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UNIVERSIDADE VIRTUAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

SCARCELI, João; RA 1703039


Marli BARBOSA, Claudia; RA ​1704618
Conceição FELIX, Dilene; RA ​1707601
ALBERTINA, Jaquelina; RA ​1711517
TORRANO, Celso; RA 1702344

Projeto Integrador V (Grupo C)


“​O borboletário de Parelheiros: narrativas, memórias e lugares de aprender na
cidade educadora​”

São Paulo - SP
2020
​ UNIVERSIDADE VIRTUAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Projeto Integrador V: Grupo C


“​O borboletário de Parelheiros: narrativas, memórias e lugares de aprender na
cidade educadora”​

link do vídeo:

https://www.youtube.com/watch?v=vp3MfWU7sqM&t=58s

Relatório Técnico - Científico apresentado


na disciplina de Projeto Integrador V
para o curso de Licenciatura em Pedagogia
da Fundação Universidade Virtual do
Estado de São Paulo (UNIVESP)

Tutora: Profa. Dra. ​Rita de Cássia


Franco de Souza Antunes

SCARCELI, João; MARIA BARBOSA, Claudia; CONCEIÇÃO


FELIX,Dilene;ALBERTINA DA SILVA, Jaquelina;TORRANO,Celso. Relatório
Técnico Científico (Licenciatura em Pedagogia) Tutora virtual:. Universidade
Virtual do Estado de São Paulo. Polo Parelheiros.

São Paulo - SP
2020

1
SUMÁRIO

1. Introdução...............................................................................................p. 5
2. Objetivos.................................................................................................p. 6
3. Descrição das observações....................................................................p. 8
4. Análises e discussões.............................................................................p. 9
5. Contribuições para a elaboração do PI..................................................p. 11
6. Considerações finais..............................................................................p. 14
7. Referências Bibliográficas......................................................................p. 16
8. Anexos………………………………………………………………………...p.18

2
Resumo

O borboletário é um espaço não formal de educação e aprendizagem, conta


com atrações voltada para estudantes dos mais variados grupos e anos letivos
assim como para graduandos e pós-graduandos, fundado em 2015, o local também
conta com passeios de caiaques, labirinto gigante com 300 metros quadrados,
piscina de lama, pesca esportiva, mini golf, oficina de foguetes, campos esportivos e
exploração de trilhas na mata, não é uma espaço gratuito o preço do ingresso varia
de R$ 0,00 para crianças até 02 anos à R$ 49,90 para adultos até 59 anos.
O borboletário Águias da Serra fica localizado na belíssima reserva da Serra
do Mar situado na Estrada da Ponte Alta, 4300- Eng.Marsilac- São Paulo-SP.
Existe uma variação de cerca de 160 mil espécies, elas podem viver de duas a
quatro semanas na fase adulto após saírem do pupa ou casulo. A alquimia a elegeu
como um de seus símbolos por conter a síntese da transformação. A simples
observação de uma borboleta é diferente de um local como laboratório,o
borboletário conta com guias e pessoas esclarecidas para aprofundar o tema, da
natureza em um espaço aberto, para estudos de ciências naturais.
As dificuldades de acesso e acessibilidade são ítens que se detectaram: há
vários trechos de estrada de terra. Os temas levantados vão de conhecimento do
público local da existência do Borboletário; o custo do ingresso individual, o qual tem
de pano de fundo a elitização do espaço, servindo ao turismo e se preocupando
pouco com o acesso da população local. A descrição das observações de sites do
borboletário, vídeos do Youtube levantaram discussões que se considera a
educação mediada por tecnologia e educação em espaços não formais de ensino.
Também toca-se no tema da cidade como lugar de aprender: o recurso educacional
da excursão, passeios, deambulação, as narrativas e a arte de contar
histórias/narrativas.

Abstract

The butterfly garden is a non-formal space for education and learning, with
attractions aimed at students of the most varied groups and academic years as well
as undergraduate and graduate students, founded in 2015, the place also has kayak
tours, a giant maze with 300 square meters, mud pool, sport fishing, mini golf, rocket
workshop, sports fields and exploration of trails in the forest, it is not a free space the
ticket price varies from R $ 0,00 for children up to 02 years old to R $ 49.90 for adults
under 59.
The Águias da Serra butterfly garden is located in the beautiful reserve of
Serra do Mar located at Estrada da Ponte Alta, 4300- Eng.Marsilac- São Paulo-SP.

