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Quizzes: vantagens da sua utilização na avaliação

formativa
Sónia Cruz
Universidade Católica Portuguesa – Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais
soniacruz@braga.ucp.pt

Resumo – Os nossos alunos, cada vez mais precocemente, fazem-se acompanhar dos
mais variados dispositivos móveis e essa oportunidade pode e deve ser aproveitada pelos
professores na promoção da aprendizagem dos mais variados temas. Nesse sentido, é
nossa intenção apresentar o projeto que, apesar de se encontrar na fase concetual, tem por
objetivo demonstrar quer a alunos, quer a professores quais as vantagens da utilização de
quizzes na aprendizagem de um tema da disciplina de História, enquanto recursos de
avaliação formativa, recorrendo, para tal, aos dispositivos móveis dos alunos.

Palavras- chave: Quizzes, Aprendizagem, Avaliação Formativa, Dispositivos Móveis.

Introdução
Numa sociedade que se caracteriza pela globalidade, mobilidade e portabilidade, cada vez
mais as tecnologias deixaram de ser meros acessórios ao serviço de alguns e passaram a
desempenhar um papel determinante na vida de muitos. Ninguém, hoje, parece estar disposto
a abdicar dos seus dispositivos ou conexão à Web sendo que a maioria os considera,
inclusivamente, extensões de si próprios, da própria cognição. Os nossos alunos e professores
(nativos ou imigrantes digitais como Prensky (2001) os designou), vivendo numa sociedade
com estas características e cada vez mais imersos nesta era tecnológica, têm também esse
entendimento, ainda que nem sempre compreendam verdadeiramente o fenómeno. Partindo
deste entendimento, torna-se claro que os desafios que os professores de hoje enfrentam são
vários e que urge que se atendam a novas formas de aprender uma vez que estamos perante
a emergência de novas culturas de aprendizagem (Ehlers, Helmstedt & Richter, 2010;
Redeckers, 2009). A própria evolução tecnológica criou novas oportunidades de aprendizagem
(Moura, 2010) e a crescente aplicação das tecnologias digitais em contexto educativo tem
proporcionado avanços no que respeita à descentralização do professor na transmissão de
conhecimentos, assistindo-se à progressiva utilização de materiais multimédia na aula por
comparação aos materiais impressos (Rolo & Bidarra, 2011). Neste contexto, os quizzes
podem constituir-se como um recurso multimédia que, dependendo da plataforma usada na

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sua conceção, podem ser encarados como um jogo e possibilitar experiências educativas
interessantes quer para os alunos, quer para os professores enquanto mediadores do
conhecimento. Aliado a este tipo de recursos, a sua utilização no âmbito da avaliação formativa
permite ao professor, com recurso aos dispositivos móveis dos alunos, proporcionar
experiências enriquecedoras e que, na linha da avaliação formativa, poderá ―determinar o grau
de domínio de uma determinada tarefa de aprendizagem e indicar a parte da tarefa não
dominada‖ (Bloom, Hastings & Madaus, 1971, p. 61). Este tipo de recurso, ao não ter como
objetivo atribuir uma nota ao aluno, visa antes proporcionar a ambos os agentes, aluno e
professor, um feedback para que se detenham na aprendizagem específica que ainda se
revela necessária ao domínio do conteúdo em estudo. Esta modalidade de avaliação ajuda o
aluno a aprender e o professor a ensinar, isto é, ―permite, por um lado, ajudar o aluno a
ultrapassar as dificuldades de aprendizagem, e, por outro, auxiliar o professor a diferenciar o
ensino e a fazer alterações de modo a caminhar no sentido de uma pedagogia diferenciada.‖
(Pacheco, 1994, p. 32). Ao mesmo tempo, ao tirar partido dos dispositivos móveis dos alunos,
na linha do BYOD (Bring Your Own Device), podemos envolver os alunos na aprendizagem
mostrando-lhes por um lado o nível de aquisição de conteúdos que revelam e qual o nível
desejado e, por outro lado, mostrar-lhes que os dispositivos que dispõem podem ser
excelentes mediadores na regulação da sua própria aprendizagem.
Partindo deste entendimento, apontamos de seguida as potencialidades que os quizzes podem
assumir no contexto sala de aula, enquanto instrumento de avaliação formativa, apresentando,
igualmente, algumas plataformas que proporcionam a sua criação. Seguidamente
descrevemos o projeto que está a ser concebido com o objetivo enunciado acima, sendo que a
obtenção de dados só posteriormente poderá ser apresentada uma vez que a fase de
implementação decorrerá ainda este ano letivo.

