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Hidrogeoquímica

Material Teórico
Aplicações da Ferramenta Hidrogeoquímica

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Dra. Marjolly Priscilla Bais Shinzato

Revisão Textual:
Profa. Dra. Geovana Gentili Santos
Aplicações da Ferramenta
Hidrogeoquímica

• Introdução
• Classificação Geoquímica dos Elementos
• Mobilidade dos Elementos Químicos
• Dados Hidrogeoquímicos em Estudos Ambientais
• A Importância da Definição do Objetivo de um Estudo Ambiental

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Aprimorar seus conhecimentos sobre os elementos químicos no meio
ambiente.
· Levantar hipóteses de causa e efeito sobre o comportamento dos
elementos sob condições naturais e sob alterações antrópicas.
· Identificar como ações cotidianas das atividades humanas podem
despejar elementos químicos no ambiente e desencadear reações
indesejáveis ao homem e ao meio ambiente.
· Correlacionar casos de poluição ambiental a doenças.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.

No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Aplicações da Ferramenta Hidrogeoquímica

Introdução
A hidrogeoquímica era uma ciência usada principalmente por geólogos,
geógrafos e cartógrafos. A princípio, procurava-se compreender o meio físico,
principalmente para a indústria mineral (jazidas de minérios, fontes de água mineral
etc.). Nas últimas décadas, o uso desta ciência como ferramenta de pesquisa foi
ampliado para: fiscalização de órgãos ambientais; indústria de transformação;
aumentar a produtividade na agropecuária; potencializar o aproveitamento dos
aquíferos; indústria florestal; examinar relações com a saúde humana; identificar
fontes de poluição; diagnosticar problemas ambientais; confirmar passivos
ambientais; monitorar depósitos de resíduos; e planejamento do uso e ocupação
do solo. Neste sentido, ela passou a ser usada também para compreender e prever
como as atividades humanas alteram os processos naturais do meio ambiente,
quais as consequências disso, quais as soluções para mitigá-las, entre outros
objetivos. A hidrogeoquímica, portanto, transformou-se em uma ferramenta de
grande potencial para profissionais que trabalham com o meio ambiente.
É muito importante que durante a sua investigação hidrogeoquímica, que é
sempre complexa, você sempre levante hipóteses variadas, pois alguns resultados
podem ser somatórios de várias contribuições (naturais ou antrópicas). Os
processos geoquímicos não ocorrem isolados e livres da influência das variáveis
físicas ambientais como a pressão, temperatura, presença de gases, da água e de
atividade biológica, as quais desempenham papel preponderante no seu ritmo e
na sua intensidade.
Listo, aqui, algumas perguntas gerais que podem ser respondidas em estudos
hidrogeoquímicos:
• Quais minerais estão em contato com a água?
• Quais são os efeitos de mudanças de temperatura?
• Os minerais irão dissolver ou precipitar?
• Quais são os efeitos de mudanças de pressão de gases?
• Quais são os efeitos de misturas de fluidos?
• Quais são os efeitos se houver adição de químicos na água?
• Quais elementos podem ser mobilizados no lançamento de determinado
efluente no solo, na água e no ar?

Para aprofundar seu conhecimento sobre a evolução histórica do uso da hidrogeoquímica


Explor

com o passar dos anos, estude a compilação de informações presentes na tese de doutorado
intitulada por “A geoquímica multi-elementar na gestão ambiental: Identificação e
caracterização de províncias geoquímicas naturais, alterações antrópicas da paisagem,
áreas favoráveis à prospecção mineral e regiões de risco para a saúde no estado do Paraná,
Brasil. Disponível em: https://goo.gl/ZHyiRr

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Classificação Geoquímica dos Elementos
O conjunto de processos que acontecem no nosso planeta é dinâmico, onde
os materiais são transportados e modificados pela fusão, cristalização, erosão,
dissolução, precipitação, vaporização, decaimento radioativo, entre outras ati-
vidades (ROSE et al., 1979). O tempo de residência dos materiais pode variar
bastante, por exemplo, uma molécula de água pode permanecer 100.000 anos
numa geleira, 1.000 anos num aquífero, 7 anos num lago, 10 dias numa nuvem
ou apenas algumas horas no corpo de um animal (MURCK et al., 1995). O pes-
quisador Goldschmidt, um dos pioneiros na padronização dos estudos geoquími-
cos, sugeriu uma classificação baseada no comportamento geoquímico desses
elementos (Figura 1), dividindo-os em (KRAUSKOPF, 1972):
1. Siderófilos - com afinidade pelo ferro e se concentrando no núcleo da Terra:
Co, Ni, Mo, Au, Ge, Sn, C, P;
2. Calcófilos - com afinidade pelo enxofre e concentrados nos sulfetos: Cu, Ag,
Zn, Cd, Hg, Ga, In, Tl;
3. Litófilos - com afinidade pela sílica e concentrados na crosta terrestre sob a
forma de silicatos: Li, Na, K, Rb, Cs, Be, Mg, Ca, Sr, Ba;
4. Atmófilos - presentes como gases na atmosfera: H, C, N, O, He, Ne, Ar;
5. Biófilos - comumente encontrados nos organismos vivos: C, H, O, N, P, S,
Cl, I, certos metais traço V, Cu, Mn e B.

Figura 1 – Classificação de Goldschmidt dos elementos químicos


Fonte: Wikimedia Commons

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UNIDADE Aplicações da Ferramenta Hidrogeoquímica

Esta classificação é considerada eficiente para explicar a distribuição dos elementos


menores e traço em minerais e rochas principalmente para os elementos litófilos.
No entanto, pode confundir o investigador quando envolve variáveis consequentes
de processos antropogênicos (urbanização, agropecuária, indústria etc.)

