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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC/SP

Minás Djehizian

As transformações decorrentes da Indústria 4.0 e o seu impacto


no processo de ensino-aprendizagem contemporâneo:
Estudo de caso na Fundação Educacional Inaciana (FEI)

DOUTORADO EM HISTÓRIA DA CIÊNCIA

SÃO PAULO
2022
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM HISTÓRIA DA CIÊNCIA

Minás Djehizian

As transformações decorrentes da Indústria 4.0 e o seu impacto


no processo de ensino-aprendizagem contemporâneo:
Estudo de caso na Fundação Educacional Inaciana (FEI)

DOUTORADO EM HISTÓRIA DA CIÊNCIA

Tese apresentada à Banca Examinadora


como exigência parcial para obtenção do
título de doutor em História da Ciência
pela Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, sob a orientação da Profa. Dra.
Maria Helena Roxo Beltran.

SÃO PAULO
2022
Banca Examinadora

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________________________________________________
Agradecimentos

Agradeço a DEUS que me abençoa por todas as oportunidades e caminhos


trilhados durante todo esse tempo.

A minha família por estar sempre ao meu lado e pelo amor, carinho, atenção e
incentivo em todos os momentos da minha vida.

A minha orientadora Profa. Dra Maria Helena Roxo Beltran, pela orientação, apoio
e confiança na elaboração desta tese e por compartilhar valorosos cohecimentos.

A todos os professores do doutorado em História da Ciência, que contribuiram


para a construção de uma forma de pensar mais humana e reflexiva.

A Profa Dra Neyde Lopes de Souza, pelas ricas contribuições dadas.

Aos colegas do doutorado, companheiros de caminhadas, pela amizade e


colaboração no decorrer do curso.

A Fundação São Paulo (FUNDASP) pela oportunidade dada para a realização do


curso de doutorado em História da Ciência.
Resumo

Autor: Minás Djehizian

Título: As transformações decorrentes da Indústria 4.0 e o seu impacto no processo de


ensino-aprendizagem contemporâneo: estudo de caso na Fundação
Educacional Inaciana (FEI).

Esta pesquisa apresenta uma reflexão sobre as transformações decorrentes da


4ª revolução Industrial (indústria 4.0) e o seu impacto, especialmente no mundo do
trabalho, no perfil do trabalhador e, consequentemente, na educação. Tem como objetivo
identificar os potenciais impactos, mas também perceber de que forma as Instituições de
Ensino estão se preparando para os desafios do futuro, no que concerne à educação.
Os impactos dessas transformações também serão profundos nas organizações
empresariais. Muitas empresas terão que redefinir suas atividades em função das
transformações que poderão reduzir a demanda pelos seus produtos.
Espera-se que a capacitação e qualificação contínuas do novo profissional seja
um fator de suma importância para que sejam atingidos os objetivos da Indústria 4.0,
uma vez que irão ocorrer mudanças substanciais tanto no perfil profissional dos
trabalhadores, quanto em suas habilidades laborativas.
Como consequência das alterações do regime industrial, deverão se tornar ainda
mais importantes as parcerias entre as empresas e instituições de ensino superior,
priorizando a avaliação das habilidades do estudante.
A pesquisa é caracterizada como um estudo de caso e, apresenta, como o
professor, no caso, o autor da tese, teve que se (re)inventar sob a perspectiva da
inovação e das novas tecnologias.
Propôs- se a observar e demonstrar algumas práticas adotadas no processo de
formação do futuro administrador (e engenheiro) em um Centro Universitário Inaciano
através da utilização de metodologias ativas de ensino e aprendizagem, voltadas para a
necessidade do novo mercado da Indústria 4.0, destacando, nesta pesquisa, a
aprendizagem baseada em Mapas Conceituais.
Neste sentido, a partir da narrativa de vida profissional docente e do regaste
histórico do percurso acadêmico e profissional, procurei desenvolver os desafios
enfrentados no início da carreira docente, as experiências adquiridas na prática em sala
de aula, assim como refletir sobre o processo de construção da própria identidade do ser
professor.
Palavras-chave: História da Ciência, Indústria 4.0, metodologias ativas, história de vida,
formação profissional.
Abstract

Author: Minás Djehizian

Title: The transformations resulting from Industry 4.0 and its impact on the
contemporary teachings-learning: A case study of the Fundação Educacional
Inaciana (FEI).

This research show a reflection of the transformations resulting from the 4th
Industrial Revolution (industry 4.0) and they impact, especially in the working relationship,
in the worker's profile and, consequently, in education. It has a propouse to identify the
potential impacts, in order to understand how Educational Institutions are preparing for
the challenges of the future, with regard to education.
The impacts of these transformations will also be deep knowledge in business
organizations. Many companies will have to redefine their activities as a result of changes
that could reduce demand for their products.
It is expected that the continuous training and qualification of the new professional
will be a very important factor for achieving the objectives of Industry 4.0, since substantial
changes will occur both in the professional profile of workers and in their work skills.
As a result of changes in the industrial regime, partnerships between companies
and higher education institutions should become even more important, prioritizing the
assessment of student skills.
The research is characterized as a case study and presents, as the professor, in
this case, the author of the thesis, had to (re)invent himself from the perspective of
innovation and new technologies.
It was proposed to observe and demonstrate some practices adopted in the
training process of the future administrator (and engineer) in an Ignatian University Center
through the use of active teaching and learning methodologies, focused on the need of
the new market of Industry 4.0, highlighting, in this research, learning based on Concept
Maps.
In this sense, from the narrative of the teaching professional life and the historical
rescue of the academic and professional path, I tried to develop the challenges faced at
the beginning of the teaching career, the experiences acquired in the classroom practice,
as well as to reflect on the construction process of the teacher's own identity.

Keywords: History of Science, Industry 4.0, active methodologies, life history,


professional training.
Sumário

Introdução ............................................................................................................................................................... 1

Capítulo 1 Os impactos ocasionados pelas Revoluções Industriais na Sociedade em Geral. 7

1.1 Primeira Revolução Industrial ........................................................................................................... 10

1.2 Segunda Revolução Industrial............................................................................................................ 12

1.3 Terceira Revolução Industrial ............................................................................................................ 15

1.4 A Quarta Revolução Industrial (Indústria 4.0) ............................................................................ 20

Capítulo 2 Tecnologias da Indústria 4.0 ................................................................................................. 28

2.1 Impacto da Indústria 4.0 no Trabalho............................................................................................. 33

2.2 As Tecnologias Digitais e seu Papel Transformador nas Ações de Ensino e


Aprendizagem........................................................................................................................................... 40

2.3 Tecnologias Digitais na Educação Contemporânea ................................................................... 44

2.4 Impactos das Tecnologias Digitais na Formação Profissional:


O Uso de Metodologias Ativas ............................................................................................................ 46

Capítulo 3 A Organização em Estudo: FEI/SBC (ESAN/SBC) ......................................................... 54

3.1 O Surgimento da Companhia de Jesus............................................................................................. 54

3.2 A Missão da Companhia de Jesus no Mundo de Hoje ................................................................ 59

3.3 A Educação Superior Jesuíta ............................................................................................................... 61

3.4 A Companhia de Jesus no Brasil ........................................................................................................ 63

3.5 O Fundador e Sua Obra ......................................................................................................................... 66

3.6 A ESAN e a Fundação de Ciências Aplicadas ................................................................................. 67

3.7 Cultura Organizacional ......................................................................................................................... 72

Capítulo 4 A Identidade Inaciana .............................................................................................................. 76

4.1 A Pedagogia Inaciana num Novo Ambiente de Aprendizagem ............................................. 76


4.2 A Pedagogia Inaciana Rumo ao Século XXI .................................................................................... 86

Capítulo 5 A minha História de Vida Profissional em Uma Instituição Inaciana .................... 93

Considerações Finais...................................................................................................................................... 112

Bibliografia ......................................................................................................................................................... 114


1

INTRODUÇÃO

A 4ª Revolução Industrial, também chamada de Industria 4.0, é caracterizada pela


fusão de tecnologias que confundem os limites entre físico, digital e biológico.

O cenário disruptivo acarretado pela Industria 4.0 trará impactos para a educação,
para o processo de ensino-aprendizado e, claro, na formação de professores capazes
de dar conta da velocidade com que os alunos aprenderão e reaprenderão, seja em
áreas nas quais a interface com a tecnologia é mais evidente, seja em áreas que são
impactadas pelo processo de construção sociotécnica. Proveniente disso, o ambiente de
trabalho, que já passa por transformações, será cada vez mais disruptivo.

Partindo dessa direção, o ambiente de trabalho requererá do ensino superior a


capacidade de adaptabilidade. O atual modelo de ensino, que se estrutura em
instituições superiores formais terá a concorrência direta de outros modelos1.

Na concepção de Rosa:

A utilização das tecnologias no processo ensino-aprendizagem


institui um fator de inovação pedagógica, possibilitando novas
modalidades de trabalho na escola, devendo esta acompanhar as
transformações sociais. A escola precisa se tornar mais atraente,
estreitando a linha que a divide do mundo externo, no qual o aluno
vai absorver grande parte das informações. A escola precisa
transformar-se de simples transmissora de conhecimentos em
organizadora de aprendizagens e reconhecer que já não detém a
posse de transmissão dos saberes, proporcionando ao aluno os
meios necessários para aprender a obter a informação, para
construir o conhecimento e adquirir competências, desenvolvendo
o espírito crítico.2

1 De acordo com as tradições, o ensinar era tarefa exclusiva da escola. Os conhecimentos eram
apresentados às crianças ao entrarem nas escolas e esses eram finitos e determinados; ao final de uma
determinada formação, o aluno era considerado uma pessoa formada, já que possuía conhecimentos
necessários para o ingresso em alguma profissão. Atualmente, não é possível ter esse mesmo
pensamento, pois as rápidas mudanças tecnológicas atribuem novas formas à atividade de ensinar e
aprender, estando constantemente em processo de aprendizagem e adaptação, não sendo mais possível
considerar uma pessoa completamente formada, independente do seu grau de formação (Kenski,
Educação e Tecnologias).
2 Rosa, “As Tecnologias de Informação e Comunicação.”
2

As inovações tecnológicas trazidas pela Industria 4.0 fazem com que a busca do
conhecimento seja cada vez maior, uma vez que o mercado exige profissionais
polivalentes, capacitados, que se adaptam às diversas situações que surgem e
constantemente buscam qualificação frente às exigências do mercado.3

A transformação advinda da Industria 4.0 com toda sua tecnologia e


competitividade necessita de um novo perfil de trabalhador advindo de uma pedagogia
de ensino inovadora, para que o professor, por meio da sua metodologia, desenvolva a
capacidade intelectual, induza a leitura da realidade e a transformação desta pela
vivência e experiência adquirida pelos alunos.4

Dentro desse contexto fortemente alicerçada nas novas tecnologias da


informação e comunicação o ambiente das Instituições de Ensino Superior (IES) viu a
urgente necessidade de adequar suas práticas e ferramentas materiais e humanas na
pretensão de construir um espaço que, ao se valer desses novos organizadores sociais,
fosse capaz de promover conhecimento integrado e de alta valia.

Na realidade existe uma verdadeira lacuna entre o que os estudantes aprendem


no modelo tradicional de educação e o que é exigido pelo mercado de trabalho. Assim,
compete às IESincentivar o desenvolvimento de competências e habilidades necessárias
para que os estudantes possam lidar, interagir e modificar o meio circundante5.

Nesse cenário, se a instituição de ensino superior e todo o sistema educativo


precisam ser reformulados, estando em constante questionamento de eficiência
contextualizada, o papel do professor também carece de atualizações.

Assim, conhecer os conceitos da Industria 4.0 permite que as instituições de


ensino superior aperfeiçoem suas estratégias e sua capacidade de processos, criando
modelos diferenciados e aumentando a eficiência no gerenciamento e de

3 Baldassari & Roux, “Indústria 4.0: Preparando-se para o Futuro."


4 Kenski, Educação e Tecnologia.
5 Segundo Keller-Franco e Masetto, a educação superior necessita de mudanças nas concepções de

ensino-aprendizagem, para atender e atuar em consonância às novas relações sociais, econômicas e


políticas, preparando profissionais para desempenhar suas atividades, contribuindo também com a
sociedade (Keller-Franco & Masetto, “Currículo por Projetos”).
Devido a crescente complexidade profissional nas tarefas e processos baseados na evolução tecnológica,
as universidades têm estimulado os estudantes a criar, conectar e direcionar ao conhecimento, , a
expertise e a competência, também como inteligência criativa.
Para isso, o currículo acadêmico deve estar em constante adaptação para que proporcione oportunidades
de conhecimento e aprendizado voltado aos princípios da nova revolução industrial (Massum et al.,
“Adapting the Surveying Curriculum”).
3

conhecimentos, ou seja, a intencionalidade das escolas estarem associadas a


qualificação de mão-de-obra para a indústria.

Nesse sentido, as IES precisam considerar que muitas profissões e carreiras, que
outrora ocupavam posições de destaque, se tornarão obsoletas pelos avanços
tecnológicos perdendo seus postos para a Inteligência Artificial que pode ocupar a
maioria dos postos de trabalho que conhecemos. O preparo do aluno para o convívio
social e sua atuação no mercado deve visar a obtenção de múltiplos saberes incluindo
os digitais permitindo-o interagir nesses ambientes de comunicações e informações e
em constantes transformações. Nesse contexto, é fundamental que certas habilidades
sejam estimuladas desde os primeiros anos escolares, tais como: criatividade,
empreendedorismo, trabalho em equipe, participação em projetos interdisciplinares,
flexibilidade e resiliência, além do desenvolvimento das competências relacionadas aos
conhecimentos das ciências e tecnologias.

Esse cenário levanta uma série de questionamentos sobre o papel da educação


e das instituições de ensino na Industria 4.0, como: Quais os impactos transmitidos pelos
avanços tecnológicos da Industria 4.0 no contexto escolar para efetivar o modelo
educacional de ensino e aprendizagem contemporâneo?

Desse modo, evidencia-se que o uso de novas tecnologias na contemporaneidade


traz a reflexão de que se faz necessário renovar as práticas pedagógicas de forma que
atendam a diversidade e sejam inclusivas, envolvendo todos os estudantes em
processos de aprendizagem significativos.

Ainda neste contexto, a tecnologia é uma realidade que possivelmente pode


agregar inúmeros benefícios e, quando incorporada ao processo de ensino-
aprendizagem, proporciona novas formas de ensinar e, principalmente, de aprender, em
um momento no qual a cultura e os valores da sociedade estão mudando, exigindo novas
formas de acesso ao conhecimento e cidadãos críticos, criativos e competentes. Diante
deste quadro, o maior desafio da educação do Século XXI consiste em caminhar para
uma educação de qualidade que integre todas as dimensões do ser humano.

Buscando contribuir para análise e reflexão sobre as mudanças necessárias à


formação de profissionais na contemporaneidade, esta tese apresenta inicialmente uma
abordagem conceitual acerca das premissas necessárias para o entendimento do
4

conceito de indústria 4.0. Para isso será levantado um conceito histórico referente a
revolução industrial no que diz respeito às suas fases e autores.

Após definida conceitualmente a Indústria 4.0, serão abordadas algumas das


principais tecnologias inseridas na indústria 4.0, definidas como: Big Data, Impressora
3D, Internet das Coisas (IoT), Cyber-Physics (CPS), Computação em Nuvem, Robótica
Avançada, Cibersegurança, Simulação e Realidade aumentada.

A pesquisa foi baseada na análise documental e na pesquisa bibliográfica, por


meio de revisão de literatura, bases de dados secundários acerca do tema e artigos
publicados em bases fidedignas.

Para se tratar das transformações na formação do professor, diante das


demandas atuais, realizou-se uma pesquisa descritiva e exploratória com abordagem
qualitativa, considerando se também, que é uma narrativa autobiográfica, onde o próprio
pesquisador se transporta para o lugar de pesquisado (pesquisado e pesquisador se
fundem em mim).

Assim foi agregada a experiência adquirida que adquiri como educador


pedagógico na Fundação Educacional Inaciana Padre Saboia de Medeiros. Isso
contribuiu para mostrar como pode acontecer a construção da identidade de um
educador com bases na formação inaciana. Ainda é importante ressaltar, que este
educador deve se preparar para todo o processo que a Pedagogia Inaciana tem como
diretrizes e propostas a fim de garantir a educação integral.

O método utilizado aplicado a tese foi fundamentado na análise contextual a partir


de documentos e relatórios de uma instituição de ensino inaciana (FEI) e de pesquisa
bibliográfica com base em teses, artigos e publicações.

Esta análise foi realizada de forma descritiva compondo a vivência como professor
da instituição referida e a pesquisa bibliográfica dos artigos e publicações que fazem
contraponto com as tecnologias e ferramentas metodológicas da pedagogia utilizadas
nesta década.

Assim este estudo tem como proposta fazer uma narrativa utilizando a história de
vida como uma pesquisa de abordagem qualitativa.
5

Segundo Moretti, a história de vida pode ser utilizada como método de


investigação e compreende os aspectos subjetivos de uma pessoa com relação aos
temas específicos. Pode ser utilizada em pesquisas de diferentes áreas como educação,
psicologia, comunicação e enfermagem.6

Ainda é importante lembrar que a história de vida teve seu início em 1920 e é um
método de pesquisa criado a partir da Escola de Chicago.7. A cidade de Chicago sofreu
um aumento populacional muito grande e impactou a vida cotidiana das pessoas que
residiam no local, gerando uma aglomeração urbana nova. Desta forma, a Escola de
Chicago produziu uma abordagem cultural significativa e teve como produto importante
e original o avanço qualitativo gerado pela preocupação empírica e pela clareza e
coerência das pesquisas.

Ainda, Belmira Bueno et al.ressaltam que:

“Em função de os estudos com histórias de vida terem surgido, na


área de educação, como uma busca de alternativas para se
produzir um outro tipo de conhecimento sobre o professor e sobre
suas práticas docentes, as propostas nessa direção têm-se
manifestado sob modalidades as mais variadas, e com
perspectivas metodológicas e objetivos também diversos.”8

Destaca-se, entretanto, que não apenas os professores devem ter uma


perspectiva histórica e sociológica da escola como instituição e da sociedade em que
vivem. Essa tarefa cabe também a todos os profissionais da educação – diretores,
coordenadores e supervisores.

6 Moretti, “Possibilidade de Ações da Gestão Escolar.”


7 Nogueira et al., “Pesquisa e Prática Psicossociais.”
8 Belmira Bueno et al, “O Método Autobiográfico.”
6

CAPÌTULO 1
Os Impactos Ocasionados pelas Revoluções
Industriais na Sociedade em Geral
7

CAPÍTULO 1
OS IMPACTOS OCASIONADOS PELAS REVOLUÇÕES INDUSTRIAIS NA
SOCIEDADE EM GERAL.

O fenômeno da Indústria 4.0 foi mencionado pela primeira vez durante o evento
“Hannover Fair”, em 2011, na Alemanha, como uma proposta para o desenvolvimento
de um novo conceito de política econômica alemã embasado em estratégias de alta
tecnologia, que simbolizam o início da chamada Quarta Revolução Industrial.9

De forma muito rápida, o surgimento da quarta revolução industrial se espalhou


por vários países da Europa, Ásia e América do Norte.

A Indústria 4.0 iniciou devido a um projeto de novas estratégias do governo


alemão voltadas a grandes tecnologias, cujo conceito traz uma mudança de paradigma
do sistema produtivo industrial, onde se introduz novas ferramentas tecnológicas, como
automação, robótica, tecnologia da informação conjuntamente com a visão do
trabalhador capacitado para atuar junto a essas tecnologias.

É importante ressaltar que, este novo momento se trabalha no ambiente fabril por
meio de instalações chamadas inteligentes, que são capazes de aprender e tomar
decisões tornando-se flexíveis em tempo real. Pode-se dizer que esta fase é uma
adaptação para a comunicação instantânea entre máquinas, processos, linhas de
montagem e unidades fabris. Para tanto são utilizados computadores que permitem a
junção das realidades física e virtual para cada micro-operação formando uma rede de
relevância para o usuário do sistema.10

A busca pela inovação e eficiência traz impactos importantes na empregabilidade,


pois isso gera um movimento na economia e pode se indagar o que será dos
trabalhadores assalariados da era industrial neste momento que se muda para a nova
era que é mais colaborativa e distribuída, uma vez que se fala de tecnologia vinculada à
capacidade de atuação dos profissionais que vierem a trabalhar com o sistema de rede
integrado.

9 Ver Lee, “ Industry 4.0”; e Mosconi, The New European Industrial Policy. Em 2013, a Academia Nacional
de Ciências e Engenharia alemã publicou o relatório intitulado “Recomendações para a implementação da
iniciativa estratégica da Indústria 4.0”, sendo este o marco oficial para a consolidação dos conceitos da
Indústria 4.0 (Kagermann, Wahlster, & Helbig, Recommendations for Implementing the Strategic Initiative
Industrie 4.0).
10 Ver Rifikin, O Fim dos Empregos.
8

A modernização tecnológica, por um lado, parece ser uma resposta para o desafio
da competitividade; por outro, também parece impactar negativamente na geração de
empregos, uma vez que os trabalhadores precisam estar capacitados para exercerem
suas funções junto a todo aporte tecnológico.

A Revolução Industrial vai além da ideia de grande desenvolvimento dos


mecanismos tecnológicos aplicados à produção, na medida em que: consolidou o
capitalismo; aumentou de forma rápida a produtividade do trabalho; originou novos
comportamentos sociais, novas formas de acumulação de capital, novos modelos
políticos e uma nova visão do mundo; e talvez o mais importante, contribuiu de maneira
decisiva para dividir a imensa maioria das sociedades humanas em duas classes sociais
opostas e antagônicas: a burguesia capitalista e o proletariado.11

Francisco Iglesias afirma ainda que a consolidação da Revolução Industrial


aconteceu por completo com a introdução do conceito de produção em série voltado ao
abastecimento de grandes mercados consumidores, conforme é destacado a seguir:

Enquanto antes se produzia para certo mercado, constituído por


pessoas conhecidas, agora se produz para um mercado anônimo;
enquanto antes o artigo era feito por um artesão, uma pessoa,
agora o é pela máquina ou por várias pessoas, que dividem as
tarefas de modo a tornar o labor mais racional e rentável.12

Os avanços tecnológicos sempre foram extremamente importantes para evolução


da Indústria, fator ocasionado pela busca de trabalhos mais dinâmicos, eficientes e
qualificados. As revoluções industriais, somadas aos grandes avanços tecnológicos,
culminaram no surgimento da Indústria 4.0 ou Quarta revolução Industrial. 13

De acordo com Schwab, a sociedade está por enfrentar uma mudança tão
profunda, que da perspectiva da história humana, nunca houve um momento tão
promissor, uma revolução que impactará na forma de se relacionar, trabalhar e no estilo
de vida da humanidade, corroborando com o surgimento de tecnologias que interligam
os mundos físico, digital e biológico, com impacto não só na indústria, mas em todos os

11 Cavalcante & Silva, “A Importância da Revolução Industrial no Mundo da Tecnologia”.


12 Iglésias, A Revolução Industrial, 48-49.
13 Boettcher, “Revolução Industrial.”
9

segmentos sociais e econômicos. Esse movimento é causado pela quarta revolução


industrial que está em curso.14

Neste contexto, Gehrke et al salientam que a Indústria 4.0 demandará novos


talentos técnicos e impulsionará a criação de novas atribuições no chão de fábrica.15
Assim, as empresas precisarão de mão de obra cada vez mais qualificada para
desenvolver e executar sistemas avançados de manufatura e analisar os dados
recebidos de máquinas, consumidores e recursos globais.

No Brasil, ainda se caminha de forma muito embrionária para este momento


chamado de indústria 4.0, em que se precisa buscar o trabalhador apto para atuar junto
a esta rede tecnológica e integrada.

Vale ressaltar ainda, que todo o processo produtivo brasileiro em parte se


encontra fixado na segunda e terceira revolução industrial, porque muitas indústrias
ainda permanecem na produção em massa e outras se encaixam na produção enxuta
que é, formalmente, toda produção realizada sem desperdícios, pelo fluxo contínuo com
que os processos produtivos ocorrem, pela produção segundo a demanda do cliente, no
tempo e na qualidade por este estabelecidos e, por fim, pela relação próxima e de
parceria com fornecedores.

Para Davis, a Quarta Revolução Industrial dentro da complexidade das


tecnologias e sua natureza emergente, faz com que muitos aspectos não sejam
familiares para muitas pessoas, sendo ainda, em muitos casos ameaçadora. Todavia as
revoluções industriais foram sempre impulsionadas pelas escolhas individuais e coletivas
da sociedade, e não apenas escolhas de pesquisadores, inventores e designers que
desenvolvem tecnologias subjacentes, sendo importantes à consumidores, reguladores
e cidadãos que adotaram e empregam essas tecnologias em seus cotidianos. A Quarta
Revolução Industrial é na verdade um reflexo dos desejos e escolhas da sociedade como
um todo.16

14 Schwab, A Quarta Revolução Industrial.


15 Gehrke et al., “Industry 4.0.”
16 Davis, “What is the Fourth Industrial Revolution?”. A nova economia evoluiu e as sociedades que nela

viviam também. A modernidade e a contemporaneidade deram origem a uma nova sociedade que emergia
dos processos de Revolução, tendo sido condicionada, principalmente, pela revolução Tecnológica, a
Sociedade Informacional. Esta tem como matéria prima o conhecimento, e este, não só influência nos
métodos e processos de produção como também na forma e no rumo da nova sociedade (Cuogo, “Reflexo
da Terceira Revolução Industrial”).
10

1.1 PRIMEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

A Revolução Industrial consiste em um período de grandes mudanças


econômicas e sociais que foram realizadas entre os séculos XVIII e XIX na Europa e
principalmente na Inglaterra.

No caso da Revolução Industrial, o aspecto revolucionário desse fenômeno esteve


no âmbito tecnológico, por isso o advento da indústria e da produção mecanizada,
ocorrido na Inglaterra do século XVIII principalmente a partir da invenção da máquina a
vapor por James Watt, em 1760, caracterizou-se como revolução.

É necessário observar que, sob o ponto de vista histórico o processo de


mecanização não muda somente as formas de produção, mas o modo de vida de toda a
sociedade. Neste contexto social, antigos camponeses e artesãos formam uma nova
classe de operários. Essas pessoas agora, não possuem mais seus meios de produção
e tem como única alternativa de sobrevivência, a venda de sua força de trabalho para o
empregador.

Para Hobsbawn17, a Revolução Industrial – que vamos chamar de primeira –


começou na Grã-Bretanha e ocorreu de 1750 a 1850, com a mecanização da indústria
têxtil18 e, consistiu em um conjunto de mudanças tecnológicas com profundo impacto no
processo produtivo em nível econômico e social.

