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All content following this page was uploaded by Rafaele Paulazini Majela dos Santos on 27 December 2022.
RESUMO
As perguntas que orientaram o estudo foram: Como as professoras de Educação Infantil percebem a
afetividade? Como a afetividade se apresenta nas relações cotidianas entre docentes e coordenadora da
área de Educação em um Centro de Educação Infantil? O trabalho teve por objetivo mapear como a
afetividade, nas relações entre professoras e coordenadora, ocorre em um CEI da rede pública, localizado
na cidade de São Paulo. Os sujeitos da pesquisa foram cinco professoras e uma coordenadora. A
metodologia utilizada foi de cunho qualitativo, e os instrumentos de coleta de dados foram a observação
nos diferentes espaços do CEI e as entrevistas semiestruturadas com as professoras e com uma
coordenadora. Os resultados apontam que a afetividade, no CEI estudado, é pouco reconhecida nas
relações interpessoais do grupo gestor da escola, fato este que traz implicações no desenvolvimento do
trabalho conjunto da unidade escolar. Segundo as professoras entrevistadas, a coordenação pedagógica
funciona como um suporte para todo o trabalho desenvolvido no CEI; por essa razão, elas enfatizam a
importância do profissional que assume esse papel.
Palavras-chave: Afetividade. Centro de Educação Infantil. Relações Interpessoais.
AFFECTIVITY IN THE RELATIONSHIP BETWEEN TEACHERS AND THE COORDINATOR IN A CHILD EDUCATION
CENTER IN SÃO PAULO CITY
ABSTRACT
The questions that guided the study were: How do Early Childhood Education teachers notice affectivity?
How does affectivity occur in everyday relationship between teachers and the coordinator at a Child
Education Center? The objective of this paper was to map how affectivity, in the relationship between
teachers and the coordinator, occurs in a public CEC, in São Paulo city. The research subjects were five
teachers and one coordinator. The methodology used in this study involved a qualitative approach. Data-
collection instruments consisted of observation in the CEC premises and semi-structured interviews with
the teachers and the coordinator. The results show that affectivity, in the studied CEC, is little recognized in
the relationships between the teachers and the coordinator, a fact that has implications for the
development of the joint work of the school unit. According to the interviewed teachers, the pedagogical
coordination is a support for all the work developed at the CEC and, therefore, they emphasize the
importance of the professional who assumes this role.
Keywords: Affectivity. Child Education Center. Interpersonal Relations
RESUMEN
Las preguntas que guiaron el estudio fueron: ¿Cómo perciben la afectividad los docentes de Educación
Infantil? ¿Cómo aparece la afectividad en las relaciones cotidianas entre docentes y el coordinador del área
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de Educación de un Centro de Educación Infantil? El trabajo tuvo como objetivo mapear cómo la
afectividad, en las relaciones entre docentes y coordinador, ocurre en una escuela pública CEI, ubicada en
la ciudad de São Paulo. Los sujetos de investigación fueron cinco profesores y un coordinador. La
metodología utilizada fue de carácter cualitativo, y los instrumentos de recolección de datos fueron la
observación en los diferentes espacios del CEI y entrevistas semiestructuradas con docentes y un
coordinador. Los resultados muestran que el afecto, en el CEI estudiado, es poco reconocido en las
relaciones interpersonales del grupo de dirección escolar, hecho que tiene implicaciones para el desarrollo
del trabajo conjunto de la unidad escolar. Según los docentes entrevistados, la coordinación pedagógica
funciona como soporte de todo el trabajo que se desarrolla en el CEI; por ello, enfatizan la importancia del
profesional que asume este rol.
Palabras-clave: Afectividad. Centro de Educación Infantil. Relaciones interpersonales.
