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de Impacto Social
Análise Comparativa de Ferramentas
Alternativas e sua Aplicabilidade
METRICiS
Núcleo de Medição para Investimentos de Impacto Socioambiental
SOBRE O INSPER
O Insper é uma instituição independente e sem fins lucrativos, dedicada ao ensino e à pesquisa nas áreas de
Administração, Economia, Direito e Engenharia e Ciência da Computação. Tem como missão ser um centro de
referência, explorando as complementariedades dessas áreas. Suas atividades de ensino abrangem cursos para
várias etapas de uma trajetória profissional: graduação (Administração, Economia, Engenharias e Ciência da
Computação), pós-graduação lato e stricto sensu (Certificates, MBAs, programas da área de Direito, Mestrados
Profissionais e Doutorado) e Educação Executiva (programas de curta e média duração, e customizados de
acordo com as necessidades das empresas). No âmbito da produção de conhecimento, a instituição atua por
meio de cátedras e centros de pesquisa que reúnem pesquisadores em estudos e projetos dirigidos a políticas
públicas, finanças e gestão. O Insper conta ainda com centros que promovem o empreendedorismo (CEMP) e a
educação (Centro de Educação). Tem as certificações de qualidade da Association to Advance Collegiate Schools
of Business (AACSB), Association of MBAs (AMBA) e Associação Nacional de MBA (ANAMBA).
SOBRE A GK VENTURES
A GK Ventures existe para reunir talento, recursos e conhecimento por trás da solução de problemas relevantes
do mundo atual. Trabalha em cima dessa missão por meio de duas frentes principais de atuação: i) Good Karma
Fund: firma de investimentos de impact growth buscando participações minoritárias, com governança, em
companhias já estabelecidas e em crescimento que se enquadrem em quatro critérios principais: missão, escala,
urgência e retonos, nos setores de educação, saúde e mudanças climáticas; e ii) Company-Builder: busca tirar do
papel negócios transformacionais nos segmentos de educação e produtividade.
A GK Ventures tem o objetivo de impulsionar projetos e negócios capazes de promover impacto e fazer a
diferença na sociedade. Portanto, investe em empresas onde a geração de impacto é incorporada ao modelo de
negócio, com contribuição aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS), e que
possuem retornos financeiros competitivos. O fundo desenvolveu uma metodologia própria e estruturada de
Gestão e Medição de Impacto, usando e adaptando padrões internacionais de ESG e Impact Investing ao longo de
seu ciclo de investimento, desde a elaboração da estratégia e originação de oportunidades até a saída das
investidas.
1
Viscusi e Aldy (2003), por exemplo, trazem uma meta-análise de estudos que calculam o valor de uma vida. A seção Cuidados e princípios éticos na
monetização de impacto apresentará algumas das principais técnicas existentes para estimar o valor de uma vida.
Análise de Custo-Efetividade (CE)
Descrição
A Análise de Custo-Efetividade (CE) é uma técnica amplamente A análise de CE permite
utilizada na elaboração de indicadores de impacto social e
ambiental. Sua adoção é particularmente adequada a situações nas
produzir indicadores de
quais o impacto promovido pelo projeto e/ou pela política não seja efetividade de um
facilmente convertido para valores monetários. Por exemplo2,
considere o caso de um programa implementado por uma programa sem que seja
secretaria municipal de saúde que tenha por objetivo oferecer exigida a monetização
suporte à recuperação de pacientes internados em hospitais da
rede pública. Nesse caso, o benefício gerado pelo programa é de benefícios e atributos
bastante claro: recuperar a saúde de cidadãos.
de difícil conversão.
Em situações como essa, a análise de CE permite produzir
indicadores de efetividade de um programa sem que seja exigida a
monetização de benefícios e atributos de difícil conversão. A
intuição geral do método é a de estimar a relação entre o impacto
(calculado em termos não monetários) e o custo total investido (em
reais) para a implementação do programa, sem a necessidade de
que ambas as métricas estejam na mesma unidade de medida3.
1.
06
5. Contabilize o custo total. Para tanto, basta somar custos contábeis e custos de oportunidade
demandados para realização do programa. Os custos podem ser computados em um dado período ou
como a soma de diversos períodos, em casos nos quais as intervenções tenham duração mais longa.
Nesse último caso, é importante considerar que o custo varia ao longo do tempo, sendo recomendável
descontar fluxos futuros a uma determinada taxa de juros para obter o valor presente6. Atente, no
entanto, para que apenas custos relacionados à intervenção sejam considerados. Valores anteriores à
implementação do projeto não devem ser considerados no cômputo final.
6. Estime a razão custo-efetividade (CE) do programa. A razão é obtida a partir da divisão da diferença
entre custos pela diferença entre resultados, conforme o descrito nos passos anteriores. A proporção
resultante oferece uma medida bastante intuitiva do custo requerido para a obtenção de determinado
benefício. Por exemplo, no caso de saúde estudado anteriormente, suponha que o custo total do
programa seja de R$ 100.000,00, e o número de pacientes recuperados seja 60. Na ausência da
intervenção, apenas 10 pacientes eram naturalmente recuperados a cada período. Nesse caso, o
resultado da intervenção é dado pela diferença entre esses dois valores, totalizando 50 pacientes.
Assim, a razão CE do programa será dada pela divisão dos R$ 100.000,00 de custo pelo resultado de 50
pacientes reestabelecidos, ou seja, R$ 2.000,00 por paciente recuperado.
7. O analista pode então comparar diferentes programas para considerar aquele com o menor índice de CE,
o qual indica um custo menor para a obtenção do mesmo nível de resultado.
5
Para mais informações sobre custo de oportunidade, ver o Apêndice.
4 | GK Ventures & Insper Metricis • Monetização de Impacto Social 6
Para detalhes sobre o cálculo de valor presente, ver o Apêndice.
8. Promova uma análise de sensibilidade: a
avaliação de CE pode ser muito sensível às
9. Uma alternativa à razão custo-efetividade é
sua medida inversa, a razão efetividade-custo
premissas adotadas para o cálculo dos (EC). Para estimá-la, basta alterar o cálculo da
resultados do projeto, em especial quando etapa 6 e dividir a diferença entre resultados
o objetivo do estudo for preditivo. Por isso, pela diferença entre custos. No exemplo
é importante alternar as medidas entre anterior, o EC seria dado pela divisão de 50 por
diferentes cenários para identificar se R$ 100.000,00, em que o EC seria de 0,0005
essas variações promovem alguma paciente recuperado para cada real gasto. O
mudança na razão CE obtida. Por exemplo, indicador EC normalmente é utilizado quando
suponha que, antes de implementar o se deseja identificar qual projeto promove
projeto de saúde previamente maior impacto a um custo fixo. Nesse caso, o
apresentado, o gestor público responsável analista realizando um comparativo entre
faça uma estimativa da razão CE potencial projetos distintos deve escolher aquele com
do projeto. Com base em estudos similares maior razão EC, a qual indica um maior impacto
realizados em um dado local, ele identifica para o mesmo nível de investimento.
que, na média, 50 pacientes são
recuperados ao custo de R$ 100.000,00.
Ao mesmo tempo, em estudos realizados
em outro local, 48 pacientes são
recuperados, em média, ao mesmo custo.
Dessa forma, a razão CE será diferente a
depender da média assumida para cálculo.
Pontos de atenção
• Verifique na literatura se já existem razões CE ou EC referentes à iniciativa sendo avaliada, antes de iniciar a
análise. Estudos anteriores podem proporcionar boas intuições sobre como melhor mensurar os benefícios de
determinados programas8.
