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CASA ESCOLA DA PESCA: PERNA DE PAU COMO BRINQUEDO ANCESTRAL

MSc. Renata Aguiar1

Resumo:

Construindo narrativas de vivências em arte a partir da pedagogia da


alternância, na Casa Escola da Pesca - Belém/PA no ano de 2021, por meio
da modalidade circense da perna de pau, pensada como um brinquedo
ancestral, propusemos uma forma de expressão e construção de saber e
prática artística, entre a magia do circo, a brincadeira popular e o
equilibrismo em seus vários significados simbólicos, que na Amazônia, lugar
de produção de sentidos e identidades faz surgir questões e discussões
próprias que, assim observadas na sua especificidade, resistem à
homogeneização globalizante e descoloniza corpos e mentes.

Palavras-Chave: Perna de pau. Brinquedo ancestral. Circo. Pedagogia da


alternância.

Abstract:

Building narratives of pedagogical experiences in art in 2021, at Casa Escola


da Pesca of Belém/PA through the circus modality of the stilts, thought as an
ancestral toy, we proposed a form of expression and construction of
knowledge and artistic practice. Stilt walk is a practice of vulnerability and
resistance, between the magic of the circus, popular play and balance in its
various symbolic meanings, which in the Amazon, a place of production of
meanings and identities, raises questions and discussions that, thus
observed in its specificity, resist globalizing homogenization and decolonize
bodies and minds.

Key-Words: Stilts. Ancestral toy. Circus. Pedagogy of alternation.

1. A Casa Escola da Pesca:


Parte da Fundação Escola Bosque (Funbosque) e está localizada na Ilha de
Caratateua, bairro de Itaiteua, oferece atualmente o Ensino Fundamental, Médio e
Técnico, ofertados nas modalidades: Educação de Jovens, Adultos e Idosos (EJAI) e
Educação Profissional. No Ensino Fundamental são ofertados os ciclos finais (3ª e 4ª
Totalidades) juntamente a Iniciação Profissional em Pesca e Aquicultura. No Ensino
Médio, ao final dos dois anos de curso, o aluno concluinte também é habilitado como
Técnico em Recursos Pesqueiros. Para a certificação nos níveis de Iniciação
Profissional e Técnico a Casa Escola da Pesca (CEPE) exige, além da conclusão

1
Doutoranda em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora
da Casa Escola da Pesca – Fundação Escola Bosque (BELÉM/PARÁ/BRASIL).
satisfatória das disciplinas da base comum e técnica, também a apresentação do
Projeto Pessoal de Vida do Aluno (PPVA), que na prática se trata de um artigo
construído pelo aluno junto a um professor orientador, no qual o aluno deve apresentar
perspectivas futuras para sua vida a partir dos conhecimentos construídos no período
de formação escolar articulado com suas vivências comunitárias.
A CEPE foi criada em 2008 com o objetivo de atender aos ribeirinhos das
regiões insulares de Belém/PA que por conta do trabalho e da dificuldade de acesso
na região, não tiveram acesso à educação escolar. Tradicionalmente os alunos e seus
familiares subsistem dos sistemas aquáticos, por meio da pesca e do manejo do açaí,
assim a Casa Escola da Pesca foi fundada na Pedagogia da Alternância que busca
ressignificar e trocar saberes tradicionais e populares com saberes da educação
formal a partir de uma vivência alternada entre escola e comunidade, por meio de
períodos quinzenais alternados, entendendo que o jovem na sua experiência
formadora, assumindo-se como sujeito também da produção do saber pode se
convencer definitivamente de que ensinar/aprender não é transferir/receber
conhecimentos, mas construir juntos possibilidades para a sua produção ou sua
construção (FREIRE, 2000).
Devido a ampla carga horária relativa aos níveis escolares e as habilitações
de Iniciação Profissional e Formação Técnica as aulas se dão, durante a quinzena
escolar, em período integral de segunda a sexta, de 8:00h às 17:35h. Para os alunos
provenientes de comunidades ribeirinhas, existe ainda a vivência escolar comunitária,
que acontece no período noturno já que esses alunos dormem na escola durante a
semana, caracterizando um regime de semi-internato e voltam as suas comunidades
no final de semana. Durante o período noturno, chamado de monitoria e/ou vivência
escolar comunitária, alunos e professores monitores permanecem na escola no
período após as aulas com atividades lúdicas, educativas ou de lazer como cineclube,
roda de leitura, capoeira e futebol e de vivência comunitária como serviço de jantar
coletivo, limpeza e organização dos espaços escolares utilizados e pôr fim a
organização e limpeza do dormitório escolar.
Na quinzena na qual os alunos retornam as suas comunidades, estes levam
consigo um bloco de exercícios, no qual os alunos devem, a partir das relações com
suas práticas de trabalho, criar conexões com os saberes formais. Dessa forma, o
tempo despendido na comunidade e no trabalho tradicional é também constitutivo de
aprendizagem que é entendido e contabilizado como período letivo no currículo da
Casa Escola da Pesca. Para Alda Luzia Pessotti (1978) que realizou pesquisa no
Espirito Santo sobre Escolas Famílias Agrícolas (EFAs):
A alternância consiste em repartir o tempo de formação do jovem em
períodos de vivência na escola e na família. Esse ritmo alternado rege toda a
estrutura da escola e a busca a conciliação entre a escola e a vida não
permitindo ao jovem desligar-se de sua família e, por conseguinte, do meio
rural. (2003, p. 37)

