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UNIVERSIDADE LÚRIO

Faculdade de Engenharia
Campus Universitário – Bairro Eduardo Mondlane, C.P. 958
Cabo Delgado – Moçambique
Limite de uma função de
16/11/2022 II Semestre, 1º Ano – 2022
duas variáveis
Disciplina: Cálculo II Unidade II Curso de: LEM

Limite de uma função de duas variáveis

Intuitivamente, dizemos que uma função f  x, y  se aproxima de L quando


 x, y  se aproxima de  x0 , y0  se é possível tornar f  x, y  arbitrariamente
próximo de L, desde que tomemos  x, y   D  f  suficientemente próximo de
 x0 , y0  , com  x0 , y0    x, y  .
A idéia “ f  x, y  arbitrariamente próximo de L” é traduzida matematicamente
pela desigualdade:

f  x, y   L  

onde  é um número positivo tão pequeno quanto possamos imaginar.


Definição

Sejam f : A  2
 e  x0 , y0  um ponto de acumulação de A. Dizemos que o
limite de f  x, y  quando  x, y  se aproxima de  x0 , y0  é um número real L se,
para todo   0 , existir um   0 tal que f  x, y   L   sempre que

 x, y   A e 0   x, y    x0 , y0    .
Denotamos por

lim f  x, y   L ou lim f  x, y   L
 x , y  x0 , y0  x  x0
y  y0

A figura a seguir ilustra geometricamente a definição de limite.


Exemplo 1: Usando a definição de limites, mostrar que

lim  3 x  2 y   7
x 1
y 2

De acordo com a definição de limites, devemos mostrar que, para todo   0


existe um   0 tal que

f  x, y   7  

sempre que 0   x  1   y  2   .
2 2

Como no caso das funções de uma variável, trabalhando com a desigualdade


que envolve  , podemos obter pista para encontrar  . Temos

f  x, y   7  3 x  2 y  7
 3x  3  2 y  4
 3  x  1  2  y  2 
 3 x 1  2 y  2

Como x  1   x  1   y  2  e y2   x  1   y  2 
2 2 2 2
, podemos concluir

que 3 x  1  2 y  2  3  2 sempre que 0   x  1   y  2   .


2 2

Assim, se tomamos    , temos que se 0   x  1   y  2    , então


2 2

f  x, y   7  3 x  1  2 y  2
 
 3  2 
5 5
 .

Logo, lim  3 x  2 y   7 .
x 1
y 2

Exemplo 2: Usando a definição, mostrar que


 2 xy 
lim  0
x 0  
y 0  x2  y 2 
Devemos mostrar que, para todo   0 , existe   0 tal que, se

2xy
0 x 2  y 2   , então 
x2  y 2

Como x  x 2  y 2 e y  x 2  y 2 , para  x, y   0 , temos

2 xy 2x y

x y
2 2
x2  y 2
2 x2  y 2  x2  y 2

x2  y 2
 2 x2  y 2


Assim, tomando   , temos que, se 0  x 2  y 2   , então
2

2 xy
 2 x2  y2
x y
2 2


 2
2


 2 xy 
Logo, lim  0.
x 0  
y 0  x2  y 2 
Vamos voltar à figura que ilustra geometricamente a definição de limite. Para que
o limite de 𝑓(𝑥, 𝑦) exista, seja qual for a forma pela qual nos aproximamos de
 x0 , y0  através de pontos do domínio de f, 𝑓(𝑥, 𝑦) deve sempre se aproximar
do mesmo valor L. Temos a seguinte proposição:
Proposição 1

Sejam D1 e D2 dois subconjuntos de D  f  , ambos tendo  x0 , y0  como ponto


de acumulação. Se 𝑓(𝑥, 𝑦) tem limites diferentes quando (𝑥, 𝑦) tende a  x0 , y0 
através de pontos de D1 e de D2 , respectivamente, então lim f  x, y  não existe.
x  x0
y  y0

