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Percurso Histórico da Didática

IDENTIFICAR A HISTÓRIA DA DIDÁTICA COMO CAMPO DE ESTUDO, ENTENDENDO SEU PERCURSO AO


LONGO DAS ÚLTIMAS DÉCADAS, FOCALIZANDO OS SÉCULOS XX E XXI.

AUTOR(A): PROF. SANDRA H. L. HOYLER

Pensar em Didática, nos remete, inevitavelmente, ao campo da educação, em especial, a formação de


professores. Tal associação coloca a Didática, como um campo de estudos, central nos currículos dos

cursos de licenciatura, conforme aponta Veiga (2000).


Afinal, como diz Libâneo (2013), a formação do professor é um processo intencional e organizado, que

requer preparo técnico-científico para que o professor possa conduzir, de forma competente, o processo

de ensino.
Nessa aula trataremos sobre a história da disciplina Didática, com destaque aos séculos XX e XXI.

 
Primeiramente, vamos pensar no conceito de Didática, entendendo-a, segundo Candau, como “[...]

reflexão sistemática e busca de alternativas para os problemas da prática pedagógica [...]” Ora exaltada,

ora negada (2000, p. 13). Outro ponto a destacar é compreender o papel da Didática sempre considerando
o contexto educacional e político-social em que está situada.

 
Do que a Didática foi sendo historicamente acusada:

São de que seu conhecimento quando não é inócuo (crença de que o domínio do conteúdo, por si só,
seria o suficiente para fazer um bom professor) é prejudicial (pela alienação em relação a seu trabalho –
postura acrítica).
 

Nessa direção e, tendo como referência os estudos de Candau, coloca-se em pauta os seguintes pontos:
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1. O objeto de estudo da Didática é o processo ensino-aprendizagem.


2. O aspecto multidimensional da Didática, ao articular as dimensões humana, técnica e político-social
(sobre as quais detalharemos mais adiante).
 
Entendendo as dimensões:
Humana: refere-se a aquisição de atitude. Ênfase no componente afetivo.

Técnica: consiste na ação intencional, sistemática, organizada. Ênfase ao aspecto objetivo e racional.
Político-Social: impregna toda a prática pedagógica.

Na busca pela multidimensionalidade a autora propõe a superação de uma visão reducionista, dissociada
ou justaposta no que tange a relação entre as diferentes dimensões e, em paralelo, defende a articulação

entre elas como centro configurador do processo ensino-aprendizagem.

Em outras palavras, para Candau a multidimensionalidade significa o equilíbrio, na mesma proporção


entre as três dimensões (humana, técnica e político-social) de modo que uma não pode se colocar sobre a

outra em grau de importância, ou seja, as três são igualmente relevantes para a constituição da Didática.

 
Retrospectiva histórica da Didática no século XX:

Décadas de 40 a 60 – dimensão humana: presença do discurso escolanovista, concomitante a superação


da escola tradicional. A escola nova procura partir dos interesses espontâneos e naturais da criança.
Fundamentação de base psicológica e nos princípios “aprender a aprender” e “aprender fazendo”,
pautados na atividade e liberdade.
Décadas de 60 e 70 – dimensão técnica: domínio de métodos e técnicas, atrelado a prática do
planejamento pautado em objetivos instrucionais e no modelo de ensino programado. As práticas não
constituem objeto de reflexão. Palavras de ordem: objetividade/ produtividade/ eficiência e racionalidade.
 

Ponto em comum: ambas as dimensões partem de um pressuposto comum: “o silenciar da dimensão


política”, que se assenta na afirmação da neutralidade do técnico.

 
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Década de 80 – dimensão político-social: momento em que se contesta a falsa neutralidade do técnico


focalizando tanto o contexto quanto a consciência político-social. Confirmação que uma prática
pedagógica é, na sua essência, uma prática social.
 
Com base nessa breve retrospectiva histórica, chegado os anos 80, dá-se a impressão que, ao professor de

Didática, restam apenas duas alternativas: a busca por uma receita ou a denúncia do próprio campo da

Didática.
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Entretanto o que Candau nos apresenta é uma terceira possibilidade ao campo da Didática, seja como

disciplina nos cursos de formação de professores, seja como área de conhecimento que proporcione uma
prática docente de melhor qualidade, que consiste na construção de uma Didática que ela denomina como:
Didática Fundamental. Tal Didática representa, nada mais, nada menos, do que a reciprocidade e

articulação entre as três dimensões mencionadas: humana, técnica e política.


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Em complemento as ideias de Candau, Luckesi (2000), na mesma obra “A Didática em Questão”, nos coloca
como sendo propósito da Didática, a formação do educador. E, em paralelo à formação do professor,
destaca a busca dos docentes por uma prática que o autor denomina de desejável.

MOMENTO DE REFLEXãO:
Parando um pouco nesse conceito, pensem sobre isso: O que seria, para você, um professor com
uma prática docente desejável? E, ao inverso, aquele com prática docente entendida como não
desejável? Rememore sua trajetória na escola básica: Quais professores estariam dentre os que
tiveram uma prática desejável e quais os que tiveram uma prática não desejável? Quais suas

características, posturas, atitudes, linguagens para ser enquadrado em uma dessas categorias, em
outras palavras: o que fizeram, o que disseram, como se ensinaram? Reflita sobre estas questões. 

Voltando as concepções de Luckesi (2000), o autor utiliza o termo educador por considerar seu papel
fundamental no desenvolvimento e execução de um projeto histórico que esteja voltado para o homem,
como autor e ator. Sob essa perspectiva, o educador será um construtor da história na medida em que
agir conscientemente para isso. O que só reitera a ideia da docência como ato intencional, planejado, com

objetivos previamente traçados.


