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BRÓDER filme de Jeferson De - Entrevista a Afroeducação | N E G R O J O R G E N 8/27/21, 10:04 AM

BRÓDER filme de Jeferson De - Entrevista a


11th September 2011
Afroeducação

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Afroeducação:
Conte um pouco sobre a história de Bróder.

Jerferson De:
Nosso público-alvo são os jovens de 15 a 25 anos. Além disso, é importante ressaltar que Bróder é um filme
comercial, não é um filme de arte, é um filme para passar nos shoppings centers brasileiros, para alcançar o maior
número de pessoas possível, afinal, temos parcerias de peso, como a Globo Filmes e a Columbia Pictures. Trata-se do
primeiro filme feito no Capão Redondo, na periferia da zona sul da cidade de São Paulo. Por incrível que pareça, o filme
não é sobre o Capão, mas filmado naquela região. Não quero causar aquela mesma sensação que há quando
assistimos a Cidade de Deus, sabe? Tanto é que tive o cuidado de não ter atores do Capão, para que as pessoas não
confundissem o filme com o bairro. O longa só foi filmado lá porque os meus grandes amigos, como Sérgio Vaz, Ferréz
(que reescreveu todos os diálogos presentes no roteiro inicial do filme), Mano Brown, Paulo Magrão moram no Capão
Redondo e eu tenho uma relação de afeto com o bairro. A idéia principal do filme é retratar as diversas formas de amor
existentes (entre homem e mulher, entre mãe e filho, entre amigos, que, na minha opinião, é o mais bonito, pois é
possível amar, sem ter nenhuma atração sexual pela pessoa), a emoção dessas situações e, principalmente, a
irmandade existente entre três homens que se conheceram no Capão Redondo.

Afroeducação:
Houve sessões especiais de pré-estréia para a comunidade do Capão Redondo?

Jerferson De:
Com certeza. Fizemos a pré-estréia no shopping Campo Limpo, bem próximo do Capão. Embora o Capão seja um
bairro onde a miséria prevalece, é um local bonito, acolhedor, que teve um respeito enorme com o nosso trabalho. O
meu lema, durante as filmagens, era: vou filmar aqui, mas vou continuar no bairro, não vou gravar e nunca mais voltar.

Afroeducação:
O fato de haver três atores (Caio Blat, Jonathas Haagensen e Silvio Guindane) como protagonistas, faz de Bróder
um filme com uma narrativa masculina?

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Jerferson De:
Há uma temática feminina no filme, falo de gravidez inesperada, aborto, a busca
Jeferson-De e a espera do príncipe encantado. Mostrei trechos dele para algumas meninas e
elas e se identificaram com o filme. A própria Cássia Kiss, que interpreta Dona
Sônia, faz uma típica mãe que mora no Capão Redondo. Por sinal, durante as
filmagens, ela usou um lenço para prender o cabelo, que trocou com uma mulher
moradora do Capão.

Afroeducação:
Antes de iniciarem as filmagens, Caio Blat, que dá vida ao personagem Macu –
nome escolhido em homenagem à Macunaíma, do livro de Machado de Assis –
alugou uma casa no Capão Redondo, para viver como um morador do bairro.
Como foi essa situação?
Jeferson De e a atriz de Bróder, Cinthia Rosa
Jerferson De:
O Macu é um dos protagonistas do filme, que se considera e vive como um
negro, mesmo sendo branco. O Caio Blat teve um papel especial nesse filme porque, além de atuar, ele sempre me
liga, perguntando: “Como vai o MEU filme?”. O diretor Hector Babenco já tinha me falado que o Caio Blat era um ator
que leva muito a sério seu trabalho, mas eu não sabia o nível de envolvimento dele. Ele chegou a sair para dar um rolê
com a galera do Capão e até cortou o cabelo no mesmo lugar em que o Mano Brown, do grupo Racionais MC’s.

Afroeducação:
Como se deu a escolha do nome do filme?

Jerferson De:
Inicialmente, quando escrevi o roteiro, nomeei como “Um dia”, mas, em uma reunião com Daniel Filho, decidimos
mudar o nome do filme, pois esse primeiro nome não dizia muita coisa, daí ele me disse: por que você não põe
“Bróder”? Só que, ao invés de escrever “Brother”, em inglês, eu escrevi em português, daí a gente achou que tinha
ficado melhor ainda.

Afroeducação:
Bróder também recebeu o prêmio de Melhor Trilha Sonora em Gramado, não é?

Jerferson De:
Sim. Eu e João Marcello Bôscoli, da gravadora Trama, escolhemos as canções do filme e, inclusive, eu cheguei a
compor uma canção. Aliás, Bróder é inspirado na música “Tropical melancolia”, de Max de Castro. Além disso, é a
primeira vez que toca Racionais MC’s numa sala de cinema. Fiz questão de colocar uma música dos Racionais, queria
ver os “manos” do Capão cantando junto com a cena.

Afroeducação:
Você é conhecido, até agora, por ter realizado curtas-metragens. Como foi essa migração para um longa-
metragem?

