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lo

‘1
Braquiterapia de
Alta Taxa de Dose
para Físicos
Fundamentos, Calibração e
Controle de Qualidade
© 2008 Ministério da Saúde.
E permitida a reprodução total ou parcial desta obra, desde que citada a fonte.

Tiragem: 1.000 exemplares

Criação, Redação e Distribuição


MINISTERIO DA SAUDE
Instituto Nacional de Câncer (INCA)
Praça Cruz Vermelha, 23 Centro -

20230-130 Rio de Janeiro Ri


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www.incagov.br

Realização
Coordenação de Prevenção e Vigilância (Conprev)
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Programa de Qualidade em Radioterapia (PORT)
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Edição
Coordenação de Ensino e Divulgação Científica (CEDC)
Divisão de Divulgação Científica (DDC)
Rua do Rezende, 128 Centro
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20230-092 Rio de Janeiro RI


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Tel.: (Oxx2l) 3970-7818

Impressão
ESDEVA

Impresso no Brasil / Printed in Brazil

159b Instituto Nacional de Câncer (Brasil).


Braquiterapia de alta taxa de dose para físicos: fundamentos,
calibração e controle de qualidade curso a distáncia. / Instituto
-

Nacional de Câncer. Rio de laneiro: INCA, 2008.


-

117 p.: ii, color.

Inclui referências
ISBN 978-85-7318-138-8

1.Braquiterapia. 2. Controle de qualidade. 1. Título.

CDD 615.845207
Catalogação na fonte - Coordenação de Ensino e Divulgação Científica
4;f
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I-t,

\ 6ras!r-DF)

MINISTERIO DA SAUDE
Instituto Nacional de Câncer - INCA

Braquiterapia de Alta Taxa de Dose


para Físicos
Fundamentos, Calibração e Controle de Qualidade

ai s- ‘q

ooç
Rio de Janeiro, Ri
2008
Equipe de Elaboração

• Anna Maria Campos de Araujo


Especialista em Física Médica, titulada pela ABFM, Mestre em Radiofísica Sanitária pelo Instituto de Biofísica da UFRJ

• Carlos Manoel Mendonça de Araújo


Especialista em Radioterapia, titulado pelo CBR, Chefe do Serviço de Radioterapia do INCA

• Célia Maria Pais Viégas


Especialista em Radioterapia, titulada pelo CBR, Mestre em Biociências Nucleares pela UERJ, Doutora em
Radioterapia pela UFRJ, Subchefe do Serviço de Radioterapia do INCA

• Pedro Paulo Pereira Junior


Bacharel em Física pela PUC/RJ, Especialista em Física Médica titulado pela ABFM

• Rachele Graziotin
Especialista em Radioterapia, titulada pelo CBR

• Roberto Salomon de Souza


Especialista em Física Médica pelo INCA, titulado pela ABFM, Mestre em Radioproteção e Dosimetria pelo IRD/
CNEN, Doutorando em Engenharia Nuclear pela COPPE/UFRJ

Supervisão editorial
Sílvia M. M. Costa/DDC/CEDC

Edição
Taís Facina/DDC/CEDC

Revisão
Maria Helena Rossi Oliveira/DDC/CEDC

Capa, projeto gráfico e diagramação


Cecília Pachá Seção de Produção de Material Educativo/DDC/CEDC
-

Normalização bibliográfica
Kátia Simões Seção de Bibliotecas/DDC/CEDC
-

Equipe técnico-pedagógica
Anna Maria Campos de Araujo (INCA)
Antonio Tadeu Cheriff dos Santos (INCA)
Euclydes Etienne Miranda Arreguy (INCA)
Francisco José da Silveira Lobo Neto (UFF)
Roberto Salomon de Souza (INCA)

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SUMÁRIO
Introdução . 11

Unidade 1 - A radioatividade e a braquiterapia: uma abordagem


histórica 13
Capítulo 1 A descoberta da radioatividade e a braquiterapia 15
Capítulo 2 . Histórico da braquiterapia e suas modalidades 23

Unidade II — Aspectos clínicos da braquiterapia 39


Capítulo 3 . Fundamentos, procedimentos clínicos e equipe multprofissional 41

‘Unidade III A calibração e seus equipamentos



61
Capítulo 4 Instrumentação para calibração em braquiterapia de alta
.

taxa de dose (BATD) 63


Roteiro de atividade Controle de qualidade do conjunto dosimétrico em
.

feixe de Co-60 71
Roteiro de atividade Controle de qualidade do conjunto dosimétrico em
-

feixes de fótons de 4 ou 6MV 77


Capítulo 5 Determinação da taxa de kerma de referência no ar
-
83
Roteiro de atividade Determinação da taxa de kerma de referência no ar
.
89

Unidade IV O controle de qualidade e a prevenção de acidentes



93
Capítulo 6 - Testes de controle de qualidade 95
Roteiro de atividade - Controle de qualidade do irradiador de lr-192 105
Formulário para controle de qualidade 109
Capítulo 7 . Acidentes em braquiterapia: relatos de casos 111
1
ILUSTRAÇÕES

Lista de Figuras
Capítulo 1
Figura 1 Casal Curie: Marie e Pierre Curie
-
15
Figura 2 Róentgen e a primeira radiografia
-
17
Figura 3 Henri Becquerel
-
17
Figura 4 Registro obtido por Becquerel em chapa fotográfica de radiações
-

emitidas naturalmente 18
Figura 5 Marie Curie
-
18
Figura 6 Pechblenda
-
18
Figura 7 Pierre Curie
-
18
Figura 8 Ernest Rutherford
-
18
Figura 9 1. J. Thomson em seu laboratório
-
19
Figura 10 Graham BelI
-
19
Figura 11 Cadinho com 2,7 g de Ra-226, obtido em 15 de outubro de 1922
-
19
Figura 12 lrène Joliot-Curie
-
20
Figura 13 Jean Frédéric Joliot
-
20
Figura 14 Lawrence em frente ao OId Rad Lab
-
20

Capítulo 2
Figura 15 Catálogo de equipamentos e acessórios para braquiterapia com
-

Ra-226 de 1947 23
Figura 16 Aplicadores de braquiterapia ginecológica manual do sistema
-
-

‘Manchestert de 1960 tandems de borracha, ovóides, espaçador e ferramenta


-

necessários para as inserções 26


Figura 17 Técnico do INCA em preparo de material radioativo para braquiterapia
-
26
Figuras 18, 19 e 20 Cofre para guarda de tubos e agulhas, anteparo em “L” para
-

manipulação e preparo do material radioativo, de chumbo para transporte


do material radioativo do cofre até a sala de inserções (catálogo de 1960) 26
Figura 21 Instalações de uma sala de preparo de fontes seladas para
-

braquiterapia conforme comercializada em 1968 27


Figura 22 Procedimento de inserção de material radioativo na paciente
-
27
Figura 23 Biombo de chumbo de proteção de leito utilizado nas enfermarias
-

de braquiterapia 27
Figura 24 Aplicadores de braquiterapia ginecológica por cargas postergadas do
-

sistema F/etcher-Suit 27
Figura 25 Radiografia localizadora de aplicadores com cargas postergadas
- 28
Figuras 26 e 27 Tubos ginecológicos e agulhas intersticiais de Cs-137
- 29
Figuras 28 e 29 Propagandas de produtos e serviços para braquiterapia
- 29
Figura 30 Enfermaria de braquiterapia
- 29
Figuras 31 e 32 À esquerda: implantes intersticiais com fios de lr-192
- -

Prospecto do fabricante (note a assinatura da Física Ester Nunes Pereira, do INCA-Ri,


pioneira da Física Médica no Brasil). À direita: fio de lr-192 de SOOmm de
comprimento (1974/78) 30
Figuras 33 e 34 Diagrama de um implante com fios de lr-192 (esq.) e
-

dispositivo para o corte e preparo dos fios (dir.) 30


Figuras 35 e 36 Fios de lr-192 pré-configurados para implantes de cabeça e
-

pescoço com seus respectivos aplicadores 31


Figura 37 Fios de lr-192 pré-cortados e aplicadores normalmente utilizados
-

em implantes intersticiais manuais de cabeça e pescoço 31


Figura 38 Semente de 1-125 atividade típica de 030 mci
- - 32
Figura 39 Diagrama pictórico de um implante de próstata com 1-125
- 32
Figuras 40 e 41 Sementes revestidas de vycril (esq.) e radiografia de um
-

implante (dir.) 33
Figura 42 O Curietron da CGR-MEv
- 33
Figura 43 O After/oading da BUCHLER
- 33
Figuras 44 e 45 O Selectron LDR (esq.) e o Microselectron HDR (dir.)
- 34
Figuras 46 e 47 Estrutura interna do Seiectron LDR (esq.) e radiografia das
-

fontes falsas posicionadas no tandem (dir.) 34


Figura 48 Radiografia do colpostato (esq.) e auto-radiografia das fontes no
-

tandem (dir.) 34
Figura 49 Fonte falsa com as mesmas dimensões da fonte de lr-192
- 35
Figura 50 Conjunto de aplicadores do Microselecbon para inserções ginecológicas
- 35
Figura 51 Dosimetria in vivo para avaliação da dose em órgãos critos relevantes
- 35
Figura 52 Câmaras intracavitárias modernas para avaliação de doses
- 35
Capítulo 3
Figura 53 Procedimento de inserção intracavitária em braquiterapia ginecolôgica
- 41
Figura 54 Aplicador tipo F/etcher (colpostatos e tandem)
- 44
Figura 55 Cihndro vaginal
- 44
Figura 56 Anel, tandem e retrator retal
- 44
Figura 57 Aplicador de nasoíaringe
- 44
Figura 58 Esquema representativo de um tratamento intracavitário
-

ginecológico com colpostatos e tandem inseridos 46


Figura 59 Radiografia de simulação de tratamento de paciente com
-

neoplasia de cavum 46
Figura 60 À esquerda: esquema representativo de um tratamento intersticial
-

em mama. À direita: agulhas de tratamento inseridas em uma paciente, com


neoplasia maligna de mama, prestes a iniciar tratamento 46
Figura 61 À esquerda: Esquema representativo de um tratamento endoluminal
-


em brônquios/pulmão. À direita: simulação de tratamento de um paciente com
neoplasia brônquios/pulmão, prestes a iniciar tratamento 46
Figura 62 Molde em cera para tratamento de tumor de pele com braquiterapia
- .... 47
Figuras 63 e 64 Aparelhos de braquiterapia de alta taxa de dose, remotamente
-

controlados: Microselectron®, Gammamed® 48


Figura 65 Radiografia de simulação de tratamento de braquiterapia de baixa taxa
-

de dose em paciente com câncer de próstata, evidenciando que as sementes


radioativas de 1-125 ficam permanentemente inseridas no paciente tratado 48
Figura 66 Esquema ilustrativo com template do tipo Martinez com as
-

respectivas agulhas e cilindro vagina! 50


Figura 67 Radiografias anterior (esq.) e lateral (dir.) de simulação de
-

braquiterapia intracavitária de alta taxa de dose, com carregamento


postergado, com as fontes falsas posicionadas para planejamento 50
Figura 68 Aspecto das curvas de isodos e em forma de “pêra”, obtidas no
-

sistema de planejamento 3D para o tratamento com tandem e colpostatos.


Em sentido anti-horário, começando pelo alto e à esquerda: corte transversal,
corte coronal, corte longitudinal e radiografia reconstruída digitalmente com
a ‘pêra representada tridimensionalmente 51
Capítulo 4
Figura 69 - Um Upo de eletrômetro ufilizado para dosimeffia de fontes de braquiterapia 63
Figura 70 - Modelos de câmaras de ionização tipo poço 65
Figura 71 - Modelos de eletrômetros 66
Figura 72 - Barômetro aneróide e termômetro digital 66
Figura 73 - Higrômetro analógico 66
Figura 74 - Irradiador de Co-60 71
Figura 75 - Barômetro e termômetro digital 71
Figura 76 - Eletrômetro 71
Figura 77 - Câmara poço 71
Figura 78 - Câmara poço no centro do campo luminoso 72
Figura 79 - DFS a 100 cm 72
Figura 80 - Conexão do cabo da câmara poço conedada ao eletrômetro 73
Figura 81 - Seleção do tempo no irradiador 73
Figura 82 - Acelerador Linear 77
Figura 83 - Barômetro e termômetro digital 77
Figura 84 - Câmara poço 77
Figura 85 - Eletrômetro 77
Figura 86 - Câmara poço no centro do campo luminoso 78
Figura 87 - DFS a 100 cm 78
Figura 88 - Conexão do cabo da câmara poço ao eletrômetro 79
Figura 89 - Painel do comando do acelerador linear 79
Capítulo 5
Figura 90 Arranjo experimental para a determinação da taxa de kerma de referência
-

noar 83
89
Figura 91 - Câmara poço 89
Figura 92 - Eletrômetro 89
Figura 93 - Barômetro e termômetro digital 89
Figura 94 - Hoider para fonte de lr-192 90
namento do holder
Figura 95 - Ponto de referência para posicio 90
Figura 96 - Posição do irradiador

Capítulo 6 fonte 95
rminação do posicionamento da
Figura 97 Dispositivo para dete
-
98
da porta
Figura 98 Luzes de advertência
-
99
irradiador
Figura 99 Painel de comando do
-
99
de emergência
Figura 100 Botões de parada
-
100
iação
Figura 101 Monitores de rad
-
100
manual da fonte
Figura 102 Sistemas de retorno
-
100
do cofre da fonte
Figura 103 Chave de segurança
-
1 01
Figura 104 Canais de tratamento
-
1 01
Figura 105 Circuito interno de IV
-
101
Figura 106 lntercomunicador -

imétricos 102
l para a realização dos testes dos
Figura 107 Arranho experimenta-
105
lr-192
Figura 108 Irradiadores de -
105
de e termômetro digital
Figura 109 Barômetro anerói -
105
Figura 110 Eletrômetro -
105
Figura 111 Câmara poço -
1 06
do painel
Figura 112 Luzes da porta e -
106
Figura 113 Botão de emergência -
106
retorno da fonte
Figura 114 Sistema manual de -
107
tratamento
Figura 115 Troca de canal de -
107
fonte
Figura 116 Chave do cofre da -
107
o
Figura 117 Monitor de radiaçã -
107
Figura 118 Oummy -
108
ificação da posição da fonte
Figura 119 Dispositivo para ver -
108
intercomunicador
Figura 120 Circuito de IV e -
108
Figura 121 Troca da fonte -

Capítulo 7 radioativa 111


vocada pelo contato com fonte
Figura 122 Queimadura pro -

Lista de Quadro utilizados


dro com as cara cter ístic as dos principais radionuclídeos
Quadro 1 Qua - 21
em braquiterapia
ntroduçáo

INTRODUÇÃO

N05 últimos anos, a utilização da braquiterapia de alta taxa de


dose tem se expandido significativamente no Brasil, tanto em relação
à quantidade de equipamentos quanto na qualidade do tratamento
oferecido à população.
O parque radioterápico brasileiro conta com, aproximadamente,
80 irradiadores de Ir-192 de alta taxa de dose para braquiterapia e a
tendência é de que esse número continue aumentando.
Este dado eleva a responsabilidade do Instituto Nacional de Câncer
(INCA)/Ministério da Saúde (MS), em particular do Programa de Qualidade
em Radioterapia (PQRT), de assegurar a qualidade do tratamento
radioterápico direcionado aos pacientes com câncer.
Nesse sentido, o Programa de Qualidade em Radioterapia do INCA!
MS está promovendo o primeiro curso de atualização a distância de
“Braquiterapia de Alta Taxa de Dose para Físicos: Fundamentos, Calibração e
Controle de Qualidade”, que tem como objetivos atualizar e difundir o
conhecimento para os físicos médicos que atuam nessa área e que nem sempre
têm a oportunidade de participar de cursos presenciais, face às dificuldades
para se afastarem de seu local de serviço e aos custos envolvidos.
O objetivo principal do curso é desenvolver competências para que
os físicos envolvidos com a radioterapia possam executar, com eficácia e
segurança, os procedimentos de calibração e controle de qualidade em
braquiterapia de alta taxa de dose. Seu conteúdo foi elaborado por
profissionais qualificados das áreas da Física Médica e da Radioterapia. O
material didático foi produzido segundo princípios de uma proposta
pedagógica que enfatiza a relação entre o trabalho e a educação na saúde,
servindo, portanto, como referência para esclarecer dúvidas na prática
cotidiana e como material básico para a difusão do conhecimento nessa área.
Braquitenpia de Alta Taxa de Dose para Fískos
12
Fundamentos, Calibraçio e Casara!. de Qual idade

O curso possui quatro unidades, subdivididas em sete capítulos.


A primeira unidade contém uma breve revisão histórica da descoberta
da radioatividade e da utilização da braquiterapia no tratamento de
câncer (capítulos 1 e 2). A segunda unidade apresenta os fundamentos
da braquiterapia, seus aspectos clínicos e as atribuições de cada membro
da equipe (capítulo 3). Na terceira unidade são descritos, detalhadamente,
os equipamentos necessários à dosimetria e seus testes (capítulo 4), e os
procedimentos para a determinação da taxa de kerma de referência no
ar (capítulo 5). A quarta unidade é dedicada aos testes de controle de
qualidade (capítulo 6) e apresenta alguns acidentes em braquiterapia
(capítulo 7). Cada capítulo apresenta atividades práticas ou exercícios
que favorecem o aprendizado.
Esperamos que você aproveite o curso ao máximo. Leia
atentamente o Guia do Aluno e mãos à obra!

Anna Mada Campos de Araujo


A Radioatividade ea Braquiterapia: uma Abordagem Histórica
13

UNIDADE 1
A Radioatividade e a Braquiterapia:
uma Abordagem Histórica
1
• Agadjoabvidadeea Braquiterapia: urnaAbordagern Histérica
A Descoberta da Radioatividade e a Sraquiterapia

Capítulo 1
A Descoberta da Radioatividade e a Braquiterapia
Roberto Salomon de Souza
u.a .

Figura 1 - Casal Curie: Mune e Pierne Curie


-a
• A Raaiivdade e raquiIerapa una ASoáagem Wslôdca
• 17
A Descoberta da Radioatividade ea Era quiterapia

CAPÍTULO 1 A DESCOBERTA DA RADIOATIVIDADE E A


-

BRAQUITERAPIA

Neste capítulo, será estudada a história da descoberta da


radioatividade e do uso dos radionuclídeos nos tratamentos
utilizando braquiterapia.