O quiz no processo de ensino-aprendizagem


Entre as possíveis utilizações dos quizzes, tipicamente estes podem servir como i) ferramenta
de diagnóstico, ii) preparação dos alunos para avaliações, iii) aprendizagem diferenciada, iv)
aprendizagem em contextos não formais, v) reforço dos conhecimentos teóricos trabalhados,
vi) instrumento para rever conteúdos, vii) recurso para avaliar formativamente e viii) motivação
para o estudo (Thalhermer, 2003).
Não obstante, Thalhermer (2003) chama a atenção para a necessidade de se compreender
que o modo como se formulam as questões podem resultar em efeitos diferentes:
―When we mass questions together before learning, we can call them ―prequestions.‖
When we mass them after learning, we can call them postquestions (ex.quizzes). When
questions are used during learning events, we can call them ―inserted prequestions‖ or
―inserted postquestions. […] Prequestions help learners to focus their attention on the
targeted information when they encounter it later. Postquestions provide learners with
practice in retrieving information from memory. They also can be used to provide

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learners with feedback. Both prequestions and postquestions providere petition of the
learning material and motivation for study. They also guide learner attention to the type
of material queried by the questions‖ (Thalhermer, 2003, p.5-6).

Importa, portanto, que a formulação das questões seja cuidada, pois desse cuidado resulta o
entendimento claro das potencialidades e das limitações dos diferentes tipos de questões e dos
efeitos que se desejam (v. tabela 1).

Pré-questões Pós-questões Ambos os tipos de questões

Atenção/concentração Memória Repetição


Exercitando a memória, Proporciona uma aprendizagem mais
Ajuda os alunos a faculta aos alunos a consistente dos conteúdos.
concentrar a atenção capacidade de identificar
Potencialidades

sobre os conteúdos que a informação relevante Atenção/concentração


irão aprender. aprendida. Ajuda os alunos a focar os conteúdos
através das questões respondidas.
Feedback
Oferece aos alunos um Motivação para o estudo
feedback para corrigir Potencia aos alunos a capacidade de
ideias pré-concebidas identificar os conteúdos, podendo
e/ou erradas. motivá-los a envolver-se em atividades
de aprendizagem adicionais.

Pode desviar a atenção Os benefícios da prática A aprendizagem só é efectiva se os


dos alunos para de recuperação são alunos prestarem atenção às perguntas e
informação/ conteúdo maiores se os alunos as tentarem responder.
Limitações

pouco relevantes. responderem


corretamente à maioria
das perguntas.

O feedback deve ser


efetivamente percebido.

Tabela 1. Efeito dos diferentes tipos de questões (Thalhermer, 2003, p.7)

Roediger, Putnam & Smith (2011), desenvolveram um estudo que resultou na definição dos
‗Ten Benefits of Testing and Their Applications to Educational Practice‘ (v. tabela 2),
explicitando os benefícios mais ou menos diretos da sua utilização nas práticas pedagógicas.

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Benefícios dos Quizzes
1 The testing effect: retrieval aids later retention
2 Testing identifies gaps in knowledge
3 Testing causes students to learn more from the next learning episode
4 Testing produces better organization of knowledge
5 Testing improves transfer of knowledge to new contexts
6 Testing can facilitate retrieval of information that was not tested
7 Testing improves metacognitive monitoring
8 Testing prevents interference from prior material when learning new material
9 Testing provides feedback to instructors
10 Frequent testing encourages students to study

Tabela 2. Os 10 benefícios dos Quizzes (Roediger, Putnam & Smith, 2011, p.4)

