verdade, louvar a Deus, de sistematizar
observações ou de aperfeiçoar previsões, e que esses são apenas efeitos colaterais do
processo de tornar forte o argumento que então era fraco.
Conclusão
O homem usa a ciência para tentar explicar suas perguntas de como as coisas acontecem
ao seu redor. Com isto tenta-se criar novas tecnologias para termos um mundo melhor
em que vivamos. Existem campos da ciência que trazem benefícios incalculáveis para o
homem com as comunicações, medicina, informática e muitos outros. Usa-se isto para a
tomada de acções e decisões o que nos faz viver em uma sociedade baseada no
conhecimento. Uma nação que quer ser forte não basta sê-la belicamente e
monetariamente, necessita ter também um grande controle do conhecimento científico.
Porém se temos um grande conhecimento e não usarmo-lo correctamente poderemos
estar indo para o caminho errado.
A ciência actual reconhece que não existem regras para uma descoberta, assim como
não há para as artes. A actividade do cientista é semelhante a do artista. Os
pesquisadores podem seguir caminhos diversos para chegar a uma conclusão.
Analisando a história da ciência, constata-se que muito de seus princípios básicos foram
modificados ou substituídos em função de novas conjecturas ou de novos padrões.
Aconteceu quando Galileu modificou parte da mecânica de Aristóteles e Einstein fez o
mesmo com Newton. A concepção contemporânea da ciência está muito distante das
visões aristotélica e moderna, nas quais o conhecimento era aceito como científico
quando justificado como verdadeiro. O objectivo da ciência ainda é o de criar um
mundo cada vez melhor para vivermos e atingir um conhecimento científico sistemático
e seguro de toda realidade; que a ciência demonstra ser uma busca, uma investigação,
contínua e incessante de soluções e explicações pra os problemas propostos.
Referencias Bibliográficas
Barbosa Filho, B. Sobre o positivismo de Wittgenstein - Wittgenstein no Brasil, 2008.
Páginas 141 - 162.
(http://books.google.com.br/books?
id=RRniFBI8Gi4C&dq=Research+programmes+lakatos&printsec=frontcover&source=
bl&ots=2kCDbfTMFm&sig=39m4CY5DdNr9j_LeP_x8hNhQxew&hl=ptBR&ei=gfFX
SuX4HZCWtgf2zIzdCg&sa=X&oi=book_result&c=re sult&resnum=6) (em inglês)
Marias, J. Historia de la filosofia. 33. ed. Madrid: Revista de Occidente, 1981. Magee,
B. Mens of Ideas: Some Creators of Contemporary Philisophy, 1978. Página 131