Usando essa proposição, podemos mostrar que certos limites de funções de


duas variáveis não existem. Para isso, tomamos conjuntos particulares
convenientemente, dados, por exemplo, por pontos de curvas que passem em
 x0 , y0  . Nesse caso, o limite se transforma no limite de uma função de uma
variável, como mostram as situações seguintes:

a. Se D1 é o conjunto dos pontos do eixo dos x, o limite de f  x, y  quando


(𝑥, 𝑦) se aproxima de (0, 0) através de pontos de D1 é dado por

lim f  x, y   lim f  x, 0 
x 0 x 0
y 0

b. Se D2 é o conjunto dos pontos da recta y  2 x , o limite de f  x, y 


quando (𝑥, 𝑦) tende a (0, 0) através de pontos de D2 é dado por

lim f  x, y   lim f  x, 2 x 
x 0 x 0
y 2 x

c. Se D3 é o conjunto dos pontos do eixo positivo dos y, o limite de f  x, y 


quando (𝑥, 𝑦) tende a (0, 0) através de pontos de D3 é dado por

lim f  x, y   lim f  0, y 
y  0 y 0
x 0

 2 xy 
Exemplo : Usando a proposição acima, mostrar que lim  2  não existe.
x 0 x  y 2
y 0  

Se (𝑥, 𝑦) se aproxima de (0, 0) pelo eixo dos x, temos

 2 xy   2 x0  0
lim  2   lim  2 2   lim 2  lim 0  0
x 0 x  y
 x 0  x  0  x 0 x
2
y 0 
x 0

Da mesma forma, se (𝑥, 𝑦) se aproxima de (0, 0) pelo eixo dos y, obtemos

 2 xy   20 y  0
lim  2   lim  2   lim 2  lim 0  0
x 0 x  y
 x 0  0  y  x 0 y
2 2
y 0 
x 0

No entanto, se (𝑥, 𝑦) se aproxima de (0, 0) através de pontos da recta 𝑦 = 𝑥,


temos

 2 xy   2 x x 
lim  2   lim  2   lim1 1
x 0 x  y x 0 x  x 2
 
2
yx   x 0

 2 xy 
Logo pela proposição 1, concluímos que lim   não existe.
x 0  
y 0  x2  y 2 
Propriedades
As propriedades dos limites de funções de uma variável podem ser estendidas
para os limites de funções de várias variáveis.
Proposição 2

Seja f : 2
 definida por f  x, y   ax  b , com 𝑎, 𝑏 quaisquer números reais.
Então

lim f  x, y   ax0  b
x  x0
y  y0

Analogamente, temos
lim ay  b  ay0  b
x  x0
y  y0

Proposição 3

Se lim f  x, y  e lim g  x, y  existem, e c é um número real qualquer, então;


x  x0 x  x0
y  y0 y  y0

a. lim f  x, y   lim g  x, y   lim  f  x, y   g  x, y   ;


x  x0 x  x0 x  x0
y  y0 y  y0 y  y0

b. lim c  f  x, y   c  lim f  x, y  ;
x  x0 x  x0
y  y0 y  y0

c. lim f  x, y   lim g  x, y   lim f  x, y   g  x, y 


x  x0 x  x0 x  x0
y  y0 y  y0 y  y0

lim f  x, y 
f  x, y  xy x0
,desde que lim g  x, y   0 ;
 y0
d. lim 
x  x0 g  x, y  lim g  x , y  x  x0
y y 0 x  x0 y  y0
y  y0
n
 
e. lim  f  x, y     lim f  x, y   para qualquer inteiro positivo n;
n

x  x0
y  y0  xy x0
 y0 
f. lim n f  x, y   n lim f  x, y  , se lim f  x, y   0 e n inteiro ou se
x  x0 x  x0 x  x0
y  y0 y  y0 y  y0

lim f  x, y   0 e n é um número inteiro positivo impar.


x  x0
y  y0

Exemplos 1: lim  x3 y  x 2 y 3  2 xy  4 
x 2
y 1

Aplicando as proposições 2 e 3 com as suas alíneas a), b), c) e e), temos

lim  x3 y  x 2 y 3  2 xy  4   lim x3  lim y  lim x 2  lim y 3  2 lim x  lim y  4  4


x 2 x 2 x 2 x 2 x 2 x 2 x 2
y 1 y 1 y 1 y 1 y 1 y 1 y 1

Exemplo 2: Calcular lim x  y .