Embora a escola tenha sido pensada em toda a sua organização institucional


para atender as comunidades ribeirinhas/rurais, a muitos alunos são advindos das
comunidades insulares da Ilha de Caratateua e comunidades periféricas continentais
das adjacências, criando uma série de conflitos e tensões entre alunos, professores e
coordenação pedagógica, por conta de discordâncias quanto ao foco e forma das
ações pedagógica, além dos constantes choques identitários que esse encontro das
duas margens do rio (urbano/rural) acarretam.
Num estudo recente, da pesquisadora Lourdes Helena da Silva, é feita uma
análise mais profunda do conceito de alternância, trazendo à tona um debate muito
importante, o uso de uma alternância de aparência:
A alternância real [...] consiste em uma efetiva implicação, envolvimento do
alternante em tarefas da atividade produtiva, de maneira a relacionar suas
ações com a reflexão sobre o porquê e o como das atividades desenvolvidas.
(p. 30)

Neste artigo o que apresento são narrativas das vivências de alternância


possíveis durante o ano de 2021, na Casa Escola da Pesca, ano no qual todo o
processo pedagógico foi atingido e drasticamente alterado pela situação sanitária
instaurada pela pandemia de Covid 19 e pelas consequentes idas e vindas nas
decisões do poder público de retorno às aulas presenciais, ensino híbrido ou remoto.
Narrativas disparadas pela introdução da prática da perna de pau como brinquedo
ancestral e expressão da arte circense, buscando construir, a partir da arte, espaços
de convivência junto aos alunos, em uma resistência da presença da escola na
comunidade, produzindo sentidos e identidades outras.

2. Alternâncias possíveis: micropolíticas pedagógicas de resistência


No ano de 2021 as aulas, alternâncias e monitorias foram diretamente
afetadas pela pandemia de Covid 19, iniciamos o ano letivo sub a sombra da segunda
onda da doença que após um breve momento declive no número de casos, novamente
nos atingia e suspendia as aulas presenciais na educação pública do município de
Belém.
Na CEPE nossas especificidades geográficas e comunicacionais
impossibilitavam o ensino remoto via internet, já que 90% dos alunos atendidos não
possuem acesso à internet de qualquer tipo. Assim decidimos que o mais apropriado
seria produzir e imprimir o material didático adequado aos nossos alunos e fazer a
entrega nas comunidades através dos barcos escolares e barqueiros que já são parte
dessa comunidade para evitar o amplo contato com agentes do continente, buscando
manter assim os protocolos sanitários instituídos pelos órgãos de saúde competentes
do município. No entanto essas investidas tiveram pouca ou nenhuma adesão dos
alunos, que na maioria dos casos devolviam o caderno de atividades quase intactos,
por falta mesmo de entendimento do conteúdo entregue ali ou ainda por falta de
conexão entre aquele calhamaço de papel e sua realidade na ilha. Assim novamente
nos reunimos para pensar de que maneira seria possível contornar as dificuldades
geográficas e culturais para garantir o acesso do nosso alunado a educação escolar.
Decidimos então formar uma equipe composta por um professor de cada área de
conhecimento (Exatas e biológicas, Códigos e linguagens, Históricas e sociais) para
ir junto aos barqueiros e coordenação pedagógica fazer a entrega do material e
realizar atividades pedagógicas que tornassem o conteúdo do material impresso mais
acessível e significativo para os alunos, o que foi de fundamental importância para
que a realização das atividades impressas fosse possível, proporcionando uma
vivência de ensino interdisciplinar, que para Ana Mae Barbosa:
[...]sugere a existência de disciplinas em separado, autônomas, que se
pretende inter-relacionar, estendendo fronteiras, sobrepondo contextos,
explorando faixas intermediárias. Historicamente, podemos apontar como
fundamento da interdisciplinaridade a ideia de totalidade, paulatinamente
substituída pela ideia do inter-relacionamento do conhecimento: inter-
relacionar as diversas disciplinas para atingir a compreensão orgânica do
conhecimento, ou abarcar a globalidade do conhecimento, humanísticas da
educação. (2010, p.17)