Para o autor a ação pedagógica não pode ser entendida e, tampouco praticada, como uma ação neutra. Ou
seja, a ação do educador não poderá ser um “quefazer neutral”, mas sim um “quefazer ideologicamente
definido”. Em suma, não há neutralidade , portanto, todo ato educativo é essencialmente um ato político, o qual
pressupõe duas opções teóricas por parte do educador: opção filosófica-política pela
opressão/dominação ou pela libertação.
Caberá ao professor decidir que opção seguirá e, para tal, entender suas possibilidades de escolha a partir
do conceito de “autonomia relativa”.
Luckesi concebe a Didática como o mecanismo de preparação do educador para o exercício da profissão,

baseando-se na relação teoria-prática: práxis (ação – reflexão – ação).


Tal relação nos encaminha para outras leituras e estudos, que significa pensar acerca do conceito
“professor reflexivo”. Refletir sobre a prática e modificá-la, se assim julgar pertinente, com base nessa
reflexão representa a capacidade intelectual do professor em tomar decisões/ ter escolhas, ações estas
opostas a ideia de professor reprodutivista. Isto é, aquele que faz, executa, mas não sabe porque ou para
quê.

Como docentes precisamos resistir aos contextos de trabalho que nos induzem a ser meros
reprodutores, para que assim possamos, efetivamente, agirmos como profissionais “reflexivos,
autônomos e críticos”. Atenção: não é possível formar alunos críticos e pensantes se seus professores
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não o forem.

Com vistas a práticas docentes mais reflexivas, sugere-se aqui que a Didática, nos cursos de formação de
professores, busque superar o que denominamos aqui de “pontos críticos da Didática”:

a. Conteúdo selecionado e tratado como um conjunto de informações fragmentárias;


b. Desarticulação entre teoria e prática;
c. Separação entre o fazer e o saber fazer e porquê fazer;
d. Crença e/ou defesa da neutralidade científica e técnica;
e. Reduz à prática docente a dimensão técnica, dissociando-a das demais dimensões, o que caracterizará o
mero tecnicismo;
f. Não estabelece diálogo com as pesquisas da área.
 

Bom, chegamos ao final desse tópico. Espero que tenham gostado. Procurem desenvolver os exercícios
propostos e, surgindo alguma dúvida, não deixe de esclarecê-las com seu professor.
Referências Bibliográficas:
CANDAU, Vera Maria. A didática e a formação de educadores. Da exaltação à negação: a busca da
relevância. In: CANDAU, Vera Maria (org.). A Didática em Questão. 18 ed. Petrópolis: Vozes: 2000, p. 13-24.
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2013.

LUCKESI, Cipriano Carlos. O papel da didática na formação do educador. In: CANDAU, Vera Maria (org.). A
Didática em Questão. 18 ed. Petrópolis: Vozes: 2000, p. 25-34.
VEIGA, Ilma Passos Alencastro. A prática pedagógica do professor de Didática. 5 ed. Campinas: Papirus,
2000.
 

ATIVIDADE FINAL

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Segundo Luckesi, educador é aquele profissional que procura criar

condições de condutas desejáveis e diz mais, que a formação do mesmo


se constitui em bases filosóficas, científicas, técnicas e afetivas para

cada tipo de ação que ele vai produzir. Além disso, para ele, é preciso se

ter consciência de que o professor nunca estará totalmente preparado,


pois precisa meditar sobre sua prática pedagógica a cada dia. Diante

dessa afirmação, assinale a alternativa que não corresponde ao

pensamento de Luckesi sobre a formação docente. 

A. O ideal é que educador e educando estejam no mundo e com o mundo, desenvolvendo


conhecimentos sobre a realidade, assim como tendo atitudes críticas frente a essa realidade.
B. Teoria e prática caminham sempre juntas para que se tenha sucesso na prática pedagógica.

C. Educador como objeto e com postura passiva, não traz interferências negativas para o processo de
aprendizagem.
D. Educador como sujeito é aquele que possui postura ativa, além de construir de forma consciente o
desenvolvimento da sociedade. 

A escola-nova consiste em um movimento que tem por principal

objetivo combater a abordagem tradicional. Identifique, nas alternativas

abaixo, qual não corresponde ao modelo tradicional de ensino.

A. A atitude básica a ser desenvolvida é a de confiança e de respeito ao aluno.


B. Preocupa-se com a sistematização dos conhecimentos apresentados de forma acabada. As tarefas
são padronizadas.
C. O ponto fundamental do ensino consiste no produto final, independentemente, dos processos. 
D. Favorece a manutenção de situações opressivas e autoritárias em sala de aula.  

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Ser professor significa desenvolver atividades pedagógicas, questionar a

própria prática e refletir sobre o fazer profissional. Na proposta de


formação do professor reflexivo entende-se que compete ao docente:

A. Considerar o aluno como um ser passivo, atribuindo caráter dogmático aos conteúdos de ensino.

B. Valorizar o vínculo entre professor e aluno, bem como as reflexões sobre as formas de ensino que
considerem o saber dos seus/suas alunos/as. 
C. Basear-se na consciência da capacidade de pensamento do ser humano como mero reprodutor de
ideias e práticas que lhe são exteriores.
D. Focar apenas na dimensão técnica-instrumental, uma vez que sua formação deve centrar-se no
saber fazer. 

REFERÊNCIA
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