3
There is a variation of about 160 thousand species, they can live from two to four
weeks in the adult phase after leaving the pupa or cocoon. Alchemy chose it as one
of its symbols because it contains the synthesis of transformation. The simple
observation of a butterfly is different from a place like a laboratory, the butterfly
garden has guides and enlightened people to deepen the theme, of nature in an
open space, for natural science studies.
The difficulties of access and accessibility are items that have been detected:
there are several stretches of dirt road. The topics raised range from the knowledge
of the local public about the existence of the Butterfly Garden; the cost of individual
admission, which has the backdrop of elitizing the space, serving tourism and having
little concern for the access of the local population. The description of the
observations of butterfly sites, videos from YouTube raised discussions that consider
education mediated by technology and education in non-formal teaching spaces. It
also touches on the theme of the city as a place to learn: the educational resource of
the excursion, tours, walking, narratives and the art of storytelling / narratives.

Nenhum rosto é tão surrealista como a fisionomia autêntica de uma cidade ​(Benjamin)

4
1. Introdução

Nosso objeto de investigação parte de um local concreto, o


borboletário de Parelheiros, as dificuldades de acesso da população local a
investigação abrange a relação entre os conhecimentos desenvolvidos em
educação em espaços não formais,
As pessoas desconhecem o borboletário, sequer sabem onde se
localiza, o custo do acesso ao local (a entrada custa R$49,90 reais) somados
ás condições precárias das entradas que lhe dão acesso e a ausência de
divulgação tornam-o um outro mundo, quase um universo paralelo. A
Borboleta é considerada o símbolo da Alquimia, pai da química moderna. A
transformação que esse animal sofre durante sua existência é extremamente
interessante e inspira poetas e filósofos.
O Brasil possui muitas espécies de borboletas e poucos locais que se
dispõe a estudá-las e expô-las vivas. A importância do estudo da ecologia
nos dias atuais é um dos alicerces desse estudo de um espaço de educação
não formal. As escolas da região poderia obter vários benefícios dessa visita
e mesmo os familiares e demais moradores. A Natureza ainda preservada da
região com paisagens aprazíveis e deslumbrantes, permitem várias
abordagens do tema. O aspecto Biológico, a participação no ecossistema, o
tempo de existência, o sentido filosófico-existencial e o estético.
Muitas analogias são traçadas através do contato com esse singelo e
exuberante inseto. As diferentes fases de sua vida (ilustração 1)
representam, simbolicamente, as fases de um ser humano, ficando denotado
que a transformação em borboleta pode representar a fase de transição da
adolescência para a vida adulta, ou a finalização do curso de graduação
superior. Diversas culturas estabelecem uma iniciação para a vida adulta,
mesmo os indígenas e outras culturas pelo mundo estabelecem uma
cerimônia de iniciação na vida adulta. Para uma criança essa transformação
de lagarta em borboleta pode ser a formatura no nono ano, para o
adolescente pode representar o final do colegial ou o final da faculdade . A
beleza das cores e formas da borboleta, que nos dão tanto prazer aos olhos
contrasta com os incômodos causados pela lagarta, o que, por analogia, se
assemelha ao trabalho que dá uma criança em contraposição à autonomia do
ser humano adulto. É fácil para qualquer pessoa estabelecer uma analogia e
relacionar sua vida com as fases desse animal.

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2. Objetivos

O objetivo maior é entender o porquê do Borboletário não ser


conhecido pelos moradores da própria região onde se localiza. Mesmo tendo
mais de cinco anos de funcionamento, não há um interesse das escolas da
região em levar o aluno para conhecer os locais de ensino não formal da
região, seja o borboletário sejam os parques naturais e tribos indígenas
localizadas na região. Em Parelheiros há vários locais que têm sido vistos
como Pólo ecoturístico, por quem não mora aqui... Porém os moradores e
comunidade, incluindo a instituição escola, prefere passeios para hotéis
fazenda longínquos, parques centralizados na metrópole, quando na verdade
há muita riqueza aqui. Isso poderia ser definido como uma mentalidade
colonialista, no ato de pensar que o de fora é sempre melhor. Talvez por isso
o Borboletário e demais atrações de Parelheiros, extremo sul de São Paulo,
permaneçam anônimas e incógnitas. Tentaremos entender o porquê das
escolas da região e população do entorno não utilizarem esse e demais
espaços de educação não formal disponíveis, como parques e locais
históricos, e propor uma solução ou algumas soluções.

