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UNOESC – Universidade do Oeste de Santa Catarina

CURSO: Ciências Contábeis


DISCIPLINA: Contabilidade Avançada
PROFESSOR: Paulo Cezar Speorin

MÉTODO DA EQUIVALÊNCIA PATRIMONIAL - MEP

INVESTIMENTOS SUJEITOS AO MÉTODO DA EQUIVALÊNCIA PATRIMONIAL

Quem deve aplicar a Equivalência Patrimonial?


Segundo o artigo 248 da Lei nº 6.404/1976, devem avaliar seus investimentos aplicando o Método da
Equivalência Patrimonial as companhias (sociedades anônimas) que, na data do Balanço, tiverem investimentos
em coligadas ou em controladas e em outras sociedades que façam parte de um mesmo grupo ou estejam sob
controle comum.
A NBC TG 18 estabelece, no item 10, que devem avaliar investimentos pelo MEP as entidades que
tiverem investimentos em coligadas, em controladas e em empreendimentos controlados em conjunto (joint
venture).
Conforme você pode observar, tanto a Lei quanto a Norma exigem que devem avaliar seus investimentos
pelo MEP as entidades que possuírem investimentos em coligadas, em controladas e em controladas em conjunto
(investimentos controlados em conjunto).
A Lei cita, ainda, que o MEP seja aplicado para avaliar os investimentos em outras sociedades que façam
parte de um mesmo grupo.
Para facilitar os nossos estudos, a partir daqui padronizaremos a terminologia, considerando como
investimentos sujeitos ao MEP aqueles efetuados em coligadas, em controladas e em controladas em conjunto.
Os demais investimentos que não se enquadrarem nos casos supracitados, bem como aqueles que se
enquadrarem nas exceções previstas 17 a 19 da NBC TG 18, serão avaliados pelo Método do Custo ou do Valor
Justo, conforme a demanda de cada um.

COLIGADAS
A Lei nº 6.404/1976 trata das coligadas nos parágrafos 1º, 4º e 5º do artigo 243.
Segundo esses dispositivos legais, são coligadas as sociedades nas quais a investidora tenha influência
significativa.
Considera-se que há influência significativa quando a investidora detém ou exerce o poder de
participar nas decisões das políticas financeiras ou operacionais da investida, sem controlá-la.
É presumida influência significativa quando a investidora for titular de 20% ou mais do capital
votante da investida, sem controla-la.
A NBC TG 18, no item 3, define coligada como sendo a entidade sobre a qual o investidor tem
influência significativa.
Para esta norma, influência significativa é o poder de participar das decisões sobre políticas financeiras e
operacionais de uma investida, mas sem que haja o controle individual ou conjunto dessas políticas.
Nos itens 5 e 6, a NBC TG 18 estabelece que se o investidor mantém direta ou indiretamente (por meio
de controladas, por exemplo), 20% ou mais do poder de voto da investida, presume-se que ele tenha influência
significativa, a menos que essa influência possa ser claramente demonstrada o contrário.
Por outro lado, se o investidor detém, direta ou indiretamente (por meio de controladas, por exemplo),
menos de 20% do poder de voto da investida, presume-se que ele não tenha influência significativa, a menos essa
influência possa ser claramente demonstrada.
A existência de influência significativa por investidor geralmente é evidenciada por uma ou mais das
seguintes formas:
a. representação no conselho de administração ou na diretoria da investida;
b. participação nos processos de elaboração de políticas, inclusive em decisões sobre dividendos e outras
distribuições;
c. operações materiais entre o investidor e a investida;
d. intercâmbio de diretores ou gerentes;
e. fornecimento de informação técnica essencial.

CONTROLADAS
Considera-se controlada a sociedade na qual a controladora, diretamente ou por meio de outras
controladas, é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente, preponderância nas
deliberações sociais de eleger a maioria dos administradores (parágrafo 2º do artigo 243 da Lei nº
6.404/1976).
A NBC TG 36, no Apêndice A, define controlada como sendo a entidade que é controlada por outra
entidade.
Para essa norma, controladora é uma entidade que controla uma ou mais controladas.
Assim, um investidor controla a investida quando está exposto a, ou tem direitos sobre, retornos variáveis
decorrentes de seu investimento com a investida e tem a capacidade de afetar esses retornos por meio de seu
poder sobre a investida.

