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FA C U L D A D E S FA C E T E N

DIREITO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE

Rafael Penela Ribeiro

1
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Prof. Me. Rafael Penela Ribeiro

BOA VISTA
2019

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FA C U L D A D E S FA C E T E N

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


FACETEN
1.ª Edição, 2019

Autor: Rafael Penela Ribeiro

Faculdade de Ciências, Educação e Teologia do Norte do Brasil


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FICHA CATALOGRÁFICA
CIP-Brasil. Catalogação na fonte

RIBEIRO, Rafael Penela.

Direito da Criança e do Adolescente. Boa Vista: Editora FACETEN,


2019, p. 81.

1. História do Direito Infantojuvenil. 2. Doutrina da Proteção


Integral. 3. Direitos Fundamentais da Criança e do
Adolescente. 4. Princípios do Direito da Criança e do
Adolescente. 5. Rede de Proteção e Política de Atendimento. 6.
Menoridade, Responsabilidade Penal, Atos Infracionais e
Medidas Socioeducativas. 7. A Justiça da Infância e da
Juventude.
I. Titulo. II. Faculdade de Ciências, Educação e Teologia do
Norte do Brasil.
CDU - 301

FICHA CATALOGRÁFICA: BIBLIOTECA DA FACETEN


Bibliotecária responsável: Ângela Marcela Almeida Marciel. CRB/11-515

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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................ 5
1. HITÓRIA DO DIREITO INFANTOJUVENIL ............... 6
2. DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL ................. 34
3. DIREITOS FUNDAMENTAIS DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE ................................................................... 40
3.1. Direito Fundamental à Vida e à Saúde .............. 42
3.2. Direito Fundamental à Liberdade, ao Respeito e
à Dignidade ....................................................................... 43
3.3. Direito Fundamental à Convivência Familiar e
Comunitária ....................................................................... 46
3.4. Direito Fundamental à Educação, à Cultura, ao
Esporte e ao Lazer ........................................................... 47
3.5. Direito Fundamental à Profissionalização e à
Proteção no Trabalho ...................................................... 49
4. PRINCÍPIOS DO DIREITO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE ................................................................... 50
4.1. Princípio da Prioridade Absoluta ......................... 51
4.2. Princípio do Melhor Interesse da Criança ......... 53
4.3. Princípio da Municipalização ............................... 57
5. REDE DE PROTEÇÃO E POLÍTICA DE
ATENDIMENTO .................................................................... 59
6. MENORIDADE, RESPONSABILIDADE PENAL,
ATOS INFRACIONAIS E MEDIDAS
SOCIOEDUCATIVAS ........................................................... 63
7. A JUSTIÇA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE ....... 67
REFERÊNCIAS .................................................................... 73

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FA C U L D A D E S FA C E T E N

INTRODUÇÃO

O que se pretende aqui é fornecer ao discente


um material de apoio para seus estudos sobre a
disciplina de Direitos da Criança e
do Adolescente, para que possa
conhecer, de forma sucinta, os
principais antecedentes históricos,
alguns conceitos e princípios
fundamentais utilizados pelo ordenamento jurídico
nacional e internacional, bem como, o sistema brasileiro
de proteção dos direitos de crianças e adolescentes.
Trata-se de uma disciplina em constante
evolução e que, portanto, requer atualização periódica de
todos os profissionais que se dedicam ao seu estudo,
bem como daqueles que trabalham direta ou
indiretamente com o público infantojuvenil.
Para uma compreensão mais profunda do tema,
recomenda-se a leitura integral dos instrumentos
normativos nacionais e internacionais mencionados aqui
e nas aulas, bem como a consulta à bibliografia básica e
complementar da disciplina.

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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
1. HITÓRIA DO DIREITO INFANTOJUVENIL

No período denominado Antiguidade Clássica


(4000 a. C. até 476 d. C.) as civilizações grega e romana
adotavam o sistema patriarcal para a organização da
família e da sociedade. Através de um instituto do direito
civil romano chamado patria potestas, o império
delegava poder e autoridade única e exclusivamente ao
pai de família (pater familias). O termo pater diz respeito
a um território comandado por um patriarca, daí deriva a
palavra pátria.
Nesse modelo de sociedade, o pai de família era
considerado proprietário de todos os bens: filhos,
esposa, escravos, animais, terras etc. Desta forma, cabia
a ele, no exercício de sua autoridade maior, decidir sobre
a vida ou morte de qualquer dos seus descendentes,
conforme seu juízo de conveniência e oportunidade.
Os filhos, mesmo que fossem adultos, não
podiam fazer qualquer negócio jurídico em nome próprio,
apenas o pai tinha capacidade jurídica para comprar,
vender e celebrar quaisquer contratos válidos. Os
descendentes não tinham liberdade sequer para casar
sem a aprovação do pai.

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Abandonar os filhos ao relento é uma prática que


infelizmente acompanha a humanidade desde tempos
imemoriais. O próprio infanticídio era uma prática
comum: bebês não desejados ou nascidos com qualquer
deficiência eram afogados ou atirados em um poço1 ou
desfiladeiro, como uma coisa descartável, uma vez que
eram considerados um peso para a sociedade. Crianças
ricas ou pobres, como já mencionado, eram bens,
objetos e, assim, não tinham dignidade.
A chamada Lei das XII Tábuas2, de 450 a. C.,
considerada uma das primeiras legislações escritas e
origem do Direito Romano, previa, em sua Tábua IV, o
chamado pátrio poder. Tal norma assegurava ao pai a

1 Alguns anos atrás foi noticiada a descoberta dos restos mortais de


centenas de bebês em Atenas, vide: KAPA, Raphael. Descoberta de
450 bebês em um poço de Atenas evidencia concepção da infância
na Grécia Antiga. O GLOBO, Rio de Janeiro, 20/06/2015. Disponível
em: https://oglobo.globo.com/sociedade/historia/descoberta-de-450-
bebes-em-um-poco-de-atenas-evidencia-concepcao-da-infancia-na-
grecia-antiga-16503923. Acesso em: 20/11/2019.
2 Lei das XII Tábuas, Tábua IV, que cuida “Do pátrio poder e do

casamento” assevera: “l. É permitido ao pai matar o filho que nasceu


disforme, mediante o julgamento de cinco vizinhos. 2. O pai terá
sobre os filhos nascidos de casamento legítimo o direito de vida e de
morte e o poder de vendê-los. 3. Se o pai vender o filho três vezes,
que esse filho não recaia mais sob o poder paterno. 4. Se um filho
póstumo nascer até o décimo mês após a dissolução do matrimônio,
que esse filho seja reputado legítimo”. Disponível em:
http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/12tab.htm. Acesso em:
21/11/2019.

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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
permissão para “matar o filho que nasceu disforme,
mediante o julgamento de cinco vizinhos” (Tábua IV, nº
1), bem como o direito de vida e de morte e o poder de
vender qualquer um deles (Tábua IV, nº 2).

Lei das XII Tábuas. Fonte: Wikiwand.

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Com o passar do tempo, aos poucos, a


população infantojuvenil foi ganhando alguns direitos: o
Código de Manu, escrito entre 200 a. C. e 200 d. C.,
previa uma multa para quem abandonasse filho que não
fosse culpado de algum “crime grande”3.
As maiores contribuições para o direito
infantojuvenil, com a defesa de dignidade para todos,
inclusive crianças, vieram do Cristianismo, já na Idade
Média (período entre 476 d. C. e 1500 d. C.). Através de
diversos Concílios, a Igreja concedeu proteção aos
menores, ao prever e aplicar penas corporais e
espirituais aos pais que abandonavam ou expunham
seus filhos legítimos4, aqueles nascidos do casamento.
Já os frutos de relações extraconjugais, chamados de
filhos naturais ou expostos, eram considerados
espúrios ou ilegítimos e não gozavam da mesma
proteção que os descendentes legítimos, como se verá
adiante.

3 Código de Manu, Livro 8º, Art. 386: “Uma mãe, um pai, uma
esposa e um filho não devem ser abandonados; aqueles que
abandonam um deles, quando não é culpado de nenhum crime
grande, deve sofrer uma multa de seiscentos panas”. Disponível em:
http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/manu2.htm. Acesso em:
25/11/2019.
4 MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da

Criança e do Adolescente. Editora Saraiva, 2018, p. 37.

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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
No Reino de Portugal e nas suas colônias, entre
elas, o Brasil, o sistema jurídico se guiava pelas
Ordenações Reais: Ordenações Afonsinas (1446 –
1512), Ordenações Manuelinas (1521 – 1569) e as
Ordenações Filipinas (cujo nome remete ao reinado de
Filipe I, que ordenou sua compilação e ao Rei Filipe II,
que as promulgou em 1603).
Também conhecido como Código Filipino,
tratava-se de um compilado de leis sobre diversos
assuntos e ramos do Direito. Até hoje é a legislação mais
duradoura da história tanto de Portugal, quanto do Brasil,
onde vigorou até 1830 em matéria penal e até 1916, em
matéria cível.
O Direito Romano e o Direito Canônico foram as
duas grandes influências das Ordenações Filipinas e
serviam como fontes de consulta para a solução de
casos não previstos pela lei portuguesa, devendo ser
aplicados subsidiariamente.
Desta forma, ainda prevalecia a referência ao pai
como o chefe da família (pater familias), aquele que
detinha o monopólio do pátrio poder e a quem cabia o
dever de criar e educar seus filhos, valendo-se inclusive
de castigos físicos para a consecução desse objetivo.

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As punições corporais tinham um caráter


disciplinador e eram aceitas naturalmente. Em alguns
casos eram até desejáveis e deveriam ser usadas com
sabedoria por pais, mestres e senhores cristãos5. Por
vezes, tal comportamento amparava-se na passagem
bíblica: “Aquele que poupa a vara aborrece a seu filho;
mas quem o ama, a seu tempo o castiga” (Provérbios,
13:24).
Ressalte-se que embora não houvesse mais o
direito de vender ou matar os próprios descendentes,
caso um filho fosse lesionado ou viesse a falecer em
virtude da aplicação de castigos corporais, as
Ordenações Filipinas determinavam que não haveria
punição para os pais6 e, caso os filhos que fossem
considerados incorrigíveis, podiam ser entregues aos
magistrados de polícia7.

5 FERREIRA, Ricardo Alexandre. Polissemias da desigualdade no


Livro V das Ordenações Filipinas: o escravo integrado. História,
Franca, v. 34, n. 2, p. 165-180, Dez. 2015. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
90742015000200165&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 26/11/2019.
6 Ordenações Filipinas, Livro V, Título XXXVI - Das penas

pecuniárias dos que matam, ferem ou tiram arma na Corte.


Disponível em: http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/filipinas/l5p1187.htm.
Acesso em 26/11/2019.
7 SIMÃO, José Fernando. Notas sobre as relações familiares no

período das Ordenações Filipinas. Jornal Carta Forense, 2013.