Sob condições naturais, os elementos químicos agrupam-se segundo regras


de comportamento e de afinidade. Desses relacionamentos íntimos e previsíveis
surgiram conceitos como o dos “elementos farejadores”, apresentados como
“aqueles com propriedades particulares, que fornecem anomalias ou halos mais
facilmente utilizáveis que os dos elementos procurados aos quais eles estejam
associados” (WARREN & DELAVAULT, 1958). Entretanto, o conhecimento
prévio do comportamento destes elementos farejadores é muito bem aplicável sob
condições naturais, quando se detecta a interferência humana, podemos vivenciar
comportamentos imprevisíveis e até mesmo absurdos.

Por exemplo: Uma situação em que detectamos urânio em formações de


basalto. Em ambientes naturais, não é possível a associação geoquímica de basalto
e urânio, entretanto em solos de formação basáltica que sejam submetidos a
práticas agrícolas com aplicação de fertilizantes fosfatados, estes produzidos com
matéria-prima naturalmente rica em urânio, faz com que os resultados absurdos se
transformem em coerentes (SOUZA, 1998).

Incoerências hidrogeoquímicas podem ser comuns em áreas de passivos


ambientais, por exemplo em depósitos de resíduos sólidos urbanos. Quanto mais
avançado for o estágio de industrialização de uma concentração humana, mais
complexa será a composição química de seus resíduos sólidos, efluentes líquidos e
emissões atmosféricas. Estudos ambientais de Alves e Bertolo (2012) confirmaram
que a alteração na composição das águas subterrâneas pelos lixiviados passa,
ao longo do tempo e do espaço, por diversos processos biogeoquímicos que
são responsáveis pela formação de diferentes zonas redox no meio ambiente
subterrâneo. Essas zonas-redox condicionam o comportamento das diversas
substâncias oriundas do próprio lixiviado e outras que resultam da interação
entre a água subterrânea, lixiviado e meio geológico. Algumas dessas substâncias
podem causar riscos à saúde humana e a receptores ecológicos.

Halo geoquímico é a região que contém teores anormalmente elevados ou reduzidos


Explor

de elementos químicos nas rochas encaixantes, solos, vegetação, águas superficiais e


subterrâneas, de modo a revelar a presença de um alvo geoquímico. A origem do halo
geoquímico está relacionada com os processos de formação do alvo (halo geoquímico
primário), ou de sua destruição supergênica (halo geoquímico secundário) (LICHT, 2001).

Portanto, em áreas de perturbação e de degradação ambiental, os processos


hidrogeoquímicos acontecem para estabelecer novas relações de equilíbrio, já que
os materiais se encontram sob condições ambientais diversas daquelas em que foram
formados. Tentar entender tais processos é importante para o monitoramento e
para a recuperação de passivos ambientais.

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Mobilidade dos Elementos Químicos
A mobilidade de um elemento pode ser definida como a facilidade com que ele
se move num certo ambiente. A dispersão hidromórfica de um elemento pode
ocorrer na forma de íons livres ou íons complexos em solução, adsorvidos ou co-
precipitados em sólidos finos (óxidos hidratados, argilominerais, matéria orgânica)
ou em coloides.

Algumas características naturais dos elementos contribuem para aumentar ou di-


minuir sua mobilidade, por exemplo: estado de oxidação (valência) e potencial iônico.

O elemento cromo possui diferentes estados de oxidação (+2, +3, +4, +5, +6).
A mobilidade do cromo é muito baixa em todo o tipo de ambientes (oxidantes,
redutores, ácidos, neutros ou alcalinos). Nos solos a forma Cr6+ é mais móvel
que a forma Cr3+, no entanto, aquela reduz-se rapidamente (algumas semanas)
para esta última. O cromo é um elemento essencial para alguns organismos,
sob a forma Cr3+ é considerado relativamente inofensivo, mas sob a forma Cr6+
é altamente tóxico ao homem e a algumas espécies de fauna e flora (MAHAN &
MYERS, 1995).
O potencial iônico é obtido pelo quociente da carga iônica pelo raio iônico. Os
elementos com baixo potencial iônico como Cu, Pb, Zn, Cd e Ag são solúveis como
simples cátions. Os elementos com potencial iônico intermediário, como Ti e Sn,
são imóveis em virtude de sua baixa solubilidade e forte tendência à adsorção em
superfícies. Aqueles elementos com potenciais iônicos muito elevados combinam-
se com o oxigênio e formam oxiânions solúveis (PO42-, SO42-, MoO42-).

Dispersão hidromórfica é a dispersão que acontece por meio de fluidos líquidos, geral-
Explor

mente pela água.


Coloides são partículas do solo de reduzido tamanho (entre 10-4 e 10-7 cm) que apresentam
cargas em sua superfície capazes de reter íons de forma trocável.
Adsorção é definida como a atração de íons ou moléculas às superfícies de corpos sólidos
com os quais entrem em contato.

Algumas características ambientais também contribuem para aumentar ou


diminuir a mobilidade dos elementos químicos, por exemplo: pH, Eh, presença
de óxidos hidratados de Fe, Mn, Al, presença de matéria orgânica, de argila,
permeabilidade e porosidade.

Do grupo de características ambientais que governam a mobilidade dos elementos


em solução, talvez o conjunto pH e Eh seja o mais importante. Assim, a química
de muitos elementos no ambiente superficial pode ser representada por meio de
diagramas Eh/pH (Figura 2).