CONTROLADA EM CONJUNTO
Controlada em conjunto (joint venture) é a sociedade que tem como acionistas duas ou mais
sociedades que dividem entre si, em partes iguais, o seu controle.
Esse controle, como o próprio nome diz, é feito em conjunto, pois, não é permitido a qualquer das
investidoras realizar controle individual.
A NBC TG 18 que trata dos investimentos em coligadas, em controladas e em empreendimentos
controlados em conjunto, bem como a NBC TG 19 que trata especificamente de negócios em conjunto,
denominam o investimento em controladas em conjunto de empreendimento controlado em conjunto (joint
venture).
Essas normas apresentam as seguintes definições:
 controle conjunto é o compartilhamento, contratualmente convencionado, do controle de negócio, que
existe somente quando decisões sobre as atividades relevantes exigem o consentimento unânime das
partes que compartilham o controle.
 Negócio em conjunto é uma operação em conjunto ou um empreendimento controlado em conjunto (joint
venture).
 Operação em conjunto (joint operation) é o negócio em conjunto segundo o qual as partes que detêm o
controle conjunto do negócio têm direitos sobre os ativos e as obrigações pelos passivos relacionados ao
negócio.
 Empreendimento controlado em conjunto (joint venture) é o negócio em conjunto segundo o qual as partes
que detêm o controle conjunto do negócio têm direitos sobre os ativos líquidos (Patrimônio Líquido) do
negócio em conjunto.

SOCIEDADES QUE FAZEM PARTE DE UM MESMO GRUPO


Veja a orientação da CVM contida no item 10 da Nota Explicativa à Instrução CVM nº 469, de 2 de maio
de 2008.
O novo artigo 248 (da Lei nº 6.404/1976) também introduziu a necessidade de avaliar pelo método
da equivalência patrimonial o investimento em outras sociedades que façam parte de um mesmo
grupo ou estejam sob controle comum.
A figura do “controle comum” está diretamente relacionada à essência econômica da entidade
contábil e, como tal, deve ser entendida. A dimensão econômica da entidade é delimitada como o
conjunto de entes, ainda que juridicamente distintos, que estejam em um mesmo grupo ou que seu
controle seja exercido por um mesmo ente ou conjunto de entes. Vejamos a questão por meio de
um exemplo:
1. a companhia XYZ controla as companhias A, B e C;
2. a companhia A é uma companhia aberta e participa com 10% do capital votante das
companhias B e C;
3. assim, a companhia A avaliará os investimentos em B e C pelo método da equivalência
patrimonial, já que todas estão sob controle comum de XYZ.

PARTICIPAÇÃO DIRETA E INDIRETA


A participação de uma empresa no capital de outra pode ser direta ou indireta. A participação é direta
quando a investidora é proprietária do total ou parte das ações representativas do capital de outra empresa.
Exemplo:
A Companhia A (investidora) constituiu a Companhia B, sua subsidiária integral, sendo a única
proprietária das 50 mil ações representativas do capital da Companhia B (investida). Nesse caso, além de
participar diretamente do capital da investida, a Investidora A mantém o controle acionário integral da Companhia
B.
A participação é indireta quando coligadas e/ou controladas da investidora são proprietárias do total ou
de parte do capital de outras sociedades.
Exemplo:
Vamos assumir que a Companhia B, controlada da Companhia A, por sua vez, controla a Companhia C
da qual é proprietária de 70% das ações.
Neste caso, embora a Investidora A não seja proprietária de ações representativas do capital da Companhia
C, é considerada participante indireta de seu capital, controlando-a indiretamente por meio de sua Controlada B.
Portanto, em um caso assim, podemos dizer que a Companhia A mantém o controle acionário indireto da
Companhia C.