Assim a CEPE, que como instituição deve cumprir a missão de lugar de


difusão e construção de saber que possa abranger também o conhecimento das
comunidades de onde estes alunos são oriundos, que em suas realidades
reorganizaram o uso da pedagogia da alternância para um contexto proprio, que
como exposto anteriormente, mistura jovens das margens urbanas e ribeirinhas da
cidade de Belém, assim buscando criar uma alternância possível, para as vidas e
corpos reais desses alunos diversos, com aspectos relacionados tanto no campo
das experiências vividas, quanto aos saberes científicos proporcionados pela escola
e seus tencionamentos como espaço de convivência, conhecimento e afetos,
buscamos também transformá-la em lugar de respeito e tolerância das
multiplicidades que se apresentam nos mais diversos tipos humanos. Neste artigo
narramos as experiências de ensinar e aprender arte pela vivência da perna de pau
como brinquedo ancestral.

3. Projeto poéticas circenses: brinquedo de pau


A inclusão das linguagens artísticas na escola, desde a Educação Infantil é
enfatizada como uma das formas de minimizar as desigualdades de acesso aos
símbolos e ao conhecimento, pois, ao mesmo tempo que a escola é espaço de
reprodução, pode ser também espaço de transformação, “[...] se a escola reproduz a
estrutura de classes, mantendo e legitimando o acesso diferenciado à cultura, à arte
e à música, ela também é lugar de conflito, passível de ser transformada (ou mesmo
conquistada)” (PENNA, 1990, p. 31). Assim defendemos a importância da arte na
Educação Básica, num projeto de democratização no acesso à cultura, numa
perspectiva de uma educação integral do ser humano, em que a escola contribuiria
com a constituição destes sujeitos em suas formas estéticas, apreciativas, culturais,
etc. Entendemos que a ideia de sujeito é antes de tudo contestadora, pois ser sujeito
de sua própria história requer um movimento de contestação ao papel social
previamente definido para os indivíduos, como fica claro no seguinte enunciado:
O sujeito não é reflexão sobre o Si-mesmo e sobre a experiência vivida; ao
contrário ele se opõe ao que tentamos chamar primeiramente de papéis
sociais, e que na realidade é a construção da vida social e pessoal pelos
centros de poder que criam consumidores, eleitores, um público, pelo menos
enquanto oferecem respostas às demandas sociais e culturais. (TOURAINE,
2002, p.247)