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UNIDADE Aplicações da Ferramenta Hidrogeoquímica

+0.7 O2 +0.7
H2O O2
+0.6 H2O +0.6
MnO2
+0.5 +0.5
+0.4 +0.4
+0.3
Fe (OH)3 +0.3 Mn2O3
+0.2 +0.2
+0.1 +0.1
Mn++ Mn3O4
Fe++
+0.0 +0.0

Eh (V)
Eh (V)

-0.1 -0.1
-0.2 -0.2
H2O Fe3(OH)8 H2O

Mn(OH)2
-0.3 -0.3
-0.4 H2 -0.4 H2
-0.5 Fe (OH)2 -0.5
3 4 5 6 7 8 9 pH 3 4 5 6 7 8 9 pH
Fe++ solúvel Fe insolúvel Mn++ solúvel Mn solúvel

Figura 2 – Diagramas Eh/pH para os elementos químicos ferro e manganês

Para você compreender a leitura desses diagramas, observe nos dois gráficos da
Figura 2 que os íons Fe2+ e Mn2+ permanecem em solução ou quando o pH é ácido ou
quando o Eh é negativo (condições redutoras). Mas atenção, o uso desses diagramas
deve ser criterioso, pois em muitas situações naturais os controles dos estados redox
e das reações de dissolução/precipitação dependem muito mais da cinética do que
dos fatores de equilíbrio. Por exemplo, as condições de Eh/pH podem indicar que
o Fe2+ seja a forma estável, mas, se a taxa de dissolução for baixa o Fe2O3 poderá
persistir indefinidamente no ambiente considerado. Além disso, diagramas de Eh/
pH são válidos apenas para condições especiais de temperatura e pressão (25°C e
1 atm) e com concentrações iônicas controladas, desse modo quaisquer variações
na composição iônica podem alterar os relacionamentos da estabilidade. Outro
cuidado que você deve ter nas suas investigações ao fazer uso desses diagramas,
é que essas relações de equilíbrio entre minerais e soluções são mais prováveis
quando se tratam dos macroelementos. O comportamento dos elementos traços é
mais complexo, com trocas sutis de fases (sólida, líquida e gasosa). Uma dica é usar
os diagramas Eh/pH apenas para direcionar o levantamento das suas hipóteses.
As quais serão testadas considerando-se mais variáveis e processos. A Tabela 1 de
Rose et al. (1979) também pode ser usada para direcionar suas hipóteses quanto a
mobilidade de alguns elementos químicos.

Tabela 1 – Mobilidade de alguns elementos químicos em relação ao pH e a condições redutoras (Eh negativo)
Condições Ambientais
Mobilidade Relativa pH 5 - 8 pH < 4 Redutoras
Altamente Móveis Cl, Br, I, S, Rn, He, C, N, Mo, B Cl, Br, I, S, Rn, He, C, N, B Cl, Br, I, Rn, He
Ca, Na, Mg, Li, F, Zn, Ag, U, As, Ca, Na, Mg, Sr, Hg, Cu, Ag, Co, Ca, Na, Mg, Li, Sr, Ba, Ra,
Moderadamente Móveis
(Sr, Hg, Sb?) Li, F, Zn, Cd, Ni, U, V, As, Mn, P F, Mn
K, Rb, Ba, Mn, Si, Ge, P, Pb,
Pouco Móveis K, Rb, Ba, Si, Ge, Ra K, Rb P, Si, Fe
Cu, Ni, Co, (Cd, Be, Ra, In, W)
Fe, Al, Ga, Ti, Hf, Th, Sn, ETR,
Fe, Al, Ga, Sc, Ti, Zr, Hf, Th, Sn, Fe, Al, Ga, Sc, Ti, Zr, Hf, Th,
Platinóides, Au, Cu, Ag, Pb,
Muito pouco Móveis ETR, Platinóides, Au, (Cr, Nb, Sn, ETR, Platinóides, Au, As,
Zn, Cd, Hg, Ni. Co, As, Sb, Bi,
Ta, Bi, Cs?) Mo, Se
U, V, Se, Te, Mo, In, Cr, Nb, Ta
Fonte: Rose et al. (1979)

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Existe uma falta de critérios e, até mesmo, de padroni-
zação de metodologia para realização de análises com
água, efluentes, solo e resíduos. Por que eu digo isto?
Apesar de existirem normas, passo a passo sobre téc-
nicas analíticas para laboratório, muitos pesquisadores
fazem ataque ácido para trabalhar com todos os tipos
de amostras em estudos hidrogeoquímicos. O que
acontece com este ataque ácido? Força a mobilização
de vários elementos químicos, resultando em elevadas
concentrações de espécies que, muitas vezes, não se-
riam mobilizadas no meio onde estão originalmente.
Por exemplo, o lixiviado, os resíduos, o solo de um de-
pósito de resíduos antigos, com pH alcalino, com ele-
vada alcalinidade (proporcionando um alto poder de
tamponamento). Fazer ensaios de lixiviação com tais
amostras libera quantidades muito maiores de ele-
mentos químicos do que o meio onde eles estão iriam
liberar naturalmente. Para esses casos, onde a variação
de pH não é muito variável e não baixa de 7, aconselho
a fazer ensaios de solubilização.