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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
No que tange à capacidade jurídica para usar,
gozar e dispor livremente sobre bens, sob a égide das
Ordenações, os filhos podiam ser proprietários dos frutos
de herança, doação e do que resultasse de seu trabalho.
Todavia, era garantido ao pai o usufruto sobre tais bens,
por força do pátrio poder8.
Em tal período da nossa história, o ordenamento
jurídico ainda atribuía pouca importância a crianças,
mulheres, idosos e pessoas com problemas mentais.
Estas pessoas eram consideradas portadoras de uma
humanidade inferior, enquanto os homens inteligentes,
razoáveis e prudentes mereciam maior respeito e
importância9.

Disponível em:
http://www.cartaforense.com.br/conteudo/colunas/notas-sobre-as-
relacoes-familiares-no-periodo-das-ordenacoes-filipinas/12754.
Acesso em: 26/11/2019.
8
SIMÃO, José Fernando. Op. cit.
9 FRANCO, Renato. Órfãos e expostos no Império luso-brasileiro.

Arquivo Nacional e a História Luso-Brasileira. Mai, 2018. Disponível


em:
<http://historialuso.arquivonacional.gov.br/index.php?option=com_co
ntent&view=article&id=5201&Itemid=344>. Acesso em 30/11/2019:
“De acordo com o Direito das sociedades que surgiam no alvorecer
da época moderna, a célula fundamental era composta pela família,
e a maior importância era garantida aos homens de pleno poder de
ação. Aqueles considerados desprovidos das capacidades
intelectuais - a inteligência, a razão e a prudência - constituíam
grupos de humanidade diminuída. Nesse esquema mental,

12
FA C U L D A D E S FA C E T E N

Nesse grupo de pessoas menos favorecidas


estavam também os órfãos e expostos. Os primeiros
descendiam de pais falecidos ou eram filhos de pai
desconhecido e mãe falecida, mas cuja ascendência era
ao menos em parte conhecida. Já as crianças chamadas
de expostas ou enjeitadas eram completamente
diferentes, pois tinham grau zero de ascendência e,
assim, eram consideradas livres10.
Órfãos eram considerados um segmento
particularmente frágil da sociedade cuja tutela, através
de funcionários, cabia ao rei, caso os laços familiares
fossem inexistentes ou ineficazes.11 Tal responsabilidade
era expressamente prevista pela legislação desde as
Ordenações Afonsinas12: "uma das coisas que são
encomendadas ao Rei na sua terra, assim é guardar, e

mulheres, crianças, velhos e dementes eram portadores de uma


humanidade inferior”.
10 FRANCO, Renato. Órfãos e expostos no Império luso-brasileiro.

Arquivo Nacional e a História Luso-Brasileira. Mai, 2018. Disponível


em:
<http://historialuso.arquivonacional.gov.br/index.php?option=com_co
ntent&view=article&id=5201&Itemid=344>. Acesso em 30/11/2019.
11 FRANCO, Renato. Idem.
12 Ordenações Afonsinas, Livro IV, Título LXXXVIII - Das Escusas

dos Tutores e Curadores. Disponível em:


http://www.ci.uc.pt/ihti/proj/afonsinas/l4p329.htm. Acesso em
30/11/2019.

13
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
manter, e defender esses órfãos" (Livro IV, Título
LXXXVIII).
Por sua vez, expostos ou enjeitados eram
crianças abandonadas anonimamente por pais que as
rejeitavam por razões que iam da pobreza até a tentativa
de ocultar a desonra de mulheres e famílias, passando
pelo mero desprezo e desinteresse pelo filho13. Essas
crianças eram habitualmente deixadas nas portas de
residências, conventos ou igrejas e muitas vezes
morriam de fome, frio ou devoradas por cães e porcos14.
Tal quadro de sofrimento e abandono
incomodava a sociedade, uma vez que os chamados
“anjinhos” acabavam morrendo sem receber o batismo e,
assim, estavam condenados a vagar no Limbo15. Desta
maneira, mais uma vez por influência do Cristianismo,

13 FRANCO, Renato. Op. cit.


14 MESGRAVIS, Laima. A Santa Casa de Misericórdia de São Paulo
(1599?-1884): contribuição ao estudo da assistência Social no
Brasil. 1976. Apud NASCIMENTO, Alcileide Cabral do. A sorte dos
enjeitados O combate ao infanticídio e a institucionalização da
assistência às crianças abandonadas no Recife (1789-1832). 2006.
15 RUSSEL-WOOD, A. J. R. Fidalgos e filantropos: a Santa Casa de

Misericórdia da Bahia, 1550-1755.


Brasília: Editora UnB, 1981. Apud NASCIMENTO, Alcileide Cabral
do. A sorte dos enjeitados O combate ao infanticídio e a
institucionalização da assistência às crianças abandonadas no
Recife (1789-1832). 2006.

14
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instituições de caridade voltadas ao acolhimento dessas


crianças desafortunadas foram surgindo.
As práticas do aborto e do infanticídio já eram
punidas severamente, mas com vistas a enfrentar essa
mazela social e para tentar salvar os “anjinhos”, foi
criada a Roda dos Expostos. Como pode ser visto na
imagem a seguir, tratava-se de uma janela com um
cilindro giratório vertical que era instalado no muro de
instituições religiosas para garantir o anonimato da mãe
e assegurar chances de sobrevivência à criança.
Também chamada de Roda dos Enjeitados ou
simplesmente de Roda, esse modelo de acolhimento se
espalhou pela Europa cristã no séc. XVI e chegou ao
Brasil em meados do séc. XVIII, através das Santas
Casas de Misericórdia. As instituições que acolhiam os
enjeitados deviam ser mantidas pelas Câmaras
Municipais, as quais tinham autorização para cobrar
tributos específicos para manter tal atividade.
Embora órfãos e expostos recebessem
tratamento inicialmente diverso, seus destinos se
cruzavam após completarem 7 anos. A partir daí, cabia a
um juiz decidir qual seria o futuro delas, de acordo com
os interesses de quem as sustentava. Geralmente, essas

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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Roda dos Expostos. Fonte: Gazeta do Povo.

16
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crianças eram incorporadas ao mercado de trabalho


desde pequenas16.
Os 7 anos de idade marcavam também o início
da responsabilidade penal. Crianças com menos de 7
anos eram consideradas inimputáveis, ou seja, não
podiam ser consideradas responsáveis por seus atos,
logo, não podiam ser punidas. Entre os 7 e os 17 anos
de idade era proibido aplicar a pena de morte natural
(por enforcamento), cabendo ao juiz dar-lhe uma pena
menor. Dos 17 aos 21 anos, cabia ao juiz decidir se
aplicaria a pena total ao “jovem adulto”, ou a diminuiria.
As Ordenações Filipinas referiam-se às pessoas
com menos de 21 anos simplesmente como menores e
lhes asseguravam punições mais brandas do que as
aplicadas aos adultos. O texto literal do Código Filipino,
em seu Livro V, Título CXXXV – “Quando os menores
serão punidos por os delictos que fizerem”17 determinava
que:

16 RIZZINI, Irene; PILOTTI, F. A arte de governar crianças. Lições do


passado, reflexões para o presente. Rizzini I, Pilotti F,
organizadores. A arte de governar crianças. A história das políticas
sociais, da legislação e da assistência à infância no Brasil. 3ª Ed.
São Paulo: Cortez Editora, 2011, p. 19.
17 Ordenações Filipinas, Livro V, Título CXXXV - Quando os

menores serão punidos por os delitos que fizerem. Disponível em:

17
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Quando algum homem, ou mulher, passar
de vinte annos, commetter qualquer
delicto, dar-se-lhe-há a pena total, que lhe
seria dada, se de vinte e cinco annos
passasse.
E se fôr de idade de dezasete annos até
vinte, ficara em arbitrio dos Julgadores dar-
lhe a pena total, ou diminuir-lha.
E em este caso olhará o Julgador o modo,
com que o delicto foi commettido, e as
circumstancias delle, e a pessôa do menor;
e se o achar em tanta malicia, que lhe
pareça que merece total pena, dar-lhe-há,
postoque seja de morte natural.
E parecendo-lhe que a não merece, poder-
lha-há diminuir, segundo a qualidade, ou
simpleza, com que achar, que o delicto foi
commettido.
E quando o delinquente fôr menor de
dezasete annos cumpridos, postoque o
delicto mereça morte natural, em nenhum
caso lhe será dada, mas ficará em arbitrio
do Julgador de dar-lhe outra menor pena.
E não sendo delicto tal, em que caiba pena
de morte natural, se guardará a disposição
do Direito Commum.

Como era comum até então, as leis previam


penas severas como forma de inibir as condutas não
desejadas. Elas variavam do perdimento e confisco de
bens, passando por açoites, até a morte natural (por
enforcamento) e podia, inclusive, chegar à chamada
morte atroz (por esquartejamento).

http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/filipinas/l5p1311.htm. Acesso em
26/11/2019.

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FA C U L D A D E S FA C E T E N

Após a independência do Brasil em 7 de


setembro de 1822, um Conselho de Estado elaborou a
Constituição Política do Império do Brasil18 que foi
outorgada pelo Imperador D. Pedro I, em 25 de março de
1824. Nela não havia previsão de direitos para os
menores, apenas a proibição de votar e ser votado para
quem tivesse menos de 25 anos, com exceção para os
que já fossem casados, oficiais militares e bacharéis
formados ou clérigos maiores de 21 anos (art. 92, I).
Mesmo com a independência, as Ordenações
Filipinas continuaram em vigor até que fossem
elaboradas novas legislações do Império do Brasil, como
nossa primeira lei sobre crimes, delitos e penas, o
“Código Criminal do Império do Brazil”19, de 16 de
dezembro de 1830.
O Código Criminal de 1830 adotava o chamado
critério bio-psicológico, pois previa que os menores de
14 anos (idade biológica) não seriam considerados
criminosos (art. 10, § 1º), exceto se ficasse provado que

18 Constituição Política do Império do Brasil. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm.
Acesso em: 30/11/2019.
19 Código Criminal do Império do Brazil. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/LIM-16-12-1830.htm.
Acesso em: 30/11/2019.

19
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
tinham discernimento (critério psicológico) para
compreender a ilicitude da conduta (art. 13):
Art. 10. Tambem não se julgarão
criminosos:
1º Os menores de quatorze annos.
(...)
Art. 13. Se se provar que os menores de
quatorze annos, que tiverem commettido
crimes, obraram com discernimento,
deverão ser recolhidos ás casas de
correção, pelo tempo que ao Juiz parecer,
com tanto que o recolhimento não exceda
á idade de dezasete annos.