Nessa conjuntura é coerente afirmar que o sujeito é o autor de Si-mesmo, tal


ideia é também claramente encontrada nos escritos de Dubet (1996), quando este
afirma que, no pensamento clássico da sociedade, o indivíduo é o produto de uma
socialização que visa à incorporação de valores e de condutas socialmente adaptadas
ao funcionamento da sociedade. Porém, enquanto contestação, o autor afirma que
não se defende mais o papel social do indivíduo, mas sim a autenticidade e identidade
do sujeito, a afirmação de si e o desejo de ser autor de sua própria vida, produzindo
ao mesmo tempo sua ação e sentido para sua existência.
Dessa forma, em tempos de sedentarismo, isolamento social e dificuldades
de relações interpessoais, são inegáveis as contribuições das experiências sensíveis
capazes de promover, lúdica e espontaneamente, o encontro do ser humano consigo
mesmo e com o outro. Nesta perspectiva, o resgate do mundo circense em toda sua
magia e vivacidade emerge como oportuno, prazeroso e constitui-se num verdadeiro
diferencial estratégico de natureza interdisciplinar. Atentas às referidas
potencialidades voltamos nossos olhares e intenções no sentido de explorar os
elementos lúdicos, expressivos e poéticos do universo do circo, versão moderna de
entretenimentos ancestrais vivenciados por diversas culturas. Nessa perspectiva,
incluímos no quadro de projetos da Fundação Escola Bosque para ser realizado na
Casa Escola da Pesca o Projeto Poéticas Circenses, que, por meio de vivências
significativas e personalizadas dentro da prática da Perna de Pau, busca desenvolver
e discutir inúmeros aspectos relacionados à cultura e ao lazer no contexto da
qualidade de vida, a apreensão de valores culturais e a reflexão sobre o corpo criativo.
A cena, a magia e o imaginário do circo são importantes referentes para
abordar relações entre forças, agenciamentos, jogos de verdades, objetivação e
subjetivação, produções e estetizações de si mesmo e do outro, práticas de
resistência e liberdade: enunciações. O circo é assim pensado como espetáculo
cultural permanente. Na atualidade passa por uma revitalização não só de seus
aspectos tradicionais, mas também, de adaptação a novos formatos, perspectivando
aspectos físicos, psíquicos e socioculturais nas vivências do lazer, o que instiga o
interesse em desvelar, no circo, sua arte e seus saberes, entre a magia, o
malabarismo e o equilibrismo. Esse resgate, ainda pouco explorado nas situações
didático-pedagógicas, ganha crescente adesão dos formadores reforçando a
abrangência da abordagem interdisciplinar.
As ações deste projeto tinham, portanto, o objetivo de oferecer oficinas
semanais de perna de pau, a partir das quais outros artistas circenses seriam
convidados a integrar, a partir de suas linguagens, outras expressões ou poéticas ao
que já estaria sendo desenvolvido, fossem elas na linguagem da acrobacia,
palhaçaria, cênica, pirofágica, etc, no intuito de criar um circo dos altos na CEPE.
Para Lafourcade (1974), o processo de ensino constitui um conjunto de
procedimentos estimulantes, orientadores e reguladores dos processos de
aprendizagem de um sujeito, concluindo-se que qualquer processo de ensino
aprendizagem ou mesmo de treinamento deve seguir uma sequência ascendente de
progressão da dificuldade, seja ela referente ao esforço físico, psíquico, técnico ou
estético, além de respeitar a capacidade lógico-racional dos alunos implicados. Em
nosso caso, estabelecemos uma progressão lógica de dificuldades para o processo
de aprendizagem da Perna de Pau, que chamamos de “Iniciação”, onde procuramos
desenvolver um grupo de ações motrizes elementares que consideramos mais
importantes, como levantar, abaixar, caminhar, etc. As tarefas motoras que propomos
também visam a desenvolver outros aspectos fundamentais da aprendizagem, como
podem ser: a confiança, o respeito ao material e à situação de altura, a superação do
medo de altura e do desconhecido, o desenvolvimento de algumas qualidades e
condições físicas, as respostas efetivas sobre segurança e, a solução de problemas
típicos (desequilíbrios, quedas, etc.). Além disso, não podemos deixar de citar que se
trata de um processo que busca problematizar e explicar de maneira contextualizada
(significativa) seu conteúdo além de desenvolver especialmente a capacidade criativa
dos alunos, característica fundamental das atividades lúdico-expressivas.
No entanto no contexto de pandemia que se desenrolou ao longo do ano de
2021 as atividades do projeto precisaram ser readequadas as possibilidades de
encontro presencial com os alunos e acabaram se dando em três situações. A primeira
vivência de perna de pau na casa escola da pesca aconteceu no primeiro semestre,
em março de 2021, quando foi decretado o início do ensino hibrido na educação
municipal de Belém, assim alguns alunos retornaram a escola em regime de
revezamento, durante esse período a perna de pau foi apresentada dentro da
disciplina de artes, já que a realização dos projetos estavam suspensas por período
indeterminado, e havia grande ansiedade de todos pelo início das atividades pernaltas
na escola.

Figura 1 – Registro da primeira oficina de perna de pau da CEPE. 2021. Fotografia. Acervo
pessoal.

Inicialmente a perna de pau gerou algum receio por parte dos alunos e a
adesão foi pequena, dos dez alunos presentes, apenas quatro se dispuseram a
experimentar a perna de pau, no entanto o momento gerou muita alegria e fortaleceu
nossos laços com os alunos, há muito dispersos pelo distanciamento social imposto
pela pandemia, assim essa atividade inicial também nos fortaleceu com uma
esperança que havia algum tempo não sentíamos e que se apresentou de extrema
importância para reacender em nós o desejo de aprender/ensinar naquela
comunidade escolar, já que segundo Paulo Feire (2000, p.43):
Há uma relação entre a alegria necessária à atividade educativa e a
esperança. A esperança de que professor e alunos juntos podemos aprender,
ensinar, inquietar-nos, produzir e juntos igualmente resistir aos obstáculos à
nossa alegria. Na verdade, do ponto de vista da natureza humana, a
esperança não é algo que a ela se justaponha. A esperança faz parte da
natureza humana.

