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DIREITO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
BOA VISTA
2019
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................ 5
1. HITÓRIA DO DIREITO INFANTOJUVENIL ............... 6
2. DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL ................. 34
3. DIREITOS FUNDAMENTAIS DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE ................................................................... 40
3.1. Direito Fundamental à Vida e à Saúde .............. 42
3.2. Direito Fundamental à Liberdade, ao Respeito e
à Dignidade ....................................................................... 43
3.3. Direito Fundamental à Convivência Familiar e
Comunitária ....................................................................... 46
3.4. Direito Fundamental à Educação, à Cultura, ao
Esporte e ao Lazer ........................................................... 47
3.5. Direito Fundamental à Profissionalização e à
Proteção no Trabalho ...................................................... 49
4. PRINCÍPIOS DO DIREITO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE ................................................................... 50
4.1. Princípio da Prioridade Absoluta ......................... 51
4.2. Princípio do Melhor Interesse da Criança ......... 53
4.3. Princípio da Municipalização ............................... 57
5. REDE DE PROTEÇÃO E POLÍTICA DE
ATENDIMENTO .................................................................... 59
6. MENORIDADE, RESPONSABILIDADE PENAL,
ATOS INFRACIONAIS E MEDIDAS
SOCIOEDUCATIVAS ........................................................... 63
7. A JUSTIÇA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE ....... 67
REFERÊNCIAS .................................................................... 73
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INTRODUÇÃO
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1. HITÓRIA DO DIREITO INFANTOJUVENIL
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permissão para “matar o filho que nasceu disforme,
mediante o julgamento de cinco vizinhos” (Tábua IV, nº
1), bem como o direito de vida e de morte e o poder de
vender qualquer um deles (Tábua IV, nº 2).
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3 Código de Manu, Livro 8º, Art. 386: “Uma mãe, um pai, uma
esposa e um filho não devem ser abandonados; aqueles que
abandonam um deles, quando não é culpado de nenhum crime
grande, deve sofrer uma multa de seiscentos panas”. Disponível em:
http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/manu2.htm. Acesso em:
25/11/2019.
4 MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da
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No Reino de Portugal e nas suas colônias, entre
elas, o Brasil, o sistema jurídico se guiava pelas
Ordenações Reais: Ordenações Afonsinas (1446 –
1512), Ordenações Manuelinas (1521 – 1569) e as
Ordenações Filipinas (cujo nome remete ao reinado de
Filipe I, que ordenou sua compilação e ao Rei Filipe II,
que as promulgou em 1603).
Também conhecido como Código Filipino,
tratava-se de um compilado de leis sobre diversos
assuntos e ramos do Direito. Até hoje é a legislação mais
duradoura da história tanto de Portugal, quanto do Brasil,
onde vigorou até 1830 em matéria penal e até 1916, em
matéria cível.
O Direito Romano e o Direito Canônico foram as
duas grandes influências das Ordenações Filipinas e
serviam como fontes de consulta para a solução de
casos não previstos pela lei portuguesa, devendo ser
aplicados subsidiariamente.
Desta forma, ainda prevalecia a referência ao pai
como o chefe da família (pater familias), aquele que
detinha o monopólio do pátrio poder e a quem cabia o
dever de criar e educar seus filhos, valendo-se inclusive
de castigos físicos para a consecução desse objetivo.
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No que tange à capacidade jurídica para usar,
gozar e dispor livremente sobre bens, sob a égide das
Ordenações, os filhos podiam ser proprietários dos frutos
de herança, doação e do que resultasse de seu trabalho.
Todavia, era garantido ao pai o usufruto sobre tais bens,
por força do pátrio poder8.
Em tal período da nossa história, o ordenamento
jurídico ainda atribuía pouca importância a crianças,
mulheres, idosos e pessoas com problemas mentais.
Estas pessoas eram consideradas portadoras de uma
humanidade inferior, enquanto os homens inteligentes,
razoáveis e prudentes mereciam maior respeito e
importância9.
Disponível em:
http://www.cartaforense.com.br/conteudo/colunas/notas-sobre-as-
relacoes-familiares-no-periodo-das-ordenacoes-filipinas/12754.
Acesso em: 26/11/2019.
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SIMÃO, José Fernando. Op. cit.
9 FRANCO, Renato. Órfãos e expostos no Império luso-brasileiro.
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manter, e defender esses órfãos" (Livro IV, Título
LXXXVIII).