Objetivos:
e Conhecer o processo histórico da descoberta da radioatividade e sua utilização
prática e clínica.
Conhecer as principais características físicas dos radionuclídeos utilizados em
e
braquiterapia.

1,1 • Breve Relato Histórico


A última década do século XIX viu surgir descobertas que
revolucionaram a ciência e a medicina de forma definitiva. A
primeira grande descoberta aconteceu em finais de 1895, quando
à o físico alemão Wilhelm Konrad Rõntgen (1845-1923), figura 2,
anunciou a descoberta dos raios X. Eles foram imediatamente
1
utilizados na medicina como ferramenta diagnóstica e renderam a
Rõntgen o primeiro Prêmio Nobel de Física da história. flgura 2 Rôentgen e a
prim&ra raWografia
No ano seguinte, o físico francês Antoine Henri Becquerel
(1852-1908), figura 3, em decorrência de sua curiosidade pelos
trabalhos de Rbntgen, descobriu a radioatividade natural
demonstrando ter os raios X a propriedade de provocar fluorescência
em certos materiais. Ele quis verificar se a recíproca era verdadeira,
ou seja, se materiais fluorescentes emitiriam raios X. Seu experimento
consistiu em envolver uma chapa fotográfica com um papel preto e
Fgu ra 3 • H enri
Becquerel colocar sobre ela cristais de um material fluorescente (sulfato de
EraquiterapiadeAirn de Dose pan FÍSICOS
18
Fundamentas, Ciii bração e Coenrole de Quatndadn

potássio uranilo), expondo tudo à luz solar. Caso — . ‘ f4. 9._sc ;i..

a luz solar provocasse fluores cência nos cristais , ttt. #Ç itz_. .n.. •, -

tt--.

a chapa fotográfica seria impressionada. A


experiência funcionou da primeira vez e então
Becquerel resolveu repeti-Ia nos dias seguintes
(figura 4). Como Paris atravessava um inverno
4
cinzento e os dias permaneciam nublados, . .

ra - Regsto obtdc Cecquere’ em


resolveu guardar as chapas fotográficas que fo:--’:ca de rad ações em.: as qara’-mer.e
havia preparado em uma gaveta vedada à luz.
Ele ficou surpreso
Após vários dias sem sol, resolveu, mesmo assim, revelar as chapas.
de luz solar, o que
por ela ter sido tão intensamente impressionada mesmo na ausência
o levou a concluir que os cristais emitiam a radiação por si mesmos.
estimulada
Marya Sklodowska-Curie, Marie Curie (1867-1934), figura 5,
la nova forma de
pelas descobertas de Rõntgen e de Becquerel, resolveu estudar aque
utilizado por
radiação. Começou suas pesquisas com o sulfato de potássio uranilo
minou essa nova
Apechblendaé
Becquerel e depois com a pechblenda (figura 6). Inicialmente, deno
tividade”, O
urna variedade da forma de radiação de “raios de Becquerel’ e, mais tarde (1897), de “radioa
, Pierre Curie
uraninita, de onde é nome “radioatividade’ derivou do fato de, em 1898, ela e seu marido
retirado o urânio. E um ento que emitia os raios de
material castanho- (1859-1906), figura 7, terem conseguido isolar um elem
porém, de isolar o
escuro, que consiste Becquerel, até então desconhecido, que denominaram rádio. Antes,
denominado em
majoritanaonenle em rádio, o casal Curie já havia isolado outro elemento, o polõnio, assim
óxido de urânio.
homenagem à pátria de Marie Curie, a Polônia.

Pechbienda F gira 7 Pierre Cer e


Fgu ra 5 - Mano cure ‘gu ri 6

Em 1899, ao construir um experimento em que a radiação


passava através de um campo magnético, Pierre Curie identificou
três tipos de emissões radioativas, mais tarde denominadas de alfa,
beta e gama. O mesmo fenômeno estava sendo estudado por
Becquerel e pelo físico neozelandês Ernest Rutherford (1871-1937),
figura 8. gu’a e - Ernesa
Rutheníard
• A Radioatividade ea Braquiterapia: urnaAbordagern Histórica
19
A Descoberta da Radioatividade e a Braquiterapia

Ainda em 1899, Secquerel descobriu que a trajetória dessa radiação podia ser
alterada por campos magnéticos fortes, o que indicava ser ela constituída por partículas
com carga elétrica. No ano seguinte, concluía que essas partículas tinham carga negativa,
e eram elétrons acelerados. O elétron já havia sido
descoberto em 1897 por Joseph John Thomson
(1856-1940), figura 9, no Laboratório Cavendish
da Universidade de Cambridge, utilizando os
fl A palavra
famosos tubos de raios catódicos do físico inglês bnquitenpia provém do
William Crookes (1832-1919), os mesmos prefixo grego hrachys,
que significa breve,
utilizados por Rõntgen na descoberta dos raios X em curto, perto. e Ibi
1895. sugerida primeiramente
por Forseil, em 1931,
A essa altura, os raios x já estavam sendo amplamente utílizados na Medicina, para irradiação a curta
não só como ferramenta diagnóstica, mas também para o tratamento do câncer, devido às distância.
propriedades de interação da radiação ionizante com a matéria, Da mesma forma que os
raios X, o rádio também teve aplicação clínica quase que imediata no tratamento do
câncer. Em 1900, Pierre Curie cedeu uma pequena quantidade de rádio para o Dr. Henri
Alexandre Danlos (1844-1912), do Hospital Saint-Louis, em Paris, para a fabricação de
aplicadores superficiais para o tratamento de lesões cutâneas. Nascia assim a
braquiterapia de contato.
Essas pesquisas com a radioatividade espontânea
renderam ao casal Curie, juntamente com Henri Becquerel, o
Prémio Nobel de Física de 1903.
Ainda em 1903, o inventor escocês Alexander Graham
BelI (1847-1922), figura 10, escreveu:
Não há razão pela qual uma pequena quantidade
de rádio, selada num tubo de vidro fino, não
passa ser inserida bem no interior de um tumor
Figura lO Graham Reli
-

maligno agindo, assim, diretamente sobre a


lesão. Não valeria a pena se fazer experimentas ao longo dessa linha de
pensamento?
è
Porém, o inicio da braquiterapia foi lento

- devido à falta de fontes radioativas adequadas.
Inicialmente, utilizando-se do Ra-226 (figura 11), a
ttaw.,ij.
• 1.?. a braquiterapia foi se desenvolvendo até que os
primeiros radionuclídeos artificiais começaram a ser

produzidos comercialmente e novos radioelementos


1
Fgura Caarhc com 2.7 g de Ru-216,
...
passaram a ser utilizados.
to em 15 de outubro de 1912
BnquiÉerapa de Alta Taxa de Dose para Fisccos
20
Fu a damen Ice, Caiibraç ia e Central, de Qualidade

1.2 • Os Radionvclídeos e a Braquiterapia

O antigo sonho dos alquimistas, a transmutação dos


elementos, começou a se tornar realidade em 1934, mesmo ano
em que Marie Curie faleceu de leucemia devido aos longos anos
lea±btxae. de exposição à radiação. Iréne Joliot
Curie (1897-1956), figura 12, filha do
casal Marie e Pierre Curie, juntamente
com seu marido Jean Frédéric ioliot
(1900-1958), figura 13, conseguiu
produzir artificialmente o primeiro
elemento radioativo. Ao bombardear uma folha de alumínio
com partículas alfa, eles obtiveram o fósforo radioativo. Tal
eao
descoberta rendeu ao casal o Premio Nobel de Quimica de 1935,
em reconhecimento à sua síntese dos novos elementos radioativos. Esse fato veio a se
tornar o único caso na história em que quatro membros de uma mesma família ganharam
o Prêmio Nobel.
Quatro anos depois, em 1938, John 1 Livingood (1903-1986) e Glenn ‘E.
Seaborg (1912-1999) descobriram o isótopo radioativo do cobalto, o Co-60, que passou
a ser utilizado em braquiterapia na forma de placas para tratamentos de melanomas e
Ciclotroné um
outras neoplasias nos olhos.
acelerador circular de
partículas que produz No ano seguinte, em 1939, Ernest Orlando
rI ti loisótopos Ut 1 izados

cm medicina tanto para


Lawrence (1901-1958), figura 14, recebeu o Prêmio
diagnóstico qu an lo para Nobel de Física pela invenção e desenvolvimento, desde
tratamento de cãncei 1936, do cíclotron, equipamento destinado à produção
dos radioelementos artificiais. Nesse mesmo ano,
Frédéric Joliot instalou o primeiro cíclotron europeu em
Paris e, juntamente com Lawrence, demonstrou a
importância do iodo radioativo (1-131)1 descoberto por
Livingood e Seaborg em 1938, para a exploração da
tawrence em rente ao
glândula tireóide.
Qld ?ad tab
A partir da década de 1940, novos
Filhos: jargão radionuclídeos passaram a ser utilizados em braquiterapia, tais como: Cs-137, 1-125,
(ia lïsica nuclear Pd-103, Au-1 98, Ru-106, Cf-252, Ta-1 82, Sr-90 e lr-1 92 e, paulatinamente, as fontes
coniutncnte usado pari
de Ra-226 foram sendo substituídas, principalmente, pelas de Cs-137. A grande
designar os produtos do
decai men to radioativo. vantagem do Ra-226 é possuir uma meia-vida longa de 1.622 anos, porém, possui
algumas desvantagens, como produção de filhos alfa emissores gasosos solúveis em
água que são altamente tóxicos (entre eles o gás radônio) e que podem escapar devido
• A Radicativdae earaqu:tera a: uaFbordagen Ftãrka
2
A Descoberta da Radioaliwdade e a 8raquiterapa

a danos mecânicos no encapsulamento, além da dificuldade de blindagem desses


radioisótopos que emitem radiação gama de alta energia.
No quadro 1, são mostrados os principais radionuclídeos utilizados em
braquiterapia, suas principais características físicas e utUização clínica atual.

Quadro 1 -Quadro com as características dos principais radionuclideos utili,ados em


braquilerapia

Vocé sabia

que a descoberta dos


raios X por Rãntgen
ocorreu quase dois meses
depois da primeira sessão
paga de cinema ter
acontecido em uma sala
nos fundos do Grand
Café, no Boulevard des
Neste capítulo, você conheceu a história da radioatividade e de sua utilização Capucines, em Paris, no
clínica nos tratamentos de braquiterapia. Também conheceu as características físicas dos dia 28 de dezembro de
1895? Curiosamente,
radionuclídeos utilizados em braquiterapia. Nos próximos capítulos, será mostrado como
vários personagens de
esses radionuclídeos são utilizados em braquiterapia e quais as tipos de tratamento histórias em quadrinhos
indicados para essa modalidade de radioterapia. foram criados baseados
na radioatividade, como o
caso do Incrível Hulk, do
Super-Homem e do
Homem-Aranha que
foram colocados nas telas
de cinema pela indústria
cinematográlica e
serviram para aguçar a
curiosidade dosjovens
para a ciência.
BraquLterapia de Afta Taxa de Dose pan Físicos
22
Fundamentas, Cal i bração e Contraiu de Qual,dsde

ATIVIDADE

No quadro 1, alguns radionuclideos osados em hnitjoiierapia não estão listados.


Pesquise em outras fontes pelo menos dois nidionodideos que não estejam lisedos, iando
si ias cara terisi icas cc cii li win e o iju adro 1 e eta; ic ao seo tu o o. E sia ai v dade serã considerada
na aval i ação fio ai de se o aprovei tameta lo no eu rs o.

Referências
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School 1994. Madison (U5): American Association of Physicists in Medicine; 1995.
Dainith J, Mitchell 5, Tootili E, Gjertsen D. Chambers biographical encyclopedia of
scientists. Aylesbury (BU): Market House Books; 1983.
Gonçalves A, coordenador, 1000 que fizeram 100 anos de cinema. São Paulo: Editora
Três; 1995.
Porto C. Radioatividade e suas aplicações: teoria e exercícios - resolução comentada.
Brasília (DF): Editora Universidade de Brasília; 2001.
Strathern P Curie e a radioatividade em 90 minutos. Rio de janeiro: Jorge Zahar; 2000.

Sugestões para pesquisa

http://nobelprize.org/physics/laureates/ - página de internet que apresenta os


ganhadores do Prêmio Nobel,
http://pt.wikipedia.org/ página de internet onde são encontradas as definições de
-

braquiterapia, pechblenda, cíclotron e de outros termos citados neste texto.


ARadioatividadeea raquiterapia: urnaAbordagern Histórica
• 23
Histórico da Ora quiterapia e suas Modalidades

Capítulo 2
Histórico da Braquiterapia e suas Modalidades
Pedro Pau/o Pereira ir.

Rj Ft —

Nt

IÁDflO
EQUIPAMENTO DE
ACESSÓRIOS
PARA A
RADIUMTERAPIA MODERNA

Figura 15 Catálogo de equipaifletltos e acessórios


-

para braqetiterapia com Ra-226 de 1947


• A Radioatividade ea Braquitrapia una Abordagem Rstórca
25
Histórico da ara quiterapia e suas Modalidades

CAPÍTULO 2 HISTÓRICO DA BRAQUITERAPIA E SUAS


-

MODALIDADES

Este capítulo trata da revolução que o desenvolvimento da


tecnologia causou na braquiterapia. Impulsionado inicialmente pela
necessidade de solucionar o problema da proteção radiológica, esse
desenvolvimento acabou por redimensionar e viabiHzar essa
modalidade de tratamento, segundo novos procedimentos de
localização das fontes e novos conceitos de dose e fracionamento
de tratamento.

Objetivos:
• Traçar um panorama histórico da braquiterapia através do tempo.
• Identificar como os avanços tecnológicos trouxeram um novo impulso para a
proteção radiológica, para a dosimetria clínica e, principalmente, para a qualidade
global dos tratamentos.

2.1 Dificuldades Iniciais da Técnica de Braquiterapia


Desde 1901, quando o Dr, Henri-Alexandre Danlos (1844-1912) relatou o primeiro
uso clínico do rádio, a braquiterapia vem desempenhando um papel importante e
insubstituível nos tratamentos de câncer com a utilização de radiações ionizantes. Contudo,
alguns aspectos operacionais limitavam, até recentemente, um maior avanço das técnicas
como um todo:
• A proteção radiológica de todo o pessoal envolvido nos procedimentos.
• A limitação para o cálculo rotineiro de distribuições de dose que refletissem cada
tratamento individualmente.
Braquiterapia de Alta Taxa de Dose para Físicco
26
Fundamentos. Calibração e Controle de Qualidade

O. cup a L-snm.
• A impossibilidade de otimização dos r

tratamentos devido à geometria dos


aplicadores (figura 16). É -

• A necessidade de hospitalização
decorrente das taxas de dose até
o•x!
então possíveis de serem obtidas e
que exigiam tratamentos com
duração t(pica entre 2 dias até 1
semana.
De inicio, serão abordadas as
questões sobre a proteção radioiágica e os
avanços tecnológicos que colaboraram para
o seu aperfeiçoamento.

manual do sstema Manchcsten, de 960 tandems de


-

borracha, ovóides. espaçador e ferramer.ta necessários


para as inserçoes

2.2 A Proteção Radiológica


-

como Desafio
Í
A proteção radiológica de toda a
equipe de braquiterapia sempre foi um motivo
de preocupação e fonte de problemas no dia-
a-dia. Isso incluia, principalmente:
A exposição dos técnicos, que
manipulavam e preparavam o material
Fgara 7 Técnico do INCA em preparo de
matenial radioativo para braquiterapia radioativo (figura 17), uma vez que os
dispositivos de proteção radiológica
existentes naquela época eram precários
(figuras 18, 19 e 20).

- -J
-4

I
o—

C:f’eora aroe de :u::s a agJ-os. a—iepa-o er aa rar-ua;ão e :epao :o ae a’


1960)
radioativo e marmtas” de chumbo para transporte do matera[ radioativo do cofre atd a saa de inserçães (catálogo de
• A Radicatimaade ea 8raqa:teraD a:wla Acordagem Histórica
• 27
Hislórko da Braquiterapia e suas Modahdades

• A exposição de enfermeiras, auxiliares e técnicos durante o transporte do material


radioativo, da saia de preparo (figura 21) até os locais onde os procedimentos
eram efetuados
do

BUCHLER

c gva 12 P-o:ed.rrto de
-

rsr;ão de na:er:a rad oaivo na


— Figura 11 Instafaçâes de uma sala de preparo de fortes seladas para paciente
braquiterapia conforme comercializada em 19GB pela empresa BUCHLER: bancada,
anteparo de manipulação em L’, cofres de chumbo e carrinho transportador

• A exposição de toda a equipe técnica (figura 22) durante o procedimento e,


principalmente, do radioterapeuta, que desempenhava sua função pressïonado pelo
fator tempo e consciente dos riscos presentes, afetava profundamente seu
desempenho profissional.
Fia Cadaj, do hbsicrnu
Embora houvesse um biombo de chumbo (figura 23)
para a proteção da equipe de enfermagem e de outros
indivíduos que necessitassem se aproximar do paciente com
o material radioativo já inserido, a presença, o tráfego e o
controle de material radioativo sempre eram vistos com
desconfiança dentro do hospital, causando inquietação,
insegurança e insatisfação generalizadas.
Parte dos problemas de proteção radiológica foi
1 °amenizada° com o advento dos aplicadores, que eram
Figura 23 Biombo de chumbo de
proteção de leito sdihzado nas
inseridos no paciente sem nenhum material radioativo. Só
enfermarias de braquiterapra

depois de bem localizados é que as fontes de radiação eram neles inseridas. Eram os
aplicadores por carga postergada (manual n ‘ri &

afterloading), figura 24. EJl1HlfJ i


O uso dos aplicadores por carga
postergada causou uma diminuição significativa
nos níveis de exposição, principalmente para o
radioterapeuta e para toda a equipe que
participava do procedimento clínico. Ademais, os - M:Kadores ce b -aqJ trap a 2:—eco ág na
por cargas postergacas do sistema FreacherSura, ampla
procedimentos podiam ser efetuados mais calma mente difundidos por todo o mundo tandems,
-

colpostatos e acessórios necessários para as inserções


Bnquitenpia de Moa Taxa de Dose para Físicos
Fundamentos, Cal i bração e Controle de Qual idade

izu, .t

e cuidadosamente, sem o estresse sempre presente no


método anterior.
Além disso, o uso desse tipo de aplicador permitia
a realização de filmes ortogonais de verificação (figura 25)
que possibilitavam a correção, quando necessária, do
posicionamento do aplicador nas pacientes, garantindo
assim a qualidade dos tratamentos.
Por sua vez, a possibilidade de localização da
posição de cada fonte permitia que as distribuições de F!?JR15•Radiografla localizadora
Co u..a:es ro,r rrgas :ou:e-gutus
dose fossem calculadas com maior precisão à medida
que as ferramentas computacionais iam se aperfeiçoando.

