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Chemical Engineering Educations, 45(4), 257-258 (Fall 2011)

Pensamentos ao acaso... prática de ensino. Aqui estão alguns desses


princípios:

COMO FUNCIONA A (P1) 1º Princípio: o conhecimento anterior


APRENDIZAGEM dos alunos pode tanto ajudar quanto
atrapalhar a aprendizagem.
Rebecca Brent A maioria das informações adquiridas através
Richard M. Felder de nossos sentidos nunca entra em nosso
consciente ou é rapidamente filtrada e perdida.

N as últimas décadas, cientistas da cognição Apenas uma porcentagem relativamente


têm feito progresso significativo a fim de pequena é mantida na memória a longo prazo.
compreender como e em que condições o As chances de os alunos reterem novas
cérebro extrai e armazena informação – ou informações aumentam quando as informações
seja, o que facilita e o que dificulta a são explicitamente vinculadas ao conhecimento
aprendizagem. prévio que possuem. Além disso, com
frequência, os alunos chegam até nossa
disciplina equivocados sobre aquilo que
ensinamos ou o tema da disciplina. Se não
conseguirmos convencê-los do contrário, eles
podem aprender o conteúdo e repeti-lo como
papagaios nas avaliações, mas a fé nos
equívocos permanecerá inabalável.

(P2) 2º Princípio: o modo como os


estudantes organizam o conhecimento
influencia na maneira como aprendem a
aplicam aquilo que sabem. Uma grande
diferença entre especialistas e novatos é que os
especialistas já organizaram o conhecimento
que possuem de acordo com padrões mentais
enquanto os novatos ainda não o fizeram.
Quando um especialista encontra um novo
Entretanto, poucos professores universitários problema, a organização mental que já possui
tiveram a oportunidade de aprender sobre permite que, rapidamente, adote uma
ciência cognitiva antes ou depois de iniciar a estratégia efetiva para problemas daquele tipo,
carreira nas instituições de ensino superior. Por enquanto os novatos estão mais propícios a se
isso mesmo, ensinam do mesmo modo como perder em meio às estratégias escolhidas ao
foram ensinados e, com frequência, fazem acaso.
coisas que interferem na aprendizagem dos
alunos ou, ao contrário, não conseguem fazer (P3) 3º Princípio: a motivação dos alunos
algo efetivo para promover a aprendizagem. determina, direciona e sustenta aquilo que
fazem para aprender. A motivação para
Felizmente, hoje em dia, existe um número aprender algo em uma disciplina ou curso
crescente de livros que traduzem o jargão cresce quando os alunos acreditam que a
denso de pesquisas sobre o cérebro em uma disciplina é importante e envolve habilidades
linguagem acessível a professores de diversos necessárias à profissão, ou quando pensam que
campos do conhecimento, permitindo a leitura, terão uma boa chance de serem aprovados.
compreensão e aplicação desses princípios.
(P4) 4º Princípio: para desenvolver o
Uma dessas traduções recentes, especialmente domínio sobre o conhecimento, os alunos
bem escrita, é How Learning Works1 que devem adquirir habilidades específicas,
contém vários princípios oriundos diretamente saber praticar e integrar tais habilidades,
da pesquisa cognitiva e suas implicações para a bem como saber o modo de aplicar o que
têm aprendido.

1
AMBROSE, S. A.; BRIDGES, M.W.; DIPIETRO, M.; LOVETT, (P5) 5º Princípio: a prática orientada para
M. C.; NORMAN, M.K. (2010). How learning works: seven objetivos, juntamente com feedback,
research-based principles for smart teaching. San
Francisco: Jossey-Bass.
melhora a qualidade da aprendizagem dos
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Chemical Engineering Educations, 45(4), 257-258 (Fall 2011)