Nesse sentido, Lima & Neto explicam que o século XVIII, foi uma sucessão de
invenções que deu origem ao modo de produção fabril, no qual uma série de melhorias
no processo produtivo contribuiu para o prelúdio da Revolução Industrial. Tal Revolução
transformou a capacidade produtiva inglesa. De modo geral, foi além do aparecimento
de novas máquinas e fábricas, aumento de produtividade e do nível de renda. Na
verdade, foi uma Revolução que transformou a Inglaterra e o continente europeu de uma
forma brilhante, com consequências enraizadas nas relações sociais.19

17 Hobsbawm, Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo.


18 As primeiras indústrias a fazerem uso de máquinas foram as do setor têxtil, com o emprego do tear
mecânico e da máquina de fiar e sofreram grande impulso logo após o aperfeiçoamento da máquina a
vapor (Iglésias, A Revolução Industrial).
19 Lima & Neto, “Revolução Industrial.”
11

Assim, as tarefas, que antes eram executadas arduamente à mão por centenas
de tecelões, usando cada um à sua fiandeira, foram levadas para grandes máquinas de
tecer e, dessa maneira, nasceu a fábrica, provocando o surgimento da manufatura em
grande escala e acarretando o aumento substancial da produtividade do trabalho.

Ao longo desse processo de evolução da Primeira Revolução Industrial, a era da


agricultura foi superada, a máquina foi suplantando o trabalho humano, uma nova
relação entre capital e trabalho impôs novas relações entre as nações e surgia o
fenômeno de cultura de massa. Essa transformação foi possível devido a uma
combinação de fatores, como o liberalismo econômico, a acumulação de capital e uma
série de invenções, tais como o motor a vapor. E o capitalismo tornou-se o sistema
econômico vigente.

Antes da Revolução Industrial, a atividade produtiva era artesanal e manual (daí


o termo manufatura), no máximo com o emprego de algumas máquinas simples.

Dependendo da escala, grupos de artesãos podiam organizar-se e dividir algumas


etapas do processo, desde a transformação da matéria-prima até a comercialização do
produto final. Esses trabalhos eram realizados em oficinas nas casas dos próprios
artesãos, e os profissionais talentosos da época dominavam muitas, se não todas, das
etapas do processo produtivo.

Com a Revolução Industrial, os trabalhadores começaram a perder o controle do


processo produtivo, uma vez que passaram a trabalhar para um patrão, ou seja, o seu
empregador.

Esses trabalhadores passaram a controlar máquinas que pertenciam aos donos


dos meios de produção, os quais passaram a receber os lucros.

Segundo Cavalcante & Silva a Primeira Revolução Industrial foi a grande


motivação para o surgimento do capitalismo, que antes era comercial e passou a ser
industrial. Essa revolução mudou consideravelmente a vida das pessoas e até hoje seus
reflexos podem ser vistos e continuam em processo de transformação.

A isso, Cavalcante & Silva enfatizam que a Primeira Revolução Industral não se
limitou a um conjunto de transformações técnicas e tecnológicas aplicadas no processo
de produção de mercadorias. Há uma outra dimensão, de caráter social, que
12

proporcionou, entre outras coisas, a formação da classe operária ou proletariado (que


apenas possui a sua força de trabalho) em sua relação com a burguesia (detentora da
propriedade). Fez surgir mudanças no sistema econômico: consolidação do capitalismo
como modelo socioeconômico e pelas transformações nas relações de trabalho, além de
abrir horizontes cada vez maiores para um desenvolvimento ilimitado da espécie
humana.

Esse momento é marcado como o ponto culminante de uma evolução tecnológica,


econômica e social que vinha ocorrendo na Europa.

É importante ressaltar outro acontecimento importante ocorrido na primeira


revolução Industrial: a automação, devido a criação de máquinas programáveis. Dentre
elas se destaca, de acordo com Costa20, o tear programável de Joseph Jacquard,
conhecido como primeira máquina programável, que revolucionou a indústria têxtil,
possibilitando a criação de peças têxtis mais rapidamente e com menos defeitos.

1.2 SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

A Segunda Revolução Industrial, para a maioria dos estudiosos, teve início na


segunda metade do século XIX (ou seja, de 1850 em diante) e envolveu uma série de
desenvolvimentos dentro da indústria do aço, petróleo, elétrica e química. Nesse
período, outros progressos essenciais incluiram a introdução de navios de aço movidos
a vapor, o desenvolvimento do avião (com importante participação, na sua invenção, do
brasileiro Alberto Santos Dumont), a produção em massa (por exemplo, de automóveis
por Henry Ford21) de bens de consumo, o enlatamento de alimentos, a refrigeração
mecânica e de outras técnicas de preservação e a invenção do telefone eletromagnético.
Para alguns especialistas, a Segunda Revolução Industrial deveria ser entendida como
uma fase mais avançada da Primeira Revolução Industrial, pois, para eles, não houve,
em muitos setores, uma clara ruptura entre as duas, apenas o aprimoramento e

20Costa, “Estratégia para a Indústria 4.0 e Futuras Ocupações.”


21Neste período surgiu a filosofia de produção em massa que consistia em elevar a oferta de produtos a
preços baixos para conquistar uma gama maior de consumidores. Com base nestes objetivos, o americano
Henry Ford criou um modelo de produção onde peças eram transportadas até os operários através de
esteiras transportadoras. Este novo método ficou conhecido como modelo de produção Fordista ou
simplesmente de Fordismo (Schafer, “Revolução Industrial”).
13

aperfeiçoamento das tecnologias já existentes. Convém lembrar que muitas invenções


importantes ocorreram na segunda metade do século XIX, tais como:

❖ Em 1856, Henry Bessemer patenteia um novo processo de produção de aço


(ou seja, uma liga de ferro mais resistente) permitindo sua produção em
escala industrial.
❖ Em 1876, Alexander Graham Bell inventa o telefone nos Estados Unidos.
❖ Em 1885, o alemão Gottieb Daimler inventa um motor a explosão.

Com a evolução da Segunda Revolução Industrial, no plano de relações


internacionais, a segunda metade do século XIX foi marcada pela hegemonia mundial
britânica, um período de acelerado progresso econômico-tecnológico, de expansão
colonialista e das primeiras lutas e conquistas dos trabalhadores. Durante todo esse
período, o trono britânico foi ocupado pela rainha Victoria (1837 a 1901), razão pela qual
é denominado como “era vitoriana”. Ao final dessa época, a Grã-Bretanha ampliou a
busca por novas áreas para colonizar e vender os seus produtos fabricados em massa.

O desenvolvimento do motor a combustão interna foi um motivador dos primeiros


automóveis na França, em 1870, porém eles não foram produzidos em grande
quantidade, inicialmente, pelos franceses. Foi Gottlieb Daimler quem realmente
conseguiu realizar a façanha de usar o petróleo no lugar do gás de carvão como
combustível para o automóvel em 1885. Então, Henry Ford cria o motor de combustão
interna, o que acabou fazendo com que surgisse o fenômeno do mercado de massa,
graças às linhas de produção que ele criou.

Foi a eletricidade22, que era pouco conhecida e com uso restrito ao


desenvolvimento de pesquisas laboratoriais que deu um grande impulso para a Segunda
Revolução Industrial.23 Ela passou a ser utilizada como um tipo de energia que podia ser
transmitida em longas distâncias e com um custo menor se comparado ao vapor.

Não se pode deixar de lembrar que muitas descobertas também aconteceram no


campo da química e que contribuíram muito para essa nova etapa do capitalismo

22 O incremento da eletricidade trouxe diversas, e grandes, consequências em diferentes âmbitos, sendo


eles não apenas na economia e nas indústrias, mas, também, no dia a dia da vida da população. A energia
agregou bastante valor, como por exemplo, a transmissibilidade e a flexibilidade, economizando a perda
de energia, e facilitando a conversão em movimento, luz, calor e som respectivamente. (Dathein, “Inovação
e Revoluções industriais”).
23 Cavalcante, “Indústria 4.0 e Suas Perspectivas Futuras.”
14

industrial. O aço e o alumínio começam a ser utilizados largamente, tanto na construção


como na fabricação de muitos produtos de uso doméstico, devido à sua maleabilidade e
resistência.

Portanto, o que mais marcou a Segunda Revolução Industrial foram os avanços


tecnológicos que aconteceram entre o final do século XIX até meados do século XX.,
quando o mundo vivenciou uma série de avanços na tecnologia da medicina e o uso das
águas na geração de energia elétrica, com a criação das usinas hidrelétricas. A Segunda
Revolução Industrial focalizou a produção no segmento de indústria de grande porte
(siderúrgicas, metalúrgicas, petroquímicas, automobilísticas, transporte ferroviário e
naval). Essa etapa da indústria mundial produziu profundas modificações no contexto do
espaço geográfico no qual essa revolução foi desenvolvida.24

O incremento das máquinas no lugar do trabalho exclusivamente braçal, trouxe


vantagens intelectuais e melhorias na qualidade de vida25, fazendo com que as pessoas
tivessem mais tempo para pensar em outras atividades não essenciais, como invenções,
artes e política, já que as máquinas garantiam um trabalho mais rápido e com maior
produção.26

Neste período surgiu para essa principal e inovadora forma de produção material
dos bens de consumo, Frederick Winslow Taylor e Henry Ford como os principais
responsáveis. Cada um com sua respectiva teoria e prática, desenvolvida numa
civilização capitalista onde a burguesia se encontrava no centro econômico, se tinha o
crescimento urbano facilitado pelo êxodo rural que acontecia de forma rápida, e como
consequência, de forma natural, se tinha o aumento da classe operária.

O modelo de racionalização da produção criado por Taylor, definido como


Taylorismo e que teve início na virada do século XIX para o século XX, consistia
basicamente na divisão do trabalho para deixar os operários especialistas em apenas

24 Vale lembrar que revoluções não são difundidas de forma homogênea no mundo, pois é necessário
considerar os contextos e acessos das populações heterogêneas em termos sociais e econômicos. Como
retrata Schwab, a “segunda revolução industrial ainda precisa ser plenamente vivida por 17% da população
mundial, pois 1,3 bilhão de pessoas ainda não tem acesso a eletricidade” (Schwab, A Quarta Revolução
Industrial, 244).
25 O setor industrial foi transformado. O trabalho tornou-se ainda mais especializado. Com o modo de

produção capitalista, a divisão de classes fica evidente com a separação nítida dos donos da nova
indústria, a burguesia industrial, dos trabalhadores, a classe proletária (Hobsbawm, 1996).
26 Santos, “Indústria 4.0: Sistemas Inteligentes.”
15

uma determinada parte do processo de forma que domínio das tomadas de decisões era
estabelecido ao longo do processo produtivo.

Com relação a Henry Ford, criador do Fordismo, que teve início no século XX,
movimento que surgiu com base na filosofia de produção em massa que consistia em
elevar a oferta de produtos a preços básicos para conquistar uma maior quantidade de
consumidores. Tal movimento, era caracterizado pela busca de inovações e de
melhorias constantes de novos produtos e técnicas de produção visando um melhor e
maior desempenho industrial, estabelecendo um progresso tecnológico e científico.
Pode-se dizer que essas especificações se estendem até os dias atuais na busca de se
inserir no capitalismo do mundo globalizado.27

Para Cuogo, de certa forma, a Segunda Revolução Industrial é uma fase do


processo de industrialização, visto que não ocorreu uma ruptura e um reinício da
Revolução Industrial. Houve apenas uma evolução e expansão, tanto no âmbito
geográfico quanto nas questões tecnológicas – entre o período que compreende a
Primeira Revolução e a Segunda Revolução.28

1.3 TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

O mundo, após a segunda metade do século XX, ou seja, alguns anos após o
término da Segunda Guerra Mundial (1945), ingressou em uma etapa de profundas
evoluções no campo tecnológico, desencadeadas, principalmente, pela junção entre
conhecimento científico e produção industrial, ou seja, ingressou na Terceira Revolução
Industrial29. Nesse período, praticamente todos os conhecimentos alcançados nas
pesquisas foram rapidamente repassados para o desenvolvimento industrial. Alguns
dizem que a Terceira Revolução Industrial tem tudo a ver com a era da informação, que
expandiu muito o alcance dos serviços comercializáveis internacionalmente e tendeu a
transferir muitos empregos para a China, o Vietnã, a Tailândia, a Indonésia, onde a mão
de obra de manufatura era mais barata, e para a Índia, principalmente no setor de

27 Silva & Gasparin, “A Segunda Revolução Industrial.”


28 Cuogo, “Reflexo da Terceira Revolução Industrial.”
29 Na verdade, tecnologias desenvolvidas na segunda guerra foram fundamentais para este grande

avanço, haja vista que a terceira revolução é também conhecida de revolução informacional
16

serviços, o que, sem dúvida, provocou o desemprego de milhões de pessoas em outros


países.30

Esse movimento tem sido implacável. Se antes os empregos industriais estavam


saindo dos países onde os custos trabalhistas eram mais altos e indo para os países
onde eles eram menores, agora, com a Terceira Revolução Industrial, há a tendência
que um número cada vez maior de empregos no setor de serviços também seja
exportado para países com custo de produção menor.

Conforme destaca Ferreira31, a Terceira Revolução industrial foi responsável por


alterar os rígidos modelos de industrialização Taylorista e Fordista 32 de delimitar o
trabalho, fundamentada na influência Toyotista33 japonês, por meio da redução da
hierarquia que apontava incluir cada vez mais o trabalhador no processo.

Para Gomes et al., o Toyotismo, diferentemente do Fordismo, fundamenta-se na


ideia de estoque zero ao invés de manter grandes estoques, os quais dificultavam o
capital; e ressaltam ainda que:

Enquanto a cultura Fordista necessita de profissionais com


características mecânicas, no qual o indivíduo é apenas uma
engrenagem de uma enorme maquinaria no qual representa a
empresa, onde há ainda uma divisão entre a concepção e
execução, fica explicito a desnecessidade de uma maciça
qualificação. Por outro lado, o Toyotismo exige de seus
profissionais uma enorme carga de conhecimento, devido à quebra
dessa divisão supracitada, onde o trabalhador passou a ser o
elemento fundamental para o andamento do trabalho, nesse
sistema um conjunto de pessoas é responsável por várias funções,

30 Rifkin, O Fim dos Empregos.


31 Ferreira, O Fordismo, Sua Crise e o Caso Brasileiro.
32 3 Ao usarmos a expressão “taylorista-fordista”, estamos nos referindo ao próprio sistema fordista. Nosso

intuito, entretanto, é deixar subentendido que o sistema desenvolvido por Ford dependeu e foi plenamente
viabilizado pela anterior difusão das práticas tayloristas. Especificamente a esse respeito, consultar Pinto,
“Uma Abordagem metodológica”; e Pinto, A Organização do Trabalho no Século 20.
33 O Sistema Toyota de Produção (STP) foi fundado por Taiichi Ohno, Engenheiro Chefe da Toyota Motor

Company, Diretor e Vice-presidente da empresa entre 1943 e 1978. No STP qualquer desperdício é igual
à perda de esforços, de materiais e de tempo. Logo, a lógica do sistema é que tudo o que gerar custo e
não agregar valor deve ser eliminado. Também por isto este modelo é conhecido como lean production,
produção enxuta.
17

de forma flexível. Há também uma preocupação com a qualidade,


que passou a ser inculcada em suas mentes.34

A Terceira Revolução Industrial, também chamada de Revolução Técnico-


Cientifica35 e informacional são formadas por meio dos processos de inovação
tecnológica, os quais são marcados pelos avanços no campo da informática, robótica,
das telecomunicações, dos transportes, da biotecnologia, da química fina, além da
nanotecnologia.36

Singer ressalta que:

A Terceira Revolução Industrial sob diversos aspectos difere das


anteriores. Ela acarreta acelerado aumento da produtividade do
trabalho tanto na indústria como em numerosos serviços,
sobretudo dos que recolhem, processam, transmitem e arquivam
informações. Como ela está ainda em curso, é difícil prever seus
desdobramentos próximos e longínquos. Além da substituição do
trabalho humano pelo do computador, parece provável a crescente
transferência de uma série de operações das mãos de funcionárias
que atendem ao público para a própria usuária.37

Nesse sentido, Medeiros & Rocha38 resumem que a Terceira Revolução Industrial
constitui um processo difuso que repercute na dimensão cultural; o chamado pós-
modernismo influencia a arte e os costumes. No que diz respeito à política e à economia,
gerou o chamado neoliberalismo e a era da globalização. Essa transformação no modo
e produção corre simultaneamente na organização do Estado e no processo de trabalho
dos setores: primário (agropecuária, extração de minérios), secundário (indústria,
pesquisa e informática) e terciário (serviços), sendo este último, no âmbito do setor da
saúde.

34 Gomes et al., “Fordismo ou Toyotismo,” 39.


35 A Terceira Revolução Industrial ou Revolução Tecno-Cientifica, teve início em meados do século XX,
momento em que a eletrônica aparece como verdadeira modernização da indústria, permitindo o
desenvolvimento da informática e a automação industrial. Desse modo, as indústrias foram dispensando
a mão de obra humana e passaram a depender cada vez mais das máquinas para fabricarem seus
produtos.
36 Boettcher, “Revolução Industrial.”
37 Singer, “Desemprego e Exclusão Social,” 5.
38 Medeiros & Rocha, “Considerações sobre a Terceira Revolução Industrial.”
18

No mundo capitalista, a inserção de tecnologias e o aprimoramento constante


delas promoveram um aumento de produtividade. Foi possível criar produtos e
mercadorias de maior qualidade com custos menores. Esse processo desencadeou uma
enorme acumulação de capitais pelos donos dos meios de produção, os quais,
posteriormente, foram usados para realizar investimentos no desenvolvimento de novos
produtos e na geração de inéditas tecnologias de ponta, sempre a serviço da indústria.

Todo esse processo acabou por criar um paradigma, no qual a informação é a


matéria-prima. A tecnologia passou a permear toda a atividade humana, aplicando a sua
lógica de redes em qualquer sistema ou conjunto de relações, circunstância que está
crescendo exponencialmente, como é o caso do Facebook, que possui cerca de mais de
um bilhão de usuários em pouco mais de uma década.

Uma vez que esse paradigma da informação é baseado na flexibilidade, ele


permite não somente que processos, mas também organizações e instituições,
modifiquem-se fundamentalmente, tornando possível inverter as regras que as
estruturam sem destruir a organização.

Essa percepção deve ser tomada sem ideologias, pois a flexibilidade tanto pode
ser libertadora (a pessoa se livra de várias intermediações) como repressiva (redução da
privacidade).

O paradigma informacional está evoluindo em direção a uma rede aberta de


múltiplos acessos, cuja abrangência, complexidade e disposição em forma de rede são
seus principais atributos.

No que concerne ao trabalho, a Terceira Revolução Industrial, aliada a


globalização, tem como uma de suas principais consequências a crescente tecnologia
que proporciona formas novas de organização de trabalho, mas, também o desemprego.
Os efeitos dos pensamentos neoliberais causam consequências negativas relacionadas
ao crescente desemprego nos setores de produção com os trabalhadores saindo do
mercado de trabalho. As marcas do desemprego resultam em complicações sociais,
políticas e culturais, com transformações no sistema econômico, na organização da
19

sociedade, no relacionamento da produção, causando desconfiança e alterando as


relações de poder.39

No entanto, convém destacar que a Terceira Revolução Industrial é também


conhecida como a Revolução Técnico Científica. Assim como na Primeira e na Segunda
Revolução Industrial, demonstrou uma transformação drástica no processo produtivo, A
transformação tecnológica começou com os ingleses, ainda no século XVIII, e influenciou
o modo de produção de todas as outras indústrias. A Terceira Revolução Industrial
também causou o crescimento exponencial das economias consolidou o capitalismo
financeiro.40

Nesse contexto, a competitividade de mercado também é favorecida na Terceira


Revolução Industrial com a produção de novos produtos e serviços, subsequentes das
novas tecnologias existentes aliadas ao sistema capitalista. Assim, os novos
conhecimentos existentes e utilizados nas organizações de produção favorecem a
redução de custo e aumento dos lucros, o que faz com que sejam benéficos os
investimentos realizados.41

O impacto das novas tecnologias da Terceira Revolução Industrial não se


restringiu apenas às indústrias, mas afetou as empresas comerciais, as prestadoras de
serviços e, até mesmo, o cotidiano das pessoas comuns, ou seja, trata-se de uma
revolução muito mais abrangente.

Outro fator a ser destacado com relação a Terceira Revolução Industrial foi o
grande processo de transformação que abrangeu o âmbito cultural, definido como pós-
modernismo, influenciando a arte e os costumes. Com relação a política e a economia,
resulta no que pode ser definido como pensamento neoliberal e o marco da globalização,
o que modifica e transforma toda uma organização de estruturação de produção do
Estado, sendo eles os setores: primário, como a agropecuária, secundário, como a
indústria e pesquisa e terciário, o setor de serviços.42

39 Ibid.
40 Cuogo, “Reflexo da Terceira Revolução Industrial.”
41 Ibid.
42 Medeiros & Rocha, “Considerações sobre a Terceira Revolução Industrial.”
20

1.4 A QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (INDÚSTRIA 4.0)

Uma revolução industrial é caracterizada por mudanças abruptas e radicais,


motivadas pela incorporação de tecnologias, tendo desdobramentos nos espaços
econômico, social e político.

A Indústria 4.0 vem sendo encarada como a 4ª Revolução Industrial, pois


igualmente às anteriores, a inovação tecnológica é o ponto de partida para romper com
os velhos paradigmas e remodelar drasticamente os sistemas de produção.

Ainda, Schwab43 defende que a 4ª Revolução Industrial está muito além de


sistemas e máquinas inteligentes interconectadas:

Ondas de novas descobertas correm simultaneamente em áreas


que vão desde o sequenciamento genético até a nanotecnologia,
das energias renováveis à computação quântica. O que torna a
quarta revolução industrial fundamentalmente diferente das
anteriores é a fusão dessas tecnologias e a interação entre os
domínios físicos, digitais e biológicos44. Nessa revolução, as
tecnologias emergentes e as inovações generalizada são
difundidas muito mais rápida e amplamente do que nas anteriores,
as quais continuam a desdobrar-se em algumas partes do mundo.45

A Alemanha foi um dos principais países potenciadores para a ocorrência da 4ª


Revolução Industrial, onde nasce o conceito de Indústria 4.0, que se caracteriza por um
mix de tecnologias que elimina as barreiras entre o físico e o digital.

A Quarta Revolução vem para mudar alguns paradigmas existentes nas três
primeiras revoluções, ou seja, ela vem causando uma grande e contínua transformação
não só nos processos, mas, também nos relacionamentos e nos hábitos de consumo. A
transformação está sendo tão grande que é denominada de quarta revolução industrial.

43 A Quarta Revolução Industrial ou também conhecida como Indústria 4.0 na verdade é um conceito criado
pelo alemão Klaus Schwab, Fundador do Fórum Econômico Mundial, onde teve seu início no ano de 2011
quando o governo alemão introduziu a revolução 4.0.
44 A Quarta Revolução Industrial é a fusão dessas tecnologias e a interação com as dimensões física,

digital e biológica que tornam o fenômeno atual diferente de todos os anteriores. Tecnologias emergentes
e inovação em ampla escala têm se difundido mais rapidamente e de maneira mais ampla do que em
movimentos do passado (Schwab, A Quarta Revolução Industrial ).
45 Schwab, A Quarta Revolução Industrial, 16.
21

A novidade acerca da Indústria 4.0 diz respeito à conectividade, assim, todos os


departamentos da fábrica estarão digitalizados e ligados, máquinas e seres humanos,
através de sistemas ciber-físicos46 (Cyber-Physical Systems – CPS) que conectam as
informações de um dispositivo para o outro.47

Corroborando o exposto, Martins enfatiza:

...que a indústria 4.0 é a integração de diversas tendências


tecnológicas, que têm surgido nos últimos anos, como a
inteligência artificial, os sensores sofisticados e a internet das
coisas, que quando combinadas, passam a unir o mundo virtual e
o mundo físico, transformando totalmente o modo como
conhecemos o setor da indústria atualmente.48

Por sua vez, Kovaleski admite que “todas as revoluções industriais trouxeram
novos conceitos de produção e, principalmente, novas tecnologias, refletindo a
necessidade de integração de todo o processo produtivo, tornando-se gradativamente
um desafio”49, ou seja, as revoluções industriais consideram as inovações disruptivas
como centrais no processo de acelerar e alavancar a industrialização.

Por sua vez, Buisàn & Valdés, complementa que o que diferencia a quarta
revolução industrial das anteriores é que, as três revoluções anteriores, apesar de terem
contribuído com melhorias nos processos ao longo das cadeias globais de valor, não
demonstraram capacidade de interconexão entre máquinas, produtos, fornecedores e
consumidores, bem como não desenvolveram tão rapidamente ou geraram tanta
conectividade quanto está.50

De acordo com Bertulicci, conectando máquinas, sistemas e ativos, as empresas


podem criar redes inteligentes ao longo de toda a cadeia de valor controlando os módulos
de produção de forma autônoma.51 As fábricas inteligentes52 têm a capacidade e

46 Cyber-Physical Systems (CPS) são sistemas que integram computação, redes de comunicação,
computadores embutidos e processos físicos interagindo entre si e influenciando-se mutuamente.
47 Collabo, “A Indústria 4.0 e a Revolução Digital.”
48 Martins, “A Indústria 4.0,” 27.
49 Kovaleski, “Gestão de Recursos Humanos,” 23.
50 Buisán & Valdés, “La Industria Conectada 4.0,” 89.
51 Bertulucci, “O que é a Indústria 4.0.”
52 Para Moreira, a Alemanha não foi o único país a identificar o grande potencial dessa tecnologia. Os

termos “Produção Inteligente”, “Fabricação Inteligente” ou “Fábrica Inteligente” passam a ser usados na
22

autonomia para agendar manutenções, prever falhas nos processos e se adaptar aos
requisitos e mudanças não planejadas na produção.

Sobre essa questão, Yoon, Shin & Suh, explicam que uma fábrica inteligente deve
combinar tecnologia de computação ubíqua como facilitador para resolver problemas no
chão de fábrica com os elementos existentes.53

Por sua vez, ao avaliar os impactos disruptivos destacados por Schwab, advindos
pela Quarta Revolução Industrial, percebe-se que a natureza do trabalho também será
transformada pelo fato de que atualmente mais empregadores estão usando a “nuvem
humana”54 para que as coisas sejam feitas. Ou seja, as atividades profissionais passarão
cada vez mais a ser separadas em atribuições e projetos distintos e, em seguida, serão
lançadas em uma nuvem virtual de potenciais trabalhadores, localizados em qualquer
lugar do mundo.

Nesse sentido, Schwab adverte que nessa Quarta Revolução Industrial o talento 55,
mais que o capital, representará o fator crucial da produção. Dada a crescente taxa das
mudanças tecnológicas, essa nova revolução exigirá e enfatizará a capacidade de os
trabalhadores se adaptarem continuamente e aprenderem novas habilidades e
abordagens dentro de uma variedade de contextos.

Conforme relatam Stevan Jr, Leme & Santos, a indústria 4.0 traz muitos desafios
e muitas oportunidades, pois o processo de produção conta com a ideia integrada de
vários setores envolvidos.56 Esses processos vão além dos limites das indústrias, pois
passa por outras áreas envolvidas na entrega do produto, como pesquisa e
desenvolvimento (P&D), marketing, logística entre outras.