• Siga sempre os mesmos procedimentos de cálculo para obter medidas comparáveis entre projetos e/ou ao
longo do tempo. Por exemplo, no caso de um projeto educacional, se a alimentação dos alunos for considerada
como custo no primeiro ano de projeto, ela deverá ser contabilizada em todos os anos para que as estimativas
possam ser comparadas. Caso contrário, pode-se acabar subestimando ou sobre-estimando custos ou
benefícios e, consequentemente, invalidando análises comparativas baseadas nesses dados.
7
Para mais detalhes sobre o cálculo da razão CE Incremental, consulte Gray et al. (2016).
8
A literatura de CE em saúde é bastante extensa. Para uma consulta mais aprofundada sobre a abordagem, ver Gray et al. (2016), Organização Mundial da
Saúde (2021) e Global Health Cost-Effectiveness Analysis Registry (2021).
Ao final de 2017, o Governo do Estado de São Paulo lançou uma consulta pública para implementar um Contrato de
Impacto Social (CIS)9, cuja remuneração seria atrelada a metas de resultado. A ação tinha por objetivo aumentar a
taxa de conclusão do ensino médio da rede pública estadual. Em áreas vulneráveis dessa rede, cerca de 59% dos
alunos não conseguiam concluir o ensino médio no tempo previsto, de três anos.
No desenho do contrato, para que houvesse pagamento integral aos prestadores de serviço, a taxa de conclusão do
ensino médio após três anos nas escolas participantes deveria ser superior à de escolas similares, mas não
participantes da iniciativa. Para reduzir a taxa de evasão e aumentar a taxa de conclusão dos alunos no tempo previsto,
foram desenhadas intervenções envolvendo orientação individual de carreira aos alunos e apoio às suas famílias.
Os cálculos de CE levaram em consideração os custos usuais da rede pública com professores e gestores, aos quais
foram adicionadas estimativas de custos das novas intervenções previstas. Elas demandariam despesas extras de
pessoal (profissionais atuando com a orientação aos alunos e no contato com as famílias) e operacionais (como
materiais e deslocamento desses profissionais). Nesse contexto específico, não se considerou o custo de
oportunidade dos alunos envolvidos no programa, assumindo-se que seria desejável eles permanecerem com
atividades na escola ao invés de trabalharem.
Com esses números em mãos, foi possível projetar os ganhos econômicos provenientes do CIS, comparando-se o
cenário sem a intervenção com o caso de sucesso da iniciativa. Na ausência do projeto, gastavam-se R$ 27.845,00
para cada aluno formado em três anos, computados na forma de valor presente dos custos10 . Essa é uma estimativa
dos gastos usuais do governo, sem a implementação do novo programa.
Caso a ação elevasse em 7 pontos percentuais a taxa de conclusão do ensino médio após três anos, meta definida
pelo projeto, esse custo diminuiria para R$ 24.645,00 por aluno. Tal redução ocorreria por dois motivos. Primeiro, por
intermédio de uma evasão escolar menor. Ao diminuir o número de alunos que deixavam a escola antes de se formar,
evitava-se gastar com estudantes que não concluíam o ensino médio. Segundo, reduzindo a reprovação dos alunos.
Neste caso, os custos também seriam reduzidos, por se evitar financiar o mesmo aluno por um período longo sem
ganhos educacionais efetivos e com grande chance de o estudante não concluir seus estudos.
Essa conta ainda precisava, no entanto, incorporar os novos custos incorridos com o projeto. As estimativas
apontavam para um gasto de R$ 1.920,00 por aluno com o programa. Ou seja, com a intervenção e o aumento de 7
pontos percentuais na taxa de conclusão do ensino médio, o custo por aluno formado em três anos seria de R$
26.565,00 (R$ 24.645,00 + R$ 1.920,00). Esse número representa a estimativa de gastos com a implementação do
projeto. Comparando-se tal número com a estimativa sem o projeto (R$ 27.845,00 para cada aluno formado em três
anos), conclui-se que a introdução do programa é vantajosa sob o ponto de vista de custo-efetividade11 .
9
Para mais detalhes, ver Lazzarini et al. (2019).
10
Para mais detalhes sobre o cálculo de valor presente, reveja o item 5 da seção de implementação da análise CE.
11
Note que, como discutido no item 6 anterior, a razão CE é calculada de forma incremental para comparação de projetos. No exemplo do Box 1, sem a
intervenção, gastavam-se aproximadamente R$ 196 milhões para cada coorte de 12 mil alunos, dos quais somente cerca de 7 mil iriam se formar em três
anos. Por outro lado, caso a meta da ação fosse atingida, o número de formandos seria de 8 mil para cada coorte de 12 mil alunos, com gastos de R$ 213,7
milhões distribuídos entre custos correntes, investimentos adicionais com a intervenção e remuneração dos investidores. Ou seja, caso a iniciativa fosse
bem-sucedida, seriam gastos R$ 17,7 milhões adicionais (R$ 213,7 milhões – R$ 196 milhões) para a formação de mil alunos a mais (8 mil – 7 mil). Nesse
caso, pode-se expressar a mesma análise por meio de razão CE de R$ 17,7 milhões para cada grupo de mil alunos adicionais formados em 3 anos.
Descrição
A Análise de Custo-Benefício (CB) essencialmente propõe a comparação A Análise de
entre benefícios e custos de um projeto em termos monetários e indica a
viabilidade econômica de um empreendimento com potencial impacto Custo-Benefício (CB)
social12. Caso os benefícios superem os custos, a iniciativa deve ser essencialmente propõe
implementada, pelo menos sob um ponto de vista de retorno econômico.
a comparação entre
Considere, por exemplo, um projeto que tenha por objetivo trazer
qualidade de vida para adultos por meio de exercícios físicos. A análise de
benefícios e custos de
CB requer primeiramente que todos os custos (implícitos e explícitos) e um projeto em termos
benefícios sejam monetizados. Nesse caso, os custos compreendem
valores dispendidos na contratação de profissionais de Educação Física e monetários e indica a
infraestrutura, entre outros diretamente contabilizados. Já os benefícios, viabilidade econômica
tais como reduções nos gastos com medicamentos e consultas médicas,
podem ocorrer tanto no curto quanto no longo prazo, sendo necessário de um empreendimento
contemplar ambos no cálculo final.
com potencial impacto
Outros efeitos podem estar relacionados a fatores dificilmente social.
monetizáveis, como um aumento nos anos de vida. Nestas situações, é
necessário buscar uma aproximação quantitativa para esses valores. Por
exemplo, um adulto longevo pode passar mais anos no mercado de
trabalho ou ficar menos dias afastado do emprego. Uma forma de capturar 12
Para uma consulta mais aprofundada sobre a
esse resultado, ao menos parcialmente, é incorporar à análise os abordagem, ver Boardman et al. (2018) e Peixoto
rendimentos extras obtidos pelo indivíduo ao longo de toda a vida, em (2017).
virtude dos dias adicionais de trabalho. Como esses efeitos acontecerão 13
Para um exemplo recente e empírico de aplicação da
no futuro, é necessário que sejam descontados para que se obtenha o abordagem, ver de Barros (2021) sobre as
consequências da evasão escolar na educação
benefício em valor presente.
básica no Brasil.
14
Para mais detalhes sobre o Método de Múltiplos de
Com benefícios e custos monetizados a valor presente, é possível gerar Impacto, ver Addy et al. (2019).
uma medida adicional de análise, a Razão Custo-Benefício. Para calculá-la,
basta dividir os benefícios pelos custos. O cálculo final oferece uma relação
monetária entre essas dimensões. Por exemplo13, um projeto pode ter
gerado R$ 5,00 para cada R$ 1,00 investido. Esse tipo de cálculo é também
chamado de Método de Múltiplos de Impacto (MMI)14 em investimentos
socioambientais. No exemplo anterior, cada unidade monetária investida
no projeto seria multiplicada 5 vezes na sua geração de impacto.
Como implementar
15
Para detalhes sobre cenário contrafactual, ver o Apêndice.
