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O PENSAMENTO DE PAULO FREIRE: CONTRIBUIÇÕES NA ELABORAÇÃO DE

UM CURRÍCULO PARA O TERRITÓRIO MARANHENSE

Audileia da Conceição Quaresma Rego ¹


Daliana Lima Ferreira ¹
Gizele Santos Silva ¹
Sebastião Mouzinho Filho ¹
Taís de Almeida Lopes ¹
Thaissa Garcia Silva Matos 1

Resumo

O presente artigo tem por objetivo apresentar as principais proposições de Paulo


Freire e suas contribuições para a construção da teoria curricular crítica para o
território maranhense. Partimos de uma sucinta apresentação do contexto histórico
no qual se deu base para a formulação dos seus inscritos e desenvolvimento do seu
pensamento em torno da educação, seguido de uma contextualização de alguns dos
seus conceitos presentes em suas obras para descrever como os sistemas de ensino
atuam como agentes de dominação. Apresentamos os elementos que configuram
essa proposta educacional libertadora e a dialogicidade como categorias para a
construção do currículo crítico emancipatório.

Palavras-Chave: Currículo; Paulo Freire; Pedagogia do Oprimido; Pedagogia da


Liberdade;

Introdução

A educação é um instrumento essencial para a compreensão e construção da


cidadania e, sendo assim, a educação visa o desenvolvimento integral do ser
humano, que não é resultado de um ingênuo otimismo pedagógico. Freire em sua
obra Pedagogia do Oprimido proporciona a grande guinada na concepção de
educação ao fazer do "oprimido" um inusitado ator político detentor de um
revolucionário método pedagógico. Suas obras perpassam por diversos temas, dentre
eles o desenvolvimento de uma teorização sobre o currículo, constituindo uma ampla
compreensão e reflexão sobre a educação.

1
Graduandos em Pedagogia pela Universidade Federal do Maranhão - UFMA. São Luís/Ma -
Disciplina de Currículo
Dessa forma, o presente artigo apresenta, em parte, o cerne pensamento de
Paulo Freire e suas contribuições para elaboração de um referencial curricular para o
território maranhense.
Estando dividido em 5 partes centrais, mas não desconexas, o artigo inicia
contemplando o contexto histórico do autor e como os acontecimentos de sua época
influenciaram na sua composição teórica.
Em um segundo e terceiro momento será explanado alguns dos conceitos
elementares da teoria freireana. Paulo Freire utiliza vários conceitos: educação
bancária, dialogicidade, ação conscientizadora e problematizadora, valorização da
cultura na elaboração de uma práxis libertadora.
A quarta parte contempla o pensamento de Freire sobre a educação como
prática libertadora. O educador afirma que a educação libertadora é o caminho para
a conscientização política do povo, em nome da emancipação social, cultural e
política das classes sociais excluídas e oprimidas.
No quinto momento, contextualizamos o estado do Maranhão - cheio de
diversidade cultural, mas com graves demandas na educação - para discutirmos as
contribuições freirianas para a elaboração de uma proposta curricular com o intuito
de evidenciar e trabalhar o método freiriano dentro das escolas maranhense,
utilizaremos como direção o pensamento crítico de Paulo Freire para a elaboração
desse referencial curricular.

Os elementos da trajetória de Paulo Freire para sua estruturação teórica

Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997) foi um dos mais importantes