Europa, na China e nos Estados Unidos para se referir especialmente à rede digital de produção para criar
sistemas de fabricação inteligente (Moreira, Indústria 4.0.).
53 Yoon, Shin, & Suh, “A Conceptual Framework for the Ubiquitous Factory.”
54 A “nuvem” aqui referida possibilita que as conexões entre o mundo sejam mais rápidas e fáceis de usar,

podendo proporcionar as coisas mais complexas, processando dados de forma potente e barata,
eliminando atritos tanto no âmbito dos negócios quanto nas interações humanas.
55 Schwab afirma que à medida que a digitalização e automação da produção se for consolidando haverá

uma deslocação física dos trabalhadores em relação às tecnologias usadas no processo de produção. O
autor realça que no futuro, o talento da força de trabalho irá sobressair ao capital, representando um fator
crítico de produção (Schwab, A Quarta Revolução Industrial).
56 Stevan Jr, Leme, & Santos, Industria 4.0.
23

Mediante esse contexto, na perspectiva humana57, Schwab (2016)


acredita que “as mudanças são tão profundas que, na perspectiva
da história humana, nunca houve um momento tão potencialmente
promissor ou perigoso”; isso porque, ainda conforme Schwab, “os
tomadores de decisão costumam ser levados pelo pensamento
tradicional linear (e sem ruptura) ou costumam estar muito
absorvidos por preocupações imediatas; e, portanto, não
conseguem pensar de forma estratégica sobre as forças de ruptura
e inovação que moldam o nosso futuro”58.

No entanto, convém destacar que, segundo Schwab, podemos ter certeza de que
as novas tecnologias mudarão de forma relevante a natureza do trabalho em vários
setores e ocupações. A incerteza tem a ver com a quantidade de postos de trabalhos
que serão substituídos com a automação e até onde irá essa grande transformação. Os
seres humanos possuem uma incrível capacidade de adaptação, mas há uma grande
dúvida: quanto tempo ele precisará para se ajustar a essa nova realidade.

Ao contrário do que ocorreu nas três primeiras revoluções, em que não se tinha
uma noção de para onde cada uma delas nos levaria, agora podemos pelo menos, se
não com precisão, vislumbrar que os impactos e transformações na sociedade do século
XXI serão enormes, talvez maiores que as anteriores. Daí a necessidade de
compreendermos que as transformações sociais e econômicas promovidas pela
Indústria 4.0, por adotar uma nova forma de produção de bens e serviços, serão
consideravelmente diferentes, e que num primeiro momento haverá uma redução
drástica da mão de obra, em especial daquela não qualificada, e talvez, em alguns casos,
a não utilização de mão de. obra.

A Quarta Revolução Industrial ainda está nos seus primórdios, mas a sua
influência na sociedade é muito profunda e abrangente. Esta nova combinação de várias
tecnologias está levando a mudanças de paradigmas sem precedentes na economia,
nos negócios, na sociedade, e no próprio individuo e sua relação com o mundo exterior.

57 Frente a essas colocações percebe-se que a “revolução” denota mudanças abrupta e radical. Contudo,
elas têm ocorrido quando novas tecnologias e formas de perceber o mundo desencadeiam alterações
profundas nas estruturas sociais e nos sistemas econômicos.
Mediante esse contexto é imperativo que se reflita sobre a condição humana em um mundo que parece
linear e a tecnologia se mostra em uma curva exponencial.
58 Schwab, A Quarta Revolução Industrial, 15.
24

Seu impacto é sistêmico, pois envolve a transformação de sistemas inteiros, através (e


dentro) de países, e o entusiasmo com os avanços tecnológicos poderá dar lugar às
preocupações de desordem social pela mudança drástica nas relações entre capitale
trabalho nas principais economias do mundo, mas como aconteceu nas revoluções
anteriores, percebe-se que em primeiro lugar haverá uma redução dos postos de
trabalho, mas a médio e longo prazo acredita-se que os novos processos e novas
tecnologias tragam também novos postos de trabalho cujas qualificações estejam
adequadas às novas metodologias.

Segundo Schwab:

O avanço científico, a comercialização e a difusão das inovações


são processos sociais que se desenrolam à medida que as
pessoas desenvolvem e trocam ideias, valores, interesses e
normas sociais em uma variedade de contextos. Isso torna difícil
discernir o impacto total dos novos sistemas tecnológicos à
sociedade: nossas sociedades são compostas por muitos
componentes interligados e muitas inovações que são de alguma
forma co-produzidas por eles. O grande desafio para a maioria das
sociedades será saber como absorver e acomodar a nova
modernidade e, ao mesmo tempo, abraçar os aspectos
gratificantes de nossos sistemas tradicionais de valores.59

Contudo, Brynjolfsson & McAfee defendem que, no meio de todas essas


possibilidades de evolução da sociedade e da economia, haverá grandes modificações
no que tange à transformação dos diversos tipos de profissões. Admitem que a
Revolução Industrial causará desequilíbrio entre capital e trabalho, gerando elevada
concentração de renda na proporção em que as máquinas substituírem as pessoas em
suas atribuições. Para eles também existe a hipótese destes trabalhadores migrarem
para área tecnológica, se apropriando do incremento de empregos garantidos. Esse
deslocamento pode diminuir o grande contingente de pessoas desempregadas devido à
disponibilização da tecnologia.60

59 Schwab, A Quarta Revolução Industrial, 93.


60 Brynjolfsson & McAfee, Segunda Era das Máquinas, 352.
25

Não há dúvidas que o avanço do conhecimento humano auxilia no


desenvolvimento de novos aparatos tecnológicos, alteram todo o modo de pensar e agir
dos players existentes na economia e induz a grandes alterações dos perfis profissionais
impostos pelo mercado.

Além disso, tem se tornado cada vez mais evidente o interesse por parte da
indústria em profissionais mais qualificados para lidar com novos desafios emergentes
no ambiente do trabalho, deixando clara a importância das instituições de ensino nesse
processo de transição do sistema industrial.

Segundo a Foundation for Young-Australians, para se preparar para as mudanças


da 4ª Revolução Industrial, o sistema educacional precisará dotar os jovens das
habilidades e capacidades necessárias na era dos novos trabalhos mais inteligentes. As
instituições de ensino precisam garantir que os jovens não apenas adquiram habilidades
básicas e técnicas, mas que sejam capazes de empregá-las de uma maneira cada vez
mais empreendedora.61

Esta é a nova realidade das indústrias do futuro. O que de fato necessita ser
entendido é que a mudança é necessária e fundamental, e que a quarta revolução
industrial, assim como todas as revoluções passadas (ver Figura 1), estabelece uma
ampla transição tecnológica ao meio produtivo de maneira que os diversos setores
passarão a vivenciar um novo ambiente de ruptura em que haverá a criação de novos
modelos de negócios com maior flexibilidade e qualidade.

Outro fator importante são os impactos sociais e econômicos da Quarta


Revolução Industrial que já estão sendo sentidos no mundo inteiro. As possibilidades
abertas pela tecnologia têm transformado a forma de produzir, de distribuir, de consumir
e de conviver.

61 Foundation for Young Australians (FYA), “The New Work Smarts,” 8.


26

Figura 1: Os Estágios da Revolução Industrial

Fonte: Freitas, “O que é Indústria 4.0”


27

CAPÌTULO 2
Tecnologias da Indústria 4.0
28

CAPÍTULO 2
TECNOLOGIAS DA INDÚSTRIA 4.0

As transformações e evoluções proporcionadas pelas inserções tecnológicas da


Indústria 4.0, nas operações e meios de produção, especialmente das grandes indústrias
globais, representam um novo marco histórico da sociedade.

Essa nova Era Industrial engloba tecnologias de ponta que objetivam flexibilizar a
produção e transformar sistemas produtivos simples em colaborativos, além de trazer
um conjunto de mudanças nas estratégias empresariais, em sua organização, modelos
de negócios, cadeia de suprimentos, processos, produtos e em suas relações com as
partes interessadas (stakeholders).

Dentre as diversas tecnologias que despontam com a Indústria 4.0 62 estão: a


Internet das Coisas (IOT- Internet Things), Big Data, Computação em Nuvem (Cloud
Computing), Robótica Avançada, a Inteligência Artificial, a Cyber-Physics Systems,
novos materiais e as novas tecnologias de manufatura aditiva (Impressão 3D), conforme
a Confederação Nacional da Indústria – CNI, detalhadas a seguir:

❖ Big Data: “refere-se a grandes quantidades de dados, que são armazenados


a cada instante, resultante da existência de milhões de sistemas atualmente
ligados à rede (IoT), produzindo dados em tempo real”63. Por meio da Big
Data as empresas têm a possibilidade de reduzir custos, melhorar produtos,
padronizar sistemas produtivos e aperfeiçoar máquinas.64
❖ Impressora 3D (Manufatura Aditiva): implica na produção de um objeto por
impressão, camada sobre camada, a partir de uma amostra em 3D. O
método é contrário da produção subtrativa, onde as camadas são extraídas
de um bloco de material até que a forma desejada seja obtida, por contraste,
a impressão 3D é aditiva, isto é, cria-se um objeto em três dimensões pelo
modelo digital, afirma Schwab65.

62 O Boston Consulting Group estabeleceu nove pilares que se caracterizam como blocos na construção
da Indústria 4.0, com potencial de beneficiar técnica e economicamente os envolvidos na indústria e na
sociedade em geral.
Schwab define como impulsionadores tecnológicos da Quarta Revolução Industrial (Schwab, A Quarta
Revolução Industrial, 23..
63 Coelho, “Rumo a Indústria 4.0,” 22.
64 Collabo, “A Indústria 4.0 e a Revolução Digital.”
65 Schwab, A Quarta Revolução Industrial, 148.
29

❖ Computação em Nuvem: “Ao invés de armazenar os dados nos


computadores ou em servidores locais, as informações são alocadas em
servidores remotos interligados com a infraestrutura da internet. Assim, o
acesso a esses arquivos pode ser feito de qualquer dispositivo que esteja
conectado com a web, a qualquer momento.66 Na Indústria 4.0 a computação
em nuvem é evidenciada por sua velocidade e capacidade de armazenar
dados e processos rápidos que atraem empresas a cofiarem em seus
sistemas oferecendo também economia nos hardwares da organização.67
❖ Robôs autônomos: os robôs na Indústria 4.0 não são uma novidade, mas o
que os destaca é a forma de trabalha independente, capacidade de
cooperação e inteligência, sem precisar de supervisão. Sua usabilidade
torna as indústrias mais competitivas, aumentam a produtividade, reduzem
mão-de-obra e custos operacionais.68
❖ Internet das Coisas (IoT): É um conceito que envolve a capacidade de
conexão digital de objetos físicos com a internet, formando uma rede de
dispositivos conectados, capaz de reunir e de transmitir dados.
❖ Cyber-Physics Systems (CPS) são sistemas que integram computação,
redes de comunicação, computadores embutidos69 e processos físicos
interagindo entre si e influenciando-se mutuamente. É tratado com um
sistema multidisciplinar complexo70 numa perspectiva integradora –
máquina; inteligência artificial; tecnologias baseadas na inteligência e auto-
organização.
❖ Cibersegurança: É um termo que denomina os procedimentos que objetivam
a segurança digital.
❖ Simulação: Simulação pode ser feita por meio de softwares específicos. Eles
captam os dados da produção e fazem análises de variáveis e de intervalos
de tempo. Juntos, os indicadores conseguem apontar onde estão os
gargalos da produção e o que poderia ser feito para solucioná-los. A

66 Collabo, “A Indústria 4.0 e a Revolução Digital,” 9.


67 Lavagnoli, “Indústria 4.0 – Evolução ou Revolução?”
68 Ibid.
69 O coração dos sistemas Cyber-Physical são os sistemas de computação embutidos (Embedded

Systems). Embedded Systems são sistemas de processamento de informação incluídos em outros


produtos ou equipamentos principais. As tarefas que até agora eram desempenhadas por computadores
dedicados apenas à escolha de informação proveniente da automação tradicional, estão a ser transferidas
para estes novos sistemas com dimensões e performance ajustada às novas necessidades.
70 Gunas et al., “A Survey on Concepts,” 136.
30

efetividade da simulação depende da quantidade e da qualidade dos dados


que alimentam os sistemas.
❖ Realidade Aumentada: Sistemas que suportam vários serviços desde a
operacionalização de processos e máquinas a distância, até o treinamento
de colaboradores, por meio de dispositivos de realidade aumentada e virtual.

Os pilares apresentados acima, indicam que a Indústria 4.0 tem o potencial de


impactar em todos os âmbitos da vida individual e coletiva. Essa ideia fica demonstrada
por Lavagnoli, que afirma que a sociedade, em vários setores, tem se alterado não só
pelas transformações trazidas pela nova era industrial, mas também pelas novas
maneiras de se utilizar a tecnologia, sendo que, dentre os setores, destaca-se o da
educação e o interesse em descobrir como esses pilares da Indústria 4.0 podem ser
aplicados em favor dela.71

Desse modo, uma diversidade de tecnologias está convergindo para o novo


paradigma industrial, envolvendo inteligência artificial, internet das coisas, computação
em nuvem, robótica avançada, manufatura aditiva (3D), entre outras. 72

Sobre essa questão, Coelho enfatiza que a Indústria 4.0 é um novo paradigma
que combina técnicas avançadas de produção operação com sistemas digitais
inteligentes. Com isso, é possível vermos empresas digitais não só interligadas e
autônomas mas com capacidade de se comunicar, analisar e usar dados para
impulsionar ações inteligentes adicionais de volta ao ambiente físico.73

Tais tecnologias causam uma ruptura com o atual modo de produção,


revolucionando todos os setores da economia e são qualitativamente suficientes para
expor uma quarta revolução industrial, que irá além das fábricas, além da produção de
bens de consumo, indo afetar a sociedade em todos os seus aspectos.

O desenvolvimento e incorporação de novas tecnologias muito mais inteligentes


vai moldar as indústrias nos próximos anos. Segundo Schwab:

Estamos a bordo de uma revolução tecnológica que transformará


fundamentalmente a forma como vivemos, trabalhamos e nos

71 Lavagnoli, “Indústria 4.0: Evolução ou Revolução?”


72 Kull, Mass Customization.
73 Coelho, “Ruma a Indústria 4.0,” .
31

relacionamos. Em sua escala, alcance e complexidade, a


transformação será diferente de qualquer coisa que o ser humano
tenha experimentado antes.74

Rubmann et al75 afirmam que algumas dessas tecnologias já são realidade para
várias indústrias. Entretanto, a tendência é que eles transformem a produção, agregando
aos fluxos produtivos automatizados as células de fabricação normalmente isoladas.
Com isso, há um aumento na eficiência e mudanças nas relações entre produtores,
fornecedores e clientes, assim como entre homens e máquinas, e eles devem também
debater sobre a necessidade de adaptar a infraestrutura e a educação adequadamente.

De acordo com Schwab & Davis, a Quarta Revolução Industrial terá “foco em
sistemas e não em tecnologias”76. O pensamento do pesquisador pode ser explicado
pelos sistemas norteadores da conectividade entre dispositivos inteligentes – claro que
as bases serão ainda as evoluções tecnológicas da Terceira Revolução Industrial. Porém
podemos entender que a característica principal da Quarta Revolução Industrial seja a
maximização da automação da indústria, agora provocada pela integração plena dos
dispositivos conectados pelos sensores inteligentes da IoT. A partir de agora o desafio
que se apresenta é entendermos melhor o funcionamento e as possibilidades que podem
oferecer os sistemas integrados para a comunicação entre os dispositivos e máquinas
via sensores inteligentes.

Ainda segundo Schwab & Davis:

... por meio da observação das tendências e conexões entre as


tecnologias emergentes para entender como elas se relacionam
umas com as outras e como impactarão nosso mundo de forma
cumulativa. Em um mundo em rápida mudança, é preciso cultivar
habilidades essenciais pois os avanços tecnológicos que nos
importam hoje serão ofuscados por desenvolvimentos ou
aplicações adicionais amanhã.77

74 Schwab, A Quarta Revolução Industrial, 11.


75 Rubmann et al., The Future of Productivity, 14.
76 Schwab & Davis, Aplicando a Quarta Revolução Industrial, 51.
77 Ibid., 52.
32

De acordo com Schwab, algumas tecnologias serão de grande importância para


a Indústria 4.0. Dentre as tecnologias citadas pelo pesquisador, a Impressão 3D,
conhecida por fabricação aditiva, para personalização dos produtos e fabricação
pessoal. A robótica avançada que estava até pouco tempo quase que restrita às
indústrias automotivas, porém hoje as aplicações estão se generalizando e já podem ser
observadas na agricultura, na medicina e em outras áreas.

O que se avista num curto espaço de tempo é a colaboração mais significativa


entre seres humanos e máquinas no cotidiano. Para Schwab:

Em breve, o rápido progresso da robótica irá transformar a


colaboração entre seres humanos e máquinas em uma realidade
cotidiana. Além disso, por causa de outros avanços tecnológicos,
os robôs estão se tornando mais adaptáveis e flexíveis, pois a
concepção estrutural e funcional deles passou a ser inspirada por
estruturas biológicas complexas (uma extensão de um processo
chamado biomimetismo, pelo qual imitam-se os padrões e as
estratégias da natureza). Os avanços dos sensores capacitam os
robôs a compreender e responder melhor ao seu ambiente e
empenhar-se em tarefas variadas; por exemplo, as tarefas
domésticas. Ao contrário do passado, quando eles precisavam ser
programados por uma unidade autônoma, os robôs podem agora
acessar informações remotas através da nuvem e assim se
conectar a uma rede de outros robôs. Quando a próxima geração
de robôs surgir, eles provavelmente irão ser o reflexo de uma
crescente ênfase na colaboração entre humanos e máquinas,78

Dombrowski & Wagner, afirmam que a Indústria 4.0 terá que permitir a
colaboração entre os sistemas ciber-físicos e os trabalhadores, oferecendo uma efetiva
realização de tarefas complexas e controle de processos e máquinas.79 O trabalho deixa
de se estruturar em torno de tarefas específicas e passa a contar com uma cooperação
interdisciplinar. As competências mudarão de capacidades específicas e relativas a um

78 Schwab, A Quarta Revolução Industrial, 25.


79 Dombrowsky & Wagner, “Mental Strain as Field of Action,” 102.
33

único processo, para capacidade de pensamento complexo, abstração e habilidade de


resolução de problema.

Novos materiais estão sendo criados e certamente revolucionarão os meios de


produção. Materiais mais fortes, finos e recicláveis. Materiais com memória e
autorreparação ou autolimpeza.80

A cada nova revolução, as empresas enfrentam dilemas na capacitação de seus


trabalhadores para operarem essas novas tecnologias81. Na Indústria 4.0, essa questão
ocorre de maneira ainda mais súbita, pois novas tecnologias são empregadas de modo
mais impetuoso.82

Os novos desenvolvimentos tecnológicos permitirão agregação de valor em várias


aplicações apoiado por diversos fatores. Os equipamentos (por ex. robôs) trabalharão
de forma colaborativa com os processos necessários para realização do produto. No
trabalho humano serão enfatizadas tarefas de programação e monitoramento de
equipamentos e produtos que se comunicam entre si.

2.1 IMPACTO DA INDÚSTRIA 4.0 NO TRABALHO

Os impactos que as novas tecnologias podem gerar sobre a força de trabalho do


século XXI têm precedentes e são de uma ordem de grandeza semelhantes às ocorridas
em outros momentos da história83. Essas mudanças não resultaram em desemprego em

80 Schwab, A Quarta Revolução Industrial..


81 Assim, a Indústria 4.0 não transforma somente os processos e produtos industriais, mas também as
competências das pessoas, que precisam se atualizar para trabalhar com novas tecnologias incluindo
integração de sistemas, inteligência artificial, nanotecnologia e novas formas de relacionar , assegurando
a propositura de soluções para alguns dos desafios que a sociedade enfrenta ultimamente em áreas como
saúde, mobilidade urbana e eficiência energética por meio de redes elétricas inteligentes (Kagermann,
“Chancen von Industrie 4.0 Nutzen.”).
82 Aires et al. “Indústria 4.0,” 5.
83 Temos exemplos do passado que mostram que com a introdução de novas técnicas e novas tecnologias

o mercado de trabalho precisou mudar, realocar ou até mesmo qualificar os trabalhadores. Antigamente
não era necessário ter qualificação para conseguir um emprego (primeira e segunda revolução industrial),
o trabalhador só precisava ser apto para exercer a função. Já na terceira revolução industrial o trabalhador
melhor qualificado tem vantagens sobre o que não possui qualificação. O trabalhador da Indústria 4.0
deverá ter o máximo de estudos adquiridos para poder entrar no mercado de trabalho, e necessitará estar
sempre se atualizando para que não fique defasado (Naudé, “Industrial Policy: Old and New Issues.”).
34

massa a longo prazo, porque foram acompanhadas da criação de novos tipos de


trabalho.84

Quando se analisa a relação entre novas tecnologias e trabalho, em princípio, a


primeira preocupação que surge é acerca da substituição do trabalho humano pelas
máquinas. Essa discussão remonta desde o surgimento das primeiras máquinas no
contexto da 1ª Revolução Industrial, porém se intensificou durante a Revolução Digital,
quando a automação dos processos produtivos passou a ser vista como uma ameaça
aos postos de trabalho

Um dos principais impactos será o surgimento de novos postos de trabalho e


profissões demandadas pelas novas tecnologias, principalmente aquelas que exigirão
habilidades comportamentais, como as relacionadas a comunicação, criatividade e
negociação, além de capacitação técnica no campo de ciências, tecnologia, engenharia
e matemática.

A nova revolução tecnológica traz características determinantes que a diferenciam


estruturalmente das revoluções anteriores85. A velocidade com a qual a transformação
está ocorrendo, o ciclo reduzido de intensidade das novas tecnologias, a quantidade de
tecnologias disruptivas ou amadurecendo simultaneamente e a diferente demanda de
qualificação para os trabalhadores- que privilegia algumas ocupações à medida que
exclui outras, são algumas das diferenças em relação ao passado.

As transformações tecnológicas que vêm ocorrendo atualmente e que projetam


avanços ainda mais significativos nas próximas décadas têm sido consideradas
suficientes para provocar uma profunda mudança de paradigma na sociedade, a partir
de seus impactos em termos da produção de novos produtos e serviços, sobre as
diferentes formas de organização no processo produtivo e, portanto, no processo de
extinção e criação de empregos e de formas de organização do trabalho, tanto nas
atividades da indústria, como nos serviços e também no setor primário (agricultura,
pecuária e extração mineral e vegetal).

84 McKinsey Global Institute.


85 A Indústria 4.0 é uma revolução aprofundada na digitalização a partir da combinação de tecnologias.
Neste novo modelo de indústria, a produção é baseada na interação automatizada entre o equipamento
físico, a máquina, e um sistema digital, com o objetivo de automatizar a produção, aumentando sua
eficiência.
35

Corroborando o exposto, Dorigati & Luz afirmam que os efeitos do avanço


tecnológico sobre o mercado de trabalho se manifestam em duas distintas fases. Em um
primeiro momento, a tecnologia tem um efeito destrutivo sobre os outros empregos.
Depois da ocorrência do efeito destrutivo, surge o efeito capitalizador. Esse efeito surge
devido a demanda por novos bens e serviços e resulta na criação de novos postos de
trabalho em vista do surgimento de novas profissões e empresas.86

Essas transformações têm sido caracterizadas por uma nova era de automação
associadas à conjunção de importantes mudanças87: nas redes internas das
organizações, na internet com os avanços da chamada “Internet das Coisas (IoT)”; à
capacidade de acumulação e processamento de dados pelos avanços dos
computadores (Big Data); ao desenvolvimento da Robótica e aos profundos avanços nas
capacidades dos robôs realizarem não somente atividades rotineiras – como no
passado, na substituição do trabalho rotineiro – mas também cognitivas; associadas aos
avanços na chamada “Inteligência Artificial”; a um processo de crescente digitalização
da economia.

Os requisitos do trabalho mudaram com a evolução dos sistemas de produção.


Em cada revolução industrial o perfil exigido foi-se modificando do trabalho manual para
o intelectual, fato este que exigiu uma maior preocupação das empresas com a formação
de seus trabalhadores.88

Durante as revoluções industriais anteriores, levaram-se décadas para entender


a necessidade de mão de obra qualificada e construir os sistemas de treinamento e as
instituições necessárias para desenvolver grandes conjuntos de habilidades que
permitissem atender a demanda reprimida de mão de obra. Considerando o ritmo e
escala de ruptura provocada pela Quarta Revolução Industrial, isso não será aceito pelo
mercado.

Sem ações direcionadas para gerenciar a transição de curto prazo e estabelecer


uma política para desenvolver a força de trabalho com habilidades futuras, os governos

86 Dorigati & Luz, “Três Cenários para a Relação entre Trabalho e Gênero.”
87 Segundo Gimenez & Santos (com base em pesquisa da McKinsey), “a adaptação da tecnologia
atualmente demonstrada tem potencial técnico para automatizar aproximadamente 50% das atividades de
trabalho atuais do mundo. Enquanto a data em que isso poderia acontecer seria em torno de 2055.”
(Gimenez & Santos, “Indústria 4.0,” 2, NdA nº 5).
88 Aires et al. “Indústria 4.0,” 7.
36

e a sociedade terão de lidar com o desemprego e desigualdade crescentes, e o mercado


com uma base de consumidores cada vez menor, estes são alguns dos esforços
necessários para aplacar os riscos promovidos pelas profundas mudanças em curso e ,
também, para potencializar s oportunidades apresentadas pela Quarta Revolução
Industrial.

O aumento da aplicação de tecnologias digitais ao processo de trabalho vai


requerer que os trabalhadores das áreas envolvidas pela automatização desenvolvam
competências que respondam aos requisitos impostos pelas áreas produtivas para
acompanharem os avanços tecnológicos.

A incorporação de profissionais, mais bem qualificados, nas empresas é


condicionante incontestável de alta importância para viabilizar a difusão de tecnologia e
a introdução de inovações tecnológicas.

No setor industrial, as tarefas de âmbito mais técnico serão progressivamente


transformadas em outras que exijam, por exemplo, capacidade cognitiva ou
conhecimento de funcionamento de sistemas. Neste sentido, o crescimento econômico
será influenciado pela capacidade de desenvolvimento de trabalhadores com as
competências exigíveis às novas circunstâncias de mercado.

Uma dimensão importante do avanço das novas tecnologias, dentre elas, da


Inteligência Artificial, da automação e da manufatura avançada é a transformação nas
relações entre emprego e educação. Em publicação especial o jornal The Economist
colocou em tela de juízo tal dimensão, mostrando que as mudanças tecnológicas exigirão
conexões mais fortes e mais contínuas entre educação e emprego,89

Muitos acreditam que a mudança tecnológica apenas reforça a necessidade de


mais educação formal. De fato, os trabalhos compostos de tarefas de rotina que são de
fácil automatização estão em declínio. Por outro lado, o número de empregos que exigem
maior habilidade cognitiva vem crescendo e deverá crescer nos próximos anos. O
mercado de trabalho estaria se transformando e aqueles com diplomas de ensino
superior ocuparão os empregos melhor qualificados.

Segundo Gehrke et al,

89 The Economist, “Lifelong Learning is Becoming an Economic Imperative.”


37

...a Indústria 4.0 promoverá impactos no mercado de trabalho


exigindo o desenvolvimento de novas competências, tais como:
competências funcionais; como resolução de problemas,
conhecimentos avançados em TI incluindo desenvolvimento e
programação, operação e controle de equipamentos e sistemas,
conhecimento estatístico e matemático, compreensão de
processos e atividades de manufatura.90

Como a Indústria 4.0 poderá atingir diversos segmentos e ramos de atividade, e


num período menor do que se esperava, deve-se preocupar com a educação, formação
e qualificação. Isso deverá fazer parte de um conjunto de políticas frente as enormes
transformações da Indústria 4.0, no sentido de orientar seus resultados.