16
Boardman et al. (2018) ressaltam que os resultados do projeto precisam ser comparados ao cenário contrafactual, em que o programa não é
implementado — ou seja, uma situação em que o status quo permanece —, para que seja possível mensurar o impacto da ação. Os autores reforçam que o
status quo não significa “não fazer nada”, mas sim manter as atividades em curso. Para uma discussão mais aprofundada sobre mensuração de impacto,
ver Duflo, Glennerster e Kremer (2007) e Insper Metricis (2020).
17
A seção Cuidados e princípios éticos na monetização de impacto traz mais detalhes sobre técnicas que buscam estimar o valor de uma vida.
7. Calcule o Valor Presente Líquido (VPL) do empreendimento. Para isso, subtraia os custos dos benefícios
a valor presente. Com base no resultado dessa conta, a regra de decisão é simples, sob o ponto de vista
de retorno econômico: caso o valor resultante seja positivo, o projeto deve ser adotado. Caso negativo, a
iniciativa não deve ser implementada.
8. Promova uma análise de sensibilidade. Assim como no caso de CE, a análise de CB pode ser muito
afetada pelas premissas adotadas e pelos resultados considerados. Por exemplo, imagine que se queira
avaliar os efeitos de um projeto que tenha por objetivo ensinar crianças a ler e a escrever. A atratividade
do projeto estará fortemente relacionada a premissas do efeito desse projeto sobre o aprendizado dos
alunos. Assim, é desejável examinar como os cálculos variam em função de diferentes possíveis
resultados gerados pelo projeto. Além disso, dado que parte substancial dos resultados irá acontecer no
longo prazo (como uma melhor colocação no mercado de trabalho), estes serão sensíveis à taxa de
desconto utilizada para trazer os benefícios a valor presente. Uma prática comum para mitigar esse
ponto é construir cenários alternativos para mostrar como os resultados se comportam com a mudança
de premissas.
9. Duas medidas adicionais podem ser calculadas com a monetização dos custos e benefícios do projeto:
Taxa Interna de Retorno (TIR) e Razão Custo-Benefício. A primeira medida é equivalente à taxa de
desconto que iguala os benefícios e custos a valor presente. A segunda traz uma medida do retorno de
cada R$ 1,00 gasto em termos de benefícios monetários, seguindo a mesma intuição do MMI, descrito
no início desta seção. Para encontrá-la, basta dividir o valor presente dos benefícios pelo valor presente
dos custos.
• Em algumas situações, os resultados dos projetos serão de difícil monetização por envolverem aspectos
intangíveis de ordem social ou psicológica (por exemplo, avanços percebidos na qualidade de interações sociais
do local ou efeitos na autoestima das pessoas). Nessas situações, é de especial importância a busca em estudos
e pesquisas prévios por referências relativas às melhores maneiras de estimar tais mensurações. Em vários
casos, cálculos de CB acabam simplesmente não incorporando esses efeitos às análises, o que pode resultar em
um panorama incompleto dos resultados gerados pelo projeto.
• A análise de CB é muito afetada pelas premissas adotadas, que podem impactar especialmente cálculos de
monetização de forma indireta (como os exemplificados no Box 2). Dessa forma, sugere-se uma revisão
cuidadosa de todas as premissas, bem como uma análise de sensibilidade envolvendo cenários alternativos,
antes da tomada de decisão.
• Questões críticas como a magnitude dos investimentos iniciais e o tempo de maturação para se alcançar os
benefícios podem merecer atenção especial na hora da implementação. A tomada de decisão com base apenas
na análise de CB precisa levar em conta esses fatos, que não necessariamente são incorporados de maneira
satisfatória no resultado do VPL do projeto.
Em vários casos, intervenções causam um impacto direto em ganhos financeiros – por exemplo, podem gerar maior
renda aos participantes ou reduzir despesas recorrentes que usualmente ocorreriam sem o projeto. Em muitas
situações, no entanto, a monetização não é tão imediata, logo requerendo premissas adicionais para ligar os
impactos estimados a ganhos monetários futuros.
Um trabalho acadêmico procura responder essas perguntas18. Tendo por base os nascidos em 1977 e 1978, o estudo
avalia esse grupo em três momentos de vida: durante a infância (entre 4 ou 5 anos de idade), ao final do ensino médio
(entre 17 e 18 anos) e após ingressar no mercado de trabalho (já com 22 e 23 anos). Com base nessa análise, foi
possível constatar que um aumento de 10% em testes de proficiência está associado a salários 3% maiores.
Para efeitos de monetização do impacto, um projeto que eleve o desempenho escolar dos alunos poderia utilizar
essa relação entre performance em testes de proficiência e salário. Um maior nível de aprendizado iria se refletir, em
última instância, em remunerações mais altas. Estas, por sua vez, seriam mais tangíveis do ponto de vista monetário.
Esse método foi usado para mensurar o valor do Canal Futura19. Embora privado, ele é financiado por contribuições
de apoiadores, de modo que os telespectadores não pagam pelo serviço. Para estimar o valor monetário do canal,
mais de 2.500 pessoas de todo o Brasil foram entrevistadas. Durante a abordagem, foram apresentadas opções de
mensalidade para o serviço que variavam entre R$ 1,00 e R$ 20,00.
A pesquisa mostrou que a mensalidade média pela qual aqueles que assistem ao Canal Futura estariam dispostos a
pagar era de R$ 12,35. Como se trata do grupo que já conhece a programação, esse resultado foi considerado mais
representativo e usado para a base de cálculo. Considerando esse grupo somado, o valor total anual do canal seria de
R$ 1,2 bilhão.
Além dessa inferência, foi realizada uma abordagem indireta, em que os entrevistados apontaram, em uma lista
preestabelecida, determinado bem que estariam dispostos a trocar por uma assinatura do Canal Futura. Entre as
opções constavam um ano de acesso à internet e uma assinatura anual de revista, entre outros itens. Essas
alternativas foram monetizadas a valor de mercado e, ao serem somadas, forneceram uma estimativa do valor do
canal. De modo similar à abordagem direta, os resultados indiretos apontaram para R$ 1,2 bilhão como valor do canal,
considerando como entrevistados somente aqueles que utilizam o Futura.
18
Para mais informações, ver Curi e Menezes-Filho (2014).
19
Para detalhes, ver Vasconcellos (2007).
O Banco da Providência estabeleceu em 2018 uma parceria com a Prefeitura do Rio de Janeiro, para oferecer
capacitação a beneficiários do Programa Bolsa Família das comunidades Cidade de Deus e Pavuna20. Por intermédio
dessa iniciativa, os participantes receberam treinamento técnico, apoio psicológico e dicas de gerenciamento durante
nove meses, com o intuito de aumentar a inserção no mercado de trabalho e obter ganhos de renda.
Para calcular o custo-benefício (CB) do projeto, primeiramente foi necessário estimar o impacto da capacitação
sobre o rendimento mensal médio dos participantes. Para isso, antes de começar o programa, foi realizado um sorteio
entre os inscritos para definir os beneficiários. Aqueles que não foram contemplados serviram de grupo de
comparação. A distribuição aleatória entre tratados e grupo de controle permitiu isolar o efeito da intervenção e
inferir o efeito causal do programa, ou seja, o resultado medido nos participantes comparativamente ao que teria
acontecido a eles sem o projeto. Com base na comparação entre esses dois grupos, constatou-se que, em média, os
participantes apresentaram um aumento de R$ 106,30 na renda média mensal.
Esse valor foi então utilizado para contabilizar os benefícios do projeto. Uma vez que a elevação na renda não ficaria
restrita a um único período, assumiu-se que os ganhos permaneceriam até que os participantes se aposentassem.