Os óxidos hidratados de Fe, Mn e Al podem ser derivados do intemperismo de


minerais formadores de rocha, de minerais-minério ou de resíduos de atividades
antrópicas. Quantidades importantes de metais podem ser precipitadas, oclusas
ou adsorvidas a estes óxidos hidratados (LICHT, 2001). A facilidade com que tais
metais são liberados ou extraídos varia de acordo com a natureza das ligações
e das condições do óxido hospedeiro. Os metais que foram precipitados ou
adsorvidos podem ser liberados novamente, quando submetidos a ambientes
químicos mais ácidos (por exemplo, água da chuva que é levemente ácida, como
foi visto na Unidade 3). Os óxidos hidratados de Fe e Mn são particularmente
interessantes pois eles acabam incentivando a adsorção e a precipitação de outros
elementos químicos, por exemplo o cobre e o zinco. Estes dois são mais móveis,
principalmente em ambientes ácidos, mas com a presença dos óxidos hidratados
de Fe e Mn, eles acabam precipitando também. Geralmente, os óxidos de Fe
e Mn têm uma importância maior que os de Al e Si, pois têm capacidades de
sorção mais elevadas, se dissolvendo à medida que o potencial redox decresce e
precipitando novamente à medida que o sistema se torna mais oxigenado. Estes
óxidos hidratados, principalmente os de Fe e Mn, possuem um importante papel
na capacidade de autodepuração do solo e das águas, pois são os principais
controladores da fixação de metais pesados (JENNE, 1968), que são prejudiciais
ao homem e a algumas espécies de fauna e flora.

Agora, vamos falar um pouco sobre a matéria orgânica. Os compostos orgâ-


nicos naturais incluem: carboidratos; hidrocarbonetos; álcoois, ácidos orgânicos,
gorduras e graxas; aminoácidos e proteínas; substâncias húmicas; porfirinas, vi-
taminas, pigmentos e outros complexos. Você deve estar careca de saber que
uma grande parte dos nossos resíduos e efluentes possui grandes quantidades de
matéria orgânica. E tudo isso está sendo despejado no meio ambiente, sobre o
solo e nos corpos hídricos. Em virtude de suas propriedades singulares quando

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UNIDADE Aplicações da Ferramenta Hidrogeoquímica

comparada com outros materiais naturais, mesmo quantidades muito reduzidas


de matéria orgânica podem mostrar efeitos importantes na química dos elemen-
tos traço. Tais efeitos incluem a complexação de íons traço por matéria orgânica
dissolvida, o que resulta em aumento de mobilidade dos elementos, adsorção ou
formação de compostos orgânicos, resultando em imobilização e redução a esta-
dos de valência mais baixa, com mudanças nas propriedades químicas.

Complexação é uma reação química que une metais a ligantes orgânicos por adsorção na
Explor

superfície sólida. De maneira resumida, na complexação um íon metálico reage com um


ligante formando um complexo suficientemente estável.

Os metais ligam-se à matéria orgânica de diversas maneiras:


• Ácidos orgânicos contendo grupos –COOH, –OH ou similares, podem
formar sais orgânicos nos quais os metais ocupam o local do H+ ionizável,
geralmente com ligações moderadas;
• Os metais podem ser ligados diretamente ao carbono formando compostos
organometálicos, ou então ao N, O, P ou S com ligações fortes. Em muitos
compostos orgânicos os metais são quelados, ou seja, ligado a duas ou mais
posições na molécula por meio de ligações muito fortes;
• Os metais também podem ser atraídos eletrostaticamente a partículas
coloidais de matéria orgânica por meio de ligações fracas.
Sobre as argilas, antes de começar a falar sobre suas propriedades geoquímicas,
é importante mencionar aqui, que as argilas que tratamos em hidrogeoquímica
não é a parte fina do ensaio de peneiramento de amostras de solo. Quando me
refiro às argilas, me refiro ao componente argilo-mineral, que nada mais é que
um aluminosilicato (fase coloidal de solos e águas). As argilas podem ainda ser
diferenciadas quanto a sua capacidade de troca catiônica (CTC):
• Argilas cauliníticas possuem CTC menor, pois apenas uma camada carregada
está exposta aos processos de sorção e as posições de troca já estão ocupadas
por íons hidrogênio;
• Argilas esmectíticas apresentam CTC maior, já que têm duas camadas
disponíveis e maior deficiência de carga.

Portanto, a capacidade de sorção em ambientes com intemperismo de argilas


esmectíticas é maior que em ambientes de argilas cauliníticas.

Capacidade de troca catiônica ou capacidade de troca de cátions (CTC) é uma característica


Explor

do solo que representa a quantidade total de cátions retidos à superfície desses materiais
em condição permutável (Ca2+, Mg2+, K+, Na+, Al3+ e H+).

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Por fim, somente para concluir o raciocínio sobre as características ambientais
e a mobilidade dos elementos químicos. É importante saber que quanto mais
permeável um meio, maior a possibilidade de migração dos fluidos contidos e por
consequência maior a possibilidade de interação desse fluido (água e efluentes) com
o meio sólido hospedeiro (solo e rochas). A intensidade do intemperismo químico
do meio sólido pelo fluido circulante e da remoção da carga iônica produzida por
esse ataque será uma função direta da porosidade e da permeabilidade do meio
sólido, assim como do poder corrosivo da solução migrante.

A circulação e migração dos fluidos em qualquer


meio sólido está diretamente relacionada com a
capacidade desse meio de armazenar fluidos nos
seus vazios estruturais (porosidade), assim como
da possibilidade desses fluidos migrarem e circu-
larem através desse meio sólido (permeabilidade).

Dados Hidrogeoquímicos
em Estudos Ambientais
A importância dos microelementos na saúde humana e na nutrição é bem
conhecida e não existe mais dúvida quanto à existência de padrões de distribuição
geográfica na incidência de muitas moléstias (WEBB, 1975). Diversas doenças
são relacionadas à ingestão desequilibrada dos elementos, dentre as quais estão os
excessos de cádmio, mercúrio e chumbo e as deficiências em ferro e zinco. Por
outro lado, apesar da associação de patogenias com o ambiente geoquímico ser
rara, sabemos que é uma relação de “causa e efeito” que não pode ser descartada.
Alguns estudos ambientais sugeriram relações entre a dureza da água com doenças
cardiovasculares; o chumbo com esclerose múltipla; o cádmio com hipertensão e
aterosclerose; o alumínio com mal de Alzheimer e; uma gama de diversos elementos
e diversos tipos de câncer (LICHT, 2001). Existem, por isso, diversas razões para
a produção de mapas geoquímicos no interesse da saúde humana, os quais em
circunstâncias adequadas podem ser valiosos para um epidemiologista, médico
sanitarista ou autoridades sanitárias em geral, e no estabelecimento de políticas
públicas de gestão ambiental.