Essa preocupação tem sido demonstrada em várias pesquisas que ressaltam a


importância de se repensar os sistemas de educação, treinamento e especialização, no
sentido de aumentar a capacitação e oferecer aos trabalhadores as novas habilidades e
exigências colocadas por essa nova onda de profundas transformações produtivas,
tecnológicas e organizacionais.91

Segundo o Word Economic Forum e Gehrke et al a Indústria 4.0 promoverá


impactos no mercado de trabalho exigindo o desenvolvimento de novas competências,
tais como: competências funcionais, como resolução de problemas, conhecimentos
avançados em TI, incluindo desenvolvimento e programação, operação e controle de
equipamentos e sistemas, conhecimento estatístico e matemático, compreensão de
processos e atividades de manufatura.92

Em relação as competências comportamentais, serão exigidas: flexibilidade,


criatividade, capacidade de julgar e tomar decisões, autogerenciamento de tempo,
inteligência emocional e mentalidade orientada para aprendizagem.

Por último, incluem-se as competências sociais como, habilidade em trabalhar em


equipe, comunicação, liderança, capacidade de transferir conhecimento, persuasão.
Vale ressaltar que muitas das competências listadas já são exigidas no mercado de

90 Gehrke et al., “Industry 4.0”.


91 Ver Wisskirchen et al., “Artificial Intelligence and Robotics”; International Labor Organization – ILO, O
Futuro do Trabalho; e McKinsey Global Institute – MGI, A Future that Works.
92 World Economic Forum, “The Future of Jobs”; e Gehrke et al., “Industry 4.0”.
38

trabalho, no entanto, baseado nas exigências do mercado de trabalho, os trabalhadores


que não possuírem tais competências colocarão em risco seus empregos.

Os governos, empresas e órgãos competentes, devem tomar decisões para que


o estímulo a adquirir novas competências seja imediato, visto que poderá haver falta de
mão de obra para trabalhos surgidos na Indústria 4.0.93

A revolução tecnológica irá mudar a forma dos setores econômicos, sociais e


culturais, a forma como os governos se relacionam com os seus cidadãos; como as
empresas se relacionam com seus empregados e clientes; ou como as superpotências
se relacionam com os países menores. A ruptura que a quarta revolução industrial
causará aos atuais modelos políticos, econômicos e sociais, exigirá que esses setores
estejam capacitados e que requeiram formas mais colaborativas de interação para que
possam prosperar.94

A Indústria 4.0 além de levar para as empresas inovação e ganhos significativos,


o seu impacto passa por uma forma muita mais complexa de inovação baseada na
combinação de múltiplas tecnologias, que fará as empresas repensarem a forma como
administram os seus negócios e processos, como os mesmos estão posicionados na
cadeia de valor, como pensam no desenvolvimento de novos produtos e os colocam
disponíveis no mercado para os clientes, ajustando as ações de marketing e de
distribuição.95

As tecnologias digitais oriundas da Industria 4.0 estão despertando uma nova


dinâmica industrial, o que tem impactado diversos cenários, como o mercado de trabalho
e consequentemente a necessidade de adaptação da formação profissional.

Em vista disso, quanto maior o nível de inteligência das fábricas, maior o impacto
com relação ao papel desempenhado pelos trabalhadores. Para tanto, além de
treinamento adequado, “o operador exigirá menos treinamento específico de máquina e
produto, mas precisará de recursos aprimorados para utilizar dispositivos digitais e
software e acessar repertório de conhecimento digital.96 Sendo assim, é necessário que

93 Benesova & Tupa, “Requirements for Education”.


94 Schwab, A Quarta Revolução Industrial, 35.
95 Coelho, “Rumo a Indústria 4.0.”
96 Lorenz et al., “Man and Machine in Undustry 4.0,” 15.
39

os trabalhadores adotem um perfil mais flexível para se adaptarem às mudanças no


ambiente de trabalho.

Diante disso, a compreensão que se tem é que os modelos de gestão e negócios


estarão para além dos limites físicos da empresa, exigindo dos trabalhadores o
desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes que permitam a atuação
dentro dessa nova configuração de trabalho. Considerando que, com as tecnologias
digitais é possível gerenciar operações de qualquer lugar e a qualquer momento, por
meio de dispositivos móveis apoiados por sistemas e recursos inteligentes.

Nessa conjuntura Lorenz et al corroboram com essa concepção ao afirmarem que:

As empresas precisam treinar novamente suas forças de trabalho,


renovar os modelos de organização e desenvolver abordagens
estratégicas para o recrutamento e planejamento da força de
trabalho. Enquanto os sistemas educacionais devem procurar
fornecer conjuntos de habilidades mais amplas e capacidades para
preencher a lacuna de habilidades em Tecnologia da Informação e
oferecer novos formatos para a educação continuada.97

Diante disso, considerando os princípios da Quarta Revolução Industrial, é


necessário romper as barreiras do conservadorismo e “abrir as portas” para a inovação,
de modo a aproveitar e absorver as tendências tecnológicas do ponto de vista da
capacidade que elas possuem de impactar o cenário produtivo global, bem como de
promover mudanças significativas na sociedade por meio da difusão do conhecimento,
principalmente dentro das instituições de ensino. Visto que, a mudança no panorama do
emprego implica de modo significativo as indústrias, empresas, sistemas educacionais e
governos.98

97 Ibid.
98 Ibid.
40

2.2 AS TECNOLOGIAS DIGITAIS E SEU PAPEL TRANSFORMADOR NAS AÇÕES DE


ENSINO E APRENDIZAGEM.

Nesta sociedade tecnológica, na qual vivemos em constante evolução, em que


cada vez mais, novas descobertas são implementadas no cotidiano das pessoas para
auxiliar as cadeias de produção de conhecimentos, pesquisa e educação, as tecnologias
são utilizadas frequentemente e os resultados obtidos através do seu uso são as mais
variáveis.

A base da tecnologia encontra-se no conhecimento, técnica e experiência e é por


meio deste conjunto que novas tecnologias são criadas e que aos poucos são
transformados os indivíduos e a sociedade, independentemente da utilização que se faça
dessa tecnologia.

A educação sozinha, não tem condições de atender a demanda da sociedade


atual sem se aliar às tecnologias e, nesse âmbito, a realidade do acesso às tecnologias
não soluciona os atuais desafios. É preciso saber aplicar as tecnologias no processo
ensino-aprendizagem para que sejam alcançados resultados que garantam a qualidade
do ensino.99

As novas tecnologias e a mediação do processo ensino-aprendizagem na escola


são um assunto que provoca uma série de reflexões e consequentes ações nas pessoas
envolvidas com a tarefa educativa, na tentativa de buscar caminhos que ampliem a
qualidade do ensino e da aprendizagem.

A isso, Moran enfatiza:

... diante dos avanços tecnológicos, nós estamos “reaprendendo a


conhecer, a comunicar-nos, a ensinar e a aprender; a integrar o
humano e o tecnológico; a integrar o individual, o coletivo e o
social.100

Dessa maneira, as novas tecnologias têm sido de fato as ferramentas de maior


importância para a aquisição de novas possibilidades de transformações políticas,
econômicas, sociais, culturais e educacionais.

99 Nunes, “Funções Pedagógicas dos Mapas Conceituais”.


100 Moran, Ensino e Aprendizagem Inovadores, 137.
41

As tecnologias oferecem uma facilidade no acesso às informações e maiores


possibilidades para a prática pedagógica, podendo causar grande impacto no processo
de ensino e aprendizagem.101

Sobre essa questão Polato, enfatiza que da união entre tecnologia e conteúdos
nascem oportunidades de ensino, entretanto é necessário analisar se essas
oportunidades são significativas, por exemplo, quando as tecnologias ajudam a enfrentar
desafios atuais, como encontrar informações na internet e se localizar em um mapa
virtual.102

Segundo Almeida, a utilização das tecnologias no processo educativo proporciona


novos ambientes de ensinar e aprender diferentes dos ambientes tradicionais, e as reais
contribuições das tecnologias para a educação surgem à medida que são utilizadas
como mediadoras para a construção do conhecimento.103

A isso, Passerino explica que:

As tecnologias aplicadas à educação devem ter como função


principal serem ferramentas intelectuais que permitam aos alunos
construir significados e representações próprias do mundo de
maneira individual e coletiva.104

Hoje, as tecnologias contribuem para um melhor processo de ensino-


aprendizagem, proporcionando novas formas de ensinar e aprender.

Kenski também aborda o surgimento de novas tecnologias, citando que:

... o conceito de novas tecnologias é variável e contextual, ou seja,


em muitos casos não é uma nova tecnologia que está surgindo,
mas sim uma inovação de uma tecnologia já existente. É muto
rápido o processo de desenvolvimento tecnológico atual, em que
fica difícil definir o que é um novo conhecimento, instrumento e

101 Silva & Cruz, “As Contribuições das Tecnologias de Informação e Comunicação”.
102 Polato, “Um Guia Sobre o Uso das Tecnologias.”
103 Maria Elizabeth B. Almeida, “Tecnologias Digitais na Educação”.
104 Passerino, “Informática na Educação Infantil,” 4.
42

procedimento ou o que é uma inovação de uma tecnologia já


existente.105

Ainda no campo do processo de ensino-aprendizagem, também é oportuno


considerar que existe um descompasso entre o ritmo das mudanças e a nossa
capacidade de desenvolver sistemas de aprendizagem, assim como de administração e
de segurança social, que ofereçam aos cidadãos a capacidade de amortecer tais
impactos. É sabido que as mudanças ocorrem de tal forma que quando nos
acostumamos com uma, outra surge.

Instituições de ensino superior devem adaptar os seus currículos e métodos de


ensino para reagir particularmente às mudanças demográficas, sociais e tecnológicas
que serão exigidas pelo novo mercado de trabalho.

Segundo Moran, associadas à modernização e vinculadas à técnicas de ensino,


as novas tecnologias foram consideradas soluções possíveis e rápidas para os
problemas da educação que seriam dificilmente solucionados por meio de expedientes
habituais.

A partir de mudanças na forma de ensinar e com a inserção de tecnologias nesse


processo de ensino, mudam-se também as formas de aprendizagem.

O principal objetivo106 do processo de ensino-aprendizagem por meio da


tecnologia é formar alunos mais ativos, de modo que o educador e a tecnologia se tornem
mediadores desse processo, devendo estar unificado para que a aprendizagem se torne
eficaz.

Por meio da utilização das tecnologias, a associação das práticas pedagógicas,


juntamente com o aprendizado, representa uma possibilidade a mais para os
professores, pois estimula o aprendizado, de modo que os participantes desse processo
passam a investigar as soluções para os problemas e para as situações em estudo.

Sobre essa questão, Rosales e Magalini enfatizam que o professor precisa


conhecer as tecnologias para utilizá-las na sua prática pedagóica. A tecnologia faz parte

105Kenski, Educação e Tecnologia, 25.


106Tal objetivo é justificado pelas grandes mudanças e transformações da sociedade e das necessidades
humanas, as quais requerem novas formas de acesso à informação para alunos e professores,
estimulando o processo de ensino-aprendizagem e a construção do conhecimento e demonstrando a
importância do uso das tecnologias para a educação.
43

também do dia-a-dia dos alunos, assim, a metodologia adotada pelo professor deve
contribuir para que este recurso seja incorporado a sua prática e permita resultados
positivos na aprendizagem, além de permitir que os alunos sintam-se mais motivados e
que expressem seus sentimentos, ideias e emoções.107

Dessa forma, o aprender não é mais um trabalho mecânico, mas sim um processo
de construção e transformação do conhecimento, no qual o papel do professor é de
fundamental importância como questionador, investigador e incentivador dessa
construção e transformação vigente na contemporaneidade.

A implantação dos recursos tecnológicos no âmbito escolar não se restringe


apenas a utilização de determinados equipamentos e produtos. Esse avanço tecnológico
e sua chegada e utilização no trabalho docente veio a contribuir na alteração de
comportamento. O aproveitamento desses recursos tecnológicos sem a devida
capacitação do docente para sua introdução na prática diária das escolas veio ocasionar
um choque cultural e uma resistência por parte dos docentes em sua aplicação,
ocorrendo assim, a antecipação da crise de identidade dos professores 108.

Contudo, as tecnologias usadas nas escolas devem ser educacionais,


comunicativas e informativas e não apenas alfabetizadoras na qual o indivíduo aprende
a linguagem básica. É preciso manifestar a preocupação em relação à maneira pela qual
vem sendo inserida nas instituições educacionais as novas tecnologias e como esta vem
sendo trabalhada.

A educação e o conhecimento são vitais para as empresas de forma a manter o


crescimento econômico e a sua sustentabilidade. Hoje, para muitas instituições de
ensino superior, é um enorme desafio não apenas oferecer um nível qualitativamente
alto de educação, mas até mesmo aumentá-la constantemente, já que, na última década,
os desenvolvimentos tornaram-se mais dinâmicos e numerosos.

107Rosales & Magalini, Planejamento, Execução e Avaliação de Projetos Educacionais.


108A renovação na prática docente pode ser constatada, não pelo uso puro e simples desses recursos
tecnológicos em seu cotidiano, mas, a partir do momento em que esses equipamentos modifiquem de
forma significativa o olhar do professor diante de sua prática, suas concepções de educação, seus modelos
de ensino-aprendizagem (Sacristàn, Compreender e Transformar o Ensino, 74).
44

2.3 TECNOLOGIAS DIGITAIS NA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA

A escola do Século XXI é desafiada a se reinventar para atender às novas


exigências de formação muito diferentes daquelas que eram necessárias na era
industrial. Segundo Mercado, passam a exigir novas habilidades e competências que
envolvem a formação crítica e criativa tendo em vista a autonomia, a comunicação, a
capacidade de pensar, de aprender a aprender, de trabalhar em grupo, de adaptar-se ao
novo, de resolver problemas e de responder rapidamente às mudanças contínuas. 109

Pensar no processo de ensino e aprendizagem em pleno século XXI sem o uso


constante dos diversos instrumentos tecnológicos é deixar de acompanhar a evolução
que está na essência da humanidade.

É inegável que as inovações tecnológicas surgem para melhorar a vida das


pessoas e, nesse sentido, de acordo com Ramos,

A tecnologia surge para facilitar a vida humana e seus afazeres, a


partir do século XVIII com a Revolução Industrial e a ascensão do
capitalismo às tecnologias desenvolvem-se em um ritmo
acelerado, até atingir aos dias contemporâneos onde vemos a
tecnologia muito mais avançada. Assim, a sociedade cada vez
mais se torna tecnológica, inclusive na educação que necessita de
especialização de suas ciências.110

No entanto, segundo Branco, mesmo diante de tantas mudanças tecnológicas, a


educação do Século XXI ainda está fundamentada na aula expositiva com um modelo
de ensino focado no professor e no conteúdo disponibilizado em textos impressos e,
aparentemente, muito pouco tem sido feito para mudar esse cenário.111

Segundo Santos & Almeida Filho, na educação do século XXI a universidade


deixará de ser o monopólio do conhecimento, devido às exigências de mercado e,
portanto, precisará sofrer transformações significativas em seus processos de
conhecimento, buscando um modelo pedagógico inovador, por meio do currículo inter-

109 Mercado, org., Novas Tecnologias na Educação.


110 Ramos, “O Uso de Tecnologias em Sala de Aula.” 5.
111 Branco, “Direito a Educação”.
45

multidisciplinar e da transferência de conhecimentos das universidades e instituições de


pesquisa de forma integrada e em rede.112

Por meio do desenvolvimento tecnológico que vem se apresentando na sociedade


contemporânea, faz-se necessário discutir sobre os benefícios do uso das ferramentas
tecnológicas na construção do conhecimento. As tecnologias digitais precisam ser
continuamente descobertas e redescobertas no concernente à sua aplicação para a
gestão do conhecimento. A sua aplicabilidade leva ao desenvolvimento de novos
modelos de gestão e relacionamento de modelos gerenciais que se transformam na
medida em que se efetivam, afetando com isso processos de gestão organizacional, num
contexto que envolve o mercado e a sociedade.

No campo educacional, a presença das tecnologias na sociedade por si só, já


justificam sua integração no campo da educação, sendo possível levar em consideração
que a maioria dos alunos já nascem imersos no mundo digital, e que também aprendem
em ambientes externos à escola, a exemplo do meio social e cultural em que vive fora
da escola.113

Também não se deve esquecer que às tecnologias, independentes se atuais ou


não, são condicionados princípios, prática educativa e organização que “impõem
profundas mudanças na maneira de organizar os conteúdos a serem ensinados, as
formas como serão trabalhadas e acessadas as fontes de informação, e os modos,
individuais e coletivos, como irão ocorrer as aprendizagens”114

Um dos desafios que a sociedade e as instituições de ensino encontram na


contemporaneidade é a falta de conhecimento e treinamento em mídias digitais de toda
comunidade acadêmica. Esse pode ser um dos fatores que têm contribuído para a não
utilização adequada das novas tecnologias disponíveis das atividades de ensino e
aprendizagem.

Segundo Castells:

O nosso mundo está em processo de transformação estrutural


desde a década de 1980 do século XX. Tal transformação é um

112 Santos & Almeida Filho, A Universidade no Século XXI.


113 Palfrey & Grasser, Nascidos na Era Digital,
114 Silva, “Sala de Aula Invertida,” 76.
46

processo multidimensional, mas está associado à emergência de


um novo paradigma tecnológico, baseado nas tecnologias de
comunicação e informação, que teve início nos anos de 1960 e que
se difundiram de forma desigual por todo o mundo.115

O avanço das novas tecnologias pode ser o motivo que favoreceu para que as
instituições de ensino e, em particular as formas de ensino-aprendizagem, não
acompanhassem a evolução e disponibilidade tecnológica.

2.4 IMPACTOS DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL: O USO


DE METODOLOGIAS ATIVAS

Marcada por transformações, a indústria mundial tem passado por revoluções ao


longo da história humana em um processo contínuo de atualização e inovação.

Em cada revolução industrial surgiu uma tecnologia especifica diferenciada e


destacada, e com esses adventos veio a necessidade de um profissional modificado
frente às novas tecnologias emergentes116, alterando assim o perfil desejado. Houve
também a necessidade de capacitar os indivíduos de forma eficaz, proporcionando de
maneira rápida a formação especializada de pessoas para atuar nas organizações.

A Quarta Revolução Industrial cria um cenário que propõem um novo processo de


profissionalização de pessoas, visando o desenvolvimento de habilidades e
competências alinhadas aos preceitos da economia digital.

As práticas educativas atualmente reproduzidas nas salas de aula, além de se


mostrarem incompatíveis com as habilidades exigidas pelo mercado de trabalho da
Indústria 4.0, não contemplam técnicas de aprendizagem colaborativa que envolvam
todos os perfis de aprendizagem.

Para Ulhôa et al., a escola contemporânea não pode mais ser vista como
transmissora de conteúdos, e sim, deve formar alunos capazes de pensar, refletir e

115Castells, org., Debate: A Sociedade em Rede, 17.


116A escola do século XXI precisa inovar e enriquecer o ambiente educacional, por isso, tornou-se urgente
romper o padrão educativo linear e pouco atrativo que desfavorece a criatividade e a diversidade em sala
de aula. É com esse ponto de vista que será tratado a importância das tecnologias emergentes, buscando
compreender se as novas tecnologias estão ou não a serviço da aprendizagem e das Metodologias Ativas
para potencializar as estratégias de ensino-aprendizagem.
47

propor soluções diante de questões atuais. Trabalho em equipe e cooperação deve ser
o foco dos educadores modernos, favorecendo a formação de indivíduos críticos e
participativos diante de novas demandas exigidas.117

Neste contexto, Demo relata:

Não é educativo reforçar” a imagem autoritária do professor,


indicada pelo púlpito de onde leciona, pelo auditório cativo obrigado
a escutá-lo, pelo poder discricionário que pode reprovar a quem
queira, pela diferença ostensiva entre alguém que só ensina e
outros que só aprendem.118

Ainda que seja muito discutida a importância de uma prática docente reflexiva,
que promova o pensamento crítico, parece que as metodologias utilizadas pelos
professores não conseguem, efetivamente, se articular neste sentido, pois, segundo
Freiberger & Berbel, a ênfase em “conteúdos que ‘precisam ser vencidos’ no decorrer
dos bimestres letivos, a busca prioritária pelos resultados e, em alguns casos pelas
notas, faz com que o professor acabe sendo um transmissor desses conteúdos”119 e
assim adotem metodologias mais mecânicas, como a cópia e a resolução de
questionários mais diretos, onde não há muito estimulo à discussão.

Segundo Mitre et al., a utilização de metodologias, por parte do professor, requer


capacidade de articulação para alcançar um sujeito ativo, capaz de transformar a si e
seu contexto, através de uma consciência crítica.120

Ainda segundo Wall, Prado & Carraro, as estratégias de ensino utilizadas devem
estimular a cooperação para o trabalho em equipe e a comunicação, considerando as
peculiaridades de cada aluno e respeitando seu tempo de aprendizagem. 121

Dentre as variadas estratégias que podem ser utilizadas para se conseguir


ambientes de aprendizagem realmente ativa em sala de aula, Barbosa & Moura citam
algumas destas:

117 Ulhôa, “A Formação do Aluno Pesquisador,” 1.


118 Demo, Educar pela Pesquisa, 20.
119 Freiberger & Berbel, “A Importância da Pesquisa,” 211.
120 Mitre et al., “Metodologias Ativas de Ensino-Aprendizagem”.
121 Wall, Prado, & Carraro, “A Experiência de Realizar um Estágio Docência,” 517.
48

Discussão de temas e tópicos de interesse profissional; Trabalho


em equipe com tarefas colaborativas; Estudo de casos em áreas
profissionais específicas; Debates sobre temas da atualidade;
Geração de ideias para solução de um problema; Uso de Mapas
mentais para aprofundar conceitos, ideias; Modelagem e simulação
de processos e sistemas; Criação de espaços virtuais para
aprendizagem coletiva; Questões de pesquisa na área científica e
tecnológica.122

Entretanto, para que as metodologias ativas123 possam, de fato, causar os efeitos


desejados, é necessário que os participantes do processo acreditem em suas
potencialidades e as compreendam, incluindo uma “boa dose de disponibilidade
intelectual e afetiva”, visto que são muitas as dificuldades no cotidiano escolar que
podem comprometer “ou mesmo impedir esse intento”.124

De acordo com Morán:

Metodologias Ativas são estratégias que dão ênfase ao papel


protagonista do aluno, ao seu desenvolvimento direto, participativo
e reflexivo em todas as etapas do processo, experimentando,
desenhando, criando, com a orientação do professor.125

Schwab afirma que “as instituições acadêmicas costumam ser consideradas como
um dos locais mais importantes para as ideias pioneiras”126.

No que se refere aos impactos causados nas profissões e ocupações, esse


cenário exige do indivíduo o emprego de competências e habilidades dificilmente
exploradas nos sistemas tradicionais.

Repercute-se que os sistemas técnicos, embora tecnologicamente avançados,


não suprirão, em sua completude, os conhecimentos, capacidades e habilidades

122 Barbosa & Moura, “Metodologias Ativas,” 112.


123 As metodologias ativas surgiram há muito tempo com o intuito de superar a aprendizagem passiva, cuja
única estratégia didática era a exposição oral de conteúdos feita pelo professor. Contrárias ao modelo
tradicional de educação as metodologias ativas trazem a ideia de um ambiente de aprendizagem que
busca a autonomia do aluno, estimulando-o a assumir um papel ativo e responsável com seu processo de
aprendizagem.
124 Berbel, “As Metodologias Ativas,” 37.
125 Morán, “Metodologias Ativas para uma Aprendizagem mais Profunda,” 4.
126 Schwab, A Quarta Revolução Industrial, 32.
49

humanas, sendo mais provável a valorização cada vez mais expressiva do trabalho
humano como parte fundamental do sistema de produção, tendo as tecnologias como
suporte para otimizar tais habilidades.127

O uso de novas tecnologias na formação profissional, através do ambiente


educacional, é defendido por inúmeros autores como uma oportunidade de colocar cada
dia mais o educando em contato com o mundo no qual está inserido. A esse respeito,
Kagermann, Wahlster & Helbig acrescentam:

Considerando a ampla possibilidade de aplicações na Indústria 4.0,


faz-se necessária a aproximação entre as indústrias e instituições
de ensino, objetivando, por meio de uma interlocução contínua,
assegurar adequados níveis de treinamento, formação e
qualificação profissional, atendendo às demandas da economia
digital.128

Em outras palavras: aos trabalhadores das empresas modernas impõem-se


capacidade de abstração, raciocínio crítico e presteza de intervenção, isto é, capacidade
para ler, interpretar e decidir com base em dados formalizados e fornecidos pelas
máquinas, além de qualidades sócios-motivacionais, de personalidade e caráter, que
garantam o bom relacionamento com os colegas das equipes de trabalho.

As tecnologias da informação e as novas técnicas gerenciais estão exigindo,


portanto, um trabalhador que seja capaz de efetivar conhecimentos, ou seja, capaz de
utilizá-los corretamente na solução de problemas do dia a dia do trabalho e no processo
de tomada de decisões que hoje devem ser rápidas, devido à compressão espaço-tempo
provocada pela informatização.

Do ponto de vista de Valente, as metodologias ativas “constituem alternativas


pedagógicas que colocam o foco do processo de ensino e de aprendizagem no aprendiz,
envolvendo-o na aprendizagem por descoberta, investigação ou resolução de
problemas”. Para o autor, tal proposta contrapõe a abordagem tradicional, exige uma

127 Bruno, “A Quarta Revolução Industrial do Setor Têxtil.”


128 Kagermann, Wahlster, & Helbig, Recommendations for Implementing the Strategic.
50

nova postura do professor, uma prática pedagógica que se volte para as demandas do
educando e para a realidade permanente.129

As metodologias ativas são pontos de partida para avançar para processos mais
avançados de reflexão, de integração cognitiva, de generalização e de reelaboração de
novas práticas.

As metodologias de aprendizagem ativas aliadas aos recursos tecnológicos,


tornam-se uma alternativa considerável para a preparação dos profissionais para o
mercado do trabalho. Essas metodologias abrangem métodos de ensino-aprendizagem,
cujo ambiente de aprendizagem proporciona ao aluno o desenvolvimento de uma visão
crítica, analítica e reflexiva acerca da realidade, onde a construção de conhecimento
ocorre de maneira contextualizada, tendo em vista a interação entre o aluno e o objeto
estudado.130

Nas metodologias ativas de aprendizagem, o aprendizado se dá a partir de


problemas e situações reais; os mesmos que os alunos vivenciarão depois na vida
profissional, de forma antecipada, durante o curso.

As metodologias ativas têm como objetivo a atuação do aluno frente a sua própria
conquista de aprendizagem. Esta pode favorecer o aluno em diversos aspectos, dando-
lhe características excepcionais não só para sua vida profissional, como também
pessoal. Estas podem ser aplicadas a partir de diferentes métodos, contudo, seguem o
mesmo perfil onde o professor torna-se tutor e o aluno ator principal das atividades
propostas.131

Morán também destaca a ação ativa do aluno na aprendizagem, um engajamento


ao processo de aprendizagem. Além disso, colocando o professor como mediador e
centralizando o aluno, torna-se uma estratégia do docente ao fazer uso dessa
metodologia. Há destaque para três metodologias ativas: Aprendizagem Baseada em
Problemas (PBL), Aprendizagem Baseada em Projetos (PBP) e Sala de Aula Invertida.

