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“APRENDER A APRENDER”
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A problematização imprime às práticas pedagógicas a importância de considerar
o aprendizado como um processo incessante, inquieto, curioso e, sobretudo,
permanente por saber. A professora de Biologia Renata Mello faz uma importante
reflexão sobre a importância da problematização para o desenvolvimento da
autonomia intelectual dos alunos: “A problematização é essencial a essa proposta
de educação integral, pois cria condições para que o jovem possa ‘aprender a
aprender’. O jovem aprende que o conhecimento é uma busca e não um ponto de
chegada. E essa postura é um exercício de protagonismo”. A estudante Karina
Madruga completa: “Não é nem por nota. É ter vontade de resolver as tarefas,
entender realmente o conteúdo, não só decorar e fazer o teste. É começar a
entender as coisas mesmo”.
Aulas pautadas pela problematização exigem que o
planejamento do professor seja muito bem estruturado, pois esse
AULAS ESTRUTURADAS BASEIAM-SE EM SEQUÊNCIAS
é um processo dialógico desafiante e que envolve a utilização de
recursos variados, que tenham como objetivo ampliar as fronteiras DIDÁTICAS – OU PROJETOS – DESENHADAS DE MODO A
de determinado conhecimento, a partir de pontos de vista diversos. EXISTIREM DESAFIOS CRESCENTES AOS ESTUDANTES,
“O planejamento da aula requer preparo, mas vai além: o seu INCLUINDO MOMENTOS DE AVALIAÇÃO E DE
objetivo é o aprendizado do aluno. Posso entrar na sala de aula e APROPRIAÇÃO DOS RESULTADOS AO LONGO DELES.
falar: Hoje eu vou dar as Leis de Newton. Ensino as três Leis e TAMBÉM É INTERESSANTE QUE HAJA MOMENTOS DE
pronto, dei o conteúdo. Mas eu tenho que ter um objetivo naquela
CULMINÂNCIA, QUANDO AS PRODUÇÕES DOS ALUNOS
aula: Quero que meus alunos aprendam as Leis de Newton. E esse
SÃO COMPARTILHADAS COM A COMUNIDADE ESCOLAR E
objetivo está sempre na minha cabeça. Eu conduzo a
ATÉ MESMO COM A COMUNIDADE EXTERNA À ESCOLA.
problematização para chegar ao meu objetivo. Faço perguntas para
ESSE PROCESSO EDUCATIVO ESTRUTURANTE PERMITE QUE
trazer do aluno as ideias que ele tem sobre alguns conceitos.
O PROFESSOR POSSA PLANEJAR SUAS AÇÕES E ANTEVER
Depois, trabalho com um texto, ou um vídeo, ou um simulador no OS MOMENTOS ESTRATÉGICOS PARA COLHER EVIDÊNCIAS
computador, ou um experimento. Trabalhei as Leis de Newton com SOBRE O NÍVEL DE CONHECIMENTO DOS JOVENS E DO
um texto, por exemplo, mas era um texto que falava sobre como DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS.
foi a evolução do pensamento, tinha uma contextualização
NESTA PROPOSTA, AS OPAS (ORIENTAÇÕES PARA OS
histórica. Muitas vezes, em Física, o aluno pensa como Aristóteles
PLANOS DE AULA) APRESENTAM MODELOS DE
pensava, e isso é interessante de ele reconhecer. Não é um SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS QUE ESTRUTURAM O TRABALHO
pensamento errado, é natural. Eu problematizo antes, durante e INTEGRADO DAS ÁREAS DE CONHECIMENTO E DOS
depois do texto, vou perguntando e os alunos argumentam e vão PROJETOS DO NÚCLEO ARTICULADOR. MESMO TENDO
aprendendo”, conta a professora de Física Cláudia Sozinho. EM VISTA O PLANEJAMENTO ESTRUTURADO, É PRECISO
RESSALTAR QUE QUALQUER INTERAÇÃO PEDAGÓGICA
GANHARÁ NÍVEIS DE PERSONALIZAÇÃO DE ACORDO COM
A PARTICIPAÇÃO DA TURMA.
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Normalmente, se atribui o trabalho com o conhecimento prévio como
uma etapa importante para ouvir os estudantes e garantir algum grau de
participação e engajamento. Mas trabalhar com o conhecimento prévio MEDIAR ENVOLVE TORNAR EXPLÍCITOS
dos estudantes vai muito além de um “truque” pedagógico para chamar a OS CONHECIMENTOS PRÉVIOS DOS
sua atenção: é por meio do compartilhamento dos conhecimentos da ESTUDANTES, VALORIZAR E DESPERTAR
A MEDIAÇÃO
PROBLEMATIZADORA
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O BOM ALUNO
ATIVIDADES DESAFIANTES
PARA APRENDER A
RESOLVER PROBLEMAS
porque ele se sente capaz de fazer coisas que às vezes ele nem tinha ideia com a situação, como o desejo de
que poderia”, diz a aluna Karina Madruga. enfrentá-la, a força para vencer o
CIÊNCIAS DA NATUREZA
Numa aula de Química, imaginem que os alunos sejam desafiados pela seguinte situação:
Observem seus sapatos do tipo tênis. Do que eles são feitos? Quais materiais foram
usados em sua fabricação? Todos os materiais têm a mesma dureza ou resistência? Por
quê?