Os autores (idem) consideram então que realizar um quiz relacionado com os conteúdos
estudados, durante a aula ou na mesma semana, torna mais provável a retenção do conteúdo
a longo prazo. Além disso, o quiz permite identificar lacunas no conhecimento e, deste modo,
identificar quais os aspetos da matéria que necessitam de reforço. Ao mesmo tempo, ao ajudar
o aluno a adquirir e sistematizar alguns aspectos é-lhe possibilitada uma assimilação facilitada
dos conteúdos seguintes, tornando a aprendizagem mais produtiva e significativa. Para os
autores, um outro benefício de responder a quizzes é que estes possibilitam uma melhor
organização do conhecimento, ajudando o cérebro a organizar o material para permitir uma
melhor memorização e assimilação, além de potenciar a transferência de conhecimentos para
novos contextos. Responder a um quiz pode fornecer mais detalhe sobre assuntos já
trabalhados, fomentando a co-responsabilidade do aluno no processo de aprendizagem. Além
disso, possibilita ao aluno realizar autoavaliações, dando-lhe condições para avaliar melhor os
seus conhecimentos e ser mais confiante sobre o que sabe e o que precisa saber. A realização
de um quiz, antes do estudo da temática, pode ter como efeito despertar o interesse do aluno
pelo tema a estudar, permitindo ao professor, de acordo com o resultado obtido, orientar as
aprendizagens a realizar. Os quizzes são, igualmente, uma forma de feedback que permite
aos alunos, mas também aos professores, identificar o que foi e o que ficou por aprender. Os
autores defendem também que a realização de quizzes motiva para o estudo e reduz a
procrastinação. Acrescentamos a estes benefícios que o aumento de avaliações formativas
liberta os professores de parte do trabalho de correcção das provas, constituindo um benefício
adicional para a aprendizagem (Thalhermer, 2003).

Ferramentas para a criação (gratuita) de Quizzes


Criar um quiz online é uma opção ao dispor dos utilizadores da Web sendo que são inúmeras
as plataformas que permitem a sua criação. Geralmente gratuitas e com interfaces intuitivas, a

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dificuldade é mesmo optar por uma delas. Com o objectivo de facilitar a escolha por uma
plataforma, optámos por fazer uma breve descrição comparativa entre dez das mais
conhecidas plataformas que possibilitam essa criação (v. tabela 3).

Monitorizaçao
Tipos de dos
Tipos de Questões Cronometrado Feedback
media resultados p/
professor
https://getk
ahoot.com

Imagem Escolha múltipla, Sim Sim Sim


Verdadeiro e falso,
Kahoot
Vídeo seleccionar a partir de
uma lista.
www.g

box.co
osoap

Imagem Escolha múltipla, Não Sim Sim


m

GoSoapBox Resposta curta

Sim Sim
www.goco
nqr.com

GoConqr Imagem Escolha múltipla, Apenas se o


Verdadeiro e falso, (no final do aluno partilhar
seleccionar a partir de quiz) os resultados
uma lista.
quizcreator.
www.online

Imagem Escolha múltipla, Não Sim Estatísticas e


com

completar os espaços. rankings


QuizWorks (somente na
(15 questões por quiz) versão paga)
https://activete
xtbook.com

Imagem Escolha múltipla; Não Sim Não


Múltiplas respostas;
Active Verdadeiro ou Falso e
Vídeo
Textbook Resposta curta
Áudio
https://docs.goo
gle.com/forms

Imagem Resposta curta, Não Sim Sim


Parágrafo, Escolha
Formulários Vídeo múltipla; Caixas de
do Google verificação; Pendente,
Escala Linear, Grelha
de escolha múltipla.
www.blu

Vídeo Escolha múltipla Não Sim Não


bbr.tv

Blubbr
ucanon.
www.ed

Vídeo Escolha múltipla, Não Sim Sim


com

EduCanon completar os espaços,


Escala Linear.
www.zaption.c

Imagem Escolha múltipla, Não Sim Sim


Zaption completar os espaços,
om

Vídeo Escala Linear

Áudio
www.rid
dle.com

Imagem Escolha múltipla, Não Sim Sim


Riddle.com Verdadeiro ou Falso.
Vídeo
Tabela 3. Plataformas Web para a criação de Quizzes

