Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Este material é destinado exclusivamente aos alunos e professores do Centro Universitário IESB,
contém informações e conteúdos protegidos e cuja divulgação é proibida por lei. O uso e/ou
reprodução total ou parcial não autorizado deste conteúdo é proibido e está sujeito às
penalidades cabíveis, civil e criminalmente.
SUMÁRIO
Olá, estudante! Bem-vindo(a) à terceira Unidade de Interação e Aprendizagem (UIA). Nesta unidade, vamos
começar com o comportamento mecânico dos solos.
Em termos gerais, pode-se dividir em duas partes: compressibilidade e resistência. Na primeira, são
avaliadas as mudanças de volume do solo sob a ação de cargas aplicadas. Na segunda parte, é
determinada a capacidade máxima que tem o material antes de acontecer a ruptura.
Estudaremos, nesta unidade, a compressibilidade dos solos. Inicialmente, aprenderemos o conceito de
tensão e os procedimentos para quantificar esta grandeza. Posteriormente, será apresentado o
fenômeno de compressibilidade e as diferentes teorias e procedimentos para a sua avaliação.
13.1. INTRODUÇÃO
A abordagem mais tradicional usada para o entendimento dos materiais da engenharia civil é
fundamentada na mecânica do meio contínuo, na qual o comportamento é analisado em nível
macroscópico, sem considerar a estrutura granular ou cristalina do material. No caso do solo, que é um
material constituído por um sistema de partículas, a análise poderia ser feita levando em consideração as
características individuais de cada uma das partículas e a interação entre elas, o que resultaria num
problema bastante complexo de resolver. Assim, a abordagem mais comum para avaliar o
comportamento dos solos é realizada a nível macroscópico.
Dentro da mecânica de solos, supõe-se que o material se distribui continuamente sobre a região do espaço
considerado. Com base nessa teoria, deve-se prever a mudança de posição relativa entre as partículas da
massa de solo (deformação), bem como a mudança das forças internas entre partículas (tensão).
A intensidade das forças internas que atuam entre as partículas de uma seção transversal imaginária de
um elemento é a medida da tensão. No caso particular de um sistema uniaxial (ver Figura 1), a tensão (𝜎)
é definida pela força (F) uniformemente distribuída sobre uma área (A), e dada pela seguinte equação:
F
=
A (1)
Nos solos, as tensões podem ser originadas pelo peso próprio do material e pelos carregamentos
externos pelos quais ele pode ser solicitado, como é ilustrado na Figura 2. Observa-se como uma porção
de material, no interior da massa de solo, recebe as tensões da propagação das cargas externas e do
efeito do peso próprio. A seguir serão explicados os procedimentos para a obtenção dos diferentes tipos
de tensões no solo.
Figura 1. Tensão normal (𝜎𝑎𝑣𝑔 = 𝐹/𝐴) em uma barra prismática carregada axialmente.
Fonte: http://tinyurl.com/ycknwqxu
Considerando uma porção de solo na qual é feito um corte plano, interceptando as partículas e os vazios
(ver Figura 3). Além disso, considere que ao interior do material foi colocada uma placa, a qual ajuda a
representar os contatos que ocorrem). Os diversos grãos transmitem forças (F) à placa de maneiras
diferentes. Assim, estas forças podem ser descompostas em forças normais (N) e forças tangenciais (T).
Como é impossível desenvolver modelos matemáticos com base nestas inúmeras forças, a sua ação é
substituída pelo conceito de tensões (Pinto, 2006).
O efeito de todas as forças normais (N) no plano é o que define o conceito de tensão normal (𝜎):
N
=
área (2)
da mesma forma, o efeito das forças tangenciais no plano define o conceito de tensão cisalhante (𝜏):
T
=
área (3)
Figura 3. Esquema de contato entre grãos para a definição de tensões (Pinto, 2006).
De uma forma geral, o estado de tensões numa pequena porção de solo está definido por tensões
normais e tensões cisalhantes em cada um dos planos, como pode ser ilustrado na Figura 4. As tensões
normais estão relacionadas com as mudanças volumétricas do material, enquanto as cisalhantes estão
vinculadas à distorção do material e à ruptura.
z
zx
xz
x
xz
zx
Figura 4. Estado de tensões no caso bidimensional.
Copyright © 2017 Centro Universitário IESB. Todos os direitos reservados.
MECÂNICA DOS SOLOS | UIA 3 | 7
n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n
n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n
A : Área
Z : Profundidade
v
h
V : Volume = A.Z
: Peso Especifico do solo
Figura 5. Tensões geostáticas, material seco.
Num elemento de solo, podemos calcular a tensão vertical (𝜎+ ) imaginando que nele atua o peso da
coluna de solo que está por cima dele. Assim, a tensão vertical é o peso dividido pela área, e dado pela
seguinte equação:
H1 Z1
H2 Z2 = Zi = Z1 + Z2 + Z3
v i 1 2 3
v Z3
H3 i : Peso Especifico do solo da cama i
h Hi : Altura da Camada i
Zi : Coluna de solo da camada i
Figura 6. Tensão vertical num perfil de solo heterogêneo
u= w ZA (5)
Z
onde A é o peso específico da água, e A é a profundidade do ponto em relação ao nível de água. Pode
ser observado que a pressão neutra independe da porosidade do solo, uma vez o solo está saturado os
poros estão cheios de água e interligados entre eles.
A : Área
NA
Z : Profundidade
ZA v
h
NA : Nível da Agua
: Peso Especifico do solo ZA : Profundidade do Nível da Agua
Figura 7. Tensões hidrostáticas, material com presença de água.
• Tensão efetiva (𝜎′): tensão transmitida pelos contatos entre partículas. Extremadamente difícil de
medir.
Todos os efeitos mensuráveis, oriundos da variação do estado de tensões, tais como compressão,
distorção e resistência ao cisalhamento são decorrentes da variação do estado de tensões efetivas (Pinto,
2006).
Com base no principio do Terzaghi, para solos saturados, as tensões efetivas podem ser expressas por:
'= u (6)
Com está definição, podemos quantificar qual é a tensão que realmente está experimentando o solo e
que pode efetivamente modificar a suas condições. Tanto a tensão total como a poropressão podem ser
quantificadas facilmente. A seguir, vamos mostrar um exemplo para fixar os conceitos.
Exemplo
Calcule s, u e s’ para o problema que segue nos pontos A, B, C e D. Realize o
gráfico da variação de tensões com a profundidade.