Jerferson De:
O filme se tornou comercial porque meu roteiro foi selecionado para ser
discutido pelo laboratório de roteiros de Sundance, um instituto fundando pelo

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ator norte-americano Robert Hedford. A partir daí, mostrei o texto para o Cacá
Diegues, que me apresentou para a Columbia Pictures e, quando vi, já tinha Jeferson-De
também o Daniel Filho como meu co-produtor e a Globo Filmes como
financiadora do filme. De qualquer maneira, não é por ser um filme comercial,
que me desvencilhei daquilo em que acredito, da minha militância pelos direitos
dos negros. Felizmente, Bróder é um filme de vanguarda, que trata de assuntos
que as pessoas não estão acostumadas a ver no cinema, como, por exemplo,
um branco que se considera negro, contudo é só irmos a qualquer favela
brasileira para vermos pessoas que se portam dessa maneira. Quem sou eu
para dizer quem é ou não negro, pelo tom de pele?

Afroeducação:
Além da representação da cultura negra no cinema, quais outros temas você Cena do filme Bróder
sente falta de ver nas telonas?

Jerferson De:
A gente nunca viu abordarem a existência dos milhares de homossexuais na cidade de São Paulo nos cinemas do
país. Nunca vimos um filme comercial que falasse dessa questão para a família brasileira. Outra temática que também
não foi abordada é o movimento punk ou de bandas independentes de vários estilos de música, que batalham para
sobreviver no mercado musical brasileiro. Por que será que não temos, também, filmes que retratam a importância do
forró e do pagode (aquele que rima amor com dor) para São Paulo? Isso tudo é ignorado, vemos sempre a mesma
coisa.

Afroeducação:
Você ganhou diversos prêmios pelo curta-metragem Carolina, durante o Festival de Gramado de 2008. Você
pretende voltar a filmar curtas?

Jerferson De:
Eu adoraria voltar a fazer curtas. Eu já tenho uma idéia até, baseada em uma história que Zozimo Bulbul - o pai do
cinema africano, na minha opinião - me contou. O curta contará uma situação que Zozimo viveu na época da ditadura
militar brasileira, por conta de um curta-metragem que havia criado. A mensagem do filme será sobre a descrença da
sociedade ao ver o negro como alguém que pode fazer algo especial e intelectual. O título provisório é O negro e o
diplomata.

Afroeducação:
Para finalizar, deixe um recado para quem tem um sonho e, muitas vezes, não se sente motivado a correr atrás
dele.

Jerferson De:
A minha história é um exemplo de pessoas assim. Eu sou filho de uma costureira e de um torneiro mecânico. Estudei
em escola pública a minha vida inteira e consegui entrar na USP. Quando comecei a cursar a faculdade, meu pai
faleceu, vítima de alcoolismo. A única coisa que mudou a minha vida foi a escola, apesar de eu não ter gostado tanto
de tê-la freqüentado. A minha história é a história de muita gente. A minha mãe foi entender agora o que é cinema,
quando me viu, pela televisão, ganhando o troféu em Gramado. Entretanto, eu queria ser jogador de futebol ou
músico, quando era pequeno. Muita coisa que está no filme, eu vivenciei na minha infância. Tem uma cena em que a
Cássia Kiss dança com o Ailton Graça na sala e isso foi uma coisa que eu vi: meus pais dançando samba-rock na sala

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de casa. Eu mesmo duvidava da minha capacidade, eu não sabia que eu conseguia ficar tanto tempo filmando o
mesmo filme, sem dormir praticamente, e envolvido com uma equipe de cerca de duzentas pessoas, tendo o cuidado
de orientá-los a construir, coletivamente, o filme que eu havia pensado quando escrevi o roteiro. Eu faço o que gosto e
ainda recebo para isso, mesmo trabalhando 14 horas por dia, me dedico de corpo e alma ao cinema, que é um mundo
cheio de sensibilidade, de amor, mas que tem seus momentos ‘pé no chão’, como a busca de patrocínio para rodar o
filme, por exemplo. Bróder, que teve uma produção da Glaz/Barraco Forte, custou três milhões e duzentos mil reais e
contou com diversas parcerias, como: Petrobrás, Morena Rosa, Oi Futuro (para finalização do filme), Trama, Sabesp,
Globo Filmes e Columbia Pictures. No final das contas, foi uma conquista.

Nascido em Taubaté, no interior de São Paulo, filho de uma costureira e de um torneiro


mecânico, Jeferson De estudou a vida toda em escola pública. Contrariando as JefersonDe
estatísticas sobre negros e pobres no País, ele se tornou cineasta, formado pela
Universidade de São Paulo. Jeferson De tem se destacado no cenário da produção
cinematográfica brasileira, por ter estabelecido parcerias com diretores de cinema de
sucesso, como Cacá Diegues (O maior amor do mundo, Deus é brasileiro e Orfeu) e
Daniel Filho (Se eu fosse você 1 e 2, Primo Basílio e A Dona da História). O primeiro
longa-metragem, Bróder, marca sua estreia no circuito nacional em grande estilo: o
filme ganhou cinco Kikitos no Festival de Cinema de Gramado em 2010 – incluindo
melhor diretor e melhor filme -, mais quatro prêmios em Paulínia, além de ter sido
selecionado para o Festival de Berlim. Bróder entrou em cartaz em abril de 2011.

Por Paola Prandini

Jeferson De

Postado há 11th September 2011 por Anonymous

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