Por sua vez, expostos ou enjeitados eram
crianças abandonadas anonimamente por pais que as
rejeitavam por razões que iam da pobreza até a tentativa
de ocultar a desonra de mulheres e famílias, passando
pelo mero desprezo e desinteresse pelo filho13. Essas
crianças eram habitualmente deixadas nas portas de
residências, conventos ou igrejas e muitas vezes
morriam de fome, frio ou devoradas por cães e porcos14.
Tal quadro de sofrimento e abandono
incomodava a sociedade, uma vez que os chamados
“anjinhos” acabavam morrendo sem receber o batismo e,
assim, estavam condenados a vagar no Limbo15. Desta
maneira, mais uma vez por influência do Cristianismo,
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Quando algum homem, ou mulher, passar
de vinte annos, commetter qualquer
delicto, dar-se-lhe-há a pena total, que lhe
seria dada, se de vinte e cinco annos
passasse.
E se fôr de idade de dezasete annos até
vinte, ficara em arbitrio dos Julgadores dar-
lhe a pena total, ou diminuir-lha.
E em este caso olhará o Julgador o modo,
com que o delicto foi commettido, e as
circumstancias delle, e a pessôa do menor;
e se o achar em tanta malicia, que lhe
pareça que merece total pena, dar-lhe-há,
postoque seja de morte natural.
E parecendo-lhe que a não merece, poder-
lha-há diminuir, segundo a qualidade, ou
simpleza, com que achar, que o delicto foi
commettido.
E quando o delinquente fôr menor de
dezasete annos cumpridos, postoque o
delicto mereça morte natural, em nenhum
caso lhe será dada, mas ficará em arbitrio
do Julgador de dar-lhe outra menor pena.
E não sendo delicto tal, em que caiba pena
de morte natural, se guardará a disposição
do Direito Commum.
http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/filipinas/l5p1311.htm. Acesso em
26/11/2019.
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/LIM-16-12-1830.htm.
Acesso em: 30/11/2019.
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tinham discernimento (critério psicológico) para
compreender a ilicitude da conduta (art. 13):
Art. 10. Tambem não se julgarão
criminosos:
1º Os menores de quatorze annos.
(...)
Art. 13. Se se provar que os menores de
quatorze annos, que tiverem commettido
crimes, obraram com discernimento,
deverão ser recolhidos ás casas de
correção, pelo tempo que ao Juiz parecer,
com tanto que o recolhimento não exceda
á idade de dezasete annos.
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condutas atentatórias à dignidade de crianças e
adolescentes como o abandono, a subtração, a
ocultação, o abuso e a exploração.
O Código Civil de 1916 – CC/1916 (que
revogou as Ordenações e vigorou até 2002) previa que o
marido era o chefe da sociedade conjugal (art. 233) e,
como tal, cabia a ele o exercício do pátrio poder (art.
380), e, apenas excepcionalmente, à mulher22. Já havia
previsão de suspensão ou perda do pátrio poder23 tanto
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civil ocorria apenas aos 21 anos24. Até para casar, os
filhos legítimos com menos de 21 anos precisavam do
consentimento dos pais (art. 185). Mas ainda assim,
podiam ser responsabilizados pela prática de qualquer
ato ilícito, se fossem culpados (art. 156).
Em 1923 foi criada a primeira norma brasileira
voltada especificamente à proteção da infância e da
juventude, com a aprovação do Regulamento da
Assistência e Proteção aos Menores Abandonados e
Delinquentes25, através do Decreto Nº 16.272.
Esta legislação determinou que menores de 14
anos não sofreriam processo penal de espécie alguma
(art. 24) e, entre os 14 e os 18 anos, seriam submetidos
http://legis.senado.leg.br/norma/430797/publicacao/15797742.
Acesso em: 30/11/2019.
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protegida contra todas as formas de
exploração.
5. A criança deve ser conscientizada
de que seus talentos devem ser dedicados
ao serviço de seus semelhantes.
