Você está na página 1de 5

Monitoria em Psicologia Social: um relato de experiência

Giovanna Rodrigues Martins; Carlos Macedo Menescal; Tiago Deividy Bento


Serafim.

Resumo:
O presente relato de experiência é proveniente da atividade de dois monitores
voluntários da disciplina de Psicologia Social II, da Unileão, que está se dando de
maneira remota por conta da pandemia de COVID-19 iniciada em 2020, em que se
teve a necessidade de manter as atividades educacionais funcionando de maneira
virtual. Tem como objetivo relatar uma experiência de aprendizagem, trazendo a
base crítica de Vygotsky e Paulo Freire, utilizando principalmente de recursos
audiovisuais e literários para engajar os alunos assistidos pela via dos afetos, em
busca de superar a falta de motivação ou interesse dos discentes. Em consequência
do contexto que se vive, o papel do monitor se torna ainda mais importante, levando
em conta as dificuldades que os alunos encontram em se manterem ativos nas aulas
e demais atividades acadêmicas à distância. Esse apoio extra que os alunos
assistidos possuem, permite que tenham um maior suporte em questão de
acompanhamento da compreensão e assimilação do conteúdo, tendo em vista que a
monitoria tenta criar um ambiente horizontal, onde pretende ser um espaço de
construção e apoio em conjunto, para que se faça a compreensão da disciplina e
não da mera memorização. Ademais, a atividade dos monitores permite que os
mesmos vivenciem de forma concreta e supervisionada a prática da docência,
podendo observar o que funciona ou não na interação de ensino-aprendizagem,
além de permitir ousar em diferentes formas de entender os conteúdos a partir de
onde o aluno sabe, e enlaçar os objetos de estudo entre si e com seu contexto.

Palavras-chave: Monitoria remota. Recursos audiovisuais. Recursos literários.

INTRODUÇÃO
É de praxe entender que o processo de aprendizagem se dá a partir daquele que sabe
para aquele que não-sabe, ocupando essas posições estão respectivamente o professor e o
aluno. Para sair dessa relação didática tradicional, é necessário que ambas as partes entendam
que esse processo é de ensino-aprendizagem, mutuamente, e que possuem papéis ativos nesta
relação, ou como Freire (1996, p. 13) nos afirma, “quem ensina aprende ao ensinar e quem
aprende ensina ao aprender”.
Não apenas dentro da sala de aula, mesmo que esta se configure em formato virtual,
mas em diversas situações em que ocorre o ato de ensinar-aprender, o autor supracitado nos
diz que respeitar o conhecimento prévio que cada um é fundamental, devendo-se então
trabalhar a partir daí. Todos ocupam o lugar de saber e também o de não-saber, sendo o
conhecimento construído a partir de relações dialógicas, que leva em conta aspectos sócio-
políticos-culturais (MIZUKAMI, 1986).
Complementando a visão de Freire, o psicólogo Lev Vygotsky encara a relação
indivisível entre cognição e afeto, ou seja, de forma que “a vida emocional está conectada a
outros processos psicológicos e ao desenvolvimento da consciência de um modo geral”
(OLIVEIRA; REGO, 2003, p. 19). Com isso, entende-se a afetividade como uma ferramenta
poderosa para o processo de saída da alienação que é a educação tradicional, levando sempre
em conta a cultura, a experiência e as interações com os indivíduos. Logo, essa vida afetiva,
“mediada pelos significados construídos no contexto cultural em que o sujeito se insere" (p.
23), influencia diretamente na maneira como é desencadeado a ação e o pensamento, devendo
ser também pauta para discussão no processo de ensino-aprendizagem, independente do
conteúdo (SAWAIA, 2001).
Entender o processo da educação libertadora de Paulo Freire, é ser capaz de não negar
a realidade afetiva do ser humano, porque isso é dialogar sobre uma existência politizada,
ativa (FREIRE, 1996). A discussão horizontal acerca do conteúdo programático, que pode
parecer tão distantes do contexto dos alunos, mas, tratando-se da disciplina de Psicologia
Social II, temas como ideologia, alienação, exclusão, representações sociais, linguagem,
libertação, entre outros, estão entranhados na nossa constituição como sujeito.
Em ciência deste método de base crítica e optando pela afetividade, cabe ao aluno-
monitor inserido no Programa de Monitoria, de acordo com as diretrizes da Coordenação de
Pesquisa e Extensão (COPEX), possuir a intenção em sua prática de contribuir para a
melhoria da qualidade de ensino-aprendizagem da disciplina em que atua, colaborando para o
desenvolvimento das atividades técnico-didáticas e auxiliando na comunicação professor-
alunos. De acordo com pesquisas de Cunha et al. (2016), uma forma de alcançar os objetivos
citados anteriormente é por meio de recursos audiovisuais e literários (fictícia, prosa,
poemas), em busca de um processo de ensino-aprendizagem mais significativo e próximo de
todos. A função dessas ferramentas não seria substituir a leitura de textos, que possuem
embasamento científico, mas deixar mais atraente, motivar a pesquisa do assunto e mostrar
para o grupo que o conteúdo não precisa ficar apenas na teoria.
Como atualmente as aulas estão ocorrendo no formato remoto, como é o caso da
disciplina de Psicologia Social II, muitos empecilhos são encontrados, como a conexão falha
da internet, a não adaptação a esse tipo de modelo, menor interação na aula, a fácil distração
recorrente ao longo da explicação, a dificuldade em estabelecer um vínculo entre sala-
professor por conta do tempo restrito, entre outros. Com isso o papel do monitor se faz
essencial na tentativa de evitar desmotivação, evasão e repetência das turmas assistidas.
Logo, o objetivo do presente trabalho é buscar relatar uma experiência de
aprendizagem, de dois monitores da disciplina de Psicologia Social II, do curso de Psicologia,
do Centro Universitário Doutor Leão Sampaio (UNILEÃO), trazendo a base crítica de
Vygotsky e Paulo Freire, utilizando principalmente de recursos audiovisuais e literários para
engajar os alunos assistidos pela via dos afetos, em busca de superar a falta de motivação ou
interesse dos discentes.

