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RETOMANDO CONTEÚDO

Como era a primeira geração do romantismo?

• Nacionalismo;
• Presença do índio como herói nacional;
• Descrição do encontro entre índios e europeus como representação do
mito da criação do Brasil;
• Natureza brasileira exaltada como exuberante e confidente do sujeito
lírico dos poemas;
• Egocentrismo;
• Idealização do amor e da mulher.
Segunda geração
romantismo

O óleo sobre tela Melancolia, de


Constance Charpentier, ilustra a
segunda fase do romantismo.
A segunda geração do Romantismo brasileiro é denominada
ultrarromântica, mal do século, ou ainda, byroniana. Fortemente
influenciada por autores europeus como Goethe e Byron, os escritores
desse grupo produziram obras com certo tom pessimista e depressivo. O
exagero sentimental, o macabro e o delírio são marcas presentes nos
livros ultrarromânticos.
Contexto histórico
O contexto histórico do Romantismo é o período entre os séculos XVIII e XIX que compõe o
processo de ascensão da burguesia como classe dominante na sociedade. Em específico, uma
parcela significativa da juventude do século XIX encantou-se com a literatura ultrarromântica.

Isso ocorreu porque houve uma consonância de sentimentos e perspectivas de vida entre esses
jovens e as personagens retratadas nos romances e novelas românticos. O exagero sentimental,
o egocentrismo, a idealização da mulher, o pessimismo diante da existência e a vontade de fugir
são marcas tanto da ficção do período quanto da própria vida dessa parcela da sociedade.

De fato, por exemplo, após a publicação da narrativa “Os sofrimentos do jovem Werther”, de
Goethe, muitos jovens suicidaram-se, imitando o destino final do protagonista do livro. Esse fato
histórico representa muito bem como os autores da geração byroniana conseguiram representar
o espírito de uma parcela da juventude do período.
Características
Algumas das principais características da segunda geração romântica são:

Egocentrismo: Nas obras ultrarromânticas, é notável um claro enfoque no sujeito em


detrimento do mundo. Em muitas obras, inclusive, o espaço externo ao “eu” é apenas cenário
para a existência da personagem. Em geral, questões de ordem social – tensões do mundo
lá fora – não costumam ser abordadas pelos escritores dessa geração.

Sentimentalismo exagerado: A idealização amorosa e a projeção de uma mulher perfeita


são comuns nas obras da segunda geração romântica. O amor e a amada são quase sempre
utopias inatingíveis e, por isso, as personagens e os sujeitos líricos sofrem demasiadamente.

Forte tom depressivo: A depressão – ou “mal do século”, como era chamada – era
claramente perceptível no discurso presente nas prosas e poemas ultrarromânticos.
Tendência a fugas da realidade: Diante de um presente desastroso, marcado pela solidão
e pela desilusão amorosa, as personagens e sujeitos líricos da segunda geração romântica
apresentavam discursos em que exaltavam o desejo de fugir da realidade. Essa fuga
mostrava-se de diversas formas, como mediante o desejo de morrer, por meio da exaltação
da boemia desregrada, ou ainda fugindo para a infância.

Gosto pelo delírio e pelo macabro: A tematização do grotesco, do macabro e de situações


de delírio são comuns em narrativas ultrarromânticas.

Ironia romântica: Trata-se de um conceito utilizado para definir um certo comportamento


comum entre os autores da segunda geração romântica. Tal comportamento resume-se em
apresentar um alto grau de criticidade em relação às próprias produções ultrarromânticas.
Principais autores
Álvares de Azevedo (1831- 1852)

Manuel Antônio Álvares de Azevedo nasceu em 12 de setembro de 1831, em São Paulo.


Foi escritor contista, dramaturgo, poeta e ensaísta brasileiro. Destacam-se as obras
publicadas postumamente: Três Liras (1853) e Noite na Taverna (1855).

Álvares de Azevedo teve tuberculose, e por influência do conhecimento da doença que


possuía, Álvares de Azevedo desenvolveu uma verdadeira obsessão pela temática da
morte, evidente nas cartas à família e aos amigos. Além de um sentimento melancólico e
do desencanto pela vida, Álvares de Azevedo também incorpora o sarcasmo, a ironia e a
autodestruição de Musset.