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Em seguida, o Decreto-Lei Nº 3.799 de 1941
criou o Serviço de Assistência a Menores (S. A. M.) que,
entre outras atribuições, tinha como finalidade (art. 2º)
recolher e abrigar menores, sistematizar e orientar os
serviços de assistência a menores desvalidos e
delinquentes29. O S. A. M. teve suas competências
ampliadas pelo Decreto-Lei Nº 6.865 de 1944 para
abarcar a necessidade de incentivar iniciativas
particulares de assistência a menores e promover a
colocação de menores desligados, conforme a instrução
que tenham recebido e as aptidões que tenham
demonstrado30.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a
Assembleia Geral das Nações Unidas cria, em 1946, o
Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas
para a Infância – em inglês, United Nations International
Children's Emergency Fund (UNICEF). O objetivo era
atender às necessidades emergenciais das crianças
durante o período pós-guerra.
http://legis.senado.leg.br/norma/531965/publicacao/15612531.
Acesso em 05/12/2019.
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https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1960-1969/lei-4513-1-
dezembro-1964-377645-publicacaooriginal-1-pl.html. Acesso em:
06/12/2019.
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do Decreto-Lei Nº 1.004, que reduzia a maioridade para
16 anos e aplicaria penas diminuídas, caso o menor
infrator demonstrasse aquilo que outrora se chamava de
discernimento34:
Art. 33. O menor de dezoito anos é
inimputável salvo se, já tendo completado
dezesseis anos, revela suficiente
desenvolvimento psíquico para entender o
caráter ilícito do fato e determinar-se de
acôrdo com êste entendimento. Neste
caso, a pena aplicável é diminuída de um
terço até a metade. (Menores).
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1970-
1979/L6697impressao.htm. Acesso em: 06/12/2019.
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§ 2º A lei disporá sobre normas de
construção dos logradouros e dos edifícios
de uso público e de fabricação de veículos
de transporte coletivo, a fim de garantir
acesso adequado às pessoas portadoras
de deficiência.
§ 3º O direito a proteção especial
abrangerá os seguintes aspectos:
I - idade mínima de quatorze anos para
admissão ao trabalho, observado o
disposto no art. 7º, XXXIII;
II - garantia de direitos previdenciários e
trabalhistas;
III - garantia de acesso do trabalhador
adolescente e jovem à escola; (Redação
dada Pela Emenda Constitucional nº 65,
de 2010)
IV - garantia de pleno e formal
conhecimento da atribuição de ato
infracional, igualdade na relação
processual e defesa técnica por
profissional habilitado, segundo dispuser a
legislação tutelar específica;
V - obediência aos princípios de brevidade,
excepcionalidade e respeito à condição
peculiar de pessoa em desenvolvimento,
quando da aplicação de qualquer medida
privativa da liberdade;
VI - estímulo do Poder Público, através de
assistência jurídica, incentivos fiscais e
subsídios, nos termos da lei, ao
acolhimento, sob a forma de guarda, de
criança ou adolescente órfão ou
abandonado;
VII - programas de prevenção e
atendimento especializado à criança, ao
adolescente e ao jovem dependente de
entorpecentes e drogas afins. (Redação
dada Pela Emenda Constitucional nº 65,
de 2010)
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na mira os responsáveis por garantir sua proteção. Ao
lado da ampliação de direitos, veio também o aumento
das responsabilidades e seu compartilhamento entre
diversos os diversos integrantes desse sistema: família,
sociedade e o Estado (poder Público).
Se no período da Doutrina da Situação Irregular
prevalecia um sistema de caráter filantrópico e
assistencial comandado pelo Poder Judiciário de forma
centralizada, com a Doutrina da Proteção Integral foi
criada uma Rede de Proteção para a garantia dos
direitos de crianças e adolescentes, como veremos em
tópico específico mais adiante.
Com vistas a garantir a eficácia e aplicabilidade
imediata das normas definidoras de direitos e garantias
fundamentais, como determina o art. 5º, § 1º da
CRFB/88, foi criado o Estatuto da Criança e do
Adolescente – ECA37, através da Lei Nº 8.069, de 13 de
julho de 1990.
Desta forma, o ECA é considerado um
“microssistema aberto de regras e princípios” 38 que
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3. DIREITOS FUNDAMENTAIS DA CRIANÇA E DO
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esporte e ao lazer (cap. IV) e o direito à
profissionalização e à proteção no trabalho (cap. V).
3.1. Direito Fundamental à Vida e à Saúde
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O direito fundamental ao respeito traduz-se na
“inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da
criança e do adolescente, abrangendo a preservação da
imagem, da identidade, da autonomia, dos valores,
ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais” (art.
17).