O RELATO DE EXPERIÊNCIA
O principal recurso da monitoria são os encontros aos sábados de tarde, que tiveram
início em Abril de 2021 e atualmente em curso, em que ocorrem as reuniões pela plataforma
Google Meet, onde há uma troca instantânea entre monitores e alunos, além de uma
construção de raciocínio em conjunto. A escolha do dia, em ser final de semana, se deu
pensando em discentes que durante a semana trabalham, e poderiam não ter a oportunidade de
participar nos dias de semana. Além disso, tenta-se acompanhar o ritmo de ensino dos
conteúdos do professor nas duas turmas (vespertino e noturno), para que a monitoria sirva
como um complemento do que é dito.
Antes de iniciar-se o momento da monitoria, apenas os dois monitores fazem um
rápido planejamento de como será o encontro, mas tendo a ciência de que não se prenderão a
esse delineamento, pois ambos entendem que apesar de utilizarem um texto-base para
nortearem suas falas, o debate sempre será algo orgânico, pois dependerá do que os
participantes do encontro irão trazer para a discussão. Ademais, como em cada reunião altera-
se a quantidade de alunos, sendo uma média de oito em cada encontro, e quais participam, a
conversa nunca seguirá um mesmo caminho.
As reuniões sempre são iniciadas com um vídeo, um trecho de um filme ou de um
livro, cuja escolha tem como propósito aguçar a análise crítica, articulando com os preceitos
éticos da Psicologia em uma atuação comprometida com a transformação social. A mídia que
é trazida no início é constantemente relembrada ao decorrer da reunião, ao serem feitas
correlações entre ela e o que está sendo visto. De forma que esse recurso serve tanto para
exemplificar conceitos, como também fazer com que todos os presentes relembrem de algum
outro material ou situação, que também podem ser expostos na discussão. Como por exemplo,
o filme O Poço (2019), trazido por uma das alunas ao se debater sobre alienação, e o livro
Homo Deus (2016), também recomendado por outra discente, ao conversar sobre exclusão.
Os monitores percebem que o objetivo de os alunos engajarem na conversa, não
ficarem apenas passivos, e realizarem interligações com outras mídias, quase sempre é bem
sucedido, como exemplo de uma aluna que comentou da série Round 6 (2021), estreada no
final de Setembro do corrente ano, e que comentou-se dela no encontro de monitoria da
mesma semana, sobre exclusão. Nos mostrando que o conteúdo debatido foi entendido e
aplicado, não apenas memorizado.
Outro ponto relevante, é quando o próprio grupo se ajuda no entendimento dos
questionamentos, podendo-se ilustrar quando os monitores trouxeram o Mito da Caverna de
Platão para falar sobre alienação, e uma aluna auxiliou a outra a entender e identificar a
metáfora dos elementos presentes no mito. Também quando um aluno explicou o fato do
sujeito ser histórico-social, ativo, em relação dialética com o mundo externo a ele,
comparando os indivíduos a flocos de neve, que apesar de serem formados pela mesma
nuvem, são completamente diferentes uns dos outros. Nesses momentos, os monitores
percebem que está realmente ocorrendo o processo ensino-aprendizagem, ou seja, não
separados, mas sim concomitantes.
Ao utilizar os recursos audiovisuais e literários para que a partir deles se possa ser
criado outras hipóteses para as cenas, objetivando acolher mais o conteúdo, esta ocasião pode
ser exemplificada no momento em que um dos monitores leu um trecho do conto Duzu-
Querença, que faz parte do livro Olhos D'água (2014). Nesta situação, um dos alunos
