Você está na página 1de 13

Sistemas de Aprovisionamento

Gestão de Stocks – Parte I

Docente: António Amaral


Contactos: antonio.manuel.amaral@gmail.com
antonioamaral@esce.ipvc.pt
Gestão de Stocks
O termo stocks é um conceito de origem anglo-saxónica e que se utiliza
para designar um conjunto de existências, de produtos acabados, de
matérias-primas, etc.

Os stocks representam, normalmente, um investimento significativo para os


sistemas logísticos. Várias questões se podem levantar sobre a pertinência
da existência de stocks e da sua função.
Em termos gerais existem 5 categorias de stocks, designadamente:
• Em-curso de Fabrico;
• Stocks de Lote de Fabrico;
• Stocks Sazonais;
• Stocks de Segurança;
• Outros Stocks.

Em curso de Fabrico – vulgarmente designados por stocks de processos,


estes consistem nos materiais que estão em fabrico ou em transporte entre 2
centros de fabrico.
Gestão de Stocks
Stocks de Lote de Fabrico – Este tipo de stocks resultam da maioria dos
sistemas de produção utilizarem lotes de fabrico. O uso de lotes de fabrico
usam-se, em especial, devido aos seguintes motivos:

• Economias de Escala – o custo médio de produção, compra ou


movimentação, regra geral, diminui à medida que o lote aumenta. Por
exemplo, o custo fixo relativo ao aluguer de um contentor para
transporte de mercadorias. Quanto maior o número de unidades de
produto transportado menor será o custo unitário de transporte.

• Imposições tecnológicas – Alguns processos de fabrico obrigam à


produção simultânea de quantidades elevadas de produtos.

Stocks Sazonais – Este tipo de stocks utilizam-se quando as necessidades de


determinados produtos variam, substancialmente, ao longo do tempo. Em
certas situações, é mais interessante do ponto de vista económico acumular 3
stocks quando a procura é baixa para utilizar mais tarde nos picos e assim
reduzir custos (mão de obra extraordinária, horas extra, etc.).
Gestão de Stocks
Stocks de Segurança – Este tipo de stocks utiliza-se para proteger o sistema
contra a imprevisibilidade da procura futura. A procura futura é estimada
usando métodos de previsão que apresentam sempre erros associados. Daí
que os stocks de segurança procurem proteger o sistema contra os custos
associados aos erros de previsão.

Outros Stocks – Os stocks podem, inclusive, ter a função de separar os


diferentes estádios de um processo de fabrico. Este fator é, muitas vezes,
usado para condicionar o efeito da dependência dos estádios
predecessores permitindo um melhor controlo dos efeitos correspondentes
às fases anteriores.

Outro fator, muito comum, para a criação de stocks deve-se à política de


preços, isto é, com o propósito de antecipar o aumento do preço de
determinados produtos.

Além disso, outros stocks podem, ainda, decorrer da politica de compras 4


internacionais que devem ser feitas em grandes volumes para que o target
cost da compra seja garantido.
Gestão de Stocks: Custos Associados
Num sistema de stocks os custos relevantes podem-se dividir em três
componentes:
• Custo do aprovisionamento;
• Custo associado à existência de stocks;
• Custos associados à rutura dos stocks.
Os custos associados aos aprovisionamentos são compostos por duas
partes:
• Valor que tem de ser pago pelos produtos ao fornecedor;
• Custos associados ao processamento da encomenda (RH, documentação,
comunicação, transporte, inspeção e controle, etc.)
Os custos associados à existência de stocks têm várias origens como por
exemplo:
• Armazenamento;
• Seguros;
• Perda de qualidade; 5
• Custos de Capital.
Gestão de Stocks: Custos Associados
Os custos de rutura acontecem sempre que existe procura de produtos e
não existem stocks no sistema. Dependendo das circunstâncias uma rutura
de stocks pode originar as seguintes situações:

• Para satisfazer a procura é feita uma encomenda especial. Neste caso o


custo adicional da encomenda especial é o custo da rutura.

• A procura não é satisfeita ou é satisfeita mais tarde. Neste caso os custo


são difíceis de avaliar dado que várias situações podem acontecer
(indemnizações, perda de clientes, constrangimentos legais, etc.)

Na gestão de stocks colocam-se três questões principais:


• Como controlar os stocks?
• Que quantidades (Quanto) encomendar?
• Quando colocar as ordens de encomenda?
6
As soluções adotadas como resposta a cada uma destas questões terão um
impacto importante nos custos globais do sistema.
Gestão de Stocks: Custos Associados
Todos os modelos têm prossupostos e premissas de atuação distintos.
• Assim, se por um lado quanto maior for o controle introduzido maior será
o custo incorrido no processamento da informação. Contudo, existirão
menos ruturas e como resultado disso melhor serviço será prestado aos
clientes;
• A quantidade encomendada ou a frequência com que são efetuadas as
encomendas afetam também os custos do sistema. Se forem
encomendadas grandes quantidades por encomenda o nível médio dos
stocks aumentará mas os custos de processamento das encomendas
baixarão;
• Todavia, se as quantidades encomendadas forem pequenas os custos dos
stocks diminuirão mas os custos associados ao processamento das
encomendas aumentarão devido ao aumento do número de
encomendas.
Em resumo, pode dizer-se que as soluções a serem adotadas deverão 7
minimizar o somatório dos custos acima mencionados.
Classificação de Stocks: Análise ABC
O investimento em stocks de um determinado produto depende,
essencialmente, das seguintes caraterísticas: quantidade consumida por ano e
custo unitário do produto.
Em geral, constata-se que existe um número pequeno de produtos que
contribuem para uma grande percentagem dos custos anuais de consumo,
enquanto que um grande número de produtos contribui apenas para uma
pequena percentagem dos custos anuais de consumo.
A análise ABC de stocks é uma técnica simples mas que se tem revelado como
uma ferramenta de gestão de grande valor na identificação dos produtos de
stock com maior importância. A análise ABC consiste em classificar os produtos
em três grandes grupos A, B e C de acordo com a maior ou menor contribuição
destes para o valor do consumo anual. Os grupos são definidos da seguinte
forma:
• Produtos do tipo A – São aqueles produtos que contribuem com uma
grande percentagem dos custos mas que representam apenas uma
pequena fração dos produtos;
• Produtos do tipo C – São aqueles que contribuem com uma pequena
percentagem dos custos mas que representam um elevado número de
produtos; 8
• Produtos do tipo B – Por exclusão de partes sã os produtos que não são
nem A nem C.
Classificação de Stocks: Análise ABC
Tipicamente, as percentagens usadas para as classificações ABC são as
seguintes:

Classe % de Produtos % do Custo Anual


A 15-25 70-80
C > 50 5-10

9
Classificação de Stocks: Análise ABC
Na Tabela seguinte, apresentam-se os Produto Qt. Consumida Preço Unitário
dados relativos a vinte produtos de 1 1490 51
uma pequena empresa. 2 6440 189
3 5250 448
4 210 126
O objetivo consiste em dividir os 5 23100 355
referidos produtos nas categorias A, B 6 89 2480
e C (considerando que a classe A 7 815 90
corresponde a 70% do consumo anual 8 325 52
9 10450 349
e a classe C a 5% do mesmo).
10 2150 648
11 5200 249
12 3330 1230
13 9250 6
14 2800 102
15 800 152
16 680 1996
17 1500 1023
18 8210 153 10
19 1245 17
20 2430 21
Classificação de Stocks: Análise ABC
Na Tabela seguinte, apresenta os produtos ordenados por ordem
decrescente do valor do consumo anual. A 5ª coluna representa o valor
associado ao consumo de cada um dos produtos, e que se pode obter
através do produto da quantidade consumida pelo preço unitário.

A coluna do consumo acumulado obtêm-se somando o consumo anual de


cada produto com os valores de consumo anual de todos os produtos com
ordem inferior. A coluna % consumo representa a percentagem do
consumo acumulado em relação ao consumo total.

A análise da tabela seguinte mostra que os produtos 5, 12, 9 e 3 (apenas


20% dos produtos) são responsáveis por 67% do consumo total.
Adicionalmente, pode-se observar que os últimos 11 produtos (55% dos
produtos) são apenas responsáveis por menos do que 8% dos custos totais.

A Figura apresentada, em seguida, aponta um gráfico da percentagem dos


consumos em função do número de produtos. A este tipo de gráfico está 11
convencionado designar-se por curva ABC ou curva de Pareto.
Classificação de Stocks: Análise ABC
Ordem Número do Qt. Preço Consumo Consumo % Classificação
Produto Consumida Unitário Anual Acumulado Consumo ABC
1 5 23100 355 8200500 8200500 30,04%
2 12 3330 1230 4095900 12296400 45,05% A
3 9 10450 349 3647050 15943450 58,41%
4 3 5250 448 2352000 18295450 67,02%
5 17 1500 1023 1534500 19829950 72,65%
6 10 2150 648 1393200 21223150 77,75% B
7 16 680 1996 1357280 22580430 82,72%
8 11 5200 249 1294800 23875230 87,47%
9 18 8210 153 1256130 25131360 92,07%
10 2 6440 189 1217160 26348520 96,53%
11 14 2800 102 285600 26634120 97,57%
12 6 89 2480 220720 26854840 98,38%
13 15 800 152 121600 26976440 98,83%
14 1 1490 51 75990 27052430 99,10% C
15 7 815 90 73350 27125780 99,37%
16 13 9250 6 55500 27181280 99,58%
17 20 2430 21 51030 27232310 99,76% 12
18 4 210 126 26460 27258770 99,86%
19 19 1245 17 21165 27279935 99,94%
20 8 325 52 16900 27296835 100,00%
Classificação de Stocks: Análise ABC
Análise ABC
100,00%
C
90,00%
B
80,00%

70,00%

60,00%
A
50,00%

40,00%

30,00%

20,00%

10,00%

0,00%
5 12 9 3 17 10 16 11 18 2 14 6 15 1 7 13 20 4 19 8

A análise ABC fornece ao gestor de stocks informação muito importante. Os


produtos A, dado que representam um investimento substancial em stocks,
devem ter, por isso, um controle mais cuidado (registos mais exatos, controle
contínuo, etc.). Por outro lado, os produtos C não precisam de ser controlados 13
com tanto cuidado, o sistema de controle deve ser simples e eficaz. Os produtos
B devem ter uma situação intermédia.

Você também pode gostar