Nível do terreno
= 17kN/m3 NA
2m A
3m = 18kN/m3
B
2.5m C = 20kN/m3
4m = 19kN/m3
D
Tensão (kPa)
0 50 100 150 200 250
0
2
Profundidade (m)
4
6
8
10
12
14
Ponto A:
kN kN
V = 2m 17 3
= 34 2
m m
kN
u=0
m2
kN
'V = V = 34
m2
Ponto B:
kN kN kN
V = 2m 17 3
+ 3m 18 3 = 88 2
m m m
kN kN
u = 3m 10 3 = 30 2
m m
kN kN kN
'V = 88 3 30 3 = 58 2
m m m
Ponto C:
kN kN kN kN
V = 2m 17 3
+ 3m 18 3 + 2.5m 20 3 = 138 2
m m m m
kN kN kN
u = 3m 10 3 + 2,5m 10 3 = 55 2
m m m
kN kN kN
'V = 138 3 55 3 = 83 2
m m m
Ponto D:
kN kN kN kN kN
V = 2m 17 3
+ 3m 18 3 + 2.5m 20 3 + 4m 19 3 = 214 2
m m m m m
kN kN kN kN
u = 3m 10 3 + 2,5m 10 3 + 4m 10 3 = 95 2
m m m m
kN kN kN
'V = 214 3 95 3 = 119 2
m m m
n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n
n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n
onde ko é denominado de coeficiente de empuxo em repouso e pode variar de 1/3 até 3. O valor de ko,
para uma determinada camada de solo, a uma determinada profundidade, depende do tipo de solo e das
tensões que essa camada já sofreu em épocas passadas. Ao contrário da tensão vertical, a tensão
horizontal pode variar bastante dependendo do tipo de solo. Este coeficiente depende de várias
características do solo, tais como: índice de plasticidade, atrito, índice de vazios, entre outros. Na Tabela
1, são apresentadas correlações empíricas propostas ao longo do tempo e disponíveis na literatura.
Copyright © 2017 Centro Universitário IESB. Todos os direitos reservados.
MECÂNICA DOS SOLOS | UIA 3 | 12
Na aula anterior, foram apresentados os conceitos de tensões no interior do solo devido ao próprio peso
(tensões geostáticas). Nesta aula, iremos avançar um pouco mais nos estudos, considerando o conhecimento
já adquirido sobre tensões, abordando as tensões decorrentes das solicitações de carregamentos externos.
Na maioria dos problemas de engenharia relacionados aos solos, para sua resolução, é necessário o
conhecimento do estado de tensões em pontos do subsolo, antes e depois da construção de uma
estrutura qualquer. As tensões no interior da massa de solo são causadas pelo peso próprio e pelas
cargas externas atuando geralmente na superfície da mesma.
Essas cargas externas transmitidas pelas estruturas como, por exemplo, fundações, aterros, pavimentos,
escavações, entre outras, provocam um acréscimo de tensões (tensões induzidas) que são o objeto de
estudo desta aula.
Na Figura 8, pode ser identificada uma situação na qual um carregamento superficial, num ponto ‘P’
qualquer do interior desse maciço de solo, é submetido a acréscimos de tensões Δ𝜎F considerando as
tensões do peso próprio do solo 𝜎F" nesse mesmo ponto.
Copyright © 2017 Centro Universitário IESB. Todos os direitos reservados.
MECÂNICA DOS SOLOS | UIA 3 | 13
Figura 8. Tensões no interior do maciço de solo devido a um carregamento superficial (Ortigão, 2007).
A lei de variação das mudanças de tensões, em função da posição dos pontos de interesse no interior da
massa de solo, chama-se de distribuição de pressões. Existem várias teorias para a aproximação destas
tensões, as quais estão baseadas em conceitos das teorias da mecânica dos meios contínuos,
elasticidade, plasticidade e viscosidade, apoiadas em observações experimentais. Cada um dos modelos
estabelecidos tem suas vantagens e desvantagens, e, portanto, deve-se ter muito cuidado na hora de
serem utilizados. A teoria da elasticidade é a usualmente abordada para a obtenção das distribuições de
pressões.
1 1
1 1
(a) (b)
Figura 9. Comportamento elástico dos materiais. (a) comportamento lineal elástico, (b) comportamento não lineal elástico.
Até certo limite, pode-se dizer que as tensões aplicadas são aproximadamente proporcionais às
deformações. Algo que depende do tipo de material e da temperatura à qual este material está
submetido. Para o caso unidimensional, a constante de proporcionalidade entre as tensões e as
deformações é o módulo de Young, ou simplesmente de módulo de elasticidade. Neste caso, a relação é
linear, normalmente é conhecida como Lei de Hooke e dada pela seguinte equção:
=E (8)
onde é tensão normal [F/L2], E é módulo de Young [F/L2], e é a deformação axial unitária
(unidimensional).
Quanto maior o módulo, maior a tensão necessária para o mesmo grau de deformação, e, portanto, mais
rígido é o material. Lembrando que a rigidez é uma medida da capacidade de deformação de um
material, quando se aplica uma força de qualquer magnitude em um corpo.
Para entender melhor a Lei de Hooke, usaremos o exemplo de uma barra de material elástico com
módulo ‘E’ e comprimento ‘L’; ela está sujeita a uma força F atuando em uma área transversal A no
sentido vertical; depois de aplicada a força, a barra experimenta um alongamento
𝛿 , como pode ser visto
na.
b b
c
c
F
Figura 10. Barra sujeita a uma força axial.
=
como L . Portanto, substituindo na Equação (8) temos:
A E
F= =K
L (9)
onde K é a rigidez axial do elemento com unidades de força por unidade de comprimento
F/L
.
[ ]
Em resumo, pode-se dizer que a rigidez de um material tem a ver com a geometria do elemento e as
propriedades do material. O módulo de elasticidade ou módulo de Young é, simplesmente, a constante
de proporcionalidade entre as tensões e as deformações que o material admite (obtida da caracterização
do material).
Embora existam modelos constitutivos avançados para os solos, com relações tensão-deformação não
lineares não elásticas, as soluções baseadas na teoria da elasticidade são comumente adotadas em
aplicações práticas, respeitando-se as equações de equilíbrio e compatibilidade. A principal justificativa
para a sua aplicação é a simplicidade da teoria da elasticidade, facilitando a aplicação no pratica da
engenharia. Outras teorias demandariam conceitos e ferramentas avançadas para a solução dos
problemas. Existe respaldo técnico obtido no uso da elasticidade para a aproximação dos acréscimos de
tensões, no qual os resultados são satisfatórios para avaliações de obras civis. Não obstante, como
engenheiros não devemos esquecer as limitantes das teorias na hora de aplicá-las.