x 0
y 2

Usando as proposições 2 e 3 a) e f) temos


lim x  y  lim x  lim y  2
x 0 x 0 y 2
y 2

Cálculo de Limites Envolvendo Algumas Indeterminações

Sejam f e g funções tais que lim f  x, y   lim g  x, y   0 .


x  x0 x  x0
y  y0 y  y0

Nada podemos afirmar, a priori, sobre o limite do quociente f/g quando (𝑥, 𝑦)
tende a  x0 , y0  . Dependendo das funções, podemos encontrar qualquer valor
real ou o limite pode não existir. Costumamos dizer que estamos diante de uma
indeterminação do tipo 0/0.
Os exemplos que seguem ilustram essa indeterminação.

 x3  x 2 y  2 xy  2 x 2  2 x  4 
Exemplo 1: Calcular lim  
x 2
y 1 
xy  x  2 y  2 

Temos que lim  x3  x 2 y  2 xy  2 x 2  2 x  4   23  22 1  2  2 1  2  22  2  2  4  0


x 2
y 1

lim  xy  x  2 y  2   2 1  2  2 1  2  0
x2
y 1

Estamos, portanto, diante da indeterminação 0/0. Para resolver esse limite,


vamos factorar as expressões do numerador e do denominador. Temos

 x3  x 2 y  2 xy  2 x 2  2 x  4   x  x 2  xy  2   2  x 2  xy  2  
lim    lim  
x 2
y 1 
xy  x  2 y  2 x 2 
 y 1  x  y  1  2  y  1 

  x  2   x 2  xy  2  
 lim  
x2 
y 1 
 x  2  y  1 
 x 2  xy  2 
 lim  
x2
y 1 
y 1 
lim  x 2  xy  2 
x 2
y 1

lim  y  1
x 2
y 1

4
 2
2

 x  y 1 
Exemplo 2: Calcular lim   .
x 0   
  
y 1
x 1 y

Temos que
lim  x  y  1  lim x  lim y  1  0
x 0 x 0 y 1
y 1

lim
x  0
 
x  1  y  lim x  lim 1  y  0
x 0 y 1
y 1

Portanto, temos uma indeterminação para se analisada.


Costumamos, nesse caso, fazer uma racionalização, como segue:

x  y 1  x  y  1  x  1 y 

x  1 y  x  1 y  x  1 y 
 x  y  1  x  1 y 

 x    1 y 
2 2

 x  y  1  x  1  y 

x 1  y
 x  1 y

Assim,

 x  y 1 
lim 
x 0   
  lim
x 0
 x  1 y  0 
y 1   y 1
x 1 y

Continuidade
Definição

Sejam f : A  2
 e  x0 , y0   A um ponto de acumulação de A. Dizemos que
f é contínua em  x0 , y0  se lim f  x, y   f  x0 , y0  .
x  x0
y  y0

 2 xy
 2 ,  x, y    0, 0 
Exemplo 1: Verifique se f  x, y    x  y é contínua em  0, 0 
2

0,
  x, y    0, 0 
.
No exemplo 2 da definição do limite de duas funções, mostramos que
2 xy
lim  0.
x 0
y 0 x2  y 2

Portanto, a função dada é contínua em  0, 0  , pois


2 xy
lim  f  0, 0 
x 0
y 0 x2  y 2

 2 xy
 2 ,  x, y    0, 0 
Exemplo 2: Verificar se f  x, y    x  y é contínua em  0, 0  .
2

0,  x, y    0, 0 

No exemplo da proposição 1, mostramos que
2 xy
lim não existe.
x 0
y 0
x  y2
2

Portanto, a função dada não é contínua em  0, 0  .

Observamos que essa função é contínua em relação a x e y isoladamente,


apesar de não ser contínua em relação ao conjunto dessas variáveis.
De facto,

lim f  x, 0  lim f  0, y   f  0, 0 
x 0 y 0

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