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Universidade Regional do Cariri – URCA

Artes Visuais

Aluna:
Isabel de Lima Pinheiro

RESENHA CRÍTICA:

“Em Defesa do Pensamento Visual”


(ARNHEIM, 1989)

Resenha apresentada para a disciplina


Expressão Visual II, no curso de Artes Visuais da
Universidade Regional do Cariri – URCA,
ministrada pela Prof.ª Ma. Maria Carolina de
Oliveira Pienegonda.

Crato - CE
Outubro de 2019
ARNHEIM, Rudolf. Em Defesa do Pensamento Visual. In: ARNHEIM, R. Intuição e
Intelecto Na Arte. São Paulo: Martins Fontes, 1989. p. 141-159.
Isabel de Lima Pinheiro1

O ensaio “Em Defesa do Pensamento Visual” está contido no livro “Intuição e Intelecto Na
Arte” publicado pela primeira vez no Brasil em 1989. O autor, Rudolf Arnheim (1904-2007)
estudou, em Berlim, psicologia, filosofia e história das artes e da música. Durante sua tese de
doutorado em psicologia, esteve sob tutoria de Max Wertheimer e Wolfgang Köhler,
psicólogos da Gestalt. Arnheim, por sua vez, começou a aplicar Gestalt no campo da arte
ainda na década de 1920. Apesar de ter sido leitor de Sigmund Freud desde a sua
adolescência, ele observava com certo ceticismo a aplicação da psicanálise dentro da estética.

Assim, o texto ao qual essa resenha se refere, traz a argumentação de Arnheim na intenção da
quebra de um paradigma que hierarquiza o pensamento lógico e racional acima das
percepções, incluindo a visual, colocando as duas funções como excludentes. Para fazer sua
defesa, o autor expõe primeiro a concepção tradicional, citando Descartes e Leibniz. Em
sequência, traz Jerome S. Bruner e os três estágios do desenvolvimento cognitivo da criança
que coloca o ápice desse desenvolvimento na linguagem. Para Bruner, a mente humana atinge
o conhecimento indo “além das informações dadas”, ou seja, transferindo os dados
“coletados” pela percepção para o processamento no campo da linguagem.

Utilizando um exemplo de conservação, que comumente são aplicados para pôr em xeque a
confiança na capacidade perceptiva, Arnheim argumenta de modo a esclarecer que, para
resolver problemas dessa ordem, não necessariamente precisamos abandonar a percepção
visual, mas nos aprofundarmos nela. Mais ainda, o autor eleva o campo da percepção para o
local onde o pensamento se dá, contrapondo a ideia tradicional de que esse processo
aconteceria na linguagem, ao dizer:

“...não apenas afirmo que os problemas perceptivos podem ser resolvidos através de
operações perceptivas, como também que o pensamento produtivo deve resolver
perceptivamente qualquer tipo de problema, porque não há nenhuma outra esfera de ação
onde o verdadeiro pensamento possa ocorrer.” (ARNHEIM, 1989)

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Graduanda em Artes Visuais pela Universidade Regional do Cariri.
Arnheim também contrapõe a ideia de autores como George Berkeley de que a imagem não é
capaz de abarcar conceitos genéricos e amplos, trabalhando apenas com objetos isolados. Para
isso, ele apresenta diagramas esquemáticos utilizados como auxílio na apreensão de ideias e
problemas muito abstratos. Há um destaque para os diagramas silogísticos apresentados pelo
matemático Leonhard Euler que representam, em desenho, as relações baseadas nos fatos por
meio da espacialidade. Em relação a essa capacidade que temos de associar ideias tão
abstratas a um emaranhado de círculos, por exemplo, e, assim, entender de maneira muito
mais natural e segura a relação entre elas, o autor acrescenta que toda percepção se refere na
sua raiz a propriedades genéricas.

Conseguindo nos convencer enquanto o envolvimento de pensamento na percepção visual, o


psicólogo, filósofo e crítico salienta a importância das suas reivindicações para a educação.
Ele demarca um papel central para a educação artística e a defende em todos os currículos
independe de curso ou matéria uma vez que uma metodologia que explore o pensamento
visual é necessária a todos. Mesmo assim, ele guarda algumas críticas ao ensino de arte
voltado para livre expressão e descarga emocional que esquece de apontar o desenvolvimento
cognitivo adquirido pelas técnicas de representação. Seguindo por essa linha, o autor demanda
uma educação artística que priorize o trabalho manual e o estudo de história da arte como
fornecedoras de ferramentas para modificar tanto ao meio quanto a si mesmo. Para ele, isso
permitiria um trabalho artístico inteligente que torne o aluno “consciente dos diferentes
aspectos da experiência perceptiva”.

Acredito que esse tipo de formação sem o desenvolvimento de uma expressão pessoal, crie
indivíduos conhecedores de inúmeras teorias que tentam normatizar coisas tão subjetivas
como a maneira de se observar e sentir uma obra de arte, mas nem sempre dê fruto a bons
artistas. Penso isso pois considero que uma produção muito refinada em aspectos técnicos,
mas sem uma expressão que não suscite nenhum tipo de sentimento ou questões profundas,
torna-se um objeto frio, apático, estático. A sensibilidade e a criatividade do artista são pontos
de extrema importância na sua formação e não estão abaixo do desenvolvimento técnico e da
capacidade de manipulação dos recursos visuais. Se perder, nesse caso, em teorias que
simplificam de forma tão exata algo tão abstrato e individual como a percepção visual, arrisca
por acabar direcionando a experiência de quem as estuda em vez de fornecer o domínio
almejado.

Em seu último exemplo de aplicação dos conceitos defendidos na educação, o autor mostra
uma solução eficiente para o ensino de química em escolas de segundo grau a partir de
princípios da Gestalt elaborada por Werner Korb. A partir da ilustração, Arnheim reafirma a
inevitabilidade do pensamento visual, colocando a responsabilidade de desenvolvê-la em
todos os campos de ensino e aprendizagem, sob a pena de não ser desenvolvida de forma
satisfatória.

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