Literatura no ensino de historia: O exemplo de Lima Barreto

Juliana Batista Da Silva1

Resumo
Nosso objetivo nesse trabalho é trazer alguns aspectos do ensino de história, através do
uso da literatura, utilizando algumas obras de autores escolhidos para ensinar sobre
alguns períodos históricos vivenciados por eles, abordando os temas de gênero e raça
como transversais. Através de algumas leituras para que com isso pudéssemos de
acordo com cada uma irmos demarcando os nossos sujeitos e adquirir conhecimento
sobre ensino de história, bem como sobre os personagens escolhidos. Debruçar-nos-
emos sobre a República Velha, pesquisamos e separamos as fontes históricas, focando
em Lima Barreto, com a finalidade de ensinar a história a partir da trajetória de vida,
atuação política e a produção literária de autores negros e negros. Iremos desenvolver
esse projeto na escola Municipal Almerindo Alves em Eunápolis na Bahia com alunos
do 9° ano do componente de história, localizada numa região periférica da cidade,
Iniciado em outubro de 2019,ressaltamos que o projeto ainda não foi concluído.

Palavras-chave: lima Barreto. Literatura. Historia. Ensino.

Abstract

Our objective in this work is to bring some aspects of history teaching, through the use
of literature, using some works of authors chosen to teach about some historical periods
experienced by them, approaching the themes of gender and race as transversal.
Through some readings so that we could, according to each one, demarcate our subjects
and acquire knowledge about teaching history, as well as about the characters chosen.
We will look at the Old Republic, research and separate historical sources, focusing on
Lima Barreto, with the purpose of teaching history from the life trajectory, political
performance and literary production of black and black authors. We will develop this
project at the Municipal School Almerindo Alves in Eunápolis in Bahia with 9th grade
students from the history component, located in a peripheral region of the city, Started
in October 2019, we emphasize that the project has not yet been completed

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Graduando em Letras Vernáculas pela UNEB. E-mail: Sjulianasilva87@gmail.com
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Keywords: Lima Barreto. Literature. History. Teaching

Introdução

O projeto tem como objetivo elaborar uma proposta de ensino de história através de
personagens negros, suas produções e/ou biografias para uma turma de novo ano do
ensino fundamental. A escola escolhida foi Almerindo Alves em Eunápolis na Bahia,
uma escola que recebe alunos de Estágio e a professora regente faz parte do projeto
além de outro bolsista. Nosso objetivo era discutir raça, racismo e gênero através desses
personagens.
Discutimos alguns textos sobre gênero, raça, na perspectiva do movimento feminista
negro como Bell Hooks e Ângela Davis e em seguida também foi lido sobre alguns
marcos históricos da República.
Após algumas reuniões e discussões começamos a traçar o caminho pelo qual iríamos
percorrer para assim iniciar a produção da pesquisa, visando que a escolha dos
personagens a serem trabalhados tinha que estar de acordo com o contexto trabalhado
no nono ano e com os objetivos citados.
Assim que iniciado fomos diretamente à escola para a primeira visita, esse momento foi
necessário para ter o primeiro contato com local e com os alunos, pois assim saberíamos
onde e como era o lugar e quais eram as pessoas no qual iremos tratar diretamente no
decorrer desse ano, identificar os rostos, pois a escola fica localizada na periferia da
cidade e a maioria dos alunos que são negros, sabe o que é ter que lidar com os desafios
de após dia. O primeiro passo para dar início no desenvolver da pesquisa foi através de
uma atividade na qual a professora fez um levantamento de dados que posteriormente
usaríamos para traçar as escolhas das personalidades visando a identificação dos alunos
com essas pessoas de acordo com as vivências, descobertas e seus desafios,
experiências essas de vida que vai de encontro com as situações enfrentadas por esses
alunos. Nesse texto tratarei de alguns aspectos possíveis de serem trabalhados através de
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um dos personagens que escolhemos o Lima Barreto. Muitos autores mencionam a

importância de utilizar a literatura no ensino de história. Tendo por base o conhecimento
através da leitura do artigo da professora de historia da rede publica de ensino do estado
do Paraná Nair Sutil, na qual ela diz
Na construção do conhecimento histórico a literatura vem, cada vez mais,
ganhando importância como recurso potente para a discussão e
problematização de diversas questões relacionadas aos conteúdos da
disciplina de história. Nas últimas décadas, a literatura passou a integrar o
universo das fontes utilizadas pelos historiadores por oferecer possibilidades
de compreensão do universo cultural de determinada época ou contexto.