Como os beneficiários tinham idade média entre 35 e 36 anos e iriam continuar no mercado de trabalho até por volta
de 65 ou 66 anos, os ganhos durariam por 30 anos. Para fazer com que esses valores fossem comparáveis aos
custos do treinamento, foi necessário trazê-los a valor presente. Utilizou-se a taxa de juros dos títulos públicos
brasileiros vigentes à época como taxa de desconto para o cálculo.
A análise de custos levou em consideração dispêndios explícitos e implícitos. As despesas explícitas foram
provenientes de informações contábeis do Banco da Providência e consideraram gastos administrativos, em
transporte e alimentação, por exemplo, totalizando R$ 5.377,96 por participante. Nos montantes implícitos foram
incluídos os custos de oportunidade dos beneficiários, ou seja, o valor que eles deixariam de ganhar caso estivessem
trabalhando. Nesse caso, foi considerado o ganho mensal que os inscritos costumavam obter antes da intervenção
(R$ 39,00) multiplicado pelo número de meses do treinamento (9), o que totalizava R$ 351,00.
Considerando os ganhos de renda e os custos (implícitos e explícitos) do projeto, a iniciativa apresentou Valor
Presente Líquido (VPL) de R$ 7.830,63 por beneficiário, representando uma Taxa Interna de Retorno (TIR) nominal
de 22,2% e uma Razão Benefício-Custo de R$ 2,37 para cada R$ 1,00 investido.
Ainda que o efeito do programa na renda dos participantes seja um resultado diretamente ligado a valores
monetários, a intervenção gerou outros efeitos, bem mais difíceis de monetizar. Especificamente, além do impacto
na renda, a capacitação gerou efeitos psicológicos nos participantes. Por um lado, eles apresentaram níveis mais
elevados de autoconfiança e de otimismo. Por outro, o programa reforçou nos participantes uma percepção de
estigma por serem moradores de comunidades de baixa renda. Logo, analisar o CB do projeto apenas com base no
resultado diretamente mensurável (ganho de renda) é informativo, mas pode ignorar diversos outros efeitos,
positivos e negativos, mais difíceis de converter em valores monetários.
20
Para informações adicionais, ver Pongeluppe (2020).
Como implementar23
2. Mapeie os resultados. Em geral, a definição de resultados é baseada em uma teoria de mudança que
inclua todas as interações com os stakeholders identificados na etapa 1. Nesta fase, também são
calculados os custos da iniciativa. Assim como feito na abordagem CB, os custos devem incluir as
despesas contábeis e os custos de oportunidade trazidos a valor presente.
3. Atribua valor aos resultados. Da mesma forma que na análise de CB, uma das dificuldades desta
abordagem está em atribuir valores monetários a determinados resultados. No entanto, o SROI procura
ser ainda mais meticuloso neste ponto, sendo necessário incorporar o máximo possível dos efeitos
decorrentes do programa. Imagine, por exemplo, um projeto que tenha por objetivo melhorar o
desempenho escolar dos alunos, similar ao descrito no Box 2. Além dos efeitos relacionados ao ganho
salarial futuro, a análise de SROI buscaria estimar as consequências da ação sobre fatores psicossociais
do beneficiário, tais como autoestima, relacionamento com colegas de turma e interação com os pais.
Caso não existam ações similares que possam ser utilizadas como referência para valorar esses
efeitos, uma estratégia recorrente neste tipo de análise é perguntar para o favorecido em qual
magnitude a vida dele foi afetada pela ação. No exemplo em questão, seria possível questionar aos
alunos em que medida as aulas de reforço mudaram a forma como eles se veem e o relacionamento
com os pais e os colegas de turma.
Por meio dessa iniciativa, os atendidos passam o dia interagindo com outros
beneficiários. Uma das principais contribuições do programa é, portanto, fazer
com que eles aumentem suas interações interpessoais e se sintam mais felizes.
Para medir esse resultado, é possível perguntar aos usuários quão felizes eles
acham que estariam se não participassem do projeto e como comparariam essa
percepção com o grau de felicidade atual, após a implementação da ação. Essa
consulta poderia incluir adicionalmente uma pergunta sobre quanto eles
estariam dispostos a pagar pelo incremento de felicidade propiciado pelo
projeto, a fim de que os impactos também já fossem monetizados.
5. Calcule o SROI. Uma vez computados, em valores financeiros, os custos e os indicadores de impacto (e
já descontados os efeitos de drop-off), é possível estimar a taxa de retorno social do investimento.
Para tanto, primeiro, some os benefícios (em valores financeiros presentes), para obter o Valor Social
Presente do projeto. Em paralelo, some os custos (também a valor presente). Finalmente, divida o Valor
Social Presente pelos custos, para gerar a taxa SROI do projeto. O intuito dessa estimativa é identificar
qual o valor financeiro gerado para cada real investido. Assim, uma relação 5:1, por exemplo, implica que
R$ 5,00 foram gerados a partir de cada R$ 1,00 investido
• Verifique na literatura se já existem indicadores validados para representação dos resultados das iniciativas
estudadas. Estudos anteriores podem contribuir para a ideação de métricas mais precisas.
• Restrinja o escopo da análise somente aos stakeholders e atividades que realmente sejam impactados pelo
projeto, de forma que a contabilização de resultados esteja relacionada apenas com a iniciativa. Por exemplo, ao
definir stakeholders de um programa de reforço de matemática implementado em uma escola, somente os
estudantes que participem das aulas da iniciativa devem ser inclusos. O restante dos alunos da escola, por mais
que sejam parte da organização, não estão relacionados com a atividade de reforço, e por isso não devem ser
considerados na análise.
• Atente para as percepções de respondentes, ao calcular o contrafactual e a atribuição. Como na análise de SROI
o impacto é estimado a partir da percepção dos stakeholders, pode ser que eles possuam percepções incorretas
ou viesadas sobre os resultados gerados. Por exemplo, é possível que apontem melhorias nos resultados de
forma errônea ou incerta — uma vez que, em geral, é difícil visualizar cenários contrafactuais, posto que estes não
ocorreram efetivamente. Os métodos anteriores, em contraste, tendem a se valer de estimativas de impacto a
partir da comparação entre grupos tratados (que receberam a intervenção) e grupos de controle (que não
receberam a intervenção), com base em dados coletados dessas duas populações, o que aumenta a
confiabilidade da estimação do impacto gerado pelo programa. Sempre que possível, tal comparativo entre
grupos tratados e não tratados deve ser implementado também para estimação dos resultados do SROI.
• Verifique sempre se entradas e resultados não estão sendo contabilizados de forma duplicada. Como o SROI
considera os impactos gerados sobre múltiplos stakeholders, é comum repetir valores em diferentes estimativas.
Por isso, é importante manter atenção redobrada na contabilização de resultados e custos.
Box 4. Análise de SROI para estimação do retorno social gerado por ambientes não
clínicos sobre pacientes com câncer
A recuperação de pacientes com câncer normalmente está atrelada a diversos fatores que extrapolam o
tratamento médico convencional. Assim como medicamentos e equipamentos de última geração auxiliam o
paciente no processo de recuperação, fatores externos podem ampliar consideravelmente seu bem-estar, tais
como o contato com familiares, uma rotina alimentar adequada e a frequência a sessões de terapia que
complementem o tratamento principal.
Nesse sentido, unidades de saúde não clínicas compõem uma parte relevante da reabilitação do paciente. Em tais
espaços, são oferecidas sessões de suporte psicológico, fisioterapia, consultas nutricionais e espaços para
descanso e socialização. Em 2016, foi realizado um estudo25 com o objetivo de estimar o Retorno Social sobre o
Investimento (SROI) de três unidades de saúde não clínicas no Reino Unido.
25
Para informações adicionais, ver Watson e Whitley (2017).