Figura 11. Distribuição das pressões na horizontal (a) e na vertical (b) de qualquer carregamento variando com a profundidade (Pinto, 2006).
Pode-se dizer que, embora as perturbações no estado de tensão inicial de um maciço de solo,
provocadas por um determinado carregamento, se propaguem indefinidamente (teoria da elasticidade),
a intensidade real destas perturbações ou os acréscimos de tensão induzidos na massa do solo por este
carregamento superficial, influenciam - do ponto de vista prático- uma delimitada região no interior do
maciço. A lei de variação das tensões (verticais e horizontais) com a profundidade constitui a
denominada distribuição de tensões nos solos. A magnitude dos acréscimos de tensões tende a diminuir
em ambos sentidos, na medida em que aumenta a distância horizontal e a profundidade do ponto
referenciado na área de carregamento. Denominam-se isóbaras as curvas ou superfícies obtidas ao ligar
os pontos de mesma pressão (ver Figura 12). Este conjunto de curvas ou isóbaras formam o que se
conhece na literatura como bulbo de “pressões”.
Figura 12. Bulbo de pressões. Cada isóbara representa uma série de pontos com a mesma magnitude de tensão, induzida pela tensão superficial o (Pinto, 2006).
3 P z3
z = 5
2
(r 2
+z )
2 2
(10)
onde:
P : carga pontual superficial
r = (x2 + y2)1/2 (representação em coordenadas cilíndricas).
O cubo, nesta figura, representa qualquer ponto no interior do maciço, no qual é representado o
equilíbrio desse ponto mediante as tensões (normais e tangenciais) que agem nas seis caras do cubo.
B L
3 q z3
z =d z = 5
dxd y = q I
2
y =0 x =0
(x 2
+y +z
2
)
2 2
(11)
Onde:
q – carga por unidade de área (pressão)
z – acréscimo de tensão
1 2m n m 2 + n 2 + 1 m2 + n2 + 2 2m n m 2 + n 2 + 1
I= + tan 1
4 m2 + n2 + m2 n2 + 1 m2 + n2 + 1 m2 + n2 m2n2 + 1
(12)
onde m =B / z e n =L / z.
O termo no qual aparece a função tangente inversa na equação (12), deve ser positivo e em modo
radianos. Cabe mencionar que, na diversa bibliografia deste tema, aparecem ábacos, que facilitam o uso
das equações.
Nesta aula, só mostramos o acréscimo de tensão na direção vertical, mas na literatura geotécnica existem
outras fontes de informação que apresentam todas as expressões capazes de estimar a indução de
tensões em qualquer direção. Além disso, se tem soluções teóricas para diferentes possibilidades de
carregamento. O livro de Poulos e Davis (1974) apresenta varias soluções elásticas para ser aplicadas a
problemas típicos de mecânica de solos e rochas.
Cabe mencionar que as duas soluções apresentadas nesta aula são a base para obter outras condições de
carregamento como, por exemplo, carregamento circular, triangular, entre outros, bastante úteis na
engenharia geotécnica.
Na aula anterior, aprendemos sobre como as forças atuantes (peso próprio e carregamentos externos) num
maciço de solo são interiorizadas, definindo o conceito de tensão e apresentando os procedimentos para
quantificar esta grandeza. Basicamente, aprendemos a quantificar as forças resultantes internas entre
partículas (tensões), para obter o equilíbrio do sistema quando este é solicitado por forças externas. Nesta
aula, vamos entender como são os reajustes do arranjo das partículas no interior do material (deformações)
quando ele é carregado. Além disso, vamos apresentar as diferentes formas de compressibilidade que pode
apresentar o solo e as teorias usualmente utilizadas para o seu entendimento. Continue os estudos desta
disciplina e boa aula!
n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n
n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n n
15.1. INTRODUÇÃO
Avaliar a capacidade de um solo ser comprimido pela ação de carregamentos é um dos aspectos mais
importantes para a realização de um projeto de engenharia geotécnica. Quando o solo é solicitado por
uma determinada estrutura (edifício, aterro, etc.), acréscimos de tensões são gerados no maciço,
provocando deformações de diferentes intensidades nas proximidades da região carregada, que
resultarão em deslocamentos superficiais (recalques). Assim, a avaliação das deformações nos diferentes
projetos (fundações, barragens, aterros, etc.) deve ser feita para garantir o bom funcionamento da obra
ao longo da vida útil.
• Fechamento dos vazios, por expulsão de ar (solo não saturados) ou água dos vazios (solo
saturado).
Normalmente, a água e as partículas de solos apresentam deformações desprezíveis, pois - para os níveis
de tensões típicos de engenharia - são consideradas incompressíveis. Assim, as deformações
volumétricas do solo são representadas pela mudança do índice de vazios do solo em função das tensões
efetivas.
Quando solicitamos os solos com diferentes estruturas, o problema de compressibilidade é complexo em
decorrência de alguns fatores:
• As deformações dos solos são comparativamente maiores que a dos materiais de construção.
Nestes últimos, a deformação unitária correspondente à pressão no limite de segurança é da
ordem de 0,005%, enquanto nos solos é maior do que 0,5% (caso de areia compacta), atingindo
mesmo 2,5% (caso de argila plástica) (CAPUTO et al., 2015).
• Os recalques podem ser de diferentes intensidades para diferentes pontos da estrutura, podendo
acontecer de maneira uniforme ou não uniforme, podendo provocar danos às estruturas assentes
sobre o solo.
Argila
Deformação
Concreto
Os recalques podem ser classificados como de corpo rígido ou recalques uniformes (Figura 19-a), de
inclinação ou distorção (Figura 16-b), e recalques não uniformes (Figura 16-c). A maioria dos danos
provocados pelos recalques uniformes estão limitados aos sistemas de drenagem, próximos à estrutura.