Segundo Santomé (1998), “​os conteúdos culturais que formam o


currículo escolar, com excessiva freqüência, apresentam-se
descontextualizados, distantes do mundo experiencial dos alunos​.” A
realidade vivida pelos moradores da região de Parelheiros sempre foi
enfeitada pelas borboletas, elemento sempre presente no pé de Serra, região
onde as montanhas começam a predominar, mas estudá-las num local onde
elas são expostas vivas vai além de estudá-las, pois envolve conceitos de
preservação do meio ambiente e demonstram a importância da ecologia e
dos ecossistemas para a sobrevivência de todos. Colecionadores de
borboletas geralmente as matam e penduram num mural com alfinetes. Como
estabelece Lück (1994) quando considera que “​reconhecer a complexidade
da realidade implica que se procure entendê-la através de estratégias
dinâmicas e flexíveis de organização da diversidade percebida, que levem ao
entendimento das múltiplas interconexões existentes sem as quais as coisas
não fazem sentido.​ ” A vida é a interconexão com tudo, a conexão mais
importante, o elo fundamental, é o fato de que a borboleta está viva e poder
ser manuseada e acompanhada nas suas diversas fases, além de mostrar
sua importância junto ao ecossistema .

Na educação não formal, o conhecimento é caracterizado como mais


prático e a aprendizagem é influenciada “​pela percepção, consciência,
emoção e memória”​ (BIZERRA; MARANDINO, 2009, p. 5). A interação com

6
as Borboletas e os locais históricos da região, criam um ambiente não formal
de ensino, pois enquanto na Educação Formal quem educa é o professor, na
Educação Não Formal, “[...] ​o grande educador é o outro, aquele com quem
interagimos ou nos integramos.​ ” (GOHN, 2006, p. 28).

Parelheiros é rico em espaços não formais de educação e temos


outros exemplos disso. Entre os atrativos turísticos da região consta um
excelente local de ensino não formal que é o cemitério do Colônia.
Conhecemos seu administrador André Barbosa que, famoso por ter
interpretado o personagem do saci, do Clássico Sítio do Picapau Amarelo.
Dentro do cemitério ele montou uma biblioteca, nesse cemitério centenário
onde estão os primeiros alemães que vieram para essa região em 1829,
https://www.youtube.com/watch?v=unTbrVi53f0&t=435s​). As atividades nesse
local podem ser consideradas educação em espaços não formais. Segundo
Almeida (1997, p.50) “​ampliar as possibilidades de aproveitamento
pedagógico dos acervos, para que o visitante acentue seu espírito crítico em
relação à sua realidade e daqueles que estão à sua volta“​ .

A instituição Castelo Azul também se encaixa nesse perfil, por


considerar a questão ecumênica, não se atendo á uma religião específica. A
divulgação desses locais é de extrema importância para o desenvolvimento
da educação em espaços não formais de ensino, principalmente em meios
digitais como webrádios e webtv's nessa época de pandemia que assola o
planeta. Mas um dia terminará e seria muito rico voltar os olhos da população
local e das escolas para a riqueza de museus e espaços de educação não
formal presentes na nossa região. O solo sagrado , uma organização oriental
espiritualista, também tem um espaço às margens da represa de
guarapiranga também figura como local de grande destaque pela flora e
natureza exuberante..