Para a etapa de quantificação de resultados, foi implementada uma survey que solicitava aos stakeholders que
indicassem quais benefícios eram percebidos a partir da frequência às unidades não clínicas. Entre as variáveis
sugeridas, figuram o valor de possuir um hobby, o valor de pertencer a um grupo social, o valor de se recuperar de
uma fase de depressão, entre outras. Em paralelo, foram incluídos os custos de implementação das atividades, todos
calculados sob uma ótica financeira mais tangível que contempla, por exemplo, o valor da hora de trabalho dos
profissionais envolvidos ou o custo de contratação de serviços terceirizados.
Como boa parte dos resultados esperados não possui uma monetização direta, e como os pesquisadores não
encontraram na literatura especializada referências sobre como valorá-los, estas estimativas foram feitas,
novamente, com base nos relatos dos stakeholders. De acordo com os entrevistados, o valor anual de se possuir um
hobby, por exemplo, é de £ 1.515,00. Após a estimativa de todos os valores, foi feita uma análise de contrafactual,
estabelecida por meio de uma pergunta aos participantes sobre qual percentual do resultado eles atribuíam a fatores
externos que não estivessem diretamente relacionados às unidades não clínicas. Em alguns casos, por exemplo, os
pacientes atribuíram um valor de 35% a fatores externos. Assim, o montante anual de um hobby passou a ser
estimado como 0,65 x £ 1.515,00 = £ 984,75.
Por fim, foi implementada uma análise de drop-off, com base na percepção dos usuários sobre a desvalorização dos
resultados ao longo do tempo. Curiosamente, neste caso, a resposta dos entrevistados foi contraintuitiva. Para eles,
os resultados na verdade aumentariam com o passar do tempo, por conta das relações construídas após
frequentarem os locais de atendimento. Com base nessas informações, foram calculadas as taxas SROI para cada
uma das três unidades observadas, considerando-se três horizontes temporais distintos: 1, 10 e 60 anos.
No curto prazo, a unidade 1 atingiu a melhor taxa SROI: 0,08:1, ou seja, £ 0,08 de retorno para cada £ 1 investida, contra
0,07:1 e 0,02:1 para a segunda e terceira unidades, respectivamente. Como a técnica SROI permite comparações
entre as taxas, pode-se dizer que a primeira unidade obteve um melhor desempenho social no curto prazo que as
demais. No longo prazo, a relação se mantém: na estimação para 60 anos, as taxas SROI são de 2,07:1 para a unidade
1, enquanto as unidades 2 e 3 chegaram a 1,98:1 e 0,54:1, respectivamente. Assim, a terceira unidade não chega a
apresentar um retorno positivo nem mesmo com o passar de seis décadas.
Descrição
A abordagem Impact-Weighted Accounts (IWA) surgiu da necessidade de A técnica procura
incorporar aos demonstrativos contábeis, para além do desempenho
econômico, os efeitos das empresas sobre os demais stakeholders. Dessa mensurar de modo
forma, a técnica procura mensurar de modo comparável – assim como é comparável – assim
feito na contabilidade tradicional para indicadores financeiros – as
consequências sociais e ambientais da atuação da companhia. Ao como é feito na
introduzir-se a performance socioambiental, espera-se fornecer a
investidores uma visão mais completa da organização. Para tanto, o efeito
contabilidade tradicional
total de um produto ou de uma organização é fragmentado em uma série para indicadores
de dimensões, sendo cada uma observada e calculada de forma individual
e, posteriormente, incluída em um balanço patrimonial que considere financeiros – as
esses resultados adicionais já monetizados. O método ainda está em fase consequências sociais e
de desenvolvimento e aspira tornar-se um padrão para a gestão de
investimentos ESG (buscando objetivos ambientais, sociais e de ambientais da atuação
governança)26.
da companhia.
Para ilustração, considere duas empresas de fornecimento de água, uma
com foco em consumidores de alta renda e outra voltada a comunidades
vulneráveis27. Mesmo que ambas tenham relativamente os mesmos 26
Para mais detalhes, ver Serafeim et al. (2019).
tamanho e performance em indicadores econômicos, deveriam ser 27
Exemplo com base em Serafeim e Trinh (2021).
consideradas similares em termos de resultado socioambiental? Para 28
Exemplo baseado em Serafeim e Trinh (2020).
responder essa pergunta, o método IWA procura incorporar dimensões
que afetem todos os stakeholders, não se restringindo apenas aos
investidores. Em nosso exemplo, o fato de uma das empresas fornecer
água a preços abaixo de mercado para populações vulneráveis e,
potencialmente, reduzir os custos relacionados a doenças causadas por
má qualidade hídrica poderia ser incorporado aos demonstrativos
contábeis como ganho social. Assim, o comparativo entre as duas
organizações poderia ser feito de maneira mais completa, não se
restringindo a resultados estritamente econômicos.
Como implementar
Diferentemente dos métodos anteriormente
1. Identifique os stakeholders da ação. Considere, por
exemplo, uma empresa que fabrique automóveis28. A
qualidade dos veículos afetará diretamente os
apresentados, a abordagem de IWA ainda está
compradores, por meio da durabilidade do produto e
em construção e varia consideravelmente
caso a caso, por conta da necessidade de que da segurança provida. Além deles, a comunidade será
cada resultado seja minuciosamente analisa- afetada pelo nível de emissão de gases poluentes e
do e leve em conta a cadeia completa do pela proporção de materiais reaproveitados no final do
produto ou organização que se observe. Por ciclo de vida do produto. Finalmente, os funcionários
isso, nas instruções a seguir, apresentamos contratados pela empresa para integração na cadeia
um passo a passo com as etapas e dimensões produtiva dos veículos também serão impactados,
de análise mais comumente adotadas, tanto por meio de seus salários, quanto por sua
tomando o cuidado de abranger todas as percepção quanto às políticas da empresa. Na análise
possibilidades do método.
final de IWA, é necessário garantir que os efeitos sobre
todos esses stakeholders sejam incorporados às
estimativas.
3. Estabeleça as métricas a ser utilizadas. É importante que tais métricas sejam específicas o suficiente
para estimar de forma precisa o efeito gerado para cada conjunto de stakeholders, ao mesmo tempo
que contemplem a possibilidade de serem comparadas entre grupos. Para ilustração, considere uma
empresa de alimentos saudáveis a preços acessíveis32. Uma forma de incorporar à métrica os efeitos
da companhia sobre os menos favorecidos é calcular o quanto esse grupo economiza ao comprar
esses produtos em vez de outros itens similares. Se a organização vender mais de um tipo de produto,
é possível tornar os produtos comparáveis ao estabelecer uma relação de preço por caloria, por
exemplo. Isso possibilitaria o uso de uma medida única e comparável para diversos artigos dentro da
cadeia de alimentos.
29
Uma terceira dimensão em desenvolvimento refere-se ao efeito sobre
o meio ambiente. Para mais informações, ver Freiberg et al. (2020).
30
Para mais detalhes, ver Freiberg et al. (2021).
31
Para mais informações, ver Serafeim e Trinh (2020).
32
Exemplo baseado em Rischbieth, Serafeim e Trinh (2020).
• O método tem a intenção de convergir para um modelo em que multiplicadores sejam definidos por um board
(parecido com o que atualmente existe para os padrões contábeis). Esses multiplicadores preestabelecidos serão
então usados para multiplicar os produtos observados pela empresa. O valor final dessa multiplicação será
incorporado aos balanços patrimoniais. Porém, tal processo também está em desenvolvimento.
• Em muitos casos, a análise não se vale da construção de um cenário contrafactual para comparação (ou utiliza
um contrafactual bastante simplificado em relação à realidade). Considere novamente o caso de uma empresa
que forneça água subsidiada a comunidades vulneráveis. O método envolve uma comparação entre o preço que
a empresa cobra e o preço usual no mercado. Os cálculos não fazem o ajuste, no entanto, para o que
provavelmente aconteceria aos consumidores sem a presença da empresa. Ou seja, não levam em consideração
que outros fornecedores, públicos ou privados, poderiam também suprir água a preços acessíveis.