Bokonbaev et al. (1996) apresentou uma investigação sobre os impactos


provocados pelas atividades mineiras e industriais da região do complexo mineiro na
Ásia Central. Os pesquisadores identificaram elevados valores de vários elementos
químicos (Be, Pb, Zn, Sn, Mo, Th, Cr, Co, V, Cd, Pb, Ni, Y e Mo) no solo, nas
culturas de batata, cevada e aveia, bem como encontraram elevadas concentrações
de chumbo no plasma sanguíneo de mulheres e crianças.

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UNIDADE Aplicações da Ferramenta Hidrogeoquímica

Na China, pesquisadores indicaram uma possível relação da infertilidade endê-


mica (mal de Jashi) com a biogeoquímica. Nas águas potáveis das áreas de ocor-
rência deste quadro clínico, os teores de Mg, SO4, Na, K e Sr são muito elevados,
contrastando com os de Zn e Mn que são extremamente baixos. Uma importante
constatação foi que os indivíduos afetados pela doença que mudaram a fonte de
água ou que migraram para outras regiões tiveram os efeitos da infertilidade atenu-
ados e até mesmo eliminados (JIE & NIANFENG, 1995).

De Luca et al. (1990) caracterizaram quimicamente a poluição atmosférica


de Porto Alegre/RS, em uma região onde existe uma refinaria de petróleo, um
polo petroquímico, siderúrgicas e metalúrgicas, cimenteiras, fábricas de papel e
celulose, têxteis e curtumes. Constataram uma significativa ocorrência de chuvas
ácidas, com valores de pH, por vezes, menores que 4,0 e identificaram sulfatos,
cloretos e amônio como os principais poluentes atmosféricos e fora dos limites
padrões de qualidade do ar, segundo a resolução CONAMA vigente.
Os depósitos de resíduos sólidos são áreas com concentrações elevadíssimas
de materiais orgânicos e inorgânicos que produzem lixiviados de composição
química bastante complexa e variável ao longo do tempo (SHINZATO, 2014).
Alguns desses depósitos foram construídos sem cuidados de proteção do solo e das
águas, para onde estão lançando contínuas quantidades de lixiviado. O lixiviado de
aterros novos são quimicamente diferentes do lixiviado de aterros antigos, devido
às diferentes fases de decomposição e diferentes processos hidrogeoquímicos. De
maneira geral, em aterros novos podemos procurar por lixiviados com elevada
temperatura, pH ácido, com alta DBO, elevada concentração de nitratos e de
metais, incluindo metais pesados. Em aterros antigos encontraremos lixiviados
com temperatura próxima a temperatura ambiente, pH alcalino ou neutro, baixa
relação DBO/DQO, elevada concentração de amônia e concentrações traços de
metais pesados.

O que podemos esperar para os depósitos de resíduos antigos? É uma ótima per-
gunta para nós, que temos a missão de erradicar os lixões e gerenciar corretamente
aterros sanitários desativados por um longo período de tempo. Para começar, ao
saber que o pH é neutro ou alcalino, pode-se esperar pela deposição dos metais no
próprio maciço dos aterros, no solo do terreno logo abaixo das células de resíduos,
no fundo de lagoas de lixiviado e nos sedimentos de fundo dos corpos hídricos que
recebem o lixiviado. Existe a hipótese que devido a abundância de matéria orgânica
nestes depósitos e em seus efluentes, a quelação de metais é significativa.

Leia o artigo “Geoquímica de águas subterrâneas impactadas por aterros de resíduos


Explor

sólidos” dos autores Carlos Frederico Castro Alves e Reginaldo Antonio Bertolo (2012), que
trata sobre estudos hidrogeoquímicos em área de depósito de resíduos. Disponível em:
https://goo.gl/w7WLbB.
Leia também o artigo “Geoquímica das águas subterrâneas de um aterro de resíduos sólidos
urbanos em Araras, SP”, de Alves et al. (2014), que mostra os resultados de maneira gráfica
e distribuídos espacialmente (Figura 3). Disponível em: https://goo.gl/yX97Ga.

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Figura 3 – Exemplo da exposição de dados hidrogeoquímicos em depósitos de
resíduos - isoconcentrações de substâncias dissolvidas em um corte da área de estudo
Fonte: Alves et al, 2014