Poderíamos citar outros tantos, mas iremos nos focar no Espaço


conhecido como Borboletário e a causa de seu anonimato junto à população
local. Acreditamos que o valor de ingresso no local seja uma das causas
(R$49,90 reais), imaginamos que manter um laboratório gere gastos mas
poderia o Estado e a Prefeitura apoiar financeiramente a causa propiciando o
acesso à população do Extremo Sul? Outro fator de anonimato seria as
condições das estradas que dão acesso ao local; a falta de divulgação em
locais de interesse, como escolas e associações, nesse caso fica a pergunta,
será inépcia do administrador do local ou interesse em angariar público de
uma camada social mais alta (e isso seria aparofobia, preconceito com os
menos favorecidos), excluindo os mais pobres? Bhabha (2013) propõe que

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se rearticulem conhecimentos a partir do olhar das minorias, resistindo a
posturas totalizantes

3. Descrição das observações

Devido ao fato de estarmos em quarentena e o Brasil ter atingido, hoje


dois de julho, 60.000 mortos pela Pandemia, o borboletário permanece
fechado. O mesmo se dá com as escolas da região, para nossa infelicidade,
impedindo inclusive que nós, estudantes de pedagogia possamos realizar
estágio. Com isso procuramos alternativas para conhecer o local e
procuramos na internet, no site de busca mais conhecido e conseguimos as
seguintes informações

O local se chama Águias da Serra e localizamos o site:


https://www.borboletario.aguiasdaserra.com.br/ no qual se lê que o local está
a 40 quilômetros do Aeroporto de Congonhas (1h30 de carro) e a 30
quilômetros do Rodoanel (1h de carro) e encontram-se alguns vídeos: no
primeiro vídeo (​https://www.youtube.com/watch?v=HDGzM5QmjxY​), o
borboletário é apresentado por uma adolescente bem simpática, e, de acordo
com os dados informados, o local exibe mais de 2000 borboletas e toda a
metamorfose é explicada aos visitantes: são 300 nascimentos diários. O
vídeo possui 1 min. e 32 segundos. No segundo vídeo que encontramos
https://www.youtube.com/watch?v=-j3cy-hCrqY​, esse de 28 minutos,
apresenta o borboletário desde as estradas de terra, bem como explica que
as nascentes do Capivari-Monos estão na região, e todos os atrativos
turísticos agregados.

No local, os painéis informativos ajudam a entender as fases da borboleta. O


manuseio de lagartas pelos visitantes é outra atração a parte que no vídeo
fica bem visível. Dentro do local cercado de telas, as borboletas pousam nos
visitantes, o que também deve ser uma experiência encantadora. Laranjas e
pedaços de melancia também compõe a alimentação dos insetos, o que para
nós foi uma informação nova: sempre pensei que borboletas só gostavam de
flor. Segundo Libâneo (2001, p.3) “​um dos fenômenos mais significativos
dos processos sociais contemporâneos é a ampliação do conceito de
educação e a diversificação das atividades educativas​”. Alguns animais
também são colocados em exposição, como cavalinhos. O local possui um
lago cercado por grama bem cuidada, estacionamento e local para
alimentação. No último vídeo, de 3 minutos, uma repórter entrevista a
diretora do local, Deyse Lopes Naghirniac, que, com muita propriedade

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descreve o trabalho realizado com as borboletas e a proposta do local:
https://www.youtube.com/watch?v=JwDPuI_mG7Y​.

Nos vídeos, pode-se ver as intenções pedagógicas muito bem colocadas,


demonstrando a importância do contato físico com o inseto na interatividade
com as borboletas, o laboratório também desperta a atenção dos visitantes e
algumas fotos e filmagens desse simbólico e mítico animal.

4. Análises e discussões

Todo o contexto de tecnologia na educação que nos foi apresentado no


início desse curso de pedagogia, parecia apenas um vislumbre futurista,
lembro-me de ficar chocado com a possibilidade de ter que se desidentificar
com o arquétipo de “professor”, quando nos foram apresentadas plataformas
nas quais os estudantes , através de avatares, “compareceriam” virtualmente
à escola e o professor poderia ser representado como uma árvore ou uma
pedra.

A Tecnologia, segundo Ihde (1993), significa e implica em algo concreto, um


elemento material, o qual deve fazer parte de um conjunto de usos ou ​práxis
com uma relação entre pessoas que a utilizam ou fazem meio delas, a
idealizam, constroem e modificam; enquanto a técnica refere-se ao modo de
ação envolvendo ou não a tecnologia. (apud Cysneiros, 1998).