E, embora fosse considerada uma circunstância


atenuante ter o delinquente menos de 21 anos (art. 18,
§10), o juiz podia aplicar penas por cumplicidade
(reduzidas) aos adolescentes que tivessem entre 14 e 17
anos de idade. Significa dizer que os adolescentes
podiam ser presos e condenados a penas que eram
cumpridas em prisões comuns, junto com adultos.
Com a proclamação da República em 15 de
novembro de 1889 chegou ao fim o sistema de governo
monárquico e teve início o período republicano, que dura
até hoje. Mas antes mesmo de surgir nossa primeira
constituição republicana em 1891, Manoel Deodoro da
Fonseca, então Chefe do Governo Provisório da

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FA C U L D A D E S FA C E T E N

Republica dos Estados Unidos do Brasil promulgou o


Código Penal de 1890.
Segundo o Código Penal dos Estados Unidos do
Brasil20, de 11 de outubro de 1890, a criança com menos
de 9 anos de idade era penalmente inimputável. Já os
maiores de 9 e menores de 14 anos só podiam ser
responsabilizados tivessem agido com discernimento:
Art. 27. Não são criminosos:
§ 1º Os menores de 9 annos completos;
§ 2º Os maiores de 9 e menores de 14,
que obrarem sem discernimento;

Crianças e adolescentes entre 9 e 14 anos de


idade que cometessem crimes não eram encaminhadas
para prisões, mas para estabelecimentos disciplinares
industriais onde não poderiam ficar mais do que 3 anos,
durante os quais teriam seu tempo ocupado com a
aprendizagem de um ofício:
Art. 30. Os maiores de 9 annos e menores
de 14, que tiverem obrado com
discernimento, serão recolhidos a
estabelecimentos disciplinares industriaes,
pelo tempo que ao juiz parecer, comtanto
que o recolhimento não exceda á idade de
17 annos.

20 Código Penal dos Estados Unidos do Brasil. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1851-
1899/D847.htmimpressao.htm. Acesso em: 30/11/2019.

21
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Crianças trabalham em fábrica de sapatos no início do séc. XX.


Fonte: Museu da Justiça do Estado do Rio de Janeiro

Já os delinquentes entre 14 e 17 anos


continuavam sujeitos às penas da cumplicidade (art. 65),
mas agora já não seriam presos com adultos (art. 49) e o
fato de terem menos de 21 anos continuava sendo uma
circunstância atenuante:
Art. 42. São circumstancias atenuantes:
(...)
§ 11. Ser o delinquente menor de 21
annos.
(...)
Art. 49. A pena de prisão disciplinar será
cumprida em estabelecimentos industriaes
especiaes, onde serão recolhidos os
menores até á idade de 21 annos.
(...)
Art. 65. Quando o delinquente for maior de
14 e menor de 17 annos, o juiz lhe a
applicará as penas da cumplicidade.

22
FA C U L D A D E S FA C E T E N

Tal código foi a primeira legislação brasileira a


introduzir inúmeras disposições voltadas exclusivamente
à proteção dos menores21, com a criminalização de

21 Nesse sentido, vide o Código Penal de 1890: “Art. 289. Tirar, ou


mandar tirar, infante menor de 7 annos da casa paterna, collegio,
asylo, hospital, do logar emfim em que é domiciliado, empregando
violencia ou qualquer meio de seducção:
Pena - de prisão cellular por um a quatro annos.
Paragrapho unico. Si o menor tiver mais de 7, porém menos de 14
annos:
Pena - de prisão cellular por uma a tres annos.
Art. 290. Sonegar, ou substituir, infante menor de 7 annos:
Pena - de prisão cellular por um a quatro annos.
Paragrapho unico. Em igual incorrerá o encarregado da criação e
educação do menor, que deixar sem causa justificada de apresental-
o, quando exigido, a quem tenha o direito de reclamal-o.
Art. 291. Aquelle que, tendo commettido qualquer dos crimes
supraindicados, não restituir o menor, soffrerá a pena de prisão
cellular por dous a doze annos.
Art. 292. Expor, ou abandonar, infante menor de 7 annos, nas ruas,
praças, jardins publicos, adros, cemiterios, vestibulos de edificios ou
particulares, emfim em qualquer logar, onde por falta de auxilio e
cuidados, de que necessite a victima, corra perigo sua vida ou tenha
logar a morte:
Pena - de prisão cellular por seis mezes a um anno.
§ 1º Si for em logar ermo o abandono, e, por effeito deste, perigar a
vida, ou tiver logar a morte do menor:
Pena - de prisão cellular por um a quatro annos.
§ 2º Si for autor do crime, o pae ou mãe, ou pessoa encarregada da
guarda do menor, soffrerá igual pena com augmento da terça parte.
Art. 293. Incorrerão em pena de prisão cellular por um a seis mezes:
§ 1º Aquelle que, sem prévio consentimento da pessoa ou da
autoridade, que lh'a houver confiado, entregar a qualquer particular,
ou estabelecimento publico, o menor de cuja criação e educação
estiver encarregado.

23
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
condutas atentatórias à dignidade de crianças e
adolescentes como o abandono, a subtração, a
ocultação, o abuso e a exploração.
O Código Civil de 1916 – CC/1916 (que
revogou as Ordenações e vigorou até 2002) previa que o
marido era o chefe da sociedade conjugal (art. 233) e,
como tal, cabia a ele o exercício do pátrio poder (art.
380), e, apenas excepcionalmente, à mulher22. Já havia
previsão de suspensão ou perda do pátrio poder23 tanto

§ 2º Aquelle que, encontrando recem-nascido exposto, ou menor de


7 annos abandonado em logar ermo, não o apresentar, ou não der
aviso, á autoridade publica mais proxima.
(...)
Art. 371. Jogar com menores de 21 annos ou excital-os a jogar:
(...)
Art. 395. Permittir que uma pessoa menor de 14 annos sujeita a seu
poder, ou confiada á sua guarda e vigilancia, ande a mendigar, tire
ou não lucro para si ou para outrem”. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1851-
1899/D847.htmimpressao.htm. Acesso em 30/11/2019.
22 Código Civil de 1916: “Art. 233. O marido é o chefe da sociedade

conjugal; (...) Art. 380. Durante o casamento, exerce o pátrio poder o


marido, como chefe da família (art. 233), e, na falta ou impedimento
seu, a mulher”. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L3071impressao.htm.
Acesso em 02/12/2019.
23 Idem: “Art. 392. Extingue-se o pátrio poder: I. Pela morte dos pais

ou do filho. II. Pela emancipação, nos termos do parágrafo único no


art. 9, Parte Geral. III. Pela maioridade. IV. Pela adoção. Art. 393. A
mãe, que contrai novas núpcias, perde, quanto aos filhos do leito
anterior, os direitos do pátrio poder (art. 329); mas, enviuvando, os
recupera. Art. 394. Se o pai, ou mãe, abusar do seu poder, faltando
aos deveres paternos, ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao

24
FA C U L D A D E S FA C E T E N

para o pai, quanto para a mãe (arts. 392 a 395), inclusive


com a previsão de que a mãe que viesse a contrair
novas núpcias perderia o pátrio poder sobre os filhos da
relação anterior (art. 393).
Sob a égide do CC/1916 ainda havia a diferença
entre os filhos legítimos (arts. 337 e seguintes) e
ilegítimos (arts. 355 e seguintes). Contudo, passou a
existir a possibilidade de legitimação com o casamento
dos pais (art. 353), bem como o reconhecimento de filhos
ilegítimos (art. 355 e seguintes).
Embora já pudessem ser penalmente
responsabilizados por seus atos desde os 9 anos, como
visto anteriormente, na esfera civil, o CC/1916 definia
que os menores de 16 anos eram absolutamente
incapazes de praticar validamente qualquer ato da vida
civil. Somente a partir dos 16, tornavam-se relativamente
incapazes, podendo praticar alguns atos e a maioridade

juiz, requerendo alguma parente, ou o Ministério Publico, adotar a


medida, que lhe pareça reclamada pela segurança do menor e seus
haveres, suspendendo até, quando convenha, o pátrio poder.
Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício do pátrio
poder ao pai ou mãe condenados por sentença irrecorrivel em crime
cuja pena exceda de dois anos de prisão. Art. 395. Perderá por ato
judicial o pátrio poder o pai, ou mãe: I. Que castigar
imoderadamente o filho. II. Que o deixar em abandono. III. Que
praticar atos contrários à moral e aos bons costumes”.

25
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
civil ocorria apenas aos 21 anos24. Até para casar, os
filhos legítimos com menos de 21 anos precisavam do
consentimento dos pais (art. 185). Mas ainda assim,
podiam ser responsabilizados pela prática de qualquer
ato ilícito, se fossem culpados (art. 156).
Em 1923 foi criada a primeira norma brasileira
voltada especificamente à proteção da infância e da
juventude, com a aprovação do Regulamento da
Assistência e Proteção aos Menores Abandonados e
Delinquentes25, através do Decreto Nº 16.272.
Esta legislação determinou que menores de 14
anos não sofreriam processo penal de espécie alguma
(art. 24) e, entre os 14 e os 18 anos, seriam submetidos

24 Código Civil de 1916: “Art. 5º. São absolutamente incapazes de


exercer pessoalmente os atos da vida civil: I. Os menores de
dezesseis anos. (...) e Art. 6º. São incapazes, relativamente a certos
atos (art. 147, n. 1), ou à maneira de os exercer: I. Os maiores de
dezesseis e menores de vinte e um anos (arts. 154 a 156). (...) Art.
9º. Aos vinte e um anos completos acaba a menoridade, ficando
habilitado o indivíduo para todos os atos da vida civil. (...) Art. 156. O
menor, entre dezesseis e vinte e um anos, equipara-se ao maior
quanto às obrigações resultantes de atos ilícitos, em que for
culpado. (...) Art. 185. Para o casamento dos menores de vinte e um
anos, sendo filhos legítimos, é mister o consentimento de ambos os
pais”. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L3071impressao.htm.
Acesso em 02/12/2019.
25 Decreto Nº 16.272/1925. Disponível em:

http://legis.senado.leg.br/norma/430797/publicacao/15797742.
Acesso em: 30/11/2019.

26
FA C U L D A D E S FA C E T E N

a um processo especial (art. 25). O mesmo decreto


também criou o Juízo de Menores do Distrito Federal
(Rio de Janeiro) “para assistencia, protecção, defesa,
processo e julgamento dos menores abandonados e
delinquentes” (art. 37).
Na esfera internacional havia um consenso de
que era necessário proporcionar à criança uma proteção
especial e, assim, a Liga das Nações (antecessora da
Organização das Nações Unidas – ONU) adotou a
Declaração de Genebra dos Direitos da Criança, ou
apenas Declaração dos Direitos da Criança, em 1924. O
texto trazia apenas 5 disposições26:
1. A criança deve receber os meios
necessários para o seu desenvolvimento
normal, tanto material quanto
espiritualmente.
2. A criança que está com fome deve
ser alimentada, a criança que está doente
deve ser amamentada, a criança que está
atrasada deve ser ajudada, a criança
delinquente deve ser recuperada, e o órfão
e a mãe devem ser protegidos e
socorridos.
3. A criança deve ser a primeira a
receber alívio em momentos de angústia.
4. A criança deve ser posta em
condições de ganhar a vida e deve ser

26Declaração de Genebra dos Direitos da Criança. Tradução do


autor a partir do texto original disponível em: http://www.un-
documents.net/gdrc1924.htm. Acesso em: 04/12/2019.

