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Epilogo

Quando nos conhecemos, recordo de sermos bem pequenos. Nunca havia se passado em
minha cabeça que seriámos amigos, eu te odiava por completo. Talvez fosse pela sua
facilidade em cativar todos a sua volta, sua aura que parecia nunca se apagar em seus olhos ou
possa ser até mesmo por você simplesmente sempre deixar uma forte impressão onde quer
que estivesse.

Eu estava odiando estar lá, o parque deveria ser sinônimo de diversão para crianças de
cinco anos, mas não para mim. Naquele tempo meus pais estavam se divorciando e ambos não
queriam tomar responsabilidade sobre mim, não possuía avós presentes para se importarem
comigo. Eu era um segredo para toda família, sabia que meu pai não era realmente meu e que
minha mãe nunca realmente me desejou, eu aguentava isso, por algum motivo nunca consegui
me sentir afetada por tudo aquilo, tudo que precisava era ficar sozinha, me isolar em meu
próprio mundo seria o bastante. Até a hora em que você veio em minha direção com seu
sorriso, me oferecendo parte de seu lanche. Nunca havia sentido tanta raiva como antes, por
que todos a minha volta pareciam sempre felizes enquanto eu guardava tudo aquilo para
mim? Simplesmente não era justo. Tentei te afastar com todas as forças, pensava que tudo
que queria era mostrar o quão sua vida era superior a minha. Foi o que pensei, até escutar
suas seguintes palavras:

- Está tudo bem? Se quiser um amigo, eu posso ser ele. - Dor. Foi isso que senti quando
escutei. Dor. Como balas as lágrimas saíram. Dor. Ela parecia não sair, era tão teimosa. Dor Era
algo tão forte, não conseguia respirar.

- Isso doí demais, pare com isso por favor – Seus braços tão pequenos quanto si me
rodearam, o lanche não parecia ser mais tão importante, as crianças em nossa volta não
pareciam mais tão vívida, tudo pareceu desaparecer.

- Eu vou ser seu cavaleiro! Nada mais vai te machucar, então você não precisa mais chorar!
– Meus medos e agonias aos poucos pareciam dar trégua. Naquele momento eu pensei “Eu
realmente não vou me machucar mais?”, “Posso ser feliz com ele me protegendo?”. Se me
perguntassem qual foi o momento mais feliz que tive durante toda nossa amizade,
responderia sem pensar, sem tremer, que foi esse. Ver seu lado mais puro me salva dos meus
pensamentos decadentes, e acredite em mim quando eu digo, você sempre foi Hiroshi, sem
resquício nenhum, a coisa mais pura que permanece dentro de mim.

----------------------------------------------fim do epilogo-------------------------------------------------------------

Capítulo um – Nossos momentos

- VAI SE FUDER, SUA MERDA HUMANA!! – Sendo honesta, existe uma coisa da qual eu não
consigo me acostumar é sua mudança de personalidade quando está jogando, digo, era pra ser
algo relaxante depois de um dia complicado na faculdade, e não uma possível chance de eu ver
meu computador ser jogado pela janela. – Você não vai me deixar aqui...SEU ARROMBADO,
RESTO DE ABORTO MAL AMADO! – Hiroshi soca a mesa com ódio, logo empurrando sua
cadeira enquanto bufa.
- Cansou de descontar sua raiva na minha mesa? – Eu estava escutando música na minha
cama enquanto desenhava, poderia dizer que era o céu na terra, antes claro, dele começar a
gritar – Sabe, meu teclado não é saco de pancada para os dedos, ele foi criado para ser
digitado.

- Cala a boca, a culpa não é minha que eu só caio com gente que não leva um jogo a sério. –
Ele se levanta da cadeira, vindo em direção a cama, sentando ao meu lado e apoiando sua
cabeça em meu ombro.

- Espera, tem gente que leva esse jogo a sério? – Hiroshi me encara com ódio, retribuo seu
olhar com rápido ar de inocência, não demorando a voltar para meu trabalho de antes – Eu
achei que você pararia de jogar isso assim que chegasse no nível cem.

- E eu ia, mas surgiu esse evento especial, não podia perder. – Logo pegou meu fone
colocando em sua orelha, um sorriso brincou entre seus lábios ao reconhecer. – Você tinha
me dito que odiou a música – “Lover Of Mine” do 5 Seconds Of Summer entrava no nossos
ouvidos e se harmonizava de forma engraçada com o som do vídeo game ao fundo

- Resolvi pesquisar sobre eles, confesso que quando me mostrou essa música a banda
chamou minha atenção e acabei por gostar das músicas.

- Hm... – Sua atenção voltou para meu desenho, a paisagem do anoitecer que se dava na
minha janela estava quase completa – Ficou bonito o desenho, só acho que deveria ter uma
pessoa no meio dele, ia ficar legal.

Aceno positivamente enquanto volto a desenhar, o silêncio era agradável entre nós, era
nesses momentos que eu era agradecida por manter nossa amizade, não precisávamos estar
falando para aproveitar a companhia um do outro.

“I’ll never give you away

‘Cause I’ve already made that mistake

If my name never fell off your lips again

I know it’d be such a shame”

Sua voz aos poucos se harmonizava com a música, cada vez mais alta, mais confiante, mais
bela. Era rara as vezes das quais o vi cantar, mesmo quando teve aulas de canto junto a mim,
não o via vocalizar, por isso aproveitava cada segundo de sua voz, poderia dizer que era algo
nosso, ele abrir uma porta diferente somente quando erámos nós dois. O bater na porta o fez
parar, uma frustação se fez presente dentro de mim. Dona Clora, uma mulher em seus
sessenta anos e quem mais cuidou de mim durante minha infância, entra no quarto segurando
sua típica cesta, com seu sorriso gengival a mostra.

- Querida, você esqueceu a porta dos fundos destrancada de novo, alguém perigoso pode
acabar entrando – Ela logo se senta na cadeira, tirando de sua cesta um pacote do que seriam
os cinnamon rolls que eu havia a pedido fazia uns dias atrás – Hiroshi não vai estar sempre
aqui para te proteger, precisa ser mais cuidadosa com a sua segurança...

- A senhora fez meu doce favorito!? Eu já te disse que é um anjo? – Me levanto da cama,
indo para cima dos recém doces postos em cima da minha escrivaninha.
- Você escutou alguma coisa do que ela acabou de dizer? Pelo menos responda, sua
ingrata. – O rapaz acaba por se levantar e vir em minha direção, logo me dando um tapa na
minha nuca, solto um gemido de dor logo passando a mão na região atingida

- Eu escutei! Não sou surda, o problema é que a tranca está quebrada e é caro para
consertar, esse mês estou apertada, ficará para o próximo.

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