Quis-se acreditar a todo custo que tal avanço estaria reservado para um
futuro muito distante, e haveria tempo de se adequar. Ledo engano. Nesse
ano de 2020 o mundo é assolado por uma pandemia, ocasionada por um
vírus, Sars-Covid19, para o qual não há remédio nem vacina e a forma de
frear o contágio é o isolamento social.

As escolas foram fechadas e a temática da virtualização do ensino passa a


ser uma via, seja pela transmissão das aulas pela TV, via PC (personal
computer) ou mesmo pelo celular, ainda que existam razões econômicas,
privatizantes e mercadológicas, bem como de um ponto de vista crítico, não
estejam realmente preocupadas com uma discussão séria sobre o ensino
híbrido, e as verdadeiras condições tecnológicas das escolas, professores e
estudantes com a acessibilidade a essas plataformas de aprendizagem, bem
como são questionáveis os resultados e porcentagem de acesso pelos
estudantes desse método, ao menos aplicado na cidade de São Paulo, seja
nas redes municipal ou estadual.

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Voltamos às videoaulas, as quais nos alimentam de saber e fomenta o
conhecimento, pois que cursamos uma Universidade e faculdade de
Pedagogia (Univesp), que até então era semi-presencial e agora totalmente
virtual e à distância (utiliza-se de Ensino à Distância, modalidade EaD).
Professores conhecidos, formados estão lidando com essa realidade, sem
sequer haver tempo de se preparar e sem receber formação e capacitação
tecnológicas adequadas, tendo que improvisar e produzir videoaulas, bem
como outros recursos educacionais (plataformas) e abandonando a realidade
presencial da escola, por força dessa nova realidade pandêmica e suas
exigências e protocolos sanitários de segurança.

Ao menos tem-se o direito a de ser quem se é: não chegamos a virar avatar,


deixa isso pra depois. A educação mediada por tecnologia pode ser algo
inadiável nos dias de hoje, consideradas as necessidades e atrasos
existentes na área na cidade, estado e país. Cysneiros (1998) afirma que “​as
tecnologias do passado ampliavam a força humana, a capacidade de agir
fisicamente na realidade concreta. Com as tecnologias da informática,
amplia-se aspectos da capacidade de ação intelectual​”.

Essa nova realidade virtual que se impõe foi caracterizada por Levy (2009)
como cibercultura, e inclui inúmeros desafíos provenientes de modalidades
comunicacionais mais ágeis, as quais têm como território o ciberespaço, um
ambiente virtual capaz de suportar diversos sistemas de comunicação
concomitantes. A expansão do conhecimento para além da escola requer
uma revisão do seu processo de comunicação que, segundo Martín-Barbero
(2000), é um problema a ser resolvido antes de discutirmos a respeito dos
meios. Portanto o preparo da videoaula e demais detalhes da formatação da
aula importam mais que os meios tecnológicos de distribuição desse saber.
Martín-Barbero (2014) enfatiza ainda que “​meios e tecnologias são para os
mais jovens lugares de um desenvolvimento pessoal que, por mais ambíguo
e até contraditório que seja, eles converteram no seu modo de estar juntos e
de expressar-se​”. (p. 120) , vê-se então que já apontavam a tecnologia como
o futuro da educação, futuro esse agora acelerado pela pandemia.
Lembramos também que de acordo com Freire (2014, p. 109) “​o espaço
pedagógico é um texto para ser constantemente lido, interpretado, escrito e
reescrito”​ .

Optamos assim por analisar os vídeos do borboletário disponíveis, e formular


nossa proposta de modo hipotético, levando em conta que São Paulo vive
hoje um estado de isolamento social em um breve relaxamento, ainda em um
período do ascenso de curva de casos e mortes, até o momento de 64.900

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(06 de julho de 2020) ocasionadas por Covid 19, em que as atividades não
essenciais estão proibidas de funcionar.