27
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
protegida contra todas as formas de
exploração.
5. A criança deve ser conscientizada
de que seus talentos devem ser dedicados
ao serviço de seus semelhantes.

Assim, poucos anos depois, surgiu o Código


dos Menores27 de 1927 (Decreto Nº 17.943-A), que
consolidou as leis de proteção e assistência a crianças e
adolescentes. Também conhecido como Código Mello
Mattos, esta foi a primeira legislação direcionada à
população infantojuvenil a trazer dezenas de artigos
voltados a disciplinar o trabalho infantil, proibindo-o a
menores de 12 anos (art. 101) e vedando atividades
perigosas, insalubres ou fatigantes a menores de 18
anos de idade (art. 105).
Na seara penal, consolidou-se a orientação que
vinha desde o Decreto Nº 16.272 de 1923, ou seja:
menores de 14 anos eram penalmente inimputáveis e
deveriam ser colocados em institutos de educação (art.
68, § 2º); entre 14 e 18 anos sofreriam um processo
especial (art. 69), com responsabilidade atenuada, sendo
certo que nenhum menor de 18 poderia ser recolhido a

27 Decreto Nº 17.943-A/1927. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1910-
1929/D17943Aimpressao.htm. Acesso em: 03/12/2019.

28
FA C U L D A D E S FA C E T E N

prisão comum (art. 86) e deveria sempre ser segregado


dos maiores de 18 anos (art. 169, § 4º).
A Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de
10 de novembro de 1937 também se mostrou atenta à
necessidade de proteger os menores contra a
exploração da mão-de-obra infantil, ao elevar a idade
mínima para o trabalho de 12 para 14 anos e, ao
determinar, em seu art. 137, alínea “k” que28:
Art 137 - A legislação do trabalho
observará, além de outros, os seguintes
preceitos: (...) k) proibição de trabalho a
menores de catorze anos; de trabalho
noturno a menores de dezesseis, e, em
indústrias insalubres, a menores de
dezoito anos e a mulheres;

Foi apenas com o Código Penal de 1940


(Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, em
vigência até o presente momento) que menores de 18
anos passaram a ser considerados penalmente
irresponsáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas
em lei especial (antigo art. 23 e atual art. 27).

28 Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 10 de novembro de


1937. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao37.htm.
Acesso em: 05/12/2019.

29
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Em seguida, o Decreto-Lei Nº 3.799 de 1941
criou o Serviço de Assistência a Menores (S. A. M.) que,
entre outras atribuições, tinha como finalidade (art. 2º)
recolher e abrigar menores, sistematizar e orientar os
serviços de assistência a menores desvalidos e
delinquentes29. O S. A. M. teve suas competências
ampliadas pelo Decreto-Lei Nº 6.865 de 1944 para
abarcar a necessidade de incentivar iniciativas
particulares de assistência a menores e promover a
colocação de menores desligados, conforme a instrução
que tenham recebido e as aptidões que tenham
demonstrado30.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a
Assembleia Geral das Nações Unidas cria, em 1946, o
Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas
para a Infância – em inglês, United Nations International
Children's Emergency Fund (UNICEF). O objetivo era
atender às necessidades emergenciais das crianças
durante o período pós-guerra.

29 Decreto-Lei Nº 3.799 de 1941. Disponível em:


http://legis.senado.leg.br/norma/528886/publicacao/15635723.
Acesso em 05/12/2019.
30 Decreto-Lei Nº 6.865 de 1944. Disponível em:

http://legis.senado.leg.br/norma/531965/publicacao/15612531.
Acesso em 05/12/2019.

30
FA C U L D A D E S FA C E T E N

Por reconhecer que “a humanidade deve à


criança o melhor de seus esforços”31 e que elas
precisam de proteção e cuidados especiais, surge a
Declaração Universal dos Direitos da Criança, em 1959,
também como decorrência da Declaração Universal dos
Direitos Humanos de 1948 e da Declaração de Genebra
de 1924.
No Brasil, problemas com o S. A. M. que iam da
ineficiência ao desvio de verbas32 levaram à sua extinção
e à criação da Fundação Nacional do Bem-Estar do
Menor (Funabem), através da Lei Nº 4.513 de 1º de
dezembro de 1964. O objetivo da Funabem era “formular
e implantar a política nacional do bem-estar do menor”33.
Durante o Regime Militar, em 21 de outubro de
1969, os comandantes das Forças Armadas decretaram
um novo Código Penal (que vigorou até 1978), através

31 Preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos da Criança de


1959. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/atividade-
legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdhm/comite-
brasileiro-de-direitos-humanos-e-politica-externa/DeclDirCrian.html.
Acesso em: 06/12/2019.
32 MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da

Criança e do Adolescente. Editora Saraiva, 2018, p. 39.


33 Lei Nº 4.513/1964, art. 5º. Disponível em:

https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1960-1969/lei-4513-1-
dezembro-1964-377645-publicacaooriginal-1-pl.html. Acesso em:
06/12/2019.

31
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
do Decreto-Lei Nº 1.004, que reduzia a maioridade para
16 anos e aplicaria penas diminuídas, caso o menor
infrator demonstrasse aquilo que outrora se chamava de
discernimento34:
Art. 33. O menor de dezoito anos é
inimputável salvo se, já tendo completado
dezesseis anos, revela suficiente
desenvolvimento psíquico para entender o
caráter ilícito do fato e determinar-se de
acôrdo com êste entendimento. Neste
caso, a pena aplicável é diminuída de um
terço até a metade. (Menores).

Em 10 de outubro de 1979 o Congresso Nacional


decretou e o Presidente João Figueiredo sancionou o
Código de Menores de 1979, através da Lei Nº 6.697,
que consolidou aquilo que ficou conhecido como
Doutrina da Situação Irregular.
Segundo seu art. 1º, I, o Código dispunha sobre
a assistência, proteção e vigilância dos menores de 18
anos de idade que estivessem em “situação irregular”. O
alcance da expressão era assim definido35:

34 Decreto-Lei Nº 1.004/1969, art. 33. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/1965-
1988/Del1004.htm. Acesso em: 06/12/2019.
35 Lei Nº 6.697/1979, art. 2º. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1970-
1979/L6697impressao.htm. Acesso em: 06/12/2019.

32
FA C U L D A D E S FA C E T E N

Art. 2º Para os efeitos deste Código,


considera-se em situação irregular o
menor:
I - privado de condições essenciais à sua
subsistência, saúde e instrução obrigatória,
ainda que eventualmente, em razão de:
a) falta, ação ou omissão dos pais ou
responsável;
b) manifesta impossibilidade dos pais ou
responsável para provê-las;
Il - vítima de maus tratos ou castigos
imoderados impostos pelos pais ou
responsável;
III - em perigo moral, devido a:
a) encontrar-se, de modo habitual, em
ambiente contrário aos bons costumes;
b) exploração em atividade contrária aos
bons costumes;
IV - privado de representação ou
assistência legal, pela falta eventual dos
pais ou responsável;
V - Com desvio de conduta, em virtude de
grave inadaptação familiar ou comunitária;
VI - autor de infração penal.

Com a promulgação da Constituição da


República Federativa do Brasil, em 5 de outubro de 1988
– CRFB/88 chegou ao fim a Doutrina da Situação
Irregular e surgiu a Doutrina da Proteção Integral que
pouco depois fez surgir o famoso Estatuto da Criança e
do Adolescente, com a Lei Nº 8.069, em 13 de julho de
1990. Ambos serão analisados a seguir.

33
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

2. DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL

Para crianças e adolescentes, a Constituição da


República de 1988 – CRFB/88 representou o fim de uma
era marcada pelo binômio abandono-delinquência e o
início de um novo tempo no qual deixaram de ser objeto
de proteção assistencial e passaram a ser titulares de
direitos subjetivos36.
A Doutrina da Proteção Integral inaugura uma
nova ordem jurídica de caráter universal, voltado à
defesa e ao amparo de todas as pessoas em
desenvolvimento. Crianças, adolescentes e jovens sem
qualquer tipo de discriminação ganham dignidade e
direitos que devem ser respeitados por todos: família,
sociedade e Poder Público.
Chamada de “Constituição Cidadã” por Ulysses
Guimarães, a CRFB/88 trouxe muitas inovações, direitos
e garantias tanto individuais quanto coletivos, direitos
políticos, sociais, trabalhistas e, também, deveres e
responsabilidades particularmente com as pessoas em

36MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da


Criança e do Adolescente. Editora Saraiva, 2018, p. 42.

34
FA C U L D A D E S FA C E T E N

desenvolvimento, como podemos ver nos seus artigos


227 a 229:
Art. 227. É dever da família, da sociedade
e do Estado assegurar à criança, ao
adolescente e ao jovem, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão. (Redação dada
Pela Emenda Constitucional nº 65, de
2010)
§ 1º O Estado promoverá programas de
assistência integral à saúde da criança, do
adolescente e do jovem, admitida a
participação de entidades não
governamentais, mediante políticas
específicas e obedecendo aos seguintes
preceitos: (Redação dada Pela Emenda
Constitucional nº 65, de 2010)
I - aplicação de percentual dos recursos
públicos destinados à saúde na assistência
materno-infantil;
II - criação de programas de prevenção e
atendimento especializado para as
pessoas portadoras de deficiência física,
sensorial ou mental, bem como de
integração social do adolescente e do
jovem portador de deficiência, mediante o
treinamento para o trabalho e a
convivência, e a facilitação do acesso aos
bens e serviços coletivos, com a
eliminação de obstáculos arquitetônicos e
de todas as formas de discriminação.
(Redação dada Pela Emenda
Constitucional nº 65, de 2010)