Dignidade é ser tratado como um fim em si
mesmo e nunca como meio para algum fim. Assim, o
direito fundamental à dignidade das crianças e
adolescentes configura-se com a proibição “de qualquer
tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório
ou constrangedor” (art. 18).
Em 2014, entrou em vigor a Lei nº 13.010, mais
conhecida como “Lei da Palmada”, que inseriu os artigos
18-A e 18-B no ECA para resguardar ainda mais a
dignidade e a incolumidade infantojuvenil:
“Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o
direito de ser educados e cuidados sem o
uso de castigo físico ou de tratamento
cruel ou degradante, como formas de
correção, disciplina, educação ou qualquer
outro pretexto, pelos pais, pelos
integrantes da família ampliada, pelos
responsáveis, pelos agentes públicos
executores de medidas socioeducativas ou
por qualquer pessoa encarregada de
cuidar deles, tratá-los, educá-los ou
protegê-los.
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3.3. Direito Fundamental à Convivência Familiar
e Comunitária
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podendo recorrer às instâncias escolares superiores
(art.53, III); direito de organização e participação em
entidades estudantis (art.53, IV); e acesso à escola
pública e gratuita, próxima de sua residência, garantindo-
se vagas no mesmo estabelecimento a irmãos que
frequentem a mesma etapa ou ciclo de ensino da
educação básica (art.53, V, com redação dada pela Lei
nº 13.845, de 2019).
É assegurado aos pais ou responsáveis a
participação no processo educacional, uma vez que eles
têm direito de “ter ciência do processo pedagógico, bem
como participar da definição das propostas educacionais”
(art.53, parágrafo único).
A Lei Nº 13.840/2019 acrescentou o art. 53-A ao
ECA para obrigar as instituições de ensino, clubes,
agremiações recreativas e semelhantes a “assegurar
medidas de conscientização, prevenção e enfrentamento
ao uso ou dependência de drogas ilícitas”.
A cultura, o esporte e o lazer de crianças e
adolescentes ficam a cargo dos municípios, que devem
estimular e facilitar a “destinação de recursos e espaços
para programações culturais, esportivas e de lazer
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(art. 67, I); perigoso, insalubre ou penoso (art. 67, II);
realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu
desenvolvimento físico, psíquico, moral e social (art. 67,
III); realizado em horários e locais que não permitam a
frequência à escola (art. 67, IV).
É importante destacar que a CLT impõe que
estabelecimentos de qualquer natureza empreguem e
matriculem nos “cursos dos Serviços Nacionais de
Aprendizagem número de aprendizes equivalente a cinco
por cento, no mínimo, e quinze por cento, no máximo,
dos trabalhadores existentes em cada estabelecimento,
cujas funções demandem formação profissional” (art. 429
da CLT). E determinar também que a “duração do
trabalho do aprendiz não excederá de seis horas diárias,
sendo vedadas a prorrogação e a compensação de
jornada” (art. 432 da CLT).
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
natureza, a mesma Constituição, no capítulo que cuida
“Da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do
Idoso”, determina que há um “público preferencial”:
Art. 227. É dever da família, da sociedade
e do Estado assegurar à criança, ao
adolescente e ao jovem, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão. (Redação dada
Pela Emenda Constitucional nº 65, de
2010)
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
(...)
Princípio 7º: Os melhores interesses da
criança serão a diretriz a nortear os
responsáveis pela sua educação e
orientação; esta responsabilidade cabe,
em primeiro lugar, aos pais. A criança terá
ampla oportunidade para brincar e divertir-
se, visando os propósitos mesmos da sua
educação; a sociedade e as autoridades
públicas empenhar-se-ão em promover o
gozo deste direito.
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
consideração primordial seja o interesse
maior da criança.
(...)
Art. 37 Os Estados Partes zelarão para
que: (...) c) toda criança privada da
liberdade seja tratada com a humanidade e
o respeito que merece a dignidade
inerente à pessoa humana, e levando-se
em consideração as necessidades de uma
pessoa de sua idade. Em especial, toda
criança privada de sua liberdade ficará
separada dos adultos, a não ser que tal
fato seja considerado contrário aos
melhores interesses da criança, e terá
direito a manter contato com sua família
por meio de correspondência ou de visitas,
salvo em circunstâncias excepcionais;
(...)