PROCEDIMENTOS PARA APLICAÇÃO DO MEP


Os procedimentos a serem observados para aplicação do MEP estão disciplinados em vários dispositivos
legais e normativos como, por exemplo, no artigo 248 da Lei 6.404/1976, nas Normas de Contabilidade NBC TG
18, 19 e 36, na ITG nº 9, aprovada pela Resolução CFC nº 1262/2009, no Decreto-lei nº 1.598/1977, no
Regulamento do Imposto de Renda (RIR/1999) e também em normas expedidas pela Comissão de Valores
Mobiliários (CVM).
Apresenta-se a seguir, os procedimentos constantes dos artigos 9º a 11º da Instrução CVM nº 247/1996.
Importante lembrar que a CVM edita normas fundamentadas na Lei nº 6.404/1976 e nos pronunciamentos
técnicos do Comitê de Pronunciamentos Contábeis, tornando-as de adoção obrigatória para todas as sociedades
anônimas de capital aberto, por força do parágrafo 3º do artigo 177 da própria Lei nº 6.404/1976.
Veja, agora, os Procedimentos para aplicação do MEP:
1. O valor do Patrimônio Líquido da coligada e da controlada será determinado com base em Balanço
Patrimonial ou balancete de verificação levantado, com observância das normas da Lei nº 6.404/1976,
na mesma data, ou até 60 dias, no máximo, antes da data do balanço da companhia.
2. O valor do investimento, pelo Método da Equivalência Patrimonial, será obtido mediante o seguinte
cálculo;
a. aplicando-se a porcentagem de participação no capital social sobre o valor do Patrimônio Líquido da
coligada e da controlada.
b. subtraindo-se, do montante referido na letra a acima, os lucros não realizados, líquidos dos efeitos
fiscais. Lucros não realizados compreendem aqueles decorrentes de negócios com a investidora ou
com outras coligadas e controladas, quando:
b1. o lucro estiver incluído no resultado de uma coligada e controlada e correspondido, por inclusão,
no custo de aquisição de ativos de qualquer natureza no Balanço Patrimonial da investidora;
b2. o lucro estiver incluído no resultado de uma coligada e controlada e correspondido, por inclusão,
no custo de aquisição de ativos de qualquer natureza no Balanço Patrimonial de outras coligadas e
controladas.
3. Os prejuízos decorrentes de transações com a investidora, coligadas e controladas não devem ser
eliminados no cálculo da equivalência patrimonial.
4. Os lucros e os prejuízos, assim como as receitas e despesas decorrentes de negócios que tenham
gerado, simultânea e integralmente, efeitos opostos nas contas de resultado das coligadas e
controladas, não serão excluídos para fins de cálculo do valor do investimento.
5. O período de abrangência das demonstrações contábeis da coligada e controlada deverá ser idêntico
ao da investidora, independentemente das respectivas datas de encerramento.
6. Admite-se utilização de períodos não idênticos nos casos em que esse recurso representar melhoria na
qualidade da informação produzida, sendo a mudança evidenciada em Nota Explicativa.
7. Para a determinação do valor da equivalência patrimonial, a investidora deverá:
a. eliminar os efeitos decorrentes da diversidade de critérios contábeis, em especial referindo-se a
investimentos no exterior;
b. excluir o montante correspondente às participações recíprocas;
c. reconhecer os efeitos decorrentes de eventos relevantes ocorridos no período intermediário, no
caso de demonstrações contábeis levantadas em datas diversas;
d. reconhecer os efeitos decorrentes de classes de ações com direito preferencial de dividendo fixo,
dividendo cumulativo e com diferenciação na participação de lucros.
Conforme vimos, pata fins de aplicação do MEP, o ideal é que as demonstrações contábeis da investida
sejam elaboradas na mesma data das demonstrações contábeis da investidora. Contudo, quando isso não
for possível, a Lei e as normas contábeis permitem que a investidora utilize as demonstrações levantadas
pela investida com 60 dias (no máximo) de defasagem. Assim, quando a investidora utiliza demonstrações
com 60 dias de defasagem, nesse período compreendido, por exemplo, entre 31 de outubro (data das
demonstrações da investida) a 31 de dezembro (data das demonstrações da investidora), poderão ocorrer
fatos que influenciarão os resultados da investida. Esses fatos, quando relevantes, devem ser considerados
pela investidora no momento da aplicação do MEP.
Um fato comum refere-se à distribuição de dividendos.
Nesse período, a investida pode contabilizar a distribuição de dividendos, fato que provocará
redução no seu Patrimônio Líquido.
Para exemplificar, vamos assumir que após a investidora ter avaliado o investimento de sua
investida, pelo MEP, a investida decida distribuir dividendos por conta dos lucros apurados.
Nesse caso, a investidora contabilizará o direito de receber os dividendos, mediante débito na conta
Dividendos a Receber (Ativo Circulante) e crédito na conta representativa do investimento.
Quando a investida pagar os dividendos, a investidora contabilizará o fato mediante débito na
conta Caixa ou Bancos e crédito na conta Dividendos a Receber.