Os recalques não uniformes, chamados de recalques diferenciais, provocam esforços adicionais à
estrutura que podem levar a graves problemas, podendo comprometer membros estruturais. A distorção
é causada por assentamentos diferenciais. A distorção é quantificada pela relação δ / l, onde δ é o
assentamento diferencial máxima e l é o comprimento sobre o qual ocorre a liquidação diferencial
máxima. Assim, a distorção é uma medida angular (radianos) e é muitas vezes referida como a distorção
angular. Valores limites variam de l / 150 a l / 5000 dependendo do tipo de estrutura (BUDHU, 2015). Deve
ser ressaltado que a obtenção dos recalques também é de interesse para o projetista da estrutura assente
no solo, já que ele deve avaliar as repercussões do recalque na sua obra. Por exemplo, no caso de
fundações de edificações, a previsão do recalque ajuda a decidir com acerto o tipo de fundação e até
mesmo sobre o tipo de sistema estrutural a ser adotado (CAPUTO et al., 2015).
Deve ser destacado, que o recalque no contato (base da fundação) dependerá do tipo de solo e da
flexibilidade da fundação. A Figura 17-a mostra o caso de uma sapata flexível apoiada num material
elástico do tipo argila saturada. Observa-se que a pressão no contato é uniforme e que o perfil do
recalque é côncavo. No caso de mudar para uma fundação rígida, a reposta seria diferente. Nesse caso, os
recalques são uniformes e a pressão de contato redistribuída, como pode ser observado na Figura 17-b.
Os resultados apresentados são válidos para materiais com módulo constante em relação à
profundidade, que é o caso de argilas saturadas. No caso de materiais granulares, o módulo varia com a
profundidade, em função do nível de confinamento das partículas.
No caso de uma areia, o perfil do recalque será côncavo para baixo e a distribuição de tensões será
uniforme para uma fundação flexível (ver Figura 18-a). Observa-se que, no meio da fundação, o recalque
é pequeno em relação às bordas, o que se deve ao confinamento (maior no centro e menor nas bordas).
No caso de usar uma fundação rígida, o perfil de recalque seria similar ao caso da argila, não obstante, a
pressão no contato mudaria substancialmente.
O processo que gera recalque pela expulsão de água dos poros, sob a influência
da variável tempo é chamado de Adensamento.
Assim, para solos finos deve ser considerada a condição de longo prazo para a
avaliação dos recalques que podem afetar o projeto.
Areia grossa com mais de 10% de finos, areia fina e areia média não são de drenagem livre, assim,
recalques além do período de construção podem ocorrer (BUDHU, 2015).
Para se obter o recalque imediato, lança-se mão das expressões baseadas na Teoria da Elasticidade,
considerando-se o solo um meio linear-elástico, homogêneo (módulo de elasticidade constante) e
carregado por uma força uniformemente distribuída numa área na superfície de uma camada semi-
infinita. Assim, o recalque elástico pode ser calculado (DAS, 2007) mediante a seguinte formula:
Si = B
(1 ²)
I
E (13)
onde:
E módulo de Young
coeficiente de Poisson
B lado da fundação
A Tabela 2 fornece os valores do fator de influência para fundações flexíveis e rígidas. A seleção dos valores
usados para a obtenção do recalque dependerá da forma e da rigidez da fundação. Na Tabela 3, são
apresentados os valores típicos de módulo de elasticidade para solos e na Tabela 4 os valores de coeficiente
de Poisson.
Retangular
L/B = 0,2 - - -
L/B = 0,5 - - -
Tempo
Compressão Elástica
Recalque
Adensamento Primário
Adensamento Secundário
Os recalques da fase de compressão elástica são calculados com as mesmas equações apresentadas para
solos com drenagem livre. No caso do adensamento primário e secundário, no qual o problema depende
do tempo, são usadas teorias específicas para esses fenômenos. Na próxima aula, apresentaremos a
teoria utilizada para avaliar os recalques por adensamento.
Para argilas saturadas, os recalques por compressão elástica e por adensamento secundário são
normalmente negligenciados na prática. Os primeiros, em virtude de seu valor pequeno; os outros, por
serem muito atenuados pela extrema lentidão com que as deformações ocorrem (CAPUTO et al., 2015).
• Torre de Pisa
Nas aulas anteriores desta Unidade III, foram estudados os conceitos de tensões no interior do solo devido ao
próprio peso (tensões geostáticas) e o acréscimo de tensões decorrentes dos carregamentos externos. Como
consequência dessas tensões, surgem os recalques (deformações), tendo como referência a teoria de
elasticidade apresentada na aula anterior para avaliar os recalques imediatos (curto prazo).
Nesta aula, iremos aprofundar os estudos sobre o comportamento do solo. Cabe destacar, que sob a
influência de carregamentos externos e levando em consideração a natureza do material, o
comportamento elástico do solo só é apresentado para pequenas deformações. Sob a presença dos
mesmos carregamentos externos, o comportamento real do material apresenta outros tipos de
deformações que não são recuperáveis (em função do tempo), havendo grandes deformações.
Se este mesmo aterro está apoiado sob um maciço de solo com presença de lençol freático e sua construção
vai durar vários meses, conforme vai avançando a construção, o peso da estrutura também aumenta ,
provocando uma diminuição nos vazios do solo em decorrência da saída de água de seu interior (drenagem
do solo).
• Adensamento unidirecional.
• Uma variação na pressão efetiva no solo causa uma variação correspondente no índice de vazios.
Usando como referência a Figura 20, vamos tentar explicar a analogia mecânica do fenômeno segundo
Terzaghi. Nela pode-se identificar quatro casos de um teste que consiste de um cilindro preenchido de
água com uma mola no seu interior colocada em seu centro. O cilindro tem uma secção transversal de
área ' A ' , um pistão impermeável na parte superior de área transversal igual ao cilindro, uma válvula que
controla a saída da água, e um manômetro no exterior para medir as tensões na água quando aplicar-se a
carga ' P ' no pistão. Considera-se que não existe atrito entre o pistão e a válvula de controle durante o
teste todo. A Figura 20-a mostra as condições iniciais (estágio zero), as quais consistem em uma carga
P = 0 , no tempo t = t0 e a válvula de controle completamente fechada.
Para um tempo
t =t1 (estágio I), ver Figura 20-b, aplica-se a carga ‘P’ com a válvula totalmente fechada, e
sabendo que a água é incompressível, este carregamento é tomado em sua totalidade pela água,
reflexando-se isto de maneira tal que a mola não sofre compressão nenhuma, e incrementa-se a sobre-
pressão na água u decorrente a ' P ' indicada pelo manômetro. Esta sobre-pressão se calcula como a
P
u=
carga ' P ' dividida pela área ' A ' , o seja A . É muito importante entender que esta sobre-pressão
na água u é o excesso da pressão hidrostática.
