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Introdução
Louis Otto Mink, Jr. (1921-1983) é um filósofo da história
frequentemente citado ao lado de outros nomes do “narrativismo”,
mas relativamente pouco estudado e conhecido em comparação
com figuras como Hayden White, Paul Ricœur e Frank Ankersmit.
Ao mesmo tempo, é amplamente respeitado por estes autores,1
e não à toa: se temos bons motivos para endossar Paul Roth em
seu chamado por um retorno à filosofia analítica da história,2 é
1 Ankersmit chega a avaliar que o insight apresentado por Mink em 1978 no ensaio
“Narrative Form as a Cognitive Instrument”, que detectava a manutenção de pressupostos
envolvidos na ideia de “História Universal” no pensamento sobre a história da segunda
metade do século XX, como o mais importante do campo no século XX. Ricœur, por sua
vez, já escreveu que “ninguém foi mais longe que Mink em reconhecer o caráter sintético
da atividade narrativa”. RICŒUR, Paul. Time and Narrative, v. 1. Chicago: University of
Chicago Press, 1984, p. 155. White era amigo de Mink e estudou cuidadosamente o artigo
“History and Fiction as Modes of Comprehension”, de 1970, durante a preparação de
Metahistory, publicado em 1973. “The Structure of Historical Narrative”, artigo de 1972
que é precursor da influente introdução de Metahistory, é estruturado em diálogo com o
texto de Mink. A evolução do pensamento destes dois autores ao longo dos anos 1970, até
pelo menos 1981, é nitidamente marcada pela interação entre eles. Esta interação é bem
documentada em GOLOB, Eugene, FAY, Brian & VANN, Richard. Editor’s Introduction.
In: MINK, Louis. Historical Understanding. Ithaca: Cornell University Press, 1987, p. 1-34. Há
um debate entre ambos no v. 7, n. 1 e 4 da Critical Inquiry em 1980 e 1981.
2 Ver as contribuições em BRZECHCZYN, Krzysztof (Org.). Towards a Revival of
Analytical Philosophy of History: Around Paul A. Roth’s Vision of Historical Sciences.
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5 Ou, como o título do presente trabalho indica, com uma adaptação mais precisa
para o caso de Mink: “consciência e processualidade”.
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12 Para uma leitura da tese whiteana como uma rejeição à má-fé historiográfica,
ver DORAN, Robert. Editor’s Introduction: Choosing the Past: Hayden White and the
Philosophy of History. In: Idem (Org.). Philosophy of History After Hayden White. London:
Bloomsbury, 2013, p. 1-34.
13 WHITE, Hayden. The Value of Narrativity in the Representation of Reality. In:
idem. The Content of the Form. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1987.
14 Ver “Philosophical Analysis and Historical Understanding”, de 1968, em que
Mink resenha Analytical Philosophy of History, de Danto; Philosophy and the Historical
Understanding, de W. B. Gallie; e Foundations of Historical Knowledge, de Morton White.
MINK, Louis. Historical Understanding... Op. cit., p. 118-146.
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Este gesto pode ser feito, para Mink, em três modos, “diferentes e
mutuamente exclusivos”: teórico, categorial e configuracional. O modo
teórico, ou hipotético-dedutivo, “se refere às coisas como membros de
uma classe ou como instâncias de uma fórmula.”19 O modo categorial
trata diferentes objetos como “exemplos de uma mesma categoria”, e
aparece com frequência na filosofia. E o modo configuracional, típico
da história e da literatura, permite ver uma variedade de coisas como
parte de uma mesma rede de relacionamentos.
Ao distinguir estes modos, o intuito de Mink não era
diferente daquele apresentado em Metahistory por Hayden
17 Isto não significa que seja inevitável experienciar o mundo dessa forma, menos ainda
que seja desejável lidar com as “compreensões” produzidas pela mente nos termos ingênuos
do realismo ontológico, como se elas se formassem sem a participação do observador.
Em tradições contemplativas diversas, o cultivo da atenção permite reconhecer tais
compreensões como compreensões e não como realidades prontas meramente copiadas
pela mente.
18 MINK, Louis. Historical Understanding... Op. cit., p. 50.
19 Ibidem, p. 51.
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37 Publicada entre 1983 e 1985, portanto concluída um ano antes do livro de Carr, a
trilogia Tempo e Narrativa, de Paul Ricœur, também prioriza o elemento da continuidade
sobre o da descontinuidade.
38 Dewey é um dos interlocutores de Ankersmit em Sublime Historical Experience,
um dos livros em que este autor busca superar os problemas causados pela separação
radical que muitas vezes se presume haver entre sujeito e mundo. Considero construtivo
reconhecer os elementos comuns às discussões sobre representação e sobre o polifônico
termo “experiência”.
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39 Parte do que facilita que se chegue a tal conclusão é a ideia de que, ainda que
o mundo não seja inerte, o passado já passou e, portanto, é inerte. Mas, além de sua
“presença” ser concebível em termos de espectralidade, trauma e outras formas mais, e
também de habitus, lembremos que (a) outros grupos sociais têm tal passado presente-
com-modificação na forma de retenção de suas narrativizações sobre o mundo, e (b) as
consequências de ações e processos passados seguem operativas no presente e não os trazer
à consciência implica em se impossibilitar de transformá-los (ou impossibilitar outras
pessoas de transformá-los!). Assim, mesmo que o passado não responda, nós respondemos
aos sofrimentos físicos e psicológicos e podemos nos sentir impelidos por eles a direcionar
nossa atenção ao passado.
40 Embora reconheça que o significado de uma representação é estabelecido na
relação com a totalidade de representações produzidas sobre um mesmo assunto.
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ou vários tijolos que juntamos para fazer um muro, mas sem cair
em um mero irrealismo irresponsável ou um “anything goes” pós-
modernista?
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63 MINK, Louis. Historical Understanding... Op. cit., p. 202. Mas notemos: simplesmente
por não havendo, por exemplo, inícios e fins dados dos eventos, a questão “estética” do
significado se mistura com a “epistemológica” da pesquisa e descrição dos eventos mais do
que esta última frase pode indicar.
64 E embora Mink não discuta o caso, é evidentemente plausível falar em “verdades”
expressadas ou desveladas por narrativas ficcionais também.
65 Ibidem, p. 202. O impacto social da destruição de um senso coletivo de realidade
é visível nos fascismos do século XX e em muitos governos da extrema-direita do século
XXI. Distinguir o pluralismo de anything goes não é tarefa fácil, mas é essencial.
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