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• Vírus da Poliomelite (PV)

→ Características
Sao vírus da família Picornaviridae, que sao classificados como enterovírus,
sendo o da poliomelite o enterovírus C, que e subdividido em PV-1, PV-2 e PV-3.
Sua estrutura tem forma esferoidal, sendo o vírion envolvido por um capsídeo de
simetria icosaedrica, sem a presença de envelope. Seu genoma e composto por
RNA+ linear de fita simples, o qual ja funciona diretamente como RNAm.
Sao estaveis em uma faixa de pH de 3 a 9 e apresentam resiste0 ncia a
muitos desinfetantes usados nos laboratorios como alcool etílico a 70%, lisol a
5%, alcool isopropílico (70 a 95%) e compostos quaternarios de amo0 nio a 1%,
alem de solventes lipídicos como eter e cloroformio. Sao termolabeis, sendo
destruídos pela exposiçao a 42°C, porem, na presença de cations de magnesio,
ocorre pouca inativaçao apos uma hora a 50°C. Sao estaveis por anos, em
temperaturas entre –20°C e –70°C. Sao inativados pela luz ultravioleta ou por
dessecaçao, principalmente em superfícies.

→ Biossíntese
A biossíntese desse vírus ocorre inteiramente no citoplasma. Para que haja
sua adsorçao, ele liga-se ao receptor CD155, uma proteína integral e membro da
superfamília das imunoglobulinas.
A partir de sua adsorçao, o capsídeo precisa se dissociar para liberar o
RNA no citoplasma. Essa liberaçao e conseque0 ncia da atuaçao do receptor ou do
correceptor, ou relacionada tambem com baixo pH, que leva a mudanças
estruturais no vírus, resultando em partículas que conte0 m o RNA viral sem a
proteína do capsídeo. No caso do poliovírus, certas proteínas participam da
formaçao de um poro pelo qual o RNA viral atravessa a membrana
citoplasmatica.
Uma vez no citoplasma, esse RNA e traduzido pelos ribossomas da celula
hospedeira para produzir as proteínas essenciais para a replicaçao e a síntese de
novas partículas virais.
Apos a síntese das proteínas, começa a replicaçao do RNA viral no retículo
endoplasmatico (RE) da celula. O primeiro passo da replicaçao e a síntese da fita
complementar negativa, por meio da transcriçao do RNA pela RNA polimerase-
RNA dependente. As fitas negativas de RNA vao servir de molde para as fitas
positivas. Esse processo e complexo e envolve a formaçao de intermediarios,
como a forma replicativa (FR) que consiste em uma molecula de fita dupla, uma
positiva e outra negativa; e o intermediario de replicaçao (IR), composto de uma
fita negativa, parcialmente hibridizada com varias fitas positivas de RNA
nascentes.
Podem ser liberados pela desintegraçao (lise) da celula hospedeira ou na
ause0 ncia de efeito citopatoge0 nico.
→ Patoge0 nese
Considera-se que a porta de entrada dos PV seja a mucosa da oro ou
nasofaringe, sendo pelo contato com perdigotos ou fezes.
A maioria dos indivíduos infectados elimina o PV em suas fezes durante 2 a
8 semanas apos a infecçao. Na fase inicial da infecçao, o vírus pode ser
encontrado na saliva, um modo de infecçao importante, pois dessa maneira o
vírus nao necessita permanecer por longos períodos no ambiente, facilitando a
infecçao. Alem da saliva, infecçoes por PV podem ser iniciadas por fo0 mites
contaminadas, presentes no meio ambiente.
O PV e replicado inicialmente em mucosas, especialmente nas placas de
Peyer (intestino – sao pH resistentes) e tonsilas. Em seguida, mais vírus sao
produzidos nos nodulos linfaticos cervicais e mesentericos profundos,
ocorrendo a viremia primaria, com invasao subsequente do sistema
reticuloendotelial (SRE), incluindo nodulos linfaticos, medula espinhal e baço.
Nessa fase, o SNC pode ser invadido, mas a doença nesse local ocorre geralmente
apos amplificaçao no SRE seguida por viremia secundaria., onde o vírus invade
os tecidos extraneuronais e acabam alcançando o SNC.
Desse modo, a patologia da poliomielite e decorrente da inflamaçao e da
destruiçao da massa cinzenta do SNC, especialmente da medula espinhal (cornos
anteriores). Os neuro0 nios motores localizados no tronco cerebral e hemisferios
cerebrais tambem podem ser infectados.