Art. 40, § 1º Os Estados Partes
reconhecem o direito de toda criança a
quem se alegue ter infringido as leis penais
ou a quem se acuse ou declare culpada de
ter infringido as leis penais de ser tratada
de modo a promover e estimular seu
sentido de dignidade e de valor e a
fortalecer o respeito da criança pelos
direitos humanos e pelas liberdades
fundamentais de terceiros, levando em
consideração a idade da criança e a
importância de se estimular sua
reintegração e seu desempenho
construtivo na sociedade.
§ 2º Nesse sentido, e de acordo com as
disposições pertinentes dos instrumentos
internacionais, os Estados Partes
assegurarão, em particular:
(...)
b) que toda criança de quem se alegue ter
infringido as leis penais ou a quem se
acuse de ter infringido essas leis goze,
pelo menos, das seguintes garantias:
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(...)
III) ter a causa decidida sem demora por
autoridade ou órgão judicial competente,
independente e imparcial, em audiência
justa conforme a lei, com assistência
jurídica ou outra assistência e, a não ser
que seja considerado contrário aos
melhores interesses da criança, levando
em consideração especialmente sua idade
ou situação e a de seus pais ou
representantes legais;
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
devem ser organizadas com base na diretriz da
“descentralização político-administrativa, cabendo a
coordenação e as normas gerais à esfera federal e a
coordenação e a execução dos respectivos programas
às esferas estadual e municipal, bem como a entidades
beneficentes e de assistência social”.
Já o art. 227, § 7º da CRFB/88 determina que
“no atendimento dos direitos da criança e do adolescente
levar-se-á em consideração o disposto no art. 204”, ou
seja, desconcentra e democratiza poderes e
responsabilidades com vistas a facilitar a concretização
dos direitos infantojuvenis.
Complementando a Constituição, o ECA
expressamente determina que a municipalização do
atendimento é uma das diretrizes da política de
atendimento, ao lado da criação de conselhos municipais
dos direitos da criança e da criação e manutenção de
programas específicos de atendimento que observem a
descentralização político-administrativa (art. 88, I, II, III).
O princípio da municipalização busca dar maior
eficiência e eficácia à aplicação da legislação referente
aos direitos da criança e do adolescente, uma vez que as
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Para prevenir ameaças e violações aos direitos
de crianças e adolescentes existe um sistema de
garantias fundado três diretrizes46:
Promoção dos direitos da criança e do
adolescente;
Proteção e defesa dos direitos da
criança e do adolescente;
E a participação e controle social.
As três diretrizes acima devem orientar o
trabalho dos membros deste sistema de garantias: as
Polícias, os Juízes da Infância e da Juventude, a
Defensoria Pública, o Ministério Público, os Conselhos
Tutelares e de Direitos, além da família, das ONGs e da
sociedade como um todo, que integram a denominada
Rede de Proteção47.
As Políticas de Atendimento podem ser
compreendidas como “o conjunto de instituições,
princípios, regras, objetivos e metas que dirigem a
elaboração de planos destinados à tutela dos direitos da
população infantojuvenil, permitindo, dessa forma, a
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Políticas de proteção: sistema de
prevenção secundário previsto pelo
Título II do ECA (arts. 98 e 101)51
destinado a prevenir ou reparar direitos
ameaçados ou violados;
Políticas socioeducativas: sistema
terciário que entra em operação quando
o adolescente pratica ato infracional
(art. 103) que pode levar à aplicação de
medida socioeducativa (art. 112)52.
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Desta forma, nosso atual ordenamento jurídico
prevê que a menoridade, aqui entendida como idade
biológica inferior a 18 anos completos, acarreta a
inimputabilidade penal, ou seja, em razão do estado
peculiar de pessoa em desenvolvimento, o menor de 18
anos não tem a capacidade de entender o caráter ilícito
do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.
Quando alguém menor de 18 anos pratica uma
conduta descrita como crime ou contravenção penal, o
art. 228 da CRFB/88, em sua parte final, determina que o
mesmo submete-se à legislação especial, que no caso é
o ECA. Já o Estatuto afirma que a conduta delituosa do
menor de 18 anos configura um ato infracional (art.
103).
Menoridade não significa impunidade. O menor
de 18 anos que pratica um ato infracional está sujeito às
medidas previstas pelo ECA: crianças (pessoa até 12
anos incompletos) podem ser alvo de medidas
protetivas (art. 105) e os adolescentes (entre 12 e 18
anos de idade) submetem-se às medidas
socioeducativas.