É assim que se inicia a investigação sobre polímeros naturais (como a borracha), e sintéticos
(como o poliéster, o nylon e o silicone, entre outros) para, em seguida, mobilizar os jovens a
que entendam as reações químicas que dão origem a diferentes polímeros, com diferentes
características. Nesse caso, a problematização inicial mobiliza os alunos a novas aprendizagens
específicas, para em seguida, com novo questionamento, fazê-los refletir sobre a poluição
gerada na obtenção desses materiais. Finalmente, o conhecimento do processo de obtenção
dos polímeros permite aos alunos entenderem os processos necessários para a sua reciclagem.
LINGUAGENS
Nas atividades dedicadas à Língua Portuguesa do 1º ano, 1º bimestre, os estudantes realizam
a leitura de textos significativos para a formação do leitor literário e que permitem
problematizar as características básicas dos gêneros literários: Hamlet, de Shakespeare (em
versão atualizada para jovens leitores), Do coração de Telmah (romance juvenil escrito em
tweets) e poemas da Lira dos vinte anos, de Álvares de Azevedo. Das experiências efetivas
das leituras desses textos de diferentes temporalidades, gêneros e estilos, processualmente
mediadas, é que resulta a construção das noções de lírica, épica e drama. Para isso, há a
proposição de questões que, discutidas colaborativamente, possibilitam a análise e a
comparação de aspectos dos textos. Além disso, há a problematização de como esses
conhecimentos dos gêneros podem favorecer outras leituras, com operações de
generalização e recontextualização dos conhecimentos construídos, propiciando a
autonomia dos estudantes em novos desafios de leituras literárias. Já nas atividades
dedicadas às Artes, as turmas do 3º ano, 2º bimestre, tiveram a oportunidade de discutir e
problematizar os “encontros e desencontros” no processo de formação étnico-cultural do
nosso povo, com reflexões sobre as matrizes brasileiras. Nesse contexto, refletiram sobre si
mesmos e sobre valores que se fazem presentes na formação da população do país, a partir
da identificação e desnaturalização de atitudes cotidianas que implicam práticas
discriminatórias, preconceituosas e de dificuldade explícita de convivência com a diferença.
Foram utilizados recursos que favoreciam a investigação e a discussão sobre a temática, tais
como o vídeodocumentário O povo brasileiro, de Darcy Ribeiro, textos de uma pesquisadora
do tema do preconceito social, programas de TV e propagandas, e foram criadas situações-
problema por meio de perguntas. Em seguida, os alunos produziram um ensaio fotográfico
cujo propósito foi evocar a situação de discriminação do negro na sociedade sob o ponto de
vista, a experiência e os conhecimentos de cada time de alunos. Por fim, a discussão sobre os
trabalhos artísticos criados foi uma oportunidade de sistematização e apropriação dos
conhecimentos pelos jovens.
MATEMÁTICA
A problematização é a essência do processo de ensinar e aprender matemática. Por princípio,
toda aula deve ser problematizadora e provocar nos alunos a mobilização de conhecimentos
novos. Assim, numa aula de Matemática, os alunos podem ser desafiados a investigar em qual
condição um triângulo pode ser construído, como convencer um amigo de que o teorema de
Pitágoras vale para qualquer triângulo retângulo e mesmo desenvolver uma explicação que
justifique um quebra-cabeças numérico ou algébrico. Há ainda a proposta de que resolver um
problema sem nenhuma relação com os conteúdos tradicionais da Matemática do ensino médio,
problemas que não envolvam uso de fórmulas, que desafiem os alunos a planejarem uma
solução original, que podem levar mais de uma aula para serem solucionados e, frequentemente,
ter mais do que uma solução possível e até mesmo não ter solução nenhuma. Há ainda a
possibilidade da problematização aparecer na forma de um jogo – como, por exemplo, na
proposta realizada na OPA de 1º ano, com o jogo Tira de Propriedades de Funções, no qual os
alunos deveriam resolver desafios de associar funções com suas diversas propriedades.
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CIÊNCIAS HUMANAS
Já nas atividades de Filosofia da OPA do 4º bimestre do 2º ano, a aula se inicia com a
veiculação da música de Raul Seixas – “Metamorfose ambulante”. Ao término, o
professor propõe algumas perguntas e deixa que os próprios alunos respondam. Por
exemplo: O que a música tem a ver com razão? O que é razão? Por que dizemos que
somos seres racionais? Nossa época (a contemporaneidade) é regida pela razão? O
professor é orientado a não responder às perguntas, mas deixar que os alunos
reflitam, a fim de estimular sua curiosidade. As respostas iniciais devem ser
anotadas no caderno e serão retomadas, para que todos consigam elucidar as
questões. O objetivo é demonstrar que a verdade não é absoluta e que, ao
responder uma pergunta, a resposta “correta” depende da perspectiva, do tipo de
abordagem e da referência. De fato, em Filosofia, problematizar é convidar o aluno a
realizar a investigação científica, a viajar por outros mundos; é despertar a
curiosidade e estimular a compreensão de que não estamos prontos e de que o
conhecimento está sempre em construção.