pedagogos brasileiro, reconhecido mundialmente pelo seu método de ensino
inovador, mas esse reconhecimento não foi apenas breve e póstumo, por ter uma
visão inteiramente contra o ensino tradicional, com sua pedagogia emancipadora
desperta críticas a extrema direita no Brasil, por esse motivo, durante a década de 60
em meio a ditadura militar foi exilado do país para o Chile, mas continuamente
manteve seus estudos e levou suas concepções ao redor do mundo, em 1980, em
sua volta ao país, lecionou na Universidade Federal de São Paulo, contribuindo na
produção e repercussão de suas obras. Paulo Freire é considerado Patrono da
Educação Brasileira desde o ano de 2012, reconhecido como filósofo e educador,
destinou-se à alfabetização e educação da população mais vulnerável.
É de imprescindível importância abordar suas principais ideias e conceitos
dentro das suas grandes obras que originaram-se significativas contribuições para
alfabetização, currículo, educação libertadora, relação professor e aluno. Diante
dessas ideias há ainda métodos de ensino que deixam claro que a educação é uma
ferramenta essencial para a transformação da sociedade. “Paulo Freire, pensou que
um método de educação construído em cima de uma ideia de um diálogo entre
educador e educando, onde há sempre partes de cada um no outro, não poderia
começar com o educador trazendo pronto, no seu mundo, do seu saber, o seu método
e material da fala dele.” (BRANDÃO, 2003). Por esse motivo, entrando em seu
conceito de alfabetização, para Freire, de maneira abrangente o processo de
alfabetização deveria fazer parte da realidade e cultura dos alunos. Ao citar cultura,
educação libertadora e relação professor e aluno os autores DAN-CIN; Daniela; DA
ROSA, Luciane; SCHWENGBER, Ivan comentam (2021):

“A dimensão humanista do método de Freire é a cultura, como aquisição


sistemática da experiência humana. Freire (1967) também comenta a
dimensão da democratização da cultura, apontando então a cultura como
uma dos temas gerados para este método de educação como prática de
liberdade” É a partir desse momento que o analfabeto inicia seu processo de
mudança de suas atitudes interiores, descobrindo-se como fazedor desse
mundo da cultura.”

Ressaltamos que Freire (1967) não traz conceitos concretos sobre o que é o
currículo, mas aborda firmemente suas perspectivas que vai da teoria à prática para
repensarmos em como esse currículo deveria e deve ser, principalmente a crítica
sobre a “educação bancária” em que o professor deposita seus conhecimentos em
receptores que se tornam repetidores para que estes não desenvolvam um
pensamento crítico reflexivo, propondo a concepção de autonomia, tornando os
alunos ativos em seu processo de ensino-aprendizagem.

É por esse motivo que Freire (1967) expressa seu descontentamento nas
cartilhas, em métodos prontos e preparados, que não focam no cultural dos alunos,
principalmente na dos analfabetos. É necessário, no entanto, aproximar-se ao
máximo da linguagem e da cultura desses sujeitos. À vista disso, a cultura é um dos
maiores temas geradores que leva à elaboração de um currículo humanizado,
adequado direcionado a esses homens e mulheres que estão a procura de um
momento mudança, tanto em suas vidas e vida quanto em seu meio.
Fundamentação teórica de Paulo freire e suas implicações no currículo

Com todos esses fatores demonstrados até então, surge no final da década
de 70, nos Estados Unidos a necessidade de se compreender outras questões acerca
do currículo, com o movimento de "reconceptualização do currículo", originado na
rejeição do caráter prescritivo e no reconhecimento do caráter político do pensamento
e da prática curricular. Portanto, mesmo passando pela escola, existia a reprodução
de uma desigualdade de classe social, e a educação funcionava como instrumento
de reprodução. Nesse contexto, as discussões no campo do currículo, se tornaram
cada vez mais aprofundadas e ampliadas, superando a concepção restrita e
fragmentada, assim tornando o currículo como um instrumento de ação política e
pedagógica.

Essa perspectiva curricular é fruto de várias contribuições da teoria crítica,


Freire critica o capitalismo, e coloca a educação problematizadora como uma
resposta à concepção bancária, abordando a dialogicidade para tratarmos das
questões sobre o currículo crítico-emancipatório. Estudiosos como Henry Giroux e
Michael Apple, influenciados pela teoria social europeia, pela psicanálise, pela nova
sociologia da educação e pela pedagogia de Paulo Freire criticaram a abordagem
técnica do currículo na época e desenvolveram “[...] uma análise de forte cunho
sociológico” procurando “mostrar como as formas de seleção, organização e
distribuição do conhecimento escolar favorecem a opressão da classe e grupos
subordinados” (Santos; Moreira, 1995, p. 50).