→ Manifestaçoes Clínicas
A poliomelite pode ser dividida em:
Poliomielite abortiva: a forma mais comum da doença, caracterizada por febre,
lassidao, sonole0 ncia, cefaleia, nausea, vo0 mito, prisao de ventre e inflamaçao da
garganta. O paciente se recupera em poucos dias. O diagnostico da poliomielite
abortiva pode ser feito quando os vírus sao detectados ou e comprovada a
elevaçao do nível de anticorpos.
Poliomielite não paralítica (meningite viral): alem dos sintomas referidos
anteriormente, o paciente tem rigidez e dor nas costas e nuca. A doença dura de
2 a 10 dias, sendo a recuperaçao rapida e completa, com um baixo percentual
evoluindo para paralisia.
Poliomielite paralítica: em media, apenas 1% das infecçoes por PV evoluem
para doença paralítica, conhecida como poliomielite. O período de incubaçao e
geralmente de 4 a 10 dias e a paralisia aparece 2 a 5 dias apos os sintomas
iniciais inespecíficos. A dor muscular reflete a produçao de vírus nesse tecido.
A paralisia e classificada como espinhal, bulbar ou bulboespinhal,
dependendo de onde se da a biossíntese. A poliomielite espinhal geralmente e
flacida, limitada aF s extremidades e tronco, com os pacientes apresentando desde
fraqueza branda a tetraplegia, resultando num quadro de paralisia que pode
recuperar-se totalmente.
Apenas 10 a 15% dos casos de poliomielite sao da forma bulbar e
envolvem nervos motores ou centros medulares que controlam a respiraçao e o
sistema vasomotor, gerando uma paralisia parcial que pode obter recuperaçao
parcial.
Ja a poliomelite bulboespinhal gera uma paralisia grave permanente,
levando o indivíduo a obito.
Síndrome Pós-Polio: pacientes com síndrome pos-polio (SPP) se queixam de
fraqueza, fadiga e dor, decadas apos a poliomielite paralítica. No entanto, nao se
conseguiu comprovar com certeza a presença do PV no fluido espinhal ou SNC
desses pacientes.
Os sintomas dependem das areas neurologicas afetadas pela poliomielite e
o grau de morte neuronal. A síndrome inicia-se com fadiga e debilidade
muscular, mas, lenta e progressivamente, podem ocorrer atrofia e dor muscular,
alem de dor articular, predominantemente nas grandes articulaçoes (quadril,
ombros e coluna vertebral). Os sintomas predominam nas extremidades
primariamente afetadas, ainda que posteriormente possam atingir extremidades
nao afetadas.
Quando ha o surgimento da poliomielite e o vírus provoca a morte dos
neuro0 nios motores, ocorrera, consequentemente, a perda da inervaçao e da
funçao motora das fibras musculares, resultando na paralisia flacida. Em
seguida, ocorre uma fase de recuperaçao, em que surgem novos brotos axonais
que reinervam as fibras dos musculos afetados, restaurando totalmente ou
parcialmente sua funçao. A apare0 ncia das sequelas iniciais no paciente e
diretamente dependente da eficie0 ncia desse processo de recuperaçao.
Muitos anos mais tarde, esses novos brotos axonais, que nao podem
permanecer estaveis indefinidamente, começam a morrer, produzindo uma nova
denervaçao das fibras musculares e o aparecimento dos sintomas da SPP que sao
os efeitos tardios da poliomielite.
Outra manifestaçao dessa síndrome e chamada de atrofia muscular
progressiva pos-poliomielite que e uma desordem neurologica primaria,
manifestada por atrofia lenta progressiva de musculos, com evidente destruiçao
de nervos motores.