2,3 A Substituição do Ra•226 pelo CS-137


O radônio é um radionuclídeo na forma gasosa que está presente na série natural
de decaimento do Ra-226. Um dos grandes problemas associados ao uso do Ra-226 era o
da ruptura dos tubos, devido ao crescimento da pressão interna desse gás ou mesmo
pela fadiga do metal do encapsulamento que o continha.
A fuga de radônio não só comprometia a proteção radiológica nos locais de
arnazenamento, como também “quebrava” o equilíbrio secular de radioisótopos ‘pais” e
‘filhos’, acarretando a perda das características dosimétricas dessas fontes, que
deixavam de ministrar a dose na quantidade desejada.
Com o advento da produção artificial de radioisótopos, o Cs-137 mostrou ser o
elemento mais adequado para a substituição do já tão desgastado Ra-226. Sua energia, de
0,6 MeV, e sua meia-vida, de aproximadamente 30 anos, permitiram uma migração muito
Você sabia ... boa entre os sistemas dosimétricos existentes, através do conceito de “radioequivalência’.
Desse modo, uma fonte de Cs-1 37 era tratada como equivalente a uma certa quantidade de
que o Ra-226 fbi tão Ra-226, de maneira que as tabelas de cálculo aplicadas ao Ra-226 podiam ser utilizadas
importante na braquirerapia
que até mesmo a grandeza
com segurança para o Cs-1 37.
física ‘Atividade” foi
Como o Cs-137 era produzido na forma de um sal (normalmente o cloreto de
definida a partir desse
radiolsótopo: césio), não havia formação de nenhum produto de decaimento na forma gasosa dentro
1 mCi = atividade
dos tubos e das agulhas produzidos com esse radionuclídeo (figuras 26 e 27), como
correspondente a 1 mg de acontecia com o Ra-226.
rádio filtrado por 0,5 mm
de platina.
A Radioatividade ea&aqw(erapia: urna Abordagem Histórica —
Histórico da Braquiterapia e suas Modalidades

Fie Cár,

CDCSJbV..t.inlm.tnI.00.pSiiitt.dtibflcifl. COOSA ,,naminssini.nvapsukid


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ris.n..j.-w...
—— tÇ.1_l

F:gras 26 e 17 - _bz g;recc%ccs e agkas neriti::as de Cs- 137

2.4 Os Implantes Intersticiais


Os implantes intersticiais sempre foram uma modalidade de braquiterapia com
resultados clínicos e cosméticos de excelente qualidade, e a perícia do radioterapeuta na
utilização de agulhas e aplicadores (figuras 28 e 29) contribuiu para uma casuística de
resultados inigualáveis em diversos tipos de patologias ao longo da história da braquiterapia.
‘ei tq. • Srn

M.nA.d*d!.i CANADIAN RADIUM & URANIUM CORPORATIOH • HEW YORK 20, H. 1.

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‘— á —. á..— — —. —á. —
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tt.t:z. ‘°‘‘ir-
Figuras 26 e 2. Propagandas de produtos e serviçol para briquilerapia

Entretanto, mais uma vez o problema da


radioproteção se interpunha como uma barreira
que dificultava em demasia esses procedimentos.
Como as agulhas eram produzidas com
atividades de 1 a 3 mCi, um implante com seis
agulhas exigia tempos de tratamentos da ordem
de 3 a 5 dias. Nesse período, o paciente ficava em
Figura 30 Enfermaria de braquiterapia
enfermarias especiais as enfermarias de rádio
-

(figura 30)- cercado de biombos de chumbo que proporcionavam uma proteção radiológica
ainda precária. Além disso, os problemas de relacionamento e comportamento dos
funcionários do hospital, em relação à presença de radiação, eram constantes e insolúveis.

1
Braquiterapia de Alta Taxa de Dose para Físicos
30
Fundamento,, Catibroção e Controle de Qualidade

O caminho da braquiterapia intersticial passou, entretanto, por uma


implementação importante antes do advento da alta taxa com fonte única de lr-192.
Esse passo intermediário foi o da utilização de fios de r-192 (figuras 31 a 37).
Os fios de lr-192 permitiram a utilização de agulhas e aplicadores de diâmetro
reduzido, melhorando consideravelmente a qualidade dos implantes. Além disso, a energia
mais baixa do lr-192 aproximadamente 0,3 MeV reduzia a exposição dos membros da
- -

equipe e simplificava a utilização das barreiras de proteção.

lar,. rsrdiov nmrbn Era tardio5, do ladurro,

ri 500mmwirecojl
-—-1
taI4 LZL ICW.1030—ICW.1300
-
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A eserda. r;’ar.lea ‘-:ers:


191 re:c co
atara: a co sca Etrer Les ceae2 co
3rre (roce a 1
a o0e:ra da Foca ‘ao ra o E’at A c :0 [o cc
ir- 92 de ECDmm co compr. morno (1 974,78)

;zz Hz
nrI

3 31 Diagrama de um 1 rnplarite com li os


de Ir- 192 (esq ) e dispoo:tivo para o corto e preparo ,.- -
dos fios (dir)

0nn,a-
r

• ARadioatividadeea Eraquiterapia: urnaAbordagern Histórica


Histórico da Braquiterapia e suas Modalidades

y7
AO.. 50 . 30. ‘0. 5o e: AO CC. 30. lo. CO

Rtc -

o-

1 AGO - AR- 30. 40. lo


AO0 - AR . 30. 40. 00

Figuras 35 e 36 - Fias de Ir- 192 pré-configurados para implantes de cabeça e pescoço com seus respectivos
ad icadores
1.

ia

Dessa forma, os avanços


tecnológicos, visando à proteção
radiológica e à qualidade dos
tratamentos, foram gradativa
mente provocando a substituição
das fontes de radiação e dos
aplicadores usados nos trata
mentos por braquiterapia, assim
como a construção de novos
equipamentos, tais como os
utilizados atualmente para a
braquiterapia de alta taxa de dose
Fgu ro 37 Fios de Ir- 192 pré-cortados e aplicadores normalmente

(do inglês High Dose Rate HDR). -
utilizados em implantes intersuiciais manuais de cabeça e pescoço

Assim sendo, com o


passar do tempo, as fontes de Ra-226 foram sendo recolhidas na maior parte dos países e
a produção de tubos de Cs-1 37 e fios de lr-192 diminuiu consideravelmente.
Novos esquemas de dose e fracionamento precisaram ser avaliados, uma vez que
as novas técnicas, utilizando altas taxas de dose, modificavam consideravelmente a
radiobiologia em relação aos esquemas até então utilizados com baixas taxas de dose.
Apesar da limitação inerente ao comportamento radiobiológico das células
neoplásicas, a alta taxa de dose, em tratamento por braquiterapia, veio para ficar e a ela
se deve ao atual sucesso da braquiterapia, modalidade de tratamento que vem propiciando
Braquxrapia de Mta Taxa de Dose para Foiros
32
Fundamentxa. Ciii braçeo e Controle de O uil idade

excelentes resultados no panorama global dos tratamentos de câncer com radiação


ionizante.

2.5 • Os Implantes Permanentes com Sementes de I•125


Recentemente, uma excelente modalidade de terapia foi desenvolvida e logo
se estabeleceu como uma ferramenta de alta eficácia no tratamento dos tumores de
próstata os implantes permanentes com sementes de 1-125, guiados por ultra
-

sonografia (figuras 38 a 41).

4:

r
L:g.- Ç’- -

•‘•O4 tiW

ri 35 Semenle de 1-125 - atinidade lipica de 0.30 mC,

5 ur 35 Diagrama p:ctórcco de uni imp!ante de prástita com 1- i 25


• A Radioatividade ea 8raquiterapia: uniaAbordagern Histórica
Histórico da Braquiterapia e suas Modalidades

F gra1 43 e 4 - Seren:es ev es:,:as de vycal (esc.) e taograa ce tn- :Tp anse (di )

2,6 Os Equipamentos de Carga Postergada Automática


À medida que a tecnologia se desenvolvia, começaram a surgir as primeiras
tentativas de “automatizar’ a braquiterapia, de modo a permitir que todo o processo de
inserção e retirada das fontes radioativas fosse efetuado sem a intervenção direta de
operadores, evitando assim a exposição desses profissionais à radiação.
Tentativas pioneiras produziram os primeiros equipamentos comerciais que tentavam
satisfazer essa necessidade táo aguardada pelos profissionais da equipe (figuras 42 e 43).
Fm Cu’p CGR•M,v

F;gura 42 - O Curietron da CG R- M EV: tubos de Cs- 37 previamente configurados eram transferidos para os
aplicadores através de um ±sposafvo pneumálaco

F.gs’a O Áfser:soó;g da 3Ci—_ER una fote de mav;y,e.lno os: iatá-o


nos n :adore a Avriaço da freqõénia e da awi:de desse nov:ren:c :e,ni:a a cornaosiçãc da
dis:r buação de dose desea:a
Braqufterapia de Alta Taxa de Dose para Rsicos
ae 0:s. C a.braçio e Cosoro e cx Qua;cac e

Entretanto, de todas essas experiëncias, a que melhor resolveu o desafio de


produzir um equipamento automatizado para braquiterapia foi a da NUCLETRON. Essa
empresa desenvolveu dois equipamentos que vieram a revolucionar o panorama
da braquiterapia: o Selectron LDR (figura 44) e o Microselectron HDR (figura 45).
;n Co,cp t2
O S&ectron
LDR utilizava 48
esferas de Cs-137 de
2,5 mm de diâmetro
que eram transferidas
4
para os aplicadores
através de um
sistema pneumático
(figuras 46 a 48).
Figurou 4 e 45 - O Selectron LDR (esqj e o Microselectron HDR (dr.)

;J Cnp

e Es:Lru rteruo o Seecrc— LDR (eso e u:zgra’-u ue ‘o—teu (usas

Rau-oerafia se co’oostato leso e auto- radiogrttia cas fontes no ta’uem dr


A Radioatividade ea Braquiterapia: urna Abordagem Histórica
Histórico da Era quiterapia e suas Modalidades

O Microselectron HDR utilizava uma fonte única de lr-192 de 10 Ci que se


movimentava com passos discretos através de um cabo de aço acionado por um motor
(figura 49). A posição e o tempo de parada da fonte podiam ser especificados
rua:
individualmente para cada
posição, inaugurando assim a era -

da braquiterapia de alta taxa de


dose e, da possibilidade de 1 -

modificaçao da distribuiçao de •
-
C.,,. .uaflt..S., P.l 1 014241

dose, permitindo adequá-la às


necessidades e condições
individuais de planejamento para
cada paciente tratado.

40141 14 l 45_ilil - - - li 401,4 4240

El
Figura 49 Fonte falsa com as mesmas Figura 50 - Conjunto de aplacadores do Microselectron para inserções
dimensões da fonte de tr- t 92 ginecológicas
asia ca,p ir
Outra grande revolução introduzida por esse ‘1

equipamento foi a possibilidade de utilização de


aplicadores de diâmetro reduzidíssimo, viabilizando
o tratamento ambulatorial com procedimentos
clínicos pouco agressivos, principalmente em
braquiterapia ginecológica (figura 50).
Semelhantes avanços ocorreram na Figura 5 t Dosimetria ia viva para avalaaçao -

dosimetria clínica, pois a utilização desses sistemas da dose em árgáos críticos relevantes

viabilizava a dosimetria in vivo (figura 51) pela inserção de câmaras de ionização


intracavitárias (figura 52) para a avaliação da dose em órgãos de relevância, tais como o
reto e a bexiga, em tratamento de câncer ginecológico com braquiterapia.
bar bai PrW

Figura 52 - Câmaras intracavitárias modernas para avatiação de doses


Bra;jirenp:u-e A.:a Taxa de Dose pan Fisicas
36
Fundamentas, Calibração Controlo de Qualidade

2.7 Comentários Finais


Foi visto, neste capítulo, como a necessidade de melhoria da proteção radiológica
promoveu a criação e a utilização de novas tecnologias ao longo do tempo, levando ao
desenvolvimento de processos mais seguros e confiáveis nos tratamentos de
braquiterapia, tais como o pós-carregamento remoto e a alta taxa de dose. Essas novas
tecnologias permitiram também melhorar a qualidade, a eficácia e a abrangência dos
tratamentos, fazendo a braquiterapia ressurgir de um período de estagnação.
É também interessante notar que cedas soiuções
originaimente desenvolvidas
-

para resolver um determinado problema apresentam, a posteriori, um alcance bem


-

mais amplo, influindo em outros aspectos de grande importância, como no caso da


qualidade de localização das fontes de radiação, reprodutibilidade dos tratamentos e
fracionamento nos tratamentos de braquiterapia.
Foi assim que a braquiterapia se tornou, nos dias de hoje, essa modalidade de
tratamento de câncer tão amplamente difundida e eficaz.

ATIVIDADE
/
A iairtir dos avanyts tecoohigicos descritos neste capicolo, elabore liii texto curto, de
até tinas laudas, descrevendo coluoa teemologia foi aplicada, ao bmgo do tempo, a flivor da
proteção radiológica em relação los parâmetros Letilpo, distância e hliodageiii na
braqu terapia. Envie ao seu tu 1 o; po s esta a Li vid ad e será co ris ide ra da na avaliação li n ai (1 e
seu aproveitamenle) no corso.
A Radioatividade ea Braquiterapia: urna Abordagem Hiotórica
Histórico da Braquiterapia e suas Modalidades

Referências
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Meeting; 1984; Leersum (Netherlands): Nucletron lrading DV; 1985.
Mould RF, editor. Brachytherapy. Proceedings.Brachytherapy Working Conference. 5th
International Selectron Use?s Meeting. The Hague (Netherlands): Nucletron International;
1988.
Mould RF, Battermann ii, Martinez AA, Speiser DL, editors, Brachytherapy from radium to
optimization. Veenendaal (UT): Nucletron International; 1994.
Martinez AA, Orton CC, Mould RF, editors. Brachytherapy HDR and LDR. Columbia (MD):
Nucletron; 1990.
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Cade 55. Malignant disease and its treatment by radium. 2nd. Brístol: John Wright and
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1952;10:62,
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1967.
Paine CH. Modern after-loading methods for interstitial radiotherapy. Clin Radiol.
1972;23(3):263-72.
Paterson R, Parker HM. A dosage system for interstitial radium therapy. Br 3 Radiol.
1938;11:252-66.
Quimby EH. Dosage table for linear radium sources. Radiology. 1944;43:572.
Tod M, Meredith Wi. A dosage system for use in the treatment of cancer of the uterine
cervix. Br 3 Radiol. 1938;11:809.

Sugestões para pesquisa

www.cnen.govbr página de internet da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN)


-

onde são encontrados as normas brasileiras de proteção radiológica e requisitos para


licenciamento para serviços de radioterapia.
www.icrp.org página de internet da Comissão Internacional de Proteção Radiolágica
-

(CIPR) onde são encontrados publicações e informações na área de proteção radiológica.


r
Aspectos CJnicosdaBraquerØa

UNIDADE II

Aspectos Clínicos da Braquiterapia


Aspectos Cínicos da Braquiterapia
Fundamentos, Procedimentos Clínicos e Equipe Multiprofissional

Capítulo 3
Fundamentos, Procedimentos Clínicos e Equipe
Multiprofissional
Carlos ManoelMendonça de Araújo, Célia Maria Pais Viégas e Rachele
Craziotin

Figura 53 - Procedimento de inserção intracavitária em


braquiterapia ginecológica
Aspectos Clínicos da Braquiterapia
Fundamentos, Procedimentos Clínicos e Equipe Multiprofissional

CAPÍTULO 3 FUNDAMENTOS, PROCEDIMENTOS CLÍNICOS E


-

EQUIPE MULTIPROFISSIONAL

Neste capítulo, serão aprofundados o conhecimento sobre as


técnicas e tecnologias utilizadas em braquiterapia e as atribuições
de cada membro da equipe nesse tipo de tratamento.

Objetivo:
O objetivo é ilustrar procedimentos de braquiterapia, bem como suas indicações
e tipos, e as atribuições técnicas de cada profissional envolvido no tratamento,
fornecendo uma janela de instrução sobre o tema.

3.1 A Braquiterapia
Como foi visto nos capítulos anteriores, a braquiterapia é um tipo de radioterapia
cuja fonte de radiação ionizante é aplicada próxima ou bem próxima à superfície corporal
a ser tratada, ou ainda inserida no interior do processo tumoral maligno. Sua ação se
limita, portanto, à área adjacente ao volume a ser tratado, minimizando o efeito das doses
nas estruturas vizinhas.
Pode ser utilizada como terapia exclusiva ou em associação terapêutica,
dependendo do volume, tipo e localização do tumor. As associações terapêuticas mais
comuns são com radioterapia externa (como um acréscimo de dose local reforço), cirurgia,
-

quimioterapia ou hormonioterapia.

É importante saber que...

a braquiterapia não é indicada para tratamento exclusivo em tumores volumosos que requerem
urna irradiação em área moiro extensa, Nesses casos, a radioterapia externa apresenta melhores
resultados, devendo a braquiterapia ser usada como reforço de tratamento.

L
Bnqu:erapia de Mia Taxa de Dose pan Fkicos
Fundamentou, Calibraçán e Co arrote de Qualidad e

3,2 Etapas do Procedimento do Tratamento por


Braquiterapia
• Inserção dos aplicadores.
• Simulação e planejamento do tratamento.
• Aplicação da dose prescrita.

3,2.1 Inserção dos aphcadores

Cada área a ser tratada exige um artefato especial denominado aplicador, -

usado para o posicionamento da fonte de radiação durante o tratamento.


Cada aplícador tem uma conformação especial para cada sítio de interesse,
envolvendo as áreas criticas e com recursos para afastamento ou blindagem para a
proteção de estruturas sadias. Assim, acontece nas extremidades dos colpostatos
ginecológicos do tipo Fletcher(figura 54), em que há uma blindagem adicional, anterior
e posterior ao tubo onde a fonte se localiza, para reduzir as doses em reto e bexiga. São
algumas formas de aplicadores: cateteres, agulhas, sondas etc.
Os aplicadores sâo nomeados de acordo com o local de sua aplicação, como,
por exemplo: For,. CrjI,1, Nurkrr,,

• Sonda intra-uterina (tandem) figura 54, -

• Colpostato figura 54.