Para tantos teóricos da educação, Paulo Freire em sua proposta pedagógica e


humanista estende-se em uma atitude visionária de uma educação libertadora, cujo
foco direciona tal proposta pedagógica uma ampla compreensão e reflexão da
educação, longe uma alfabetização mecânica e neutra. Sua proposta vai ao encontro
de uma orientação curricular voltada para uma educação bancária, um homem-objeto,
uma realidade neutra e uma não hierarquização da cultura. Menezes e Santiago
(2014) referindo-se ao currículo, aponta que as teorias tradicionais curriculares têm
por compreensão fazer dos estudantes um mero depósito, que serão preenchidos por
conteúdos que os professores irão depositar em suas mentes. Através da educação
problematizadora de Freire, traz uma resposta à concepção bancária que ele
criticava, seu foco não estava direcionado em dizer como é a pedagogia, mas como
ela deve ser como “[...] um processo pelo qual o educador convida os educandos a
reconhecer e desvelar a realidade criticamente” (Freire,1985, p. 125).

Diálogo: Princípio e fundamentos da valorização da cultura

De fato, Paulo Freire preocupava-se com uma educação significativa e


repensada, criando uma pedagogia moderna, uma educação para decisão e com
caráter político e social (FREIRE,1991). Dessa forma, Freire pressupõe uma
pedagogia dialógica entre A e B, para Freire, o conhecimento e a comunicação fazem
parte da educação, por isso o diálogo é um ponto fundamental que é definido como
um processo educacional.( OLIVEIRA, 2017). Considerando os ensinamentos dados
por Freire, a educação tem que ser transformadora, levando os sujeitos a serem mais
críticos e portanto faz do homem um ser cognoscente, para Pereira e Sartori(2020) a
respeito do livro “pedagogia do oprimido” de Paulo Freire em relação à educação eles
descrevem que:

Dessa forma, o livro de Freire possui um caráter revelador de uma proposta


que atenda, especialmente, as camadas populares, para que se constituam
como sujeitos e agentes de seu próprio processo de construção de
conhecimento, tendo sucesso editorial em vários países do mundo. Isso se
deve à importância do educador Paulo Freire como mobilizador da
transformação da realidade social, política, econômica, cultural e
educacional.( PEREIRA;SARTORI,p.645, 2020)

Evidenciamos que a educação tem o poder de transformação, além de ser


humanizadora que possibilita o ser humano a ser um sujeito ativo, fazendo do homem
o sujeito de sua própria aprendizagem. Tendo a capacidade de produzir a sua própria
história e livre de uma prática de opressão antidialógica, e assim, confirmamos que
os métodos de opressão em certa forma não podem em um sentido contraditório a
servir o oprimido ( FREIRE,2002). A concepção freiriana de educação, na qual o
currículo, está articulado para possibilitar a humanização e a libertação dos sujeitos,
contribuindo na orientação das políticas curriculares, construindo um horizonte de
possibilidades para a emancipação humana a serviço da transformação social.
Ademais, Schmied- Kowarzik (1988), a educação não pode ser concebida utilizando
o educador como apenas um transmissor e ditador com suas verbalizações
reacionárias e controladoras, isto é , a educação não pode ser manipuladora, pois a
manipulação é reacionária, mesmo que esteja em disfarçadamente em um socialismo
para uma sociedade melhor.

Podemos dizer que a teoria freiriana tem um caráter propriamente pedagógico


e que não se limita a uma pedagogia já existente, mas propriamente uma modificação
como ele realmente deve ser (SILVA,2002). Além disso, fundamenta-se um currículo
com pressupostos voltados a teorias críticas, um currículo reflexivo e transformador,
enfatiza-se essa questão da teoria crítica como:

As teorias críticas desconfiam do status quo, responsabilizando-o pelas


desigualdades e injustiças sociais . As teorias tradicionais eram teorias de
aceitação, ajuste e adaptação. As teorias críticas são teorias de
desconfiança, questionamentos e transformação radical. Para as teorias
críticas o importante não é desenvolver técnicas de como fazer o currículo,
mas desenvolver conceitos que nos permitam compreender o que o currículo
faz. ( SILVA, p.30, 2002)

