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UNICEPLAC Prof.

Yasmin
Bárbara Ximenes Disciplina: Psicopatologia

Quando a vida perde o sentido, o que continua sendo a âncora para pessoas em processos
depressivos? No filme Melancolia, podemos observar com clareza como o processo depressivo afeta
a vida da protagonista Justine, que mesmo em seu casamento, momento onde todos ao seu redor
esperam que ela esteja radiante e feliz, ela enfrenta as dificuldades de manter a aparência de alguém
que está bem e tem atitudes que intrigam e de certa forma incomodam seus familiares mais
próximos. Sua irmã Claire, aparece como sendo uma das pessoas que mais se importam com o bem
estar de Justine, e numa tentativa falha de planejar cada passo que eles dariam no casamento para
que tudo saísse perfeito, acaba se frustrando ao saber que Justine na verdade não está nada feliz
apesar de seus esforços. Ao decorrer do filme, podemos ter a sensação de proximidade e os
sentimentos de Justine são quase sentidos por quem assiste pela sua dificuldade de manter as
aparências, isso fica evidente até na sua dificuldade de andar, na necessidade de se deitar um pouco,
de se afastar de todo mundo e até mesmo quando decide ter relações sexuais com um desconhecido
no que parece ser uma tentativa de sentir qualquer coisa além daquele imenso vazio.

Ao se conhecer a dinâmica familiar de Justine, podemos reconhecer que ela não teve uma mãe
presente nos momentos mais importantes de sua vida, a própria mãe não queria estar presente em
seu casamento e confessa que não estava lá nem quando ela deu seu primeiro passo. O pai, também
fica registrado como uma figura que nunca está disponível para ouvir ou compreender os afetos da
filha pois está sempre ocupado demais e fugindo disso. De acordo com McWilliams (2014) “Uma
perda importante na fase de separação/individuação é quase garantia de algumas dinâmicas
depressivas”.

Na segunda parte do filme, o foco é em Claire e em como ela fica responsável por ajudar a irmã que
por sua vez está em estado avançado de debilitação. Em seguida surgem as angustias diante de um
planeta que irá colidir com a terra. Enquanto Claire teme por sua vida e se preocupa em como vai
ficar sua família, Justine parece conformada com a ideia de que tudo acabe já que o mundo é mal em
sua essência e não tem mais esperança. Ainda segundo McWilliams (2014) “... a culpa depressiva tem
certa presunção magnificente. Em alguém com uma depressão psicótica, isso pode surgir como uma
convicção de que algum desastre foi causado por sua pecaminosidade”.

Nessa obra de Lars Von Trier, é possível observar como a depressão pode inspirar no processo de
criação da arte, já que o próprio admite que "Este (filme) tem relação com coisas recentes da minha
vida, como minha depressão." Seria então a arte e o processo criativo a resposta para nossa
pergunta inicial? Ou a própria depressão e o vazio existencial presentes na melancolia são as âncoras
que não permitem que o melancólico faça nada além de se conformar com sua existência e sonhar
com o fim da mesma?

Referencias:

MCWILLIAMS,N. Diagnóstico Psicanalítico. Compreender a estrutura da personalidade no processo


clínico. Porto alegre: Artmed, 2014.

RAMOS e MALZYNE, “Quando a vida perde sentido”, 2009.

PAULA SOUZA, A. Depressão de Lars von Trier inspirou “Melancolia”, FOLHA DE S. PAULO, 2011.

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