35
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
§ 2º A lei disporá sobre normas de
construção dos logradouros e dos edifícios
de uso público e de fabricação de veículos
de transporte coletivo, a fim de garantir
acesso adequado às pessoas portadoras
de deficiência.
§ 3º O direito a proteção especial
abrangerá os seguintes aspectos:
I - idade mínima de quatorze anos para
admissão ao trabalho, observado o
disposto no art. 7º, XXXIII;
II - garantia de direitos previdenciários e
trabalhistas;
III - garantia de acesso do trabalhador
adolescente e jovem à escola; (Redação
dada Pela Emenda Constitucional nº 65,
de 2010)
IV - garantia de pleno e formal
conhecimento da atribuição de ato
infracional, igualdade na relação
processual e defesa técnica por
profissional habilitado, segundo dispuser a
legislação tutelar específica;
V - obediência aos princípios de brevidade,
excepcionalidade e respeito à condição
peculiar de pessoa em desenvolvimento,
quando da aplicação de qualquer medida
privativa da liberdade;
VI - estímulo do Poder Público, através de
assistência jurídica, incentivos fiscais e
subsídios, nos termos da lei, ao
acolhimento, sob a forma de guarda, de
criança ou adolescente órfão ou
abandonado;
VII - programas de prevenção e
atendimento especializado à criança, ao
adolescente e ao jovem dependente de
entorpecentes e drogas afins. (Redação
dada Pela Emenda Constitucional nº 65,
de 2010)

36
FA C U L D A D E S FA C E T E N

§ 4º A lei punirá severamente o abuso, a


violência e a exploração sexual da criança
e do adolescente.
§ 5º A adoção será assistida pelo Poder
Público, na forma da lei, que estabelecerá
casos e condições de sua efetivação por
parte de estrangeiros.
§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação
do casamento, ou por adoção, terão os
mesmos direitos e qualificações, proibidas
quaisquer designações discriminatórias
relativas à filiação.
§ 7º No atendimento dos direitos da
criança e do adolescente levar-se- á em
consideração o disposto no art. 204.
§ 8º A lei estabelecerá: (Incluído Pela
Emenda Constitucional nº 65, de 2010)
I - o estatuto da juventude, destinado a
regular os direitos dos jovens; (Incluído
Pela Emenda Constitucional nº 65, de
2010)
II - o plano nacional de juventude, de
duração decenal, visando à articulação das
várias esferas do poder público para a
execução de políticas públicas. (Incluído
Pela Emenda Constitucional nº 65, de
2010)
Art. 228. São penalmente inimputáveis os
menores de dezoito anos, sujeitos às
normas da legislação especial.
Art. 229. Os pais têm o dever de assistir,
criar e educar os filhos menores, e os
filhos maiores têm o dever de ajudar e
amparar os pais na velhice, carência ou
enfermidade.

A partir da nova ordem constitucional, crianças e


adolescentes em “situação irregular” deixam de ser o
alvo prioritário do poder sancionador do Estado e entram

37
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
na mira os responsáveis por garantir sua proteção. Ao
lado da ampliação de direitos, veio também o aumento
das responsabilidades e seu compartilhamento entre
diversos os diversos integrantes desse sistema: família,
sociedade e o Estado (poder Público).
Se no período da Doutrina da Situação Irregular
prevalecia um sistema de caráter filantrópico e
assistencial comandado pelo Poder Judiciário de forma
centralizada, com a Doutrina da Proteção Integral foi
criada uma Rede de Proteção para a garantia dos
direitos de crianças e adolescentes, como veremos em
tópico específico mais adiante.
Com vistas a garantir a eficácia e aplicabilidade
imediata das normas definidoras de direitos e garantias
fundamentais, como determina o art. 5º, § 1º da
CRFB/88, foi criado o Estatuto da Criança e do
Adolescente – ECA37, através da Lei Nº 8.069, de 13 de
julho de 1990.
Desta forma, o ECA é considerado um
“microssistema aberto de regras e princípios” 38 que

37 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm.


Acesso em: 10/12/2019.
38 MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da

Criança e do Adolescente. Editora Saraiva, 2018, p. 44.

38
FA C U L D A D E S FA C E T E N

produz efeitos em diversos campos do direito (civil,


administrativo, penal, processual e outros) e cria a
necessidade de interação de profissionais dos mais
diversos ramos científicos (juristas, médicos, psicólogos,
psiquiatras, assistentes sociais, pedagogos e outros).
Trata-se de uma lei inovadora, que criou um complexo
Sistema de Garantia de Direitos da Infância e da
Juventude, sem precedentes no Brasil.
Resumidamente é possível traçar o seguinte
quadro comparativo entre as doutrinas da situação
irregular (anterior) e da proteção integral (atual)39:
ASPECTO ANTERIOR ATUAL
Doutrinário Situação Irregular Proteção Integral
Caráter Filantrópico Política Pública
Fundamento Assistencialista Direito Subjetivo
Centralidade Local Judiciário Município
Competência
União/Estados Município
Executória
Decisório Centralizador Participativo
Cogestão
Institucional Estatal
Sociedade Civil
Piramidal
Organização Rede
Hierárquica
Gestão Monocrática Democrática

39BRANCHER, Leoberto Narciso. Organização e gestão do Sistema


de Garantia de Direitos da Infância e da Juventude. KONZEN et al.
Pela Justiça na Educação. Brasília: MEC, 2000, p. 126.

39
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
3. DIREITOS FUNDAMENTAIS DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE

Direitos fundamentais podem ser definidos como


um alicerce básico de direitos, essenciais e
indispensáveis a todo e qualquer ser humano, sem
nenhum tipo de distinção. São direitos que integram um
núcleo intocável e inviolável de garantias das pessoas
submetidas a um ordenamento jurídico.
Na esfera internacional, os direitos fundamentais
costumam ser chamados de direitos humanos, mas o
conteúdo de ambos é o mesmo, o que muda é apenas a
nomenclatura adotada.
O rol dos Direitos Fundamentais é
exemplificativo, ou seja, ele pode sofrer acréscimos além
da previsão inicial. O art. 227 da CRFB/88, aponta como
direitos fundamentais infantojuvenis: a vida, a saúde, a
alimentação, a educação, o lazer, a profissionalização, a
cultura, a dignidade, o respeito, a liberdade e a
convivência familiar e comunitária.
Preliminarmente, o ECA informa que a pessoa
até 12 anos incompletos é considerada criança e dos 12

40
FA C U L D A D E S FA C E T E N

aos 18 anos, adolescente. Excepcionalmente o jovem


entre 18 e 21 anos será protegido pelo Estatuto40.
Em seguida, o ECA estabelece que “a criança e
o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais
inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção
integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por
lei ou por outros meios, todas as oportunidades e
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento
físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de
liberdade e de dignidade” (art. 3º). O parágrafo único do
mesmo dispositivo esclarece que os direitos previstos
pelo ECA aplicam-se a todas as crianças e adolescentes,
sem nenhuma discriminação.
O Título II do ECA cuida especificamente “Dos
Direitos Fundamentais” e prevê: o direito à vida e à
saúde (capítulo I), o direito à liberdade, ao respeito e à
dignidade (cap. II), o direito à convivência familiar e
comunitária (cap. III), o direito à educação, à cultura, ao

40Lei Nº 8.069/90: “Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos


desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e
adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se
excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e
um anos de idade”.

41
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
esporte e ao lazer (cap. IV) e o direito à
profissionalização e à proteção no trabalho (cap. V).
3.1. Direito Fundamental à Vida e à Saúde

A proteção do direito à vida e à saúde da criança


e do adolescente deve ser efetivado através de “políticas
sociais públicas que permitam o nascimento e o
desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições
dignas de existência” (art. 7º).
Para assegurar o nascimento saudável, o ECA
protege a vida da criança desde a fase intrauterina e
assegura “a todas as mulheres o acesso aos programas
e às políticas de saúde da mulher e de planejamento
reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, atenção
humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério e
atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral no
âmbito do Sistema Único de Saúde” (art. 8º).
Em 2019, preocupado com as altas taxas de
gravidez durante a adolescência, o legislador incluiu o
art. 8-A no ECA e criou a Semana Nacional de
Prevenção da Gravidez na Adolescência, para
“disseminar informações sobre medidas preventivas e
educativas que contribuam para a redução da incidência
da gravidez na adolescência”.

42
FA C U L D A D E S FA C E T E N

Entre as demais regras relativas à vida e à saúde


destaca-se a obrigatoriedade de comunicar ao Conselho
Tutelar da localidade qualquer caso “de suspeita ou
confirmação de castigo físico, de tratamento cruel ou
degradante e de maus-tratos contra criança ou
adolescente” (art. 13).
3.2. Direito Fundamental à Liberdade, ao
Respeito e à Dignidade

O ECA afirma que “a criança e o adolescente


têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como
pessoas humanas em processo de desenvolvimento e
como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais
garantidos na Constituição e nas leis” (art. 15).
Essa liberdade, segundo o Estatuto compreende
os seguintes direitos: ir, vir e estar nos logradouros
públicos e espaços comunitários, ressalvadas as
restrições legais (art. 16, I); opinião e expressão (art. 16,
II); crença e culto religioso (art. 16, III); brincar, praticar
esportes e divertir-se (art. 16, IV); participar da vida
familiar e comunitária, sem discriminação (art. 16, V);
participar da vida política, na forma da lei (art. 16, VI);
buscar refúgio, auxílio e orientação (art. 16, VII).

43
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
O direito fundamental ao respeito traduz-se na
“inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da
criança e do adolescente, abrangendo a preservação da
imagem, da identidade, da autonomia, dos valores,
ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais” (art.
17).
Dignidade é ser tratado como um fim em si
mesmo e nunca como meio para algum fim. Assim, o
direito fundamental à dignidade das crianças e
adolescentes configura-se com a proibição “de qualquer
tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório
ou constrangedor” (art. 18).
Em 2014, entrou em vigor a Lei nº 13.010, mais
conhecida como “Lei da Palmada”, que inseriu os artigos
18-A e 18-B no ECA para resguardar ainda mais a
dignidade e a incolumidade infantojuvenil:
“Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o
direito de ser educados e cuidados sem o
uso de castigo físico ou de tratamento
cruel ou degradante, como formas de
correção, disciplina, educação ou qualquer
outro pretexto, pelos pais, pelos
integrantes da família ampliada, pelos
responsáveis, pelos agentes públicos
executores de medidas socioeducativas ou
por qualquer pessoa encarregada de
cuidar deles, tratá-los, educá-los ou
protegê-los.

44
FA C U L D A D E S FA C E T E N

Parágrafo único. Para os fins desta Lei,


considera-se:
I - castigo físico: ação de natureza
disciplinar ou punitiva aplicada com o uso
da força física sobre a criança ou o
adolescente que resulte em:
a) sofrimento físico; ou
b) lesão;
II - tratamento cruel ou degradante:
conduta ou forma cruel de tratamento em
relação à criança ou ao adolescente que:
a) humilhe; ou
b) ameace gravemente; ou
c) ridicularize.”
Art. 18-B. Os pais, os integrantes da
família ampliada, os responsáveis, os
agentes públicos executores de medidas
socioeducativas ou qualquer pessoa
encarregada de cuidar de crianças e de
adolescentes, tratá-los, educá-los ou
protegê-los que utilizarem castigo físico ou
tratamento cruel ou degradante como
formas de correção, disciplina, educação
ou qualquer outro pretexto estarão sujeitos,
sem prejuízo de outras sanções cabíveis,
às seguintes medidas, que serão aplicadas
de acordo com a gravidade do caso:
I - encaminhamento a programa oficial ou
comunitário de proteção à família;
II - encaminhamento a tratamento
psicológico ou psiquiátrico;
III - encaminhamento a cursos ou
programas de orientação;
IV - obrigação de encaminhar a criança a
tratamento especializado;
V - advertência.
Parágrafo único. As medidas previstas
neste artigo serão aplicadas pelo Conselho
Tutelar, sem prejuízo de outras
providências legais.”