Figura 20. Analogia mecânica de Terzaghi explicando o fenômeno de adensamento (DAS; SOBHAN, 2013).
pela parte superior do pistão e, por conseguinte, a sobre-pressão na água começa a dissipar e a mola a
comprimir. Ver Figura 20-c. O excesso de pressão hidrostática u indicado pelo manômetro é menor ao
medido no estágio I.
O fato de que a u registrada ser menor no estágio II em relação ao estágio I, se deve ao fato de que a
sobre-pressão provocada por P é tomada tanto pela mola como pela água. Então podemos escrever que:
P = Pw + Pm (14)
P P
onde w é a parcela da carga que toma a água e m é a parcela da carga que recebe a
mola, ambas parcelas variam durante cada estágio sucessivo do teste.
Finalmente, na Figura 20-d, pode-se perceber que no estágio final (estagio n ), num tempo
t = tn , o
pistão transmite a carga P para a mola totalmente e, portanto, a água não tem como tomar mais carga,
simplesmente porque a mola não pode se comprimir mais. Neste estágio, o excesso de pressão
hidrostática u é igual a zero, e o sistema novamente se encontra em equilíbrio.
Baseado na analogia mecânica de Terzaghi, pode-se concluir que o processo gradual da drenagem, que
aparece quando o maciço de solo está sujeito a um acréscimo de carregamento externo do solo (carga
que transmite ao pistão), está vinculado a uma transferência de carga entre a água dos vazios (água
dentro do cilindro) e a carga das partículas sólidas do solo (representadas pela mola dentro do cilindro)
em função do tempo, causando recalques do maciço de solo de tipo argiloso e siltoso. A este processo
chama-se adensamento.
Nos solos do tipo granular (areias), o processo ocorre de uma maneira mais rápida. Em decorrência da
alta permeabilidade do material, a drenagem tem mais facilidade e, portanto, os recalques são
unicamente elásticos (Imediatos) e o fenômeno de adensamento não existe.
Com o esquema anterior bem esclarecido, vamos explicar as deformações experimentadas para uma camada
saturada de argila no interior do solo quando sujeita ao acréscimo de carga vertical . Usaremos de apoio a
analogia mecânica anterior e a Figura 21 para fazer esta análise. Esta figura mostra uma camada de argila que
se encontra confinada por duas camadas de areia, as quais facilitam a saída de água pelo contato entre elas.
Figura 21. Variação da tensão total, tensão na água e tensão efetiva em uma camada de um solo argiloso. Apresenta drenagem na parte superior e inferior
(DAS; SOBHAN, 2013)
Tão rápido como o carregamento seja aplicado na superfície, o nível de água começa a subir nos
piezômetros. A curva mostrada na mesma figura registra o nível de água (carga hidráulica) h no tempo
todo que dura o fenômeno; a curva se chama de isócrona e se denomina pela letra I . Na sequência,
iremos explicar cada estágio deste fenômeno:
I
• No tempo t = 0 (isócrona 1 )
h = h1 para z = 0 e z = H , portanto a pressão da água nos
I
• No tempo t > 0 (isócrona 2 ), a água nos vazios começará a fluir ao receber a tensão de
sobrecarga dado que ela é incompressível, drenando pelas caras dos contatos entre camadas em
ambas direções. O excesso de pressão da água em qualquer profundidade z vai ser
incrementado gradualmente; essa variação é observada nos níveis das cargas piezométricas na
I 2 . De maneira similar h = h2 = f ( z )
isócrona , e, portanto, a sobre-pressão hidrostática
calcula-se como:
u = w h2 < . Também estima-se que: '= u . Observa-se que
neste estágio do fenômeno variam ', e u desde z = 0 até z = H .
Copyright © 2017 Centro Universitário IESB. Todos os direitos reservados.
MECÂNICA DOS SOLOS | UIA 3 | 30
• No tempo t= (isócrona
I 3 ), a sobre-pressão na água já se dissipou totalmente e drenou pelos
isócrona
I 3 da figura referida; portanto, também é possível estimar que: '= e u = 0.
2
h 1 e S
k= = S +e
z 1+ e
2
t t (15)
Esta equação, empregada na teoria de Terazaghi, considera várias hipóteses, uma das quais é a validade
da lei de Darcy, v = k i , expressão estudada em aulas anteriores. A proporcionalidade entre velocidade
de fluxo
(v) e gradiente hidráulico
(i )
tem sido comprovada mesmo em gradientes muito baixos, como
os que podem ocorrer devido ao fluxo unidimensional por consolidação. A hipótese deste fluxo
unidimensional é válida quando a espessura da camada em processo de consolidação é bem inferior à
largura do carregamento (Ver Figura 22).
Figura 22. Fluxo unidimensional durante o adensamento e caminho de drenagem de uma partícula ‘A’ de água. (ORTIGÃO, 2007).
Uma segunda hipótese considera que as deformações, ou recalques por adensamento, são muito
pequenos em relação à espessura total da camada sujeita ao fenômeno, situação que se aplica
comumente para dar solução aos casos práticos na engenharia geotécnica.
Copyright © 2017 Centro Universitário IESB. Todos os direitos reservados.
MECÂNICA DOS SOLOS | UIA 3 | 31
Outra hipótese é que as partículas de solo e água são admitidas como incompressíveis, sendo toda a
compressibilidade do sistema solo-água atribuída ao esqueleto sólido, representado por uma mola na
analogia mecânica anteriormente analisada.
A teoria de Terzaghi restringe ainda mais a equação (15) no caso de solo saturado, considerando S = 1 e
S
=0
t , então essa equação simplifica para:
2
h 1 e
k= =
z 2
1+ e t (16)
h h
O valor da carga total h é a soma da carga altimetrica ou de posição z e piezométrica p , este ultimo
termo se calcula como o cociente entre o excesso da pressão hidrostática (ou poropressão) u , entre o
Δu uo + u
hp = h = hz + hp = hz +
peso específico da água w, w . Daí resulta que: w onde
u0 é a pressão
hidrostática. Note-se que se esta considerando á condição de equilíbrio geostática 0 , mais o acréscimo
u
de poro-pressão u . Aplicando o operador diferencial na expressão da carga hidráulica total obtemos
que:
2 2
h 1 u 1 e
= =
z2 w z 2
1+ e t (17)
Para o comportamento do esqueleto sólido, Terzaghi considerou uma relação tensão-deformação linear
e
= av '
'
v . Onde v é a tensão efetiva vertical e
av o módulo de compressibilidade. Introduzindo esta
1+ e 2
u '
k = v
relação na equação (17) obtemos que: w av z2 t , a qual finalmente pode se escrever como:
2 '
u
cv = v
z2 t (18)
1+ e k
cv = k =
onde w av w mv , se conhece como coeficiente de consolidação ou de
m
adensamento, e o v é o módulo da variação do volume. Na realidade o
cv
não é uma
constante, é uma variável, mas para a simplificação do problema se supôs essa hipótese.