Nosso primeiro personagem

Optamos em começar então pela República velha, após pesquisas e separação de fontes,
foram feitas as biografias desses autores com o objetivo de serem trabalhadas em sala de
aula, sendo um desses Lima Barreto, separamos também contos do mesmo.
Lima Barreto foi um escritor e jornalista brasileiro, que com seus escritos foi o pioneiro
a inserir o racismo na literatura em um Brasil que tinha acabado de sair da escravidão.
Por isso alguns dos seus textos nos permite perceber o pós abolição. Lembrando que o
Brasil foi o último país a abolir a escravidão. Lima Barreto também foi um dos grandes
críticos da republica velha e denunciando os privilégios das famílias autocráticas e
militares, são algumas de suas grandes atuações na Primeira República. Através de seus
contos no qual ele usa da ficção para narrar os acontecimentos no qual ele havia vivido
e também retratar e expor as atrocidades e os atos no qual ele como negro e alguém que
resistiu cotidianamente contra o sistema de coronelismo, mandonismo e clientelismo
que imperava na época. Era algo que incomodava não só a ele, mas a grande parte da
sociedade causando diversas revoltas por diversos motivos dentre eles a desigualdade
social e pobreza a violência policial o medo e o fanatismo religioso. Dentre algumas
revoltas do período temos a revolta da vacina e a revolta da chibata, que também são
alguns dos possíveis temas a serem introduzidos na sala de aula através dos seus textos.
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Afonso Henrique de Lima Barreto, o escritor e jornalista possuem diversas obras

literárias que permitem tratar sobre raça e racismo. Além disso, a escolha dele ocorreu
porque no anterior a turma já havia lido triste fim de Policarpo Quaresma, livro de
autoria do ator citado. Assim esse autor foi inserido na pesquisa, por ser alguém que os
alunos já possuíam conhecimento e havia gostado do tipo de leitura. Um romance que
se passa no período da republica cheio de sátira e crítica do atual Brasil daquele
momento, trata do nacionalismo e patriotismo do personagem principal que é o
Policarpo Quaresma, em forma de humor ele apresenta ao seu leitor o sonho do Brasil
ideal. Naquele momento o presidente era Marechal Floriano Peixoto e sua sociedade
burguesa no qual se importava apenas com as questões de seus interesses, mostrando
seu descontentamento atual situação em que se encontrava o país, sua primeira
publicação em 1911 em forma de folhetim e logo depois em 1915 publicado em forma
de livro, Policarpo era um rapaz que causava estranheza nas pessoas devida os seus
ideais e a sua coragem.
Iniciamos a construção da biografia de Lima Barreto a partir da leitura da biografia
Triste Visionário produzida por Lilia Schwartz no qual ela descreve com propriedade
quem foi ele e sua história. Foi possível a retirada de elementos para compor uma
pequena biografia, mais simplificada, de tamanho reduzido, que será aplicada na sala de
aula afim de que os alunos aprendam alguns acontecimentos do período, como a
vivência no pós abolição e queda se identificassem aos poucos com a história e com o
Lima Barreto.
Lima Barreto tratava sobre raça e fazia também com propriedades algumas críticas ao
feminismo da época que se apresentava de maneira classicista pela elite branca, como
foi possível observar apos efetuar a finalização da leitura da dissertação de Maria
Sandra da Gama, que contribuiu para um olhar diferenciado a respeito.
Desde pequeno tendo que lidar com as questões raciais no qual ele faz o relato de uma
memória do dia que o seu pai o levou para assistir o momento histórico que foi a
celebração dá missa campal que ocorreu dia 17 de maio de 1888, realizado no campo de
São Cristóvão no Rio de janeiro em comemoração a ação de Graças pela abolição.
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Acontecida finalmente no Brasil no dia 13 de maio do mesmo ano, apenas sete anos
após o seu nascimento que foi dia 13 de maio de 1881. Assim diz Lilian Schwarcz em
sua biografia, “O Brasil continuava racista, deixava persistir práticas que vinham da
época do cativeiro, e o escritor acusaria sempre o que considerava ser uma espécie de
golpe da República” (SCHWARCZ, 2017, P.14-15). Lima desde criança teve que lidar
coma as dificuldades da vida, sua mãe era professora e seu pai ganhava a vida como
tipógrafo, ficou órfão com apenas seis anos de idade, após sua mãe falecer do mal do
século que era tuberculose. Anos mais tarde seu pai viria a ter uma depressão aguda,
além dos problemas com o alcoolismo que acarretou após a perca do emprego, passou a
trabalhar no almoxarife numa colônia. Lima Barreto começou a estudar numa escola
politécnica na qual ele era o único negro dali e onde começou a perceber as diferenças
em decorrência da sua cor. Lima Barreto com a vida difícil teve que abandonar a
politécnica e passou a assumir as responsabilidades da família após o estado de loucura
de seu pai, tendo a sua primeira internação em 1914, ele relata essa passagem de sua
vida na sua obra e forma de ficção, o que se pode notar que isso o deixou marcas.
(SCHWARCZ, 2017, p. 63):
O exemplo paterno parece ter traumatizado o ainda rapaz, que, em
seu Diário, ajuíza que preferia continuar solteiro por receio de não poder
sustentar dignamente uma família. No romance póstumo O cemitério dos
vivos, coloca na boca do personagem principal — Vicente Mascarenhas — o
mesmo tipo de temor. Sem conseguir pagar os gastos da esposa e do filho,
Vicente passa a beber e é internado num hospício.
Das suas obras publicadas selecionados alguns contos e crônicas para trabalhar o em
questão durante as aulas de história, dos quais são, os contos: O pecado e O filho de
Gabriela; e as crônicas: Problema vital, A derrubada, Feminismo e o voto feminino e
Uma nota. Um de seus contos, o filho de Gabriela perpassa por questões relacionadas a
o poder que o opressor exerce sobre o oprimido, ressaltando a burguesia e o assalariado
e também a submissão da mulher, destacando a hipocrisia da sociedade republicana da
época. Todas essas obras que foram citadas e selecionadas acima fala sobre as principais
questões da época, que são racismo, a critica do feminismo, a submissão da mulher, a
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violência policial, o direito ao voto entre outro, descrevendo o conhecimento como