5. Contribuições para a elaboração do PI: referenciais teóricos

Enquanto educadora, a Cidade é também educanda.​ (Paulo Freire)

5.1. Conceito de Cidade Educadora

O I Congresso Internacional de Cidades Educadoras, ocorrido em


Barcelona, em 1990, reuniu um grupo de cidades, representadas por seus
governos locais, que decidiram trabalhar juntas em projetos e atividades para
melhorar a qualidade de vida dos habitantes, a partir da participação ativa na
utilização e evolução da cidade e de acordo com a carta aprovada das
Cidades Educadoras. O Movimento formalizou-se com o III congresso
internacional, realizado em Bolonha, em 1994.
Os Eixos ou Princípios da Cidade Educadora consistem em Trabalhar
a escola como espaço comunitário; trabalhar a cidade como grande espaço
educador; Aprender na cidade, com a cidade e com as pessoas;valorizar o
aprendizado vivencial; priorizar a formação de valores, e institui-se por
Direitos básicos: I- Direito a uma Cidade Educadora; II- O compromisso da
Cidade; III- Ao serviço integral das pessoas.
Nossa proposta de escolha do borboletário de Parelheiros tem como
referência o conceito de cidades educadoras, segundo a proposta do
professor Moacir Gadotti, da Universidade de São Paulo e do Instituto Paulo
Freire. Gadotti apresenta em seu artigo o que é uma cidade educadora e a
sua relação com a escola cidadã, o conceito de cidadania plena, explicando o
que é uma cidade que educa, trabalhando a relação entre a escola que
educa e a escola cidadã quando há diálogo, incluindo São Paulo entre uma
das 15 cidades educadoras.
A proposta de escolha do Borboletário deve-se por problematizar um
local de aprender, em Parelheiros, no extremo sul da cidade de São Paulo,
dentro da proposta de Cidade Educadora local com alguns espaços
privilegiados, que são subutilizados em sua capacidade de nos oferecer uma
aula de zoologia e botânica, seja pela dificuldade do acesso ou pela limitação
financeira dos próprios moradores do bairro, se a opção é ecoturística dos
administradores. Poder-se-ia oferecer uma aula em um espaço não formal de
ensino e aprendizagem, de ciências naturais, biologia, botânica, entre outras,
no próprio bairro de residência dos estudantes.

11
A relação com a cidade e as narrativas remete ao texto de Giuliano
Tierno Siqueira, “​Narrador: considerações sobre a arte de contar histórias na
cidade​”, lido nas orientações da disciplina de Projeto Integrador V, no sentido
da sua clara menção e homenagem à Walter Benjamin, filósofo alemão do
início do século XX, que escreveu diversas obras, entre elas ​o Narrador​,
Experiência e pobreza; Sobre o conceito de História; bem como as obras
sobre o Surrealismo, o livro das Passagens, o livro sobre Paris do século XIX
e Charles Baudelaire, entre outros, como a menção a Louis Aragon, ​O
camponês de Paris, Nadja de André Breton, entre muitos outros autores
surrealistas, entre eles aqui no Brasil e mais especificamente, na cena
Paulistana, Roberto Piva (este em especial, no que trata do rural e do urbano,
em sua obra poética), Claudio Willer e outros, que colocam um papel
destacado em sua obra a relação da cidade de São Paulo, por exemplo, para
os objetivos mais modestos desse projeto, a saber do papel da cidade como
um local de memórias, narrativas e aprendizagens, um local de aprender.
Quando mencionamos a excursão, a utilização de espaços
educacionais informais da cidade, locais de aprender pedagógicos,
rapidamente fazemos menção e referência à deambulação, a ​flânerie,​ ou
seja, as andanças, as caminhadas observadoras, a peregrinação dos sujeitos
pela cidade, são temas presentes no livro de Walter Benjamin sobre
Baudelaire e a Paris do Século XIX. Nas palavras do próprio Benjamin:
“​A rua conduz o flanador a um tempo desaparecido. Para ele, todas as
ruas São íngremes.. Conduzem para baixo, se não para as mães, para um
passado que pode ser tanto mais enfeitiçante na medida em que não é seu
próprio, o particular”1.
O uso do espaço público, da rua, de um local informal de
aprendizagem, tem uma perspectiva interessante, que insere essa “aula” e a
aprendizagem em locais informais, como o borboletário, e outros espaços
não-formais da cidade:
“​as ruas são a morada do coletivo. O coletivo é um ser eternamente
inquieto, eternamente agitado, que, entre os muros dos prédios, vive,
experimenta, reconhece e inventa tanto quanto os indivíduos ao abrigo de
suas paredes”​ .2
Essa perspectiva da experiência, das vivências narrativas e o ato de
transmitir as experiências, comunicá-las, que possibilita realizar esta relação
entre Benjamin e a nossa proposta de trabalho, a educação e o aprendizado
em espaços não formais, no caso, o Borboletário de Parelheiros. Benjamin,
mencionando o papel do Detetive e a flânerie, a deambulação, andarilho,
referindo-se a Baudelaire, faz a seguinte menção ao flâneur, ao observador,
que aqui identificamos ao estudante, à criança, ao adolescente, jovem e