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metodológicas, dilemas éticos e conflitos, sejam CEI. Com a observação no PEA, podemos
mudanças na perspectiva do observador. Essas entender que essa profissional tem grande senso
diretrizes podem orientar o pesquisador na estético e acolhedor, pois sempre recebeu e
seleção de dados. acolheu as professoras de maneira agradável, nas
Em uma pesquisa qualitativa, a entrevista é falas, nos gestos e em suas propostas,
um dos instrumentos básicos para a coleta de diversificando a sua abordagem com momentos
dados. Tem caráter interativo, sem estrutura de leitura e discussão de textos, dinâmicas,
rígida de questões, o que contribui para uma oficinas, palestras, filmes, slides. Com as
atmosfera de influência recíproca entre o discussões e intervenções feitas nesses
entrevistador e o entrevistado. “O entrevistado momentos, a coordenadora também ouviu a fala
discorre sobre o tema proposto com base nas das professoras, pois nas reuniões de segmentos
informações que ele detém e que no fundo são a algumas docentes pediram essa variação de
verdadeira razão da entrevista. Na medida em atividades.
que houver um clima de estímulo e de aceitação Ao observar os documentos da escola, tais
mútua, as informações fluirão de maneira notável como registros do PEA e devolutivas dos
e autêntica” (LÜDKE; ANDRÉ, 2014, p. 34). semanários da coordenadora Liberdade,
De acordo com as autoras, em todo tipo de compreendemos que sua prática condiz com sua
entrevista deve-se estar atento ao respeito ao fala, pautada no respeito ao trabalho das
entrevistado no tocante às datas e aos horários professoras e seu momento de construção
pré-agendados, também à cultura e aos valores subjetiva. Foram observados três registros de
do entrevistado. Ao entrevistador caberá a salas distintas: o primeiro de uma sala de
capacidade de ouvir atentamente e manter o berçário II, com três professoras dividindo o
fluxo natural das informações apresentadas pelo mesmo espaço e os outros do Minigrupo I, com
entrevistado. duas professoras na mesma turma.
A fim de analisar o conteúdo das
observações e das entrevistas, recorremos à RESULTADO E DISCUSSÃO
análise de conteúdo que, segundo Bardin (2009), A obra de Paulo Freire é permeada de
é um método que propõe analisar o que é categorias relacionadas à afetividade, entre elas a
explícito no texto, delimitando, assim, amorosidade e o diálogo, sempre considerando
indicadores que permitam fazer inferências. que elas devem estar presentes em tudo o que
Como na pesquisa utilizamos a abordagem fazemos, pois nos impulsionam a ter coragem de
qualitativa, com esta técnica, depois de ler e lutar. “A educação é um ato de amor, por isso,
analisar as entrevistas, iniciamos o processo de um ato de coragem” (FREIRE, 1967, p. 97).
decodificar, agregar e classificar trechos da Para o autor, a amorosidade é uma
entrevista transcrita em forma de tabela. qualidade essencial ao trabalho pedagógico,
Participaram da pesquisa cinco qualidade que não se restringe ao
professoras e uma coordenadora pedagógica que relacionamento entre professoras e crianças, mas
definiram suas identidades em categorias que perpassa todo o fazer pedagógico e sem a
relacionadas à afetividade contidas na obra qual o trabalho perde o significado. O amor é o
Pedagogia da autonomia: saberes necessários à fundamento do diálogo, que une sujeitos
prática educativa, de Paulo Freire (2017a), a responsáveis e inexiste numa relação de
saber: Solidariedade, Respeito, Generosidade, dominação, pois nesta haveria um amor
Alegria, Esperança e Liberdade. patológico: sadismo no dominador, masoquismo
A coordenadora Liberdade concordou no dominado. O amor é um ato de valor, não de
com a realização da pesquisa, com a utilização medo.
dos registros de PEA e também de suas Para Freire, a prática educativa,
devolutivas dos semanários, desde que [...] é algo muito sério.