O poeta do Romantismo tem poucas publicações, apesar de muito conhecidas, pelo fato
de morrer ainda jovem, aos 21 anos, em 25 de abril de 1852.
A LAGARTIXA
Posso agora viver: para coroas
A lagartixa ao sol ardente vive
Não preciso no prado colher flores;
E fazendo verão o corpo espicha:
Engrinaldo melhor a minha fronte
O clarão de teus olhos me dá vida,
Nas rosas mais gentis de teus amores
Tu és o sol e eu sou a lagartixa.
Vale todo um harém a minha bela,
Amo-te como o vinho e como o sono,
Em fazer-me ditoso ela capricha...
Tu és meu copo e amoroso leito...
Vivo ao sol de seus olhos namorados,
Mas teu néctar de amor jamais se esgota,
Como ao sol de verão a lagartixa.
Travesseiro não há como teu peito.
(Álvares de Azevedo)
LEMBRANÇA DE MORRER
Quando em meu peito rebentar-se a fibra, Eu deixo a vida como deixa o tédio
Que o espírito enlaça à dor vivente, Do deserto, o poento caminheiro,
Não derramem por mim nenhuma lágrima ... Como as horas de um longo pesadelo
Em pálpebra demente. Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

E nem desfolhem na matéria impura Como o desterro de minh’alma errante,

A flor do vale que adormece ao vento:


Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade... é desses
Não quero que uma nota de alegria
tempos
Se cale por meu triste passamento.
Que amorosa ilusão embelecia.
Só levo uma saudade... é dessas sombras Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Que eu sentia velar nas noites minhas... Se um suspiro nos seios treme ainda,
De ti, ó minha mãe, pobre coitada, É pela virgem que sonhei... que nunca
Que por minha tristeza te definhas! Aos lábios me encostou a face linda!

De meu pai... de meus únicos amigos, Só tu à mocidade sonhadora


Pouco - bem poucos... e que não zombavam Do pálido poeta deste flores...
Quando, em noites de febre endoudecido, Se viveu, foi por ti! e de esperança
Minhas pálidas crenças duvidavam. De na vida gozar de teus amores.
Sombras do vale, noites da montanha
Beijarei a verdade santa e nua,
Que minha alma cantou e amava tanto,
Verei cristalizar-se o sonho amigo...
Protegei o meu corpo abandonado,
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
E no silêncio derramai-lhe canto!
Filha do céu, eu vou amar contigo!

Mas quando preludia ave d’aurora


Descansem o meu leito solitário
E quando à meia-noite o céu repousa,
Na floresta dos homens esquecida,
Arvoredos do bosque, abri os ramos...
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
Deixai a lua pratear-me a lousa!
Foi poeta - sonhou - e amou na vida.

(Álvares de Azevedo)
Casimiro de Abreu (1837-1860)

Casimiro José Marques de Abreu foi poeta brasileiro, autor do célebre poema
"Meus Oito Anos" (1857). Ademais, podemos destacar as obras: As Primaveras
(1859), Saudades (1856) e Suspiros (1856).

Como outros escritores de seu tempo, também contraiu tuberculose, enfermidade


responsável pelo seu falecimento, com apenas 21 anos de idade, em 18 de
outubro de 1860.
MEUS OITO ANOS
Oh ! que saudades que eu tenho Como são belos os dias

Da aurora da minha vida, Do despontar da existência !

Da minha infância querida – Respira a alma inocência

Que os anos não trazem mais ! Como perfumes a flor;

Que amor, que sonhos, que flores, O mar é – lago sereno,

Naquelas tardes fagueiras O céu – um manto azulado,

À sombra das bananeiras, O mundo – um sonho dourado,

Debaixo dos laranjais ! A vida – um hino d’amor !


Oh ! dias de minha infância !
Que auroras, que sol, que vida,
Oh ! meu céu de primavera !
Que noites de melodia
Que doce a vida não era
Naquela doce alegria,
Nessa risonha manhã !
Naquele ingênuo folgar !
Em vez de mágoas de agora,
O céu bordado d’estrelas,
Eu tinha nessas delícias
A terra de aromas cheia,
De minha mãe as carícias
As ondas beijando a areia
E beijos de minha irmã !
E a lua beijando o mar !
Livre filho das montanhas, Naqueles tempos ditosos
Eu ia bem satisfeito, Ia colher as pitangas,
De camisa aberta ao peito, Trepava a tirar as mangas,
– Pés descalços, braços nus – Brincava à beira do mar;
Correndo pelas campinas Rezava às Ave-Marias,
À roda das cachoeiras, Achava o céu sempre lindo,
Atrás das asas ligeiras Adormecia sorrindo,
Das borboletas azuis ! E despertava a cantar !
Oh ! que saudades que eu tenho

Da aurora da minha vida

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais !

– Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais !


Atividades

Material impresso

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