Há ainda outra hipótese, a da condição de equilíbrio, a qual considera que as tensões totais não variam
durante o processo, significa dizer v = vo + v = cte . Onde v é a tensão vertical total, vo a tensão
2
u u
cv =
z2 t (19)
A solução desta equação diferencial parcial de segunda ordem precisa de condições de contorno
baseadas também em algumas hipóteses simplificadoras; em vários livros na literatura geotécnica
aparece com detalhe o desenvolvimento da solução, se recomenda revisar em Caputo (2015) e Lambé e
Whitman (1998).
Aqui apresentaremos a solução de maneira geral, que se expressa pela seguinte equação resolvida
mediante series de Fourier:
2 uo M z
u ( z, t ) = sin e MTv
m=0 M Hd
(20)
Cv
M= (2m + 1) Tv =
, m = 1, 2,3... , o é a poropressão inicial e
onde 2 u t H d2 é o fator tempo. H d é a
metade da espessura da camada como se mostra na Figura 22.
Nesta aula aprenderemos a usar o equipamento de laboratório para fazer o ensaio de adensamento, bem
como a interpretá-lo ele, sendo possível identificar os parâmetros que vão ser úteis para estimativas de
recalques por adensamento. Destaca-se, que mais adiante, nesta unidade, mais especificamente quando
abordarmos as aplicações, este tema será citado novamente.
O ensaio consiste basicamente em comprimir uma amostra de solo cilíndrica sem permitir que ela se
deforme lateralmente. A amostra é colocada dentro de um anel metálico com duas pedras porosas na
parte de cima e na parte de baixo da amostra, de maneira que - com aplicação de carregamento - a saída
de água dessa porção de solo possa sair através delas. As dimensões das pedras obedecem o padrão de
25,4 mm de espessura e 64 mm de diâmetro.
A carga de aplicação é transmitida por um braço de alavanca e os deslocamentos para cada incremento
de carga são medidos por um indicador digital (extensômetro). Cabe mencionar, que em todo o tempo
do ensaio o corpo de prova é mantido sob a água. Cada incremento de carga normalmente é mantido
durante 24 horas. Posteriormente, o seguinte incremento é o dobro do anterior. Portanto, a pressão sob
o espécime também é dupla. Ao final do ensaio, o peso seco é determinado.
A Figura 24 apresenta resultados típicos de deformação (recalques) plotados contra o tempo, em escala
logarítmica de um ensaio de adensamento, distinguindo-se três estágios bem definidos desenvolvidos
durante o ensaio: (1) existência de compressibilidade, principalmente por um carregamento prévio ou inicial;
(2) apresentação de um comportamento de consolidação ou adensamento chamado de primário, no qual o
excesso de poropressão se transforma gradualmente em tensão efetiva, pela expulsão da água dos vazios do
solo; e, finalmente, (3) chamado de consolidação secundária, que se apresenta depois da dissipação total do
excesso de poropressão da água e as partículas de solo começam a se comportar plasticamente.
Vamos aprofundar um pouco mais na análise da figura anterior, aproveitando os três tipos de recalque
inicial, primário e secundário definidos no ensaio de laboratório, comparando-os com o comportamento
do solo em verdadeira grandeza.
Cabe ressaltar, que esses três tipos de recalque têm fins exclusivamente didáticos,
para facilitar a compreensão do fenômeno e sua abordagem matemática, tendo
em vista que na realidade eles ocorrem no solo de forma simultânea.
• O recalque do tipo inicial ocorre ao mesmo tempo da aplicação da carga vertical, decorrente da
compressão do ar (caso de o solo não ser totalmente saturado) e pela influência de
deslocamentos horizontais in situ ao redor do ponto considerado, sobretudo quando a largura do
carregamento não é tão grande em relação à espessura da camada na qual se posiciona o ponto
de estudo. Este tipo de recalque pode ser tratado com aplicação da teoria da elasticidade, na qual
o comportamento do material é simplesmente representado pelo módulo de Young ' E ' e o
coeficiente de Poisson ' ' . Os casos simples podem ser resolvidos com a aplicação das
informações apresentadas na aula 14 desta unidade.
• O recalque do adensamento primário é o único que pode ser tratado pela teoria de adensamento
(tratada na aula anterior), dado que ele ocorre pela expulsão de água dos vazios do solo.
• O recalque do tipo secundário, também chamado de fluência, ocorre mesmo com pressões
efetivas constantes e decorrentes da deformação lenta do esqueleto sólido. A Figura 16.2
corresponde ao trecho retilíneo da curva, no final do ensaio, no qual a poropressão é nula e as
deformações variam proporcionalmente em relação ao logaritmo do tempo. Na maioria dos
solos, a fluência tem menor importância durante a fase inicial da obra e de utilização da estrutura,
porque sua magnitude é inferior às dos outros tipos de recalque, sendo por esta razão
desconsiderada na maioria das análises. A fluência nas areias se pode considerar inexistente. Nas
argilas, é comum os engenheiros geotécnicos admitirem para a fluência uma pequena parcela,
entre 5 a 10% do recalque total.
Figura 25. Mudança da altura do espécime durante o adensamento. (DAS; SOBHAN, 2013).
JK
• Passo 1. Calcular a altura de sólidos do espécime, usando a seguinte expressão: 𝐻I =
,
L∙MK∙ NO
onde Ws – peso seco do espécime, A – área do espécime, Gs – densidade de grãos, w peso
específico da água.
• Passo 3. Cálculo do índice inicial de vazios 𝑒" do espécime, usando a seguinte expressão: 𝑒" =
PQ L∙RQ RQ
= =
PK L∙RK RK
• Passo 4. Para o primeiro incremento de pressão 1 (carga vertical do estágio 1 entre área
transversal do espécimen), a qual causa a deformação H1 , calcula-se a mudança de vazios
∆RU
como: ∆𝑒T = . Cabe mencionar, que ∆𝐻T se obtém das leituras inicial e final de cada
RK
incremento de carga. Note-se que ao final da consolidação a tensão total 1 é igual a tensão
efetiva '1 ..
