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INSTITUTO EVANDRO CHAGAS

SEÇÃO DE ARBOVIROLOGIA E FEBRES HEMORRÁGICAS


LABORATÓRIO DE IMUNOPATOLOGIA EXPERIMENTAL

Biologia e Aplicações das Células-Tronco


Profa. Dra. Edna Cristina Franco
Parte 1: O que são células tronco?
O QUE SÃO CÉLULAS-TRONCO?

• São células capazes de originar um organismo;

• São células capazes de se dividir dando origem a uma nova cópia de si


própria e (pelo menos) a um outro tipo de célula especializada
(diferenciada);

• Tipos distintos de células-tronco têm sido descobertas nos últimos anos


com características comuns e exclusivas;

• Necessidade de mais pesquisas para entender como e para o que estas


células podem ser usadas;
CONCEITOS-CHAVE

• Totipotência: Potencial de uma única célula desenvolver um organismo


completo (óvulo fertilizado até o estágio de quatro células);

• Pluripotência: Capacidade de uma célula originar todos os diferentes


tipos celulares de um organismo (mas não as estruturas de suporte -
placenta, âmnion e córion – necessárias para o desenvolvimento do
organismo;

• Multipotência: Capacidade de uma célula originar um pequeno número


de tipos celulares distintos (ex: CT hematopoiéticas);

• Unipotência: Capacidade de uma célula originar apenas um tipo celular.


TOTIPOTENTES

PLURIPOTENTES
CONCEITOS-CHAVE

Células-Tronco Embrionárias Pluripotência/Proliferação

Adultas
Potencial Terapêu co

Regeneração Tecidual
Questão É ca

CT Mesenquimais Caracterís cas


Específicas

iPS cells
MULTIPOTENTES
CÉLULAS-TRONCO ADULTAS
• Alguns exemplos de células-tronco adultas:

– Células-tronco hematopoiéticas: Origina todos os tipos de células do sangue;

– Células-tronco mesenquimais ou células-tronco do estroma da medula óssea:


Origina diversos tipos celulares – osteoblastos, condrócitos, adipócitos e outras
células do tecido conjuntivo;

– Células-tronco epidérmicas: Células presentes na lâmina basal da epiderme e na


base dos folículos. Originam, respectivamente, queratinócitos e folículos
capilares;

– Células-tronco neurais: Origina neurônios, astrócitos e oligodendrócitos;

– Células-tronco epiteliais: Localizadas nas cristas profundas do revestimento do


trato digestivo, originam células absortivas, glandulares, de Paneth e
enteroendócrinas;
COMPROMETIMENTO DAS CÉLULAS-TRONCO

Células-tronco multipotentes

Células progenitoras intermediárias Alteração da
(células de amplificação transiente) expressão gênica


População de células específicas

Mecanismo envolvido: ativação e inativação de genes (Fatores de transcrição)


Fator de transcrição Sequência reconhecida
Myc e Max CACGTG
Fos e Jun TGACTCA
TR (receptor do hormônio da tireóide) GTGTCAAAGGTCA
MyoD CAACTGAC
RAR (receptor do ácido retinóico) ACGTCATGACCT
COMPROMETIMENTO DAS CÉLULAS-TRONCO
MANUTENÇÃO DA PLURIPOTÊNCIA

• Fatores de transcrição de organização espontânea:


– Oct3/4, Sox2, Nanog

• Mecanismos epigenéticos:

Células-tronco Células diferenciadas


Cromatina + relaxada Baixa expressão gênica
(regulação rápida) (genes de pluripotência)
Associação hiperdinâmica de
proteínas da cromatina
Proteínas Policomb (PcG)
(modificação das histonas)
MANUTENÇÃO DA PLURIPOTÊNCIA
(doi: 10.1016/j.ceb.2010.02.001)
ORGANIZAÇÃO DA HETEROCROMATINA
RENOVAÇÃO DAS CÉLULAS-TRONCO
• Divisão celular assimétrica:
– Segregação diferenciada dos componentes celulares;
– Polaridade da célula (mecanismos intrínsecos / receptores transmembranas);
RENOVAÇÃO DAS CÉLULAS-TRONCO
Nicho das células-tronco:
– Microambiente que controla a autorrenovação e a manutenção das células-tronco
(evita depletação e superprodução);
– Sinalização extrínseca (interação com a matriz extralular): Importância das
Caderinas E e Cateninas 

Células-tronco hematopoiéticas:
Células que não estão em contato com
osteoblastos se diferenciam
CÉLULAS DIFERENCIADAS X CÉLULAS-TRONCO

• Células normais quando cultivadas fora do organismo podem se


dividir um número limitado de vezes, quando colocadas sob
condições ótimas de crescimento, mas depois a divisão celular
cessa e as células tornam-se quiescentes;

• Células-tronco podem se dividir infinitamente fora do corpo


(células eternas);

• Qual o segredo destas células?