-

• Cilindro vaginal figura 55. -

• AneI-fíguras6.
Apl adar tipa
• Aplicador de nasofaringe figura 57.-

Fleacher (calpostatan e tandem)

inibic5, Norlorru,
C.ii,1, N,*ir,, For,. C,dI,1, NucCuo,

E gu ra 55 C il,ndro vagin aI ira Anel, tardem e


retratar retal

nata Ia r in g e
Aspectos Clínicas da Braquiterapia
.45
Fundamentos, Procedimentos Clínicos e Equipe Multiprofissional

Com o uso de aplicadores, a área tumoral recebe doses significantemente maiores


do que as estruturas circunjacentes, o que traduzirá em um maior controle tumoral e
minimizará as doses nas estruturas anatômicas vizinhas sadias.
Dependendo da acessibilidade da área a ser tratada, pode-se dispensar o uso de
anestesia (por exemplo, em moldagem de tumores superficiais de pele). Em outras
situações, ouso da anestesia é inevitável, poiso posicionamento dos aplicadores torna o
procedimento desconfortável ou doloroso, tais como na luz de brônquios e esôfago, no
canal endocervical, ou através do posicionamento de agulhas em implantes.

3.2,2 - Simulação e planejamento do tratamento

Uma vez procedida a inserção dos aplicadores, é necessário realizar radiografias


que proporcionarão a imagem que servirá tanto para a verificação do posicionamento
adequado desses aplicadores quanto para a documentação do tratamento.
A radiografia também tem papel importante para auxiliar os cálculos
computadorizados que se sucederão. Com as radiografias prontas, os pontos anatômicos
de interesse para o tratamento são digitalizados e é possível saber se as estruturas sadias
próximas à área de tratamento estarão recebendo doses compatíveis com sua tolerância
tecidual. Caso contrário, é possível corrigir o posicionamento dos aplicadores,
reposicionando os mesmos no local apropriado, além de otimizar a dose administrada
através de cálculos computadorizados. Essas radiografias e cálculos são chamados de
simulação e planejamento computadorizados.

3.2.3 . Aplicação da dose prescrita

Após serem realizados a inserção dos aplicadores, a verificação do posicionamento


dos aplicadores, a simulação e o planejamento, a fonte é inserida e a dose prescrita pelo
radioterapeuta é administrada ao paciente.
O procedimento de aplicação depende diretamente do tipo de braquiterapia
empregado.

Lembre-se que...

durante todo o procedimento, e não só durante a administração da dose de radiação ao


paciente, é necessário que a equipe multiproíissional observe rigorosamente as normas de
radioproteção.
E-aq::eapadAta Taxa de Dase para FisV.es
Fundamentos Calhbruçha e (enrole de Quatidad e

3.3 Tipos de Braquiterapia


Pode-se classificar a braquiterapia didaticamente em função:
• Do local de posicionamento das fontes radioativas,
• Da taxa de dose.
• Do tipo de carregamento empregado.
• Do tempo de permanência das fontes radioativas no paciente.

3.3.1 - Local de posicionamento das fontes radioativas

a) Intracavitária: a fonte é
inserida no interior de uma cavidade não
tubular do corpo. Exemplos: tratamentos
ginecológicos câncer do colo do útero
-

(figura 58), endométrio e vagina e de -

nasofaringe (cavum, figura 59).


gura 3 Esquema represeneaei- E gura
no da um tratamento intracavitánio Radiogratia de
ginecolág:co com colpostatos e San- simulação de b) lntersticial: a fonte é
tratamento de
dem insenidos inserida no interstício tumoral, por meio
paciente com
neoplasia de cavum
de cateteres ou agulhas próprias.
cai, 050 Nebr rir, Oh,

Exemplos: tratamentos realizados em


tumores de mama (figura 60), sarcomas
de membros, língua, próstata etc.
c) Endoluminal: a fonte de
tratamento se encontra na luz de
gu ra O À esquerda. esquema representativo dc um determinado órgão ou estrutura tubular.
tranamento ‘nterstccial em mama. A dire;ta, agulhas de trata
menta inseridas em uma paciente. com neaplas:a mai;gr.a de Exemplos: tratamentos de câncer de
mama, prestes a saldar tratamento
brônquios (figura 61), esôfago, ductos
biliares etc. Quando a luz de um árgão é um vaso sangüíneo, o nome especial recebido
é braquiterapia endoarterial, como a aplicada Ip uhrar cniev.,r:: íi:r

L 1
em coronárias cardíacas, pós-procedimento de
dilatação intracoronária.
d) Superficial (ou braquiterapia de
contato ou moldagem): a fonte de tratamento se
encontra justaposta, em contato com a pele a ser
tratada. Utilizam-se moldes ou placas, onde os A esquerda: esquema representativo
de um tratamento endaluminal em brônquios /
cateteres de tratamento sâo inseridos. Exemplo: pulmão. A diresta: s:mulação de tratamento de um
paciente com neoplasia brànqu:os! pulmão.
tratamento de tumores de pele (figura 62). pra stes a i Curar tratamu ri o
Aspectos C!ínicosdauraquiterapia
Fundamentos, Procedimentos Clínicos e Equipe Multiprofissional

Esses moldes podem ser de confecção artesanal,


usando cera, ou industrial do tipo templates plásticos,
indicados para tratamento de tumores de pele, ou plastrão
torácico.

3.3.2 Taxa de dose

a) Baixa taxa de dose (Iow dose rate LDR): permite


-

tratamentos com taxas de dose abaixo de 200 cay/h. Em geral, são


Figura 62 Morde em cera para
tratamento de tumor de pele com realizados em uma única aplicação com liberação da dose ao
braquiterapia
longo de horas ou dias, Requer internação e isolamento do
paciente em quarto próprio, mantendo contato apenas com os profissionais do serviço de
radioterapia, demandando maiores cuidados em relação à proteção radiológica.
b) Média taxa de dose (medium dose rate MDR): são todos os tratamentos
-

realizados com dose na faixa compreendida entre 200 e 1200 cGy/h. Não existem aparelhos
que realizem este tipo de tratamento no Brasil.
c) Alta taxa de dose (high dose rate HOR): a taxa de dose empregada é
-

superior a 1200 cGy/h. O elemento radioativo possui uma alta atividade e, portanto,
libera uma alta dose em um curto espaço de tempo. Com isso, as aplicações são rápidas e
o tempo total de tratamento é muito menor (minutos) do que o da braquiterapia
convencional de baixa taxa de dose. Para haver a mesma equivalência biológica da dose
historicamente prescrita com baixa taxa de dose, cálculos radiobiológicos foram realizados
e, geralmente, o tratamento com HDR é fracionado, O mesmo pode ser realizado de forma
ambulatorial, evitando assim a internação e o isolamento prolongado do paciente, bem
como problemas de proteção radiológica. Além disso, na HDR, é possível corrigir as doses
de tratamento, caso as estruturas sadias próximas ao tumor estejam recebendo doses
elevadas, para além dos limites toleráveis, a chamada otimização por cálculos
computadorizados. Tal ação é impossível de ser realizada no tratamento com braquiterapia
de baixa taxa de dose.

3.3.3 - Tipo de carregamento empregado

a) Pré-carga manual: o material radioativo é colocado manualmente no aplicador


que é posteriormente inserido no tecido alvo. São exemplos deste tratamento os antigos
aplicadores ginecológicos com fonte ativa nos próprios ováides e na sonda intra-uterina.
b) Carregamento postergado (afterloading) manual: os cateteres ou
aplicadores são colocados no paciente e, então, o material radioativo é inserido manualmente
nesses aplicadores. Exemplos: braquiterapia intracavitária com Ra-226 e com Cs-137 e
braquiterapia intersticial em próstata com 1-1 25, ambas de baixa taxa de dose.
Braquiserapia de Alta Taxa de Dose para Fisicos
48
Fundamentas, Calibraçio e Contrate de Quatidade

c) Carregamento postergado remotamente controlado (remote


after/oading): os cateteres ou aplicadores são colocados no paciente e, então, o material
radioativo é inserido mecanicamente nesses aplicadores, por meio de controle remoto.
‘n
Todos os equipamentos de HDR são deste
tipo (figuras 63 e 64).

3,3,4 Tempo de perma


-

nência das fontes radioati•


vas no paciente

a) Permanente: a fonte é v

implantada no paciente e nele decai. A


e 4 Aparelhos de braquiterapia de alta taxa
braquiterapia empregada é a de baixa de dose, remotamente controlados: Microseiectron®,
Gammamed®
taxa de dose na forma intersticial.
F,e C,i, Y,1ns
Normalmente, utilizam-se isótopos de meia-vida
curta: -125, Pd-103, Au-198. Exemplo: implante
permanente de sementes de 1-125, utilizado no
tratamento de câncer de próstata (figura 65).
b) Temporária: é aquele em que o
material radioativo é removido após o tratamento.
Pode empregar alta, média ou baixa taxa de dose.
6 Raviografia de simutação de
tratamento de braquiterapia de ba:xa taa de
A seguir, apresentaremos alguns exemplos dose em paciente com câncer de próstata,
evidenciando que as sementes radioativas de
da aplicação da braquiterapia de alta taxa de dose. 1.125 ficam permanentemerte inseridas no
paciente tratado por este mdtodo

3.4 Aplicações da Braquiterapia Ginecológica

A braquiterapia ginecológica ainda é o tipo de tratamento mais freqüente em


países em desenvolvimento, a exemplo do Brasil, devido à grande incidência do câncer
do colo do útero. Nesse tipo de tratamento, a fonte radioativa é inserida na cavidade
uterina ou no fundo vaginal (braquiterapia intracavitária) ou ainda em orifícios produzidos
pela inserção de agulhas hipodérmicas como, por exemplo, na irradiação dos paramétrios
(braquiterapia intersticial). Ambos os procedimentos são dolorosos e a paciente necessita
ser sedada para o controle da dor.
Esse tratamento permite que uma elevada dose de radiação seja administrada
ao volume tumoral, a fim de obter-se o maior controle local, sem que haja sobredosagem
nas estruturas vizinhas, além dos limites de tolerância de dose de cada tecido.
Aspectos Clínicas da Braquiterapia
Fundamentos, Procedimentos Clínicos e Equipe Multiprofissional

Torna-se possível administrar estas elevadas doses porque tanto o útero quanto a
vagina são relativamente resistentes à radiação.
Como a dose decai, segundo a Lei do Inverso do Quadrado da Distância, os órgãos
adjacentes, menos tolerantes à radiação, ficam mais protegidos, após o devido afastamento
com o tamponamento vaginal ou uso de retratores. Com isso, ocorre uma rápida queda da
dose no interior do tecido, restringindo a dose em tecidos contíguos sadios.

3.4.1 - Braquiterapia ginecológica intracavitária

Em geral, é um tratamento ambulatorial, realizado em sala própria ou em centro


cirúrgico, com todos os cuidados de um procedimento operatório onde a paciente é sedada.
O tandem é inserido na paciente e a ele são acoplados os colpostatos ou o anel de
tratamento.
Para o afastamento do reto ou da bexiga, é inserido um retrator retal ou é feito um
tamponamento com gaze radiopaca, respectivamente.
Após verificação radiográfica do posicionamento correto dos aplicadores, faz-se a
fixação externa do sistema tandem + colpostatos ou anel + retrator ou tampão vaginal.
Sistemas distintos podem ser utilizados para tratamentos intracavitários: tandem
e colpostatos (figura 54), tandem e anel (figura 56), tandem e cilindro ou cilindro vaginal
(figura 55) ou, ainda, apenas colpostatos variando a indicação do sistema de acordo com
a extensão local da doença e da situação cirúrgica prévia, bem como da disponibilidade
hospitalar dos aplicadores ofertados.

[ É importante saber que...

o documento ICRU Report n 38, Dose and [blu;ne SpeftraIton for Reporling hitracavitan
Thnnpv iu Gyuecrdogç, da Comissão inLernaciunal de Unidades e i\Iedidas de Radiação, apresenta
as recomendações que devem ser seguidas em procedimentos de braquflerapia ginecológica
intracavitãria.

3.4.2 - Braquiterapia ginecológica inter5ticial

Nessa modalidade, a paciente necessita ser internada e o procedimento só deverá


ser realizado com auxílio de ultra-sonografia transretal própria para braquiterapia.
As agulhas ou cateteres são, em geral, posicionados com espaçamento dei a 2cm
5ra:jitera:a de A :a Taxa de Dose oa-a Fis aos
50
Fundamento,, Co -ação e Cor,, ote de O_a dade

entre si, guiadas por um template perineal (figura 66)


cobrindo a área de interesse, com uma margem de
segurança de 1 a 2 cm.
Deve ser realizada uma simulação do tratamento,
usando fontes falsas. O posicionamento correto dessas
fontes é verificado através de radiografias, e o tratamento
° aa Sé E,oemt Lstrat so co
só deve ser iniciado quando os aplicadores estiverem -

Do ‘e ez Dor es
respvcnivao agohas e a n’saro vagina’
corretamente posicionados.
Foa.C,”aC,x
Em ambos os casos ginecológicos, intersticial
ou intracavitário, o físico-médico deve verificar se
todas as fontes falsas, necessárias ao cálculo, e todas
as estruturas pélvicas de interesse são visualizáveis
nas radiografias.
Para o planejamento, é mandatória a
identificação, nessas radiografias, dos aplicadores, das

F,ara 67 Radogra6as anterior (esq.) e


.
4 fontes falsas, dos clips, do balonete do cateter vesical,
do promontório sacral, do osso p u bian o e do
lateral (dir de s:rn ação de braquiterapra
,r,trarav.tár,a de alta taxa de dose, com
carr uxarnento nosteroado com as fontes
tamponamento vaginal ou retrator retal (figura 67).

3.5 Algumas Aplicações da Braquiterapia em Outros Sítios


A braquiterapia de alta taxa de dose pode ser também utilizada no tratamento


de outros tipos de câncer e com diferentes finalidades, tais como no tratamento exclusivo
curativo em tumores iniciais, ou como parte do reforço de dose para complementação
do tratamento radical iniciado com radioterapia externa, indicado para reirradiações de
recidivas tumorais ou ainda com intenção paliativa. Alguns exemplos são os tumores
torácicos, como esôfago e brônquios. Neles, a inserção do cateter é guiada por endoscopia
digestiva ou fibrobroncoscopia, localizando o cateter em contato com o tumor. A paciente
é posicionada sobre caixa radiográfica, verifica-se a projeção dos braços para não
prejudicar a visualização das fontes falsas e realizam-se as radiografias de incidências
ântero-posterior e lateral. Seguem-se, então, os procedimentos de planejamento,
liberação das curvas de isodose e tratamento.
A seguir, serão apresentadas as atribuições técnico-procedimentais da equipe
multiprofissional que atua no tratamento por braquiterapia de pacientes com câncer
Aspectos clínicos da Braqwterapia
Fundamentos, Procedimentos Clínicos e Equipe Multiprofissisna?

3,6 . Equipe Multiprofissional


Os avanços tecnológicos vistos até aqui são muito importantes para a segurança
e eficácia dos tratamentos que usam fontes radioativas. Eles permitiram, por exemplo, o
desenvolvimento da braquiterapia tridimensional ou conformacional, para a qual são
necessários aplicadores compatíveis com tomografia computadorizada ou ressonância
magnética (TC/RM). As imagens obtidas por esses equipamentos devem ser enviadas a
um sistema de planejamento conectado em rede com os mesmos (figura 68).
Tais avanços tecnológicos levaram à necessidade de uma equipe cada vez mais
especializada, face à complexidade das ferramentas empregadas no processo de tratamento.

5-Aseç a5 c’jas zê sozote em


:
ce ‘zêa’, oa:.das r; s Ieta ce pIa,ere-lo 3) ara a :rata
rrrto cc, zerce, e co:Dosta::E. Em setc a,:,- —ata, cceç—o ze a a te e etc_rda. co-te tra—se-sa cor-e
carona. cc-:e !org.z.z:nal e no og-a9a -ezc,s:r_ca d g ia ,en:e can a D&a’ rea’eser.20e t9 ens,oratTrte

Os tratamentos por braquiterapia de alta taxa de dose são realizados por uma
equipe multiprofissional formada por radioterapeutas, físicos-médicos, enfermeiros e
técnicos em radioterapia, cujas principais atribuições serão vistas a seguir.
Braqicera.a de Ata Taxa de Dose para Fisccs
52
Fundamenc:s. Ca açáo e Cor.to!c de _aade

3.6.1 . O médico radioterapeuta

São atribuições do médico radioterapeuta:


• Realizar o exame clínico,
* Avaliar a indicação de braquiterapia, as condições clínicas da paciente e a
região anatômica a ser tratada.
• Orientar e esclarecer a paciente/acompanhante sobre o tratamento proposto.
Avaliar a necessidade de sedação, em caso de procedimentos dolorosos, e
providenciar os exames adequados ao pré-operatório.
• Verificar os resultados dos exames, fazer eventuais correções de derivados
hematológicos ou eletrólitos, ou ainda de orientações de medicações.
e Disponibilizá-los ao anestesista,
• Acompanhar o procedimento de sedação, quando necessário,
• Realizar a assepsia da área a ser tratada e sua vizinhança.
• Inserir adequadamente os aplicadores indicados para o caso.
• Realizar o tamponamento apropriado ou inserir o retrator.
• Fixar externamente o sistema.
• Detalhar para o físico-médico a proposta de tratamento,
• Selecionar e inserir os aplicadores, cateteres e sondas, de acordo com cada
caso.
• Avaliar a posïção dos aplicadores através do filme radiográfico.
Informar a dose prescrita e a extensão das posições de parada da fonte que
deve ser programada.
o Acompanhar todo o tratamento para pronta intervenção, em situações de
emergência médica (parada respiratárïa, claustrofobia, por exemplo) ou de
radioproteção (exposição inadequada da fonte).
• Retirar os aplicadores após o procedimento.
• Liberar a paciente com as devidas intruções para acompanhamento ambulatorial
(prescrições médicas, dilatação vaginal, em caso de procedimentos
ginecológicos).
Aspectos Cínicos da Braquiterapia
Fundamentos, Procedimentos Clínicos e Equipe Multiprofissional

3.6.2 O físico•médico

São atribuiçóes do físico médico:


a) Radioproteção
Supervisionar e garantir o cumprimento das normas vigentes de radioproteçáo,
desde a adequação da blindagem da sala de tratamento até a execução de todas
as medidas para assegurar a proteção da equipe e dos pacientes.
• Observar, durante os procedimentos, quaisquer eventos que possam interferir na
realização do tratamento tal como planejado, bem como na segurança dos pacientes
e da equipe.
b) Dosimetria
• Fazer dosimetrias periódicas para verificação da variação da taxa de dose da
fonte de radiação.
c) Controle de qualidade
• Realizar os testes diários de controle de qualidade, antes da liberação do
equipamento para os tratamentos.
• Verificar periodicamente a integridade física dos aplicadores.
• Verificar periodicamente a calibração do conjunto dosimétrico,
• Identificar os aplicadores com etiquetas numeradas (em caso de braquiterapia
intersticial ou moldes).
• Inserir as fontes falsas no interior dos aplicadores correspondentes, antes da
realização dos filmes radiográficos.
Avaliar e identificar, através do filme radiográfico, a posição das fontes falsas,

dos órgãos de interesse e do volume de tratamento.