alunos. Os alunos aprendem por meio de o conhecimento prévio dos alunos, níveis de
estratégias para solução de problemas e habilidade, interesses e objetivos. Vincule o
melhoram suas habilidades quando, de início, conteúdo que está ensinando a algo que eles já
tentam realizar pequenas tarefas que requerem conhecem de cursos anteriores ou por meio de
certas estratégias e habilidades e recebem experiências pessoais. Conecte teorias
feedback para suas tentativas. Ao tentar abstratas e conceitos do curso a problemas já
novamente, obtêm melhores resultados, e, conhecidos do mundo real e suas aplicações.
gradualmente, seguem em direção a problemas Execute ou simule experimentos que abordem
mais complexos. O aperfeiçoamento do equívocos comuns, peça aos alunos para prever
conhecimento cresce quando passam a os resultados e, em seguida, auxilie aqueles
compreender os objetivos do professor e que predisseram incorretamente a descobrir por
recebem feedback claro sobre as habilidades que estavam errados.
específicas necessárias para a realização das
tarefas. 2ª Estratégia: seja claro sobre as metas e
objetivos de aprendizagem da disciplina,
(P6) 6º Princípio: o nível atual de bem como as expectativas. (P3, P5, P6).
desenvolvimento dos alunos exerce ação Faça com que seus objetivos de aprendizagem
mútua no clima social, emocional e ao mesmo tempo desafiem e sejam passíveis
intelectual da disciplina, bem como exerce de serem atingidos pela maioria dos alunos de
impacto em sua aprendizagem. Boas sua classe. Escreva detalhadamente os
disciplinas desafiam os alunos a questionar e objetivos de aprendizagem que especifiquem o
revisar conceitos e crenças com base nas que os alunos devem ser capazes de fazer
melhores evidências disponíveis. A habilidade (definir, explicar, calcular, modelar, criticar,
para superar o desafio irá depender muito do projetar, entre outros), se adquiriram o
clima da classe, se é de apoio (se os alunos se conhecimento e habilidades que você tentou
sentem aceitos e seguros, mesmo quando suas ajudá-los a desenvolver, compartilhando esses
ideias estão sendo desafiadas), se é um clima objetivos com os alunos. (Apresentar aos
frio (quando sentem que são anônimos e suas alunos as diretrizes para provas e avaliações é
ideias são irrelevantes ou inaceitáveis), ou uma maneira eficaz de fazê-los prestar
hostil (quando se sentem marginalizados por atenção). Certifique-se de que suas provas ou
causa de sua raça, gênero ou crença, ou avaliações estejam claramente vinculadas aos
percebem o professor como um adversário ao objetivos de aprendizagem, aulas e tarefas
invés de fonte de apoio). Em um clima planejadas para a disciplina.
favorável, os alunos estão muito mais
propensos a atingir os objetivos de 3ª Estratégia: distribua em níveis as
aprendizagem do professor e adquirem tarefas complexas (P2-P7). Ensine e teste
autoconfiança, autonomia e um senso de em um nível que seja desafiador, mas não
identidade pessoal e profissional. muito acima dos conhecimentos e habilidades
atuais dos alunos. Identifique as tarefas que os
(P7) 7º Princípio: para se tornar um alunos possuem maior dificuldade para realizar
aprendiz independente, o aluno deve e execute atividades semelhantes em classe ou
desenvolver a capacidade de avaliar as em forma de tarefa para casa, a fim de que
demandas de uma determinada tarefa, possam praticá-las e receber feedback das
avaliar seus próprios conhecimentos e habilidades requeridas, e, só então, apresente
habilidades, planejar seu método e problemas que exijam a combinação de
monitorar seu progresso, ajustando suas habilidades, ampliando os níveis de
estratégias conforme necessário. aplicabilidade das tarefas.
Metacognição (ou autorreflexão sobre o
aprendizado), repetidas vezes, demonstra e 4ª Estratégia: ajude os alunos a aprender
promove o desenvolvimento de habilidades como especialistas (P2, P4, P7). Mostre aos
cognitivas. alunos - ou melhor, peça a eles que criem
representações gráficas ou mapas conceituais
As estratégias de ensino, a seguir, referem-se sobre o tópico que você está ensinando. Peça-
aos sete princípios apresentados (P1-P7). lhes que formulem estratégias de solução antes
de começarem a trabalhar em novos
1ª Estratégia: obtenha dados sobre os problemas, e quando concluírem as tarefas,
estudantes e use-os para planejar a reserve um tempo para que possam refletir
disciplina. (P1, P3) Reúna informações sobre sobre o que aprenderam e o que fariam de
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Chemical Engineering Educations, 45(4), 257-258 (Fall 2011)

diferente no futuro. Quando pedir aos alunos Rebecca Brent é consultora em


educação e especialista no
para elaborar estratégias e refletir sobre elas,
desenvolvimento de metodologias
explique porque você está fazendo isso e para ensino universitário. Publicou
forneça bons e maus para ambos os processos. artigos sobre a escrita em cursos
de graduação, aprendizagem
cooperativa, reforma da escola
5ª Estratégia: estabeleça um clima de
pública e ensino efetivo na
apoio na classe (P3, P6). Aprenda e fale o universidade.
nome dos alunos, encorajando-os a interagir
com você dentro e fora de sala de aula. Deixe
claro que pontos de vista e abordagens
alternativas podem ser desafiados em sua aula,
Artigo original disponível em:
mas jamais desrespeitados. Evite usar uma http://www4.ncsu.edu/unity/lockers/users/f/felder/public/C
linguagem que possa ser vista como olumns/Ambrose.pdf Acesso em 31 de jan. 2018.
estereotipada ou que desrespeite os alunos. Ao
mesmo tempo, desafie qualquer estereótipo ou
linguagem desrespeitosa ou discriminatória
dirigida por qualquer aluno aos demais colegas
de classe. Faça com que as avaliações ou
trabalhos propostos sejam desafiadores, mas
justos, teste apenas o que você ensinou e dê
tempo suficiente para que a maioria dos alunos
complete as avaliações e revise as soluções.
Colete feedback anônimo dos alunos sobre a
disciplina e investigue e responda a qualquer
queixa relacionada ao clima da classe.

Se você é um bom professor deve estar


coçando a cabeça agora e dizendo: “Por que
vocês estão me incomodando com esse monte
de sugestões que eu já sabia e tenho praticado
durante anos em minhas aulas”?

É verdade que não há nada de novo nas


estratégias recomendadas; a novidade é que,
além de ter amplo apoio teórico e empírico –
prática dos professores – essas estratégias
agora possuem bases sólidas nas ciências que
estudam o cérebro.

Richard M. Felder é professor


emérito de Engenharia Química
na Universidade Estadual da
Carolina do Norte. Ele é coautor
de numerosos artigos sobre
engenharia química e educação
científica, e regularmente
apresenta workshops sobre
ensino universitário nos campi e
conferências ao redor do mundo.
Suas publicações podem ser
vistas em
www.ncsu.edu/effective_teaching

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