Para o seguinte incremento de pressão 2, o qual provoca uma deformação adicional ∆𝐻9 , calcula-se o
Figura 26. Curva tensão efetiva (em escala logarítmica) vs índice de vazios (DAS; SOBHAN, 2013).
Ao observar esta curva, levamos em conta que ela apresenta dois trechos com inclinações diferentes:
uma menor ao inicio da curva até '1 , e outra maior a partir da tensão '2 . A partir destes resultados
plotados, é possível estabelecer a história geológica do solo, e dizer sob quais tensões ele foi
previamente submetido. Este fato reflete na mudança do índice de vazios, na qual eles até a tensão '1
não muda consideravelmente. Mas, a partir dessa tensão a mudança nos vazios muda drasticamente até
o final do ensaio.
Baseado no anterior, deduz-se o seguinte: quando a amostra esta sujeita a um ensaio de consolidação,
ela experimenta tensões pequenas de compressão (havendo pequenas mudanças no índice de vazios),
portanto a tensão máxima efetiva passada sob a qual o solo já foi submetido, pode ser igual ou menor à
qual ele se encontra na hora de tirar a amostra in situ. Essas pequenas mudanças nos vazios indicam
deformações pequenas e reversíveis, o que faz supor que o solo se comporta aproximadamente de forma
elástica.
Quando a pressão efetiva aplicada no espécime excede a máxima sob a qual já foi submetido, em seu
passado geológico, a mudança do índice de vazios se incrementa e, portanto, resulta numa inclinação
maior na curva. Assim, o material apresenta características de comportamento plástico, no qual as
deformações são grandes e irreversíveis.
Esses aspectos conduzem a duas definições básicas, com base na história de tensões nas argilas:
• Argilas normalmente consolidadas são aquelas nas quais a tensão efetiva vertical atual, é maior
que a tensão máxima da sua história geológica.
• Argilas pré-adensadas são aquelas nas quais a tensão efetiva vertical atual é igual ou menor à
tensão máxima da sua história geológica.
Para determinar a máxima tensão vertical, que o solo já foi submetido, usa-se métodos gráficos, entre
eles os de Casagrande (1936) e Pacheco Silva (1970). A Figura 27 apresenta a obtenção gráfica da máxima
tensão vertical 'vm pelo método gráfico de Casagrande. A relação entre as tensões efetivas máxima
passada 'vm e a atual in situ 'vo , se denomina de OCR pelas siglas em inglês (overconsolidation ratio),
e que se expressa como:
'vm
OCR =
'vo (21)
Em resumo pode se dizer que:
• Se OCR > 1 o solo é pré-adensado, deformações pequenas e reversíveis, e comportamento
elástico.
• Se OCR ≤ 1 o solo é normalmente adensado, deformações grandes e irreversíveis, e
comportamento plástico.
Figura 27. Determinação gráfica da máxima tensão vertical efetiva 'vm no solo a través do método de Casagrande (ORTIGÃO, 2007).
Figura 28. Recalque causado por adensamento unidimensional (DAS; SOBHAN, 2013).
P[ L∙R
Mas, sabemos que das propriedades índices do solo: 𝑉I = = onde eo é o índice de vazios inicial
T\][ T\][
L∙R
correspondente ao volume Vo. Portanto, podemos expressar o seguinte: ∆𝑉 = 𝑆Y ∙ 𝐴 = ∆𝑒𝑉I = ∙ ∆𝑒
T\][
R
ou simplesmente 𝑆Y = ∙ ∆𝑒
T\][
Para as argilas normalmente consolidadas, dos gráficos apresentados anteriormente, se obtém uma
relação ∆𝑒 =
𝐶Y 𝑙𝑜𝑔 𝜎′" + ∆𝜎′ − 𝑙𝑜𝑔
𝜎′" , onde Cc se chama índice de compressão. Então, podemos
definir como o recalque por adensamento primário:
H Cc H 'o + '
Sc = e= log
1 + eo 1 + eo 'o (22)
Para as argilas pré-adensadas
𝜎′" + ∆𝜎 a ≤
𝜎′Fc
, portanto ∆𝑒 =
𝐶I 𝑙𝑜𝑔 𝜎′" + ∆𝜎′ − 𝑙𝑜𝑔
𝜎′" , onde Cs
se chama de índice de descompressão ou expansão. De igual maneira, podemos definir o recalque
primário como:
Cs H 'o + '
Sc = log
1 + eo 'o (23)
Se
𝜎′" + ∆𝜎 a >
𝜎′Fc o recalque primário pode se calcular como:
Aula 18 | COMPLEMENTARES
Nas aulas anteriores, foram apresentados os conceitos do processo de adensamento, a teoria de Terzaghi para
a solução do problema e o ensaio de adensamento, tipicamente usado nos projetos de engenharia. Em termos
de capacidade de previsão de comportamento, na aula passada, foi apresentada a equação para a obtenção
do recalque, a qual depende das características de compressibilidade (inclinações) da curva do ensaio
unidimensional de adensamento. Não obstante, devemos prever o tempo necessário para acontecer um
determinado valor de recalque. Na Aula 16, apresentamos a solução de Terzaghi (Equação 20), para a
evolução da poropressão ao longo do tempo (no qual acontece o processo de adensamento). Nesta aula,
vamos entender como devemos analisar o problema de adensamento, com base na solução de Terzaghi, para
responder às perguntas relacionadas com o tempo que leva para acontecer o fenômeno de adensamento.
Inicialmente, apresentaremos os conceitos de grau de adensamento, usados tipicamente. Posteriormente,
apresentaremos a metodologia empregada para a solução do problema. Por ultimo, será apresentada a
resolução de um problema típico, com o intuito de ajudar ao estudante a entender melhor a aplicação das
diferentes fórmulas apresentadas nesta unidade. Bons estudos!
Uz =
f (25)
A deformação pode ser expressa em termos do índice de vazios atual ( e ) e o índice de vazios no inicio
do processo de deformação devido ao adensamento ( e0 ), mediante a seguinte equação:
e0 e
=
1 + e0 (26)
Desta forma a relação do grau de adensamento pode ser reescrita da seguinte forma:
e0 e
1 + e0 e e
Uz = = = 0
f
e0 e f e0 e f
1 + e0 (27)
Assim, o grau de adensamento é a relação da variação do índice de vazios, para um determinado tempo
( t ) , e a variação total, que pode acontecer pelo processo de adensamento.