45
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
3.3. Direito Fundamental à Convivência Familiar
e Comunitária

O ECA estabelece que toda criança e


adolescente tem direito de “ser criado e educado no seio
de sua família e, excepcionalmente, em família
substituta, assegurada a convivência familiar e
comunitária, em ambiente que garanta seu
desenvolvimento integral” (art. 19).
A Lei Nº 13.509/17 inseriu os artigos 19-A e 19-B
no ECA e, assim, revitalizou o instituto da adoção:
garantiu atendimento especializado à mãe que não tenha
interesse em permanecer com o filho e determinou a
busca de alguma pessoa apta na família extensa para
receber a guarda, se não houver indicação do genitor. O
art. 19-B prevê o programa de apadrinhamento para
proporcionar vínculos externos e convivência familiar e
comunitária às crianças e adolescentes de programas de
acolhimento.
Entre as regras relativas ao direito à convivência
familiar e comunitária destaca-se ainda o a isonomia de
direitos entre todos os filhos “havidos ou não da relação
do casamento, ou por adoção”, além da proibição de

46
FA C U L D A D E S FA C E T E N

“quaisquer designações discriminatórias relativas à


filiação” (art. 20).
Pai e mãe têm direitos, deveres e
responsabilidades iguais: o sustento, a guarda e a
educação dos filhos incumbe a ambos (art. 22). O
exercício do poder familiar também cabe aos dois, em
condições iguais e no caso de divergências, qualquer um
deles pode recorrer à autoridade judiciária para
solucionar a questão (art. 21). E a carência de recursos
materiais não ensejará a perda ou suspensão do poder
familiar (art. 23).
3.4. Direito Fundamental à Educação, à Cultura,
ao Esporte e ao Lazer

A educação é um direito fundamental de toda


criança e adolescente que se apoia no seguinte tripé: 1)
desenvolvimento pleno da pessoa, 2) preparo para o
exercício da cidadania e 3) qualificação para o trabalho
(art. 53).
Para a concretização do direito à educação, é
assegurado às crianças e adolescentes: igualdade de
condições para o acesso e permanência na escola
(art.53, I); direito de ser respeitado por seus educadores
(art.53, II); direito de contestar critérios avaliativos,

47
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
podendo recorrer às instâncias escolares superiores
(art.53, III); direito de organização e participação em
entidades estudantis (art.53, IV); e acesso à escola
pública e gratuita, próxima de sua residência, garantindo-
se vagas no mesmo estabelecimento a irmãos que
frequentem a mesma etapa ou ciclo de ensino da
educação básica (art.53, V, com redação dada pela Lei
nº 13.845, de 2019).
É assegurado aos pais ou responsáveis a
participação no processo educacional, uma vez que eles
têm direito de “ter ciência do processo pedagógico, bem
como participar da definição das propostas educacionais”
(art.53, parágrafo único).
A Lei Nº 13.840/2019 acrescentou o art. 53-A ao
ECA para obrigar as instituições de ensino, clubes,
agremiações recreativas e semelhantes a “assegurar
medidas de conscientização, prevenção e enfrentamento
ao uso ou dependência de drogas ilícitas”.
A cultura, o esporte e o lazer de crianças e
adolescentes ficam a cargo dos municípios, que devem
estimular e facilitar a “destinação de recursos e espaços
para programações culturais, esportivas e de lazer

48
FA C U L D A D E S FA C E T E N

voltadas para a infância e a juventude”, com apoio dos


demais entes federativos: estados e União (art. 59).
3.5. Direito Fundamental à Profissionalização e
à Proteção no Trabalho

O exercício do direito fundamental à


profissionalização destina-se apenas a adolescentes e
existem dois aspectos que devem ser obrigatoriamente
observados: o respeito à condição peculiar de pessoa
em desenvolvimento; e a capacitação profissional
adequada ao mercado de trabalho (art. 69, I e II).
O trabalho dos menores de 14 anos é
terminantemente proibido tanto pela Constituição da
República de 1988, em seus arts. 7º, XXXIII e 227, § 3º,
I, quanto pelo ECA, em seu art. 60 e pela Consolidação
das Leis do Trabalho – CLT, em seu art. 403. Todos
esses dispositivos determinam que entre os 14 e os 16
anos, o adolescente poderá trabalhar como aprendiz.
Mesmo na condição de aprendiz, é assegurado
ao adolescente os direitos trabalhistas e previdenciários
(art. 65) e, tanto ao aprendiz (dos 14 aos 16 anos),
quanto ao adolescente empregado (dos 16 aos 18 anos)
é proibido o trabalho: noturno, realizado entre as vinte e
duas horas de um dia e as cinco horas do dia seguinte

49
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
(art. 67, I); perigoso, insalubre ou penoso (art. 67, II);
realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu
desenvolvimento físico, psíquico, moral e social (art. 67,
III); realizado em horários e locais que não permitam a
frequência à escola (art. 67, IV).
É importante destacar que a CLT impõe que
estabelecimentos de qualquer natureza empreguem e
matriculem nos “cursos dos Serviços Nacionais de
Aprendizagem número de aprendizes equivalente a cinco
por cento, no mínimo, e quinze por cento, no máximo,
dos trabalhadores existentes em cada estabelecimento,
cujas funções demandem formação profissional” (art. 429
da CLT). E determinar também que a “duração do
trabalho do aprendiz não excederá de seis horas diárias,
sendo vedadas a prorrogação e a compensação de
jornada” (art. 432 da CLT).

4. PRINCÍPIOS DO DIREITO DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE

Princípios são “normas-do-que-deve-ser”, eles


“estabelecem um estado ideal de coisas a ser atingido
(state of affairs, Idealzustand), em virtude do qual deve o
aplicador verificar a adequação do comportamento a ser

50
FA C U L D A D E S FA C E T E N

escolhido ou já escolhido para resguardar tal estado de


coisas”41.
Entre os inúmeros princípios do Direito da
Criança e do Adolescente previstos pelos legisladores,
por doutrinadores e pelos operadores do Direito,
destacam-se alguns que podem ser considerados
norteadores da aplicação do Direito da Criança e do
Adolescente no Brasil: 1) princípio da prioridade
absoluta; 2) princípio do melhor interesse da criança; 3)
princípio da municipalização.
Há outros princípios adicionais relativos à
interpretação e aplicação do Estatuto da Criança e do
Adolescente previstos, sobretudo no art. 100, e em seu
parágrafo único, além de outros assegurados por
tratados e convenções internacionais dos quais o Brasil
seja signatário. A seguir veremos os três princípios
norteadores, suas definições e características.

4.1. Princípio da Prioridade Absoluta

Ainda que o art. 5º da CRFB/88 afirme que todos


são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer

41ÁVILA, Humberto. Teoria dos Princípios – da definição à aplicação


dos princípios jurídicos, 7ª. Brasil: Malheiros, 2007, p. 71 e 72.

51
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
natureza, a mesma Constituição, no capítulo que cuida
“Da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do
Idoso”, determina que há um “público preferencial”:
Art. 227. É dever da família, da sociedade
e do Estado assegurar à criança, ao
adolescente e ao jovem, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão. (Redação dada
Pela Emenda Constitucional nº 65, de
2010)

Além de ser um princípio de índole


constitucional, ele também encontra-se expressamente
previsto pelo art. 4º do ECA:
Art. 4º É dever da família, da comunidade,
da sociedade em geral e do poder público
assegurar, com absoluta prioridade, a
efetivação dos direitos referentes à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao
esporte, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e
comunitária.

O princípio da prioridade absoluta tem caráter


norteador, pois deve orientar a atuação da família, da
sociedade e, sobretudo, do Estado (Poder Público).
Aplica-se a todas as situações que envolvam direitos

52
FA C U L D A D E S FA C E T E N

infantojuvenis e estabelece que mesmo quando estiver


diante de outras prioridades, esta deve prevalecer,
devido ao caráter absoluto imposto pelo constituinte.
Portanto, quando o administrador público estiver
formulando ou executando políticas públicas, o princípio
da prioridade absoluta atua como limitador e
condicionante do seu poder discricionário e deve se
traduzir em primazia na destinação de recursos42.
4.2. Princípio do Melhor Interesse da Criança

A Declaração dos Direitos da Criança de 1959,


ratificada pelo Brasil, prevê o melhor interesse da criança
em dois dispositivos43:
Princípio 2º: A criança gozará proteção
social e ser-lhe-ão proporcionadas
oportunidades e facilidades, por lei e por
outros meios, a fim de lhe facultar o
desenvolvimento físico, mental, moral,
espiritual e social, de forma sadia e normal
e em condições de liberdade e dignidade.
Na instituição das leis visando este
objetivo levar-se-ão em conta sobretudo,
os melhores interesses da criança.

42 DIGIÁCOMO, Murillo José; DIGIÁCOMO, Ildeara de Amorim.


Estatuto da criança e do adolescente anotado e interpretado.
Ministério Público do Estado do Paraná. Centro de Apoio
Operacional das Promotorias da Criança e do Adolescente, 2017, p.
v.
43 Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/convencao-sobre-os-

direitos-da-crianca. Acesso em: 12/12/2019.

53
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
(...)
Princípio 7º: Os melhores interesses da
criança serão a diretriz a nortear os
responsáveis pela sua educação e
orientação; esta responsabilidade cabe,
em primeiro lugar, aos pais. A criança terá
ampla oportunidade para brincar e divertir-
se, visando os propósitos mesmos da sua
educação; a sociedade e as autoridades
públicas empenhar-se-ão em promover o
gozo deste direito.

O Decreto Nº 99.710/1990 que internalizou a


Convenção sobre os Direitos da Criança de 1990 firmou
o princípio do melhor interesse em nosso ordenamento
jurídico ao prever, entre outros que44:
Art. 3º, §1º Todas as ações relativas às
crianças, levadas a efeito por instituições
públicas ou privadas de bem estar social,
tribunais, autoridades administrativas ou
órgãos legislativos, devem considerar,
primordialmente, o interesse maior da
criança.
(...)
Art. 9º, §1º Os Estados Partes deverão
zelar para que a criança não seja separada
dos pais contra a vontade dos mesmos,
exceto quando, sujeita à revisão judicial, as
autoridades competentes determinarem,
em conformidade com a lei e os
procedimentos legais cabíveis, que tal
separação é necessária ao interesse
maior da criança. Tal determinação pode
ser necessária em casos específicos, por
exemplo, nos casos em que a criança

44Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-


1994/D99710.htm. Acesso em: 13/12/2019.