Portanto, para cada qualidade que o professor busca identificar no aluno, temos
metodologias que melhor desenvolvem essas qualidades, conforme menciona Moran:

129 Valente, “A Sala de Aula Invertida.”


130 Barbosa & Moura, “Metodologias Ativas de Aprendizagem.”
131 Borges & Alencar, “Metodologias Ativas na Promoção da Formação Crítica.”
51

As metodologias precisam acompanhar os objetivos pretendidos.


Se queremos que os alunos sejam proativos, precisamos adotar
metodologias em que os alunos se envolvam em atividades cada
vez mais complexas, em que tenham que tomar decisões e avaliar
os resultados, com apoio de materiais relevantes. Se queremos
que sejam criativos, eles precisam experimentar inúmeras novas
possibilidades de mostrar sua iniciativa,132

Um desafio para o ensino, diante das transformações que ocorrem na sociedade,


é tornar o processo de ensino-aprendizagem mais atrativo, o que pode ser contornado
por meio da imersão em metodologias criativas e inovadoras, onde o aluno tenha uma
participação ativa na produção dos saberes.133

Paralelamente aos avanços da ciência e das tecnologias nos últimos anos, as


metodologias ativas representam a valorização do pensamento crítico-reflexivo e da
participação transformadora na sociedade. Para tanto, as novas tecnologias passaram a
ser reconhecidas como importantes ferramentas que podem facilitar e potencializar esse
processo. O acesso aos equipamentos, aos dispositivos, aos aplicativos e às fontes de
informação tornou-se fundamental no sentido de não serem aprofundadas as diferenças
entre os estudantes em função de suas distintas inserções sociais.

Dado o esposto, segundo Oliveira & Mussi, “as metodologias ativas proporcionam
formar espaços de aprendizagem, nos quais, o conhecimento é construído coletivamente
através da personalização dos processos de ensino e aprendizagem”. 134

Desta forma é preciso reconhecer que as escolas contemporâneas necessitam


ser inovadoras, com base em metodologias, recursos e tecnologias educacionais, que
também demandam investimentos na infraestrutura escolar, adequados ao contexto da
educação do século XXI.

132 Morán, “Mudando a Educação, 17.


133 Siqueira et al., “Aprendizagem Baseada em Problemas.”
134 Oliveira & Mussi, “A Arquitetura no Processo de Ensino e Aprendizagem,” 56999.
52

Levando todas as reflexões levantadas neste e no capítulo anterior, passaremos


a abordar, nos próximos capítulos, como as transformações promovidas pela Indústria
4.0 manifestam-se numa situação concreta de ensino.
53

CAPÌTULO 3
O Surgimento da Companhia de Jesus
54

CAPÍTULO 3
A ORGANIZAÇÃO EM ESTUDO: FEI/SBC (ESAN/SBC)

O Centro Universitário FEI preocupa-se com princípios para a formação de um


indivíduo tecnicamente apto e completo enquanto ser humano, pautado pelos ideais de
fé e justiça, de modo a transformar de maneira técnica, cientifica e humanizada não
apenas o seu entorno, mas, na proporção da influência de seus egressos em diferentes
pontos de atuação, no mercado de trabalho.

Antes de partilhar minha experiência pedagógica vivida na FEI, irei discorrer sobre
a Companhia de Jesus e a pedagogia inaciana.

3.1 O SURGIMENTO DA COMPANHIA DE JESUS

A Companhia de Jesus – Ordem Religiosa constituída por 26.000 jesuítas


espalhados por todo o mundo – teve como fundador Santo Inácio de Loyola que recebeu
no batismo o nome de Iñigo de Oñaz y Loyola.

Inácio de Loyola nasceu, provavelmente, em 1491 no Castelo de Loyola na


província basca de Guipuzcoa, ao norte da Espanha.

Fidalgo, de espírito juvenil, dedicou-se a carreira militar. Combateu em diversas


campanhas como oficial, sob a bandeira de Carlos V.

Em 1521 foi ferido na perna numa batalha em Pamplona contra os franceses.


Durante o período de convalescença, após dolorosas intervenções cirúrgicas, dedicou-
se à leitura de dois únicos livros disponíveis na casa: um sobre a Vida dos Santos, e
outro sobre a Vida de Cristo. Sentiu-se profundamente atraído pela dedicação a Cristo.

Enquanto lia, notou que, quando pensava em seu passado e em projetos de


cavaleiro, sentia uma felicidade passageira seguida por um mal-estar – desolação. Por
outro lado, quando pensava em imitar os santos e suas realizações, sentia um
contentamento pleno, uma grande felicidade – consolação.

Em 1522, dez meses após a derrota de Pamplona, Inácio, ainda convalescente,


saiu do aconchego da casa para o mundo e iniciou uma nova vida.
55

Decidido a imitar Jesus, como um estranho peregrino, partiu para Jerusalém. Sua
primeira parada foi na abadia de Montserrat, onde se consagrou como servidor de Jesus.
Deixou a espada e o punhal diante do altar de Nossa Senhora de Montserrat, trocou suas
roupas de fidalgo pelas de um mendigo, ficou toda a noite em vigília e seguiu
mendigando seu sustento, passando quase todo o seu tempo em oração.

“Aprendeu a responder na liberdade ao amor de Deus. (...) A resposta livre de


Inácio ao amor de Deus tomou a forma de um serviço cheio de amor (...) Porque uma
resposta de amor ao amor de Deus, nunca podia ser suficiente; a lógica do amor exigia
uma resposta que fosse sempre mais – magis”135.

Voltando à Europa, já com 34 anos de idade, Inácio ingressou na Universidade de


Paris, chegando a obter o título de Mestre em artes que era o título maior da Faculdade
de Filosofia. Seu grande objetivo era aperfeiçoar seus conhecimentos e melhor exercer
seu apostolado.

Durante os anos de estudo, entusiasmados com seu projeto de vida, outros


companheiros foram se juntando a Inácio. Começou então a dar palestras espirituais e
a atrair pessoas.

Em Paris, por volta de 1534, um grupo de amigos de Inácio juntou-se a ele com a
intenção de fundar a Companhia de Jesus. O primeiro dos companheiros era Pedro
Fabro, depois vieram Simão Rodrigues, Francisco Xavier, Diogo Laínez, Afonso
Salmerón e Nicolau Afonso.

Os seis jovens liderados por Inácio formaram um grupo bem unido de “amigos no
Senhor”.

Conforme afirmou Peters, em palestra proferida no II Congresso ISJACHEM –


International Jesuit Association of Chemistry and Chemical Engineering Universites and
Schools, em São Bernardo do Campo, 1999,“Santo Inácio contagiou, com seu ideal, um
grupo de seus mais brilhantes colegas, que foram juntos a Roma pôr-se à disposição do
papa para trabalhar onde a Igreja mais necessitasse”.

135 Características da Educação da Companhia de Jesus, 56.


56

Os jovens sempre tomavam a decisão de participar deste grupo depois de


passarem pela experiência com os Exercícios Espirituais, sob a orientação de Inácio.

Mais tarde, estes exercícios vieram compor um opúsculo que se tornou um marco
na história da espiritualidade cristã.

Esse pequeno volume, que se intitula Exercícios Espirituais, é uma


série de instruções práticas sobre métodos de oração e exames de
consciência, orientadas a conduzir a uma decisão imparcial, e
planificadas numa variedade de meditações e contemplações: tudo
encaminhado a ajudar o exercitante a descobrir a vontade de Deus
a seu respeito, e a pô-la vigorosamente em prática.136

Em Montmartre, durante uma solenidade da Assunção de Nossa Senhora, em 15


de agosto de 1534, lançaram-se as bases do que havia de ser esta Ordem religiosa.

Mais três companheiros passaram a fazer parte do grupo de jovens: Cláudio Jayo,
João Codure e Pascásio Broet.

Todos vestiam o comprido fato típico dos estudantes parisienses,


já muito gasto. Para facilitar a caminhada, apertavam-no e erguiam-
no com um cinto. Um chapéu de abas largas cobria-lhes a cabeça.
Levavam um rosário no pescoço, carregavam a Bíblia, o breviário,
livros e escritos pessoais em uma bolsa de couro a tiracolo e na
mão um alto bordão de peregrino.137

Preocupados em saber o que responderiam a quem lhes perguntasse quem eram,


a decisão foi unânime em responderem que eram a companhia de Jesus.

O nome de companhia não tinha nenhuma conotação militar. Aplicava-se tanto a


associações religiosas quanto culturais. Deste modo, surgiu o nome Companhia de
Jesus, embora Inácio e seus companheiros não tivessem ainda decidido fundar uma
nova Ordem religiosa.

A origem da Ordem dos jesuítas não se baseia em nenhuma


estratégia humana ou projeto político de poder: sua base, ou

136 Bangert, História da Companhia de Jesus, 18.


137 Dalmases, Inácio de Loyola, 131.
57

melhor, seu ponto germinativo é algo puramente místico. Foi a


iluminação que Deus concedeu a Santo Inácio de Loyola, um dia
em que orava as margens do rio Cardoner. Então Deus lhe revelou
o sentido e a finalidade do universo e da história.138

Inácio vivenciou vários momentos de transcendência, também na capela de La


Storta, distante 16,5 quilômetros de Roma. Estas experiências por ele vividas tiveram
grande significado tanto para sua vida espiritual quanto para a vida da Companhia.

Em suas reflexões Inácio dizia:

... parecia ver Cristo com a cruz às costas, e junto d’Ele o Eterno
Pai que lhe dizia: “Quero que tomes este por meu servidor”. E assim
Jesus o tomava e dizia: “Quero que tu Nos sirvas.139

Em consequência das comunicações místicas que lhe foram transmitidas, e da


aprovação formal nas deliberações dos companheiros tidas em Roma, de março a junho
de 1539, a Companhia acabou por receber sua confirmação definitiva.

Todavia, para que a Ordem religiosa se consolidasse era indispensável que


fossem estabelecidas as linhas mestras da instituição, incluindo-se nelas as regras de
conduta. Deste modo, cada qual que quisesse abraçar a carreira, deveria antes ponderar
muito bem se realmente sentia forças para tal.

Em maio e junho concretizaram-se algumas das linhas gerais da


nova ordem religiosa. Aos três habituais votos de pobreza,
castidade e obediência acrescentar-se-á um quarto de especial
obediência ao Papa, obrigando-se o religioso a ir para qualquer
parte do mundo para onde o Sumo Pontífice o enviar. Ensinará a
doutrina cristã às crianças. Antes de terminar o ano de provação
empregará três meses em Exercícios Espirituais, a peregrinar e em
serviços nos hospitais. O superior geral da Companhia eleger-se-á
para toda a vida. Este poderá admitir noviços, e despedi-los, no
caso de se mostrarem inaptos para a Companhia, ouvindo,
contudo, o parecer dos consultores. A companhia poderá aceitar

138 Peters, “Palestra proferida no II Congresso ISJACHEM.”


139 Dalmases, Inácio de Loyola, 140.
58

igrejas ou casas, mas não exercerá o direito de propriedade sobre


elas.140

Em 3 de setembro de 1539, a Companhia de Jesus recebeu a aprovação verbal


do Papa Paulo III.

Em 27 de setembro de 1540, no Palácio de São Marcos, Inácio assinou a Bula da


fundação da Companhia de Jesus, que consistia em um conjunto de atividades
estruturadas e um programa de vida. A principal atividade pretendida era a de ensinar a
doutrina cristã às crianças, aos simples e aos rudes. Neste ideal está a descoberta da
importância da educação e sua prática pedagógica.

Inácio faleceu na manhã de 31 de julho de 1556, sem ter podido elaborar o


documento pedagógico complementar prometido. Os jesuítas dedicaram-se logo a essa
tarefa, elaborando diversas versões prévias da “Ratio Studiorum” que foram largamente
distribuídas para comentários e correções. Os intercâmbios resultaram finalmente em
sua publicação no dia 8 de janeiro de 1599.

Na sua forma final a Ratio Studiorum ou Plano de Estudos para os


colégios jesuítas, é um manual para ajudar professores e
administradores (...) contém uma série de regras ou diretrizes
básicas que tratam de assuntos como a direção geral do colégio,
(...) os métodos de ensino.141

A Ratio Studiorum implicou em grande expansão e enriquecimento do sistema


educacional jesuíta durante mais de duzentos anos.

Em 1773 a Companhia de Jesus foi suprimida por uma Bula Pontifícia, destruindo
uma rede de 845 instituições educacionais espalhadas por toda a Europa, as Américas,
Ásia, e África. A supressão só não teve efeito na Rússia, permanecendo lá alguns poucos
colégios.

Em 1814 o Papa Pio VII restaurou a Companhia, alegando que sua decisão era
para que a Igreja pudesse contar novamente com os benefícios de sua experiência
educativa.

140 Dalmases, Inácio de Loyola, 154.


141 Características da Educação da Companhia de Jesus, 64.
59

Retomado o trabalho educativo, em 1832 foi publicada uma nova versão da Ratio
Studiorum.

3.2 A MISSÃO DA COMPANHIA DE JESUS NO MUNDO DE HOJE

Cerca de três mil jesuítas trabalham atualmente em quase


duzentas instituições de ensino superior da Companhia que afetam
a vida de mais de meio milhão de estudantes. Outros exercem essa
missão em outras universidades. A ação apostólica de uns e outros
não só influi na vida dos estudantes, mas vai além do meio
universitário imediato. Reconhecemos que as universidades
continuam a ser instituições de importância crucial na sociedade.
(...) por meio delas realizam-se importantes debates sobre a ética,
as futuras orientações da economia e da política, e o sentido da
existência humana que molda nossa cultura...142

A Companhia de Jesus, em seus quase 500 anos de existência, realizou 34


Congregações Gerais, tendo como finalidade principal a eleição do Padre Geral:

É a instância máxima de governo da Ordem dos Jesuítas composta


pelos superiores provinciais e por outros jesuítas eleitos
proporcionalmente por províncias (circunscrições regionais) para
elegerem o superior geral, em substituição ao falecido ou tratarem
de assuntos referentes à vida e à missão dos seus membros.143

A Companhia de Jesus, instituída principalmente para a defesa e propagação da


fé, atua em três dimensões:

1ª. Promoção da justiça como princípio inseparável do serviço da fé;

2ª. Diálogo com a cultura;

3ª. Diálogo com as outras tradições religiosas.

Estas dimensões se encontram explicitadas em três decretos distintos:

142 Congregação Geral XXXIV, Jesuítas e Leigos, 112.


143 Klein, Atualidade da Pedagogia Jesuítica, 93.
60

❖ Decreto n.3, “Nossa missão e a justiça”

Existe aqui uma forte preocupação pelos “direitos humanos”; a crescente tomada
de consciência da interdependência de todos os povos; a importância do respeito pela
“vida humana”, pelo “meio ambiente” e o desenvolvimento de uma “comunidade de
solidariedade”.

❖ Decreto n.4, “Nossa missão e a cultura”

Este decreto está fundamentado na ruptura existente entre o Evangelho e a


cultura. O Papa Paulo VI chamou este fenômeno de “o drama de nossa época”. Isto
decorre do fato de que, na medida em que a religião se desliga dos elementos da cultura
vigente, torna-se ininteligível para as pessoas. Cabe, portanto, aos jesuítas, levar o
Evangelho para pessoas de diferentes culturas, por meio do diálogo e da interação
social. Desse modo, torna-se necessário fazer com que a relação entre culturas
tradicionais e modernidade crítica se converta em verdadeiro diálogo intercultural.

O termo cultura deve aqui ser compreendido em seu sentido mais profundo e
global.

Cultura significa a maneira pela qual um grupo de pessoas vive,


pensa, sente, se organiza, celebra e compartilha a vida. Em toda
cultura existe um sistema de valores, de significados e de
interpretação do mundo que se expressa sob a forma de
linguagem, gestos, símbolos, ritos e estilos de vida.

Neste sentido a cultura constitui uma das dimensões mais


profundas e arrebatadoras da realidade humana.

A realidade da cultura é uma dimensão social que envolve a todos


desde o nascimento, e que de alguma maneira nos transforma em
pessoas sociais. Ela tem três níveis fundamentais:

O nível mais externo é o mais visível e se expressa nas estruturas


e instituições da sociedade, sejam políticas, sociais, econômicas
ou culturais. Este nível mais externo é o que aparece nos
periódicos e noticiários quando falamos dos sindicatos, dos
partidos, dos exércitos, das universidades, da renda per capita, do
61

fundo monetário e dos bancos. Todas estas instituições pertencem


também à cultura de um povo.

Porém, debaixo deste nível mais externo existe um outro, também


visível, que é a dimensão dos costumes, expressões artísticas e
simbólicas, ritos festivos, celebrações e outras características de
um povo. Este segundo nível pertence a uma dimensão cultural da
realidade que também atinge a todos indistintamente.

Finalmente, existe um terceiro nível que é a dimensão mais


profunda e que dá sustentação às outras duas: é o sistema de
valores, as maneiras de sentir que caracterizam uma sociedade,
suas convicções últimas que dão sentido a sua existência. É a
“consciência coletiva” de um povo, que embora sendo coletiva e
recebida, é entendida como própria e como objeto de livre opção.
Por isso, esta dimensão cultural é a que “legitima” todas as outras
dimensões humanas, pois é considerada “própria” e não imposta.144

❖ Decreto n°. 5, “Nossa missão e o diálogo inter-religioso”.

Os jesuítas devem superar preconceitos e mal-entendidos históricos e cooperar


para a paz, a justiça, a harmonia e os direitos humanos. Para a Companhia, o serviço da
fé e a promoção da justiça devem integrar o diálogo inter-religioso, sendo necessário
para isso revitalizar o diálogo ecumênico.

3.3 A EDUCAÇÃO SUPERIOR JESUÍTA

A Companhia de Jesus, desde a sua fundação, esteve sempre preocupada com


a educação voltada para o desenvolvimento integral da pessoa humana, caracterizada
pelo “Paradigma Pedagógico Inaciano”.

Conforme afirma Peters,

tentou-se fazer uma “dedução transcendental” do método dos


Exercícios para a metodologia educacional dos colégios jesuítas,

144 Menéndes, “Relações Homem/Natureza.”


62

passando por cima da experiência de três séculos de educação


jesuíta e da Ratio Studiorum, que expõe o método utilizado. Mesmo
assim, o esquema pode ser aproveitado e, devidamente
transposto, aplicado às Escolas superiores jesuítas.145

O Paradigma Pedagógico Inaciano é constituído de três momentos: experiência,


reflexão e ação.

❖ Experiência – Consiste em levar o estudante a aprofundar-se no meio


cultural em que atua. Este aprofundamento inclui empatia, vivência,
identificação, até mesmo emocional, com o referido ambiente. Esta
experiência pode ser comparada ao que os antropólogos chamam de
endoculturação.

Por este processo não só se consegue toda a adaptação à vida


social, como também todas aquelas satisfações, que, embora
fazendo, naturalmente, parte da experiência social, derivam mais
da expressão individual do que da associação com outros no grupo.
Cada ser humano atravessa um processo de endoculturação, pois
sem as adaptações que implica não poderia viver como membro da
sociedade. Pode-se comparar à situação mais acabada de
adaptação, que os psicólogos chamam homeostasis.146

❖ Reflexão – Consiste em ensinar o aluno a pensar.

Quanto mais refletir sobre sua realidade, sobre sua situação


concreta, mais emerge, plenamente consciente, comprometido,
pronto a intervir na realidade para mudá-la.

Uma educação que procura desenvolver a tomada de consciência


e a atitude crítica, graças à qual o homem escolhe e decide, liberta-
o em lugar de submetê-lo, de domesticá-lo, de adaptá-lo...147

145 Peters, “Tecnologia, Ética e Educação.”


146 Herskovits, Antropologia Cultural, 56.
147 Freire, Conscientização, 35.
63

❖ Ação – Consiste em conhecer bem a realidade para nela atuar. A ação deve
se estender por duas vertentes: do mundo físico, por meio das técnicas e da
tecnologia; do mundo sociocultural, por meio do combate aos falsos valores,
às ideias estereotipadas, à luta pela justiça, pela solidariedade e pela paz.

Esta orientação pedagógica encontra-se referendada nos seguintes documentos:


“Ratio Studiorum: um método pedagógico dos jesuítas” (1986), “Características da
Educação dos Jesuítas” (1987) e “Pedagogia Inaciana, uma proposta prática” (1996) e
se ajusta perfeitamente às peculiaridades de cada realidade, o que justifica o fato de a
Companhia de Jesus encontrar-se disseminada por todo o planeta.

Atualmente, a Companhia conta com 56 universidades distribuídas pelos cinco


continentes em mais de vinte países. Nelas estudam meio milhão de jovens sem
distinção de raças, credos e ideologias.

3.4 A COMPANHIA DE JESUS NO BRASIL

Os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil em 1549, destacando-se entre eles


Manoel da Nóbrega e José de Anchieta. Iniciaram com afinco o trabalho missionário,
irradiaram a catequese com intensa atividade, fundaram igrejas e colégios,
desenvolveram a vida humana com qualidade, palmilharam o Brasil.

Em 1553 foi criada a primeira província brasileira.

Atualmente a Companhia conta com quatro províncias assim distribuídas:


64

❖ Província do Brasil Centro Leste

Abrange os estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Goiás e


Tocantins.

Nela encontramos as seguintes instituições de ensino superior:

PUC/RJ - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Faculdade São Luís (São Paulo, SP).

FEI - Faculdade de Engenharia Industrial (São Bernardo do Campo, SP).

ESAN/SBC - Escola Superior de Administração de Negócios de São Bernardo do


Campo (São Bernardo do Campo, SP).

FCI – Faculdade de Informática (São Bernardo do Campo, SP).

ESAN/SP - Escola Superior de Administração de Negócios de São Paulo (São


Paulo, SP).

(As quatro últimas mantidas pela Fundação de Ciências Aplicadas).

❖ Província do Brasil Meridional

Abrange os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso.

Nela o ensino superior jesuíta está representado pela UNISINOS - Universidade


Católica do Vale dos Sinos (São Leopoldo, RGS).

❖ Província do Brasil Setentrional

Abrange os estados de Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco,


Alagoas e Sergipe.

Nela as instituições de ensino superior encontram-se representadas pela UNICAP


– Universidade Católica de Pernambuco (Recife, PE).
65

❖ Província da Bahia

Abrange os estados da Bahia, Piauí, Maranhão, Pará, Amapá, Roraima, Acre,


Amazonas e Espírito Santo.

Com base em informações obtidas no Catalogus Provinciarum Brasiliae Societatis


Jesu, de 1999, podemos concluir que encontramos nas várias províncias brasileiras
pouco mais de 800 jesuítas distribuídos conforme mostra a tabela a seguir:

Tabela 1: Distribuição dos Jesuítas pelas Províncias Brasileiras

Províncias Padres Estudantes Irmãos Total

BR. CENTRO-LESTE 170 42 44 256

BR. MERIDIONAL 185 56 93 334

BR. SETENTRIONAL 38 49 21 108

BAHIA 72 32 15 121

Total 465 179 173 819

Fonte: Catalogus Provinciarum Brasiliae Societatis Jesu.

Segundo Mac Dowell,

A valorização da vocação apostólica dos leigos, segundo as


orientações do Concílio, veio também obviar o problema resultante
da redução numérica dos jesuítas nas quatro províncias, fenômeno
generalizado na Igreja do Brasil e em grande parte do mundo nos
últimos decênios. De fato, depois de chegar a mais de 1250
membros, por volta de 1967, dos quais quase a metade (560)
pertencia à província do Brasil Meridional, a Companhia no Brasil
conta hoje com 819 membros (...) Essa diminuição e o consequente
envelhecimento de seus quadros não afetou, porém, seu
66

dinamismo apostólico. Ao contrário, ele vem ampliando o leque de


sua ação em consonância com o crescimento populacional.148

3.5 O FUNDADOR E SUA OBRA

Um estudo sobre uma Instituição Educacional não pode deixar de explorar a figura
de seu fundador, que neste caso, além de ser dotado de espírito empreendedor, exerce
forte influência sobre a cultura da organização. Este conhecimento é de fundamental
importância para a compreensão da cultura organizacional e seus valores. A
personalidade do fundador imprime sua marca na instituição, deixando-a como legado
às gerações seguintes.

Padre Roberto Sabóia de Medeiros, descendente de família aristocrata, nasceu


em 18 de maio de 1905, na cidade do Rio de Janeiro, e faleceu no dia de Santo Inácio,
quando acabava de celebrar a missa de inauguração da capela que dedicara ao Santo
Patriarca, em 31 de julho de 1955.

Grande parte de sua vida esteve vinculada à questão social, com especial
relevância nos problemas dos trabalhadores. Homem de temperamento expansivo e
dinâmico não conseguia fazer nada com morosidade. Não suportando mediocridade,
vivia numa angústia ininterrupta, carregando como lema:

“QUOD DEEST ME TORQUET – O QUE FALTA ME ATORMENTA”.

Entrou para a Companhia de Jesus em 1921, no Seminário Menor de Vila Mariana


em São Paulo.

De 1927 a 1929 cursou Filosofia na Faculdade Nossa Senhora Medianeira, em


Nova Friburgo, Rio de Janeiro, voltando logo em seguida para São Paulo, onde iniciou
sua atuação como professor no Colégio São Luís.

De 1934 a 1939 cursou Teologia em San Miguel, na Argentina, retornando


posteriormente para dirigir o Colégio São Luís.

Em 1941 acrescentou a esta sua atividade a de diretor das Faculdades Católicas


do Rio de Janeiro. Foi neste mesmo ano que ele fundou a ESAN – Escola Superior de

148 Mac Dowell, “Companhia de Jesus,” 14-15.


67

Administração de Negócios, com o nome de PANDIÁ CALÓGERAS, tendo como objetivo


formar gerentes, diretores e administradores. Esta obra foi pioneira no Brasil e foi criada
nos moldes da “Graduate School of Bussiness Administration” da Universidade de
Harvard.

Fiel à sua filosofia: ”a indústria devia manter a formação dos profissionais de que
ela necessitava”, iniciou a luta pelas doações.

Com a “Campanha do Continho” conseguiu convencer aproximadamente 4.000


pessoas de empresas e famílias abastadas para contribuir com suas obras.

Em 1944 fez a primeira de uma série de viagens aos Estados Unidos com a
finalidade de conhecer a organização, os currículos e os métodos utilizados pelas
Universidades americanas, além de angariar subvenções e equipamentos para suas
escolas, instituições e seu novo empreendimento: FEI – Faculdade de Engenharia
Industrial.

Todavia, pôde perceber que as organizações norte-americanas só subsidiavam


empreendimentos que pertencessem a fundações. Deste modo, foi criada a Fundação
de Ciências Aplicadas com a finalidade de manter instituições voltadas ao campo
educacional.

Para melhor propagar suas obras montou em Washington, D.C., uma exposição
com o material doado, principalmente os equipamentos conseguidos para a Clínica
Santo Inácio, onde oferecia serviços médicos e odontológicos para operários e pessoas
carentes.

Reuniu-se com banqueiros e pessoas famosas como Henry Ford e Nelson


Rockfeller, obtendo assim ajuda substancial para concluir seus projetos.