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
III - prestação de serviços à comunidade;
IV - liberdade assistida;
V - inserção em regime de semiliberdade;
VI - internação em estabelecimento
educacional;
VII - qualquer uma das previstas no art.
101, I a VI.
§ 1º A medida aplicada ao adolescente
levará em conta a sua capacidade de
cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade
da infração.
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto
algum, será admitida a prestação de
trabalho forçado.
§ 3º Os adolescentes portadores de
doença ou deficiência mental receberão
tratamento individual e especializado, em
local adequado às suas condições.
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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
assume um papel mais qualificado do que o
desempenhado anteriormente pelo Juiz de Menores. Isto
porque, após o ECA, o Conselho Tutelar assumiu boa
parte das atribuições que cabiam ao Juiz de Menores e,
agora, o Juiz da Infância e da Juventude passa a ter
“uma atuação muito mais voltada à solução dos
problemas na esfera coletiva (e preventiva)”, com vistas
à “estruturação do Poder Público para fazer frente às
demandas na área infanto-juvenil”53.
O acesso à Justiça é gratuito e garantido a toda
criança ou adolescente. Esse direito se concretiza
através da Defensoria Pública, do Ministério Público e do
Poder Judiciário, a quem incumbe a criação de varas
especializadas da infância e da juventude para
atendimento adequado e prioritário de crianças e
adolescentes, conforme determina o ECA:
Art. 141. É garantido o acesso de toda
criança ou adolescente à Defensoria
Pública, ao Ministério Público e ao Poder
Judiciário, por qualquer de seus órgãos.
§ 1º. A assistência judiciária gratuita será
prestada aos que dela necessitarem,
53
DIGIÁCOMO, Murillo José; DIGIÁCOMO, Ildeara de Amorim.
Estatuto da criança e do adolescente anotado e interpretado.
Ministério Público do Estado do Paraná. Centro de Apoio
Operacional das Promotorias da Criança e do Adolescente, 2017, p.
269.
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VI - aplicar penalidades administrativas
nos casos de infrações contra norma de
proteção à criança ou adolescente;
VII - conhecer de casos encaminhados
pelo Conselho Tutelar, aplicando as
medidas cabíveis.
Parágrafo único. Quando se tratar de
criança ou adolescente nas hipóteses do
art. 98, é também competente a Justiça da
Infância e da Juventude para o fim de:
a) conhecer de pedidos de guarda e tutela;
b) conhecer de ações de destituição do
pátrio poder poder familiar, perda ou
modificação da tutela ou guarda;
(Expressão substituída pela Lei nº 12.010,
de 2009)
c) suprir a capacidade ou o consentimento
para o casamento;
d) conhecer de pedidos baseados em
discordância paterna ou materna, em
relação ao exercício do pátrio poder poder
familiar; (Expressão substituída pela Lei nº
12.010, de 2009)
e) conceder a emancipação, nos termos da
lei civil, quando faltarem os pais;
f) designar curador especial em casos de
apresentação de queixa ou representação,
ou de outros procedimentos judiciais ou
extrajudiciais em que haja interesses de
criança ou adolescente;
g) conhecer de ações de alimentos;
h) determinar o cancelamento, a retificação
e o suprimento dos registros de
nascimento e óbito.
Art. 149. Compete à autoridade judiciária
disciplinar, através de portaria, ou
autorizar, mediante alvará:
I - a entrada e permanência de criança ou
adolescente, desacompanhado dos pais ou
responsável, em:
a) estádio, ginásio e campo desportivo;
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de Garantia dos Direitos da Infância e da Juventude
composto pela família, pela sociedade e pelo Estado
reúne todas as condições para transformar a realidade.
Por fim, é importante relembrar uma das frases
contidas no Preâmbulo da Declaração Universal dos
Direitos da Criança de 1959: “a humanidade deve à
criança o melhor de seus esforços”!
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REFERÊNCIAS
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1851-
1899/D847.htmimpressao.htm. Acesso em: 30/11/2019.
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75
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069compilado.
htm. Acesso em: 06/12/2019.
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MESGRAVIS, Laima. A Santa Casa de Misericórdia de
Säo Paulo (1599?-1884): contribuição ao estudo da
assistência Social no Brasil. 1976.
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