1
BENJAMIN, Walter. O flaneur. In: ​Obras escolhidas III​. p. 185. São Paulo: brasiliense, 1989.
2
BENJAMIN, Walter. O flaneur. Op. cit., p. 195.

12
adulto,, cidadão, morador da cidade, no bairro periférico, ao apropriar-se de
um local de aprender a céu aberto, no caso, o borboletário:
“​A calma dessas descrições combina com o jeito do flâneur, a fazer
botânica no asfalto. Mas, já naquela época, não se podia andar a passeio por
todos os pontos da cidade​.” (...) “​A cidade é a realização do antigo sonho
humano do labirinto. O flâneur, sem o saber, persegue essa realidade”​ 3
Com as devidas distâncias e diferenciações de contextos, a menção
aqui ao flâneur Benjaminiano-Baudelairiano, fazemos referência ao cidadão,
ao estudante, como observador e aprendiz, vivenciando, elaborando e
explorando, no papel de sujeito cognoscente, do seu próprio conhecimento,
aqui descrito como um observador ou detetive, ao se deslocar, ao observar
no próprio local de aprendizagem, no caso, o borboletário, uma forma
diferente de análise, observação e conhecimento:
“´​O observador - diz Baudelaire - é um príncipe que, por toda a parte,
faz uso do seu incógnito´ Desse modo, se o flâneur se torna sem querer
detetive, socialmente a transformação lhe assenta muito bem, pois justifica a
sua ociosidade.​ ”4
Os locais de vivência, a comunidade, as áreas ocupadas de
mananciais dado, as escolas, comércio, igrejas, bares, em uma região
periférica de São Paulo como Parelheiros, região do extremo sul de São
Paulo, que contém uma presença rural, conta com cachoeiras, áreas de
mananciais, parques, o próprio borboletário, possibilitam que essa
experiência e local de vivência dos próprios estudantes em seu local de
moradia, de estudo, possibilitando uma vivência e uma experiência de
aprendizado no borboletário que qualquer outra aula tradicional, formal, não
possibilitam vivenciar, e além disso, recriar, recontar o vivido, transmitir as
experiências aos demais cidadãos, que compartilham da mesma cidade, do
mesmo local de vivência.
Essas perspectivas aproximam de Benjamin, no seu conceito de
Erfahrung​, experiência, e também do conceito de narrativa, da faculdade de
intercambiar experiências e contar histórias, de diversas versões e
interpretações que podem ser recriadas. Como contatava Benjamin há mais
de um século, relatando os soldados que, ao voltar da I Guerra Mundial,
retornavam mais pobres de experiências. Não se tem o propósito de realizar
uma análise mais detida e aprofundada da teoria literária, da narrativa e da
História de Benjamin, da passagem da oralidade das poesias épicas,
epopéias, aos protótipos de romance, da invenção da imprensa, porém,
tomar como referência o que a arte de narrar, contar histórias e oferecer
narrativas, trocar, cambiar experiências desse autor, pode nos oferecer na
análise e compreensão de um lugar de aprender, de refazer o conhecimento,

3
BENJAMIN, Walter. O flaneur. In: Obras escolhidas III, p.34 e 203. São Paulo: brasiliense, 1989.
4
BENJAMIM, Walter. id. ibid. op. cit., p. 38.