→ Diagnostico
Para sua detecçao, os especimes clínicos mais usuais sao fezes, urina, ou
swab retal e lavado ou swab de garganta. Tambem e possível detectar vírus no
liquor (ou LCR, líquido cefalorraquidiano), em casos de meningite. Os PV sao
excretados no período prodro0 mico da doença e em curto período apos o
aparecimento da sintomatologia clínica, o que dificulta a sua detecçao nas fezes.
Nos casos fatais, a pesquisa dos vírus deve ser feita nos orgaos e no conteudo
intestinal.
Esses vírus apresentam efeito citopatoge0 nico e pode ser isolado e
propagado em celulas primarias ou de linhagem contínua de uma variedade de
tecidos de origem humana ou de macacos. De modo geral, ele e identificado por
testes sorologicos associados a testes moleculares. No entanto, somente o
isolamento e a identificaçao do vírus a partir do material clínico do paciente nao
sao suficientes para o diagnostico, uma vez que o vírus pode ser encontrado
fortuitamente, ou pode ser uma estirpe vacinal. Para a confirmaçao da infecçao
recente pelo vírus, e necessaria a comprovaçao da conversao sorologica em 2
amostras de soro ou a evidenciaçao de imunoglobulinas da classe M (IgM) em
uma unica amostra de soro.
Alem disso, com o conhecimento da seque0 ncia de nucleotídeos das
estirpes vacinais e selvagens predominantes, tecnicas de biologia molecular
como a tecnica de hibridizaçao e sequenciamento geno0 mico estao sendo
utilizadas para a diferenciaçao entre vírus selvagens e vacinais.
Os testes moleculares realizados em estirpes isoladas nas culturas
celulares pode ser por imunofluoresce0 ncia (IF), utilizando anticorpos
monoclonais específicos para o tipo, ou por teste de neutralizaçao (TN) com
antissoros policlonais específicos. Para a identificaçao das estirpes, em certos
casos, podem ser usados os testes de inibiçao da hemaglutinaçao (HI), fixaçao do
complemento (FC), ensaio imunoenzimatico (EIA), e mais recentemente, o teste
de hibridizaçao de acido nucleico, realizado diretamente em tecidos de biopsia.

→ Tratamento e Prevençao
Existem dois tipos de vacina para a poliomelite, sendo uma preparada com
vírus atenuados e outra com vírus inativados.
A vacina produzida com vírus da poliomielite inativado (VIP), quando
preparada e administrada apropriadamente, induz níveis adequados de
anticorpos sericos, conferindo imunidade humoral. Essa vacina tem a vantagem
de poder ser aplicada em indivíduos imunocomprometidos e naqueles nos quais
a vacina produzida com vírus atenuado nao e recomendada.
A vacina oral de poliovírus (VOP) vem sendo amplamente usada, pela
maior facilidade de administraçao (gotas orais), custo mais barato para a
aplicaçao, capacidade de induzir nao apenas anticorpos sericos, mas tambem
anticorpos secretores (IgA) e pela rapidez com que a vacina induz o
aparecimento de imunidade duradoura. A vacina oral e preparada com estirpes
atenuadas dos 3 sorotipos, utilizando celulas de origem humana ou de macaco.
A VIP e aplicada em esquema sequencial, utilizando atualmente 2 doses de
VIP aos 2 e 4 meses de idade, seguida da 1a dose de VOP aos 6 meses de idade e 2
doses de reforço, com uso de VOP, aos 15 meses e 4 anos de idade.
Ainda nao existem medicamentos para o tratamento direto do PV. Algum
controle pode ser conseguido com cuidados higie0 nicos especiais dos pacientes e
do pessoal que compoe equipes hospitalares. Na prevençao de surtos, podem ser
importantes as condiçoes que envolvem saneamento basico, com utilizaçao de
tratamento de esgotos e cuidados para prevenir a contaminaçao de aguas
utilizadas pela populaçao, para consumo ou lazer.

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