presentes, apesar de não saber de todo o contexto do conto, criou hipóteses do que poderia
ocorrer e do que havia ocorrido com a personagem, traçando paralelos com o conteúdo do
texto em questão, que se tratava de exclusão.
Outro recurso de suporte são os slides confeccionados pelos próprios monitores, que
servem apenas para orientar e desencadear as questões que estão sendo debatidas, já que o
programa de monitoria também agrega justamente para isso, estimular os alunos-monitores no
exercício da elaboração oral de conteúdos (desenvoltura em sala) e aprender a estimular
grupos que não estão tão ativos no processo de ensino-aprendizagem. Independente se a
prática docente será escolhida ou não, futuramente pelos monitores, os momentos que são
vivenciados na monitoria servem para observar de forma prática como as teorias utilizadas
por estes são palpáveis e legítimas, sendo assim aplicadas não apenas no contexto educacional
formal, mas em qualquer âmbito que o futuro psicólogo deseje seguir.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A disciplina de Psicologia Social II, pela estrutura basilar da ementa curricular, deve
ser construída por meio de uma relação educativa dialógica, da agregação de saberes em
conjunto, mantendo a horizontalidade e disposição em aprender com o outro. Contudo, talvez
por as turmas ainda estarem acostumadas ao método tradicional de ensino, os monitores
perceberam que apesar de haver ainda situações de sucesso na superação desse modelo, a
maioria das turmas ainda mostra certa indisponibilidade para frequentar os encontros da
monitoria, bem como pouca interação, e consequentemente, um menor empenho em se tornar
um indivíduo ativo em seu processo de ensino-aprendizagem.
Com isso, percebe-se que os objetivos foram parcialmente atingidos, fazendo com que
os monitores necessitem pensar em outras estratégias para atrair os alunos que ainda não se
interessaram pela monitoria. Contudo, a partir das bases teóricas de Paulo Freire e Vygotsky,
os recursos audiovisuais e literários se mostraram eficazes em instigar o debate e em
promover reflexões críticas aos alunos que frequentavam os encontros, tendo em vista a
adesão e o engajamento durante as atividades.
Outro quesito positivo, novidade para a experiência dos dois monitores, é a vivência
da monitoria em conjunto, onde o planejamento inicial e as trocas de ideias sobre os
momentos das reuniões se complementam e até se entusiasmam. De modo que se vive uma
prática extremamente enriquecedora, sugestionando assim que o programa de monitoria
deveria ocorrer de forma mais grupal entre os selecionados.

REFERÊNCIAS
CUNHA, Marcelo Machado et al. Contribuição dos textos, imagens, recursos audiovisuais,
mapas conceituais e jogos eletrônicos no processo de explicação de conteúdos. In: Encontro
Internacional de Formação de Professores - ENFOPE, Fórum Permanente Internacional de
Inovação Educacional - FOPIE, 2016, Aracaju, v. 9, n. 1, Anais. Aracaju: UNIT, maio. 2016.
Disponível em: <https://repositorio.ifs.edu.br/biblioteca/handle/123456789/265>. Acesso 3 de
out 2021

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25. ed.
São Paulo: Paz e Terra, 1996.

MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU,
1986.

OLIVEIRA, Marta Kohl; REGO, Teresa Cristina. Vygotsky e as complexas relações entre
cognição e afeto. In: ARANTES, Valéria Amorim (Org). Afetividade na escola. São Paulo:
Summus, 2003. p. 13-34.

SAWAIA, Bader. As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade


social. 14. ed. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2001.

Você também pode gostar