Os pensamentos de Freire refletem uma visão mais ampla do currículo, não se


resumindo apenas à dimensão do saber. Segundo Freire, o currículo reflete a
ideologia de uma sociedade presente nas ações e nas ideias de todos os envolvidos
no processo educativo. Em Pedagogia do oprimido Freire coloca o diálogo como
pedagogia em prática, pois para que ocorra uma educação transformadora é
necessário que haja o diálogo, pois através dele que podemos encontrar a
problematização, que leva o educando a refletir e ter uma visão crítica para que se
venha uma ação.
A práxis para Freire, é a ação transformadora no mundo e no mundo. O diálogo
é a condição de existir humanamente; com ele, os seres humanos se socializaram,
refletem e agem juntos como sujeitos no mundo que querem transformar, humanizar,
favorecendo o pensar crítico-problematizador das condições existenciais e implicando
uma práxis social na qual ação e reflexão estão dialeticamente constituídas. Na
prática dialógica, Freire ressalta que a atitude de escuta é tão importante quanto a
fala, pois o sujeito que escuta sabe que o que tem a dizer tem valor semelhante à fala
dos outros. Para Freire, o papel da escola não se restringe a ensinar conteúdos
disciplinares, mas deve também desmistificar a realidade para provocar a ação
consciente. Daí a importância da escolha dos conteúdos programáticos na elaboração
do currículo, a organização curricular deve está fundamentada nas relações da vida
cotidiana dos alunos, é por isso que o pensamento de Freire, o ser humano é um
produtor de cultura e é um construtor de conhecimento.
Nessa direção, que Freire (2008) ressalta a importância do estudo da cultura
do ser humano como conteúdo programático da educação, uma vez que possibilita a
homens e mulheres distinguirem os dois mundos – o da natureza e o da cultura – e,
assim, perceberem o seu papel ativo na sociedade e com a realidade. Faz-se
necessário respeitar a cultura diferente, a fim de o diálogo enriquecedor entre as
diversas expressões culturais ser estabelecido. Ressalta-se a importância da prática
dialógica, a valorização da cultura do educando como construtor da elaboração,
formulação e organização em uma perspectiva, segundo Freire libertadora.

Teoria freiriana como prática da liberdade

Mediante ao cenário econômico, político e social vivido por Paulo Freire na


década de 60, durante a ditadura militar, no período em que a obra ‘Educação Como
Prática da Liberdade’ foi escrita, o mesmo estava em exílio forçado no Chile. O livro
tem como principal objetivo alcançar a educação que liberta os seres humanos de
sua condição de oprimido, inserindo-o na sociedade como força crítica, politizada e
transformadora e responsáveis por todos aqueles que a integram.

A educação no método freiriano considera-se uma educação libertadora e


possui como objetivo uma alfabetização democrática, crítica e dialógica. Paulo em
suas obras estabelece que a alfabetização é uma tomada de consciência, trabalha
tais pensamentos dentro da concepção de condição humana, ou seja, depende de
onde nasce, do acesso, das reflexões, das pessoas que o cercam,e como tais fatores
causam um impacto no ser humano que está sendo construído. “Uma pedagogia da
liberdade pode ajudar uma política popular, pois a conscientização significa uma
abertura à compreensão das estruturas sociais como modos da dominação e da
violência” ( FREIRE, P. 16, 1991). Como já citado anteriormente, uma característica
importante dentro da prática libertadora é o diálogo, pois este é um método ativo,
dialogal, crítico e criticizador. Conforme Freire (1967), o diálogo é uma relação
horizontal entre A e B. Este processo promove uma relação entre os sujeitos,
desenvolvendo assim uma simpatia entre os envolvidos.

Assim, o diálogo possui grande importância como parte de um currículo


humanizado como afirma Menezes e Santiago (2014). Levando em consideração tal
afirmativa o currículo torna-se integrador, pois o educador dialoga diretamente com o
analfabeto sobre as situações que estão visíveis e fazem parte de seu cotidiano,
produzindo assim instrumentos que auxiliam neste processo de alfabetização. “ Por
isso, a alfabetização não pode ser feita de cima para baixo, como uma doação ou
uma imposição, mas de dentro para fora, pelo próprio analfabeto, apenas com a
colaboração do educador” (FREIRE, p. 111, 1991).