• Um importante aspecto da abordagem é a sua ênfase em variáveis que podem ter efeito direto nos resultados
financeiros das empresas – o que é chamado de materialidade financeira. Entretanto, como detalhado no Box 5,
a ênfase em materialidade financeira tem sido um ponto de crítica à abordagem de IWA, havendo um movimento
mais recente de se tentar contabilizar efeitos mais gerais da empresa sobre diversos stakeholders.
• O método procura agregar vários projetos e intervenções distintos, gerando múltiplos resultados para a
empresa. Dessa forma, a abordagem busca estimar resultados agregados para a companhia, em vez do resultado
de cada projeto ou intervenção de impacto de modo isolado. Como vantagem, permite a monetização de
resultados socioambientais agregados. No entanto, como desvantagem, pode resultar em menor detalhamento
de análises que, de outra forma, seriam feitas para cada projeto específico.
Parte crucial da abordagem refere-se ao conceito de materialidade financeira. De maneira geral, a ideia de
materialidade financeira diz respeito a determinados quesitos que possuem alto potencial de influenciar o
desempenho da empresa e, por isso, demandam atenção especial dos investidores33. Como exemplo, considere
questões relacionadas ao meio ambiente. Desastres ambientais tendem a afetar de maneira elevada resultados de
mineradoras. Dessa forma, a materialidade financeira de questões ambientais é alta para esse setor. Já para setores
33
Ver Nardi et al. (2020) para uma discussão sobre materialidade financeira.
Uma crítica à visão de materialidade financeira como efeitos ligados aos resultados financeiros das empresas é que
variáveis afetadas por estratégias corporativas podem ter resultados relevantes não financeiros. Por exemplo,
questões ambientais podem constituir parte relevante das preocupações dos stakeholders de uma empresa de alta
tecnologia, como seus clientes e funcionários, mesmo quando não afetem diretamente os interesses de investidores.
Essa perspectiva considerando a materialidade das ações da empresa para os demais stakeholders (ou seja, para
além dos efeitos em resultados financeiros) é denominada de dupla materialidade, e ainda não tem sido diretamente
abordada pelo método de IWA.
Motivadas por considerações relativas à dupla materialidade na contabilização do impacto gerado por organizações
e pautadas pela necessidade da introdução de cenários contrafactuais para identificação dos resultados, algumas
iniciativas têm buscado formas alternativas de contabilizar os resultados socioambientais das empresas. Dentre elas,
destacam-se a Capitals Coalition34, uma coalizão internacional formada com o propósito de fomentar boas práticas
de cálculo e inclusão de resultados gerados sobre os mais diversos stakeholders na tomada de decisão das
empresas; a Value Balancing Alliance35, uma aliança de companhias multinacionais focada no desenvolvimento de
uma abordagem única de avaliação de impacto que seja capaz de abranger todas as dimensões afetadas pelas
atividades empresariais; e o Cambridge Institute for Sustainability Leadership (CISL)36, um instituto formado na
Universidade de Cambridge com o objetivo de desenvolver líderes corporativos capazes de promover resultados
socioambientais positivos, que têm participado do recente debate acerca da importância da incorporação da dupla
materialidade na contabilização do impacto de organizações e projetos.
Este box baseia-se no trabalho de Freiberg et al. (2021) e toma como exemplo as informações da Intel, empresa do
segmento de tecnologia, considerando os efeitos da companhia sobre o mercado de trabalho. Os resultados da
organização relativos a esse segmento são classificados em seis dimensões, quatro delas relacionadas aos próprios
funcionários (qualidade do salário, avanço na carreira, oportunidades e saúde e bem-estar) e duas vinculadas ao
mercado de trabalho local (diversidade e localização). Com base nos resultados nesses quesitos, a empresa seria
responsável por uma geração de valor de USD 3,858 bilhões, um acréscimo de 26,97% aos mais de USD 14 bilhões de
receita gerada pela companhia em 2018. Esse ganho seria, então, adicionado ao demonstrativo de resultado final da
empresa. Abaixo, uma descrição dos itens considerados nesse cálculo:
Qualidade do salário. Neste caso, considera-se a folha salarial da empresa com um desconto, entre outros fatores,
para vencimentos abaixo do mínimo necessário para a subsistência do funcionário e de sua família e discriminações
salariais associadas a grupos étnicos ou de gênero. No contexto da Intel, a folha salarial de 2018 atingiu USD 7,3
bilhões. No entanto, dadas as características de como esses vencimentos são alocados, deveria ser aplicado um
desconto de USD 0,8 bilhão, totalizando uma medida de qualidade do salário de USD 6,5 bilhões.
34
Para mais detalhes, ver Capitals Coalition (2021).
35
Para mais detalhes, ver Value Balancing Alliance (2021).
36
Para mais detalhes, ver Cambridge Institute for Sustainability Leadership (2021).
Oportunidades. Apresenta uma medida comparativa da representatividade dos grupos étnicos e de gênero
minoritários entre os estratos de menores e maiores salários dentro da própria empresa. Considere, por exemplo,
que o grupo de funcionários com menores salários de determinada companhia seja composto em 25% por mulheres
negras e que, entre o grupo de pessoas na faixa salarial mais elevada, esse segmento represente apenas 5%. Essa
discrepância de representatividade existente dentro da própria firma deveria, de alguma forma, ser incorporada aos
resultados contábeis da empresa. Caso os grupos minoritários estejam sub-representados entre aqueles com
maiores salários, deveria ser aplicado um desconto aos indicadores financeiros, proporcional ao grau de
sub-representação. Nesse exemplo, a falta de representatividade das mulheres negras seria de 20% (25% menos
5%). Tal procedimento deveria ser repetido para todos os grupos minoritários. A contabilização desse indicador
considera, ainda, o número total de funcionários e a diferença salarial média entre aqueles com maiores e menores
remunerações. No caso da Intel, o valor referente ao item “oportunidades” é negativo em USD 415 milhões.
Saúde e bem-estar. Este item procura mensurar o efeito da empresa sobre seis tópicos relacionados à saúde e ao
bem-estar do colaborador: segurança, cultura (assédio e indelicadeza no ambiente de trabalho), saúde, gestão de
doenças crônicas e estilo de vida, licença médica remunerada e local de trabalho amigável à família do trabalhador.
Por exemplo, o quesito “segurança” considera as taxas de lesões e doenças em relação às melhores práticas de
mercado. A diferença entre as taxas da empresa e as melhores práticas são então multiplicadas pelos custos
associados às lesões e doenças e pelo número de ocorrências registradas. Somente neste tópico, os indicadores
financeiros da Intel deveriam ser negativos em USD 71 milhões. Ao considerar as seis subdivisões do quesito
“saúde e bem-estar”, o valor seria negativo em USD 263 milhões.
Diversidade. Tem a intenção de medir quão bem representado está o ambiente local na força de trabalho da
empresa. Para isso, compara a proporção dos diversos grupos étnicos e de gênero da sociedade local com a da
estrutura existente na companhia. Como ilustração, imagine uma empresa inserida em um município onde 10% da
população local seja composta por homens indígenas. Para que essa companhia seja representativa da demografia
local, espera-se que 10% dos funcionários da empresa sejam homens indígenas. Supondo que a companhia tenha
100 empregados, 10 deles deveriam ser desse grupo. Caso isso não ocorra, os resultados contábeis da organização
deveriam, de alguma forma, reportar essa discrepância. Considere que, nesse caso, a empresa tenha apenas 3
funcionários homens indígenas (ou seja, faltariam 7 trabalhadores desse grupo), e que o salário médio da
organização seja de R$ 2.000,00. Com base na diferença de representatividade, é possível calcular o número
estimado de trabalhadores ausentes por grupo étnico e de gênero. Ao multiplicar esse número pelo salário médio,
chega-se a um valor monetário da sub-representação. Neste exemplo, seria de R$ 14.000,00 (R$ 2.000,00 x 7).