Efluentes de depósitos de rejeito de atividades de mineração também produzem


impactos geoquímicos ambientais significativos. Ações como a neutralização do
pH do efluente para imobilizar os elementos em uma bacia de decantação reduz
a quantidade de algumas espécies a serem lançadas no ambiente, mitigando os
prejuízos ambientais. Essas medidas corretivas e de isolamento dos rejeitos são
fundamentais, pois os recursos minerais são finitos e no momento da exaustão
da jazida, a empresa mineradora retira-se de cena, não existindo mais qualquer
responsável que promova as operações paliativas de neutralização da acidez dos
efluentes (LICHT, 2001). Por outro lado, existe a possibilidade de vazamentos e de
rompimento dessas barragens de contenção, temos o exemplo atual do rio Doce.
As atividades da agropecuária também são responsáveis por intensos e extensos
impactos geoquímicos ambientais. Isso ocorre pela adição de fertilizantes para
suprimento de carências específicas em micronutrientes e macronutrientes, pelo
uso de calcário visando a neutralização do pH e imobilização do Al3+, e pelo uso
de agrotóxicos clorados, fosforados, mercuriais e bromados, entre outros, para
controle e eliminação de pragas, para acelerar a colheita pela secagem das plantas
e para preservação dos produtos armazenados.
O tratamento de sementes por pesticidas metil-mercuriais foi muito comum em
décadas passadas. Na Suécia, essa técnica foi utilizada desde 1940. Na década
seguinte, foram identificados teores elevados de mercúrio em aves, outros animais
mortos, e em ovos de produção para consumo humano (TAYLOR, 1978 apud
EYSINK et al., 1988). Após a proibição do tratamento de sementes por esses
pesticidas, ocorrida em 1966, o nível de mercúrio nas aves decresceu sensivelmente
(PETERSON, 1973, apud EYSINK et al., 1988).

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UNIDADE Aplicações da Ferramenta Hidrogeoquímica

No Brasil, algumas restrições sobre pesticidas foram incluídas na legislação na


década de 90. Estimativas baseadas em dados dos receituários agronômicos indicam
que a agricultura do estado do Paraná consumiu cerca de 20.000 toneladas/
ano de pesticidas dentre os quais se incluem organoclorados e organofosforados
(ANDREOLI et al., 1997). A identificação de áreas contaminadas por pesticidas
é algo que preocupa a todos os que se envolvem nas questões ambientais. No
entanto, a coleta de amostras de solos, sedimentos de fundo e águas com essa
finalidade, é extremamente complexa e delicada.

Tem sido evidenciado que a presença, no ambiente, de resíduos de pesticidas, pode resultar
Explor

em aumento das taxas de mortalidade por neoplasias, malformações congênitas e suicídio,


na população exposta. Estudos hidrogeoquímicos para investigações sobre relações de
causa e efeito por pesticidas usados na agricultura ou de uso doméstico são importantes
para ações de mitigação de impactos ambientais e de proteção à saúde pública. Leia o
artigo “Agrotóxicos: é preciso controlar”, de Hess e Porto (2014), que traz uma abordagem
interessante sobre este tema. Disponível em: https://goo.gl/MSWkBx

As normas brasileiras que tratam sobre calcários agrícolas usados na correção da


acidez e neutralização do alumínio trocável dos solos, não dão atenção à presença de
elementos em quantidades traço (LICHT, 2001). Isso ocorre por diversos motivos,
como o fato da legislação ser de uma época em que as questões ambientais ainda
não estavam muito claras, as técnicas analíticas eram de baixa sensibilidade para
elementos traço e o conhecimento da ação dos elementos traço na fisiologia vegetal
era ainda muito incipiente. O calcário tem complexidade geoquímica, que se não
avaliada corretamente antes de ser empregada na agricultura, pode contaminar o
solo, as águas e as culturas com Pb e Cd.

Existem preocupações similares sobre o emprego de fertilizantes e a legislação


que trata sobre. Os elementos são identificados como macronutrientes primários
(N, P, K), macronutrientes secundários (Ca, Mg, S) e micronutrientes (B, Co, Fe,
Mn, Mo, Zn, Co). Materiais naturais ricos nestes macronutrientes e micronutrientes
podem ser naturalmente enriquecidos de substâncias não tão bem-vindas ao
ambiente, como Ba, Pb, Al, Cr, As, U entre outras.

Existem estudos ambientais que mostram que os teores de elementos indesejáveis


na agricultura não são tóxicos ou estão dentro dos limites estabelecidos em
legislação. Entretanto, devemos considerar que a aplicação dos fertilizantes numa
lavoura se repete anualmente e a soma dos processos vitais e dos físico-químicos
inerentes ao solo, vai gradativamente aumentar a biodisponibilidade dos elementos.
Adicionalmente, os processos erosivos que atuam sobre as camadas aráveis e
cultiváveis dos solos, transportarão uma grande carga de elementos químicos em
suspensão ou na forma iônica às águas superficiais e subterrâneas, que irão se
concentrar nos sedimentos dos locais onde ocorra quebra da energia de transporte
ou mudança das condições de pH e Eh, como acontece em ambientes lênticos.

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A Importância da Definição do
Objetivo de um Estudo Ambiental
Definir o objetivo de um estudo, de uma pesquisa, de um trabalho, de um projeto
é essencial para o planejamento de amostragem e análises. As variáveis requisitadas
variam conforme a finalidade proposta.

As principais variáveis curingas para estudos ambientais que analisam amostras


líquidas (de água, de esgoto, de lixiviado de depósitos de resíduos, de efluentes
industriais, dos extratos de lixiviação ou de solubilização etc.) são: pH, temperatura,
turbidez, condutividade elétrica, alcalinidade, os principais macrocomponentes, os
principais microcomponentes, coliformes termotolerantes, DBO, DQO, OD, série
de nitrogênio e fósforo. Para cada tipo de fluido e objetivo, solicita-se a inclusão
de outras variáveis. Estudos mais específicos para ecotoxicologia, limnologia,
contaminantes emergentes requerem a avaliação de variáveis diferenciadas.

A seguir, escrevo dicas de variáveis a serem incluídas, além das variáveis curingas,
para diferentes focos de investigação.

Para identificar ou modelar fenômenos que ocorrem em copos hídricos, pode-se


por exemplo incluir variáveis como clorofila, toxinas, presença e quantificação de
determinados microrganismos.