Partindo da premissa que a estruturação do currículo tem como base o diálogo,


para Freire, também em seu currículo há a entrada da cultura, pois promove assim
um currículo integrado, humanista e de libertação. Freire afirma que a cultura é ponto
chave para o início da mudança de atitudes, pois o sujeito se percebe criticamente
como agente da cultura.

Dal-Cin, Rosa, Schwengber (2016) comentam que “para formular um currículo


humanizado é preciso reconhecer os homens e as mulheres como parte pertencente
ao currículo, não se construindo para eles e sim com eles”. Um currículo não pode
fugir da realidade de quem será atingido por ele, por isso o diálogo entre educadores
e educandos é um instrumento essencial para a realização de um currículo que
possibilite a libertação de todos.

Por todos estes motivos citados anteriormente neste artigo, Freire (1967)
comenta a sua descrença nas cartilhas, métodos prontos, que não servem para os
analfabetos visto que não fazem parte de seu meio de cultura. É necessário que haja
essa aproximação da linguagem e da cultura destes indivíduos, e que isto seja visível
no currículo, para que então este processo de alfabetização esteja e seja
concretizado.

As contribuições da teoria de Paulo Freire na constituição do Currículo - um


estudo exploratório das experiências de estágio na educação infantil na ilha de
São Luís - MA.
Com o objetivo de investigar a influência das contribuições Freirianas dentro do
ambiente escolar, tanto na elaboração do Currículo Formal quanto no
desenvolvimento do Currículo Real, foram feitos aprofundamentos através do estudo
de campo com abordagem qualitativa, de natureza descritiva e exploratória, onde
foram utilizados a entrevista e o questionário como instrumentos de pesquisa. O
levantamento foi realizado com 06 estagiárias auxiliares das professoras regentes,
que serão identificadas no texto como A1, A2, e assim sucessivamente. A
intencionalidade é a de verificar, sob o olhar das mesmas, se durante suas
experiências de estágios puderam perceber a aplicação das concepções e
metodologias Freirianas nas práticas pedagógicas e na elaboração do planejamento
de aula, nas diversas escolas de São Luís, tendo em vista que este se encontra à
disposição das mesmas. Suas contribuições e apontamentos serão discutidos e
apresentados no decorrer do texto que visa apresentar tanto o olhar das estudantes
universitárias que estão no campo de experiência da educação infantil, quanto os
fundamentos teóricos de Paulo Freire(2018), e suas importantes intervenções ao
pensar o currículo.

Sobre a realidade da Educação Tradicional e a Concepção de Educação


Bancária, criticada por Freire em suas obras, é possível afirmar que ainda é muito
presente nas instituições de ensino o desenvolvimento de práticas mecânicas e
reprodutoras de conhecimentos, do antigo modelo de A para B, práticas enraizadas
nas mentes de muitos educadores, que ao seguir essa linha de pensamento,
desenvolvem para as crianças propostas de ensino, planos de aula, práticas e
metodologias que se preocupam em atingir os objetivos do educador-bancário.
Segundo Silva(2010), o currículo é tanto uma questão de identidade quanto uma
questão de poder, onde cada grupo com sua ideologia e seus interesses buscam
formar um tipo de sociedade, um tipo de ser humano. Por essa razão, surge a
necessidade de todos os educadores e participantes do desenvolvimento curricular,
seja do Plano Político Pedagógico (PPP), seja do plano de aula, ou até das práticas
docentes, serem conscientes de qual ideologia política-educacional seguir.

Neste sentido, ao ser questionada sobre a educação tradicional e a presença


dos métodos de Freire no Currículo real, revelado nas práticas docentes, a
universitária/estagiária A1 enfatizou que atualmente, as atividades que exigem a
participação ativa dos educandos estão mais presentes nas escolas e que pela
influência de Freire se busca muito mais agora o desenvolvimento da autonomia, da
liberdade centrada na emancipação dos alunos. Porém é importante ressaltar,
segundo a mesma, que nem todos os professores adotam sua proposta de educação,
nem estão abertos a ouvir a criança, como o teórico propõe, revelando em sua fala,
que o currículo real é construído por cada educador individualmente, de acordo com
suas perspectivas e sua ideologia como já foi falado, apesar de tudo ela deixa claro,
que muitos professores durante suas experiências de estágios, desenvolvem planos
de aula que revelam alguns dos princípios Freirianos.