13
as experiências vividas e vivenciadas pelos estudantes in locus, tornando a
aprendizagem mais significativas, contextualizadas e relevantes.. As
experiências, cita Benjamin: “​elas sempre foram comunicadas aos jovens​”.
Regredimos em experiências, na capacidade de contar histórias, de
comunicar.
A importância das escolas se apropriarem e utilizarem, se valer dos
locais públicos, realizarem excursões (em que pese o custo e o acesso), que
é algo que deve ser problematizado e questionado, buscar uma negociação
com os administradores e poderes locais por entrada e um ingresso mais
democrático, a não privatização desses espaços e limitação do acesso, com
valor mais acessível aos estudantes, uma vez que isso significa maior acesso
a um lugar de aprender, os espaços públicos da cidade como educadores, o
borboletário como lugar de aprender, uma aula de biologia, ecologia e
ciências naturais ​in locus,​ ao céu aberto, no próprio bairro de moradia, e
convivência dos educandos.

6. Considerações finais

A realização do Projeto Integrador trouxe-nos diversas inquietações e


novas perspectivas, seja do ponto de vista do uso de recursos tecnológicos,
utilização das TDIC, o recurso a espaços de educação não formais, como o
borboletário, inserido em um bairro como o nosso, encontramos dilemas,
dificuldades próprias da organização das escolas, da região em que está
localizado, bem como procurou-se contextualizar a idéia de excursões, do
conhecer, andar, flanar pela cidade, ou a própria cidade, como uma cidade
educadora, um lugar de aprendizagem.
Dentro de uma visão interdisciplinar podemos estudar o borboletário
sob diversos pontos de vista dito “escolares”. O paradigma disciplinar
fragmentado e estanque, não-dialógico, apresenta forte resistência à
interdisciplinaridade, pois “​os indivíduos conhecem, pensam e agem segundo
paradigmas inscritos culturalmente neles”​ (MORIN 2011b, p.24) p.24).
Sendo assim, temos a possibilidade de aproveitar o tema para
diversas áreas, além da própria Biologia. A riqueza cultural e étnica da região
tem sido submetida a uma visão colonialista e a divulgação foi entendida
como uma resposta para isso, tendo como público alvos a população local,
os professores e diretores de escolas. Nos propusemos a auxiliar na
divulgação do Borboletário nos locais de vivência religiosa de cada um do
grupo e divulgar junto às escolas em que iremos estagiar. Outra solução
ideal, porém neste momento não viável, seria uma visita ao local e a
produção de um vídeo, impossibilitada pelo aumento do número de mortos.
As soluções propostas seriam, ironicamente falando, dar um curso de
pós colonialismo para os diretores das escolas e quiçá obter um olhar social

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no aspecto político para rever, por parte da subprefeitura, o foco no turismo
em detrimento da população local. Sempre encontramos alternativas e esse
movimento meio anárquico tem sido visto nesse momento no mundo.
O movimento contra o racismo que se espalhou dos E.U.A. para o
mundo, o movimento de derrubada de estátuas de colonizadores assassinos
de índios e negros. As pessoas têm se mobilizado até mesmo nas favelas do
rio para se proteger do vírus, segundo os noticiários atuais, sem esperar mais
do Estado. Conseguimos nos aproximar de uma ONG local conhecida como
Bike do Pólo, (figura 2) através de sua presidente, Roberta Batista, que se
propôs a incluir nas suas rotas de passeios de bicicleta o Borboletário e
negociar com os administradores um desconto em nome da ONG. São
pequenos passos que vão nos levando na direção da inclusão social de
todos.

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7. Referências Bibliográficas

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37&dq=nenhum+rosto+surrealista+da+cidade&source=bl&ots=tyRy3EKhfT&s
ig=ACfU3U2V0-hNTIQ0QK_Sz702UdMXso1_3Q&hl=es&sa=X&ved=2ahUKE
wj-2L3wir_pAhUYJbkGHfd0B3QQ6AEwA3oECAkQAQ#v=onepage&q=nenhu
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Data de acesso: 13 de Maio de 2020, às 23:46

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8. Anexos

figura 1: fases e metamorfoses da borboleta.” Tudo no seu tempo”.

18
figura 2 - ONG Bike do Pólo que aceitou inserir o Borboletário nas
suas rotas.

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