– Secreção de uma alta quantidade de telomerase
FONTE: Martino, D´Angelo et al. (doi: 10.1016/j.biotechadv.2011.06.015)
CÉLULAS-TRONCO: UM POUCO DE HISTÓRIA
• Martin Evans e Matt Kaufmann (1980) Cultivo da
primeira linhagem de células-tronco embrionárias de
camundongo.

Evans MJ, Kaufman MH. Establishment in culture of pluripotential cells from mouse embryos.
Nature. 1981 Jul 9;292(5819):154-6.
MEF  LIF (fator inibidor leucemia)

célula-tronco embrionária
Parte 2: Como as CT estão sendo usadas?
PLASTICIDADE DAS CÉLULAS-TRONCO
• Plasticidade: potencial de formação de diferentes tipos de células maduras

• Importância da Plasticidade: possibilidade de administrar as células-tronco


visando ao reparo ou regeneração de lesões em tecidos específicos

• Método de estudo: Administração de células-tronco com um marcador


– Principais marcadores:
Proteína verde fluorescente (GFP)
Betagalactosidade bacteriana (vetor viral ou plasmídio)
Cromossomo Y

• O verdadeiro grau de plasticidade das CT adultas ainda permanece


desconhecido
Células-Tronco Hematopoiéticas
(CTH)
CÉLULAS-TRONCO HEMATOPOIÉTICAS

• Células-tronco hematopoiéticas:
– Foi a primeira a ser descrita;
– É a melhor compreendida;
– É a mais aplicada em protocolos clínicos;
– Fácil acesso: sangue periférico
medula óssea
sangue do cordão umbilical
Conceito de célula-tronco (reconstituição do sistema hematopoiético de
camundongos letalmente irradiados após transplante de células da medula
óssea de camundongos singênicos normais).
Autorrenovação
Capacidade de gerar células diferenciadas

OBS: transplante singênico ocorre entre irmãos gêmeos


Multipotência: (i) Regeneração
hematopoiética de animais irradiados
letalmente ou (ii) cultivo das células em
meio semi-sólido

Autorrenovação: Experimento de
transferência seqüencial para receptores
secundários (Fig. 4.2)
CÉLULAS-TRONCO HEMATOPOIÉTICAS

• Características das células hematopoiéticas:


– Tempo de vida relativamente curto;
– Multiplicidade de tipos celulares;
– Grande dispersão no organismo;
– Níveis de células = Limite estreito / Resposta rápida

• Principais linhagens de células sanguíneas:


– Linhagem linfóide: linfócito B
linfócito T
células NK
– Linhagem mielóide: eritrócitos
megacariócitos  plaquetas
monócitos / macrófagos
granulócitos (neutrófilos, eosinófilos e basófilos)
PROCESSO DE DIFERENCIAÇÃO
• Perda progressiva da capacidade de autorrenovação;
• Restrição a determinada linhagem;
• Amplificação ( nº de células maduras) em estágios mais tardios;
OBS: Células comprometidas com o processo de diferenciação
não podem revertê-lo ou paralisá-lo

• Controle do ciclo celular:


– Célula-tronco: estado quiescente
– População progenitora imatura: ciclo ativo (expansão)
– Células diferenciadas: bloqueadas Go/G1 (expressão gênica)
PROCESSO DE DIFERENCIAÇÃO
• Fatores envolvidos na indução da proliferação e diferenciação:
– Eritropoetina (EPO)
– Fator estimulador de colônias de granulócitos (G-CSF)
– Fator estimulador de colônias de granulócitos e monócitos (GM-CSF)
– Trombopoetina (TPO)
OBS: São fatores de crescimento de linhagens especificas

• Outros:
– Fator de células-tronco (SCF)
– Ligante do receptor Flt3/Flt2 (FL)
– Interleucinas 1, 3 e 6 (IL1, IL3 e IL6)
OBS: São estimulantes da proliferação de CT e células progenitoras
FONTE DE COLETA DE CTH
• Medula óssea

• Sangue periférico

• Sangue de cordão umbilical


– Rico em subpopulações de células progenitoras imaturas
– Maior capacidade de proliferação, replaqueamento e expansão
– Maior eficiência de clonagem
– Disponibilidade e menor ocorrência de GCHD*