3.6 A ESAN E A FUNDAÇÃO DE CIÊNCIAS APLICADAS

Este trabalho pretende enfocar apenas a ESAN/SBC e a partir do estudo deste


“segmento” procuramos resgatar alguns valores que permeiam a cultura desta instituição
de ensino.Dentre todas as instituições de ensino e institutos mantidos pela Fundação de
Ciências Aplicadas, a Escola Superior de Administração de Negócios foi a primeira a ser
68

criada. Em 1941, Padre Sabóia estava na coordenação de um movimento, denominado


por ele - “Ação Social”, cujo objetivo primordial era o de dar assistência social, médica e
educacional à população carente e sem atendimento dos poderes públicos. Isto fez com
que ele buscasse auxílio financeiro no empresariado paulista, dando-lhe a oportunidade
de perceber a falta de profissionais com formação para suprir os quadros dirigentes da
indústria e do comércio.

Como empreendedor e visionário que era, Sabóia resolveu criar, em 1941, a


ESAN que passou a funcionar na Rua São Joaquim, 180, no bairro da Liberdade, na
cidade de São Paulo.

O curso de administração, pioneiro no Brasil durava apenas dois anos, com um


terceiro ano de especialização. Destinado aos altos funcionários do comércio e da
indústria, o curso tinha como objetivo aperfeiçoar os conhecimentos de seus alunos, abrir
novos horizontes e, mediante o ensino das verdades religiosas, formar profissionais com
elevados valores morais. Eram aceitos alunos com ou sem curso secundário.

Em 27 de outubro de 1959, Padre José Gomes Bueno, pleiteou, no antigo


Ministério de Educação e Cultura, o reconhecimento do curso de Administração de
Negócios como de Utilidade Pública. Seu pedido foi acolhido favoravelmente e, em 4 de
abril de 1960, era aprovado o parecer 141/60 da Comissão de Ensino Superior, que
concedia à ESAN o título de Utilidade Pública e, ao mesmo tempo, dava andamento aos
trâmites legais visando ao reconhecimento oficial da Escola.

Finalmente, em 28 de janeiro de 1961, o então Presidente da República Juscelino


Kubitschek de Oliveira assinou o Decreto n° 50.164, que tornou a ESAN a primeira escola
de administração do país reconhecida e oficializada pelos poderes públicos. O mesmo
decreto reconheceu também a validade dos diplomas dos alunos formados a partir de
1941 que tivessem ou viessem a ter curso secundário completo.

Deste modo, podemos perceber que a ESAN enfrentou sérias dificuldades no


início de seu funcionamento até obter seu reconhecimento pelo Ministério de Educação.

Depois da construção da FEI - Faculdade de Engenharia Industrial em São


Bernardo do Campo, foi criada em 1965, uma extensão da ESAN/SP, visando ao
atendimento das necessidades geradas pela industrialização que começava a se
expandir na região do ABC.
69

Inicialmente ela passou a funcionar no “morro” como era chamado o local onde
funcionava a ETI – Escola Técnica Industrial, situada na Avenida Pereira Barreto no
centro da cidade de São Bernardo do Campo. Este pavilhão foi cedido a pedido do então
prefeito Lauro Gomes.

A Ação Social “Padre Sabóia de Medeiros” solicitou autorização para o


funcionamento da ESAN/SBC pelo Processo n° 1597/70 – C.F.E., o qual foi colocado em
diligência. Na época do pedido de autorização, a ESAN/SBC pertencia à Ação Social
“Padre Sabóia de Medeiros”, que foi criada em 18 de janeiro de 1944, como sociedade
civil sem fins lucrativos, com sede na cidade de São Paulo.

Tendo sido cumprida integralmente a diligência, a ESAN/SBC teve autorizado seu


funcionamento pelo Parecer n°219/72, CESu, em 7 de março de 1972.

O então presidente da Fundação de Ciências Aplicadas, Padre Aldemar Moreira,


submeteu à apreciação do Conselho Federal de Educação o pedido de reconhecimento
do curso de Administração da ESAN/SBC, tendo ele sido autorizado pelo Decreto n°
70.863 de 7 de junho de 1972, como consequência da aprovação do Parecer n° 219/72,
com 180 vagas anuais.

Em 16 de abril de 1974, o Conselho de Curadores da Fundação de Ciências


Aplicadas aprovou a transferência da ESAN/SBC para esta Fundação, desde que
houvesse a aprovação do Conselho Federal de Educação. – A aprovação foi concedida
pelo Parecer n°1.838/75 Conselho Federal de Educação.

Todavia, a ESAN/SBC obteve seu reconhecimento em 18 de agosto de 1976, pelo


Decreto-Federal n° 78.258.

A ESAN/SBC tem, hoje, seu “Projeto Pedagógico” assinalando as seguintes


características:
70

Identidade

Todas as culturas, subculturas, grupos ou segmentos lutam afirmando sua


identidade. Para que cada grupo humano “seja aquilo que realmente é”, é necessário a
preocupação com sua autenticidade, o que exige uma indagação sobre sua natureza,
sua missão e objetivos pretendidos.

Deste modo, como instituição educacional jesuíta, a ESAN tem em sua cultura os
seguintes valores que lhe dão um caráter distintivo: FORMAÇÃO HUMANA INTEGRAL,
“CURA PERSONALIS” COMO MÉTODO, O “MAGIS” COMO BUSCA DA MELHOR
QUALIDADE e EDUCAÇÃO PARA A PROMOÇÃO DA JUSTIÇA.

Missão

“Nortear os alunos não só pela ânsia de instruí-los para o presente, mas também
educá-los para o futuro”.

Perfil Profissiográfico

“O profissional formado pela ESAN/SBC deve ser capaz de empreender e


administrar empresas com iniciativa e criatividade, dentro das mais sofisticadas técnicas
de gestão. Como empreendedor deve possuir visão sistêmica e estratégica dos
negócios, além de capacidade crítica e analítica, antecipando e promovendo
transformações nas organizações”.

Deve trabalhar dentro dos mais altos princípios de honestidade, de moral e de


ética que o identifiquem como pessoa íntegra e solidária, agente de liderança que com
a marca do Humanismo contribui com suas decisões para melhorar a situação social,
política e econômica da sociedade, preservando sempre o selo de sua qualificação –
Esaniano”.

Objetivos Educacionais

a) Desenvolver o raciocínio lógico, crítico e analítico, visando equacionar e


solucionar problemas de gestão empresarial.

b) Dar condições ao aluno de promover mudanças planejadas que levem a


empresa a um constante processo de modernização.
71

c) Encorajar os estudantes a trabalhar no seu nível mais elevado de eficiência e


eficácia, buscando, através da educação continuada, o aprimoramento
constante de seu desempenho profissional.

d) Fomentar a iniciativa e a criatividade para enfrentar os desafios do mercado.

e) Desenvolver sensibilidade e flexibilidade comportamental para lidar com as


pessoas internas e externas à organização.

f) Desenvolver a capacidade de verbalização, de argumentação e de


retroinformação para superar as barreiras interpessoais à comunicação.

g) Preparar o profissional para o trabalho em equipe, exercer liderança e tomar


decisões.

h) Levar o aluno a desenvolver visão sistêmica e estratégica, capacitando-o a


analisar a reciprocidade de influências existentes entre as organizações e o
ambiente externo, a fim de possibilitar o acompanhamento do processo de
globalização das sociedades atuais.

i) Levar o aluno a cultivar valores de responsabilidade social, justiça e ética


profissional.

A ESAN/SBC concede, por um ano, Bolsa de Estudo integral ao aluno classificado


com a maior média no Processo Seletivo e aos alunos classificados na 1ª, 2ª e 3ª séries
com a maior média de aproveitamento, desde que cursem todas as disciplinas da série.

Desenvolvendo pesquisas de iniciação científica, oferece ao aluno a oportunidade


de praticar métodos modernos de administração e gestão empresarial.

As linhas de ação da Escola incluem uma avaliação contínua das metas,


programas, serviços e métodos pedagógicos num esforço para dar ao ensino uma maior
eficácia na consecução de seus objetivos.

Instituições Complementares
72

Fazem parte da ESAN/SBC o IECAT – Instituto de Especialização em Ciências


Administrativas e Tecnológicas e o CIEP – Centro Integrado de Estudos e Pesquisas.

O IECAT mantém cursos de pós-graduação lato sensu e de especialização e


conta atualmente com aproximadamente 200 alunos. Os cursos de pós-graduação lato
sensu são os seguintes: Administração de Empresas para Engenheiros, Gestão de
Recursos Humanos, Controladoria, Gestão de Comércio Exterior, Marketing,
Administração de Produção e Gestão Empresarial. Para cada um dos cursos existe um
Coordenador, responsável pelo seu funcionamento.

O CIEP, órgão que conta com o trabalho de dois professores e quatro estagiários,
visa principalmente promover a extensão do ensino voltado à pesquisa e tem como
proposta de trabalho superar os limites da formação acadêmica. Desenvolvendo
atividades relacionadas com empresas de pequeno e médio porte da economia formal e
informal da região, tem como objetivos:

❖ fomentar a formação de profissionais com espírito empreendedor;


❖ favorecer a investigação da realidade empresarial;
❖ incentivar os vínculos entre a Escola e as empresas mediante prestação de
serviços, por meio de programas de suprimento, extensão e consultoria;
❖ desenvolver, em conjunto com a Pastoral Universitária, projetos sociais que
visam atender as necessidades de comunidades carentes.

Todas essas atividades são coordenadas pela diretoria da FEI/SBC.

3.7 CULTURA ORGANIZACIONAL

O estudo da cultura não é uma prerrogativa das Ciências Sociais ou


especificamente da Antropologia.

Compreender e alterar as organizações são preocupações permanentes na vida


humana.

Da mesma forma que a Antropologia considera de fundamental importância


conhecer a cultura de um povo para compreender as relações interpessoais, a estrutura
e a organização de uma sociedade, a Administração refere-se a ela como um aspecto
73

de grande relevância quando se quer conhecer os aspectos “invisíveis” da organização,


isto é, estudar seu ambiente interno ou mesmo seu ambiente externo. Assim, enfatizando
o grau de abrangência no fenômeno cultura, afirma Oliveira:

“A cultura organizacional é composta de padrões prevalentes, de


valores, crenças, sentimentos, atitudes, normas, interações,
tecnologia, métodos e procedimentos de execução de atividades e
suas influências sobre as pessoas (...) Inclui-se ainda na cultura
organizacional a estrutura informal, ou seja, todo o sistema de
relações informais, com seus sentimentos, ações e interações,
grupos de pressão, valores e normas grupais.149

A cultura organizacional é uma das áreas mais controvertidas do mundo


acadêmico. Isto decorre do fato deste conceito ser empregado de diferentes maneiras,
não havendo consenso entre os estudiosos para estabelecer seus limites e fronteiras.
Entretanto, as definições que se referem à cultura como um conjunto de valores e
crenças compartilhadas pelos seus membros, parecem ser atualmente as mais
aceitas.150

Desta forma, devemos explicitar mais amplamente o conceito proposto por Schein
que tem sido utilizado como um referencial teórico e metodológico na maioria das
pesquisas sobre cultura organizacional.

... cultura organizacional é o conjunto de pressupostos básicos


(basic assumptions) que um grupo inventou, descobriu ou
desenvolveu ao aprender como lidar com os problemas de
adaptação externa e integração interna e que funcionaram bem o
suficiente para serem considerados válidos e ensinados a novos
membros como a forma correta de perceber, pensar e sentir, em
relação a esses problemas.151

A cultura de uma organização pode ser aprendida em vários níveis segundo este
autor:

149 Oliveira, Excelência na Administração Estratégica, 159.


150 Santos, “Impacto da Cultura Organizacional,” 18.
151 Schein, Psicologia Organizacional.
74

❖ Nível de artefatos visíveis: o ambiente construído da organização,


arquitetura, layout, a maneira de as pessoas se vestirem, padrões de
comportamento visíveis, documentos públicos: cartas, mapas. Este nível de
análise segundo SCHEIN, é muito enganador porque os dados são fáceis de
obter e difíceis de interpretar. É possível descrever como um grupo constrói
o seu ambiente e quais são os padrões discerníveis entre os seus membros,
mas frequentemente não se consegue compreender a lógica subjacente ao
comportamento do grupo;
❖ Nível dos valores que governam o comportamento das pessoas. Como estes
são difíceis de observar diretamente para identificá-los, é preciso entrevistar
os membros-chave de uma organização ou realizar a análise de conteúdo
de documentos formais da organização. Entretanto diz o autor que ao
identificar esses valores, observa-se que eles representam apenas os
valores manifestos da cultura. Isto é, eles expressam o que as pessoas
reportam ser a razão do seu comportamento, o que na maioria das vezes
são idealizações ou racionalizações. As razões subjacentes ao seu
comportamento permanecem, entretanto, escondidas ou inconscientes;
❖ Nível dos pressupostos inconscientes: são aqueles pressupostos que
determinam como os membros do grupo percebem, pensam e sentem. Na
medida em que certos valores compartilhados pelo grupo conduzem a
determinados comportamentos e esses comportamentos se mostram
adequados para solucionar problemas, o valor é gradualmente transformado
em pressuposto inconsciente, sobre como as coisas realmente são. Na
medida em que um pressuposto vai se tornando cada vez mais taken for
granted, vai passando para o nível do inconsciente”.152

As organizações não existem isoladamente. Estão sempre situadas no interior de


uma sociedade, sofrendo reciprocidade de muitas formas de influências. Em todas as
áreas da vida social e na vida de quase todos os indivíduos ocorrem, em algum sentido,
influências acarretadas pela cultura trazida pelas organizações, e na vida das
organizações, influências acarretadas pela cultura trazida pelos indivíduos da vida em
sociedade.

152 Fleury & Fischer, Cultura e Poder, 20.


75

CAPÌTULO 4
A Identidade Inaciana
76

CAPÍTULO 4
A IDENTIDADE INACIANA

4.1 A PEDAGOGIA INACIANA NUM NOVO AMBIENTE DE APRENDIZAGEM

Nas últimas décadas do século XX as organizações começaram a passar, cada


vez mais intensamente, por mutações impostas pelo avanço tecnológico e pela
competitividade de mercado.

Assim, a resposta aos novos desafios não requer apenas um novo método para
pensar sobre o problema, mas também exige novas competências e culturas gerenciais
capazes de traduzir o pensamento em ação. Para isto, ela pode beneficiar-se do
conhecimento resultante de inúmeras pesquisas realizadas na área das Ciências do
Comportamento, que quando aplicado na administração provoca fortes mudanças na
forma de perceber a organização.

A compreensão e a valorização do comportamento humano fazem com que as


organizações’ não mais sejam vistas, conforme explica Morgan153 em sua metáfora da
máquina, como um conjunto integrado de partes que se ajustam, no qual nada falta, nada
sobra e a fonte de energia que a faz funcionar é interpretada como um comando
unidirecional; tudo funciona plenamente. Nesta organização a disciplina e a
subordinação do interesse individual ao interesse geral são garantidas pelo controle
cerrado, exercido sobre as pessoas e suas atividades.

A moderna visão administrativa, na qual se enfatiza o processo participativo,


passa a valorizar não somente os dirigentes de “primeira linha”, mas também todo o
corpo funcional da organização como seres humanos capazes de uma ação
compartilhada e não apenas como recursos humanos disponíveis.

Valorizar as pessoas significa compreender a organização como um sistema


social que tem duas faces: a formal e a informal.

A face informal das organizações, criada pela própria iniciativa de seus membros,
não pode ser excluída nem tampouco ignorada. Desvendá-la é um dos grandes objetivos
do enfoque comportamental da administração moderna.

153 Morgan, Imagens da Organização.


77

As pessoas nas organizações não são peças de máquinas como estabeleceu o


modelo taylorista-fordista ou seres estritamente racionais como identificamos na teoria
burocrática elaborada por Weber154. Elas também apresentam sentimentos de amizade,
cooperação, hostilidade e competição. Todos estes sentimentos se manifestam sob a
forma de comportamento, podendo ajudar ou atrapalhar os objetivos organizacionais.

As pessoas como membros da organização informal desenvolvem maneiras


subjetivas de perceber a organização formal, que podem ser traduzidas em satisfação
ou insatisfação com o ambiente de trabalho, refletindo, obviamente, em seu desempenho
profissional.

Uma vez que valores organizacionais também fazem parte deste conjunto de
variáveis e considerando-se que as instituições que perduram no tempo estão
equacionadas por valores, entendemos que eles também devem ser compartilhados por
todos, a fim de que possam auxiliar na formação de um ambiente social satisfatório e
adequado para o bem-estar comum.

O objetivo central é verificar se o corpo docente tem internalizado os valores que


permeiam a cultura da instituição de ensino. O grau de internalização poderá oferecer
pistas para melhor compreender o comportamento das pessoas, constituindo-se em
elemento estratégico para a administração.

Embora as condições de trabalho em uma instituição de ensino sejam totalmente


diferentes daquelas existentes no mundo empresarial, tomamos o Centro Universitário
da FEI de São Bernardo do Campo, uma instituição confessional que tem na sua cultura
organizacional valores que, apesar de serem originários do início do século XVI, ainda
permanecem vivos na Pós-Modernidade.

Mantida pela Fundação Educacional Padre Saboia de Medeiros e em consonância


com as diretrizes da Companhia de Jesus, à qual ela se encontra afiliada, tem como
propósito a formação de seu alunado comprometida com a justiça social e a ética
pessoal, social e profissional. Para tanto, busca desenvolver uma prática pedagógica
que contemple a inspiração deixada por Santo Inácio de Loyola, como comentado acima.

154 Ver Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.


78

Com esta orientação as escolas evidenciam que, para atingir gradualmente sua
maturidade, trabalham sempre comprometidas e co-responsabilizadas pela preservação
e manifestação dos valores transpostos dos ensinamentos de Santo Inácio, conhecidos
como valores inacianos.

É natural que embora salvaguardando as peculiaridades de cada região e a


consequente individualidade da cultura organizacional de cada uma de suas escolas, a
Companhia de Jesus concentra continuamente seus esforços na padronização de alguns
de seus principais valores educacionais.

Deste modo, as características fundamentais da Ordem dos Jesuítas encontram-


se permeando a cultura organizacional da FEI/SBC, consolidando sua vocação como
escola jesuíta e reforçando assim sua identidade.

Há uma grande confusão entre identidade e cultura. O fato de as


empresas, no Brasil ou em qualquer outro lugar, perceberem-se
diferentes não implica na existência de uma cultura diferente. A
identidade é o conjunto de elementos que, numa determinada
circunstância e momento histórico, um determinado grupo escolhe
para se autodefinir ou representar.155

Enquanto cultura implica em definições diferentes para um mesmo sistema de


símbolos e significados, não podendo ser entendidos como políticas e procedimentos
administrativos, identidade é a melhor forma que o grupo encontra para se fazer
representar, levando assim sua tradição em contraponto a de outros grupos.

E continua a autora em epígrafe:

Cultura não é algo que se produz no interior de uma empresa ou


se carrega para dentro dela. É um sistema de símbolos e
significados de domínio público, no contexto do qual as tarefas e
práticas administrativas podem ser descritas de forma inteligível
para as pessoas que dela participam ou não. Do ponto de vista
mais pragmático pode ser entendida como as regras de
interpretação da realidade, que necessariamente não são

155 Barbosa, “Cultura Administrativa,” 10.


79

interpretadas univocamente por todos de forma a


permanentemente estarem associados seja a homogeneidade ou
ao consenso...156

Deste modo, em termos ideais, consideramos que a cultura deva ser internalizada
por todas as pessoas, a fim de que elas tenham comportamentos manifestos que
confirmem os padrões esperados. Acreditamos que o principal elemento desta relação
seja a identificação das pessoas com os valores organizacionais.

A norma da liberdade acadêmica permite ao professor autonomia no exercício do


magistério, até mesmo pelo fato de a atividade docente envolver criatividade, ter
características fortes de interação, oferecendo possibilidades de respostas imediatas a
partir das reações dos alunos.

Esta liberdade pode ser aferida na medida em que as mais importantes decisões,
neste tipo de organização, sejam tomadas pelos órgãos colegiados, ou seja, por um
conjunto de professores que tem representatividade acadêmica.

Assim, percebe-se que as pressões para reduzir a variabilidade e a instabilidade


das ações humanas, colocando-as em padrões uniformes e dignos de confiança de um
sistema social, têm como meio de controle social as metas, expectativas e os valores
compartilhados pela comunidade acadêmica.

Segundo Katz & Kahn, quando as pessoas têm em comum certas metas e
expectativas mútuas sobre como devem agir para a consecução dos objetivos
organizacionais, as pressões de controle tendem a ser mais resultantes destas
expectativas e valores compartilhados do que de normas impostas pela organização.157
Deste modo, podemos afirmar que a atividade cooperativa engendrada tem sua origem
baseada mais nos valores compartilhados do que nas exigências imperativas de uma
tarefa objetiva.

Sob esta ótica, convém notar que quando se trata de instituição educacional na
qual a jornada de trabalho dos professores é relativamente insignificante por causa do
reduzido número de horas aula, podemos nos defrontar com uma situação um pouco
diferente. Muitos professores poderão não compartilhar dos valores organizacionais, por

156 Ibid., 16.


157 Katz & Kahn, Psicologia Social das Organizações, 52.
80

não se sentirem envolvidos com a escola na qual ministram suas aulas. Deste modo,
pertencendo a várias organizações, até mesmo não educacionais, criam muitos grupos
de referência e passam a ter sistemas próprios de valor.158

Pesquisas recentes revelam que os valores humanos, em geral, são estruturados


com base nas metas perseguidas pelos indivíduos.159

Na verdade, se o indivíduo não estiver comprometido com a organização,


provavelmente suas metas também estarão fora dela.

Este conjunto de fatores tem estimulado alguns estudiosos nos últimos anos, tais
como Buchanan, e Cook & Wall,a desvendar este enigma.160

As metas, como também os valores defendidos por uma organização, têm sido
predominantemente apontadas pelos pesquisadores como elementos do sistema
capazes de suscitar em seus empregados atitudes favoráveis ou desfavoráveis frente a
ela.161

Quando as pessoas têm em comum, metas, expectativas e maneiras de agir para


a consecução dos objetivos organizacionais, as pressões de controle deixam de ser
conscientes para serem resultantes de valores compartilhados. As exigências formais e
burocráticas são menos capazes de gerar atividades cooperativas do que os valores
compartilhados.

Por outro lado, na medida em que as metas perseguidas pelos indivíduos são
divergentes ou até mesmo opostas entre si, ou ainda, na medida em que as metas
individuais são conflitantes com as metas organizacionais, passa a predominar um
ambiente de competição ou de oposição.

Desse modo, podemos ressaltar a importância dos valores organizacionais como


elementos capazes de influenciar as atitudes das pessoas frente ao trabalho.

Cabe, portanto, ao administrador compreender esta situação para gerenciá-la,


promovendo trabalhos cooperativos e consensualizados onde sejam colocadas com

158 Ibid., 145.


159 Tamayo, “Valores Organizacionais,” 58.
160 Ver Buchanan, “Building Organizational Commitment”; e Cook & Wall, “New Work Attitude Measures of

Trust”.
161 Siqueira, “Antecedentes de Comportamento de Cidadania Organizacional,” 169.
81

objetividade, as metas, os valores e as normas, enfim as expectativas comportamentais


da organização, para que se promova um processo de socialização capaz de motivar os
indivíduos à internalização destes elementos formadores da cultura.

É importante ressaltar que esta abordagem comportamental no campo das teorias


e da prática administrativa é recente. O que tem predominado historicamente no mundo
organizacional é o modelo taylorista-fordista, no qual o destaque é para a organização
formal e para um sistema administrativo autocrático.

Não se pode negar que o mesmo acontecia no sistema educacional. Os dirigentes


de escolas não se preocupavam com estes modernos aspectos organizacionais. Poucas
eram as escolas que, no passado, tinham suas metas, valores e normas explicitados
formalmente em um Plano Institucional ou em um Projeto Pedagógico.

Todavia, a intensidade e a rapidez com que ocorrem os processos de mudança


nas diferentes esferas da vida humana acabaram por atingir o sistema educacional
brasileiro.

O Ministério da Educação respondeu a estes desafios com várias medidas, das


quais podemos destacar as seguintes162:

❖ EXAME NACIONAL DE CURSOS – ENC, implantado em 1996, conforme


determina a LEI n° 9.131/95 para avaliação dos cursos de Administração,
Direito e Engenharia Civil, que foi ano a ano incluindo outras áreas de
conhecimento;
❖ Decreto 2.026, de 10/10/96 que estabelece os procedimentos do processo
de avaliação, define os elementos dos indicadores de desempenho global e
fixa os objetivos da avaliação individual das instituições de ensino superior;
❖ A LEI n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996, chamada nova LDB - LEI DE
DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL, que proporcionou
maior autonomia às instituições;
❖ Decreto 2.036 de 19/8/97 que dispõe sobre a constituição das mantenedoras
de instituições de ensino superior e define suas obrigações. Classifica as
instituições de ensino superior quanto a sua organização acadêmica e

162 Revista de Ensino Superior.


82

estabelece a periodicidade da verificação para renovação de autorização e


recredenciamento;
❖ Portaria 971 de 22/8/97 que define o conteúdo das informações constantes
do catálogo sobre as condições de oferta de cursos.

Neste contexto, as escolas de educação superior ganharam maior liberdade de


ação, pois a Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação já aponta na direção de maior
flexibilidade curricular prometendo substituir os currículos mínimos por diretrizes
curriculares. Por outro lado, passaram a ter seus procedimentos avaliados mais
intensamente por meio de instrumentos de toda sorte, em benefício da melhoria da
qualidade da educação no contexto de sua realidade institucional. As exigências
estabelecidas levaram as instituições de ensino superior a investir em avaliações
internas, por meio dos Planos de Desenvolvimento Institucional para contrapor-se às
pontuações aferidas pelo Ministério da Educação e ajustar-se administrativa e
academicamente às normas impostas.

A elaboração dos Planos de Desenvolvimento Institucional inclui a explicitação da


missão, dos valores organizacionais, dos objetivos, prioridades e metas a serem
alcançados, revelando a vocação da instituição diante de um contexto local, regional e
nacional.

Os profissionais do ensino relutaram em aquiescer a estas determinações. Sabe-


se que muitas vezes estes documentos foram construídos de forma autocrática, vinda
de cima para baixo, sem que os docentes tivessem sequer conhecimento da existência
deles.

Isto dificulta, sem dúvida, o compartilhar dos valores institucionais que depende
da percepção e da avaliação que o professor faz dos mesmos, levando a maior
discrepância entre a cultura ideal e a cultura real da organização, pois a forma autocrata
ignora o contexto no qual o comportamento acontece. Na verdade, a coerência entre a
cultura ideal e a cultura real depende da percepção e da avaliação que o docente faz
das dimensões relevantes da escola, como os valores e as normas. 163

Os valores, assim como os papéis de cada indivíduo, incluem os seguintes


elementos: o que é socialmente prescrito ou ideal e o que é percebido, ou seja, o que o

163 Tamayo, “Valores Organizacionais,” 59.


83

indivíduo acredita que deva fazer em uma dada situação. Talvez a imagem convencional
ou ideal e o comportamento praticado não coincidam.