[ • Conectar e desconectar, nos devidos tempos, os aplicadores ao equipamento de


braquiterapia de alta taxa de dose.

F • Confirmar o recolhimento da fonte de tratamento ao cofre, no final do tratamento.


• Liberar o término de tratamento para retirada dos aplicadores.
d) Planejamento do tratamento
Executar o planejamento do tratamento no sistema computacional. utilizando as

ferramentas de otimização de doses desse sistema, visando a alcançar os objetivos
da proposta de tratamento detalhada pelo médico radioterapeuta.

1
Bruc’jaeraoia de Moa Taxa de Dcse para Fiucos
54
Fundamentos, Cah btlÇÃo e Contrate de Ou at4ade

• Verificar com o médico os possíveis pontos acessórios de cálculo para prescrição


ou restrição de dose.
• Informar, ao médico radioterapeuta, a cada aplicação, os percentuais de dose
nos árgãos de interesse e o tempo de duração do tratamento.
• Documentar todas as doses solicitadas e ministradas.

36.3 O enfermeiro

São atribuições do enfermeiro:


a) Consulta de enfermagem
o Identificar a paciente.
• Realizar o exame físico.
o Orientar sobre o procedimento (horário, tempo de duração, necessidade de
jejum. realização de sondagem vesical para aplicação do contraste, número de
inserções, sedação, raios X, saia com circuito interno de TV, posicionamento na
mesa, possíveis intercorrências dor, sangramento, cistite, náuseas ou reações
-

de peleS, procedimento ginecológico, tricotomia pubiana e usos de preservativos


nas relações sexuais).
o Registrar os dados colhidos na primeira consulta e nas subseqüentes.
• Orientar quanto às consultas de revisão, prescrições médicas, exercícios de
dilatação vaginal e manutenção do vínculo com a enfermagem.
b) Assistência no preparo do material específico e arrumação da
sala para o procedimento
o Realizar a desinfecção e encaminhar o material específico (bandejas e
aplicadores) para esterilização.
o Manter, à disposição do médico, o material necessário à realização do
procedimento.
c) Ações durante o procedimento de braquiterapia
• Avaliaras condições físicas e emocionais da paciente (dor, ansiedade, curativos,
cânula de traqueostomia etc.).
• Conectar a paciente ao monitor cardíaco.
• Realizar a punção venosa para sedação, quando necessária.
• Preparar a bandeja e os aplicadores adequados para cada tipo de procedimento.
Aspectos ChnicosdaBraqufterØa
b 55
Furdame,tos, Prcedrnentos C!tr.icos e Equ:pe Muit:prcfiss:onai

• Observar a paciente enquanto o físico-médico realiza o planejamento do


tratamento.
• Informar, à paciente, sobre a duração do procedimento e do monitoramento por
meio do circuito interno de TV.
d) Ações pós-procedimento
• Assistir à paciente em caso de náusea, queda de pressão, sangramento, dor etc.
• Esclarecer dúvidas da paciente sobre o procedimento realizado.
• Avaliar a possibilidade de liberação da paciente para casa.
• Agendar a próxima aplicação.

3.6.4 . O técnico em radioterapia

São atribuições do técnico em radioterapia:


• Verificar se a paciente está centralizada sobre o local de marcação da caixa
acrilica, pois isto garantirá que toda a área de interesse seja incluída na radiografia.
• Realizar as radiografias de verificação para o planejamento do tratamento,
utilizando mA e kV adequados à área a ser radiografada, com o objetivo de
identificar corretamente as estruturas e os aplicadores.
• Revelar os filmes radiográficos.
• Assegurar, na radiografia, a identificação dos aplicadores/marcadores radiopacos,
sua lateralidade e/ou numeração, bem como os órgãos e pontos de prescrição ou
aferição de dose.
• Confeccionar moldes de cera para a inserção de cateteres, quando necessário.
• Conectar e desconectar os tubos de transferência aos aplicadores de tratamento,
supervisionado pelo médico e físico-médico.
• Acompanhar por monitor todo o tratamento.

3,7 a
Observações Gerais • Importante!
• Quando há compartilhamento da sala de tratamento, obviamente, só poderá
ocorrer um tratamento por vez, o que restringe ouso de uma ou outra modalidade
da radioterapia (tele ou braquiterapia).
• É importante que o físico-médico mantenha o médico informado quanto à atividade
da fonte, para que as providências para a importação de novas fontes de tratamento
Braqttenpia de Alta Taco ce Dose pan F,iccs
56
endameooos. Catibração e Controle de Qualidade

sejam tomadas a tempo, por tratar-se de processo burocrático bastante


demorado. Por exemplo: um tratamento de braquiterapia ginecológica realizado
com uma fonte de lr-192 nova (com atividade plena) demorará em média lOa
15 minutos. Este tempo, entretanto, poderá se prolongar por até 40 minutos
quando a fonte atingir a atividade que indica o seu momento de troca. Na
prática clínica, isso se traduz em maiores riscos de complicações para a paciente,
que deverá permanecer imóvel, em posição ginecológica, com maior
possibilidade de trombose, além do fato de haver maior probabilidade de a
paciente se movimentar Com O sistema inserido em seu interior, comprometendo
os resultados terapêuticos. Na prática da física médica, isso se traduz em
incertezas entre o que foi prescrito, calculado e o que está realmente sendo
administrado, visto que a radiografia realizada 40 minutos antes do
procedimento poderá não mais corresponder à realidade anatômica após uma
possível movimentação da paciente.
• O processo de controle de qualidade é fundamental em qualquer tipo de
radioterapia (tele ou braquiterapia), porém é particularmente mais crítico na
braquiterapia de alta taxa de dose, em que grandes doses/frações são prescritas
em tempos curtos, com poucas oportunidades de correções. Medidas e testes
de controle de qualidade relativos ao aparelho em si; aos aplicadores; ao
planejamento de tratamento; ao tratamento em si; e à retirada dos aplicadores
com a liberação da sala devem ser estimulados e realizados rotineiramente.

importante salientar que

ra raul ente e r [OS OCO ai devido ao iu au íu o cio natai e 010 do a pare lii o, ioas 5 ii O de vid O a
múlriplas pequenas íhlhas ou descuidos liuuaamis que somados poderão trazer resultados
desastn ,se s. A mc hor p [e itCÇO cl 100 a issi 1 III Te nana eu 10 adequ ido e p cri ód i co de ti ai a a
equipe.

Você verá o detalhamento dos testes de controle de qualidade sob


responsabilidade do físico-médico nas Unidades III e IV deste curso.

Estude-os cuidadosamente, pois, ao segui-los, você


seguramente evitará exposições desnecessárias, incidentes
e acidentes!
Aspectos GínftasdaBraquaerap
57
Fundamentos, Procedfm entos Cfínicos e Equipe Muftirotissivnal

ATIVIDADE

Investigue a incidência de câncer na região onde você trabalha e os casos de


câncer tratados no serviço de braquiterapia da sua instituição, e apresente ao seu tutor
um texLo curto, até duas laudas, analisando a relação entre eles.
Para completar esta atividade, responda às seguintes questões:
• Além das atribuições descritas para cada profissional no presente capítulo, há alguma
outra atribuição não listada desenvolvida por estes profissionais em seu serviço?
•Alguma das atribuições descritas para cada profissional é exercida por outro profissional?
• Envie ao seu tutor, pois esta atividade será considerada na avaliação final de seu
aproveitamento no curso.

Referências
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tissue relevant to brachytherapy (and external-beam radiotherapy): implications for new
brachytherapy protocols. lnt i Radiat Oncol Biol Phys. 1998;41(1):135-8.
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Braquiterapia de Alta Taxa de Dose para Fisicos
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The American Brachytherapy Society recommendations for high-dose-rate brachytherapy
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Fundamentos, Procedimentos Clinicos e Equipe Multiprofissional

Ott Ci, Hiidebrandt G, Potter R, Hammer i, Lotter M, Resch A, et ai. Acceierated partial
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International Atomic Energy Agency study. int i Radiat Oncol Biol Phys. 2002;53(1):127-33.
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lung cancer: a systematic review. Brachytherapy. 2006;5(3):189-202.
Viegas CM, Araujo CM, Dantas MA, Froimtchuk M, Oliveira iA, Marchiori, et ai. Concurrent
chemotherapy and hypofractionated twice-daiiy radiotherapy in cervical cancer patients
with stage HIS disease and bilateral parametniai invoivement: a phase -Ii study. int i
Radiat Oncoi Sial Phys. 2004;60(4):1154-9.
Vuong 1, Belliveau Pi, Michei RP Moftah SA, Parent J, Trudei JL, et ai. Conformal preoperative
endarectal brachytherapy treatment for iocaHy advanced rectal cancer: eariy resuits of a
phase 1/li study. Dis Coion Rectum, 2002;45(11):1486-93; discussion 1493-5.

Sugestões para pesquisa

http://www.inca.gov.br/ página de internet onde são encontradas informações gerais e


-

específicas sobre prevenção, detecção precoce, pesquisa, educação e assistência em câncer.

CIRLIOTECA DO MfFIISTÉRÍQ DA SAÚDE


AC&ibração e seusfqWpamentos
61

UNIDADE III
A Calibração e seus Equipamentos
ACaibração e seus EqWpamentos
!rstruenfaçio para Ca!:bra;ão em 6raquterapia deA! Taxa de Dcse (a4TP)

Capítulo 4
Instrumentação para Calibração em Braquiterapia
de Alta Taxa de Dose (BATD)
Roberto 5a/omon de Souza
,ksu Soo.

Figura 69 - Um tipo de eletrômetro utilizado para dosimetria


de fontes de braquiterapia
A CaFibração e seus Equipamentos
65
fnstrumentaçao para Calibraçao em ara quiterapia de Afta Taxa de Dose (BATO)

CAPÍTULO 4- INSTRUMENTAÇÃO PARA CALIBRAÇÃO EM


BRAQUITERAPIA DE ALTA TAXA DE DOSE (BATD)

Eie capítulo aborda a instrumentação utilizada na dosimetria de


fontes de lr-192 usadas em braquiterapia de alta taxa de dose, bem
como os testes de controle de qualidade do conjunto dosimétrico.

Objetivo:
• Conhecer os equipamentos utilizados na dosimetria de fontes de lr-192 usadas
em braquiterapia de alta taxa de dose e os principais testes de controle de qualidade
do conjunto dosimétrico.

4.1 Instrumentação
Certamente você sabe que a instrumentação para dosimetria em radioterapia,
independentemente de se falar em teleterapia (feixes de radiação externa) ou braquiterapia,
consiste de um detector, uma leitora associada e instrumentos que meçam as condições
ambientais de temperatura e pressão. O que, em geral, difere entre a instrumentação
usada em teleterapia e a usada em braquiterapia é o tipo de detector que, neste caso, é a
câmara de ionização. A leitora, que é o eletrômetro, dependendo do fabricante ou do
modelo, pode ser usada para ambas as modalidades de radioterapia, necessitando, porém,
no caso da braquiterapia, que se façam leituras em modo de corrente elétrica. Portanto,
todos os instrumentos necessários à dosimetria em teleterapia também podem ser usados
em braquiterapia de alta taxa de dose, com exceção da câmara de ionização.
Fitar bbtta Como em braquiterapia
de alta taxa de dose o feixe de
radiação não é externo, como
ocorre na teleterapia, o detector
não fica sob o feixe de radiação.
Por isso, foram criadas as câmaras
ura ii) Modelos de câmaras de ionização tipo poço
de ionização tipo poço (figura 70).
B.,qxiterapa de Ata Taxa de Dose pan Fisi:cs
66
:unda..e.,.., Ca’.bração e Contro e de Qua!idase

As câmaras de ionização tipo poço são cavidades cilíndricas, com um suporte


especial revestido de sopor, onde a fonte a ser calibrada é introduzida. A função do
sopor é o isolamento térmico do volume sensível da câmara e das próprias paredes,
pois a exposição da fonte em seu interior gera uma quantidade de calor que precisa ser
contida, caso contrário alguma parte da câmara pode ser danificada,
O outro componente - -

do conjunto dosimétrico é o
eletrômetro (figura 71) que,
para dosimetria em
braquiterapia de alta taxa de
dose, deve efetuar leituras no - 4. A
F! gu ru 71 Modelos de eletrômetros
modo de corrente elétrica e
permitir a variação da tensão aplicada.
A Agência Internacional de Energia Atômica
(AIEA), por meio do TECDOC-1 079, recomenda o uso
de um termômetro e de um barômetro (figura 72)
Não se esqueça
para a medição das condições ambientais durante os
de que o conjunto procedimentos de dosimetria em braquiterapia de alta
dosimétrico, o taxa de dose. Para a dosimetria de feixes externos de
termõmetro e o
barómetro devem ser
radiação, é recomendado que a instituïção possua,
Tetro d:g:a
periodicamente além do termômetro “ sn ‘

calibndast e do barômetro, um higrômetro para medir a umidade


do ar (figura 73).
Além da calibração, que deverá ser realizada
em laboratório especializado, o usuário deverá realizar,
periodicamente, testes de controle de qualidade dos
instrumentos para garantir que seus fatores de calibração
permaneçam dentro dos limites aceitáveis de variação.
‘3 Fg.àme:c: u’Cg co

4.2 • Testes do Conjunto Dosimétrico


Os testes dos conjuntos dosimétricos utilizados em radioterapia (teleterapia e
braquiterapia) devem ser executados mensalmente, conforme recomendações do
TECDOC-1 151 da AIEA. Caso o fator de calibração do conjunto dosimétrico apresente
um desvio maior do que 2% para mais ou para menos, é hora de mandá-lo novamente
para o laboratório de dosimetria padrão para recalibrá-lo,
Acaiíbração e seus Equipamentos
67
Instrumentação para Calibração em Braquiterapia de Afta Taxa de Dose (BATD)

No Brasil, independentemente dessa recomendação, a Comissão Nacional de Energia


Nuclear (CNEN) determina que o conjunto dosimétrico seja recalibrado a cada dois anos.
No caso do conjunto dosimétrico utilizado em braquiterapia de alta taxa de dose,
há uma dificuldade de ordem prática: o Brasil ainda não possui um laboratório de dosimetria
padrão onde se faça a calibraçâo das câmaras de ionização tipo poço. Assim, no caso de o
conjunto dosimétrico necessitar ser recalibrado, o usuário deverá remetê-lo a algum
laboratório acreditado no exterior.
Portanto, você pode perceber como os testes de controle de qualidade do conjunto
dosimétrico utilizado em braquiterapia de alta taxa de dose tornam-se ainda mais
importantes, pois uma alteração superior a 2% no seu fator de calibração, para mais ou
para menos, significa que o conjunto ficará por muito tempo fora de serviço para ser
recalibrado, devido aos trâmites de exportação temporária, calibração e reimportação.
No entanto, as câmaras de ionização tipo poço são muito estáveis e seu fator de
calibração permanece inalterado por alguns anos, desde que utilizadas corretamente e
armazenadas em local adequado, em condições de temperatura e umidade controladas.
Mesmo assim, a realização mensal do controle de qualidade do conjunto dosimétrico é
indispensável.
Para a realização dos testes de controle de qualidade do conjunto dosimétrico,
utiliza-se uma fonte de radiação independente, que pode ser a fonte de um equipamento
de cobaltoterapia ou, alternativamente, um feixe de raios X de um acelerador linear
Uma outra possibilidade, para as instituições que ainda possuem braquiterapia de
baixa taxa de dose, é utilizar as fontes de Cs-1 37 calibradas, porém, os riscos de proteção
radiológica envolvidos nesse procedimento são maiores. Além disso, a câmara tipo poço
necessitará de um ho/der especial para essas fontes, que deverá ser adquirido junto ao
fabricante.
Como a grande maioria dos serviços de radioterapia do país já substituiu a braquiterapia
de baixa taxa de dose pela de alta taxa e possui, pelo menos, um equipamento de cobaltoterapia
ou um acelerador linear, não deve-se considerar essa possibilidade neste curso.
Uma vez que serão realizados os testes de controle de qualidade do conjunto
dosimétrico em um equipamento de cobaltoterapia ou em um acelerador linear, vale a
pena alertar o profissional que, ao se colocar a câmara de ionização tipo poço debaixo de
um feixe de radiação externa para o controle de qualidade, deve-se retirar o ho/derutilizado
para a inserção das fontes de lr-192.
Nos roteiros ilustrados, você encontrará descrito o procedimento completo para o
controle de qualidade, tanto em equipamentos de cobaltoterapia quanto sob um feixe de
raios X de 4 ou 6 MV produzidos por aceleradores lineares.
B-aq:erapdMo Taxa de Dose pan Pnicos
68
Funda mentas, Ca[br,çio e cani rale de Qualidade

Para a reahzação da atividade proposta para este capitulo, será necessário


executá-la duas vezes, separadas por um intervalo de tempo de pelo menos três dias.
isso porque você precisa criar uma leitura de referência para o seu conjunto dosimétrico,
cujo acompanhamento mensal será sempre relacionado à primeira leitura e à data de
referência. O procedimento ideal é realizar o primeiro teste para criação da leitura de
referência em data próxima à da chegada do conjunto dosimétrico do laboratório que o
calibrou. Mas se o equipamento de sua instituição já chegou há muito tempo, isto não
será fator impeditivo para você criar a data e a primeira leitura de referência.
Leia o roteiro ilustrado que se adeqúe às condições de sua instituição:
equipamento de cobaltoterapia ou acelerador linear. Antes de começar a atividade,
assegure-se de que sabe exatamente como proceder. Se preciso for, recorra a seu tutor
Organize-se, confira seus instrumentos, programe-se com antecedêncial

ATIVIDADE

Execute os testes de coinroie de qtaalidade do conjunto dosimétrico e verifique se


iodos os it e n s avalia dos estáo em con fc rtnid ad e com os limites de mie ránci a recom e n (lados
pelo TECDOC— 1 51 da Ag&ncia Internacional de Energia Aõmica. Preencha o [orna ulário e
envie ao seu tu For. Esta ad vid ad e será considerada na avdiação final de seu aprovei La tu eia to
no curso.