• Aplicações clínicas da CTH:


– Leucemias, linfomas e mielomas
– Anemia aplásica
– Betatalassemia
– Leucodistrofias
– Lúpus eritematoso sistêmico
– Erros inatos do metabolismo (síndrome de Hunter e de Lesch-Nyhan)
– Terapia gênica (veículo de genes terapêuticos)
FONTE DE COLETA DE CTH
• Um problema...
Doença do enxerto contra hospedeiro (GVHD): Deriva da atividade dos
linfócitos T do doador contra as células dendríticas do receptor
Células-Tronco Mesenquimais
(CTM)
CÉLULAS-TRONCO MESENQUIMAIS

• Introdução:
• CTM são uma população rara de células multipotenciais presentes na MO
• Tem como característica serem capazes de se diferenciar em diversas linhagens
celulares:
• Condrócitos, osteócitos, adipócitos, tenócitos, células do tecido nervoso e hepático

• Função fisiológica: Suporte da hematopoese

• Foram identificadas por Friedenstein e colaboradores em 1966 - células


formadoras de colônias fibroblásticas (CFU-F)
OCORRÊNCIA UNIVERSAL DAS CTMs
MORFOLOGIA FIBROBLASTÓIDE

Fibroblasto em Cultura
MECANISMO DE AÇÃO DAS CTM
O potencial angiogênico e
imunomodulador pode favorecer
o aparecimento de tumores?
Células-Tronco Pluripotentes Induzidas
(iPS Cells)
CÉLULAS-TRONCO PLURIPOTENTES INDUZIDAS

Contexto histórico:
– CTE podem ser usadas no tratamento de doenças (Parkinson, lesão medular, diabetes)
– Problemas éticos (uso de embriões)
– Possibilidade de rejeição do tecido após o transplante no hospedeiro


Como contornar esses problemas?
– Gerando células pluripotentes a partir das células do próprio paciente


Reprogramação de células somáticas:
– Transferência nuclear (Wilmut et al., 1997)
– Fusão com células tronco embrionárias (Tada et al., 2001; Cowan et al., 2005)
– Ovócitos e CTE contêm fatores que conferem a totipotência (pluripotência) em células
somáticas.
RESULTADOS:
Não havia formação de colônias
G418-resistentes com a remoção de
Oct3/4 (14) ou Klf4 (20).
A re rada de Sox2 (15) resultou na
formação de poucas colônias.
Colônias formadas após a re rada
de c-Myc (22) não nham
morfologia semelhante a CTE.

CONCLUSÃO:
Oct3/4, Klf4, Sox2 e c-Myc têm um
papel importante na geração de
células iPS
mesoderme endoderme ectoderme
CÉLULAS-TRONCO PLURIPOTENTES INDUZIDAS
Como o processo ocorre?

1. Oct4, Sox2 e Nanog formam


um circuito autorregulatório
interconectado;

2. Atuam nos seus próprios


promotores (e nos outros
também) – são capazes de
manter suas expressões;
SUPRESSÃO E ATIVAÇÃO...
PROCESSO RANDÔMICO OU EVENTOS
ESPECÍFICOS EM SEQUÊNCIA?

 (DOWNREGULATION)

 (UPREGULATION)

 (UPREGULATION)

 (REATIVAÇÃO)

AP = Fosfatase alcalina
Fbx15 = Proteína box15
SSEA1 = Antígeno embrionario específico do estágio 1
MODELO DOS DOIS ESTÁGIOS
Conclusões
APLICAÇÃO CLÍNICA DAS CÉLULAS-TRONCO

• Medicina regenerativa:
– Área promissora da pesquisa com células-tronco.

• Transplante terapêutico de células-tronco:


– Transplante de órgãos (rim, coração, pulmão, fígado, pele e córnea);
– Oferta de órgãos para transplante é menor do que a demanda;
– A terapia celular tem sido defendida como uma alternativa terapêutica
promissora para o transplante de órgãos no futuro.

• Pré-requisito:
– Evidências de que elas são de seguras;
– Disponibilidade das células em quantidades suficientes para tratar os pacientes;
– Disponibilidade das células para tratamentos repetidos no caso delas perderem
a função ao longo do tempo (ex: lenta rejeição pelo sistema imunológico);
– Os custos para o sistema de saúde deve ser sustentável.
Prof. Dr. Ricardo Ribeiro (FIOCRUZ - BA)
Novas Tecnologias (Terapia Celular)

Jean Marco, Paris 2002

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