Esse procedimento deveria ser refeito até que todos os grupos étnicos e de gênero fossem contemplados. A soma
desses valores deveria, então, ser incorporada aos indicadores financeiros da empresa. No caso da Intel, a
dimensão “diversidade” atinge USD 2,319 bilhões negativos.
Localização. Neste aspecto, procura-se mensurar o efeito da empresa sobre o mercado de trabalho local. Para isso,
considera-se uma medida de ganhos incrementais na massa salarial proveniente da atividade da companhia e uma
taxa de desemprego hipotética local na ausência da empresa (essa taxa assume que todos os funcionários da
companhia viriam a compor uma massa de desempregados, de modo que, para efeitos de cálculo, deve-se somar
o número de empregados na organização aos desempregados locais e dividir esse valor pelo total de empregados
e desempregados locais). Com base nesse indicador, a Intel teria um valor positivo de USD 401 milhões no quesito
“localização”.
Estágio de
desenvolvimento
e aplicação da Abordagem em Abordagem em Abordagem Abordagem em
estágio avançado de estágio avançado de desenvolvida e estágio inicial de
abordagem
desenvolvimento, com desenvolvimento, com registrada em manuais, desenvolvimento,
(avalia o nível de
aplicações em aplicações em mas ainda com volume ainda sob avaliação
desenvolvimento e
diferentes casos e diferentes casos e de aplicações menor e testes.
validação da
ampla aceitação pelo ampla aceitação pelo do que os volumes de
abordagem com
público especializado. público especializado. CE e CB.
especialistas)
Precisão das
métricas
(avalia possíveis erros Alta precisão, uma vez Precisão média-alta, Precisão baixa, uma Precisão mediana, pois,
de medição, os quais que não há necessidade uma vez que parte dos vez que a técnica tenta sempre que necessário,
tendem a estar mais de monetização de resultados observados abarcar um grande a técnica baseia-se em
presentes quando resultados, apenas pode conter erros de número de resultados, métricas objetivas e
adotadas métricas cálculo dos custos mensuração ou não vários dos quais independentes da
mais subjetivas e envolvidos. representar a totalidade envolvendo aspectos interpretação do
focalizados resultados do impacto gerado, dado intangíveis e com beneficiário.
intangíveis) que alguns efeitos mais métricas subjetivas. Contudo, dado o estágio
subjetivos tendem a não inicial de
ser incluídos na desenvolvimento da
avaliação final. abordagem, ainda não é
possível julgar como a
técnica irá evoluir com
respeito à incorporação
ou interpretação de
fatores subjetivos.
Identificação causal
(avalia a capacidade de
atribuição de Alta capacidade de Alta capacidade de Identificação de Baixa identificação de
causalidade à identificação causal, uma identificação causal, causalidade mediana, causalidade, uma vez
identificação do impacto vez que o uso de uma vez que o uso de uma vez que o uso de que o método, ao
gerado, isto é, se os contrafactuais, além de contrafactuais, além de contrafactuais, apesar menos até o presente
resultados medidos recomendado, quase recomendado, quase de recomendado pela estágio de
teriam ocorrido sem as sempre é adotado na sempre é adotado na abordagem, muitas desenvolvimento, não
intervenções do projeto implementação do implementação do vezes envolve análises requer a utilização de
ou organização) método (notadamente, método (notadamente, baseadas nas cenários contrafactuais
por meio de por meio de percepções dos para avaliação de
procedimentos procedimentos próprios beneficiários impacto.
comparativos envolvendo comparativos sobre o que
grupos de tratamento e envolvendo grupos de provavelmente teria
de controle). tratamento e de ocorrido com eles sem
controle). a realização da
intervenção.
Comparabilidade
(avalia a capacidade
de os resultados Comparabilidade Comparabilidade alta, Comparabilidade alta, Comparabilidade alta,
medidos em um mediana e restrita à uma vez que a relação CB uma vez que a taxa de uma vez que a técnica
projeto serem atividade-foco. Não é compreende todos os SROI apresenta uma transforma resultados
comparados com os possível efetuar valores em quantidades relação de retorno relevantes em valores
de projetos em outros comparações entre monetárias, as quais estritamente monetário, monetários incluídos
setores ou atividades) projetos de setores podem ser comparadas que pode ser utilizada em demonstrativo
distintos. entre projetos. em comparativos entre financeiro, o que
projetos. favorece a comparação
entre projetos.
Incorporação de
efeitos sobre
múltiplos Baixo nível de Nível mediano de Alto nível de Nível mediano de
incorporação de incorporação de efeitos incorporação de efeitos incorporação de
stakeholders ao
efeitos sobre múltiplos sobre múltiplos sobre múltiplos efeitos sobre múltiplos
processo avaliativo stakeholders, uma vez stakeholders, uma vez stakeholders, uma vez stakeholders, dada a
(avalia o nível de que o contato com eles que a etapa de coleta de que o contato com estes ênfase do método, até
engajamento e durante a coleta de dados pode envolver é parte fundamental da o momento, em
influência de dados é reduzido, e validações com coleta de dados, e os considerar efeitos
stakeholders na coleta usualmente apenas os beneficiários, e a resultados materiais somente sob
de dados e a beneficiários são quantificação dos compreendem impactos uma ótica financeira.
abrangência do método considerados na resultados considera tanto diretos quanto
na contabilização de medição de resultados. não só impactos diretos, indiretos.
impactos indiretos) como também
externalidades e efeitos
indiretos.
Custo de
implementação
?
Custo de implementação Custo de implementação Alto custo de A abordagem está em
médio-baixo, uma vez médio-alto, uma vez implementação, uma estágio de
que a abordagem que a abordagem inclui a vez que a abordagem estudos-piloto, ainda
demanda o cálculo de monetização de uma demanda, além da sem estimativas de
apenas um indicador, sem série de fatores monetização de uma custo. Porém,
requerer qualquer intangíveis, o que série de fatores futuramente,
monetização. aumenta o tempo de intangíveis, a pretende-se reduzir o
coleta e de análise de confirmação dos custo de coleta de
dados. resultados com dados, a partir do uso
stakeholders. Por isso, de informações
o tempo de coleta e de acessíveis em bases de
análise é muito dados secundárias já
superior àquele das existentes.
demais abordagens.
Dilemas na monetização de
indicadores de impacto
Resultados de difícil monetização
É comum em estimações de CB ou SROI que parte dos aspectos observados sejam de difícil monetização. Enquanto fatores
concretos como renda gerada e custos de implementação são facilmente transformados em valores monetários, elementos
mais abstratos como sensações, emoções ou percepções dos beneficiários dificilmente são capturados, por melhores que
sejam os esforços dos pesquisadores. Em situações como essas, devem aspectos de difícil monetização ser incorporados,
mesmo que o indicador final seja subjetivo e controverso?
Considere como exemplo o caso explicado no Box 3, o qual relata a realização de CB em uma intervenção para capacitar
trabalhadores de comunidades vulneráeis. Para o cálculo dos indicadores, os pesquisadores estimaram o incremento na
renda média mensal dos beneficiários como resultado da iniciativa. Contudo, além do valor financeiro, foram detectados
efeitos psicológicos sobre os participantes, mas estes não foram valorados e contabilizados no cálculo final.
39
Para mais informações, ver Sandel (2010).