Sobre potabilidade das águas, viabilidade para captação de água para abastecimento
público, fica até mais fácil, pois temos que incluir todas as variáveis previstas na
legislação que trata sobre potabilidade das águas para consumo humano.

Quer fazer o enquadramento de um corpo hídrico? Investigue todas as variáveis


da legislação que trata sobre a classificação de corpos hídricos.

Você precisa saber se a qualidade do efluente da sua indústria para saber se ele
pode ser lançado diretamente no corpo hídrico, sem tratamento, ou se precisar de
tratamento, qual tipo de tratamento escolher. Para isto investigue todas as variáveis
da legislação que trata sobre padrões para lançamento de efluentes em corpos
hídricos. Lembre-se que antes disso, você deve saber previamente qual é a classe
deste corpo hídrico, pois as exigências mudam, conforme a classificação.

Você precisa saber a qualidade da água de um corpo hídrico para diagnosticar se


está poluído. Quando há suspeita de poluição de um corpo hídrico, normalmente
já se suspeita sobre quais poluentes poderão estar presentes no mesmo. Logo,
as variáveis podem ser escolhidas conforme estas suspeitas (observar as possíveis
fontes de poluição) e algumas variáveis gerais. Caso exista alguma avaliação da
qualidade da água deste corpo hídrico anterior ao evento de poluição, é bom ter
os resultados em mãos e repetir as variáveis para fazer a comparação do estado de
qualidade “antes e depois”.

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19
UNIDADE Aplicações da Ferramenta Hidrogeoquímica

Você precisa determinar algum índice ou gerar diagramas de composição (dia-


grama circular de distribuição, diagrama de Piper, diagrama de Stiff, diagrama de
Schoeller etc.), deve-se providenciar as análises que compõem tais índices e dia-
gramas. Outra observação, quando você irá usar algum software para realizar o
diagnóstico de qualidade ambiental, procure saber quais são as variáveis de entrada
para dar certo o uso do programa. E muito importante neste caso, é saber quais as
unidades de medida que os resultados devem ser inseridos no programa.

O estudo de análises químicas pode ser facilitado através da utilização de gráficos e


Explor

diagramas, principalmente quando se deseja fazer comparações entre várias amostras de


água, de um mesmo ponto ou de diferentes pontos: https://goo.gl/irh2Eq
O diagrama circular de distribuição, uma das formas mais usadas para análise dos dados, é o
famoso gráfico de pizza (A), que serve para a visualização das proporções dos conteúdos de
uma amostra, por exemplo. O diagrama de Piper é um gráfico de proporções em triângulos
(B) que permite a classificação das águas. É frequentemente usado para classificação e
comparação de distintos grupos de águas quanto aos íons dominantes. Esta representação
gráfica pode evidenciar possíveis relações entre íons de uma mesma amostra, ou ressaltar
variações temporais ou espaciais existentes: https://goo.gl/3sT5ca
O diagrama de Stiff (C) forma figuras geométricas em função das concentrações de cátions
e de ânions, favorecendo a análise visual da distribuição dos dados no espaço. Facilita a
identificação de águas de mesma família, por exemplo: https://goo.gl/7E9ybB
No diagrama de Schoeller (D) traça-se sequência de linhas unindo os pontos que
representam os valores dos cátions e ânions (em meq/L) usando uma escala logarítmica. A
escala logarítmica não é apropriada para observar pequenas diferenças na concentração de
cada íon entre diferentes amostras de água, mas é útil para representar e observar a relação
entre íons associados a inclinação das linhas. Facilmente consegue-se distinguir famílias de
águas (mesmo padrão): https://goo.gl/RUkTMB
O diagrama radial (E), semelhante ao diagrama de Stiff, é representado por figuras geo-
métricas que relacionam os teores dos principais íons de uma amostra de água. São muito
úteis para identificar águas com padrões semelhantes na distribuição dos seus elementos.
Os diagramas radiais podem ser muito úteis quando as figuras são inseridas em um mapa,
pois permite observar a existência ou não de uma tendência na região de estudo.
Fonte: https://goo.gl/WgEYP1

Você precisa determinar o estado de decomposição de um efluente, do lixiviado


de um aterro sanitário, por exemplo. Escolha as variáveis de caracterização do
processo de decomposição.

A maioria desses objetivos partem da análise de amostras não filtradas, incluindo


partes coloidais, dissolvidas e suspensas. Para alguns casos de investigação de
resíduo seco, sólidos voláteis, sólidos fixos, série de sólidos, pode ser necessário
algum tipo de filtração. Mas depende dos objetivos.

Você quer investigar a origem de uma água, entender misturas de águas,


condições climáticas ou biológicas de épocas passadas, origem de formações
rochosas, pode-se usar isótopos estáveis.

20
Explor
Isótopos estáveis de carbono, nitrogênio, enxofre, hidrogênio e oxigênio são considerados,
atualmente, ferramentas úteis aos fisiologistas, ecólogos e a outros pesquisadores
que estudam os ciclos de matéria e energia no ambiente. Nos últimos vinte anos, essa
técnica vem sendo aplicada em ambientes aquáticos e tem se mostrado muito eficiente
e promissora. Os isótopos estáveis de H e O são utilizados na determinação da composição
da água utilizada pelos vegetais, já os isótopos de C, N e S são utilizados para elucidar
vias fotossintéticas, processos fisiológicos nos vegetais ou na determinação das fontes de
alimento para consumidores em teias alimentares aquáticas ou terrestres (PEREIRA, 2007).
Os isótopos estáveis estão presentes nos ecossistemas e sua distribuição natural reflete, de
forma integrada, a história dos processos físicos e metabólicos do ambiente.