mantivéssemos os nomes da unidade e dos Lidamos com gente, com
participantes em sigilo. As entrevistas, realizadas crianças, adolescentes e
no mês de maio de 2018, foram organizadas em adultos. Participamos de
sua formação. Ajudamo-
dois momentos, primeiro com as professoras,
los ou os prejudicamos
depois com a coordenadora. nesta busca. Estamos
Em dezembro de 2017, a coordenadora intrinsecamente a eles
Liberdade foi escolhida para integrar o grupo do ligados no seu processo de
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inovadoras. Quando as relações não são boas até As professoras evidenciam a falta de
nossa saúde fica prejudicada”. diálogo entre o grupo gestor, principalmente, na
Assim, todas fizeram um comparativo gestão da coordenadora anterior, Liberdade, em
entre a coordenadora anterior e a Liberdade, que o diálogo não era conduzido, articulado e
destacando que a relação que tinham antes era nem proposto, revelando uma postura
pesada, sem respeito, sem empatia, sem cuidado, autoritária. Segundo Freire (2015), é imoral
que as afetava de maneira negativa. A silenciar as vozes dos indivíduos, os conflitos são
coordenadora anterior tinha um aspecto mais necessários para se encontrar com a consciência,
autoritário, impositivo, com falas grosseiras e e, dentro de um espaço educacional, é primordial
abusivas para com todos, não só para com as que se encontrem espaços para que as vozes
professoras. Sobre isso, a professora Respeito sejam ouvidas.
disse que “trabalhava nervosa”. Freire (2015, 2017b) afirma que o diálogo
Segundo Freire (2015), os sujeitos é elemento de colaboração, construído e
presentes na escola precisam repensar suas exercido em conjunto com os indivíduos e não
relações entre corpo consciente e mundo ao feito por imposição, e necessidade primeira nas
conhecer mais sobre si, mais consciente da sua relações com o outro.
postura e a dos outros, buscando mudar a As professoras Respeito e Esperança
perspectiva dos sujeitos sobre o que é ensinar, trouxeram para a entrevista a categoria conflito.
aprender e conhecer. A primeira em uma perspectiva negativa e a
Sobre o diálogo a professora ALEGRIA segunda, positiva. Porém ambas não perceberam
aponta que: que os conflitos também fazem parte da
[...] é preciso um consenso afetividade, como observado no RCNEI (1998): a
e uma gestão, um trio explicitação dos conflitos subentende respeito
diretora/assistente de aos sujeitos. Freire (2015) também identifica os
direção/coordenadora que conflitos como característica humana e
também tenha uma
mediadores da consciência.
abertura para o diálogo,
também um consenso nas
Conversando com a professora
informações, Generosidade, percebemos que ela hesitava em
comunicação. A alguns momentos de sua fala, como se não
coordenadora anterior quisesse ou não conseguisse expressar tudo o
não ia buscar muito as que sentia, até então, com essas perguntas, por
necessidades, ela trazia isso sentimos necessidade de provocá-la com
muitas coisas do pessoal e outra pergunta: Como era o clima de trabalho
isso atrapalhava o com a coordenadora anterior e com a nova?
trabalho como um todo. Com a coordenadora
Quando tínhamos uma anterior eu sempre senti
demanda do interesse um clima pesado, mesmo
dela, por exemplo, ela nos encontros casuais,
estudava as questões de como no corredor ou no
inclusão e quando momento de ir tomar uma
tínhamos algum caso água, como se algo
assim ela tinha um pouco sempre estivesse para
mais de prontidão, se explodir, porque a
interessava, mas também instabilidade emocional
colocava o ponto de vista dela atingia todo o grupo.
dela, que era bem Em vez de ela agregar, ela
distorcido e não havia acabava distanciando as
diálogo. Já a nova pessoas e todos se
coordenadora tenta ouvir exaltavam. Ela tinha um
mais o grupo, é mais perfil de se exaltar e
participativa e tenta da acabava descompensando
melhor maneira possível as pessoas que
suprir as nossas demonstravam um
necessidades controle emocional maior,
(PROFESSORA ALEGRIA). já as que eram mais
instáveis se alteravam
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