54
FA C U L D A D E S FA C E T E N

sofre maus tratos ou descuido por parte de


seus pais ou quando estes vivem
separados e uma decisão deve ser tomada
a respeito do local da residência da
criança.
§ 2º Caso seja adotado qualquer
procedimento em conformidade com o
estipulado no parágrafo 1 do presente
artigo, todas as partes interessadas terão a
oportunidade de participar e de manifestar
suas opiniões.
§ 3º Os Estados Partes respeitarão o
direito da criança que esteja separada de
um ou de ambos os pais de manter
regularmente relações pessoais e contato
direto com ambos, a menos que isso seja
contrário ao interesse maior da criança.
(...)
Art. 18, § 1º Os Estados Partes envidarão
os seus melhores esforços a fim de
assegurar o reconhecimento do princípio
de que ambos os pais têm obrigações
comuns com relação à educação e ao
desenvolvimento da criança. Caberá aos
pais ou, quando for o caso, aos
representantes legais, a responsabilidade
primordial pela educação e pelo
desenvolvimento da criança. Sua
preocupação fundamental visará ao
interesse maior da criança.
(...)
Art. 20, § 1º As crianças privadas
temporária ou permanentemente do seu
meio familiar, ou cujo interesse maior
exija que não permaneçam nesse meio,
terão direito à proteção e assistência
especiais do Estado.
(...)
Art. 21 Os Estados Partes que reconhecem
ou permitem o sistema de adoção
atentarão para o fato de que a

55
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
consideração primordial seja o interesse
maior da criança.
(...)
Art. 37 Os Estados Partes zelarão para
que: (...) c) toda criança privada da
liberdade seja tratada com a humanidade e
o respeito que merece a dignidade
inerente à pessoa humana, e levando-se
em consideração as necessidades de uma
pessoa de sua idade. Em especial, toda
criança privada de sua liberdade ficará
separada dos adultos, a não ser que tal
fato seja considerado contrário aos
melhores interesses da criança, e terá
direito a manter contato com sua família
por meio de correspondência ou de visitas,
salvo em circunstâncias excepcionais;
(...)
Art. 40, § 1º Os Estados Partes
reconhecem o direito de toda criança a
quem se alegue ter infringido as leis penais
ou a quem se acuse ou declare culpada de
ter infringido as leis penais de ser tratada
de modo a promover e estimular seu
sentido de dignidade e de valor e a
fortalecer o respeito da criança pelos
direitos humanos e pelas liberdades
fundamentais de terceiros, levando em
consideração a idade da criança e a
importância de se estimular sua
reintegração e seu desempenho
construtivo na sociedade.
§ 2º Nesse sentido, e de acordo com as
disposições pertinentes dos instrumentos
internacionais, os Estados Partes
assegurarão, em particular:
(...)
b) que toda criança de quem se alegue ter
infringido as leis penais ou a quem se
acuse de ter infringido essas leis goze,
pelo menos, das seguintes garantias:

56
FA C U L D A D E S FA C E T E N

(...)
III) ter a causa decidida sem demora por
autoridade ou órgão judicial competente,
independente e imparcial, em audiência
justa conforme a lei, com assistência
jurídica ou outra assistência e, a não ser
que seja considerado contrário aos
melhores interesses da criança, levando
em consideração especialmente sua idade
ou situação e a de seus pais ou
representantes legais;

De acordo com o princípio do melhor interesse,


sempre que houver conflito ou divergência a respeito de
direito ou garantia de crianças e adolescentes, deverá
prevalecer o interesse infantojuvenil. Em qualquer
processo ou procedimento jurídico ou administrativo que
envolva direitos das pessoas em desenvolvimento, o
objetivo primordial é assegurar o melhor interesse da
criança e do adolescente.
Tanto a família (pais, tios, avós etc.), quanto a
sociedade (pessoas naturais e pessoas jurídicas) e o
Estado (legisladores, juízes, promotores, delegados e
demais autoridades), devem orientar suas decisões pelo
melhor interesse da criança.
4.3. Princípio da Municipalização

De acordo com o art. 204, I da CRFB/88, as


ações governamentais na área da assistência social

57
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
devem ser organizadas com base na diretriz da
“descentralização político-administrativa, cabendo a
coordenação e as normas gerais à esfera federal e a
coordenação e a execução dos respectivos programas
às esferas estadual e municipal, bem como a entidades
beneficentes e de assistência social”.
Já o art. 227, § 7º da CRFB/88 determina que
“no atendimento dos direitos da criança e do adolescente
levar-se-á em consideração o disposto no art. 204”, ou
seja, desconcentra e democratiza poderes e
responsabilidades com vistas a facilitar a concretização
dos direitos infantojuvenis.
Complementando a Constituição, o ECA
expressamente determina que a municipalização do
atendimento é uma das diretrizes da política de
atendimento, ao lado da criação de conselhos municipais
dos direitos da criança e da criação e manutenção de
programas específicos de atendimento que observem a
descentralização político-administrativa (art. 88, I, II, III).
O princípio da municipalização busca dar maior
eficiência e eficácia à aplicação da legislação referente
aos direitos da criança e do adolescente, uma vez que as

58
FA C U L D A D E S FA C E T E N

pessoas vivem e trabalham nas cidades, não nos


estados ou na União.
Todavia, é preciso ressaltar que as três esferas
de governo (municípios, estados e União) possuem
responsabilidade primária e solidária quanto à plena
efetivação dos direitos assegurados a crianças e a
adolescentes previstos pelo ordenamento jurídico
brasileiro, “sem prejuízo da municipalização do
atendimento e da possibilidade da execução de
programas por entidades não governamentais” (art. 100,
p. u., III).

5. REDE DE PROTEÇÃO E POLÍTICA DE


ATENDIMENTO

A chamada Rede de Proteção é “composta por


um conjunto de atores e instituições cujo objetivo é zelar
pela proteção das crianças e dos adolescentes, e em um
esquema de responsabilidades civis, penais e
administrativas que podem ser acionadas em vista da
garantia do cumprimento dessas normas”45.

45JEREZ, Daniela et al. O direito à proteção integral das crianças e


dos adolescentes no contexto de grandes empreendimentos: papéis
e responsabilidades das empresas. Grupo de Direitos Humanos e
Empresas (GDHeE), 2013, p. 2.

59
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Para prevenir ameaças e violações aos direitos
de crianças e adolescentes existe um sistema de
garantias fundado três diretrizes46:
 Promoção dos direitos da criança e do
adolescente;
 Proteção e defesa dos direitos da
criança e do adolescente;
 E a participação e controle social.
As três diretrizes acima devem orientar o
trabalho dos membros deste sistema de garantias: as
Polícias, os Juízes da Infância e da Juventude, a
Defensoria Pública, o Ministério Público, os Conselhos
Tutelares e de Direitos, além da família, das ONGs e da
sociedade como um todo, que integram a denominada
Rede de Proteção47.
As Políticas de Atendimento podem ser
compreendidas como “o conjunto de instituições,
princípios, regras, objetivos e metas que dirigem a
elaboração de planos destinados à tutela dos direitos da
população infantojuvenil, permitindo, dessa forma, a

46 JEREZ, Daniela et al. Idem, p. 7.


47 Idem, ibidem.

60
FA C U L D A D E S FA C E T E N

materialização do que é determinado, idealmente, pela


ordem jurídica”48.
O ECA determina, em seu art. 86 que a “política
de atendimento dos direitos da criança e do adolescente
far-se-á através de um conjunto articulado de ações
governamentais e não-governamentais, da União, dos
estados, do Distrito Federal e dos municípios”.
Elas podem ser divididas em três níveis
sequenciais49:
 Políticas básicas: sistema de
prevenção primário, cuida das políticas
públicas sobre direitos e garantias
fundamentais como a vida e saúde,
além dos demais previstos pelo art. 4º
do ECA50;

48 MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da


Criança e do Adolescente. Editora Saraiva, 2018, p. 340.
49 SARAIVA, João Batista Costa. O Adolescente em Conflito com a

Lei e sua Responsabilidade: Nem abolicionismo penal, nem direito


penal máximo. Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 12, 2006.
50 Lei Nº 8.069/90, Art. 4º: “É dever da família, da comunidade, da

sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta


prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização,
à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária”.

61
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
 Políticas de proteção: sistema de
prevenção secundário previsto pelo
Título II do ECA (arts. 98 e 101)51
destinado a prevenir ou reparar direitos
ameaçados ou violados;
 Políticas socioeducativas: sistema
terciário que entra em operação quando
o adolescente pratica ato infracional
(art. 103) que pode levar à aplicação de
medida socioeducativa (art. 112)52.

51 Idem, Art. 98: “As medidas de proteção à criança e ao adolescente


são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaçados ou violados: I - por ação ou omissão da sociedade ou do
Estado; II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável; III -
em razão de sua conduta”. E Art. 101: “Verificada qualquer das
hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá
determinar, dentre outras, as seguintes medidas: I -
encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de
responsabilidade; II - orientação, apoio e acompanhamento
temporários; III - matrícula e freqüência obrigatórias em
estabelecimento oficial de ensino fundamental; IV - inclusão em
serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e
promoção da família, da criança e do adolescente; V - requisição de
tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar
ou ambulatorial; VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de
auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; VII -
acolhimento institucional; VIII - inclusão em programa de
acolhimento familiar; IX - colocação em família substituta”.
52 Idem, Art. 103: “Considera-se ato infracional a conduta descrita

como crime ou contravenção penal”. E Art. 112: “Verificada a prática


de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao
adolescente as seguintes medidas: I - advertência; II - obrigação de

62
FA C U L D A D E S FA C E T E N

6. MENORIDADE, RESPONSABILIDADE PENAL,


ATOS INFRACIONAIS E MEDIDAS
SOCIOEDUCATIVAS

Como destacamos no capítulo referente à


História do Direito Infantojuvenil, o Código Criminal de
1830 adotava o critério bio-psicológico (biológico: ter
14 anos de idade; e psicológico: ter discernimento) para
definir se haveria ou não a responsabilização penal.
Todavia, o Código Penal de 1940 (atual) adotou
apenas o critério biológico e definiu que a maioridade
penal ocorre apenas a partir dos 18 anos de idade
completos. O art. 27 do CP foi recepcionado pela
Constituição de 1988, pois esta também determina a
inimputabilidade penal aos menores de 18 anos:
CP, art. 27: Os menores de 18 (dezoito)
anos são penalmente inimputáveis, ficando
sujeitos às normas estabelecidas na
legislação especial. (Redação dada pela
Lei nº 7.209, de 11.7.1984).