O próximo capítulo desta unidade aborda os procedimentos para a determinação


da taxa de kerma de referência no ar das fontes utilizadas em braquiterapia de alta taxa
de dose.
A Callbração e seus Equipamentos
69
instrumentação para Calibra ção em Braquiterapia de Alta Taxa de Dose (BATD)

Referências
Comissão Nacional de Energia Nuclear. Requisitos de radioproteção e segurança para
serviços de radioterapia: CNEN-NE-3.06 março/1990. Rio de Janeiro: Comissáo Nacional
de Energia Nuclear; 1990.
International Atomic Energy Agency. Calibration of brachytherapy sources: guidelines on
standardized procedures for the calibration of brachytherapy sources at SSDL5 and hospitais,
Vienna (Austria): International Atomic Energy Agency; 1999. [TECDOC-1079].
International Atomic Energy Agency; Instituto Nacional de Câncer, editor. TECDOC-1151:
aspectos físicos da garantia da qualidade em radioterapia: protocolo de controle de
qualidade. Rio de Janeiro (Brasil): Instituto Nacional de Câncer; 2001. [Tradução de:
TECDOC-1151].
Instituto Nacional de Câncer. Recomendação para calibração de fontes de lr-192 de alta
taxa de doses usadas em braquiterapia. 2a ed. rev. Rio de Janeiro (Brasil): Instituto Nacional
de Câncer; 2005.
Estabelece o Regulamento Técnico para o funcionamento de serviços de radioterapia,
visando à defesa da saúde dos pacientes, dos profissionais envolvidos e do público em
geral. Resolução RDC 20, de 2 de fevereiro de 2006. Diário Oficial da União. Seção 1, p.
8-12 suplemento. (Fev 6, 2006),
-

Sugestões para pesquisa

www.iaea.org página de internet da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)


-

onde são encontrados documentos técnicos, protocolos, manuais etc. relativos às atividades
que envolvem o uso das radiações na indústria, na área da saúde e na pesquisa.
www.cnen.gov.br página de internet da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN)
-

onde são encontradas as normas brasileiras de proteção radiolágica e requisitos para


licenciamento para serviços de radioterapia.
www.anvisa.gov.br página de internet da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
-

(ANVISA) onde é encontrada a portaria que regulamenta o funcionamento de serviços de


radioterapia no Brasil.
ACalibraçáo e seus Equipamentos
Roteiro para Controle de Qualidade do Conjunto Dosimétrico em Feixe de Co60

ROTEIRO DE ATIVIDADE CONTROLE DE QUALIDADE DO


-

CONJUNTO DOSIMÉTRICO EM FEIXE DE Co-60

(ste roteiro apresenta os procedimentos para a execução dos testes


de constância do fator de calibração, de fuga e de repetitividade do
conjunto dosimétrico utilizado em Braquiterapia de Alta Taxa de
Dose (BATD).

1) Instrumentação t, o —

Figura 74 Irradiador de Co-60 Figura 75 Barômetro e termômetro digital

Foi,. ti téX

.gra 76 - E etrôTetro Figura 77 - Cânara soço


AcalibraçãaeseusEquipamentos
Roteiro para Controle de Qualidade do Conjunto Dooimétrko em Feixe de Co-GO

ROTEIRO DE ATIVIDADE CONTROLE DE QUALIDADE DO


-

CONJUNTO DOSIMÉTRICO EM FEIXE DE Co-60

tste roteiro apresenta os procedimentos para a execução dos testes


de constância do fator de calibração, de fuga e de repetitividade do
conjunto dosimétrico utilizado em Braquiterapia de Alta Taxa de
Dose (BATD).

1) Instrumentação

Figura 74 - Irradador de Co-60 Figura 75 - Barômetro e termómetro digitaL

Figura 76 Etei-âretro Faura 77 - Cã-nara poço


Braquiterapa de Alta Taxa de Dose para Ffsicos
72
Fundamentxs Caribraçeo • Canartie de Qua[idade

2) Posicionamento
Abra um campo maior do que o diâmetro da câmara poço: 15cm x 15cm;
posicione o centro da câmara poço, sem o ho/der, no centro do campo luminoso,

2Z

F!gu ra 78 Câmara poço no centro do campo luminoso

ColoqueaDFs = 100cm.

xc, dfl

DFSa 100cm
1 . . • ACaIibraáo e 1eus ! aet •
Roteéro para Controle de Qualidade do Conjunto Dosirnéfrico em Feixe de Co-60 • —

3) Procedimento
Conecte o cabo da câmara poço ao eletrômetro e ligue-o. Selecione a tensão para
+ 300V

Ifl S*iiin

Figura O conexão do cabo da câmara poço ao eletrâmelro

Selecione, no irradiador de Co-60, o tempo de 0,5 mm utos ou o tempo


correspondente à dose dei Gy, dependendo da atividade da fonte.

Fia: P&a Sii,ao,


Fia Pb.zri sa,

Figura Si - Seleção do terpo no


rraoiacor

4) Testes

4.1) Fuga

Proceda a uma irradiação de 0,5 minutos e registre a leitura no formulário anexo.


Aguarde, no mínimo, 10 minutos e registre a nova leitura. O valor da fuga é o resultado da
subtração das duas leituras, divido pelo tempo decorrido entre elas.
Snçua’apiade Mti Taxa de Dcse pan Físicos
Fundamentos, Co. aração e ConcrIe de Q.a.dade

4.2) Repetitividade

Proceda a dez irradiações de 0,5 minutos, registrando as leituras das irradiações,


da temperatura e da pressão no formulário anexo. Calcule a média e o desvio padrão
das leituras das irradiações e registre no formulário anexo. O desvio padrão deve ser
menor do que 1 %.

4.3) Constância do fator de calibração do conjunto dosimétrico

Faça a correção das leituras para efeitos de temperatura e pressão e para o


decaimento da fonte em relação à data de referência, encontre uma Leitura Média
Corrigida (LMC), O desvio entre a Leitura Média Corrigida e a Leitura na Data de
Referência (LE) deve ser menor do que 2%,
Caso não haja uma leitura de referência, a Leitura Média Corrigida passa ser a
leitura de referência e a data da realização do teste, a data de referência.

1
«aibr&çâoe seus Equipamentos
Roteiro para Controle de Qualidade do Conjunto Dosimá trico em Feixe de Co•60

TESTE DE FUGA E REPETITIVIDADE

DATA / /

ELETRÔMETRO
FABRICANTE MODELO: SÉRIE:

CÂMARA DE IONIZAÇÃO
FABRICANTE: MODELO: SÉRIE:

DFS = 100 cm, CAMPO: 15cm X 15cm1 TENSÃO = +300V

FUGA
L1=
nCL2= nC
INTERVALO DE TEMPO =

FUGA= nC

REPETITIVIDADE
TEMPO:
LEITURAS:

LEITURA MÉDIA
(LM): nC
DESVIO PADRÃO:

FATOR DE CORREÇÃO PARA PRESSÃO E TEMPERATURA [NP,T)]

DC

mbar
D (P,T) = (101325/P) x «27315+T) / 29315)
Braquiserapia de Alta Taxa de Dose para Físicos
76
Fundamentos, Calibraçio e Controle de Qualidade

CORREÇÃO DE DECAIMENTO PARA DATA DE REFERÊNCIA


MEIA-VIDA (T111) DO Co-SO = 1925,20 dias
DATADEREFERÊNCIA: / /
N° DE DIAS DECORRIDOS (d);
LEITURA DE REFERÊNCIA (LF): nC
TAXA DE DOSE NA DATA DE REFERÊNCIA:____________ cGy/min

LEITURA MÉDIA CORRIGIDA (LMC) PARA D (P,T) E DATA DE REFERÊNCIA


LMC = LM x NP,T) x exp Em 2 x d / T112]
LEITURA MÉDIA CORRIGIDA: nC
= (LMC-LREF)/ LREJ X 100
DESVIO EM RELAÇÃO À REFERÊNCIA:

OBSERVAÇÕES:

FEITO POR:
CHECADO POR:
ACalibração e seus Equipamentos
Roteiro para Controle de Qualidade do Con)unto Dosimétrico em Feixes de Fótons de 4 ou SMV

ROTEIRO DE ATIVIDADE CONTROLE DE QUALIDADE DO-

CONJUNTO DOSIMÉTRICO EM FEIXES DE FÓTONS DE 4 OU 6MV

tEste roteiro apresenta os procedimentos para a execução dos


testes de constância do fator de calibração, de fuga e de
repetitividade do conjunto dosimétrico utilizado em Braquiterapia
de Alta Taxa de Dose (BATD).

1) Instrumentação

F;gura 83 - Barômetro e termômetro digital

Figura 82 - Acele r;d Dr L n ear

Figura 84 - Câmara poço Figura 85 Eletrômetro


a &aqeicenfl de Mi Taxi de Dose pan Fi5kc5
‘a
Fraarnrios. CaIibraçi e Cciro!e de Quahdae

2) Posicionamento

Abra um campo maior do que o diâmetro da câmara poço: 15cm x 15cm;


posicione o centro da câmara poço, sem o holder, no centro do campo luminoso.
Fiz ‘. —

Cârara poço ro er,:ro co ca—ro ur—oso

Coloque a DFS = 100cm

—— 1

DFS a CC cr
Ca1ibraçoeseusEqupnentoi
79
Rote,ro para Controle de Qualidade do Conjunto Dosirnétrko em Feixes de Fótons de 4 o’j 6MV

3) Procedimento
Conecte o cabo da câmara poço ao eletrômetro e ligue-oU Selecione a tensão para
+ 300V,
Fc. d.x, S.lc..,

Figura . Conexâo do cabo da câmara poço ao etetrónietro

Selecione, no acelerador linear, 100 unidades monitoras ou a quantidade


correspondente à dose dei Gy, dependendo do fator de calibração do aparelho.

F:n.ra 39 - Pa r.e o comaico do ace!e’ao’ I:near

4) Testes

4.1) Fuga

Proceda a uma irradiação de 100 UM e registre a leitura no formulário anexo.


Aguarde, no mínimo, 10 minutos e registre a nova leitura. O valor da fuga é o resultado da
subtração das duas leituras, divido pelo tempo entre elas.
Braquiterapia de Alta Taxa de Dote para Fisices
80
Fundam e naus, Cuhbraçn e Centre e de Qualidade

4.2) Repetitividade

Proceda a dez irradiações de 100 UM, registrando as leituras das irradiações.


da temperatura e da pressão no formulário anexo. Calcule a média e o desvio padrão
das leituras das irradiações e registre no formulário anexo. O desvio padrão deve ser
menor do que 1%,

4.3) Constância do fator de calibração do conjunto dosimétrico

Faça a correção das leituras para efeitos de temperatura e pressão, encontrando


uma Leitura Média Corrigida (LMC). O desvio entre a Leitura Média Corrigida e a Leitura
na Data de Referência (LREF) deve ser menor do que 2%.
Caso não haja uma leitura de referência, a Leitura Média Corrigida passa ser a
leitura de referência e a data da realização do teste, a data de referência.
Acahbraçáo e seui Equipamentos
Roteiro para Controle de Qualidade do Conjunto Dosimétrico em Feixes de Fótons de 4 ou 6MV

TESTE DE FUGA E REPETITIVIDADE

DATA / /

ELETRÕMETRO

FABRICANTE MODELO: SÉRIE:

CÂMARA DE IONIZAÇÃO
FABRICANTE: MODELO: SÉRIE:

DFS = 100 cm, CAMPO: 15cm X 15cm, TENSÃO = +300V

FUGA
L1= nC , L2= nC

INTERVALO DE TEMPO =

FUGA= nC

REPETITIVIDADE

TEMPO:
LEITURAS:

LEITURA MÉDIA (LM):


nC

DESVIO PADRÃO:

FATOR DE CORREÇÃO PARA PRESSÃO E TEMPERATURA [4T)]


CC

mbar

Q (P,T) = (1013,25/P) x ((273,15+1) / 293,15)


c1(PT) =
Bnuiceia de Mu T de Dose pm Fi5icos
82
F— im.nrnt, Ciitra;i • Cr iroe de Qodae

LEITURA MEDIA CORRIGIDA (LJ PARA (I(P,T)

LMC= LMXNT)

LEITURA MÉDIA CORRIGIDA: nC


= (LMC-LREF) / LREF x 100
DESVIO EM RELAÇÃO À REFERÊNCIA: %

OBSERVAÇÓES:_

FEITO POR:
CHECADO POR:
ACa!braçãoeseusEquioamentos
83’

Capítulo 5
Determinação da Taxa de Kerma de Referência no Ar
Roberto Salomon de Souza

Figura 90 Arranjo experimental para a determinação


-

da taxa de kenna de referência no ar


A CaIibraão e seus Equipamentos
Determinação da Taxa de Kerma de Referência no Ar

CAPÍTULO 5 DETERMINAÇÃO DA TAXA DE KERMA DE


-

REFERÊNCIA NO AR

(Este capítulo mostra como executar a determinação da taxa de kerma


de referência no ar de fontes de lr-192 utilizadas em braquiterapia
de alta taxa de dose.

Objetivo:

Conhecer e aplicar os métodos para a determinação da taxa de kerma de referência


no ar de fontes de lr-192 utilizadas em braquiterapia de alta taxa de dose com base
no protocolo TECDOC-1079 da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

5.1 Por que Determinar a Taxa de Kerma de Referência no Ar?


Quando uma fonte de lr-1 92 é instalada em um irradiador para braquiterapia de
alta taxa de dose, ela vem acompanhada de um certificado de calibração fornecido pelo
seu fabricante, no qual é informado o valor da taxa de kerma de referência no ar (I(pJ, em
geral, com uma incerteza de ± 5%. A grandeza taxa de kerma de referência no ar é
definida especificamente ai m da fonte e preci5a ser medida pelo físico-médico do serviço,
pois, emalguns casos reportados, o valor informado pelo fabricante diferia em mais de
10%. Discrepâncias dessa ordem podem ter efeitos não esperados no tratamento dos
pacientes e, por isso, a AIEA, através de seu protocolo de controle de qualidade, TECDOC
1151, recomenda que se realize uma calibração antes e depois de cada troca de fonte
“para estabelecer e registrar a reprodutibilidade do método de calibração”.

5.2 Procedimentos
-

Para a determinação da taxa de kerma de referência no ar, é preciso, primeiramente,


determinar a posição de leitura máxima da câmara poço, pois a sua sensibilidade difere ao
longo da cavidade. É necessário acoplar o suporte (fio/der) para a fonte de lr-1 92 e programar
Bnqufterpía de Afta Taxa de Dose para Físicos
Fundamentos, Caiibroçao e Contrate de Quitidade

suas paradas desde o fundo da cavidade até a extremidade superior A varredura


inicial pode ser de 1 em 1cm, com um tempo de 10 segundos para cada posição em
modo corrente elétrica, a fim de dar tempo para as leituras se estabilizarem e então
serem anotadas.
Uma vez determinada a posição de maior sensibilidade da câmara poço, é
necessário estabelecer os fatores de correção para as quantidades de influência, que são
a recombinação iônica, a temperatura e a pressão. Para isso, faz-se uso de uma câmara
de ionização tipo poço, um eletrômetro, um termômetro e um barômetro, conforme
apresentado no capítulo 4.
O eletrômetro precisa ser capaz de efetuar leituras no modo de corrente elétrica
e de variar a tensão aplicada, para a determinação do fator de correção para a
recombinação iônica (kJ, cujo cálculo é dado pela equação:

onde:
k —(A1,,y’ =H—í
L3
M
‘“2)
-I

M1 e M2 são as médias das leituras realizadas com as tensões aplicadas de


+ 300V e + 150V, respectivamente.

Durante o tempo em que são realizadas as medidas, é necessário monitorar a


pressão e a temperatura ambientes para o cálculo do fator de correção (k), que é dado
pela equação abaixo:

273,15+T 1013,25
k TE
293,15 -

onde:
P são, respectivamente, as médias das leituras realizadas para a temperatura
e para a pressão.
De posse das medidas efetuadas e calculados os fatores de correção para as
quantidades de influência, basta aplicar os valores obtidos na equação que se segue
para a determinação da taxa de kerma de referência no ar em cGy m2 [r1:

KR= M1 x io9 xN x 102 x x kTp x k5


onde:
ACatraçáce!QU5EqJparnentcs
87
Dete;minaçào da Taxa de Kerma de Referénca no Ar

M1 é a média das leituras efetuadas com a tensão de +300V;


io é a correção da unidade das leituras de nA para A;
NKR é o fator de calibração da câmara poço em Gy m2 h A1;
1 Q2 é a correção da unidade do fator de calibração de Gy para cGy;
keie é o fator de calibração do eletrômetro, quando calibrado separadamente da
câmara poço. Em caso contrário, seu valor é 1;
é o fator de correção para os efeitos da temperatura e da pressão em condições
kTp
de não-referência;
k, é o fator de correção para a incompleta eficiência na coleção de cargas no
volume da cavidade da câmara de ionização devido à recombinação iônica,
O valor obtido para a taxa de kerma de referência no ar não poderá ser superior a
3% em relaçâo ao valor fornecido pelo fabricante da fonte (levando-se em consideração a
incerteza associada), conforme você poderá observar nas recomendações do TECDOC-1 151.
Agora que você conheceu os fundamentos para a determinação da taxa de kerma
de referência no ar de uma fonte de lr-192 usada em braquiterapia de alta taxa de dose,
já pode aplicar os seus conhecimentos executando uma atividade.
Para executar a determinação da taxa de kerma de referência no ar, leia o roteiro
ilustrado e veja o vídeo. Antes de começar a atividade, assegure-se de que sabe exatamente
como proceder. Se preciso for, recorra a seu tutor. Organize-se, confira seus instrumentos,
programe-se com antecedência!