Assim com as esperanças renovadas nos agitamos no sentido de novamente


habitar a escola e fazer daquele lugar um espaço fundamental para a reconstrução
social e fortalecimento da identidade enquanto parte de um grupo especifico,
possibilitando forjar uma causa de luta e resistência que, para a partir daí se perceber
e se colocar como sujeitos que não somente experimenta os papeis de
subalternidade, previamente definidos na nossa sociedade, mas que num movimento
de construção da autonomia, cria e recria o seu lugar e sentido no mundo. No entanto
novamente a pandemia se intensificou e as aulas voltaram a ser suspensas e com
elas o nosso espaço de convivência com os alunos.

Figura 2 – Registro da segunda oficina de perna de pau da CEPE. 2021. Fotografia. Acervo
pessoal.

Até que na quinzena final de junho pudemos mais retomar atividades


presenciais, no entanto com pouco tempo disponível, decidimos junto a coordenação
que ao em vez de retomar as aulas e disciplinas de forma regular, iriamos fazer uma
semana de integração, já que muitos alunos não conheciam se quer o espaço da
CEPE e nem mesmo seus colegas ou professores, assim veio a proposta para que os
professores de forma individual ou colaborativa propusessem atividades lúdico
pedagógicas para serem desenvolvidas ao longo dessa semana, na qual cada dia
contaríamos com a presença de alunos de comunidades diversas para evitar
aglomeração.

Figura 3 – Registro da terceira oficina de perna de pau da CEPE. 2021. Fotografia. Acervo
pessoal.

Assim a atividade de iniciação a perna de pau foi novamente oferecida na


CEPE, dessa vez com maior adesão dos alunos e também de alguns professores.
Nesse momento foi importante perceber as falas de alguns alunos e professores que
trouxeram a narrativa da presença do brinquedo de pau nas suas vivencias de
infância, reafirmando a brincadeira, o jogo e a ludicidade na ancestralidade comum a
partir das quais é possível desdobrar uma poética circense que permeia a identidade
e a construção cultural desses sujeitos. Contente com esta reflexão, encerramos o
semestre e respiramos fundo aguardando o futuro imediato há um mês adiante.
Figura 4 – Registro da primeira oficina de perna de pau da CEPE. 2021. Fotografia. Acervo
pessoal.

Em agosto retornamos as aulas de forma remota e em setembro com a


retomada das atividades presenciais novamente a perna de pau se fez presente, não
mais como uma novidade, mas agora como uma atividade própria do currículo da
CEPE, os alunos já iniciados começam agora a desenvolver algumas habilidades
indispensável para que possamos começar a construção cênica e desdobramentos
poéticos do uso do brinquedo.
As atividades do Projeto Poéticas Circenses ainda não foram plenamente
instituídas, ainda assim a perna de pau já é um brinquedo conhecido e a prática
presente na comunidade.
Pensamos a escola como instrumento de transformação das injustiças sociais
que oprimem, marginalizam e exterminam os corpos que ousam se contrapor às
normas e padrões sociais previamente determinados,
Numa outra Amazônia, onde a natureza e a ação humana se fazem
desmedidas, os alunos, provenientes das margens ribeiras urbanas, de uma cidade
enseada de rio, que é Belém, reorganizam a percepção de produção tradicional, e
constituem uma especificidade resistente à homogeneização dos corpos amazônidas,
experimentando uma outra experiência de ser existir as margens e nas alturas de
forma consecutiva.
4. Referências

Livro
BARBOSA, Ana Mae; CUNHA, Fernanda Pereira. Abordagem triangular no ensino das
artes e culturas visuais. São Paulo: Cortez, 2010.
DUBET, François. Sociologia da Experiência. São Paulo: Ed. Instituto Piaget, 1996.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. 25ª
Ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
LAFOURCADE, P. Planeamiento, conducción y evaluación
en la enseñanza superior. Buenos Aires, Kapelusz, 1974.
PENNA, Maura L. Reavaliações e Buscas em Musicalização. São Paulo: Loyola,
1990.
SILVA, Lourdes Helena. As experiências de formação de jovens do campo: alternância
ou alternâncias? Viçosa: UFV, 2003.
TOURAINE, Alain. Crítica da Modernidade. 7ª Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

Artigo
ESTEVAM, Dimas de Oliveira. A alternância na formação do jovem rural. Educação e
empreendedorismo no campo. Marco Social. Rio de Janeiro: Instituto Souza Cruz. n. 7.
2005.

Dissertação
PESSOTTI, Alda Luiza. Escola da Família Agrícola: uma alternativa para o ensino rural. Rio
de Janeiro, 1978. 194 p. Dissertação (Mestrado) - Fundação Getúlio Vargas - IESAE. 1978.

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