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Descrição do Projeto
As primeiras etapas deste projecto passaram pela revisão da literatura com o objetivo de fazer
um levantamento sistemático de estudos e artigos realizados no âmbito da utilização de
quizzes, atendendo quer ao impacto da integração destes recursos em termos de aquisição de
conhecimento específico, quer do interesse manifestado por alunos e professores da sua
utilização enquanto instrumento de avaliação formativa.
A fase seguinte implica o estudo empírico a desenvolver com todas as turmas do 6º ano de
escolaridade de um agrupamento de escolas do concelho de Viana do Castelo, no âmbito do
estudo do tema ―25 de Abril‖, temática tipicamente abordada no 3.º período letivo.
No que concerne ao design de investigação, a intervenção terá lugar em cada uma das turmas
envolvidas antes e após a leccionação da temática indicada. O instrumento criado (Quiz) e
aplicado antes da leccionação do conteúdo tem por objetivo introduzir os alunos ao conteúdo a
aprender, procurando suscitar, igualmente, interesse pelo mesmo ao mesmo tempo que
permite aferir do conhecimento tácito e prévio sobre o assunto. O mesmo instrumento será
passado aos alunos das turmas após a leccionação da temática sendo que, nesse momento
posterior, o quiz visa aferir a aquisição e aplicação dos conhecimentos num momento que se
deseja ser de avaliação formativa. Pretendemos que a resposta ao quiz seja feita através dos
dispositivos móveis dos alunos. Assim sendo, só após a verificação da posse dos dispositivos
móveis que os participantes no estudo detiverem, a atividade se realizará nestes moldes. Na
eventualidade dos participantes não possuírem os dispositivos móveis necessários ao bom
funcionamento da actividade, a mesma decorrerá mas com recurso aos computadores da
escola.
Posteriormente, será igualmente recolhida informação através de um inquérito por questionário
relativa à i) fluência tecnológica dos alunos e à ii) motivação de ambos os agentes para a
utilização destes recursos em momentos de avaliação formativa. Para além disso, iremos
procurar percepcionar as questões que os alunos mais erraram em ambos os momentos, a fim
de aferir, no primeiro momento, quais as ideias prévias que os alunos possuem sobre esse
conteúdo, e no segundo momento, indagar sobre as questões que os alunos tiveram mais
dificuldade de modo a corrigir e potenciar as aprendizagens que se pretendem ver alcançadas.

Conclusão
Com o estudo que pretendemos aplicar no âmbito da disciplina de História, é nossa intenção
aferir em que medida os quizzes podem ser utilizados como recursos de apoio educativo em
momentos de avaliação formativa e formadora dos alunos, bem como indagar sobre a posição
dos agentes educativos envolvidos sobre a sua utilização. Após a recolha de dados,
intencionamos adotar um procedimento estatístico para a análise dos resultados obtidos
através dos inquéritos por questionário e, mediante as conclusões observadas, melhorar os
instrumentos criados e desenhar um novo projeto a aplicar aos alunos do 3.º ciclo do ensino
básico.

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Referências
Bloom, B.; Hastings, J.; Madaus, G. F. (1971). Handbook of formative and summative
evaluation of student learning. New York: McGraw-Hill.
Ehlers, U.D., Helmstedt, C. & Richter, T. (2010). Analizing New E-learning Culture. In Alain Tait
& András Szücs (eds.), Proceedings of the EDEN 2010 Annual Conference (pp. 3).
Budapeste: European Distance and E-learning Network.
Moura, A. (2010). Apropriação do Telemóvel como Ferramenta de Mediação em Mobile
learning: Estudos de Caso em Contexto Educativo. Tese de Doutoramento em Ciências
da Educação. Especialidade em Tecnologia Educativa. Universidade do Minho, Braga.
Pacheco, J. A. (1994). A avaliação dos alunos na perspectiva da reforma. Porto: Porto Editora.
Prensky, M. (2001). Digital Natives, Digital immigrants. Disponível em:
http://www.marcprensky.com. (Acessível em 2 de Fevereiro de 2016).
Redeckers, C. (2009). Review of Learning 2.0 Practices: Study on the Impact of Web 2.0
Innovations on Education and Training in Europe. JRC Scientific and technical reports.
Espanha: Joint Research Centre/Institute for Prospective Tecnological Studies
(European Comission).
Roediger, H. L., Putnam, A. L., & Smith, M. A. (2011). Ten benefits of testing and their
applications to educational practice. In J. Mestre & B. Ross (Eds.), Psychology of
learning and motivation: Cognition in education (pp. 1-36). Oxford: Elsevier. Disponível
em:
http://psych.wustl.edu/memory/Roddy%20article%20PDF's/BC_Roediger%20et%20al%2
0%282011%29_PLM.pdf (Acessível em 5 de janeiro de 2016).
Rolo, R. & Bidarra, J. (2011). Jogos e aplicações multimédia em educação musical. In P. Dias e
A. Osório (orgs), Atas da VII Conferência Internacional de TIC na Educação –
Challenges 2011. Braga: Centro de Competência da Universidade do Minho, 313-321.
Thalheimer, W. (2003). The learning benefits of questions. Disponível em: http://www.work-
learning.com/ma/PP_WP003.asp (Acessível em 5 de fevereiro de 2016).

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