Dentro das hipóteses colocadas por Terzaghi, identifica-se que o índice de vazios varia linearmente com
a mudança das tensões efetivas durante o processo de adensamento, como pode ser observado na
Figura 30.
u0
e0 A
u
e C
B
ef E
D
e0 e AB BC ' '0
Uz = = = =
e0 e f AD DE 'f '0 (28)
Da analogia feita por Terzaghi, sabemos que, inicialmente, o incremento da carga é assumido totalmente
pela água, tendo acréscimos de poropressão iguais ao incremento de tensões efetivas, da seguinte
forma:
ui = = 'f '0
(29)
De uma forma análoga, para um tempo ( t ) , depois de colocada a carga, o acréscimo de poropressão
será:
u = 'f '
(30)
uf = 0
e, no final do adensamento, .
Desta forma, podemos rescrever a equação do grau de adensamento da seguinte forma:
Uz =
( 'f u) ( ' f ui )
=
ui u
=1
u
'f ( ' f ui ) ui ui
(31)
Assim, o grau de adensamento representa o grau de dissipação dos acréscimos de poropressões gerados
pelo carregamento imposto no solo num determinado tempo ( ) . Quando o material alcança o nível de
t
recalques máximo, devido ao adensamento, o grau de adensamento é 100% e a poropressão está
totalmente dissipada.
2 uo M z
uz = sin e MTv
m=0 M Hd
(32)
Não obstante, o valor da poropressão não é o realmente importante, senão, o quanto evoluído está o
processo de adensamento. Para isto, devemos colocar a resposta em termos do grau de adensamento.
Combinando as Equações (31) e (32), podemos obter como é o grau de adensamento com a
As equações, apresentadas até este ponto, são para um elemento de material a uma profundidade ( ) ,
z
não obstante, para fins práticos devemos saber qual é o grau de adensamento para a camada de solo.
Para isto, devemos integrar a equação da seguinte forma:
2 H dr
1
u z dz
Sc (t ) 2 H dr
U= =1 0
Sc ui (33)
S S
onde, U é o grau médio de adensamento da camada, c ( t ) é o recalque da camada no tempo t , e, c é
o recalque total da camada devido ao adensamento primário.
z
H dr
2
U =1 e MTv
m =0 M2 (34)
U (%)
Fator Tempo, Tv
ENUNCIADO:
Um aterro será construído num o terreno cujo um perfil geotécnico é apresentado na Figura 33. Esta obra
transmitira uma pressão uniforme de 40 kPa na superfície. O terreno foi pré-adensado por uma camada
de um metro de areia superficial, que teria sido erodida. A argila tem um índice de vazios inicial de 2,4 e
9m A kN '
Argila = 15
m3
Areia u
• O cálculo é feito considerando-se que toda a camada de solo apresenta uma deformação igual à
do ponto médio (ponto A).
Podemos aplicar a fórmula apresentada na Aula 17 para o cálculo do recalque por adensamento
primário, dada por:
kN kN
o = 18 3
4m + 15 3 4,5m = 139,5kPa
Tensão Total geostática atual → m m
Copyright © 2017 Centro Universitário IESB. Todos os direitos reservados.
MECÂNICA DOS SOLOS | UIA 3 | 45
kN
'o = 139,5kPa 10 ( 4,5 + 2,5) m = 69,5kPa
Tensão Efetiva geostática atual → m3
Tensão Final →
'o + = 69,5kPa + 40kPa = 109,5kPa
9m 87,5kPa 109,5kPa
Sc = 0,3 log + 1,8 log = 0,54cm
1 + 2, 4 69,5kPa 87,5kPa (36)
Sc 0,54cm
e = e0 e f = (1 + e0 ) = (1 + 2, 4 ) = 0, 20
H 9m (37)
1+ e 1 + 2, 4 7 m
2
2 m
2
cv = k = 10 8
= 6,8 × 10 = 5,9 × 10
w av 10 0, 005 s dia (39)
Sabendo que a argila tem possibilidades de drenagem por ambas caras ( H d = 4,5m) , calculamos o fator
tempo:
t C 100 5,9 × 10 2
Tv = 2v = = 0, 29
Hd 4,52 (40)
Da Tabela 5, podemos ver que para um fator tempo de 0,29 o material tem um grau de adensamento ou
grau de recalque de 60%. Desta forma, podemos calcular o recalque para 100 dias como:
15cm
U= 0, 28 = 28%
54cm (42)
Copyright © 2017 Centro Universitário IESB. Todos os direitos reservados.
MECÂNICA DOS SOLOS | UIA 3 | 46
Da Tabela 5, podemos ver que este grau de recalque corresponde a um fator tempo de 0,0616. Assim,
podemos calcular o tempo necessário para ter 15cm de recalque como:
H d2 Tv 4,52 0, 0616
t= = 21 dias
Cv 5,9 × 10 2 (43)
Você terminou o estudo desta unidade. Chegou o momento de verificar sua aprendizagem.
Ficou com alguma dúvida? Retome a leitura.
Quando se sentir preparado, acesse a Verificação de Aprendizagem da unidade no menu
lateral das aulas ou na sala de aula da disciplina. Fique atento, essas questões valem nota!
Você terá uma única tentativa antes de receber o feedback das suas respostas, com
comentários das questões que você acertou e errou.
Vamos lá?!
REFERÊNCIAS
GLOSSÁRIO
Termo:Definição do termo apresentado
Tensão:Valor da distribuição de forças por unidade de área em torno de um ponto material dentro de
um corpo material ou meio contínuo.
Tensão Efetiva:Tensão que efetivamente atua no esqueleto de solo (nos contatos grão a grão), a qual é
responsável pelas características de deformabilidade e resistência ao cisalhamento dos solos.
Poropressão:Pressão da água nos vazios do solo
Adensamento Primário:Processo que acontece em solos finos, no qual o material experimenta
mudanças de volume, ao longo do tempo, pela expulsão da agua dos vazios.
Adensamento Secundário:Processo que acontece em solos finos, no qual o material experimenta
mudanças de volume causadas pelo ajuste da estrutura interna do solo após terminar o adensamento
primário.
Pré-adensamento:Quando um solo o estado de tensões atual é inferior às tensões experimentadas no
passado.
Recalque:Deslocamento vertical que aparece na superfície do terreno devido algum tipo de
carregamento.
Elasticidade:Propriedade de alguns materiais de que se deformam ao serem submetidos a ações
externas, retornando à sua forma original quando a ação externa é removida.