Você quer fazer trabalhos de modelagem hidrogeoquímica, o principal neste


caso é coletar e filtrar em campo as amostras líquidas, analisar o mais rapidamen-
te possível ou seguir os critérios de preservação das amostras. Além de variáveis
de qualidade da água, quase sempre é necessário incluir dados mineralógicos nos
estudos para melhorar a compreensão dos fenômenos, buscando identificar rela-
cionamentos das características naturais do ambiente natural com as alterações
produzidas pelo homem.

Importante! Importante!

Algumas verificações simples podem salvar sua interpretação, pois auxiliam a detecção
de possíveis erros analíticos, erros de digitação ou erros de interpretação. Dois exemplos
são: balanço iônico, correlação entre variáveis e análise estatística básica. Em uma
análise hidrogeoquímica completa, a concentração total, expressa em meq/L, de íons
positivos (cátions), deve ser aproximadamente igual à concentração de íons negativos
(ânions). O desvio percentual desta igualdade é determinado pelo coeficiente de erro
da análise. Programas podem calcular este erro automaticamente após a inserção dos
dados de entrada, mas você também pode calcular manualmente. A correlação entre
íons ou entre variáveis serve para você visualizar alguma incoerência nos resultados.
Você previamente sabe qual elemento tem boa correlação direta ou inversa com
outro elemento, ou qual variável tem correlação com outra variável. Partindo deste
conhecimento, alguma incoerência nos gráficos ou nos índices de correlação (R2) faz
aparecer um sinal de alerta sobre seus resultados. Ao trabalhar com um banco de dados
químicos e físicos, é importante elencar alguns valores característicos da estatística
(média, variância, máximo, mínimo, desvio padrão) para verificar a representatividade
e a variação dos seus resultados.

Vou citar dois programas de modelagem geoquímica usados no Brasil: PHREEQC


(software gratuito) e AQUACHEM (software pago). Para o uso desses softwares,
além dos resultados de análises laboratoriais ou de sondas, você deve entender
sobre detalhes mais específicos das reações químicas e físico-químicas, como força
iônica, energia livre de reação, balanço de massa, correlação entre as variáveis,
conversão de unidades de medidas, constantes de equilíbrio etc. Principalmente
para não correr o risco de gerar resultados falsos e laudos inconclusivos.

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UNIDADE Aplicações da Ferramenta Hidrogeoquímica

Os modelos geoquímicos mais usados são: (1) modelos de especiação, calcula


a distribuição de espécies químicas e seus índices de saturação, sendo possível
avaliar se ao acrescentar algum componente na água, o mesmo será diluído
ou precipitado; (2) modelos de previsão: simula a nova composição de uma
solução após uma reação química específica; (3) modelos inversos: determina
possíveis reações que levam uma água de montante se transformar em uma
água de jusante; (4) modelos de transportes combinados: calcula as reações e a
especiação ao longo de linhas de fluxo de um modelo de fluxo.

Queridos alunos, espero não ter assustado vocês com a apresentação de dados sobre estudos
Explor

ambientais. Apesar de buscarmos conforto, aumentar produtividade, melhorar a economia,


é necessário planejar nossas atividades a fim de garantir que o desenvolvimento sempre
aconteça de forma sustentável, com pesos iguais de prioridade para o desenvolvimento
econômico, o equilíbrio ecológico e o progresso social. Quando uma dessas prioridades
se sobressai a outras, algum desequilíbrio com certeza aparecerá, seja na paralização de
atividades, seja na destruição de ecossistemas, seja no aumento da desigualdade social.
Por isso, nossa profissão, apesar de desafiadora, traz uma autossatisfação, pois buscamos o
equilíbrio em todas as esferas.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
A Geoquímica Multielementar na Gestão Ambiental
LICHT, O.A.B. A geoquímica multielementar na gestão ambiental: Identificação e
caracterização de províncias geoquímicas naturais, alterações antrópicas da paisagem,
áreas favoráveis à prospecção mineral e regiões de risco para a saúde no estado do
Paraná, Brasil. 2001. 236f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Paraná,
Curitiba, 2001.
Geoquímica de Águas Subterrâneas
MERKEL, B.J. Geoquímica de águas subterrâneas: um guia prático de modelagem
de sistemas aquáticos naturais e contaminados / Broder J. Merkel, Britta Planer-
Friedrich; Darrell Kirk Nodstrom (org.); tradutor: Jacinta Enzweiler – Campinas, SP:
Editora da Unicampo, 2012. 245p.
Mobilidade de Elementos Químicos no Perfil de Solo e seu Controle na Prospecção Geoquímica
SANTOS, C.C. Mobilidade de elementos químicos no perfil de solo e seu controle
na prospecção geoquímica: Aplicação na região de Santa Maria da Vitória, BA.
2014. 132f. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Geociências – Universidade de
Brasília, Brasília, 2014.
Mobilização de Poluentes no Maciço de Resíduos de Lixão Desativado
SHINZATO, M.P.B. Mobilização de poluentes no maciço de resíduos de lixão
desativado. 2014. 151f. Tese (Doutorado) - Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo, São Carlos, 2014.

23
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UNIDADE Aplicações da Ferramenta Hidrogeoquímica

Referências
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por aterros de resíduos sólidos. Águas Subterrâneas (2012) 26(1): 43-64.

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ANDREOLI, C.V.; BONNET, B.R.P.; LARA, A.I.; WOLTER, F.R. Proposição de


plano de monitoramento da reciclagem agrícola de lodo de esgoto no Estado
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SHINZATO, M.P.B. Mobilização de poluentes no maciço de resíduos de lixão


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WHITE, W.M. Geochemistry. Oxford: Blackwell-Wiley, 2005. 672p.

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Você também pode gostar