Outro registro importante realizado em entrevista com a estagiária A2, sobre a


aplicação dos métodos de Freire na elaboração das propostas de atividades no plano
aula, sinalizou que durante suas experiências de estágio pôde perceber muitas
práticas que lembrava o método das aulas dialogadas, onde as crianças eram
participativas e suas colocações valorizadas, as rodas de diálogo eram feitas
constantemente e o assunto era contextualizado e adaptado para a realidade dos
indivíduos. O diálogo é uma metodologia fundamental que segundo Freire(2018), é a
essência da educação como prática de liberdade, o que a torna de imediato oponente
do ‘educador-bancário’ “que na sua antidialogicidade a pergunta, obviamente, não é
a propósito do conteúdo do diálogo, que para ele não existe, mas a respeito do
programa sobre o qual dissertará a seus alunos. E a esta pergunta ele mesmo
responderá, organizando o seu programa”. (FREIRE, 2018 p.116).

Não se pode omitir a realidade de um contexto onde em vários momentos no


ambiente escolar a voz, as perguntas e as dúvidas das crianças são silenciadas como
um meio de formar o “Bom Homem”, nas palavras de Freire(2018), o bom aluno que
está em silêncio e não tem nenhuma dúvida e colocação para apresentar, são fatos
que ainda precisam ser superados através da prática reflexiva de cada educador(a),
ou melhor, através da “práxis autêntica” que é, na visão freiriana, reflexão e ação dos
homens sobre o mundo para transformá-lo.

Outra resposta ao questionamento quanto à abordagem e valorização da cultura


popular, apresentou a entrevistada A3, ao comentar sobre a experiência que teve, em
uma das escolas de São Luís na qual passou cerca de 1 ano, onde pôde observar o
quanto a cultura maranhense era trazida para a sala de aula e explanada sobre o
contexto histórico de São Luís do Maranhão. A estagiária informou que estas
exposições não ocorriam apenas nas datas comemorativas, eram desenvolvidas
cotidianamente de acordo com atividades que abordavam algo a respeito da cidade.
A adaptação era um instrumento valioso nesse processo, a abordagem para a
realidade dos alunos ludovicenses faziam a total diferença nas aulas. Todos estes
aspectos tratados pela entrevistada A3, faz uma retomada às contribuições trazidas
por Freire, ao tratar sobre a importância da cultura popular abordada como conteúdo
no currículo e a valorização da cultura local tanto defendida pelo mesmo.

Em conversa com as estagiárias A4 e A5, foi levantado o debate sobre o método


de alfabetização que segundo Freire(2018 p. 136), parte de “alfabetização direta e
realmente ligada à democracia da cultura [...], onde o homem não apenas estar no
mundo, mas com ele e ao decorrer pelos atos da criação e recriação vai se
relacionando com a realidade e na realidade, que resulta o conhecimento que
expressa a linguagem”. Para o teórico, ensinar a ler e escrever não era tão simplório,
ou tão ingênuo quanto alguns pensavam ser, para Freire, era um ato de emancipação
do “ser mais”, que é o homem libertando-se. A proposição “Eva viu a uva”, era uma
forma cansativa e de cunho puramente mecânico, não fazia parte de sua metodologia.
Para Freire, o indivíduo deveria ter contato com sua realidade através de palavras
geradoras que despertariam nele um forte interesse pela busca da palavra que lhe
era tão familiar. Para a execução desse método Freire(2018 p.147), dividiu em etapas,
a saber: 1. Levantamento do universo vocabular dos grupos; 2. Escolhas das
palavras; 3. Criação de situações típicas do grupo; 4. Elaboração de fichas-roteiro;5.
Elaboração de fichas com a decomposição das famílias fonéticas correspondentes
aos vocábulos geradores.