Em outra direção, perspectivas considerando que a vida é um Note que, no exemplo acima, há um desequilíbrio na
direito fundamental, sem distinção entre função e origem das comparação entre indicadores. Caso somente a razão CB
pessoas, sugerem que o cálculo acima pode ser altamente seja adotada, o primeiro projeto seria priorizado, dado que
inadequado. Imagine que o cálculo atribua valor à vida de uma se mostra mais eficiente do que o outro (5:1 comparado a
pessoa desconhecida. Em seguida, imagine que a valoração 3:1). Contudo, no primeiro projeto, o nível de mortalidade a
considere a vida de um ente querido. Seria adequado cada mil habitantes é muito superior que no segundo (20
computar o valor da vida de um ente querido apenas com comparado a 4). Qual projeto deveria ser escolhido?
base no valor presente dos seus rendimentos futuros? O
quanto você estaria disposto a pagar para evitar a morte de Caso se considere que a vida é um direito básico difícil de
uma pessoa próxima? As abordagens de monetização de ser quantificado, o resultado do projeto não poderá ser
impacto não fornecem respostas satisfatórias a essas reduzido a apenas um indicador agregado de bem-estar41.
perguntas. Já com base em princípios éticos e morais, a vida Haverá dois critérios a ser examinados: a taxa de
seria um direito fundamental, que deveria ser garantido mortalidade do projeto e a sua razão CB. Ademais, se os
independentemente de custos. Assim, levantar tais tomadores de decisão considerarem a redução da taxa de
questionamentos frente a avaliações monetárias é de mortalidade como uma prioridade social, pode ser
fundamental importância para que limites éticos sejam adequado escolher, no exemplo acima, o projeto com
considerados quando da análise do retorno de projetos. menor razão CB.
40
Ver Boardman et al. (2018) para uma discussão mais detalhada sobre a monetização do valor da vida. Narain e Sall (2016) apresentam uma tabela com
estimativas do valor estatístico de uma vida utilizadas em agências públicas de alguns países. Outra referência sobre o assunto pode ser encontrada em
OECD (2012).
41
Em uma crítica contundente a abordagens utilitaristas buscando maximizar resultados agregados de bem-estar, Rawls (1971) sugere a adoção de
princípios ordenados de decisão, sendo o primeiro deles a garantia de liberdades e direitos básicos.
42
Existe um debate nesse sentido também no movimento social e filosófico effective altruism, que procura incentivar decisões que promovam o maior
benefício agregado possível. A iniciativa tem recebido críticas por ignorar questões relacionadas ao conceito de justiça, tais como uma distribuição de
recursos mais igualitária, a priorização de projetos relacionados a tópicos urgentes e a defesa de valores fundamentais. Para uma discussão sobre o
movimento e sugestões de como effective altruism pode incorporar essas ponderações, ver Gabriel (2017).
a. Para cada determinada abordagem de monetização escolhida, a organização deve considerar as suas
limitações e os dilemas éticos envolvidos. Nesta etapa, definem-se quais indicadores devem ser
reportados para além dos cálculos de retorno econômico. Esses indicadores podem ser baseados em
direitos básicos que a organização considere prioritários (redução de mortalidade em projetos de saúde,
diversidade racial e de gênero em times de produção, e assim por diante).
b. A priorização de atividades pode ser feita a partir da definição de áreas nas quais a organização irá
atuar e, também, segmentos que não receberão foco, com base na missão da organização e no seu
interesse em atuar em problemas sociais prementes.
c. De tempos em tempos, pode ser necessário revisitar o escopo dos investimentos, posto que as
demandas sociais e a agenda da organização podem mudar.
5. Por fim, é importante dar total transparência, para além dos cálculos monetários, a relatórios de
resultados reportados pela organização. As premissas envolvidas nos cálculos devem estar disponíveis,
bem como o processo de decisão e comparação envolvido. Não se recomenda dar destaque apenas
aos resultados monetários computados, mas sim considerá-los como uma das várias informações
relevantes para julgar o impacto do projeto.
Considere, por exemplo, um programa que forneça aulas extras a alunos em escolas de comunidades
vulneráveis. Um bom grupo contrafactual é composto por alunos não participantes do projeto, mas
que sejam do mesmo ano e possuam características socioeconômicas (como idade, renda média
familiar, número de irmãos, localização do domicílio etc.) similares às dos estudantes que receberam
reforço escolar. Suponha que as notas médias de alunos de ambos os grupos eram 40 antes da
implementação do reforço. Um ano depois, os alunos que receberam reforço tiveram suas notas
aumentadas para 50, enquanto os demais estudantes (sem reforço) obtiveram 45 pontos. Tal
resultado indica que o incremento gerado pelo reforço escolar foi, na realidade, de 5 pontos (e não de
10 pontos, como seria suposto sem a comparação com o grupo de controle). Os 5 pontos de
acréscimo que todos os estudantes receberam não podem ser atribuídos ao projeto, pois é possível
que sejam derivados de fatores mais generalizados, como uma mudança no sistema educacional
como um todo, por exemplo.
Custo de Oportunidade
Trata-se de um conceito comumente utilizado na Economia e que se refere ao valor das opções
renunciadas quando um agente toma determinada decisão. Considere, por exemplo, um investidor
que decida operar na bolsa de valores. Ao investir em determinada empresa, ele abre mão dos
rendimentos provenientes de todos os demais possíveis tipos de ativos, incluindo de renda fixa. O
custo de oportunidade diz respeito a essas outras alternativas que o investidor deixou de lado ao
optar por determinado ativo. O custo de oportunidade ocorre até mesmo em situações corriqueiras.
Imagine que você decida passar um fim de semana com amigos. Ao selecionar essa opção, você
deixa de aproveitar esses dias para estudos, tempo com a família ou um período de meditação, por
exemplo, sendo todas estas alternativas que compõem o custo de oportunidade.
43
Para mais informações, ver Angrist e Pischke (2008) e Insper Metricis (2020).
É uma forma usual de representar de maneira lógica e clara as conexões existentes entre desde
recursos iniciais, sejam eles humanos, sejam físicos ou monetários, até as transformações
socioambientais esperadas com o projeto. Ao demonstrar como as cinco etapas (insumos,
atividades, produtos, resultados das atividades e resultados à sociedade) são interligadas, fornece
um elo entre produtos (o que geralmente as organizações apresentam em seus relatórios) para um
entendimento mais adequado sobre possíveis resultados (o que de fato é relevante para a
população-alvo). Por exemplo, considere o caso de um programa de capacitação na área de
tecnologia. A teoria de mudança será capaz de mostrar um mapeamento completo de como
insumos, tais como professores capacitados, infraestrutura tecnológica e recursos financeiros,
poderão se traduzir em resultados à sociedade, como mobilidade social, redução no déficit de
profissionais do segmento digital e maior produtividade de empresas44.
Valor Presente
Trata-se de um cálculo utilizado para tornar comparáveis despesas e receitas realizadas em períodos
diferentes. Como exemplo de cálculo de valor presente, considere um projeto com duração de 5 anos
e custos de R$ 1.000,00 a cada período. Suponha uma taxa de juros de 10% ao ano. O valor investido
no primeiro ano é de R$ 1.000,00, sem custos. Para o segundo ano, o valor presente do investimento
será dado por R$ 1.000,00 divididos por (1 + 0,1), ou seja, R$ 909,09. Para o terceiro ano, o valor será
dado por R$ 1.000,00 divididos por (1 + 0,1)2, ou seja, R$ 826,45. O mesmo procedimento se aplica ao
quarto e ao quinto anos, gerando fluxos de R$ 751,31 e R$ 683,01, respectivamente. Ao final do cálculo
dos valores descontados de cada período, deve-se somá-los para obter o custo total a valor
presente. Neste caso, R$ 4.169,8645.
44
Mais informações em Insper Metricis (2020).
45
Para mais detalhes, ver Peixoto (2017).
ADDY, C. et al. Calculating the value of impact investing: an evidence-based way to estimate social
and environmental returns. Harvard Business Review, v. 97, n. 1, p. 102-109, 2019. Disponível em:
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