Portanto, em muitas situações, a forma como a instituição de ensino é


administrada torna-se a principal determinante do comportamento discrepante. Saber
quem depende de quem, quem se comunica com quem, quem pode recompensar, quem
pode punir, de que forma estas coisas devem ser feitas, talvez seja tão importante quanto
conhecerem quais são as regras que cabem e quais possam ser os valores.

A importância dada pelos professores aos valores culturais da organização vai


constituir a imagem que eles fazem da instituição de ensino.

Neste estudo focamos os valores culturais como uma das variáveis capazes de
influenciar a face humana da organização.

Entretanto, durante um longo tempo, os problemas decorrentes da estrutura


informal foram totalmente ignorados, acreditando-se que eles não tinham poder de
interferir nos resultados da organização.

Em outras palavras, a distância entre o formal e o informal estava de tal forma


consolidada na mente humana que jamais seria possível admitir qualquer tipo de
reciprocidade de influências entre ambas. Contudo, está separação é insustentável.
Ambas são partes de uma totalidade – a organização.

Assim, paradoxalmente e de maneira casual, foram desenvolvidos por Elton


Mayo164 em uma fábrica de Hawthorne, Chicago, da Western Electric Company alguns
trabalhos que tinham como objetivo melhorar a produtividade da empresa e que
acabaram por desencadear, no final dos anos 20, nos Estados Unidos, um movimento
que passou a ser chamado “Escola de Relações Humanas”.165

Este modelo reflete a opinião de que o homem, embora visto como uma coletânea
de sentimentos, é a peça mais importante das organizações. É evidente que estes
sentimentos devem ser considerados.

164 Elton Mayo (1880-1949), psicólogo, professor sociólogo e pesquisador das organizações.
165 Maximiano, Teoria Geral da Administração.
84

Deste modo, a evolução das teorias de administração atingiu também a antiga


concepção existente sobre as instituições de ensino que passaram a ser compreendidas
como organizações, e que, como qualquer outra também sofre problemas disfuncionais.

Excesso de burocratização, controles administrativos inadequados e estilos de


liderança são fatores que afetam a saúde psicológica das organizações, provocando em
seus membros atitudes de antagonismo, aumentando os índices de turnover166, agressão
verbal, apatia e indiferença.

É interessante notar que estes efeitos refletem diretamente no desempenho


organizacional e, consequentemente, na vida acadêmica de todas as pessoas que
participam da organização.

Contudo, muitos dos gestores das instituições de ensino não tomaram ainda
consciência do quanto estes problemas afetam o processo ensino/aprendizagem.

Um dos mais importantes fatores condicionantes do sucesso de determinada


organização é o grau de concordância entre interesses e valores organizacionais e
interesses e valores individuais.

Lamentavelmente, quando a missão e os objetivos de uma instituição, por onde


perpassam os valores de sua cultura, não são congruentes com as maneiras de pensar,
sentir e agir das pessoas, a insatisfação de seus anseios provoca sensação de
defensividade.

Segundo Katz & Kahn, a missão principal de uma organização, conforme é


concebida por seus líderes, fornece uma série de indícios altamente informativos ao
pesquisador que pretende estudar o seu funcionamento.167

Deste modo, pode-se admitir que para compreender sua cultura, suas crenças e
seus valores, é preciso primeiro compreender a visão de seus fundadores. Muitas vezes
os valores iniciais influenciam e persistem na orientação da administração. Quando isto
acontece, sua identidade original conserva-se inalterada. Outras vezes, em virtude do
caráter complexo que a instituição vai assumindo, os valores podem ficar tão distorcidos
que a organização perde sua identidade.

166 Turnover: taxa de rotatividade de funcionários.


167 Katz & Kahn, Psicologia Social das Organizações, 30.
85

Por isso, tentar conhecer a organização apenas por meio de estatutos e relatórios
pode não ser o mais adequado. Estes documentos formais nem sempre revelam a
realidade existente no presente momento histórico.

Portanto, o objetivo é buscar compreender a importância dada pelos professores


universitários aos valores culturais de uma instituição de ensino superior e saber se eles
são adotados como valores pessoais.

Apesar dos valores culturais permearem ou se expressarem em muitas atitudes


dos componentes da organização, quase sempre são conservados inconscientemente,
o que provoca grandes desafios durante a investigação.

Entretanto, o interesse pelo delineamento desta pesquisa surgiu em razão de uma


longa trajetória pelo magistério, associada ao fato de estarmos atualmente exercendo a
função de professor em uma instituição jesuíta. Através dele, provavelmente,
encontraremos subsídios para a melhoria da qualidade de nosso processo educacional.

Hoje sabemos que a chave para aumentar a produtividade situa-se no ambiente


de trabalho. Este ambiente pode ser segmentado em três aspectos principais: físico,
técnico e social. Todos se acham inter-relacionados e cada um deles pode ter maior
importância que os demais dependendo do interesse do investigador.

Neste caso, nosso interesse é compreender o lado humano da organização. Para


tanto, é necessário saber como ela está ordenada em termos de valores e normas e a
respectiva importância que cada um possui no contexto de seu universo cultural e na
dinâmica das relações interpessoais.

O quadro de valores organizacionais está sempre por trás do comportamento


humano das organizações. Os valores estão presentes na identidade, na missão, na
definição dos objetivos, enfim em toda a instituição de ensino.

Se por um lado o elemento humano influencia o ambiente de trabalho, por outro


lado a recíproca é verdadeira. O ambiente de trabalho também influencia os
comportamentos e as atitudes de seus componentes.

Assim, analisando a instituição educacional sob o enfoque comportamental,


devemos compreendê-la como um sistema social formado principalmente por pessoas
86

com sentimentos que influenciam seus comportamentos, enquanto membros da


organização.

Champion cita diversos exemplos da literatura, como os trabalhos de Homans e


Gouldner, que documentam a influência de variáveis, como valores culturais,
desempenho profissional, satisfação na função e produtividade dos grupos de
trabalho.168 Neste caso, Homans sugere que os grupos que manifestam sentimentos
semelhantes para certas coisas, interagem de forma mais harmoniosa. Todavia, o autor
questiona sobre quais valores poderão fazer a maior diferença no fomento da
cooperação interpessoal.169

Portanto, se várias pessoas desenvolverem o mesmo sentimento em relação aos


valores organizacionais, podemos ter consequências positivas sobre a eficiência do
desempenho e o funcionamento global do sistema.

Assim, encontramos alguns aspectos da pedagogia inaciana que entende a


construção da identidade como um processo que não é individual, ela é uma interação
entre o desenvolvimento pessoal e das influências sociais, logo é um processo de
construção que nunca é concluído. Segundo a pedagogia inaciana, a nossa identidade
pessoal compõe-se da história pessoal do sujeito, do sentimento corpóreo, de desejos,
de temores, dos valores, crenças e de competências. Percebemos assim, que a
identidade inaciana se apresenta como a forma: Inácio cultivou o seu estilo de homem
do século XVI que seguiu os passos de Jesus e ensinou a outros a sua relação com
Deus, com os outros, com o mundo e consigo mesmo.

4.2 A PEDAGOGIA INACIANA RUMO AO SÉCULO XXI

A partir do século XXI, com o aperfeiçoamento e o acesso mais facilitado da


tecnologia, observamos que as relações entre a sociedade e o espaço são mediadas,
cada vez mais, pelos instrumentos da informação. No entanto, é importante ressaltar
que, ao mesmo tempo em que essas tecnologias conectam pessoas em vários lugares

168 Ver Holmans,The Human Group; e Gouldner, Studies in Leadership.


169 Champion, A Sociologia das Organizações, 102.
87

do mundo, elas ampliam significativamente as desigualdades entre pessoas, mercados


e países.

A obra e o legado de Santo Inácio estão muito presentes e vivos em nosso


cotidiano e são, a nosso ver, uma possibilidade de superar alguns desafios da
contemporaneidade.

Outro aspecto muito importante é a preocupação de Santo Inácio em formar


pessoas competentes, conscientes e comprometidas com os outros e para os outros, ou
seja, nessas competências, seria possível comprovar se esse ser estaria recebendo a
educação desejada em toda sua amplitude. É interessante ressaltear, ainda, que, para
Santo Inácio, isso corresponde a uma mudança radical no modo de pensar e de agir,
pois, para ele, é importante que as pessoas transformem o modo de ver a si mesmas,
os outros e as estruturas sociais.

É considerável evidenciar, que o contexto escolar deve propiciar aos educandos


ações para desenvolverem as habilidades socioemocionais, para que possam gerenciar
suas emoções frente aos impasses, bem como fortalecer os vínculos afetivos e tomada
de decisão norteados na percepção de seus sentimentos, preparando-os para a
aprendizagem significativa, formação cidadã e relações interpessoais mais consistentes,
além de considerar as políticas educacionais como responsabilidade coletiva e que
devem ser implementadas no projeto político pedagógico e outras ações pedagógicas.
Perante essas considerações, Goleman diz que as habilidades socioemocionais
implementadas à política educacional colaboram na prevenção e/ ou minimização de
conflitos e violência, e acuram o comportamento e o desempenho no processo de ensino-
aprendizagem.170

Consideramos que seja relevante, neste momento, descrever o contexto dos


jovens, pois lidar com eles é um dos desafios do professor inaciano e da escola no limiar
do século XXI, frente a todas as turbulências do mundo contemporâneo.

É preciso pensar no aluno hoje e em um novo contexto ao qual está inserido. Esse
contexto nos apresenta um mundo profundamente impactado pelo avanço tecnológico
e, ao mesmo tempo, por profundas transformações sociais. Há demandas diferentes e,
ao mesmo tempo, indivíduos que aprendem de forma diferente, em tempos e espaços

170 Goleman, O Cérebro e a Inteligência Emocional.


88

que transcendem o ambiente escolar. Os professores precisam pensar em formas de


contribuir com a formação desses diferentes alunos no seu gosto por aprender, não só
no que se refere aos aspectos cognitivos, mas também aos valores éticos e religiosos,
fundamentais para educação integral.

Diante disso, podemos concluir que a identificação do indivíduo com a identidade


inaciana acontece quando se estabelece uma correlação entre a nossa identidade
pessoal e a proposta de Inácio. Tal identificação surge da espiritualidade que brota dos
Exercícios Espirituais, a Espiritualidade Inaciana não pretende anular a singularidade de
cada sujeito, ela pretende qualificá-la.

Segundo Klein, a responsabilidade do professor inaciano frente a todo esse


cenário, é o de mediar não somente o conhecimento, mas, sobretudo, desenvolver, no
aluno, um senso de autoestima e favorecer para que se torne uma pessoa responsável
na sociedade.171

Em virtude disso, o professor inaciano, através de suas atitudes e palavras, é


capaz de dar indícios de como os alunos podem ser mais para outros, deixando de lado
o espírito de competição, o sentimento de superioridade e da arrogância, atitudes e
sentimentos muito presentes no mundo moderno.

Dessa maneira notamos a certeza de que o processo de ensino-aprendizagem


deve ser contínuo, e o papel do professor, assim, é o de instigar, inteligir, provocar e
orientar, fazendo a mediação entre o conhecimento e o aluno e, além disso, deve-se
deixar claro para os alunos, a relevância do significado e da aplicabilidade do que está
aprendendo.

Por outro lado, dentro dos limites do sistema educacional de hoje (e procurando
ultrapassá-los), os professores estão mais interessados em dar voz ativa ao aluno, em
formar seres capazes de se expressar por si mesmos, de dar suas opiniões e tirar suas
próprias conclusões. Pessoas capazes de refletir com consciência crítica sobre a
realidade, e de transformá-la.

Podemos falar do surgimento de um novo paradigma em educação, ainda não


consolidado totalmente, mas que já vemos se esboçando nas ideias e na prática dos

171 Klein, Atualidade da Pedagogia Jesuítica.


89

educadores que sabem captar os sinais dos tempos e cumprir seu papel de construtores
de uma nova história pedagógica em que as novas tecnologias na sala de aula
constituem uma das mais significativas diferenças.

É dessa forma que as instituições jesuítas, pelos diferentes enunciados, através


de seus documentos, instituem formas de disciplinamento e legitimam critérios, regras,
prioridades a fim de constituírem os sujeitos da educação. Para Klein, a Pedagogia
Inaciana apresenta “uma visão positiva de mundo, sem a dualidade maniqueísta, que o
considera como algo suspeitoso ou perigoso, diante do qual um deve estar sempre
prevenido”:

Sendo uma pedagogia, a tarefa permanente da Pedagogia


Inaciana é investigar e orientar os processos formativos de
inspiração inaciana, neste mundo concreto, que muda célere,
profunda e extensivamente. Cabe à Pedagogia Inaciana uma
´hipoteca educativa´, ou seja, a obrigação de colocar a sua riqueza
na mesa das reflexões que se dão atualmente, em todo o mundo,
na busca de uma educação promotora da pessoa e alavanca da
transformação social. Uma educação que se empenha em
colaborar com o fortalecimento da educação pública, em tirar
conclusões das interpelações da era digital, em buscar meios para
fomentar a preservação do planeta, entre outros.172

As dificuldades para as instituições jesuítas no século XXI, sujeitas a ações do


mundo globalizado, independente do contexto inserido, vão além das diferentes práticas
discursivas em relação à formação integral do aluno, com base na visão humanística
cristã, e às exigências mercadológicas da gestão empresarial. Para compreender a
amplitude da Pedagogia Inaciana, enquanto cultura educativa, se faz necessária a
apreensão do sujeito colocado entre os dilemas da educação e do consumo.

A partir da promulgação do documento Características da Educação da


Companhia de Jesus, em 1986, chega-se a uma noção mais ampla e contemporânea de
Educação Integral.

172 Klein, org., Educação Jesuíta e Pedagogia Inaciana.


90

Segundo Klein, a Educação Integral tem uma perspectiva humanista, ao contrário


de uma visão parcial, instrumental ou utilitarista. A Pedagogia Inaciana tenta responder
às múltiplas exigências do próprio estudante, do seu contexto e das ciências
psicopedagógicas. Por este motivo, acrescenta princípios pedagógicos, atitudes,
perspectivas, estilos de aprendizagem e contribuições de outros segmentos da
Comunidade Educativa e de âmbitos externos à escola. A Pedagogia Inaciana assume
o papel de articuladora das diversas experiências educativas que os estudantes podem
realizar dentro ou fora do ambiente escolar. É integradora justamente pela centralidade
do estudante no processo educativo. Portanto, a Educação Integral afeta na gestão da
escola, a fim de articular todos os componentes.173

Conforme propõem Klein, um enfoque mais amplo de Educação Integral, terá


como base a Pedagogia Inaciana, que traz uma identidade própria, inspirada na
experiência de vida e nos escritos de Santo Inácio de Loyola. As mais recentes
formulações dessa pedagogia reafirmam a tradição jesuíta de um processo educativo
integral, que considera as diversas dimensões do sujeito e que articula os variados
âmbitos com os quais a escola interage.174

Pretende-se, com isso, que a Educação Integral não se restrinja ao recinto e à


programação da sala de aula, mas que convoque a escola toda a implementar o ponto
de vista integral da educação e a realizar a função harmonizadora dos vários
componentes pedagógicos.

O professor inaciano não é um mero transmissor de informações, mas sim um


mediador, um orientador de todos os processos, dos que levam os alunos a
transcenderem às informações, aos conceitos, aos valores, às atitudes e às habilidades,
de modo que lhes seja possível crescer como pessoas e como cidadãos.

Os professores inacianos, além de serem profissionais qualificados, devem ser


homens e mulheres de Espírito, que valorize e estimule alunos em todos os momentos
do processo de ensino aprendizagem, constituindo uma fonte inesgotável de motivação
e sempre buscando elevar a autoestima do aluno através da valorização de suas
criações, produções e transformações.

173 Klein, org., Educação Jesuíta e Pedagogia Inaciana.


174 Ibid.
91

Num centro universitário com princípios cristãos, comprometido com rigor na


qualidade da formação de futuros profissionais, que não mede esforços para oferecer a
melhor formação possível a seus alunos, o estudo é desenvolvido de forma séria e
rigorosa, sempre comprometida com a alta qualidade, devevendo ser contínuo e
desenvolvido aula após aula.

Através da prática pedagógica, o professor inaciano é convidado a contribuir para


a formação intelectual e espiritual dos alunos que ingressarem nas instituições da
Companhia de Jesus, possibilitando, assim, a formação de cidadãos conscientes e
críticos, preocupados e atuantes na busca de iniciativas criativas e responsáveis,
visando a transformar a realidade em benefício do bem comum.
92

CAPÌTULO 5
A Minha História de Vida Profissional em uma Instituição Inaciana
93

CAPÍTULO 5
A MINHA HISTÓRIA DE VIDA PROFISSIONAL EM UMA INSTITUIÇÃO
INACIANA

Esta escrita se inicia através de um relato da minha trajetória como educador


desde 1986 até o presente momento, em uma instituição de ensino inaciana, mais
precisamente na ESAN/SBC (Escola Superior de Administração de Negócios), atual
Fundação Educacional Inaciana Padre Saboia de Medeiros. No segundo semestre de
1986, eu apenas ministrei uma disciplina, Matemática 1. Mas, o lado adverso é que
substitui um professor que já tinha começado o semestre e era considerado um dos
melhores. Fiquei numa situação muito desconfortável! Minha preocupação era: não errar
e saber tirar as dúvidas dos alunos. Então, penso que tive uma baixa eficiência no
semestre, motivado pelo tempo de me preparar para aula e não ter ainda experiência
suficiente de lecionar, já que estava dividindo meu tempo entre uma atividade profissional
de engenheiro na indústria e o magistério.

As primeiras experiências como professor foram permeadas por


redimensionamentos entre a profissão de engenheiro e a docência, o que, naturalmente,
foram acompanhadas de tensões iniciais, visto que lidar com o novo e desconhecido
gera angústia, receio, preocupação, dúvida e insegurança.

Para superar as dificuldades que fui encontrando no decorrer da minha caminhada


como professor, foi necessário um significativo investimento em muitas horas de estudo,
inclusive finais de semana, onde não fazia mais nada a não ser preparar aulas para
ministrá-las. Assim, era lendo livros, lendo, lendo... estudando bastante para ter
segurança.

Segundo a pesquisa de Álvares, revelou que, “inicialmente, grande parte dos


professores reconhece a importância da formação pedagógica para o exercício da
docência, embora tenha uma visão dessa formação restrita às metodologias e técnicas
de ensino”175. Desta forma, é preciso considerar que o fato da formação profissional na
engenharia não contempla aspectos pedagógicos que poderiam subsidiar a atividade
docente, o que trouxe uma dificuldade para que eu pudesse trabalhar mais esta questão

175 Álvares, “O Docente Engenheiro.”


94

de forma autônoma a fim de superar as minhas angústias e contemplar as exigências do


magistério.

Alguns anos antes da atuação como professor, recém-formado pela Escola de


Engenharia Mauá, em 1977, atuava como engenheiro metalurgista, em empresas do
ramo metalúrgico, ocupando funções de chefia, onde levei parte dessa vivência
profissional para o âmbito universitário. A partir de 1980 acumulava as duas funções,
como engenheiro e professor.

Eu ingressei no magistério em um momento que nem tinha pensado em ser


professor, porém por influência da minha família substitui um colega, que foi convidado
a aperfeiçoar seus estudos no exterior A inserção se deu inicialmente de forma gradual
e a partir de 2001 sai do mercado da indústria e fiquei definitivamente na docência.

O primeiro contato com a escola e com a sala de aula foi intercalado por alegrias
e expectativas. Nesse momento, eu iniciava a formação da identidade profissional de
professor. Essa identidade se deu na aprendizagem da docência, na aquisição de
saberes específicos e pedagógicos provenientes da prática, o que me levou a mudar de
atitude e até mesmo o modo de pensar e de agir, que havia sido internalizado ao longo
da minha graduação no curso de Engenharia. Foram desafios importantes ao longo da
minha carreira e da percepção que eu tinha como profissional e assim, foram trabalhados
na medida que minha identidade foi mudando e projetando novos valores e novas
atitudes vinculadas ao papel de professor.

A habilidade de professor começava a entrar em campo, mas tudo era feito com
um estilo de engenheiro: cartesiano, racional e lógico.

Ao longo dos anos na academia, a qualificação e aperfeiçoamento, enquanto


professor, é muito importante e tem uma exigência do próprio mercado de trabalho.
Assim, primeiramente o meu saber foi aprimorado, com a participação em cursos de
aperfeiçoamento em Matemática, oferecidos pela FEI.

Behrens coloca como ponto de proveitosa reflexão para o profissional que opta
pela docência, tomar consciência de que, “ao adentrar a sala de aula, o seu papel
essencial é o de ser professor”.176

176 Behrens, “Projetos de Aprendizagem Colaborativa.”


95

Dessa maneira, reforça-se o argumento de que é necessária a formação


pedagógica e não somente a crença de que um “bom docente nasce feito”, ratificando o
fato de que ser um bom engenheiro não quer dizer ser um bom professor de engenharia.

As metodologias pedagógicas utilizadas na década de 80 a 2000 eram práticas


bastantes tradicionalistas, principalmente quando se trata de Escola de Engenharia, uma
vez que é um curso muito técnico na sua formação e clássico na sua especificidade.

Na sala de aula se contava com recurso exclusivo do uso de giz, quadro negro, e
o livro didático e, considerando as exigências daquela época, esses recursos eram
satisfatórios e traziam os devidos resultados para a prática escolar. O livro era usado na
forma de “guia”, onde se podia determinar o conteúdo a ser trabalhado bem como a
metodologia a ser utilizada.

O método de ensino fundamentava-se numa sequência de repetições de


definições, conceitos e fórmulas, visando a memorização e a disciplinarização da mente
do aluno.

Este aspecto repetitivo da aprendizagem era um elemento central do programa


jesuítico de educação. Durante as lições, os alunos realizavam anotações em um
caderno para serem, posteriormente, memorizadas na forma de exercícios –
organizados por ordem, assuntos frases significativas, palavras e pensamentos. Além
disso, tais anotações eram completadas com citações transpostas, imitando os
clássicos. Nas escolas jesuítas, as aulas ocorriam em período integral e, todo final de
manhã e tarde, os estudantes, sob a responsabilidade de um aluno comandante, faziam
as repetições dos conteúdos ministrados naquele dia.

A transmissão dos conteúdos era feita via exposição oral e/ou demonstrações,
cabendo ao aluno decorar e repetir a sequências em situações semelhantes.

Havia um predomínio do discurso da minha parte que exigia atitude receptiva dos
alunos e impedia qualquer comunicação entre eles durante as aulas. O reconhecimento
da estrutura hierárquica da sala de aula me colocava em um grau de superioridade em
relação ao aluno, do qual era exigido atenção e silêncio absoluto como garantia para
assegurar o respeito e a disciplina.
96

Basicamente as disciplinas eram transmitidas aos alunos da mesma forma como


foram ensinadas em meus períodos de escola, sem questionamento e análise sobre a
prática pedagógica e ainda repassando a mesma didática, ano após ano e turma após
turma, pois considerava que a matéria não mudava, não levando em consideração que
a forma de pensar e refletir dos alunos, bem como, a forma de aprender que pode variar
de aluno para aluno. Esta prática pedagógica fez muitos alunos rejeitarem a disciplina,
pois achavam que não conseguiam entender o que eu tentava passar, criando em si
mesmos, bloqueios, dificultando assim o seu aprendizado. Isso significava que por causa
do professor o aluno passava a rejeitar a matéria, quando na verdade o problema, era
talvez, a diversificação da metodologia de ensino.

Outro aspecto que era levado em consideração durante as aulas: a minha


preocupação que durante as explicações os alunos não deveriam anotar nada em seus
cadernos. Desejava ter todos os olhos dos alunos voltados para mim, pois era mais
eficiente para controlar quem estava prestando atenção do que ficar repetindo muitas
vezes “prestem atenção agora, isto é importante”, pelo simples fato de enxergar os olhos
dos alunos.

Hoje, tal exigência deixa de existir, porque acredito que com tantos anos de
magistério no ensino superior me tornei mais flexível, e essa flexibilidade é necessária
para manter uma relação aberta, harmoniosa e de respeito mútuo com os alunos. Fica
claro também, que o fato de ter essa postura de relacionamento com os alunos não
significa que a minha autoridade como professor deixa de existir.

Eu procurava fazer o aluno entender que a escola é o lugar de aprender e que,


tentar e errar é melhor do que que nunca tentar, talvez seja, um dos motivos, de eu não
aceitava um “não sei” como resposta, mas, sim conduzia-o à resposta correta, ou a
melhor possível. Pode-se considerar essa, como uma das técnicas mais simples para
motivar o aluno a aprender, pois a cultura do “não sei”, é nociva principalmente porque
passa a impressão de que alguns alunos não são capazes de aprender, pensava assim.

Outra técnica que eu utilizava era saber como fazer perguntas para a classe toda
e ou apenas aos alunos que levantavam a mão para responder. Na verdade, eu escolhia
qual era o aluno que daria a resposta. Era uma técnica, do meu ponto de vista, eficiente
não só para avaliar o que o aluno aprendeu, mas, também, para deixar a sala atenta.
Talvez hoje em dia, possa ser vista como vexatória ao aluno, mas, se feita corretamente
97

é o jeito mais eficiente de ouvir os alunos que gostariam de responder, mas hesitam em
levantar a mão para perguntar.

Eu, como professor, levava em consideração que os alunos deveriam dedicar


algumas horas semanais aos estudos fora da sala de aula, pois a maioria desses alunos,
durante o ensino médio, somente estudavam em véspera de provas. Quando chegam à
universidade, querem agir da mesma forma, onde eram alertados que este hábito não
funcionaria. Eu, como professor, tinha inteira responsabilidade de oferecer
esclarecimentos e orientações a esses alunos sobre possíveis mudanças nesses
hábitos, não produtivos num ambiente universitário.

Existia, porém, uma parcela de alunos que, mesmo dedicando-se aos estudos,
não conseguia aprovação na minha disciplina que era do ciclo básico, e apresentava
altos índices de retenção. Então, onde estaria a falha? É notório que a maioria dos alunos
universitários brasileiros cursa o ensino médio em escolas públicas cujo nível de ensino,
na maioria das vezes, é de baixa qualidade, ou em escolas privadas que às vezes
também não oferecem um ensino de boa qualidade. Especificamente esses alunos,
quando chegam às universidades, demonstram um fraco aproveitamento nas disciplinas
da graduação, as quais exigem conhecimentos que deveriam ter sido adquiridos no
ensino médio. Percebia-se que existia uma pequena parcela de alunos que tinha um
conhecimento adequado ao bom desenvolvimento do curso.

Diante dessa situação eu fazia constantes críticas, mas procurava compreender


e criar estratégias para que os alunos evoluíssem intelectualmente, apesar das
deficiências que traziam dos níveis de ensino anteriores à faculdade. Essa era uma tarefa
árdua, mas não impossível.

A FEI sendo uma fundação de caráter religioso, tinha em sua missão educativa
fazer com que esses alunos evoluíssem em seus aproveitamentos em cada disciplina.
Ela oferecia programas de apoio e nivelamento aos alunos ingressantes, tais como;
plantão de dúvidas, monitorias e outros, que facilitava para nós professores manter uma
certa qualidade nas aulas.

As formas de avaliação eram inflexíveis: somavam-se as notas das provas, que


eram elaboradas em cima das matérias ministradas em sala de aula e depois era feita a
média aritmética das notas para chegar à nota final do aluno. O aluno que não atingia a
98

média final do ano era considerado reprovado e o que conseguia atingir era aprovado
para cursar a série subsequente.