ATIVIDADE

Execute, em seu irradiador de lr-192 paris braquiterapia de afta taxa de


dose, a determinação da taxa de kerma de referência no ar. Faça um relatório
detalhado (tal como um relato de experiência) dos procedimentos executados.
Registre os resultados obtidos na planilha (em Excel) que está disponível no CD-Rom do curso
ou no ambiente virtual de aprendizagem.
Envie o relatório e a pianilha preenchida a seu tutor. Seus resultados serão considerados na
avaliação final de seu aproveitamenlo no curso.
Bnqitenpia de Aha Taxa de Dose pan Fíexas
88
Fedmento, Calibraçãa e CõtroIe de QuaZdade

Referências
American Association of Physicists in Medicine. Remote afterloading technoiogy. Coilege
Park (US): American Association of Physicists in Medicine; 1993. [Report, no. 411.
International Atomic Energy Agency. Calibration of brachytherapy sources: guidelines
on standardized procedures for the calibration of brachytherapy sources at SSDLs and
hospitais. Vienna (Austria): International Atomic Energy Agency; 1999. [TECDOC
1079].
International Atomic Energy Agency. Cahbration of photon and beta ray sources used in
brachytherapy: guidehnes on standardized procedures at Secondary Standards Dosimetry
Laboratories (SSDLs) and hospitais. Vienna (Austria): International Atomic Energy
Agency; 2002. fTECDOC-1274].
Instituto Nacional de Câncer. Aspectos físicos da garantia da qualidade em radioterapia:
protocolo de controle de qualidade. Rio de Janeiro (Brasil): Instituto Nacional de Câncer;
2001. [Tradução de TECDOC-1151].
Instituto Nacional de Câncer. Recomendações para calibraçâo de fontes de Ir-192 de
alta taxa de dose usadas em braquiterapia. 2. ed. rev. Rio de Janeiro (Brasil): Instituto
Nacional de Câncer: 2005.

Sugestões para pesquisa

www.inca.gov.br/pqrt página de internet onde são encontrados material de apoio,


-

Iinks e informações sobre o Programa de Qualidade em Radioterapia do INCA.


www.iaea.org página de internet da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)
-

onde são encontrados documentos técnicos, protocolos, manuais etc. relativos às


atividades que envolvem o uso das radiações na indústria, na área da saúde e na pesquisa.
www.aapm.org página de internet onde são encontrados documentos técnicos,
-

publicações, e informações na área de física médica.


www.estro.be página de internet onde são encontrados documentos técnicos,
-

publicações, e informações nas áreas de radioterapia e oncologia.


ACaIibraçãoeseusEqipamentos
Roteiro para Determinação da Taxa de Kerma de 4erência no As

ROTEIRO DE ATIVIDADE DETERMINAÇÃO DA TAXA DE


-

KERMA DE REFERÊNCIA NO AR

(Este roteiro apresenta os procedimentos para a determinação da


taxa de kerma de referência no ar.

1) Instrumentaçáo
For.: tr.tosro $.4r.oo.

F,gura 93 Barômetro e termômetro digital

Eara 94 - Hoter para forte de tr-t 92

Obs.: O conjunto dosimétrico (câmara poço e eletrômetro) deve estar previamente


calibrado em laboratório de calibração reconhecido.
90
Enquiterapia de Alta Taxa de Dose pan Fískos
Fundamento,, CaFibração e Controle de Quaridnde 1
2) Posicionamento
Posicione a câmara poço ai m do chão e das paredes e insira o holderapropriado
em seu interior.
Conecte a câmara poço ao eletrômetro e prenda o cabo com uma fita adesiva
na mesa de tratamento e no chão, de forma a evitar que se tropece no mesmo.
Observe o ponto de referência da câmara para o posidonamento do ho/der.

fia Ioko bdøn

Fgjra 95 - °onto de rele.&ca para poscor.aer.to do cide,

Conecte o cateter utilizado para o tratamento de pulmão ou esôfago no fio/der


da câmara poço e no canal apropriado do irradiador de lr-192.
Posicione o irradiador a uma distância, na qual o cateter não fique muito esticado
nem muito curvado.

hgu ra 96 Posição do irradiador

a
ACaI;braçãD e sesEqwparnentos
Roteiro para Determinação da Taxa de Kerma de Referência no Ar

3) Procedimentos

3.1) Teste de corrente de fuga

Proceda a um rápido teste de fuga do conjunto dosimétrico programando uma


irradiação de 0,5 minuto e registrando a leitura obtida no modo carga. Aguarde, no minimo,
10 minutos e registre a nova leitura. O valor da corrente de fuga é o resultado da subtração
das duas leituras, divido pelo tempo entre elas:
Corrente de fuga = (L1- L.) / M
L1= nC
nC
mhi
Corrente de fuga = nC / mm

3.2) Determinação da posição de leitura máxima da câmara poço

Programe, no comando do irradiador, posições de parada da fonte a contar do


fundo da câmara (extremo do cateter) até uma posição que seja maior do que a profundidade
da câmara, em passos de 1 cm.
Identifique a posição de máxima leitura da câmara, utilizando o eletrômetro no
modo corrente.
Em seguida, diminua a faixa de posições de parada da fonte em torno da posição
de máxima leitura e repita o procedimento diminuindo o passo até o mínimo permitido
pelo equipamento.

3.3) Determinação da taxa de kerma no ar

Anote os fatores de calibração do conjunto dosimétrico:


= Gy m2 h1 A
keie = (=1000, se câmara poço e eletrômetro calibrados juntos)
Programe, no comando do irradiador, para que a fonte pare na posição de máxima
leitura da câmara por 10 segundos.
Obtenha cinco leituras para +300V e +150V no modo corrente:
Braquitenpia de Afta Taxa de Doie pan Físicos
92
Fundamentos. Calibração e Controle e Qualicade

Leituras — Câmara Poço (nA)

Anote os valores de pressão e temperatura da sala durante a irradiação:


Pressão (mbar) = /_______
P(mbar) =

Temperatura (CC) = /________ 7’ (°C) =

Calcule os fatores de influência kTP e

273,15+T 1013,25
k
— 293,15 F
kTp =

k, =(A10)
=[F[]]’
Ai0 =

k5 =

Calcule a taxa de kerma de referência no ar:


= M1 x 10 x NKR x 102 x keie X kTP x =

=
cGy m2 h1

Obs.: As potências de 10 são fatores de correção para as unidades utilizadas.


O Controle de Qualidade ea Prevenção de Addentes

UNIDADE IV

O Controle de Qualidade e a Prevenção


de Acidentes
O Controle de QuaPdade ea Prevenção de Acidentes
Testes de Controle de Qualidade

Capítulo 6
Testes de Controle de Qualidade
Roberto Salomon de Souza

Figura 97 - Dispositivo para determinação do


posicionalnento da fonte
v

a’
• 0 Controle de Qualidade ea Prevenção do Aódentes
Testes de Controle de Qualidade

CAPÍTULO 6 TESTES DE CONTROLE DE QUALIDADE


-

Este capítulo trata dos testes de controle de quabdade dos irradiadores


de lr-1 92 para braquiterapia de alta taxa de dose: testes de segurança,
mecânicos, elétricos e dosimétricos.

Objetivos:

• Conhecer e aplicar os principais testes de controle de qualidade dos irradiadores


de lr-192 para braquiterapia de alta taxa de dose.
• Estabelecer a cultura de segurança a partir da conscientização sobre a importância
dos testes de controle de qualidade na prevenção de acidentes.

6.I Por que Realizar os testes de Controle de Qualidade?


O objetivo principal dos testes de controle de qualidade é verificar se todos os
dispositivos de segurança do equipamento apresentam correto funcionamento, a fim de
minimizar a probabilidade de acidentes de natureza radiológica.
Segundo o TECDOC-1 151 da Agência internacional de Energia Atômica (AIEA),
‘cada instituição deve ter meios para garantir que a qualidade do serviço de radioterapia
Quando o problema está
que oferece se mantenha dentro dos limites admitidos internacionalmente, e que disponha relacionado a acidentes
dos mecanismos necessários para corrigir desvios que possam ir em detrimento do paciente”. de natureza radiológica,
Portanto, cada instituição deve ter e seguir um programa interno de garantia de qualidade, todo cuidado e pouco
para garantir a sua
independentemente de participar de programas de auditorias locais ou postais em segurança,a dos
radioterapia. profissionais que
trabalham com VOCC e,
Você já deve saber que o programa de controle de qualidade para a braquiterapia principalmente, a do,
faz parte de um programa maior de controle de qualidade que envolve todo o serviço de paciente que recebera o
tratamento!
radioterapia da instituição. Ele não compreende somente o equipamento de braquiterapia,
mas também os aplicadores, o sistema de planejamento do tratamento, o simulador, os
procedimentos etc. O objetivo final desse programa é propDrcionar um tratamento adequado
e de qualidade ao paciente, dentro dos limites de tolerância recomendados

a
Bnquitenpia de Mi Taxa de Dose pan Físicos
Fundamentos Ciii braçio e Contrate de Qualidade

internacionalmente, em todas as etapas do processo de tratamento. O documento


TECDOC-1 151, da AIEA, contém a lista completa e a discriminação dos testes de todas
os equipamentos a serem avaliados no programa interno de garantia de qualidade. A
leitura desse documento é indispensável!
Neste capítulo, porém, serão estudados os testes de controle de quabdade
específicos para o irradiador de lr-192 para braquiterapia de alta taxa de dose.
Esses testes visam a garantir a segurança pessoal e radiológica do paciente,
bem como a de toda a equipe. Eles possibilitam a verificação do funcionamento dos
dispositivos que garantem a interrupção do feixe de radiação, tais como: dispositivos de
advertência (luzes e sinais sonoros), monitor de radiação, sistema de retorno manual da
fonte, posicionamento das chaves de segurança e trocas dos parâmetros de tratamento.
Os dispositivos relacionados devem funcionar rigorosamente como esperado, pois são
eles os principais mecanismos criados para se evitar acidentes com o irradiador para
braquiterapia.
Veja agora a descrição do funcionamento correto desses dispositivos e a
importância de mantê-los sob controle permanente.

6.2 Testes dos Sistemas de Segurança


• Luzes de advertência.
• Mecanismos de interrupção do feixe de radiação.
• Monitor de radiação.
• Sistema de retorno manual da fonte.
• Posicionamento das chaves de segurança.
• Trocas dos parâmetros de tratamento.

6.2.1 - Luzes de advertência

As luzes de advertências situadas acima da porta da


sala de tratamento (figura 98) servem como sinalizadores da a
presença de radiação. Quando a fonte estiver exposta, a luz de
advertência que deverá estar acesa é a vermelha; e a verde,
quando a fonte estiver recolhida no cofre do irradiador. Essas
são as duas cores padrão de qualquer instalação de braquiterapia.
Contudo, alguns sinalizadores também possuem a luz amarela, Figura 98 - Luzes de

Á
advertência da porta
0 Controle de QuaFidade e a Prevenção de Acidentes

Testes de Controle de Qualidade

a qual indica que a fonte está em trânsito entre o cofre e


a posição programada para o tratamento, ou vice-versa.
Além de estarem presentes acima da porta da sala
de tratamento, as luzes de advertência também são
encontradas no painel de comando do irradiador (figura 99).
:ra Pa,rel cc totarco O teste a ser realizado consiste em verificar se
irradiador
as luzes funcionam de acordo com a movimentação da
fonte, pois qualquer alteração no funcionamento das luzes de advertência significa perigo
de exposição desnecessária dos profissionais e do paciente à fonte de radiação.

6.2.2 Mecanismos de interrupção do feixe de radiação


-

Os mecanismos de interrupção do feixe de radiação


consistem de botões de emergência, de teclas de interrupção do
feixe e de sensor de abertura de porta. Os botões de emergência
estão localizados dentro e fora da sala de tratamento (figura 100),
no painel de comando do irradiador e no próprio irradiador. As
teclas de interrupção do feixe estão localizadas no painel de
comando do irradiador e o sensor de abertura de porta localiza-
sena parte superior da mesma.
Os testes dos mecanismos de interrupção do feixe de
radiação têm como principal objetivo garantir o recolhimento da
fonte no momento desejado pelo operador ou quando detectada
alguma irregularidade nos parâmetros normais de funcionamento.
Por exemplo, a fonte exposta deverá ser
automaticamente recolhida caso a porta da sala de tratamento
Figura O] Bctõer cc
seja aberta inadvertidamente. Os botões de parada de .

eraca ce eTergêr.cia
emergência e as teclas de interrupção do feixe também devem
fazer com que a fonte seja imediatamente recolhida ao serem acionados. Por isso, é
preciso verificar periodicamente se tais mecanismos funcionam corretamente.

6.2,3 - Monitor de radiação

Assim como as luzes de advertência, o monitor de radiação (figura 101) é um


sinalizador da presença de radiação na sala de tratamento, com a diferença de também
quantificar a taxa de exposição à radiação quando a fonte estiver exposta. Portanto, é
necessário verificar, periodicamente, se o monitor está funcionando corretamente.
aeAtnrmdea,nri,kas
Fundamentou, Calibração e Cuntrote de Qualidade

Fsu: bkm Wses,

cona
—a
a—
a

F,ura Cl Moilsres de -adação

6,2,4 . Sistema de retorno manual da fonte

A existência de um sistema de retorno manual da


fonte (figura 102) é fundamental, pois em uma situação
anormal das condições de funcionamento do irradiador,
em que a fonte não pode ser recolhida automaticamente
durante um procedimento de dosimetria ou de tratamento,
o operador deve dispor de um recurso de recolhê-la
manualmente com rapidez e segurança.
O teste a ser realizado em relação a este
dispositivo é identificar a sua existência e assegurar a
sua integridade mecânica e funcional.

62.5 Posicionamento das chaves de


-

segurança Figura 101 -Sistemas de retorno


manual da fonte

Os irradiadores de lr-192 para braquiterapia de


alta taxa de dose possuem chaves de segurança, tanto no
painel de comando quanto no cofre da fonte localizado no
próprio irradiador (figura 103). A função dessas chaves é
apenas de permitir a liberação da fonte quando a chave
estiver virada para a posição correta de liberação.
Fgia 03 Chave de uegvan;a
O teste a ser realizado para esse dispositivo de
-

eu is-te
‘-

segurança consiste em programar a saída da fonte com


a chave virada para a posição incorreta. Neste caso, a fonte não deverá ser exposta e o
software deverá emitir uma mensagem de erro e/ou sinal sonoro.

6.2.6 . Trocas dos parâmetros de tratamento

O software de comando do irradiador está programado para não liberar a fonte


caso alguma configuração do equipamento esteja diferente da planejada para o tratamento
O Controle de Qualidade ea Prevenção de Adenles
• • 101
Testes de Controle de Qualidade

rn Sa.
tia.
como, por exemplo, se o cateter estiver conectado a
um canal de tratamento diferente do programado
(figura 104).
O teste a ser realizado para esse
dispositivo consiste em programar a saída da fonte
em um canal de tratamento diferente daquele onde
o cateter está conectado. Também, nesta situação,
Figura 1-34 Cara,i te tratome—no
-

a fonte não poderá ser exposta, e o software deverá


emitir uma mensagem de erro e/ou sinal sonoro.

6.3 Testes Mecânicos e Elétricos


riu: ‘i’
Estes testes verificam se os dispositivos elétricos e
mecânicos encontram-se em perfeito estado e funcionando
dentro das tolerâncias estabelecidas para cada um deles. Nesses
testes, verificam-se o circuito interno de 1V (figura 105), o radiografia é aquela em
que a própria fonte
intercomunicador (figura 106) e os movimentos de subida,
radioativa impressiona o
descida e travamento das partes móveis do irradiador. filme radiugráfico, não
Também deve ser verificada a integridade mecânica dos necessitando de um
aplicadores e dos simuladores de fontes (dummie5), bem feixe externo de
radiação.
como o posicionamento da fonte, através de uma auto-
Figura 05 Circuito interno
.
radiografia. A auto-radiografia é um teste de suma
importância, visto
que todo o planejamento executado pelo físico-
médico pressupõe que, durante o tratamento, a
fonte estará posicionada no local indicado pelo
sistema de planejamento.
Todos os comandos elétricos e mecânicos e
o posicionamento da fonte devem corresponder ao
Figura 106 na erccnul;raco
que for determinado pelo operador, de forma que
as discrepâncias não superem as tolerâncias recomendadas

6.4 Testes Dosimétricos


No caso da braquiterapia, os testes dosimétricos (figura 107) se resumem à


determinação dos valores da taxa de kerma de referência no ar e da atividade aparente,
informadas pelo fabricante da fonte em seu certificado de calibração.
Braquitenpia de Mu Taxa de Dose pan Fisicos
lo.
Fundamento,. Calibração e Controle de Qualidade

São os chamados testes de redundância,


que consistem em confirmar se os valores
informados pelo fabricante da fonte estão
realmente corretos e se o conjunto dosimétrico
está mantendo o seu fator de calibraçáo ao longo
do tempo.
A determinação da taxa de kerma de
F,gura E 07 Arranjo expenmenlal para a
-

realização dos testes dos,mélr,cos referência no ar deve ser feita mensalmente, de


forma rotineira e, necessariamente, antes e
depois de cada troca de fonte.
Você poderá consultar o procedimento detalhado dos testes no roteiro para
determinação da taxa de kerma de referência no ar, que utilizou como base o documento
TECDOC-1079.
Agora que você já conheceu os principais testes de controle de qualidade dos
irradiadores de lr-192 para braquiterapia de alta taxa de dose, já pode aplicar os seus
conhecimentos executando uma atividade.
Antes de começar a atividade, porém, assegure-se de que sabe exatamente
como proceder. Em caso de dúvida, recorra a seu tutor. Organize-se, confira seus
instrumentos, programe-se com antecedêncial

ATIVIDADE

Execute, em seu irradiador de Ir- 192 para braquiterapia de alta taxa de dose, os
testes de segurança, mecânicos e elétricos, relacionados no TECDOC-l 151 e verifique se
todos os itens avaliados estão em conformidade com os limites de tolerância preconizados.
Preencha o f&molário para controle de qualidade contido no CD-Rom e envie ao seu tutor.
Esta atividade será considerada na avaliação final de seu aproveitamento no curso.
• o controle de Qualidade ea Prevenção de Addentes
103
Testes de Controle de Qualidade

Referências
American Association of Physicists in Medicine. Comprehensive QA for radiation oncology.
College Park (US): American Association of Physicists in Medicine; 1994. [Report, no.46}.
Comissão Nacional de Energia Nuclear. Diretrizes básicas de proteção radiológica: CNEN
NN-3.01 janeiro/2005. Rio de Janeiro: Comissão Nacional de Energia Nuclear; 2005.
European Society for Therapeutic Radiology and Oncology. A practical guide to quality
control of brachytherapy equipment. Venselaar J, Pérez-Calatayude J, editor Brussels
(Belgium): European Society for Therapeutic Radiology and Oncology; 2004. [European
Guidelines for quality assurance in radiotherapy, Booklet no. 81.
International Atomic Energy Agency. Calibration of brachytherapy sources. Vienna (Austria):
International Atomic Energy Agency; 1999. [TECDOC-10791.
International Atomic Energy Agency. International basic safety standards for protection
against ionizing radiation and for the safety of radiation sources. Vienna (Austria):
International Atomic Energy Agency; 1996. [Safety Series, no.115].
International Atomic Energy Agency. Quality assurance in radiotherapy. Vienna (Austria):
International Atomic Energy Agency; 1997. [TECDOC-989].
Instituto Nacional de Câncer. Aspectos físicos da garantia da qualidade em radioterapia:
protocolo de controle de qualidade. Rio de Janeiro (Brasil): Instituto Nacional de Câncer;
2001. [Tradução de TECDOC-1 151].
National Council on Radiation Protection and Measurements. Recommendations on Iimits
for exposure to ionizing radiation. Bethesda (US): National CouncH on Radiation Protection
and Measurements; 1987. [NCRP Report, no. 91].
Estabelece o Regulamento Técnico para o funcionamento de serviços de radioterapia,
visando a defesa da saúde dos pacientes, dos profissionais envolvidos e do público em
geral. Resolução RDC 20, de 02 de fevereiro de 2006. Diário Oficial da União. Seção 1,
p. 8-12 suplemento. (Fev 6, 2006).
-

Sugestões para pesquisa

www.inca.gov.br/pqrt página de internet onde são encontrados material de apoio, links


-

e informações sobre o Programa de Qualidade em Radioterapia do INCA.


www.iaea.org página de internet da Agência Internacional de Energia Atômica (AJEA)
-

onde são encontrados documentos técnicos, protocolos, manuais etc., relativos às atividades
que envolvem o uso das radiações na indústria, na área da saúde e na pesquisa.
www.aapm.org página de internet onde são encontrados documentos técnicos, publicaçôes,
-

e informações na área de física médica.


www.estro.be página de internet onde são encontrados documentos técnicos, publicações,
-

e informações nas áreas de radioterapia e oncologia.


