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Há saberes sabidos; há coisas que sabemos que sabemos. Há não saberes sabidos; ou seja, há
coisas que hoje sabemos que não sabemos. Mas também há não saberes não sabidos – há
coisas que não sabemos que não sabemos.
Existem poucas maneiras mais seguras de atiçar uma polêmica entre alunos
e educadores do que falar sobre testes. Em particular, nos últimos anos, o
foco crescente em avaliações padronizadas transformou os testes em um
para-raios para a frustração sobre como atingir as metas de educação do
país. Fóruns on-line e artigos são bombardeados por leitores que acusam:
essa ênfase em testes favorece a memorização em detrimento de uma
compreensão mais ampla do contexto ou da capacidade criativa; os testes
criam um estresse adicional para os alunos e dão uma falsa medida de
domínio dos conteúdos; e assim por diante. Mas se pararmos de pensar no
teste como a “vareta de óleo” que mede a aprendizagem – se pensarmos
nele como oferecendo a prática de recuperar da memória as informações
aprendidas em vez de como mera “avaliação” abrimos nossas mentes para
outra possibilidade: o uso dos testes como ferramenta para a aprendizagem.
Um dos mais contundentes resultados de pesquisa é o poder da
recuperação ativa de informações – ou seja, de fazer testes – para fortalecer
a memória. Quanto mais esforço exige a recuperação de informações, mais
forte é o benefício. Compare o simulador de voo e a palestra de PowerPoint.
Compare um questionário com a releitura. O ato de recuperar da memória
as informações aprendidas traz dois benefícios profundos. Primeiro: revela
a você o que você sabe e não sabe, e, portanto, onde concentrar os estudos
adicionais para melhorar nas áreas em que você é fraco. Segundo: recordar
o que você aprendeu estimula o seu cérebro a reconsolidar a memória, o
que fortalece as conexões com o que você já sabe e torna mais fácil de
recordar esse conhecimento no futuro. Com efeito, recuperar as
informações – testar a si próprio – interrompe o esquecimento. Analisemos
uma aula de ciências no 8º ano do ensino fundamental. Para a aula em
questão, em uma escola dos anos finais do ensino fundamental em
Columbia, Illinois, os pesquisadores se organizaram para que parte do
conteúdo abrangido durante o curso fosse o tema de testes de poucas
consequências para os alunos (com feedback) em três momentos ao longo
do semestre. Outra parte do conteúdo nunca foi testada por meio de provas,
mas foi estudada em três revisões sucessivas. Em um teste realizado um
mês depois, qual conteúdo foi mais bem relembrado? Em média, os alunos
pontuaram A no conteúdo incluído nos testes e C+ no conteúdo revisado,
mas não incluído neles.13
No caso de Matt Brown, mesmo após 10 anos pilotando o mesmo jato
comercial, a cada seis meses, o empregador dele reforça o conhecimento
dos pilotos por meio de uma bateria de testes e simulações de voo que
exigem recuperar as informações e as manobras que são essenciais para
manter o controle de sua aeronave. Como Matt salienta, você raramente se
depara com uma emergência; por isso, se não pratica o que é necessário
fazer, não há como reforçar a memória.
Esses dois casos – a pesquisa em sala de aula e a experiência de Matt
Brown em atualizar o seu conhecimento – salientam o papel crucial da
prática de recuperar informações para manter nossos conhecimentos
acessíveis a nós para quando precisarmos deles. O poder de recuperar
informações de modo ativo é o tema do Capítulo 2.14
A LIÇÃO
AL] N. de T.: A expressão “anos finais do ensino fundamental (EF)” refere-se ao termo original middle
school, que, nos Estados Unidos, vem após a elementary school (anos iniciais do EF) e antes da high
school (ensino médio).
ES] N. de T.: No original, firehose. Nos Estados Unidos, a expressão “beber da mangueira de incêndio”
significa receber mais informações do que você é capaz de lidar.
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Alguém de certa distância deve ter disparado o que aparentava ser uma espingarda de calibre
12, a bala fez uma parábola sabe-se lá a que distância, atingiu esse sujeito na nuca, fraturou o
crânio dele e se alojou a 2,5 cm no interior do cérebro. O projetil já devia ter perdido a força,
senão teria penetrado mais fundo.1
Você diz a si mesmo: “Este paciente vai precisar de cirurgia. Há tecido cerebral saindo da
ferida. Temos que limpar o local e fazer o reparo da melhor maneira possível, mas, ao fazê-lo,
podemos danificar aquela veia grande e isso pode ser muito, muito grave”.
Então você repassa a lista de verificação. E diz: “Talvez eu precise de uma transfusão de
sangue para este paciente”, então providencia um pouco de sangue. Revisa os passos A, B, C
e D. Prepara a sala de cirurgia, avisando a equipe de antemão sobre o que podem encontrar.
Tudo isso é uma espécie de protocolo, muito parecido com um policial se preparando para
mandar um carro parar para examinar os documentos do condutor:[NT] você sabe o que reza a
cartilha, já está familiarizado com todas essas etapas.
Em seguida, ao entrar na sala de cirurgia, você continua no “modo” em que há tempo para
pensar nos detalhes. Você diz: “Puxa vida, não quero apenas chegar e arrancar o projétil.
Afinal, há o risco de um sangramento importante. Em vez disso, vou tentar trabalhar em torno
das bordas e liberaro local, sempre atento ao que possa dar errado. Só então eu vou extirpar o
projétil”.