CRFB/88, art. 228: São penalmente


inimputáveis os menores de dezoito anos,
sujeitos às normas da legislação especial.

reparar o dano; III - prestação de serviços à comunidade; IV -


liberdade assistida; V - inserção em regime de semi-liberdade; VI -
internação em estabelecimento educacional; VII - qualquer uma das
previstas no art. 101, I a VI”.

63
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Desta forma, nosso atual ordenamento jurídico
prevê que a menoridade, aqui entendida como idade
biológica inferior a 18 anos completos, acarreta a
inimputabilidade penal, ou seja, em razão do estado
peculiar de pessoa em desenvolvimento, o menor de 18
anos não tem a capacidade de entender o caráter ilícito
do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.
Quando alguém menor de 18 anos pratica uma
conduta descrita como crime ou contravenção penal, o
art. 228 da CRFB/88, em sua parte final, determina que o
mesmo submete-se à legislação especial, que no caso é
o ECA. Já o Estatuto afirma que a conduta delituosa do
menor de 18 anos configura um ato infracional (art.
103).
Menoridade não significa impunidade. O menor
de 18 anos que pratica um ato infracional está sujeito às
medidas previstas pelo ECA: crianças (pessoa até 12
anos incompletos) podem ser alvo de medidas
protetivas (art. 105) e os adolescentes (entre 12 e 18
anos de idade) submetem-se às medidas
socioeducativas.

64
FA C U L D A D E S FA C E T E N

As chamadas medidas protetivas estão


previstas no art. 101 do ECA, assim elencadas:
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses
previstas no art. 98, a autoridade
competente poderá determinar, dentre
outras, as seguintes medidas:
I - encaminhamento aos pais ou
responsável, mediante termo de
responsabilidade;
II - orientação, apoio e acompanhamento
temporários;
III - matrícula e frequência obrigatórias em
estabelecimento oficial de ensino
fundamental;
IV - inclusão em serviços e programas
oficiais ou comunitários de proteção, apoio
e promoção da família, da criança e do
adolescente;
V - requisição de tratamento médico,
psicológico ou psiquiátrico, em regime
hospitalar ou ambulatorial;
VI - inclusão em programa oficial ou
comunitário de auxílio, orientação e
tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
VII - acolhimento institucional;
VIII - inclusão em programa de
acolhimento familiar;
IX - colocação em família substituta.

Já as medidas socioeducativas trazidas pelo


ECA, em seu art. 112 são:
Art. 112. Verificada a prática de ato
infracional, a autoridade competente
poderá aplicar ao adolescente as
seguintes medidas:
I - advertência;
II - obrigação de reparar o dano;

65
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
III - prestação de serviços à comunidade;
IV - liberdade assistida;
V - inserção em regime de semiliberdade;
VI - internação em estabelecimento
educacional;
VII - qualquer uma das previstas no art.
101, I a VI.
§ 1º A medida aplicada ao adolescente
levará em conta a sua capacidade de
cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade
da infração.
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto
algum, será admitida a prestação de
trabalho forçado.
§ 3º Os adolescentes portadores de
doença ou deficiência mental receberão
tratamento individual e especializado, em
local adequado às suas condições.

A Lei Nº 12.594/2012 criou o Sistema Nacional


de Atendimento Socioeducativo (Sinase) e regulamentou
a execução das medidas socioeducativas destinadas a
adolescente que pratique ato infracional da seguinte
maneira:
Art. 1º Esta Lei institui o Sistema Nacional
de Atendimento Socioeducativo (Sinase) e
regulamenta a execução das medidas
destinadas a adolescente que pratique ato
infracional.
§ 1º Entende-se por Sinase o conjunto
ordenado de princípios, regras e critérios
que envolvem a execução de medidas
socioeducativas, incluindo-se nele, por
adesão, os sistemas estaduais, distrital e
municipais, bem como todos os planos,
políticas e programas específicos de

66
FA C U L D A D E S FA C E T E N

atendimento a adolescente em conflito


com a lei.
§ 2º Entendem-se por medidas
socioeducativas as previstas no art. 112
da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990
(Estatuto da Criança e do Adolescente), as
quais têm por objetivos:
I - a responsabilização do adolescente
quanto às consequências lesivas do ato
infracional, sempre que possível
incentivando a sua reparação;
II - a integração social do adolescente e a
garantia de seus direitos individuais e
sociais, por meio do cumprimento de seu
plano individual de atendimento; e
III - a desaprovação da conduta infracional,
efetivando as disposições da sentença
como parâmetro máximo de privação de
liberdade ou restrição de direitos,
observados os limites previstos em lei.

É importante destacar que o adolescente privado


da liberdade deverá cumprir sua internação em local
destinado exclusivamente aos adolescentes, diverso do
destinado ao abrigo, rigorosamente separados conforme
a idade, a compleição física e gravidade da infração (art.
123 do ECA).

7. A JUSTIÇA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE

Com o advento da Doutrina da Proteção Integral


(vide capítulo 2), a Justiça da Infância e da Juventude

67
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
assume um papel mais qualificado do que o
desempenhado anteriormente pelo Juiz de Menores. Isto
porque, após o ECA, o Conselho Tutelar assumiu boa
parte das atribuições que cabiam ao Juiz de Menores e,
agora, o Juiz da Infância e da Juventude passa a ter
“uma atuação muito mais voltada à solução dos
problemas na esfera coletiva (e preventiva)”, com vistas
à “estruturação do Poder Público para fazer frente às
demandas na área infanto-juvenil”53.
O acesso à Justiça é gratuito e garantido a toda
criança ou adolescente. Esse direito se concretiza
através da Defensoria Pública, do Ministério Público e do
Poder Judiciário, a quem incumbe a criação de varas
especializadas da infância e da juventude para
atendimento adequado e prioritário de crianças e
adolescentes, conforme determina o ECA:
Art. 141. É garantido o acesso de toda
criança ou adolescente à Defensoria
Pública, ao Ministério Público e ao Poder
Judiciário, por qualquer de seus órgãos.
§ 1º. A assistência judiciária gratuita será
prestada aos que dela necessitarem,

53
DIGIÁCOMO, Murillo José; DIGIÁCOMO, Ildeara de Amorim.
Estatuto da criança e do adolescente anotado e interpretado.
Ministério Público do Estado do Paraná. Centro de Apoio
Operacional das Promotorias da Criança e do Adolescente, 2017, p.
269.

68
FA C U L D A D E S FA C E T E N

através de defensor público ou advogado


nomeado.
§ 2º As ações judiciais da competência da
Justiça da Infância e da Juventude são
isentas de custas e emolumentos,
ressalvada a hipótese de litigância de má-
fé.
(...)
Art. 145. Os estados e o Distrito Federal
poderão criar varas especializadas e
exclusivas da infância e da juventude,
cabendo ao Poder Judiciário estabelecer
sua proporcionalidade por número de
habitantes, dotá-las de infra-estrutura e
dispor sobre o atendimento, inclusive em
plantões.

De acordo com o ECA, compete à Justiça da


Infância e da Juventude:
Art. 148. A Justiça da Infância e da
Juventude é competente para:
I - conhecer de representações promovidas
pelo Ministério Público, para apuração de
ato infracional atribuído a adolescente,
aplicando as medidas cabíveis;
II - conceder a remissão, como forma de
suspensão ou extinção do processo;
III - conhecer de pedidos de adoção e seus
incidentes;
IV - conhecer de ações civis fundadas em
interesses individuais, difusos ou coletivos
afetos à criança e ao adolescente,
observado o disposto no art. 209;
V - conhecer de ações decorrentes de
irregularidades em entidades de
atendimento, aplicando as medidas
cabíveis;

69
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
VI - aplicar penalidades administrativas
nos casos de infrações contra norma de
proteção à criança ou adolescente;
VII - conhecer de casos encaminhados
pelo Conselho Tutelar, aplicando as
medidas cabíveis.
Parágrafo único. Quando se tratar de
criança ou adolescente nas hipóteses do
art. 98, é também competente a Justiça da
Infância e da Juventude para o fim de:
a) conhecer de pedidos de guarda e tutela;
b) conhecer de ações de destituição do
pátrio poder poder familiar, perda ou
modificação da tutela ou guarda;
(Expressão substituída pela Lei nº 12.010,
de 2009)
c) suprir a capacidade ou o consentimento
para o casamento;
d) conhecer de pedidos baseados em
discordância paterna ou materna, em
relação ao exercício do pátrio poder poder
familiar; (Expressão substituída pela Lei nº
12.010, de 2009)
e) conceder a emancipação, nos termos da
lei civil, quando faltarem os pais;
f) designar curador especial em casos de
apresentação de queixa ou representação,
ou de outros procedimentos judiciais ou
extrajudiciais em que haja interesses de
criança ou adolescente;
g) conhecer de ações de alimentos;
h) determinar o cancelamento, a retificação
e o suprimento dos registros de
nascimento e óbito.
Art. 149. Compete à autoridade judiciária
disciplinar, através de portaria, ou
autorizar, mediante alvará:
I - a entrada e permanência de criança ou
adolescente, desacompanhado dos pais ou
responsável, em:
a) estádio, ginásio e campo desportivo;

70
FA C U L D A D E S FA C E T E N

b) bailes ou promoções dançantes;


c) boate ou congêneres;
d) casa que explore comercialmente
diversões eletrônicas;
e) estúdios cinematográficos, de teatro,
rádio e televisão.
II - a participação de criança e adolescente
em:
a) espetáculos públicos e seus ensaios;
b) certames de beleza.
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo,
a autoridade judiciária levará em conta,
dentre outros fatores:
a) os princípios desta Lei;
b) as peculiaridades locais;
c) a existência de instalações adequadas;
d) o tipo de freqüência habitual ao local;
e) a adequação do ambiente a eventual
participação ou freqüência de crianças e
adolescentes;
f) a natureza do espetáculo.
§ 2º As medidas adotadas na
conformidade deste artigo deverão ser
fundamentadas, caso a caso, vedadas as
determinações de caráter geral.

Em suma, sob a égide da Doutrina da Proteção


Integral e dos princípios norteadores do Direito da
Criança e do Adolescente, o Sistema de Justiça deve
atuar com Prioridade Absoluta para garantir a
concretização das promessas feitas pela Constituição de
1988 e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente para a
população infantojuvenil. É certo que apenas a letra da
lei não opera modificação na realidade, mas um Sistema

71
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
de Garantia dos Direitos da Infância e da Juventude
composto pela família, pela sociedade e pelo Estado
reúne todas as condições para transformar a realidade.
Por fim, é importante relembrar uma das frases
contidas no Preâmbulo da Declaração Universal dos
Direitos da Criança de 1959: “a humanidade deve à
criança o melhor de seus esforços”!

72
FA C U L D A D E S FA C E T E N

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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Informações sobre o autor:


Rafael Penela Ribeiro
Advogado, Mestre e Professor de Direito.

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