O Controle de Qualidade ea Prever.çãodeAdentes

Roteiro pafa Controk de Ooalldade do Irradiadcr de Ir- 192

ROTEIRO DE ATIVIDADE CONTROLE DE QUALIDADE DO


-

IRRADIADOR DE Ir-192

(ste roteiro apresenta os procedimentos para a execução dos testes


de controle de qualidade do irradiador de Ir-192 para Braquiterapia
de Alta Taxa de Dose (BATD), baseados no TECDOC-1151, da
Agência Internacional de Energia Atômica.

1) Instrumentação

Figura 08 - irrac:acores e r- 15? Fgura lo 95a-êrev o aneró:e e tern5mel’ cig:a

tet &k, k,a

hgura O - letrâmetro
--- Bnquiterapb de Mia Taxa de Dose pan fi,icos
lUb
Fu sdam,nizs, Culibraçio e Conarote de Quahdid e

2) Procedimentos 1

2.1) Testes de segurança e dispositivos de emergência

2.1.1. Luzes de advertência


Verifique o funcionamento das luzes da porta e do console que indicam se o
feixe está ligado ou não. Na porta, a luz deve ser verde quando o equipamento não está
irradiando e, vermelha em caso contrário.

Eigra 111 - Luzes a nola e co pa:ne!

2.1.2. Dispositivos de emergência


.* drm —•—

Verifique o funcionamento dos dispositivos de


interrupção do feixe em caso de emergência, abrindo-se a porta
da sala de tratamento, interrompendo-o no console e
pressionando o botão de emergência durante a exposição da
fonte.
2.1.3. Sistema de retorno manual da fonte
Verifique a funcionalidade e o bom estado de Botão de
emergênda
conservação do sistema de retorno manual da fonte.

Eju a 1 11 S,stema manual de retorno da fonte


- OcontroledeQualidade ea Prevenção de Acidentes
• .
Roteiro para Controle de Qualidade do (rra&adsr de lr-192

2.1.4. Troca de canal de tratamento


Verifique a capacidade de o sistema distinguir a troca de canal de tratamento,
programando-o para um canal e colocando o cateter em outro.
2.1.5. Posição da chave no console e no cofre
Verifique a capacidade de o sistema distinguir quando a chave não está na posição
de liberação da programação do tratamento, no caso do console, e da liberação da fonte,
no caso do cofre.
ulva kjva, vi ,lvt, I.,i,

Figura lIS - Troca de canal de tratamento Figura 116 . chave do cofre da fonte
P.hm Wov
“I
2.1.6. Monitor de radiação
Verifique a presença, a funcionalidade e
o bom estado de conservação do monitor de
radiação, que indica se a fonte está exposta ou
não.

2.2) Testes mecânicos e elétricos Figura 117 Monitor de radiação

2.2.1. Inspeção de cabos contra enroscamento


ul !dt

Verifique o posicionamento dos cabos de


comunicação do console com o irradiador,
garantindo que o mesmo não tenha dificuldades de
ser movido ou que os cabos sejam danificados.
2.2.2. Integridade mecânica das
dummies e dos aplicadores
Fgora US - Verifique a integridade mecânica das
dummie5e dos aplicadores, mediante inspeção visual.
Braquiterapia de Alta Taxa de Dose pan Fieicos
108
Fu ndamenixx, Calibraçux e Cx firo1. de Qualidade

‘, t&,
2.2.3. Posicionamento da fonte -

Verifique, através de radiografia, o


posicionamento da fonte de lr-192. Tolerância:
1 mm.
2.2.4. Circuito fechado de TV 1
Verifique a presença, a funcionalidade
e o bom estado de conservação do circuito Figura 1 19 Dispositivo para verificação da
posrço da fonte
fechado de T que permite a visualização do
paciente na sala de tratamento.
2.2.5. lntercomunicador

Verifique a presença, a funcionalidade e o bom estado de conservação do


intercomunicador, que permite a comunicação com o paciente na sala de tratamento.
fui, I&x. lu.xx

t’ 1

Figura 120 C,rcu,Io de TV e


- Fgura ‘21 Trocada fonte
intercomunicador

2.3) Aspectos dosimétricos

2.3.1. Taxa de kerma de referência no ar (teste de redundância)


Verifique a taxa de kerma de referência no ar. Este teste deve serfeito antes e
logo após a troca da fonte,
Tolerância: as medidas não devem diferir mais do que 3% em relação ao valor
fornecido pelo fabricante e ao utilizado no sistema de planejamento.
2.3.2. Atividade aparente
A partir da determinação da taxa de kerma de referência no ar, determine a
atividade aparente da fonte através da equação: A = KR / £5.
O Controle de Qualidade ca Prevenção de Addentes
• 109
Roteiro para Controle de Qualidade do irradiador de lr-192

FORMULÁRIO PARA CONTROLE DE QUALIDADE DE


IRRADIADORES DE Ir.192 PARA BRAQUITERAPIA DE
ALTA TAXA DE DOSE (BATD)

INSTITUIÇÃO:
EQUIPAMENTO: DATA:

1 - SEGURANÇA — Fundonal (sin)


1 — Sinal luminoso da porta
2— Luzes do console do aparelho
3 — lntertravamento da porta
4 — Interrupção do tratamento no console
5 — Sistema manual de retorno da fonte
6 — Botão de emergência
7— Troca de canal de tratamento
8— Posição da chave no console e no cofre
9 — Monitor de radiação

II ASPECTOS MECÂNICOS E ELÉTRICOS


- Funcional (s/n)
1 — Inspeção de cabos contra enroscamento
2— Integridade mecânica de dummies e aplicadores
3 — Circuito fechado de 1V

4— Intercomunicador

5- Posicionamento da fonte (com filme radiográfico) / (Tolerância: 1 mm).


Diferença: mm.

OBSERVAÇÕES:
O Cor.:role de Quaidaae e a Prevenção de Acider:es
Acidentes em fira quiterapia Relatos de Casos

Capítulo 7
Acidentes em Braquiterapia: Relatos de Casos
Roberto Salomon de Souza

Figura 122 Queimadura provocada


-

pelo contato com fonte radioativa


a
OContr&e de Qualidade ea Prevenção de Addentes

Acidentes em Braquiterapia: Relatos de Casos

CAPÍTULO 7 ACIDENTES EM BRAQUITERAPIA: RELATOS DE


-

CASOS

Neste capítulo, estão relatados dois acidentes ocorridos com fontes


radioativas utilizadas em braquiterapia. Os relatos ajudarão a
compreender a importância do estabelecimento da cultura de
segurança entre os profissionais que trabalham em instituições de
saúde que usam a radioatividade como modalidade de tratamento. E
como simples testes de controle de qualidade podem evitar situações
desastrosas que põem em risco a vida de pacientes, trabalhadores e
do público em geral.

Objetivo:
Sensibilizar o profissional sobre a importância dos testes de controle de qualidade
na prevenção de acidentes radiológicos por meio da descrição de dois casos de
acidentes em braquiterapia.

7.1 Falando de Acidentes


É provável que você nunca tenha ouvido falar de acidente radiológico ocorrido
durante o tratamento por braquiterapia. Mas de acordo com a publicação 97 da Comissão
Internacional de Proteção Radiolágica (ICRP), mais de 500 acidentes já foram registrados
e, segundo a mesma publicação, este número está subdimensionado,
O fato é que muitos registros não são efetuados, por falta de conhecimento do
acidente ou por não haver interesse na sua divulgaçáo, tanto por parte dos profissionais
envolvidos quanto da instituição e até dos países nos quais os acidentes ocorreram.
O risco de acidentes envolvendo pacientes e profissionais é sempre maior quando
há a manipulação direta da fonte radioativa, como nos casos tratados por braquiterapia de
baixa taxa de dose com carregamento manual.
Braqutenpa de Alta Taxa de Dose pan Fi,icos
114
Fundamento,, Calibriçáa e Conarole de Quahdide

Atualmente, com a utilização dos sistemas de pós-carregamento remoto


controlado por computador, a probabilidade de ocorrência de um acidente é bem reduzida.
Entretanto, falhas humanas e dos equipamentos não são descartadas, o que reforça a
necessidade de um controle de qualidade mais apurado, como foi visto no capitulo
anterior que você acabou de estudar.
Segundo o Basic 5afety Standards (BSS) da Agência Internacional de Energia
Atômica (AIEA):
Acidente é qualquer evento não intencional severo, incluindo um erro
de operação, falha no equipamento ou outro infortúnio, cujas
conseqüências não podem ser ignoradas do ponto de vista da proteção
ou segurança, e que usualmente levam a uma superexposição potencial
ou a condições anormais de exposição para o paciente tratado, para a
equipe de funcionários ou para o público em geral.

Como você pode perceber, encontram-se incluídas aí falhas humanas,


eletromecânicas e de software. Pode-se entender como falhas humanas, dentre outras,
os erros no diagnóstico, na indicação médica, na prescrição de dose ou de tempo, na
entrada de dados para o planejamento do tratamento, na identificação do paciente ou da
região anatômica a ser tratada, no posicionamento da fonte, na colocação dos aplicadores
e/ou cateteres etc., que são facilmente evitadas quando se trabalha com seriedade e
atenção.
Quanto às falhas eletromecânicas ou de software, evitá-las depende
diretamente de um programa de controle de qualidade com a realização contínua de
todos os testes recomendados no referido programa.
Embora a rotina de um serviço de radioterapia seja muito pesada, principalmente
quando há braquiterapia, deve-se estar atento quanto à execução dos testes de controle
de qualidade, analisando cuidadosamente seus resultados. Se qualquer dúvida ou
comportamento estranho de um parâmetro ou componente for observado, as irradiações
devem ser interrompidas imediatamente!
A segui serão apresentados dois casos de acidente, envolvendo a braquiterapia
de alta taxa de dose, relatados pela AIEA. Como você poderá ver, as conseqüências
tiveram diferentes dimensões.

7.2 - Relatos de Casos


Na primeira situação, o paciente deveria passar por cinco sessões de
braquiterapia para tratar uma neoplasia de septo nasal, durante as quais receberia uma
O Controle de Qualidade ea Prevenção de Acidentes
115
Acidentes em Braquiterapia: Re/atos de Casos

dose de 0,25 Gy nos lábios. Antes de iniciar a última sessão do tratamento, o físico
encarregado de operar o irradiador pegou a ficha de tratamento que estava próxima do
console do equipamento, não percebendo que era de um outro paciente. Como resultado
do equívoco, entrou com a programação para o paciente errado, o que foi percebido pelo
médico que, alertado por um estudante quanto ao tempo demasiado da irradiação, finalizou
imediatamente o tratamento. Os lábios do paciente acabaram sendo expostos durante 1
minuto, o que resultou em uma dose de 0,75 Gy, três vezes mais do que o valor prescrito
para o tratamento. Neste caso em particular, a superexposição dos tecidos sãos, os lábios,
não foi séria, mas certamente poderia causar um grande dano ao paciente caso fosse um
órgão mais sensível ou vital.
Você pode deduzir facilmente que a superexposição relatada acima poderia ter
sido evitada com uma identificação mais completa do paciente na ficha de tratamento ou
com a simples confirmação do nome do paciente por parte do físico, bem como a colocação
em local adequado das fichas dos pacientes.
Na segunda situação, o paciente deveria receber 18 Gy em três frações. Cinco
cateteres foram colocados no tumor e, durante a primeira aplicaçâo, o cabo de aço, que
conduz a fonte, teve dificuldade em entrar no quinto cateter. A equipe desconsiderou o
alarme sonoro do monitor de área, pois, como a luz do console indicava “seguro”, imaginaram
que o alarme se encontrava com defeito. Na verdade, o cabo da fonte se partiu e a fonte
permaneceu no paciente durante quase quatro dias, quando os cateteres foram removidos.
Como conseqüência, o paciente recebeu 16.000 Gy no ponto de prescrição a 1 cm da
fonte, onde deveria receber 18 Gy. Como os cateteres foram colocados em um recipiente
para lixo hospitalar comum, a fonte só foi descoberta quando passou pelo monitor de
radiação do incinerador da empresa responsável pelo recolhimento dos dejetos hospitalares.
O paciente morreu em pouco tempo após a retirada dos cateteres. A perda da fonte
resultou na exposição de 94 indivíduos, incluindo trabalhadores da clínica, da ambulância
e da empresa responsável pelo recolhimento do lixo hospitalar.
Neste caso, falsos alarmes anteriores levaram a equipe a assumir que o indicador
“seguro” do console estava correto. Entretanto, a falta de um monitor de área portátil para
a mediçâo da sala de tratamento e do paciente contribuiu para o acidente, juntamente com
a negligência da equipe.
Muitos outros acidentes que ocorreram não foram descritos aqui, mas seus relatos
podem ser consultados nas publicações e páginas de internet indicadas no final deste
capítulo. É útil conhecê-los, pois, de cada um deles, aprendem-se importantes lições para
o dia-a-dia. Compartilhe sempre essas histórias com os demais membros de sua equipe,
principalmente com os outros físicos, técnicos, enfermeiros e radioterapeutas, que estão
em contato permanente com o irradiador e com o paciente, e que devem ser os primeiros
a diagnosticar qualquer incorreção ou comportamento estranho da máquina.
Onquiteraoia de Alti Tan de Dose pan Físicos
116
Fundamentos, Cc:. r,;áo e Controle de Qiu.daJe

Lembre-se

Prevenir é muito melhor, pois nem sempre é possível remediar!

ATIVIDADE
/ A partir do relato de caso fictício, abaixo
descrito! envie ao seu tutor uma proposta de
intervenção, tendo em vista as responsabilidades e atribuições do fisico-médico.
Caso: Duranie uma sessão de braqoiterapia de alta taxa de dose para tratamento de
uma paciente com câncer de colo do útero, houve um problema com osoflware de controle do
irradiador deforma que, ao Lernunar o tempo de aplicação programado, a fonte de Jr-192 não
foi recolhida, O físico-médico se deu conta do que ocorreu face à sinalização do monitor de
área indicando a presença de radiação e de um sinal sonoro de erro emitido pelo próprio
sistema de controle de liberação da fonte do equipamento.
Esta atividade será considerada na avaliação final de seu aproveitamento no curso.
• OContraledeouaFidadc ca Prevenção de Acidentes
117
Acidentes em Braquiterapia: Re/atos de Casos

Referências
International Atomic Energy Agency. Applying radiation safety standards in radiotherapy.
Vienna (Austria): International Atomic Energy Agency; 2006. [Safety Reports Sedes, 38].
International Atomic Energy Agency. International basic safety standards for protection
against ionizing radiation and for the safety of radiation sources. Vienna (Austria):
International Atomic Energy Agency; 1996. [Safety Series, 115],
International Atomic Energy Agency. Lessons earned from accidental exposures in
radiotherapy, Vienna (Austria): International Atomic Energy Agency; 2000. [Safety Reports
Series, 17].
International Commission on Radiological Protection. Prevention of accidental exposures
to patients undergoing radiation therapy. Oxford (United Kingdom): International
Commission on Radiological Protedion: 2002. [ICRP Publication, no. 86].
International Commission on Radiological Protection, Prevention of high-dose-rate
brachytherapy accidents. Oxford (United Kingdom): International Commission on
Radiological Protection; 2005. [ICRP Publication, no. 97].

Sugestões para pesquisa

www.johnstonsarchive.net/nuclear/radevents página de internet onde são encontrados


-

registros de incidentes e acidentes envolvendo o uso das radiações.


www.iaea.org página de internet da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)
-

onde são encontrados documentos técnicos, protocolos, manuais etc., relativos às atividades
que envolvem o uso das radiações na indústria, na área da saúde e na pesquisa.
www.icrp.org página de internet da Comissão Internacional de Proteção Radiolágica
-

(CIPR) onde são encontradas publicações e informações na área de proteção radiolágica.

BIBLIOTECA DO M!NISTÉRIO DA SAÚDE


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