Ao disponibilizar estas informações sobre o método de alfabetização, foi


questionado às participantes se as mesmas já presenciaram a aplicação do método
em alguma de suas experiências de estágio nas escolas de São Luís, e se alguma
professora utilizava essa metodologia dentro de sala de aula. A entrevistada A3 e A4
comentaram nunca terem visto a aplicação dessas etapas em suas experiências
auxiliando em turmas da educação infantil. Porém a entrevistada A5, felizmente,
mencionou ter participado do método em uma das salas do Infantil II, onde a
professora titular usava algumas palavras mais utilizadas pelas crianças, que faziam
parte do seu contexto, elaborasse fichas e desenvolvesse em roda de conversas a
decomposição das palavras. Por fim, a entrevistada A6, concluindo o diálogo, trouxe
uma importante reflexão ao argumentar que algumas professoras utilizam as
contribuições de Paulo Freire e nem sabem que estão utilizando, suscitando o que foi
levantado no início do trabalho, sobre a importância do educador ser consciente de
qual currículo vai desenvolver, qual posicionamento político e qual conceito
educacional revelar ao construir o plano de aula, as atividades, as práticas docentes,
pois, segundo Burbano Paredes(1997 p.175) ao citar Popkewitz expressa que “ o
currículo é um conhecimento particular, historicamente formado, sobre o modo como
as crianças tornam o mundo inteligível [...], aquilo que está escrito no currículo não é
apenas informação - a organização do conhecimento corporifica formas particulares
de agir, sentir, falar e ver o mundo e o eu”.

Desse modo, é possível concluir, após analisar algumas experiências de


estagiárias das escolas de São Luís, que Paulo Freire continua influenciando no
desenvolvimento das etapas curriculares em algumas escolas, e que muitas vezes,
essa influência é vista no currículo real, através das práticas docentes, dos
posicionamentos humanizadores das educadoras, e que de forma individual cada
professor(a) também tem sua forma de manifestar sua colocação em relação ao
currículo, alguns como educador-bancários e outros como educador-educandos, nas
palavras de Freire.

À vista disso, fundamento na concepção de Paulo Freire, evidenciamos pontos


chaves que podem colaborar para a construção de um referencial curricular para as
escolas maranhenses que visam enfrentar e superar parte dos problemas de fracasso
escolar presentes no sistema educacional de ensino. Nesse sentido, os
procedimentos metodológicos devem ser fundados na participação dos educandos,
na valorização da cultura do aluno, assim, a escola deve ser o acesso aos bens
culturais a todos os estudantes. Sobre essa proposta, as escolas podem contribuir
dando a todos os alunos acesso às obras culturais de autores maranhenses, visitas
a museus, teatros, dança, música e arte da cultura popular. Uma nova postura
docente implica a elaboração do currículo dialogado com a participação dos
educandos, visando o pensamento e participação crítica do aluno. Como já discorrido,
no processo de alfabetização o docente fizesse uso de palavras, trabalhasse a
oralidade e escrita com instrumentos que fazem parte do cotidiano do aluno, nada
que fosse distante do seu contexto.

Esperamos que essas medidas contribuam na elaboração de uma proposta


curricular para o território maranhense que verdadeiramente atenue a ausência dos
aspectos culturais e sociais e assim atuar para diminuir tais problemas.

Conclusão

Como resultado de tudo que já fora exposto, considera-se que o método de


Freire, serve como guia teórico para refletir e analisar as desigualdades presentes
na escola e na sociedade em geral. Compreende-se que suas proposições, mesmo
que não estejam diretamente ligadas ao currículo, são resultado de uma imposição
que contribui para a conservação das estruturas sociais, por isso a educação a
estrutura do currículo deve ser problematizada.

Apesar de limitadas as contribuições que explanamos até aqui, acreditamos


que essas mudanças nas práticas pedagógicas podem trazer como resultados a
transformação no currículo escolar maranhense em um instrumento de prática de
liberdade e emancipação dos oprimidos, ampliando o acesso à cultura, a consciência
crítica para a formação de sujeitos críticos que dialogam, problematizam e atuam
como indivíduos ativos na na realidade que estão inseridos.

Para tanto, Paulo Freire, se propõe a demonstrar, compreender, analisar,


explicar a escola como reprodutora dos sistemas sociais. Para ele, a educação tem
por finalidade o processo de transformar a sociedade, pois, na medida que o ato
educativo pode superar a prática de dominação e construir uma prática da
liberdade.

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