Convém destacar que, como professor, ficava atento ao fato que os alunos tinham
o hábito de apenas memorizarem mecanicamente e acreditarem que compreenderam o
assunto, quando na realidade podem ter aprendido apenas um conjunto vago e difuso
de palavreados. Esse hábito parecia ser muito comum durante as aulas, pois pelo
momento atual em que é feita a educação escolar, os alunos procuram somente a
praticidade dos conceitos apresentados, deixando de lado o pensamento analítico, tão
importante para que ocorra uma aprendizagem significativa. Sentia a necessidade de
explorar o pensamento analítico dos meus alunos, sabendo de antemão que não teria
um retorno desejável.

Um aspecto de suma importância que levo em consideração até hoje é quanto a


postura que devo apresentar e venho apresentando de não ser arrogante, pois aquilo
que é apresentado aos alunos já está estabelecido na literatura mundial há algumas
décadas, séculos e em alguns casos até milênios, como é caso de grande parte das
teorias matemáticas. Portanto, não há razão para arrogância, considerando que o
conhecimento não é privado, mas pertence a todos.

Outro aspecto que levava em consideração nas minhas aulas para uma boa
apresentação era a utilização do “humor”, onde percebia, de uma maneira geral, os
alunos se aproximarem com maior facilidade, porém é claro que não havia necessidade
de ministrar aulas contando piadas. Quando se fala em bom humor, significa aproveitar
os comentários proferidos pelos alunos, sejam dúvidas ou sugestões, para de forma
bem-humorada apresentar explicações conceituais em um ambiente saudável e de
descontração, mas com a parte disciplinar preservada.

Não podia deixar de abordar que até nas avaliações objetivas, as quais também
fizeram parte do curso, aprendi novas técnicas de elaboração de prova, de formatação
de exercícios de interdisciplinaridade e de apresentação das teorias.

Ao longo dessa caminhada, vivenciei muitas mudanças de concepções no modo


de ensinar e de aprender. Muitos foram os rompimentos de paradigmas. A chegada de
tecnologias, dos meios de informações geraram muitas inquietações em relação ao uso
destes espaços acadêmicos para atender a uma “geração digital”.
99

A minha necessidade constante de capacitação para utilização das novas


tecnologias com vistas ao desenvolvimento de competências necessárias, para viabilizar
a inclusão e utilização das tecnologias de informação e comunicação nos ambientes
híbridos da sala de aula, sendo que tais capacitações nem sempre foram proporcionadas
pela instituição de ensino.

Avaliando esta concepção de pedagogia tradicional, foi possível perceber o


quanto o conhecimento estava centrado na figura do professor, o que estabelecia uma
relação de ensino e aprendizagem unívoca, em que o aluno era apenas um depositário
de ensinamentos e informações.

Para isso, foi possível utilizar e usufruir das primeiras ferramentas oferecidas pela
tecnologia, a partir do ano de 2000, tais como PowerPoint, Data Show, Retroprojetor e
Internet. Esses recursos ajudaram a diversificar a prática pedagógica, promovendo uma
efetiva interação dentro do contexto escolar. Esses recursos didáticos utilizados
permitiram que os alunos conseguissem visualizar (imagens, animações etc.) o que
estava sendo trabalhado por mim, pois eu conseguia explicar melhor por meio da
visualização, e, ato contínuo, havia uma melhor fixação do conteúdo por parte do aluno.

O Retroprojetor auxiliava na exposição do conteúdo e sistematizava as


apresentações em um modo visual mais atrativo, além de apresentar a vantagem de
permitir que eu permanecesse de frente para os alunos, podendo ainda ser utilizado em
local iluminado, além de permitir o reaproveitamento das transparências.

A utilização do Data Show como instrumento tecnológico possibilitou ampliar as


possibilidades de trabalho na sala de aula, pois foi possível conseguir um contato visual
melhor com os alunos do que com a utilização da lousa, porque o slide já estava pronto
previamente, não havendo necessidade de escrever durante a apresentação.

Surge a Internet, como ferramenta de apoio ao aluno, proporcionando um


melhoramento do ensino e aprendizagem. As informações adquiridas através da Internet
foram transformadas em conhecimento, que facilitou a motivação dos alunos, pela
novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de pesquisa que ofereceu e oferece até
hoje. A Internet oportunizou interações significativas, através dos e-mails, dos fóruns e
dos chats. Incorporar a Internet ao aprendizado em sala de aula dá aos alunos muito
mais oportunidade para estruturarem seu próprio aprendizado do que aqueles
100

disponíveis em salas de aulas tradicionais, além do aluno desenvolver a aprendizagem


cooperativa, a pesquisa em grupo ou individual, a troca de resultados e o intercambio
entre os professores e alunos, admitindo a troca de experiência entre eles.

Cabe lembrar que, os equipamentos audiovisuais auxiliam muito nesse caso, no


entanto, não são suficientes. O planejamento, a metodologia, o diálogo, são essenciais
para o sucesso da aula. Estar aberto a indagações, questionamentos, à curiosidade dos
alunos, faz do professor um ser que ensina, respeita, e não um ser que só transfere
conhecimento.

Avançando um pouco mais no tempo, chegando ao ano de 2010, o avanço da


tecnologia permitiu que o acesso a informação se tornasse muito mais rápido e fácil e
auxiliando o processo de ensino e aprendizagem trazendo contribuições para educação
presencial. Essa nova fase proporcionou uma nova oportunidade para que eu fizesse
uma revisão metodológica, exigindo mudanças de postura, buscando qualificação,
entender as inovações e utilizar os recursos disponíveis ao meu favor, possibilitando
transformar uma aula estática e expositiva em uma prática mais dinâmica, com a
possibilidade de captar a atenção e empenhar os alunos nas práticas pedagógicas, no
sentido de criar um ambiente de interação coletiva do conhecimento, para atender ao
novo modelo de aluno e o novo modelo de educação que começou a surgir.

Desta forma, as metodologias ativas surgiram com o intuito de superar a


aprendizagem passiva, cuja única estratégia didática era a exposição oral de conteúdos
feita pelo professor. Contrárias ao modelo tradicional de educação, as metodologias
ativas trazem a ideia de um ambiente de aprendizagem que busca a autonomia do aluno,
estimulando-o a assumir um papel ativo e responsável com seu processo de
aprendizagem.

Ainda percebo que a minha relação atual com as novas tecnologias ainda está
caminhando devagar, pois em minhas práticas ainda há pouca utilização e introdução
das novas tecnologias, talvez por ter a consciência de que devo me aperfeiçoar, me
capacitar e interagir melhor com os equipamentos, para que tenha noção do manuseio
deles, entender como devo utilizá-los, cada um com foco nos resultados esperados do
meu planejamento de sala de aula.
101

A partir de março de 2020 ocorreu uma nova transformação na educação por


causa da pandemia Covid-19, que deixou todos sem chão. Nunca imaginei que usaria o
computador ou o celular para transmitir as aulas online que até aquele momento eram
presenciais.

O contexto da pandemia trouxe à tona uma série de fatores a serem considerados


no processo educativo.

Na instituição de ensino, da qual faço parte, esta mudança deu-se quase


imediatamente ao surgimento da pandemia, sob as orientações de isolamento social e
decretos de fechamento dos espaços educacionais. A justificativa da instituição foi a
lógica de continuidade da prestação de serviço ao aluno, regido por contrato, como
também o calendário letivo.

As aulas presenciais foram invertidas para aulas virtuais, com a presença do aluno
em tempo real, diferentemente do ensino a distância.

Preparar uma aula remota é bem diferente da prática presencial de sala de aula,
a dinâmica de interação com os alunos é outra, e o conhecimento das tecnologias
educacionais177 é imprescindível.

Dessa maneira, tive que buscar variadas formas de trabalhar o ensino-


aprendizado com os alunos por meio das aulas online, utilização de metodologias
variadas e uso de ferramentas tecnológicas até então não utilizadas.

Para que as aulas remotas acontecessem de maneira satisfatória tive que adaptar
todo o meu material em prol de trabalhar o conteúdo por meio da tecnologia. Sem as
devidas formações que me qualificassem para atuar nas atividades remotas, pois são
maneiras totalmente diferentes de uma sala de aula, e tendo que arcar com meus
próprios custos e ferramentas, trabalhando por meio da internet, acredito que devo ter
demonstrado falta de habilidade para manusear os recursos digitais disponíveis.

Falas como “parece que o meu trabalho com o ensino remoto triplicou”; “com o
ensino remoto tive que ser professor, psicólogo, técnico de informática, auxiliar
administrativo, gerenciador de conflitos etc. Enquanto no presencial, dava minha aula e

177As tecnologias educacionais promovem ainda meios de colaboração para a execução das atividades e
de compartilhamento de experiências de maneira assíncrona, ou seja, as participações são registradas e
acessadas por todos a qualquer momento.
102

só”; “em todos os meus e-mails e aplicativos de mensagens, não importava o dia, ou
hora, tinha sempre um aluno perguntando ou reclamando de alguma coisa”, dava a
sensação de que o ensino remoto se desenvolvia em tempo integral.

O ensino remoto trouxe uma boa oportunidade de me reinventar como professor;


além de me pegar de surpresa, tive um aprendizado enorme ao ter que lidar com está
diferença de ensino.

Até aqui foi descrito um pouco o meu perfil como professor e como ainda utilizo
uma pedagogia que vem se apresentando um pouco defasada e dificultando o processo
de aprendizagem dos educandos. Agora é hora de discutir a prática, ou o que pode ser
feito para o envolvimento do aluno no processo, para que este adquira uma postura mais
participativa e protagonista em sua aprendizagem.

Nesses anos de práticas na educação, sempre busquei o aperfeiçoamento dos


meus saberes docentes. Acompanhar os novos desafios educacionais, compartilhar
vivências e conhecer novas abordagens torna-se indispensável no atual cenário,
representado por uma geração bem articulada e tecnológica.

As metodologias ativas e as tecnologias digitais vêm ganhando espaço nos


contextos de ensino contemporâneos, tornando necessária a inclusão desta temática na
formação de professores, tanto inicial, quanto continuada, a fim de prepará-los reflexiva
e criticamente para o seu uso.

Para Almeida, integrar tecnologias digitais e metodologias ativas em processos


educativos significa integrá-las com o currículo, o que requer expandir sua concepção
para além de listas de temas de estudos previstos e identificar o currículo real
desenvolvido na prática pedagógica, o qual é constituído por conhecimentos,
metodologias, tecnologias, linguagens, recursos, relações sociais e pedagógicas criadas
no ato educativo.178

A partir do que foi exposto, acredito que as novas tecnologias poderão viabilizar
alguns avanços para os processos educativos179, tendo para isto a necessidade de uma

178 Almeida, “Currículo e narra"Tivas Digitais.”


179 Processos educativos, tais como:
- a agilização do acesso às informações mais recentes e atuais produzidas por meio de pesquisas e outras
produções cientificas em todo mudo.
103

apropriação da cultura digital, que pode contribuir para a criação de novas metodologias
ativas.

Berbel afirma que:

As metodologias Ativas baseiam-se em formas de desenvolver o


processo de aprender, utilizando experiências reais ou simuladas,
visando às condições de solucionar, com sucesso, desafios
advindos das atividades essenciais da prática social, em diferentes
contextos.180

Uma das características que mais se destacam nas Metodologias Ativas é a


possibilidade de desenvolvimento do protagonismo e da criatividade do aluno, uma vez
que ele é convocado a resolver problemas e questões a partir do conhecimento que foi
aprendido durante toda a sua vida.

O uso das metodologias ativas pode potencializar a prática docente, no sentido


de tornar este profissional “mais reflexivo, dialógico, multiprofissional e competente para
atuar nos processos de gestão e planejamento educacional em cenários de
aprendizagens significativos e na intervenção em problemas demandados pelos
ambientes de aprendizagem”181. No entanto, apesar das potencialidades das
metodologias ativas, apenas utilizá-las não garante a melhora automática dos processos
de ensino e aprendizagem, pois muitos desafios perpassam estas práticas; é necessário,
portanto, mais do que inseri-las, saber como empregá-las, sempre pautando-se em
objetivos claros e tendo a criticidade e a reflexão presente em todo o processo.

Conforme orientações sobre o uso de tecnologias digitais para aplicar


metodologias ativas, constantes no site “Jornadas edu: Práticas Pedagógicas” de 26 de
fevereiro de 2021,

- A orientação dos estudantes nas suas atividades não somente em ambientes formais de aula, mas em
qualquer ambiente informal, em qualquer tempo e espaço em que se encontram tanto os professores
quanto os acadêmicos.
- A possibilidade de flexibilização do currículo em relação a sua forma de organização, principalmente
quanto a seleção de conteúdos, metodologias de trabalho e formas de avaliação das atividades
desenvolvidas.
- Os professores passam a ser vistos como mediadores pedagógicos dos processos de ensino-
aprendizagem e não mais como fontes únicas e exclusivas no processo de construção e aquisição do
saber.
180 Berbel, “As Metodologias Ativas,” 20.
181 Gemignani, “Formação de Professores ,” 24.
104

é importante que o professor as conheça o suficiente para


desenvolvê-las durante as aulas. Além disso, é importante que
esses professores tenham auxílio de tecnologias digitais que
facilitem a aplicação deste processo.

Essas tecnologias digitais surgem com o objetivo de serem


ferramentas para o professor, que facilitem a aplicação dessas
metodologias, além de potencializar os processos de
aprendizagem, personalização e avaliação para que assim eles
ganhem tempo e toquem diferentes projetos, desenvolvendo cada
vez mais os alunos.182

Segundo Cardoso,

o professor está acostumado e sente-se mais seguro com o


tradicional papel de transmissor de algo que supostamente domina.
Sair dessa posição para entrar em diálogo direto com o aluno,
propor que pesquisem juntos, dar voz aos alunos, desenvolver
habilidades para trabalhar com tecnologias que geralmente não
domina – tudo isso gera grande insegurança e implica mudança de
valores e atitudes.

Ao mesmo tempo, o aluno também se sente confortável no seu


tradicional papel de quem só recebe. Até desconfia da qualidade
do trabalho do professor que costumam colocar os alunos em um
papel mais ativo no processo de aprendizagem. Para eles o bom
professor é aquele que “dá uma boa aula”, que tem facilidade de
explicar e tornar o conteúdo acessível.”183

Ao trilhar o caminho da inovação, um dos fundamentos adotado pela FEI na qual


ela estará calcada é a Aprendizagem Ativa e inclusão de novas tecnologias que permitam
a devida articulação do conhecimento, da pesquisa e do pensamento acadêmico com o
contexto real de vida dos estudantes.

182 Jornada edu, “Como usar Tecnologias Ativas,” Práticas Pedagógicas.


183 Cardoso, “O Impacto das TIC’s sobre a Educação,” 163.
105

Semestralmente a FEI realiza a Semana da Qualidade no Ensino, Pesquisa e


Extensão, onde são abordados vários temas relacionados sobre o papel da universidade
que pretende ser inovadora, sobre a eficiência das relações da universidade com todos
os agentes sociais, sobre as novas funções do docente diante deste novo contexto
cultural, sobre a qualidade da gestão dos processos de ensino e aprendizagem e sobre
sua inserção no processo de inovação.

Sobre a qualidade da gestão dos processos de ensino e aprendizagem, uma das


estratégias e metodologias ativas pontuadas foi a utilização de Mapas Conceituais184
como uma ferramenta de estudo e aprendizagem, onde o conteúdo é classificado e
hierarquizado de modo a auxiliar na compreensão do indivíduo que o analisa.

Esta ferramenta começou a ser implanta nas disciplinas que leciono, a partir de
2017. Acredito que esta metodologia pode auxiliar na compreensão dos conceitos de
forma mais detalhada e contribuir para melhorar o aprendizado dos conteúdos da
disciplina de Matemática. Tudo isso trará consequências diretas no amadurecimento do
estudante na disciplina e na qualidade do conhecimento que será levado para as
disciplinas posteriores.

A proposta de utilizar uma metodologia baseada na construção de mapas


conceituais para melhorar a aprendizagem dos alunos na disciplina de matemática,
trouxe, inicialmente, resistência e dificuldade na compreensão dos conteúdos da
disciplina e desta metodologia frente ao método tradicional de ensino até então utilizado.

Percebi que o mapa Conceitual foi capaz de promover uma aprendizagem que fez
sentido para o aluno, principalmente porque o levou a refletir e interpretar aquilo que lê.
Também se constituiu em valoroso auxiliar nas tarefas do cotidiano escolar, pois, além
de promover o ensino de novos tópicos, contribuiu para reforçar a compreensão,
identificar conceitos pouco compreendidos e avaliar qualitativamente os conhecimentos
do aluno.

184 Mapas conceituais criam oportunidades para os alunos mostrarem relações significativas entre os
conceitos estudados. Trata-se de uma estratégia adequada a mudança do paradigma da avaliação
tradicional para os processos de aprendizagem qualitativa e formativa. Sua lógica baseia-se na teoria da
aprendizagem cognitiva de David Ausubel. É uma técnica desenvolvida em meados dos anos setenta por
Joseph Novak e seus colegas na Universidade de Cornell.
106

Conforme relata Moreira, a utilização do Mapa Conceitual pelo professor,


possibilita a identificação de indícios de aprendizagem de forma significativa, na busca
de melhoria da qualidade de ensino ofertada nas escolas. O Mapa conceitual pode ser
um facilitador para a aprendizagem do aluno, pois, ao utilizá-lo, o aluno tende a ter mais
interesse pela aula.185

A metodologia de construção dos mapas conceituais foi exposta previamente para


os estudantes, de modo a elencar os objetivos, as aprendizagens potenciais e permitir a
organização operacional dos referidos mapas conceituais a partir da disciplina de
matemática, especificamente do tópico de “Derivadas”. Nessa etapa foram elucidadas
as dúvidas dos estudantes sobre como preparar os mapas, quais ferramentas
tecnológicas estão disponíveis para a organização, entre outras dúvidas, pois os
estudantes não tinham claros o conceito e o processo de organização de um mapa
conceitual. Ato contínuo, foi solicitado que os estudantes elaborassem de maneira
individual ou em grupos um mapa conceitual do tópico de “Derivadas” em estudo, em
cada componente curricular.

Observamos a seguir, um exemplo comparativo de dois mapas que representam


o mesmo conteúdo. No primeiro Mapa Conceitual (ver Figura 2), trata-se de uma síntese,
de vários Mapas Conceituais, de vários alunos, e apresenta poucas explicações, poucos
conceitos e pouca criatividade na construção e na distribuição:

185 Moreira, “Mapas Conceituais e Aprendizagem Significativa.”


107

Figura 2: Mapa Conceitual da Disciplina de Derivadas

CÁLCULO
BÁSICO

IMPLICA IMPLICA

FORMADO POR

DERIVADAS TAXA
INTEGRAIS ENVOLVE ENVOLVE MÉDIA
DE
VARIAÇÃO

IMPLICA

Definida Indefinida Derivad Derivada Aplicação


s s a num s das
funções derivadas
Ponto usuais

Usuais

CONSIDERANDO-SE é COMPOSTO APLICADO EM

Aplicaçõ Potência Produto Quociente Máximos


es Mínimos

Crescente
Decresc.
COM APLICAÇÃO

Concavida
de Ponto
OTIMIZAÇÃO de Inflexão
108

O primeiro mapa Conceitual construido pelos alunos teve as palavras de ligações


que completam as preposições apresentadas de maneiras bem simples, observando
que a habilidade de construir o mapa eles dominaram, mas não conseguiram criar um
significado do conteúdo estudado. No entanto, houve uma assimilação.do conteúdo.

Ao caminhar para a execução do segundo mapa Conceitual, aí com a minha


interferência como professor, foram propostas atividades relacionadas ao conteúdo,
como pesquisas em várias fontes (Internet, livros) e em vários aplicativos de construção
de Mapas Conceituais. A partir deste instante, os alunos passaram a reestruturar seus
mapas, refazendo e organizando suas ideias e sintetizando de uma forma melhor as
preposições e as palavras.

Ainda assim, é possível afirmar que a maioria dos alunos conseguiu evoluir na
habilidade de construir o Mapa Conceitual e consequentemente ajudou na assimilação
do conteúdo da matéria proposta, como mostra a Figura 3.

Um outro fator que causou um impacto positivo na atividade foi permitir o uso de
tecnologias (CmapTools)186 para a construção dos mapas conceituais, onde a maioria
se mostrou favorável ao uso das tecnologias nas atividades. Nesse sentido, os mapas
conceituais associados à tecnologia promovem maior participação e envolvimento dos
estudantes.

Nota-se que tais construções realizada pelos alunos é passível de revisão, na qual
as dúvidas podem ser sanadas e, assim, o tema pode ser trabalhado de uma maneira
mais rica pelos alunos, que passam, com a mediação do professor, a ter uma
aprendizagem significativa acerca do tema, possibilitando aos alunos um melhor
desenvolvimento do conteúdo proposto.

Os Mapas Conceituais contribuíram para ajudar os alunos que possuíam


dificuldades no aprendizado de outros conteúdos, onde não conseguiam assimilar ou
estudar pelo método tradicional, optando, assim, pela metodologia de construção de

186CMapTools, software (dowload gratuito) desenvolvido na University of West Florida pelo Institute for
Human Machine Cognition (IHMC, que auxilia a construção dos mapas por meio de recursos multimídia
que podem ilustrar os conceitos, como imagens, vídeos e links, além de proporcionar a inserção de outros
mapas dentro do mapa principal.
109

Mapas Conceituais, para obter êxito na aprendizagem e refletindo na avaliação das


demais disciplinas.
110

Figura 3: Mapa Conceitual de Derivadas

MODELOS CÁLCULO ESTUDOS


APLICA-SE APLICA-SE
BÁSICO APLICA-SE
ORGANIZACION MACROECONÔ
AIS MI

FORMADO POR FORMADO POR RELACIONA-SE COM

TAXA
INTEGRAIS RELACIONA-SE DERIVADAS RELACIONA-SE MÉDIA
DE
VARIAÇÃO

CONSIDERANDO-SE COMPREENDENDO

Derivada Derivadas DerivadasS


Aplicação Taxa
Definidas Indefinidas num funções ucessivas
das CrescenteD
usuais derivadas ecresc..
Ponto
Usuais

CONSIDERANDO-SE SÃO REPRESENTADAS POR APLICADO EM

Aplicaçõe Técnicas Potência Produto Quociente Composta Máximos


CV
s Mínimos

Crescente
Decresc.
COM APLICAÇÃO

Concavida
de Ponto
OTIMIZAÇÃO de Inflexão
111

O mapa conceitual como recurso pedagógico de ensino e não apenas de


aprendizagem possibilita identificar os conhecimentos prévios dos alunos, ou ainda
evidenciar as relações que estão sendo discutidas em sala de aula. A partir dessa
estratégia é possível apresentar relações de subordinação e ordenação que irão
subsidiar a aprendizagem de novos conceitos, e assim possivelmente favorecer a
aprendizagem significativa.187

A prática docente que era prática no início da minha carreira como professor era
pautada em atividades prontas, sugeridas pelos livros. E que agora, depois de anos
aperfeiçoando minhas práticas, comecei a elaborar ativas mais significativas para os
alunos, partindo, algumas vezes, de situações do interesse deles ou que tenham
significado no mundo deles. Ficou bastante evidente, na metodologia adotada, através
do uso do Mapa Conceitual, a valorização da participação dos alunos, da troca de ideias
e das reflexões que emergem dessa forma investigativa de realizar o trabalho em sala
de aula.

Nesses anos de experiência na referida instituição, tenho acompanhado as


transformações pelas quais os espaços acadêmicos vêm passando no que se refere às
práticas pedagógicas dos professores, ao modelo de gestão dos novos tempos, às
necessidades dos estudantes do século XXI, às concepções no cenário atual.

Dessa forma, o problema se caracteriza pelo modo como os professores


compreendem o seu fazer pedagógico a partir das experiências dentro dos espaços
acadêmicos e os impactos nas práticas pedagógicas e de gestão. Cabe citar aqui, ainda,
que a instituição tem um papel preponderante na concepção, organização e
operacionalização da formação contínua dos professores.

187 Moreira, “Mapas Conceituais e Aprendizagem Significativa.”


112

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O afloramento da Indústria 4.0 trouxe desdobramentos para diversas áreas da


sociedade, apoiados nas novas tecnologias, implicando na necessidade de qualificação
dos profissionais para atuar dentro desse novo modelo.

O caminho para que nossa sociedade seja beneficiada amplamente pela Quarta
Revolução Industrial não deve passar apenas pelo desenvolvimento das novas
tecnologias, visando aumento de produtividade, mas, sobretudo, no investimento em
educação. Faz-se imprescindível investir na formação, capacitação e requalificação das
pessoas, para que estas estejam aptas e possam atuar como protagonistas desse
processo, integrando conhecimento e tecnologia, homens e máquinas numa convivência
que possa nos levar a um novo patamar de civilização.

Pelo que foi exposto no estudo , ou seja, compreender as razões que a nova
revolução tecnológica provocará na educação e no processo evolutivo do ensino e
aprendizagem na sociedade contemporânea, percebe-se que a prática pedagógica da
escola não está mais restrita ao professor e ao aluno. Essa prática lança um desafio aos
sujeitos do processo de ensinar e aprender (professor e aluno), o de romper com práticas
mecanicistas , para que as novas práticas possibilitem o aprender e construir
conhecimentos.

É necessário que o professor, o aluno e as tecnologias dialoguem, e assim seja


promovido um ensino de modo interacionista.

É viável também chamar a atenção para a formação continuada dos professores


atuantes nas instituições educativas quanto ao uso das novas tecnologias em suas aulas.

Fica claro também, que não basta informatizar a escola, é fundamental repensar
o projeto pedagógico, realizando uma refexão sobre as finalidades da escola,
explicitando seu papel social, bem como quais ações deverão ser empreendidas pela
escola frente às novas tecnologias.

Cabe ressaltar que o essencial não é a tecnologia em si mas sim a necessidade


de reconfigurar, de ampliar e criar novas práticas pedagógicas que potencializem a
interação entre os envolvidos nos processos de ensino e aprendizagem .
113

Nessa conjuntura, os modelos de ensino-aprendizagem devem ser


adequadamente aplicados de modo a atender aos critérios anteriormente abordados,
como as metodologias ativas que envolvem uma abordagem mais dinâmica de ensino
ao combinar teoria e aprendizagem prática.

O professor na sociedade contemporânea tem novos desafios, novas demandas


e a necessidade de aprender para adaptar-se a esse mundo em mudanças, no qual os
alunos têm acesso a informação em tempo real, seja na televisão ou na internet, e trazem
para a escola uma quantidade enorme de informações que não encontra repercussão
na escola. A Pedagogia Inaciana e seus principais documentos referenciais permitem
uma lucidez teórica, constituindo chaves de leitura para questões emergentes das novas
tecnologias ou, mesmo, acerca de temas considerados atuais. Trata-se de uma
pedagogia que se pauta em todas as dimensões da pessoa. No que se refere a
intelectualidade, que se tenha disciplinas que possibilitem uma capacidade cada vez
maior de raciocinar reflexiva, lógica e criticamente. Em síntese, a Pedagogia Inaciana
entrelaça a necessidade dos estudos humanisticos clássicos e o olhar atento às
tecnologias, pois eles são essenciais para a maior compreensão do ser humano.-
114

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