forma de liberdade.
Outro texto no qual usamos para se discutir e que contribuiu para a construção desse
trabalho foi o do Peter Lee Nós fabricamos carros e eles tinham que andar a pé,
voltando ao debate sobre o ensino de história, tendo a percepção de que o modo de
pensar no passado podia ser diferente das atuais, analisando o passado histórico.

Considerações Finais
A nossa expectativa era aplicar asse projeto logo que iniciasse o ano letivo de 2020,
após o fechamento da I unidade já colocar em prática o que tínhamos produzido até
aquele momento, com o intuído que apresentar uma estratégia de ensino de historia
diferenciada, que distingue um pouco do que estavam acostumados, que em grande
medida se restringia apenas a história apresentada pelo livro didático. Acreditamos ser
interessante conhecer a história através da trajetória de vida, enfatizando aspectos
históricos vivenciados pelo personagem. Lima Barreto teve a ousadia de registrar alguns
momentos vividos por ele, mesclando ficção com realidade, para assim transmitir o
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conhecimento através de suas obras. Almejando através desses exemplos esses alunos
entendessem que apesar das limitações que a eles são impostas por causa da cor, gênero
ou posição social, vissem trajetórias de homens e mulheres negros que produziram,
resistiram e talvez isso possibilite uma representatividade. Alunos que são adolescentes
perceber na atualidade como negros resistiram a um sistema opressor, racista, machista
e classicista, e que ainda assim essas pessoas construíram e protagonizaram suas
histórias.
Ressaltando que ainda não foi finalizado o projeto, devido à pandemia, não
conseguimos aplicar toda a pesquisa produzida, porém a expectativa é que assim que
possamos aplicar através do ensino remoto.

Referências

SCHWARCZ, Lilia. Lima Barreto: triste visionário. São Paulo/São Paulo:

Schwarcz, 2017.
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GOMES, Igor. O Brasil e cinco trechos de Lima Barreto. Suplemento

Pernambuco. 22 de agosto de 2016. Disponivel em:
https://www.suplementopernambuco.com.br/artigos/1665-o-brasil-em-cinco-
trechos-de-lima-barreto.html

SUTIL, Nair. A literatura como fonte e como linguagem no ensino de

historia: Dialogo com os contos de Chimamanda Adichie. 2015.

HOOKS, Bell. O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras. 1°ed.

Rio de janeiro: Rosas dos Tempos, 2018.

LEE, Peter. Nós fabricamos carros e eles tinham que andar a pé:
compreensão das pessoas do passado. 2003

DAVES, Angela. Mulheres, raça e classe. 1°ed. São Paulo-Sp: Boitempo

editorial, setembro 2016.

DA GAMA, Maria Sandra. Entre mulheres e fronteiras, um escritor: Lugares

do feminismo na obra de Lima Barreto (1902-1922). Dissertação, mestrado,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.