VARIAÇÕES NO PATRIMÔNIO LÍQUIDO DA INVESTIDA


Vamos estudar as principais variações que ocorrem no Patrimônio Líquido das investidas e as
repercussões dessas variações no valor a ser acrescido ou subtraído do investimento para fins de aplicação
do MEP, à luz do que estabelece a Lei nº 6.404/1976 e as Normas Brasileiras de Contabilidade NBCS
TGS 18, 19 e 36.
Você já sabe que os aumentos no Patrimônio Líquido da investida podem decorrer de lucros
apurados por ela; da constituição de Reservas de Capital; das variações positivas derivadas dos Ajustes
de Avaliação Patrimonial; do aumento de capital por novas integralizações; das variações positivas
derivadas dos ajustes de exercícios anteriores etc.
Pois bem, na avaliação de investimento pelo MEP, as variações positivas ou negativas ocorridas
no Patrimônio Líquido da investida geram, na investidora, aumentos ou diminuições no saldo da conta
representativa do respectivo investimento.
Entretanto, é preciso considerar duas situações:
a. Nem todas as variações do Patrimônio Líquido da investida geram variações no saldo da conta
representativa do investimento na investida. São exemplo de eventos dessa natureza o aumento
ou a diminuição do capital da investida sem provocar alteração no percentual de participação
da investidora e os resultados não realizados apurados pela investida, decorrentes de transações
efetuadas com a investidora ou com outras empresas integrantes do mesmo grupo.
b. Dependendo da natureza da variação ocorrida no Patrimônio Líquido da investida, conforme
já visto, o aumento ou a diminuição da conta representativa do investimento na investidora
poderá ter como contrapartida o resultado do exercício ou o resultado abrangente, neste último
caso, sendo reconhecido diretamente no Patrimônio Líquido da investidora, sem transitar pelo
resultado do respectivo período. Esse procedimento está fundamentado na exigência contida
na alínea “a” do inciso II do artigo 248 da Lei nº 6.404/1976. O mencionado dispositivo legal
estabelece que a variação positiva ou negativa do investimento somente será registrada como
resultado do exercício se decorrer de lucro ou prejuízo apurado na investida.
Assim, após aplicar o percentual de participação da investidora no capital da investida sobre o
Patrimônio Líquido da investida, para conhecer o valor da atualização, será preciso analisar os
componentes do Patrimônio Líquido da investida para verificar se haverá necessidade de ajustar esse
valor, em decorrência de resultados não realizados por negócio com a investidora ou com outras
sociedades (coligadas à investidora, ou por ela controladas) ou, ainda, para segregar as variações que
impactarão o resultado daquelas que impactarão diretamente o Patrimônio Líquido da investidora.
É sempre importante relembrar que a Lei nº 6.404/1976 estabelece que, no caso de companhias
abertas, o reconhecimento da variação do investimento está sujeito à observância das normas expedidas
pela Comissão de Valores Mobiliários.

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